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Recuemos, então, 35 anos. E na foto mais famosa de Ut, vemos um grupo de crianças
no Vietname a fugir dos bombardeamentos. E, no meio da estrada, com os braços
abertos, uma rapariga de nove anos, totalmente despida, com uma expressão de
choque e de horror.
A foto correu mundo, Ut ganhou o Pulitzer respectivo. E depois foram 35 anos de
silêncio, apenas quebrados por uma foto recentemente tirada. Temos uma nova
rapariga. Temos também novo choro. Mas, desta vez, a personagem em questão
não é uma criança vietnamita. É Paris Hilton, no banco traseiro de um carro
policial, no dia que soube que a cadeia esperava por ela devido a uma infracção
qualquer. A foto voltou a correr o planeta e Nick Ut regressou, subitamente, ao
reino dos vivos. (…) Há 35 anos, a «seriedade» e a «brutalidade» do mundo
exigiam testemunhas capazes de o mostrar a um auditório atento e disponível.
Hoje (…) não há grandes narrativas bélicas ou ideológicas para escrever ou
fotografar. A História chegou ao seu termo e o ocidente acredita que sim. E por
isso consome, como nunca consumiu, as alegrias e as tristezas das «celebridades».
Neste capítulo, Paris Hilton não tem par: na sua vulgaridade sensual e sexual; na
sua visível, festiva e até autocelebrada falta de massa encefálica; e num certo
niilismo ético, estético e até espiritual, Hilton é um sucesso que as massas jamais
ignoram ou esquecem. (…) No século XXI desprestígio é não ser uma
[celebridade].”