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Essa Cidade sou eu?

Uma Crônica Sobre a Dimensão


Simbólica da Cidade

Ivan Marques da Silva


Aluno do mestrado, turma 2010 - IPPUR
RECIFE
“Que inveja que tenho ao cronista que houver de saudar
desta mesma coluna o Sol do século XX. Que belas
cousas que ele há de dizer, erguendo-se na ponta dos pés,
para crescer com o assunto, todo auroras e folhas verdes!
Naturalmente maldirá o século XIX, com as suas guerras e
rebeliões pampeiras e terremotos, anarquia e despotismo,
cousas que não trará consigo o século XX, um século que
se respeitará, que amará os homens, dando-lhes a paz,
antes de tudo, e a ciência, que é ofício de pacíficos, [...]
pois o século XX trará a equivalência dos jantares e dos
apetites...” (MACHADO DE ASSIS, A SEMANA, 1994).
Foi no Rio[...]
O mar batia em meu peito, já não sabia no cais.
A rua acabou, quede árvores?
a cidade sou eu
a cidade sou eu, sou eu a cidade meu amor.
(CORAÇÃO NUMEROSO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Há que tempo que não te vejo!


Não foi por querer, não pude.
Nesse ponto a vida me foi madrasta,
Recife
Mas não houve dia em que te não sentisse dentro de mim:
Nos ossos, nos olhos, nos ouvidos, no sangue, na carne,
Recife.
Não como és hoje,
Mas como eras na minha infância,
Quando as crianças brincavam no meio da rua
(RECIFE – MANUEL BANDEIRA)
Tem nome de rio esta cidade
onde brincam os rios de esconder.
Cidade feita de montanha
em casamento indissolúvel
com o mar.
Aqui
amanhece como em qualquer parte do mundo
mas vibra o sentimento
de que as coisas se amaram durante a noite.
As coisas se amaram. E despertam
mais jovens, com apetite de viver
(DRUMMOND, RETRATOS DE UMA CIDADE)

Escrevo diante da janela aberta [...]


Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
(MARIO QUINTANA - A RUA DOS CATAVENTOS)
 “A expressão apropriação espacial no mundo animal, revela as condutas de
demarcação, limitação, certos espaços delimitados, segundo os quais os animais
estão mais propriamente ligados. Por analogia, a expressão apropriação espacial
designa as condutas que asseguram ao homem uma relação afetiva e simbólica do
seu ambiente espacial” (PIERRE MERLIN E FRANÇOISE CHOAY, 2002 –
tradução da Doutora em Urbanismo Lúcia Leitão).

 “Chegado o dia da fundação, Rômulo oferece primeiramente um sacrifício. Os


companheiros a sua volta acendem um fogo de ramos e cada homem, por sua
vez, pula através das chamas (...) Após essa cerimônia preliminar ter preparado o
povo para o ato solene da fundação, cava Rômulo pequeno fosso em forma
circular. Lança neste o torrão de terra por ele trazido (...) Depois, aproximando-se,
cada um dos seus companheiros lança, por sua vez, (...) um pouco da terra trazida
consigo de seu país de origem (...) Ao redor desse fogo devia erguer-se a cidade
(...), Rômulo traçou um sulco, com o qual assinalou o recinto (...) Esse recinto,
traçado pela religião, permanece inviolável”
Camillo Sitte, em “A Construção das Cidades Segundo seus Princípios Artísticos”, confirma esse olhar
racional trazido com o Modernismo. Segundo ele,
“(...) apenas em nosso século matemático é que os conjuntos urbanos e a expansão das cidades se
tornaram uma questão quase puramente técnica, e assim parece importante lembrar que, com isso,
apenas um aspecto do problema [das cidades] é solucionado, enquanto o outro, o artístico, deveria ter,
no mínimo, a mesma importância” (SITTE, 1992, p.15).

Le Corbusier: Cidade sã e nobre


“nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos
cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz” (PLANO PILOTO DE
BRASÍLIA RESULTANTE DO DECRETO Nº 10.829/87,1987).
 [1]Literalmente diz Freud: [...]; la vivienda, un sucedáneo del vientre materno,
primera morada cuya nostalgia quizá aún persista en nosotros, donde estábamos
tan seguros y nos sentíamos tan a gusto. FREUD, Sigmund. El malestar en la
cultura. In Obras Completas.Editorial Biblioteca Nueva. Madri, 1973, p. 3034.

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