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Discentes:
Isabel Maria Martins de Sousa, n.º 1933
Márcia Gomes Lima, n.º 17o6
Pedro Miguel Engenheiro Silva, n.º 1723
1. INTRODUÇÃO 5
PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. A CRIANÇA E O SEU DESENVOLVIMENTO 8
2.1 – Agressividade 11
2.2 – Teorias de Agressão 12
2.2.1 – Teoria Clássica da Dor 13
2.2.2 – Teoria da frustração 13
2.2.3 – Teoria social 14
2.2.4 – Teoria catártica 14
2.2.5 – Teoria etiológica 15
2.2.6 – Teoria bioquímica ou genética 16
2.3 – Agressividade Infantil 16
2.3.1 – Factores desencadeantes da agressividade infantil 17
3. O BULLYING 21
3.1 – Epidemiologia 22
3.2 – Caracterização dos Intervenientes 26
3.2.1 – Agressores 27
3.2.2 – Vítimas 29
3.2.3 – Testemunhas 33
3.3 – Consequências do Bullying 33
3.3.1 – Efeitos imediatos para as vítimas 33
3.3.2 – Efeitos a longo prazo para as vítimas 34
3.3.3 – Efeitos a longo prazo para os agressores 34
4. ESTRATÉGIAS PREVENTIVAS 35
9.1.1.Caracterização sóciodemográfica 56
9.1.2.Caracterização académica 62
9.1.3.Variáveis recreativas 65
9.1.6.Variáveis emocionais 77
BIBLIOGRAFIA 98
ANEXO I 100
ANEXO II 103
ANEXO IV 108
1. INTRODUÇÃO
Para obtermos a resposta científica a estas questões dividiremos este trabalho em duas partes:
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Cada criança é semelhante às outras em alguns aspectos, mas diferente noutros. As crianças
diferem ao nível da estatura, peso e constituição física, em factores constitucionais como a saúde
e nível energético, na inteligência, em características da personalidade e a nível emocional. Os
seus contextos de vida também diferem: a casa, a comunidade e a sociedade nas quais estão
inseridas, as relações que estabelecem, o tipo de escolas que frequentam e como ocupam os seus
tempos livres.
O desenvolvimento da criança está sujeito a inúmeras influências. Algumas têm origem na
hereditariedade (herança genética inata que o ser humano recebe dos seus pais biológicos),
outras provêm do ambiente externo (que começa no útero). Deste modo, quando temos
necessidade de compreender as semelhanças e as diferencias no desenvolvimento da criança,
precisamos de analisar as características herdadas que dão, a cada um, um início de vida único, e
considerar igualmente os vários factores ambientais que as envolvem (família, nível
socioeconómico, etnia e cultura).
Segundo PAPALIA, OLDS e FELDMAN (2001) existem dois tipos de mudanças
desenvolvimentais:
• Quantitativa - é uma mudança no número ou quantidade, tal como na altura, peso e
vocabulário;
• Qualitativa - é uma mudança no tipo, estrutura ou organização tal como a mudança que
ocorre numa criança, passando de uma fase não verbal para outra em que é capaz de
compreender palavras e de comunicar verbalmente.
Desde a concepção até a morte, a criança passa por diversos estádios: período de
germinação, embrionária, fetal, neonatal, pequena infância, infância, adolescência e adultícia.
Uma vez que a população alvo do nosso estudo, são as crianças do 2° ciclo, de seguida iremos
apresentar as principais características físicas, cognitivas, morais e psicossociais das crianças que
se encontram neste período.
A nível do desenvolvimento físico, o crescimento do corpo, o desenvolvimento cerebral e as
capacidades sensoriais, são competências que fazem parte do desenvolvimento da criança.
De acordo com estes autores, se passarmos por uma escola básica, imediatamente depois do
toque de saída, veremos uma explosão de crianças de todos os tamanhos e formas: uns mais
altos, outros mais baixos, uns corpulentos, outros magrinhos.
Segundo os mesmos autores, com o passar do tempo, as crianças em idade escolar, começam
a coordenar a sua vontade com o que a sociedade exige, e faz com que consigam antecipar mais
facilmente a reacção das outras pessoas ao que fazem.
É mais provável também que as crianças sigam os desejos dos pais, quando reconhecem que
estes são justos, que se preocupam com o bem-estar da família e que poderão "saber melhor"
porque têm mais experiência.
Como já foi referido anteriormente, a criança no período escolar, passa a maior parte do seu
tempo na escola. É aqui que começa a formar o seu primeiro círculo de amigos.
Geralmente os grupos de pares são formados por crianças semelhantes em idade, sexo,
origem étnica e nível socioeconómico.
O grupo de pares tem várias funções positivas: ajuda as crianças a desenvolver competências
sociais, permite-lhes testar e adoptar valores independentes das dos pais, dá-lhes um sentimento
de pertença e contribui para o auto-conceito, todavia, a amizade pode ter, também,
consequências negativas, como por exemplo a agressividade, conceito que iremos analisar no
próximo capítulo.
Nos dias que correm, a comunicação social tem dado grande relevo a actos de agressividade
entre crianças, jovens e adultos que pela sua gravidade tem causado grande consternação na
sociedade.
Segundo RAMIREZ (2001), para explicar e entender o funcionamento da agressividade
humana, é fundamental partir do pressuposto que a "agressão se manifesta como uma forma de
conduta entre as muitas que um sujeito pode desenvolver, muito ligada a situação em que vive e
em que pode expressar-se de modos muito diversos".
Para a mesma autora, quando falamos em agressão é necessário ter presente que se trata de
um conceito multidimensional, isto é, considerar um fenómeno agressivo ou não, depende do
contexto em que se desenvolve e das crenças dos observadores. Ou seja, a agressão não é apenas
um conceito descritivo mas, também, avaliativo, e que o carácter de tal juízo de avaliação se
constrói socialmente.
Para além do referido, e porque não estamos perante traços estáveis e constantes do
comportamento, é preciso ter em conta que os indivíduos agressivos nem sempre o são, nem tão
pouco são sempre pacíficas as pessoas consideradas não agressivas.
De acordo com BERKOWITZ (1993) cit. in RAMIREZ (2001) agressão é qualquer forma de
conduta que pretende ferir alguém física ou psicologicamente.
Nesta definição, destaca-se a intencionalidade da acção, ou seja, a partir da conduta agressiva
pretende-se obter algo, exprimir poder e domínio é, inclusivamente, tratar de impressionar o
outro e demonstrar que se é alguém respeitável.
Comparando algumas das definições actuais, reflectidas dos distúrbios mentais DSM-IV (APA,
1994) e CID-10 (OMS, 1992), constatamos que ambos integram a agressividade nos distúrbios da
personalidade.
Todavia, enquanto a DSM-IV considera o comportamento agressivo uma expressão de
perturbação di-social para as crianças e anti-social para os adultos, a CID-10 define-o como uma
expressão de perturbações di-sociais tanto em crianças como em adultos. A OMS (1996)
particulariza, ainda, que nas idades infantis se tratam de perturbações do comportamento que
supõem desvios mais graves do que a simples "maldade" infantil ou a rebeldia do adolescente, ao
passo que, nos adultos, são distúrbios específicos da personalidade. (RAMIREZ, 2001).
A Associação Americana de Psiquiatria classifica os comportamentos agressivos na infância e
na adolescência em quatro grupos:
De acordo com FESHBACH (1991) cit. in RAMIREZ (2001) podemos distinguir dois tipos de
agressividade:
• "Agressividade instrumental", quando a mesma é utilizada para obter outros fins,
diferentes dos relativos a própria agressão (Ex. mostrar quem têm poder);
• "Agressividade hostil ou emocional", quando o sujeito procura provocar dano no
outro, está zangado e o fere intencionalmente.
Nesta perspectiva, GRICH FROMM (1975) cit. in RAMIREZ, contempla igualmente, dois tipos
de agressões:
• A "benigna", que descreve como sendo biologicamente adaptativa e estando ao
serviço da vida, ou seja, é vista como um impulso de atacar ou de fugir quando os
interesses vitais são ameaçados;
• A "maligna", que não é biologicamente adaptativa e que se manifesta sob a forma da
destrutibilidade e de crueldade. Este tipo de agressão é exclusivamente humano e
surge das condições da existência humana.
MACKAL (1983) cit. in RAMIREZ (2001) classifica as teorias da agressão de acordo com o
elemento que considera que determina a sua origem.
Desta forma divide estas teorias em: teoria clássica da dor, teoria da frustração, teorias
sociológicas da agressão, teoria catártica da agressão, teoria etiológica e teoria bioquímica ou
genética.
Devido a complexidade deste tema existem várias teorias explicativas.
De acordo com PAVLOV (1963) e HULL (1943) cit. in RAMIREZ (2001) a dor é sempre suficiente
para activar agressão nos sujeitos, sendo esta agressividade uma resposta a estímulos adversos
que suscitam a dor. Quanto mais dolorosos forem esses estímulos, mais colérica e agressiva será a
resposta.
O processo agressivo gerado pela dor é assim explicado da seguinte forma: o ser humano
procura sofrer o mínimo de dor, perante situações adversas age de forma agressiva, ou seja,
agride quando é ameaçado, antecipando a possibilidade de dor.
Existem achados biológicos que comprovam a teoria da agressão como reacção a dor, o
chamado síndrome de evitamento da dor (SEYLE, 1956 cit. in RAMIREZ, 2001).
De acordo com esta teoria da dor, DELGADO (1976) cit. in RAMIREZ (2001) explica a diferença
de agressividade entre os sexos. Nos seus estudos concluiu que o centro de prazer encontra-se
mais desenvolvido na mulher do que no homem o que supõe que o limiar de tolerância à dor na
mulher é maior do que no homem e, consequentemente, esta menor tolerância à dor nos
homens facilita a manifestação de reacções agressivas.
DOLLARD, MILLER [ret al.]. (1938) cit. in RAMIREZ (2001) defendem que a conduta agressiva e
uma das consequências da frustração, ou seja, qualquer conduta agressiva pode ser atribuída a
uma frustração previa.
A frustração, segundo RAMIREZ (2001) pode ser entendida de duas perspectivas.
Pode ser compreendida como uma barreira externa que impede o indivíduo de alcançar a
meta desejada e cuja consequência mais imediata é a agressão.
Noutra perspectiva pode ser entendida como uma reacção emocional interna que surge face
a uma contrariedade. Ou seja, para activar uma conduta agressiva é necessário uma barreira, isto
é, algo externo que impeça de alcançar o objectivo, mas também a intervenção de elementos
cognitivos (o sujeito tem que interpretar a situação como ameaçadora).
Diversos estudos experimentais foram realizados nesta área.
DURKHEIM (1938) cit. in RAMIREZ (2001) sustenta que a causa que determina um facto social
deve procurar-se noutros factos sociais e não em estados de consciência individual.
Existem vários pontos de vista ou várias escolas sobre as teorias da agressão, criadas pelos
sociólogos, psicólogos sociais e antropólogos americanos.
A Escola sobre os desastres naturais estuda a conduta colectiva e investiga os efeitos das
situações desastrosas no grupo.
Esta teoria chegou a várias conclusões: quanto mais unido for o grupo menos provável é os
seus elementos sentirem os efeitos do desastre. Quanto maior for o nível de comunicação entre
os elementos do grupo mais capazes serão de resolver as suas dificuldades comuns (BLUMER,
1969 cit. in RAMIREZ, 2001).
Podemos distinguir dois aspectos da agressividade social: a que se gera quando os objectivos
que se perseguem são de natureza material e altamente individualista, e aquela que se apresenta
ao nível de um grupo organizado (RAMIREZ, 2001).
DEUTSCH (1949) cit. in RAMIREZ (2001) afirma que quanto mais homogéneo é um grupo
menos provável é, existir competição entre os seus membros, quanto mais heterogéneo é, mais
provável é surgir a competição.
Um grupo competitivo tem mais hostilidade entre os seus membros, o que promove uma
conduta auto-elogiosa, tornando a coesão grupal mais frágil.
A catarse surgiu na teoria psicanalítica. Supõe uma expressão repentina de afecto, cuja
liberação é necessária para atingir o relaxamento adequado constituindo uma solução para o
Esta teoria considera a agressão como uma reacção impulsiva e inata, relegada para o nível
inconsciente, quase fisiológico. Sugere que a agressão é espontânea e que não há qualquer prazer
a ela associada.
BOVET (1923) cit. in RAMIREZ (2001) afirma que os rapazes são mais agressivos que as
raparigas e que esta actividade básica está presente em todos nós.
LORENZ (1974) cit. in RAMIREZ (2001) abona que os factores instintivos subjazem a toda a
conduta humana agressiva. A conduta agressiva nasce do interior do indivíduo, é um impulso
biologicamente adaptado, desenvolvido pela evolução servindo para a sobrevivência do indivíduo
e da espécie.
Hoje em dia, a agressividade infantil é um tema que comove e angústia toda a sociedade.
Um número cada vez maior de crianças encontra-se envolvido em situações de maus-tratos,
de condutas agressivas e de problemas de relação que transcendem a família e a escola.
Segundo RAMIREZ, (2001), a agressividade tem manifestações diferentes, consoante o
momento de evolução do desenvolvimento. A valorização da presença de um comportamento
agressivo deve ter em conta o nível de desenvolvimento da criança, já que alguns são próprios de
um momento ou idade e podem parecer inapropriados noutra.
Por exemplo, as birras fazem parte de um desenvolvimento normal pela idade dos três anos e
a sua mera presença não deveriam constituir uma indicação de distúrbio do comportamento
nesta idade, mas pode-se supor, se elas persistirem para além dos seis anos.
É difícil situar o momento preciso da agressividade, não obstante, a criança começa desde
muito cedo a reagir contra todas a fontes de frustração, de restrição ou de irritação (HERBERT,
1983 cit. in RAMIREZ 2001). As primeiras manifestações de agressividade são muito aleatórias e
pouco dirigidas, mas a medida que a criança vai crescendo, elas vão-se focando em objectivos
mais concretos. (RAMIREZ, 2001)
BOLMAN (1974), cit. in RAMIREZ (2001) descreve os aspectos mais característicos dos
diferentes momentos evolutivos da agressividade.
Uma vez que a população do nosso estudo são as crianças do 2.º ciclo (5.º e 6.º anos de
escolaridade), apenas iremos apresentar as características destas.
Factores da personalidade
Vários estudos nesta área têm demonstrado que as crianças agressoras mostram uma
tendência significativa para a psicose, o que se traduz numa despreocupação com os demais, no
gosto de enganar os outros e de os colocar no ridículo (RAMIREZ, 2001).
Em continuidade, a mesma autora defende que, normalmente, o temperamento destas
crianças é de elevada extroversão, são expansivas e impulsivas, gostam de estar em sociedade,
em mudança e em movimento. Mas também tendem a ser agressivas, enquanto forma habitual
de interacção social, aborrecem-se com facilidade e os seus sentimentos são variáveis, para além
de estarem sempre mais inclinadas para o risco e situações de perigo.
Factores ambientais
"Nas crianças a partir do 2.º ciclo a supervisão e praticamente inexistente. As crianças brincam, jogam ou
lutam sem a presença de nenhum adulto. A presença de um funcionário só é requerida pelos alunos em
circunstâncias extremas, normalmente quando a criança precisa de tratamento na escola ou necessita de ser
levada ao hospital para ser observada (PEREIRA, 2002, p.114)."
“Há escolas onde a razão espaço de recreio e número de alunos permite que todos tenham o seu canto para
brincar enquanto outras escolas que ocupam os espaços de recreio com pavilhões pré-fabricados não só
reduziram as dimensões do espaço, como aumentaram o número de alunos ... (PEREIRA, 2002, p.115)."
Por tudo o que foi dito anteriormente, torna-se fácil identificar os principais factores
precipitantes da agressividade entre pares ou Bullying.
WHITNEY e SMITH (1993) cit. in PEREIRA (2002), dizem-nos que "os locais da escola onde o
Bullying é mais frequente são os recreios" e, segundo IMICH e JEFFERIES (1989) cit. in PEREIRA
(2002) as crianças ficam preocupadas na altura de ir para o recreio e na hora de almoço.
"Estas são crianças que estão em risco de não ter sucesso educativo, uma vez que o que se
passa nos recreios pode, muitas vezes, ser um factor significativo para o absentismo a escola."
E por estas situações e pelas evidências com que nos deparamos na actualidade de seguida
iremos falar em Bullying: o conceito, os tipos, os intervenientes, os efeitos, as estratégias
preventivas e os programas de intervenção que existem a nível mundial e nacional
Os primeiros escritos sobre a problemática dos maus-tratos entre alunos são de carácter
popular e devem-se a HEINEMANN (1969, 1972).
Em 1973, OLWEUS e os seus colaboradores começaram o seu estudo sistemático e
proporcionaram os primeiros dados empíricos, baptizando de Bullying a relação dinâmica que se
estabelece entre o agressor e a vítima (RAMIREZ, 2001).
O termo Bullying vem do vocábulo inglês "to bully" que significa, na língua inglesa: agressor,
intimidador, atacante. Em Portugal, este termo e utilizado devido à dificuldade em encontrar um
conceito próprio que permita uma tradução directa e fiel do mesmo. Todavia, existem alguns
conceitos que são utilizados como sinonimo de Bullying: agredir, vitimar, violentar, maltratar,
humilhar, intimidar, assediar ou abusar. (PEREIRA, 2002)
Segundo OLWEUS (1993), o termo Bullying refere-se a uma subcategoria da conduta
agressiva, mais especificamente remete para condutas agressivas que ocorrem entre
companheiros, em que "alguém mais forte ou em maior número, abusa repetidas vezes de uma
vítima indefesa". Em continuidade o mesmo autor defende que um aluno e vítima de Bullying
quando esta exposto repetidamente e ao longo do tempo a acções que lhe causam danos ou mal-
estar por parte de um ou mais alunos.
SMITH e SHARP (1994), cit. in PEREIRA 2002, descrevem o termo Bullying como sendo " um
abuso sistemático do poder; uma forma de comportamento agressivo, intencional e persistente
podendo durar semanas, meses ou anos e as vítimas estão normalmente em situação em que é
difícil defenderem-se".
É importante referir que, "à semelhança de outros comportamentos agressivos, o Bullying
identifica-se pela intencionalidade de magoar alguém, que é vítima e alvo do acto agressivo,
enquanto os agressores manifestam tendência para desencadear, iniciar, agravar e a perpetuar
situações em que as vítimas estão numa posição indefesa" (PEREIRA, 2002).
Para a mesma autora e a intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma pratica a que
a vítima e sujeita que distingue o Bullying de outras situações ou comportamentos agressivos,
sendo três os factores fundamentais que normalmente o identificam:
1. O mal causado a outrem não resultou de uma provocação, ou pelo menos por acções
que possam ser identificadas como provocações.
2. As intimidações e a vitimização de outros têm carácter regular, não acontecendo
apenas ocasionalmente.
3.1 – Epidemiologia
Segundo PEREIRA (2002), passados cinco anos do estudo anterior, OLWEUS prosseguiu a sua
investigação, realizando um estudo longitudinal na Suécia e na Noruega. Descobriu que as
crianças que aos 13 e 15 anos tinham sido identificadas como bullies ou como vítimas, aos 24
anos tinham maior probabilidade de estar envolvidas em actividades classificadas como
delituosas e anti-sociais.
De entre os imensos estudos que foram desenvolvidos pelo mesmo investigador, existe um
que merece destaque especial, não só por envolver um grande número de estudantes, mas
também um país inteiro (Noruega). o estudo consistiu na aplicação de um questionário da sua
autoria a 130 000 estudantes com idades compreendidas entre os 8 e os 16 anos.
Os resultados permitiram verificar que:
• Cerca de 15% dos alunos estiveram envolvidos em problemas de agressão e
vitimação, como agressores ou vítimas;
• Há uma tendência para os rapazes estarem mais expostos as praticas de Bullying do
que as raparigas;
• Os rapazes são mais vítimas e mais agressores.
No Reino Unido, WHITNEY & SMITH foram os autores da primeira investigação que foi
realizada em Sheffield, RU nos finais de 1990 cujo objectivo era diagnosticar a dimensão do
Bullying em 24 escolas primárias e secundárias. Aplicaram um questionário anónimo, adaptado de
Olweus, a 6 000 alunos de 17 escolas primárias com idades compreendidas entre 8 e os 11 anos e
7 escolas secundárias com idades entre os 11 e 16 anos.
Com a realização do estudo, os autores verificaram que:
• O Bullying era um problema sério e difundido nas escolas;
• As taxas foram altas e variam com a idade e o sexo;
• As escolas com maiores taxas de Bullying tendem a ter alunos que ficam sós no
recreio;
• Os rapazes afirmam duas vezes mais que agridem do que as raparigas;
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 23
• A frequência de ser vítima decresce de forma acentuada com a idade (27% - 10%),
enquanto a frequência de ser agressor não decresce de forma tão marcante (12% -
6%), tal como" tinha havia observado anteriormente OLWEUS;
• Para a grande parte das crianças o Bullying ocorreu no recreio, em especial nas
escolas primárias. (PEREIRA, 2002)
Ainda no Reino Unido, RIVERS e SMITH em 1994 analisaram as correlações entre o género e
as formas de agressão (directa física, directa verbal e indirecta).
Concluiu-se que:
• O Bullying indirecto e mais característico das raparigas é mais frequente na sala de
aula e nos corredores.
• Tanto os rapazes como as raparigas, participam mais facilmente a um adulto, as
agressões directas do que as indirectas, mesmo quando reconhecem que estas lhes
causam maior mal-estar do que as próprias agressões físicas. (PEREIRA, 2002)
Em Espanha a problemática também foi estudada sendo que os estudos mais relevantes são
aqueles que dizem respeito a pesquisa efectuada por CEREZO e ESTEBAN (1991-1996), por
MELERO (1993) e por ORTEGA (1994).
ORTEGA (1994) realizou um estudo com uma amostra de 575 alunos, com idades
compreendidas entre 14 e 16 anos. Através deste estudo verifica-se que o Bullying decresce com
a idade o que confirma outros estudos realizados (WHITNEY & SMITH, 1993). Nas escolas
espanholas as práticas agressivas ocorrem com mais frequências na sala de aula do que nos
recreios, ao contrário do que dizem os estudos internacionais.
Nos Estados Unidos da América, KUPERSMIDT e seus colaboradores (1996) num estudo com
alunos do 3.º ao 6.º ano de escolaridade, incluindo 1 316 alunos e com 67 professores pretendiam
verificar se os professores eram capazes de identificar os alunos vítimas e agressores reportados
pela "nomeação dos pares". Verificou-se que os professores identificaram 50% das crianças
reportadas pelos pares como agressores e 30% das crianças vítimas identificadas pelos colegas.
(PEREIRA, 2002)
O provocador ou agressor é "aquele que frequentemente implica com os outros, ou que lhes
bate, ou que os arrelia ou que lhes faz outras coisas desagradáveis sem uma boa razão (BOULTON
e SMITH, 1994 cit. in CARVALHOSA, LIMA e MATOS, 2002, p.572)."
Segundo OLWEUS (1993) os agressores típicos seguem um modele de reacção agressiva
combinado com a força física, estes caracterizam-se por uma impulsividade e necessidade de
dominar os outros.
Segundo o mesmo autor existem três motivos psicológicos que levam a esta conduta
agressiva: a necessidade de poder domínio; as condições familiares em que cresceram que,
podem leva-los a desenvolver hostilidade dando-lhes prazer causar sofrimento e dana nos outros;
e por ultimo o componente de beneficio em forma de prestigio ou material.
OLWEUS (1998) cit. in PIEDRA ret al.]. (2006) define dois tipos de agressor: o activo que
estabelece relações directas com a vítima e realiza a agressão pessoalmente, e o social-indirecto,
que dirige na sombra o comportamento dos seus seguidores (agressores passivos) e os induz a
praticar actos de violência e perseguição a outros colegas.
Traço Bully
Características Físicas
Idade Superior à média do grupo
Número Mais bullies do que vítimas
Sexo Na maioria dos rapazes
Aspecto Físico Fortes
Características Académicas
Rendimento Escolar Baixo
Atitude para com a Escola e o Professor Negativa
Clima Sócio-familiar
Autonomia Alta
Controlo Escasso
Conflitos Alto
Organização Alta
Características de Personalidade
Agressividade Alta
Ansiedade Alta
Timidez Baixa
Acatamento de normas Baixo
Provocação Alta
Sinceridade Alta
Retraimento Baixo
Psicose Médio-Alto
Neurose Médio-Alto
Extroversão Média-Alta
Auto-estima Alta
Autocontrolo Baixo
Importância Socio-Escolar
Rejeição Alto
Agressividade Alta
Estudo Muito Baixo
Aceitação Moderada
Relações Alto
3.2.2 - Vítimas
A vítima é "alguém com quem frequentemente implicam, ou que lhe batem, ou que arreliam,
ou que fazem outras coisas desagradáveis sem uma boa razão (BOULTON E SMITH, 1994. cit. in
CARVALHOSA, LIMA e MATOS, 2002, p.573)."
De acordo com NETO (2005) o alvo de Bullying é "o aluno exposto, de forma repetida e
durante algum tempo, as acções negativas perpetradas por um ou mais alunos".
Sendo que, acções negativas são "as situações em que alguém, de forma intencional ou
repetida, causa dano, fere ou incomoda outra pessoa".
Ainda de acordo com este autor o alvo de Bullying é uma criança ou adolescente que não tem
recursos ou status para reagir ou cessar a agressão, é pouco sociável, inseguro, com baixa auto-
Este mesmo autor alerta para comportamentos típicos de uma vítima na escola e em casa.
Na escola:
• Durante o recreio está frequentemente isolado e separado do grupo, ou procura ficar
próximo do professor ou de algum adulto;
• Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos outros, mostrando-se inseguro ou
ansioso;
• Nos jogos em grupo é o último a ser escolhido;
• Apresenta-se frequentemente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito;
• Desleixo gradual nas tarefas escolares;
• Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada;
• Falta as aulas com certa frequência;
• Perde constantemente os seus pertences.
Traço Vítima
Características Físicas
Idade De acordo com a média do grupo
Número Menos vítimas do que bullies
Sexo Na maioria rapazes
Aspecto Físico Fracos
Características Académicas
Rendimento Escolar Médio-baixo
Atitude para com a Escola e o Professor Passiva
Clima Sócio-familiar
Autonomia Baixa
Controlo Alto
Conflitos Médio
Organização Alta
Características de Personalidade
Agressividade Média
Ansiedade Alta
Timidez Alta
Acatamento de normas Médio
Provocação Baixa
Sinceridade Baixa
Retraimento Alto
Psicose Baixo
Neurose Médio-Baixo
Extroversão Moderada
Auto-estima Moderada
Autocontrolo Médio
Importância Socio-Escolar
Rejeição Muito Alto
Agressividade Média-Baixa
Estudo Médio-Baixo
Aceitação Muito Baixa
Relações Muito Baixo
A maioria dos alunos não se envolve directamente em actos de Bullying (NETO, 2005). A
forma como reagem ao Bullying permite classificá-los como:
• Auxiliares – participam activamente na agressão;
• Incentivadores – incitam e estimulam o autor;
• Observadores – só observam ou se afastam;
• Defensores – protegem a vítima ou chamam um adulto para interromper a agressão.
o Bullying na escola traz consigo efeitos que se repercutem quer a curto prazo, no dia-a-dia da
criança, quer a longo prazo, já na idade adulta. As consequências que dai advêm são muito
negativas no desenvolvimento psicológico, social e intelectual quer das vítimas quer dos
agressores.
As crianças vítimas de Bullying manifestam uma grande tensão nervosa com sintomas como
gastralgias e cefaleias, pesadelos ou ataques de ansiedade. Podem também surgir alterações de
comportamento, como birras e negativismo, fobia e medo da escola que, frequentemente,
resultam em absentismo escolar e fugas (MARTIN, 2005 cit. in RODRIGUEZ, 2006).
Para PEREIRA (2002), as vítimas apresentam maior dificuldade em concentrarem-se nas
tarefas escolares e sentem-se doentes e/ou indispostos após serem agredidos. Alem disto,
experienciam com mais frequência pouca aceitação, rejeição activa, são menos escolhidas como
melhores amigos e apresentam fracas competências sociais tais como cooperação, partilha e ser
capaz de ajudar os outros.
OLWEUS (1993) refere que a frequência de ser vítima decresce com a idade.
As vítimas deixam de o ser, mudados os contextos, parecendo normalizar quando jovens
adultos.
Quando a vitimização se prolonga, podem começar a surgir sintomas clínicos que se podem
encaixar nos quadros de neurose, histeria e depressão, esta sintomatologia costuma ser mais
frequente nas raparigas do que nos rapazes.
Como principais consequências do Bullying para as vítimas, PEREIRA (2002) destaca: vidas
infelizes, destruídas, sempre sob a sombra do medo; perda de autoconfiança e confiança nos
outros, falta de auto-estima e auto-conceito negativo e depreciativo; dificuldades de ajustamento
na adolescência e na vida adulta, nomeadamente problemas nas relações íntimas.
A consequência mais severa do Bullying na escola é o suicídio, podendo este ser o resultado
directo ou indirecto da vitimação constante a que a criança/adolescente é sujeito até ao limite da
sua capacidade de suportar as agressões (SMITH & MADSEN, 1996 cit. in PEREIRA, 2002).
" ...estes efeitos estão associados a uma série de comportamentos ou atitudes que se vão agravando e
mantendo por toda a vida e que arrastam consigo consequências negativas, na maior parte dos casos de alguma
gravidade, que estarão sempre presentes, influenciando todas as decisões, imagens, atitudes, comportamentos,
que a pessoa constrói em relação a si, aos outros, ao mundo e ate a própria vida (PEREIRA, 2002, p.25)."
Para PEREIRA (2002), as características mais diferenciadoras das crianças agressivas parecem
ser: dificuldade no controlo de impulsos, défices nas aptidões sociais e crenças irracionais. A
criança agressiva espera que a agressão resulte no controle da vítima e não espera retaliações.
Posto isto e, segundo OLWEUS (1993), os agressores aprendem a recorrer a violência para atingir
os seus fins. Verifica-se que se trata de uma aprendizagem perigosa, uma vez que maior
percentagem de adultos julgados e sujeitos a penas, foram crianças agressoras durante o seu
percurso escolar. Verifica-se que a agressão praticada por uma criança na escola, constitui um
factor de risco precipitante de futuras carreiras delinquentes.
As consequências do Bullying para os agressores, segundo PEREIRA (2002), são: crença na
força para solução dos seus problemas, vidas destruídas, dificuldade em respeitar a lei e os
problemas que dai advêm, compreendendo as dificuldades na inserção social; problemas de
relacionamento afectivo e social e incapacidade ou dificuldade de autocontrolo e
comportamentos anti-sociais.
O Programa inclui:
• A formação adequada para professores;
• O trabalho directo com os agressores:
o Uso do método da "preocupação partilhada";
o Temas educativos sobre a disciplina;
o Autocontrolo;
o Técnicas para fazer frente a influência dos companheiros.
• O trabalho directo com as vítimas, tendo como objectivos:
o Redução do nível de isolamento entre alunos;
o Maior comunicação entre jovens e adultos;
o Atitude firme contra a intimidação;
o Maior motivação escolar;
De acordo com PEREIRA (2002) existem numerosas maneiras de avaliar a natureza e extensão
do Bullying. Todas elas têm vantagens e limitações podendo esta avaliação ser efectuada com
base na opinião do professor, do observador externo e das crianças. Os questionários realizados
aos professores são direccionados para a agressão em sala de aula, tendo em conta a sua
percepção.
Em continuidade, a mesma autora refere que a observação directa ou indirecta e uma técnica
que implica muitos recursos materiais e humanos e que nem sempre e eficaz. A entrevista directa,
direccionada para a criança, apresenta algumas vantagens, mas só é útil em pequenas amostras.
Este método implica que a criança confie no entrevistador e na confidencialidade dos dados
partilhados.
A nomeação de pares e outra técnica de recolha de dados que consiste na nomeação das
vítimas e agressores por parte da criança na sua sala de aulas.
O questionário ao aluno tem sido frequentemente utilizado para a avaliação da natureza e
extensão do Bullying. Vários questionários têm sido aplicados aos alunos como o questionário de
Olweus, que tem sido muito difundido. Este já foi utilizado em versões adaptadas, em vários
países, como: Reino Unido, Itália, Espanha e Portugal. É constituído por 25 questões de escolha
múltipla relativas a varias áreas como a recolha de dados sóciodemográficas, dados sobre a
amizade, sobre a vitimização e sobre a agressão.
Outro questionário e o Questionário BULL de Cerezo (1994), baseado na técnica do
sociograma tendo uma finalidade dupla: conhecer a estrutura interna da turma e conhecer as
possíveis relações entre os indivíduos do grupo.
O questionário “A vida na escola" de S. Sharp e P. Smith (1994) trata-se de uma adaptação do
questionário de Olweus, sendo o seu objectivo conhecer como os alunos estão na escola durante
uma semana, através das situações que vivência.
Em Portugal os questionários que encontramos nas várias pesquisas bibliográficas foram: o
Questionário para o Estudo da Violência entre Pares de Isabel Freire, Ana Margarida Veiga Simão
e Ana Sousa Ferreira (2005), que têm como objectivos caracterizar as diferentes formas de
agressão entre pares, os factores associados e conhecer a percepção dos alunos acerca do
ambiente relacional da escola e o modo como se sentem e interpretam a sua situação na escola e
o Questionário Bullying/Agressividade entre alunos na escola de Beatriz Pereira de Oliveira
(1994).
ORGANIZAÇÃO E
PLANIFICAÇÃO DO
ESTUDO
E de salientar que, actualmente, muitas são as situações de violência que ocorrem nas escolas
entre os jovens e que são motivo de preocupação e interesse não só para os próprios alunos, pais
e professores, como também para nos, futuros profissionais da educação e da saúde. As
conhecidas consequências e efeitos negativos, muito divulgadas pela comunicação social, destes
comportamentos para o desenvolvimento e para a saúde mental dos jovens envolvidos e para
toda a população em geral, talvez seja uma das possíveis causas da actualidade deste assunto.
Este facto levou-nos a realizar um estudo cujo objectivo principal consiste em investigar a
relação de algumas variáveis sóciodemográficas, académicas, recreativas, emocionais e
contextuais que se podem relacionar com o Bullying nos alunos do 2.º Cicio do Ensino Básico.
Como variáveis sóciodemográficas estudámos:
• Nacionalidade;
• Estado Civil dos pais;
• Número de irmãos;
• Idade dos irmãos;
• Meio de transporte para a escola;
• Sexo;
• Idade;
Todas as variáveis acima descritas foram consideradas como variáveis independentes, tendo-
se considerado como variável dependente o Bullying nos alunos do 2° Cicio do Ensino Básico.
Variáveis sóciodemográficas:
• Nacionalidade;
• Estado Civil dos pais;
• Numero de irmãos;
• Idade dos irmãos;
• Meio de transporte para a escola;
• Sexo;
• Idade;
Variáveis académicas:
Variáveis recreativas:
• Ano de escolaridade;
• Gosto pelos recreios; • Frequência de Jardim-de-infância;
• Divisão do recreio, • Existência de reprovação;
• Opinião sobre o recreio; • Pratica de actividades
• Ficar sozinho no recreio. extracurriculares.
• Frequência de aulas de apoio;
Bullying
Variáveis emocionais:
• Sentimentos da vitima relativamente à agressão;
• Sentimentos do agressor relativamente à agressão;
• Sentimentos/responsabilidade face à agressão
perante os pais.
Segundo FORTIN (1999, p.37) "a variável independente é a que o investigador manipula num
estudo experimental para medir o seu efeito na variável dependente" .
Face ao exposto, variáveis independentes são aquelas que podem influenciar e produzir
alterações na variável dependente.
A variável independente, segundo LAKATOS e MARCONI (1995 p.172) é:
"aquela que influencia, determina e afecta uma outra variável; é o factor determinante, condição
ou causa para certo resultado, efeito ou consequência; é um factor manipulado pelo investigador
na sua tentativa de assegurar a relação do factor com o fenómeno observado ou a ser descoberto,
para ver que influencia exerce sobre um possível resultado".
Segundo CAMPANA [et a/.] (2001), a variável independente, pode igualmente ser considerada
como a variável que afecta outra; é o factor que constitui a causa para certo efeito, geralmente é
o factor manipulado pelo investigador na tentativa de observar a sua influência sobre outra
variável.
a) Nacionalidade
Nacionalidade é "uma comunidade de indivíduos com ascendência, história, língua e tradições
comuns" (DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS
DE LISBOA, 2001).
Elaborou-se uma pergunta aberta, tendo sido categorizada em: nacionalidade portuguesa e
estrangeira.
b) Estado Civil
Segundo COSTA e MELO (1996), o estado civil é uma qualidade definidora do estado pessoal
que consta obrigatoriamente do registo civil. É a situação em que se encontram os indivíduos
tendo em conta as relações estabelecidas entre estes por meio de celebração ou rompimento do
contrato nupcial.
c) Existência de Irmãos
De acordo com o DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA DA ACADEMIA
DAS CIÊNCIAS DE LISBOA (2001), irmão é o "ser do sexo masculino ou feminino que e filho dos
mesmos pais, em relação a outro, ou apenas do mesmo pai, ou da mesma mãe".
Na operacionalização desta variável, foi construída uma pergunta fechada, que só apresenta
dois tipos de resposta possíveis: Sim ou Não.
d) Meio de transporte
Meio de transporte é "deslocação ou condução de pessoa ( .... ) mediante a utilização de
veículos ou por outros meios; acto ou efeito de transportar" (DICIONÁRIO DA LÍNGUA
PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA, 2001)
Na operacionalização desta variável, foi construída uma pergunta fechada, de escolha única,
categorizada em:
• De autocarro;
• De carro;
• A pé.
e) Ano de Escolaridade
Segundo o DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA DA ACADEMIA DAS
CIÊNCIAS DE LISBOA (2001), escolaridade é "frequência ou permanência na escola; período de
educação escolar."
Na operacionalização desta variável, consideram-se apenas duas possibilidades de resposta
(5.º e 6.º anos), uma vez que a amostra compreende alunos do 2° cicio.
g) Idade
Segundo COSTA, SAMPAIO e MELO (1997, p.986) idade e "o número de anos que uma pessoa
conta desde o seu nascimento ate à época que se fala".
Para operacionalizar esta variável, elaborámos uma pergunta aberta que, segundo FORTIN
(1999, p. 247) "as questões de resposta livre ou questões abertas deixam o sujeito livre para
responder como entender, sem que tenham de escolher respostas pré-determinadas".
Segundo FORTIN (2000) uma hipótese e um enunciado formal das relações previstas entre
duas ou mais variáveis, é uma predição baseada na teoria ou numa proposição desta.
Mais recentemente CAMPANA [et al] (2001) referiu que "a hipótese pode ser definida como
qualquer explicação proposta para um problema, mais ou menos provável, com base nos factos
acessíveis ou provas relevantes ou então, como uma tentativa de explicação mediante uma
preposição ou conjectura verosímil, destinada a ser provada pela comprovação dos factos."
Neste tipo de investigação não será levantada uma só hipótese mas várias, dada a
complexidade do trabalho. Tendo em conta a revisão teórica e os objectivos traçados,
enunciámos as seguintes hipóteses simples e não direccionadas:
H1 – Existe relação entre a nacionalidade e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do Ensino Básico.
H2 – Existe relação entre o sexo e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do Ensino Básico.
H3 – Existe relação entre a idade e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do Ensino Básico.
H4 – Existe relação entre o estado civil dos pais e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do Ensino
Básico.
H5 – Existe relação entre o número de irmãos e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do Ensino
Básico.
H6 – Existe relação entre o ano de escolaridade e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do Ensino
Básico.
H7 – Existe relação entre a existência de reprovação e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do
Ensino Básico.
H8 – Existe relação entre a frequência do jardim-de-infância e o Bullying em alunos do 2.º
ciclo do Ensino Básico.
H9 – Existe relação entre a frequência de aulas de apoio e o Bullying em alunos do 2.º ciclo do
Ensino Básico.
H10 – Existe relação entre a prática de actividades extracurriculares e o Bullying em alunos do
2.º ciclo do Ensino Básico.
Segundo FORTIN (1999) a metodologia é "o conjunto dos métodos e das técnicas que guiam a
elaboração do processo de investigação científica."
Nesta fase, o investigador para dar resposta às questões de investigação que colocou ou as
hipóteses formuladas ira determinar os métodos que vai utilizar.
É nesta fase do projecto que se indica: o tipo de investigação realizada, a formulação de
hipóteses, as variáveis e sua operacionalização, havendo coerência entre as definições
conceptuais e os critérios de mencionação; indica o processo de selecção da amostra, os
instrumentos de colheita de dados mais adequados à natureza das variáveis e as características
dos elementos da amostra; refere como se processou a colheita de dados e quais os preceitos
éticos considerados, bem como indica e justifica as técnicas e medidas estatísticas utilizadas
(FORTIN, 1999).
8.1.1 - Meio
O Estudo será realizado em meio natural, mais concretamente na Escola Básica 2/3 de
Lamego. A escolha desta escola deve-se ao facto de esta se localizar no concelho de Lamego, local
onde esta problemática, segundo a nossa pesquisa, não se encontra muito desenvolvida. Foi
escolhida esta escola pela facilidade de contacto com os membros do Conselho Executivo da
mesma e por abranger a amostra que pretendemos estudar.
O coeficiente de variação, de acordo com o que FORTIN (1999) refere, permite-nos comparar
a variabilidade de duas variáveis. Nas análises estatísticas dos valores relativos aos coeficientes de
dispersão utilizamos os intervalos descritos no quadro 1 (PESTANA e GAGEIRO, 2003, p.89):
Segundo FORTIN (1999), analisar é decompor um todo nos seus elementos constituintes.
Isto é, o espírito vai do complexo para o simples, a fim de examinar cada um dos
componentes, sempre com o objectivo de propor uma explicação para um determinado
fenómeno.
"Os dados de uma pesquisa constituem elementos de informação obtidos durante a
investigação e são o resultado dos valores reais das variáveis em estudo" (POLIT e HUNGLER,
1995, p. 28).
Contudo, no entender das mesmas autoras, os dados, per si, não respondem às questões da
pesquisa. Para que isso aconteça, estes precisam de ser processados e analisados de uma forma
ordenada e coerente.
No processo de análise, o investigador destaca um perfil das características dos sujeitos,
determinadas com a ajuda de testes estatísticos apropriados ou com análise de conteúdo.
Na apresentação dos resultados do nosso estudo e como já referimos, optámos por
reproduzir os dados organizados em tabelas e gráficos de modo a permitir uma melhor
compreensão e discussão dos dados.
Sempre que se refiram aos mesmos dados, procederemos a análise conjunta de quadros e
gráficos, cujas fontes, bem como o local e data, serão omissos uma vez que a população, a fonte e
o instrumento de colheita de dados é sempre a mesma.
Nacionalidade
Tabela 1 – Nacionalidade
Nacionalidade N %
Alemanha 3 1,5
Suíça 4 2,0
Bulgária 1 0,5
França 2 1,0
Moldávia 1 0,5
Mo – Portuguesa
Gráfico 1 – Nacionalidade
A idade dos alunos por nós inquiridos oscila entre os 9 e os 15 anos. A média de idades é de
10,76 anos (tabelas 2, 3 e 4 e gráfico 2).
Tabela 2 – Idade
Idades N %
9,00 7 3,6
10,00 78 39,6
11,00 82 41,6
12,00 18 9,1
13,00 10 5,1
14,00 1 0,5
15,00 1 0,5
Total 197 100,0
x – 10,76 anos
Tabela 3 – Sexo
Sexo N %
Masculino 107 54,2
Feminino 90 45,7
Total 197 100,0
Mo – Masculino
Mo – 11 anos
No que diz respeito ao estado civil dos pais, não existem dúvidas de que a grande maioria da
amostra refere que os pais são casados (82,7 %), sendo os restantes separados (8,6%), juntos
(5,6%) e viúvos (3,0%) (tabela 5 e gráfico 3).
Mo – Casados
Número de irmãos
Relativamente aos irmãos verificamos que a maioria refere ter irmãos (83,8%), quanto ao
número de irmãos, podemos verificar que apenas 16,8% dos estudantes questionados referem
não ter irmãos, sendo que a maioria (59,6%) refere ter um irmão, 15,2% tem dois e apenas 9,2%
tem três ou mais irmãos (tabela 6 e 7).
Tabela 6 – Irmãos
Irmão N %
Sim 165 83,8
Não 32 16,2
Total 197 100,0
Mo – Irmãos Sim
Mo – Um irmão
Dos que referem ter irmãos, verificamos que a maioria (55,8%) esses são mais velhos, e 31,5%
mais novos. Ainda 11,5% tem irmãos mais velhos e mais novos e apenas 2,0% irmãos da mesma
idade (tabela 8 e gráfico 4).
Mo – Mais velhos
No que diz respeito ao meio de transporte utilizado na ida para a escola pelos inquiridos
verificamos que o mais usado é o autocarro com 60,4% das respostas, 31,6% usam o carro e
somente 8,6% vão a pé (tabela 9 e gráfico 5).
Mo – Autocarro
Ano de Escolaridade
Observando a tabela 10, podemos verificar uma divisão igual da amostra 50,0% pelo 5° e 6°
ano.
Tabela 10 – Ano de Escolaridade
Ano de Escolaridade N %
5.º Ano 90 45,7
6.º Ano 107 54,3
Total 197 100,0
Mo – 6.º Ano
Frequência de Jardim-de-infância
Mo – Sim
Reprovações
Através da tabela 12 e gráfico 6, verificamos que 84,8% dos alunos inquiridos nunca
reprovaram, sendo de apenas 15,2% os que não obtiveram sucesso escolar.
Tabela 12 – Reprovações
Reprovações N %
Sim 30 15,2
Não 167 84,8
Total 197 100,0
Mo – Não
Mo – Não
Mo – Não
Mo – Adoro
Questionados acerca da existência de divisão do recreio com diferentes sítios para os meninos
e meninas brincarem, verificamos pela leitura da tabela 16 que a quase totalidade dos alunos
inquiridos revelam um posição favorável (88,8%), e apenas 11,2% o contraria.
Mo – Sim
Pela questão expressa na tabela 17, quisemos saber quantas vezes aconteceu aos alunos
inquiridos ficarem sozinhos no recreio porque os outros meninos e meninas não queriam brincar
consigo. Assim, e da sua leitura, verificamos que a maioria, com 79,2% das respostas, referem que
esta situação nunca aconteceu, 16,2% referem ter acontecido apenas uma ou duas vezes neste
período, 2,5% referem terem ficado sozinhos 1 vez esta semana e com 2,0% ficaram 3 ou mais
vezes sozinhos esta semana no recreio.
Mo – Nunca fiquei só
Da analise da tabela 18 e gráfico 10, que mostra a incidência de agressões aos alunos
inquiridos durante o período em questão, verificamos que a maioria com 62,4% das respostas,
referem nunca terem sido agredidos, 25,9% referem ter sido agredidos uma ou duas vezes, com
8,1% das respostas e apresentando-se de forma pouca representativa, os alunos que referiram já
ter sido agredidos três ou quatro vezes, com pouca representatividade também os alunos que
foram agredidos cinco ou mais vezes, com 3,6% das respostas.
Por outras palavras, podemos referir que 37,6% (N=74) da amostra já foi vítima de agressão.
De acordo com a operacionalização da variável dependente podemos considerar que foram
vítimas de Bullying um N=23 (11,7%) alunos.
Mo – Nunca
Formas de agressão
No que respeita às formas de agressão, apresentadas na tabela 19, verificamos pela análise
das respostas dos alunos inquiridos que a mais referida foi a de agressão verbal com nomes feios
e criticas de formas corporais, com 27,0% das respostas. Imediatamente a seguir a ameaça
referida é a agressão física, com murros e/ou pontapés por 18,4%. Logo a seguir, 17,2% dos
alunos foram alvo de nomes feios e sentiram-se agredidos por intrigas e segredos sobre a sua
pessoa. 11,5% dos alunos referem que outros lhes meteram medo. Encontramos com 9,2 % de
respostas os alunos a quem foram tiradas coisas e aqueles que apontam que lhes deixaram de
falar. Ainda, e de forma pouco representativa, em 7,5% das respostas, os alunos dizem ter sido
alvo de outras coisas.
Tabela 19 – Formas de agressão
N %
Bateram-me deram-me murros ou pontapés 32 18,4
Tiraram-me coisas 16 9,2
Meteram-me medo 20 11,5
Chamaram-me nomes feios. Disseram coisas sobre mim ou do meu corpo 47 27,0
Andaram a falar de mim, dizem segredos sobre mim 30 17,2
Não me falaram 16 9,2
Fizeram-me outras coisas. 13 7,5
Total 174 100,0
Mo – Empurraram-me
Locais de Agressão
No que diz respeito aos locais de agressão podemos referir que esta ocorre com maior
frequência no recreio (50,9%). Os 49,1% restantes estão divididos pelos outros locais designados
na tabela 21.
Mo – Recreio
60
50
40
30
Sim Não
20 Sim Não
10
0
Comunicação ao professor Comunicação aos pais
Das atitudes tomadas pelos professores face à agressão (tabela 23), a maior parte dos alunos
inquiridos, 68,5% referem não saber se o professor interveio, 16,8% referem que o professor
quase nunca interferiu e 10,2% referem que às vezes intervêm. Ainda de referir que 4,6%
responderam que o professor intervém muitas vezes.
Mo – Não sei
Mo – 3 ou mais meninos
Na tabela 25, são relatadas as razões da agressão que os alunos agredidos referem, e
encontramos o facto de serem bons alunos no topo da lista com 13,8% das respostas, 13,3%
dizem ser alvo de agressões por participarem nas aulas. 12,8% referem o aspecto físico,
nomeadamente a magreza. Com 6,4% o facto de usarem óculos. O facto de não ter telemóvel ou
mp3, também com 6,4%. Não ter roupa de marca é motivo para agressão em 5,9%. Novamente o
aspecto físico, desta vez o facto de ser gordo, com 5,6%. Com 3,7% encontramos aqueles que só
usam roupa de marca e os que são de outra raça/etnia. 1,1% referem o uso de aparelho nos
dentes como motivo de ser agredido e por fim o facto de ser mau aluno, com 1,1% das respostas.
A tabela 26 e gráfico 12, mostra a incidência de agressões pelos alunos inquiridos a outros
meninos durante o período em questão. Podemos observar que a maioria (78,7%) refere nunca
ter agredido, 17,3% refere ter agredido apenas uma ou duas vezes, e apenas 3,0% três ou quatro
vezes e 1,0% cinco ou mais vezes.
Por outras palavras, podemos referir que 21,3% (N=42) da amostra já foi agressor.
De acordo com a operacionalização da variável dependente podemos considerar que são
agentes na prática de Bullying um N=8 (4,0%) alunos.
Mo – Nunca
No que respeita ao agressor (tabela 27 e gráfico 13), salientamos as agressões pelo sexo
masculino, quer de forma individual (40,3%) ou em grupo (37,7%). Agressões por raparigas
apenas são referidas em 13,0 % das situações.
Revelamos ainda os 9,1% dos alunos que referem ter sido agredidos por rapazes e raparigas.
Mo – Um rapaz
45
40
35
30
25
20
15
10
0
Um rapaz Uma rapariga Vários rapazes Várias raparigas Rapazes e
raparigas (ambos)
Como podemos verificar na tabela 28 e no gráfico 14, os alunos que sofreram algum tipo de
agressão, quando questionados sobre a "idade" dos agressores, conclui-se que a maioria destes
são "mais velhos" (49,8%), ou seja, têm uma idade superior aos agredidos, com 26,5% das
respostas, os agredidos indicam que apesar dos agressores sejam do mesmo ano, são de outra
sala. Com a mesma percentagem para os agressores da mesma sala. 9,5% dos agressores são mais
novos que os agredidos.
60
50
40
30
20
10
0
São da minha sala São do meu ano mas São mais velhos São mais novos
são de outra sala
Para finalizar, foi de interesse para o estudo, os sentimentos vividos na agressão, quer como
agredido, quer como agressor.
A tabela 29, respeita aos sentimentos vividos pelos meninos inquiridos no momento da
agressão, e verificamos pela sua análise que a raiva é o sentimento mais referido (21,4%), seguido
pela vontade de lhe bater (20,8%), medo e revolta (15,1%), tristeza (13%), humilhação/vergonha
(12%), vontade de fugir (7,8%) e angústia (5,7). Ainda de referir 5,2% dizem não ter sentido nada.
No que respeita aos sentimentos vividos no dia seguinte à agressão, e pelos dados
apresentados na tabela 30, salientamos que 16,3% revela um sentimento de vingança, 8,9%
revelam não ter sentido nada, a mesma percentagem para aqueles que sentiram revolta. 8,4%
sentiram raiva, 7,4% medo, 6,8% confiança, 5,3% não quis ir à escola, 3,2% sentiram vergonha e
humilhação/tristeza. De referir que 1,6% sentiram angústia.
Já como agressor a maioria (34,2%) refere não sentir nada no momento da agressão, 14,5%
refere sentir raiva, pode e força. 10,5% teve o reconhecimento dos colegas mais velhos. 6,6%
obteve a crítica dos colegas mais velhos e 5,3% refere ter sentido felicidade face à agressão por si
praticada (tabela 31).
Por fim, e para terminar o estudo das variáveis emocionais, foi de interesse questionar os
alunos que referiram já ter sido agressores, sobre o que sentiriam se os pais tivessem
conhecimento da sua agressão. Assim, e pela análise da tabela 33 verificámos que a maioria
(55,7%) revela um sentimento de medo, 21,3% refere não sentir nada, 11,5% referem estar à
vontade. De salientar que a mesma percentagem de 11,5% (N=7) não responderam à pergunta.
Mo – Medo
Para a avaliação desta variável e tal como já foi referido, considerando Bullying quando se
verificarem três ou mais agressões (quer como agredido, quer como agressor), verificamos pela
leitura da tabela 34 e gráficos 15, que dos 197 alunos inquiridos em 31, verificou-se Bullying, ou
seja, 15,7%.
Tabela 34 – Bullying
Bullying N %
Sim 31 15,7
Não 166 84,3
Total 197 100,0
180
166
160
140
120
100
84,3%
80
60
40 31
20
15,7%
0
Sim Não
Pela apresentação e análise dos dados nas tabelas teremos uma percepção da relação entre
a variável dependente estudada e as diversas variáveis independentes que queremos relacionar.
Mas isso não passa de uma percepção, pois para podermos afirmar o que quer que seja,
temos que utilizar “ferramentas” da estatística inferencial, que são os teste de hipóteses e que,
segundo POLIT e HUNGLER (1995, p.103), “é uma explicação da relação entre duas ou mais
variáveis” ou que por outras palavras, procura traduzir o enunciado do problema para uma
previsão precisa e clara dos resultados. Assim, só através destes testes poderemos aceitar ou
rejeitar as hipóteses por nós formuladas.
No que diz respeito à existência de Bullying em relação à nacionalidade dos alunos inquiridos
(tabela 34), verificamos na nossa amostra através das frequências percentuais, uma incidência de
13,2% de alunos portugueses, para 50% de estrangeiros.
Verificamos que, as diferenças estatísticas encontradas (p=0.004) são bastante significativas,
razão pela qual aceitamos a hipótese H1.
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
** – p < 0,01
No que diz respeito à existência de Bullying em relação à nacionalidade dos alunos inquiridos
(tabela 35), verificamos na nossa amostra através das frequências percentuais, uma incidência de
21,5% no sexo masculino para 6,7% do sexo oposto.
Verificamos que, as diferenças estatísticas encontradas (p=0.003) são bastante significativas,
razão pela qual aceitamos a hipótese H2.
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
** – p < 0,01
No que diz respeito à existência de Bullying em relação à idade dos alunos inquiridos (tabela
36), verificamos na nossa amostra através das frequências percentuais, uma incidência de 17,9%
para a idade de 10 anos, 14,6% para 11 anos, 5,6% para 12 anos, 10% para13 e de 100% para a
idade de 14 anos.
Verificamos que, as diferenças estatísticas encontradas (p=0,162) não são significativas, razão
pelo que rejeitamos a hipótese H3, ou seja, concluímos que não existe associação entre a idade e
o Bullying.
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
Relativamente à influência do estado civil dos pais na incidência de Bullying entre os alunos
do 2.º Ciclo do Ensino Básico, verificamos pelos resultados expressos na tabela 37, uma maior
incidência de Bullying em alunos cujos pais se encontram separados com 29,4%, seguidos dos
alunos com pais viúvos com 16,7%, em alunos com os pais casados 13,5% e com os pais juntos de
9,1%. No entanto verificamos que, as diferenças estatísticas encontradas (p=0,332) não são
significativas, razão pelo que rejeitamos a hipótese H4, ou seja, concluímos que não existe
associação entre o estado civil dos pais e o Bullying.
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
No que respeita ao número de irmãos, pela análise da tabela 38, podemos apurar uma maior
incidência de Bullying em alunos com três ou mais irmãos, respectivamente 28,6% do grupo,
comparativamente com os 17,9% do grupo que refere ter dois irmãos, dos 12,9% do grupo que
refere ter um irmão e dos 9,4% do grupo que refere não ter irmãos. Contudo, e apesar das
diferenças encontradas entre os grupos, estas não são, pelo teste, consideradas estatisticamente
significativas (p=0,217), razão pela qual rejeitamos a hipótese formulada.
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
Tendo por base a tabela 41, verificamos que a maior incidência de Bullying em alunos que
frequentaram aulas de apoio (15,9), comparativamente com os alunos que não as frequentaram
(14,1%). Constatamos no entanto, que as diferenças estatísticas encontradas não são
significativas pela aplicação do teste (p=0,722), rejeitando-se a hipótese formulada, ou seja, não
existe relação significativa entre a frequência de aulas de apoio e o Bullying nos alunos do 2.º
Ciclo do Ensino Básico.
N % N %
X2 – Pearson Chi-Square
X2 – Pearson Chi-Square
Após a apresentação e análise dos dados obtidos e o tratamento estatístico efectuado, impôs-
se como passo seguinte a sua discussão. Durante esta pretendemos confrontar e explicar os
resultados obtidos da análise do instrumento de colheita de dados com as hipóteses, com a
fundamentação teórica e com os resultados de outros autores.
A interpretação dos resultados refere-se ao processo de compreensão e de exame das
implicações da descoberta (POLIT e HUNGLER, 1995). O investigador analisa o conjunto de
resultados e interpreta-os de acordo com o tipo de estudo e o quadro de referência utilizados
(FORTIN, 1999).
Ou seja, em termos simplistas, o processo de discussão e interpretação dos resultados
constitui a tentativa do pesquisador para explicar as descobertas, relacionando-as com os
trabalhos anteriores conhecidos na área.
Assim, a discussão dos dados em torno da verificação de hipóteses deverá incidir sobre os
resultados significativos previstos pelo investigador, os resultados não significativos, os resultados
significativos diferentes dos previstos e os resultados não previstos (FORTIN, 1999).
O Bullying, apesar de ser uma problemática bastante divulgada pela comunicação social, tem
sido alvo de poucos estudos em Portugal, o que nos trouxe dificuldades, sobretudo no que
concerne a uma sustentação teórica consistente. No entanto constituiu um desafio permitindo-
nos contribuir para o auto enriquecimento no que respeita a novos saberes e conhecimentos.
Para uma melhor organização da nossa discussão, optámos por interpretar os resultados
obtidos tendo por base as hipóteses levantadas.
O Bullying é considerado como um comportamento agressivo de intimidação e que apresenta
um conjunto de características comuns, entre as quais se identificam várias estratégias de
intimidação do outro e que resultam em práticas violentas exercidas por um indivíduo ou por
pequenos grupos, com carácter regular e frequente.
No nosso estudo verificamos que dos 197 alunos inquiridos, 31 (15,7%) sofrem de Bullying.
Facto comprovado por outros estudos realizados em Portugal e em outros países da Comunidade
Europeia, que situam a incidência de Bullying entre os 15 e os 20% (PEREIRA, 2008).
Quanto à nacionalidade verificámos que a maioria dos alunos inquiridos (94,4%) são
portugueses e apenas 5,6% são de nacionalidade estrangeira.
Relativamente à hipótese formulada para esta variável, constatámos que, existe uma
predisposição em alunos de nacionalidade estrangeira para o Bullying, existe relação
estatisticamente significativa (p=0,004) entre a naturalidade e o Bullying nos alunos do 2.º ciclo
do Ensino Básico e por esta razão aceitamos a hipótese formulada.
Não foram encontrados estudos anteriores que relacionassem estas duas variáveis.
A amostra deste estudo é constituída, como referimos anteriormente, por 197 indivíduos, dos
quais 54,2% são do sexo masculino e 45,7% são do sexo feminino.
Relativamente à hipótese formulada para esta variável, constatamos que existe uma maior
incidência de Bullying nos alunos de sexo masculino (21,5%) do que no sexo feminino (6,7%),
sendo as diferenças encontradas estatisticamente significativas (p=0,003). Por isto aceitamos a
hipótese formulada e confirmamos a relação entre o sexo e o Bullying nos alunos do 2.º ciclo do
Ensino Básico. Os resultados obtidos estão de acordo com os estudos realizados por Carvalhosa
(2001) para a população portuguesa.
Na nossa amostra a idade dos alunos esta compreendida entre os 9 e os 15 anos, sendo que a
média de idades é de 10,76 anos.
Do estudo, constatámos que não existe relação (p=0,162) entre a idade e o Bullying nos
alunos do 2.º ciclo do Ensino Básico. Estes resultados são inversos aos estudos realizados por
Olweus (1978) para a população sueca e norueguesa e Carvalhosa (2001) para a população
portuguesa.
O estado civil dos pais casados é o mais predominante registando 82,7% do total dos
indivíduos inquiridos, seguindo-se os separados com 8,6% e os viúvos com 3%.
No nosso estudo constatamos que existe uma maior incidência de Bullying em alunos cujos
pais se encontram separados (29,4%) para 13,5% em alunos de pais casados. No entanto
verificamos não serem significativas as diferenças estatísticas encontradas entre os grupos
(p=0,332), não se confirmando a hipótese formulada.
Um estudo elaborado por Ramirez (2001), refere que uma ruptura familiar, como um divórcio
pode desencadear a agressividade infantil, o que, de certa forma comprova os resultados obtidos.
Relativamente ao ano de escolaridade verificámos uma divisão de 45,7% de alunos do 5.º Ano
e 54,3% de alunos do 6.º Ano. O estudo desta variável mostra-nos que existe uma incidência
ligeiramente maior de Bullying nos alunos do 5.º ano (15,6%), para 14,0% dos alunos do 6.º ano.
No entanto rejeitamos a hipótese formulada, uma vez que as diferenças encontradas não são
estatisticamente significativas (p=0,762).
Não foram encontrados estudos anteriores que relacionassem estas duas variáveis.
No que diz respeito à existência de reprovações, verificámos que 84,8% dos alunos inquiridos
nunca reprovaram, sendo que apenas 15,2% o consideram.
Os resultados revelam-nos uma maior incidência de Bullying nos alunos que já referiram não
ter reprovado (16,2%), sendo que as diferenças encontradas não são significativas (p=0,176).
Assim não aceitamos que exista relação entre estas variáveis, não se confirmando a hipótese
formulada.
Não foram encontrados estudos anteriores que relacionassem estas duas variáveis.
No que diz respeito à prática de actividades extracurriculares a maioria da amostra refere não
praticar (52,3%). Concluímos com os dados obtidos que existe uma menor incidência de Bullying
nos alunos que praticam actividades extracurriculares (10,2%), porem as diferenças encontradas
não são estatisticamente significativas (p=0,097), sendo assim rejeitamos a hipótese formulada.
Os dados obtidos vão ao encontro dos referidos por Carvalhosa (2001) para a população
portuguesa.
Após a análise das hipóteses concluímos que 2 das variáveis independentes são preditoras de
Bullying, nomeadamente a nacionalidade e o sexo.
Este capítulo destina-se a ser um ponto de reflexão sobre os aspectos e resultados mais
importantes obtidos através deste trabalho de investigação, por isso, tendo em conta os
objectivos inicialmente propostos, iremos destacar as principais conclusões inerentes aos
resultados do nosso estudo.
Para além de aprofundar os nossos conhecimentos teóricos no âmbito do Bullying, este
estudo, possibilitou-nos a aprendizagem e a realização de uma investigação obedecendo aos
requisitos necessários para a sua validade e veracidade circunstanciais.
Vários autores referem que o Bullying traz repercussões na vida dos indivíduos, quer das
vítimas quer dos agressores, já que constitui um comportamento agressivo, intencional e repetido
entre pares. Dado ser um fenómeno global, frequente e actual, fez todo o sentido o seu estudo,
visando não só o conhecimento dos determinantes nele envolvidos, mas também alertar a
comunidade escolar para as suas consequências.
Desta forma, relançando um olhar sobre o percurso da investigação realizada, concluímos o
seguinte:
• Cerca de 15,7% dos alunos estiveram envolvidos em práticas de Bullying, seja como agressor
ou vitima;
• Há uma tendência para os rapazes estarem mais expostos às práticas de Bullying do que as
raparigas;
• Os alunos de nacionalidade estrangeira têm uma maior predisposição para práticas de
Bullying;
• Há uma propensão para práticas de Bullying em alunos cujos pais se encontram separados;
• Os alunos que não sofreram reprovações escolares e que se encontram na faixa etária 14
anos são os que apresentam maior incidência de Bullying;
• Segundo as vitimas, o agressor é maioritariamente do sexo masculino, actuando quer de
forma individual (40,3%), quer em grupo (37,7%);
• O tipo de agressão mais referida é o facto de ser bom aluno e ser participativo nas aulas,
com 13,8% e 13,3%, respectivamente;
• O recreio é o local de maior frequência de agressão (50,9%);
• A maioria dos alunos denuncia a agressão aos professores (55,8%), e 46,2 % denuncia-a aos
pais;
• Na presença de agressão a maioria dos professores (16,8%) não intervêm;
Das dez hipóteses formuladas no nosso estudo, oito delas foram rejeitadas, sendo de concluir
que as variáveis, situação civil dos pais, existência de irmãos, ano de escolaridade, frequência de
jardim-de-infância, existência de reprovações, frequência de aulas de apoio e pratica de
actividades extracurriculares não interferem ou não influenciam o Bullying.
As restantes variáveis em estudo (nacionalidade e sexo) foram aceites, sendo de concluir que
apenas as variáveis sóciodemográficas, anteriormente referidas, exercem influência no Bullying.
Ao longo deste trabalho deparámo-nos com algumas limitações, que apesar de não afectarem
directamente as conclusões principais, condicionaram a quantidade de elações que poderíamos
alcançar.
O período de tempo para a realização deste estudo apresentou-se como uma barreira
importante, visto que quando fizemos um ponto de situação do trabalho, percepcionámos que
este poderia ter caminhado noutro sentido: trabalhar com duas variáveis dependentes Bullying
enquanto vítimas e Bullying enquanto agressores, mas o factor tempo assim não permitiu.
Seria necessário identificar as vítimas e os agressores, aplicando-lhes questionários distintos e
capazes de traçar o perfil de cada um deles.
Intimamente relacionado com esta limitação está, também, o facto da nossa amostra
populacional ser pequena para que se pudesse subdividir nos dois grupos anteriormente
referidos, contudo esta amostra foi suficiente para que conseguíssemos concluir que existe
Bullying na nossa população em estudo.
Apesar das limitações com que nos deparámos, temos a plena consciência que este estudo se
apresenta como uma mais-valia, por ser sobretudo, uma porta aberta para se continuar a estudar,
comparar investigações e confrontar as ideias, isto é, um meio para se atingir um fim.
ALMEIDA, A. M. T. - Para além das tendências normativas: O que aprendemos com o estudo
dos maus-tratos entre pares. Psychologia. N.º 43. 2006. p. 79-104.
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professores. Porto Editora, 1999.
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contexto escolar. Analise Psicológica. N.º 4. Serie XX. 2002.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P.A. - Metodologia Cientifica. 3.ª ed., São Paulo, McGraw-Hili, 1993,
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FREIRE, Isabel; SIMÃO, A. M.; FERREIRA. - O Estudo da violência entre pares no 3° ciclo do
Ensino Básico: Um questionário aferido para a população escolar portuguesa. Revista Portuguesa
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RODRIGUEz, Nora Ethel - Bullying: Guerra na escola. Lisboa: Sinais de Fogo. 2004.
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SILVA, Eduardo Jorge F. L. - Bullying: estudo comparativo das práticas agressivas entre rapazes
e raparigas do 2.º ciclo. Braga: Universidade do Minho. Outubro, 2005.
AUTORIZAÇÃO PARA
APLICAÇÃO DE
QUESTIONÁRIO
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 100
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 101
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 102
ANEXO II
PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO
PARA APLICAÇÃO DO
INSTRUMENTO DE COLHEITA
DE DADOS
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 103
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 104
ANEXO III
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 105
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 106
ANEXO IV
INSTRUMENTO DE COLHEITA DE
DADOS
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 107
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 108
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 109
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 110
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 111
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 112
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 113
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 114
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO | Grupo 1 – Isabel Sousa, Márcia Lima, Pedro Silva 115
@2010