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O ser humano como um ser livre

Costuma-se associar a de abandonar a ética, a


questão da liberdade a Todavia se é verdade que a moral, o direito, a cultura e
própria questão do ser própria noção de “ser tudo o mais que deriva de
humano. E comum humano“ depende de sua atitudes humanas
ouvirmos definições que liberdade, ou seja, da propriamente ditas; a ética
caracterizam o humano, possibilidade de atos livres – e o direito seriam
exatamente, através da como é nosso parecer, se imediatamente abolidos, e
liberdade que lhe e inerente não quisermos pensar na ninguém poderia ser
ou de que faz uso – idéia do ser humano como culpada por suas ações. O
diferentemente das uma máquina pré- tema da justiça seria
maquinas, inteiramente programada -, então é “superado”, e teríamos um
programados ou dos demais necessário que abordemos mundo onde o caos e a
seres vivos, determinados novamente este tema da violência seriam absolutos,
por sua filosofia e seus possível aparência de atos pois qualquer um poderia
instintos. Segundo esta livres que seriam, na alegar que os atos que
definição, o ser humano é verdade, atos instintivos ou cometeu estariam
necessariamente livre, ou socialmente determinados. previamente determinados
não será humano. Suas Esta abordagem porem será em sua natureza, e ele não
ações são, segundo esta feita desde outra teria podido agir senão
concepção, dirigidas por perspectiva, para superar o como o fez.
decisões livres frente ao obstáculo aparentemente II. Por outro
mundo que o cerca. Esta instransponível que a lado, a idéia de
definição parece-nos muito objeção acima propõe. liberdade não existe
adequada; temos porem que Assim, temos de pensar a em si mesma, mas
nos ver com questões graves liberdade não apenas apenas na sua
que advêm, justamente, da enquanto uma dimensão concretização, nas
articulação intima entre “ser formal que caracterize certo suas obras; é apenas
humano” e “liberdade”. ato, como na expressão “este quando se
Estas questões precisam ser é um ato livre“. A liberdade estabelecem
repensadas a fundo. Parece- não pode ser adjetiva; ela condições
nos que a mais relevante tende ser substantiva. O propriamente
delas é a seguinte: não se problema, porem, é que em humanas de vida –
tratará, a liberdade, de uma nome da liberdade já se ou seja, eticamente
ilusão, ou seja, não será o cometeram e se cometem os e ecologicamente
ser humano não apenas mais diversos crimes e sustentáveis – em
condicionado por violências. De forma uma sociedade, que
circunstancias históricas e nenhuma estamos, então, se pode reivindicar,
sociais e instintos propondo a idéia de uma para os atos
biológicos, mas pré- liberdade “absoluta” (o que, realizados, a
determinado por instintos de resto, é impossível, se característica de
que, assumindo aspectos levarmos em consideração “livres”.
sociais e culturais, tornam a todos os condicionamentos a Temos assim a possibilidade
aparência de decisões livres? que estamos sujeitos). de estabelecermos algumas
A questão e realmente muito O que estamos, sim, conclusões:
complexa. Os filósofos tem propondo, é que a liberdade a) “Humano” e “livre“
feito enormes esforços, ao só se efetiva em atos cujo estão intimamente
longo dos séculos, para conteúdo mais próprio seria ligados. Não é possível
solucionar a questão da a razão de ser da própria pensarmos o humano a
liberdade humana; e, liberdade. Em outros não ser na condição de
embora tenha feito grandes termos: a liberdade tem que livre.
progressos, a idéia de uma ser concebida como uma b) Porém “liberdade” não
liberdade enquanto uma faculdade eminentemente pode ser um conceito
essência meramente humana de estabelecimento meramente formal. Se
“pensada” parece continuar de condições humana de não for regulado por
sem poder responder a vida. De uma forma simples, seus resultados, um ato
objeção acima. esta idéia se traduz assim: “livre” pode ser
I. Se abandonarmos a compreendido, ou
Liberdade absoluta? idéia de liberdade, teremos como o resultado de
uma pré-determinação
instintiva ou social, ou
como um fator
predisponente à
violência contra o
outro.
c) A forma de
concretização da
liberdade humana é a
realização de atos que
favoreçam a vida e a
sustentabilidade
ecológica e social do
planeta (caso contrário,
a liberdade se auto-
anularia, no exercício
de atos que, ao
aniquilar a vida,
igualmente a
aniquilariam).
d) A esta forma de
concretização da
liberdade em termos de
sustentação da vida
podemos dar o nome de
“ética”; “ética”, o agir
propriamente humano,
é a realização concreta
da liberdade humana,
para alem de sua mera
idéia.
e) Por fim, esta
reconsideração leva a
uma renovada noção de
ser humano; podemos
dizer, como P. Pivatto,
que “ou se é moral, ou
não se é humano”. O
ser humano é aquele
que é capaz de agir de
tal forma que venha a
favorecer a vida na
terra, realizando assim
sua liberdade – uma
liberdade ética.

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