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TERMO DE APROVAÇÃO
_____________________________________________
Examinador
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, aos meus pais Obadias e Lucimar (Lúcia) que sempre me deram
muito amor e incentivo;
Aos meus amigos e irmãos Mário Lúcio, Nixon Marinho, Ederaldo Santos, André
Belo, Elias Montenegro por me fortalecerem durante momentos difíceis;
Agradeço ao meu orientador pela paciência e incentivo com que sempre me acolheu na
concretização desse trabalho.
Força Sempre !
6
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this research is to understand if the culture of a public school of Manaus
contributes to form critical and politically active individuals. The specific objectives are to
identify the principal values in the school culture as exposed in the Political-Pedagogic
Project; to analyse if those values are applied in school activity; and last, to understand if the
values applied in the school activity are stimulating in the formation of critical-reflexive
students. The research in the school showed that what is exposed in the P.P.P. doesn‘t
correspond to effective practices in school social relations. Often, the agents responsible for
the P.P.P. don‘t either know about or agree with the orientations presented by the document.
School, in practice, is not a democratic space because its practices are not oriented by the
ideal of stimulating participation of its agents in decisions that regard their school interests
(community, teachers and students). This work is inspired by critical-dialetical method and
was conducted through field and bibliographic research, with reference in studies of
Hall(1997), Lahire(2004), Luckesi (1994), Luck (2007), Dubet(2008) e Dalari (1998).
SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................................... 10
PARTE I ......................................................................................................................... 15
1. A cultura escolar na sociedade capitalista .................................................................. 15
1.1. Cultura escolar e cidadania ..................................................................................... 23
2. Metodologia .................................................................................................................... 30
2.1. História e experiência na análise da cultura escolar .................................................... 30
2.2. Hipótese da pesquisa .............................................................................................. 31
2.3. Central ....................................................................................................................... 31
2.3.1. Complementares ................................................................................................ 31
3. O processo de construção dos dados empíricos ............................................................. 32
3.1. Entrevistas ............................................................................................................. 34
3.2. Documento analisado ................................................................................................. 35
PARTE II ........................................................................................................................... 36
A CULTURA ESCOLAR EM UMA INSTITUIÇÃO ESTADUAL DE ENSINO
FUNDAMENTAL EM MANAUS.................................................................................. 36
4. As contradições da cultura escolar: entre o P.P.P. e a prática cotidiana ...................... 36
Considerações finais ....................................................................................................... 49
Referências ................................................................................................................. 50
Anexo .............................................................................................................................. 53
10
Introdução
Tanto mais pobre seja uma nação, mais baixos padrões de vida das classes inferiores,
maior será a pressão dos estratos superiores sobre elas, então consideradas desprezíveis,
inatamente inferiores, na forma de uma casta de nenhum valor. As diferenças
acentuadas no estilo de vida entre aquelas de cima é as de baixo apresentam-se como
psicologicamente necessárias (FREIRE, 2003, p.94).
A desigualdade que entendemos como algo predestinado e não como uma condição
real de existência é difundida não somente pela escola. Mas não podemos negar que esta
instituição em particular é uma das instituições mais eficazes para naturalização dos fatos.
Isso é o resultado vivo das ideologias e políticas que fragmentam cada vez mais os grupos
sociais. Daí a dificuldade de reconhecer a escola como um verdadeiro local de transformação
11
Para ser eficaz, toda educação imposta pelas classes proprietárias deve cumprir as três
finalidades essenciais seguintes: 1° destruir os vestígios de qualquer tradição inimiga, 2°
consolidar e ampliar a sua própria situação de classe dominante, e 3° prevenir uma
possível rebelião das classes dominadas (PONCE, 1986, p.36).
E mesmo tendo como espelho a educação da antiguidade clássica, não foram motivos
suficientes para sociedade contemporânea, dedica-se a escola; o melhor dos esforços é
convertê-la numa causa mais ampla, democrática e de certa maneira generosa. E para isso, é
necessário desprendermo-nos definitivamente da idéia de que a escola de qualidade é a escola
tida como de excelência na sociedade capitalista na formação de um indivíduo extremamente
competitivo e individualista. A ―educação deve ter por meta essencial reforçar em cada
indivíduo o ser social, o membro de uma de uma coletividade bem definida no tempo e no
espaço, e caracterizada por orientações culturais específicas‖ (FORQUIN, 1993, p.125).
A escola democrática que almejamos não está apenas no seu aspecto estrutural e cheia
de conteúdo, ela deve surgir com o acesso à informação dos pequenos grupos menos
favorecidos e que estão do lado de fora dos muros escolares, constituindo laços éticos e
interesses para o bem comum. O indivíduo recebendo educação, possui a oportunidade de ser
participativo nas relações sociais em grupo deixando de ser excluído. Dessa maneira, ―quanto
mais crítico um grupo humano, tanto mais democrático e permeável, em regra‖ (FREIRE,
2003, p.103).
12
1
Condeno toda a violência na educação de uma oferta que a alma é designada para honra e liberdade. E eu sou
de opinião de que o que não está a ser feito pela razão, a prudência, e comunicação, nunca é para ser feito pela
força.
13
e escola trouxeram dúvidas e inquietações, sendo elas as matrizes iniciais das minhas
observações e anotações.
Por um lado, interessava-me saber como problemas tais quais os do desemprego,
fome, miséria, corrupção e cidadania estão articulados com a escola, por exemplo, tinham
relação com a educação e, por extensão, para a construção do meu tema de trabalho. Por outro
lado, saber se a escola se preocupa em formar um aluno crítico e reflexivo, se por meio do
Projeto Político Pedagógico ela pode formar um aluno cidadão-militante ou que tipo de aluno
a escola busca formar por meio da educação em sala de aula.
Em tese, a escola envolve a crença de que visa formar um aluno cidadão. No entanto,
na prática, a escola parece ser um espaço social em que valores e conhecimentos voltados
exclusivamente para a formação para o mercado de trabalho são reproduzidos. Se assim é,
pode-se dizer que há uma incoerência entre o papel que se atribui à escola e o papel que ela
efetivamente desempenha.
Vivemos numa sociedade em que predomina um modelo econômico baseado no
acúmulo privado de riquezas. Conseqüentemente, os bens materiais e culturais concentram-se
nas mãos de uma minoria enquanto a maioria da população não pode desfrutar dos benefícios
e do que é produzido por esta sociedade.
À maioria estão reservadas condições mínimas de existência, o que os condena à
pobreza e, muitas vezes, miséria.
Não obstante o fato de que a riqueza se concentre nas mãos de uma minoria, esta
também experimenta os efeitos das desigualdades geradas no modo de produção capitalista. A
violência urbana, a degradação ambiental, o surgimento de doenças levaram alguns filósofos,
pesquisadores e grupos sociais a questionar esse modelo de sociedade na tentativa de
encontrar soluções para esses problemas. Que papel, então, a educação pode desempenhar
para modificar essa sociedade?
É corrente a idéia de que a educação, particularmente as escolas e as universidades,
pode contribuir decisivamente para a mudança social. Através dela os alunos, acredita-se,
podem tomar consciência da realidade e, em o fazendo, agir de modo a transformá-la.
A possibilidade de avaliar em que medida essa expectativa tende a ser ou não atendida
pelas escolas, está condicionada pela cultura que orienta a educação escolar, a educação
formal, institucionalizada, sistematizada pelo Estado e por ele mantida e fiscalizada.
O que pretende-se nesta investigação é, portanto, analisar se a relação entre professor e
aluno numa escola com turma de 5º. ano da rede pública de Manaus contribui para formar o
cidadão crítico e por que isso acontece.
14
15
PARTE I
Usualmente, define-se educação como ação de ensinar e aprender pela qual os seres
humanos aprendem regras, valores. Sua finalidade é socializar os indivíduos para que possam
integrar-se à vida coletiva. Educação e cultura tem estreita aproximação, pois ―[...] o que é a
educação senão o processo através do qual a sociedade incute normas, padrões e valores, em
resumo a ―cultura‖ [...]‖ (HALL, 1997, p.24). Portanto, em alguns momentos, o uso da
palavra educação, não será apenas feito no seu sentido cognitivo e sim como parte integrante
da cultura.
A finalidade da educação é construir esse conhecimento para a prática social do
homem, ou seja, valores, princípios, direitos para que este venha a entender as relações sociais
que produz e em que é produzido. Segundo Freire ―não há educação fora das sociedades
humanas e não há homem no vazio‖ (2003, p.43).
O acesso à educação tem se modificado ao longo do tempo. Na antiguidade clássica
ela era para poucos. Na modernidade pretende-se que seja para todos. Seja qual for o contexto
histórico, porém, a educação se configura tanto como um meio através do qual as relações de
dominação política e econômica adquirem feições especificamente ideológicas, quanto pode
ser um meio de resistir à dominação, desenvolvendo em seus agentes atitudes críticas e
reflexivas (FREIRE, 2003).
Numa sociedade em que as relações de produção se organizam, predominantemente,
em torno da venda e compra de mercadorias no mercado, não deveria estranhar que a
educação – e a escola, em particular – se converta, ela também, numa linha de montagem da
mercadoria força de trabalho.
Formar para o mercado significa ajustar o indivíduo à idéia de que a realidade que
existe é a única possível e mesmo desejável. Quando muito, estimula-se atitude que busque
melhorar a sociedade como é. Temas como dominação, opressão e desigualdade, sob essa
óptica, são naturalizados, tratados como se fossem fatos determinados pela natureza das
coisas, e não como decorrentes de relações, processos e estruturas sociais, produzidos
historicamente por homens e mulheres.
Para que assim seja, ocorre a mediação do Estado, que, ao mesmo tempo em que tende
a reiterar esse papel da educação – e, particularmente, da escola - associa-se à cidadania, à
capacidade de cada um exercer criticamente seus direitos e de cumprir seus deveres. Em uma
palavra, numa sociedade de iguais perante a lei. Sendo assim, a escola reproduz os valores
que sustentam o próprio Estado, portanto, os valores em torno dos quais se organiza o sistema
socioeconômico vigente.
17
Para uns, o desemprego e a precariedade dos jovens advêm da falta de adequação entre
formação e emprego. A escola produziria uma formação não adaptada às necessidades
da economia, produziria muitos diplomas de ensino geral e também diplomas
responsáveis por introduzir uma rigidez, nociva ao acesso dos jovens a emprego
(DUBET, 2001, p.30).
Não é importante para ela conhecer a origem e formação de cada aluno, tampouco
respeitar a sua individualidade. Sendo assim, a escola é vista por muitos leigos como uma
instituição modelo para os cidadãos. Passa despercebida pelas camadas populares, uma
instituição que reprime de forma implacável as diferenças.
A cultura permeia todas as ações dos indivíduos no meio social. Os indivíduos e os
grupos dos quais fazem parte carregam consigo costumes, valores e comportamentos
incorporados durante a sua trajetória social, trajetória essa marcada pela socialização ocorrida
em espaços como a escola, a rua, a casa, o trabalho, espaços em que se dá a interação com
outros indivíduos e grupos.
A cultura é entendida como a maneira de sentir, compreender e atribuir significados ao
que nos cerca. Nossa identidade é construída culturalmente através do diálogo, do discurso
que confere e ao qual é conferido significado. Por exemplo, considere-se a palavra habitação.
Habitação é o lugar em que se mora. Porém, pode-se morar em uma casa, em uma palafita ou
em uma mansão. Aos distintos tipos de habitação estão relacionados significados que operam
como forma de classificação e distinção de seus habitantes.
Esse tom pautava-se por uma idéia de cultura que nos foi legada pelo século XVIII:
cultura como sinônimo de tudo o que é produzido de melhor pela humanidade, seja produção
material ou espiritual – filosófica, artística, científica ou literária, dentre outros.
A cultura era, antes de tudo, um ideal universal a ser alcançado por toda e qualquer
sociedade. A palavra cultura mantinha-se associada à qualidade daqueles indivíduos cuja
formação permitiu dominar conteúdos tidos como necessários, porque os mais sofisticados já
produzidos. Esse domínio, ao mesmo tempo em que permitia a esses indivíduos distinguirem-
se socialmente, levava-os a ocupar as posições sociais desde as quais os critérios de distinção
que os tinham legitimado poderiam ser reproduzidos.
Com isso, houve a diferenciação entre alta cultura e baixa cultura com a qual a
primeira passou a ser o modelo escolhido por ―excelência‖ para as escolas. Criou-se, então,
um meio de distinção próprio que permanece até os dias de hoje, e sua permanência
transforma a educação em uma ferramenta legitimadora e reprodutora de hierarquias que
deveriam ser combatidas.
A partir de então, podemos entender certas expressões como ―fulano é culto‖ ou
―fulano não tem cultura‖. Essas expressões são discursos elitistas que surgiram no século
XVIII mostrando um conceito de cultura superior ao ―outro‖, e ―em qualquer desses casos é
evidente o recurso ao conceito de cultura como um elemento de diferenciação assimétrica e de
justificação para a dominação e a exploração‖ (VEIGA-NETO, 2003, p.08).
Boa parte do pensamento pedagógico moderno compreendeu e tinha admitido o
modelo da ―alta cultura‖. Embora atualmente se perceba a tendência de aceitação, pelo
discurso oficial sobre a escola, das diferenças culturais e de sua incorporação às práticas
pedagógicas, a educação escolar permanece centrada em valores e práticas da cultura
ocidental que descartam tudo o que não cabe em seus quadros de referência intelectual. Ao ser
central para a definição dos valores e práticas escolares, essa percepção impede que se
compreenda a relação entre diversidade cultural e desigualdade social, favorecendo a
formação de cidadãos passivos.
Essa conclusão é apresentada por Apple, a propósito do reconhecimento dos próprios
educadores acerca dos limites da idéia de uma educação neutra:
Toda a nossa conduta e todas as nossas ações sociais são moldadas, influenciadas e,
desta forma, reguladas normativamente pelos significados culturais. Uma vez que a
cultura regula as práticas e condutas sociais, neste sentido, então, é profundamente
importante quem regula a cultura. A regulação da cultura e a regulação através da
cultura são, desta forma, íntima e profundamente interligadas (HALL, 1997, p.25)
Nossa maneira de ver o outro é constituída historicamente e esse olhar não pode ser
desfeito de um dia para o outro. A cultura, além de ser um conjunto de práticas e valores
característicos de indivíduos e grupos sociais, é também uma arma de dominação, resistência
e luta política. Por isso não deve ser vista apenas como discurso de identificação, como forma
consciente de afirmar politicamente determinados valores e práticas sociais, mas também
como um instrumento com o qual indivíduos e grupos sociais buscam seja legitimar a
dominação, quando a exercem, seja contestá-la, quando são subordinados.
22
Embora a cultura escolar não seja um conceito simples de delimitar, considera-se que na
escola foram sendo historicamente construídas normas e práticas definidoras dos
conhecimentos que seriam ensinados e dos valores e comportamentos que seriam
inculcados, gerando o que se pode chamar de cultura escolar (PESSANHA, 2004 p.58).
Pode-se dizer que a palavra cidadania nos remete a, pelo menos, significados. O
primeiro diz respeito à idéia de igualdade característica de sociedade burguesa. O segundo,
vinculado ao anterior, remete à afirmação jurídica em termos de direitos e deveres diante do
Estado dessa igualdade. O terceiro significado implica a consideração histórica das condições
de realização dessa igualdade. Quanto a isso, apenas uma visão ingênua nos levaria a crer que
a afirmação jurídica de direitos e deveres designa a igualdade entre os indivíduos de uma
sociedade de classes.
A cidadania que temos hoje é a cidadania do proprietário ou daquele que possui boa
renda, nos dando a idéia dos eupátridas,2 a cidadania de uma minoria que exclui os
desfavorecidos pelas desigualdades sociais.
Severino (2000) afirma que cidadania é, no seu sentido específico, ter a satisfação dos
direitos políticos e sociais. Mas que no seu sentindo mais amplo, são relações sociais que
permitem diminuir a dominação e ir contra a opressão de uns sobre os outros.
Na prática histórico-social devemos falar da cidadania burguesa, como sugere Arroyo:
2
Classe social na Grécia Antiga sendo considerados como bem-nacidos.
24
reprodutor das ideologias da classe dominante, historicamente, ―[...] no interior das lutas, na
forma que desenvolvem, que acontece o processo educativo do novo cidadão‖ (ARROYO,
2000, p.89).
A interpretação e registro discursivo entre grupos sociais portadores de valores e
práticas diferentes, entre culturas, têm se aguçado com o aumento do fluxo de informações e
contatos desencadeado pela globalização. Um indicador desse aumento é o crescimento de
movimentos étnicos que lutam pela afirmação de sua identidade cultural. À sua vez, essa luta
torna claras as hierarquias, os conflitos, os impasses, as relações de força e dominação
característica de um mundo culturalmente múltiplo e socialmente desigual. Um mundo em
que a diversidade cultural convive com a desigualdade social, e em que essas diversidade e
desigualdade se organizam hierarquicamente (CUCHE, 1999).
Muito do debate acerca da diversidade cultural e da desigualdade social, e do modo
como cada cultura compreende – interpreta e registra - sua relação com as demais fundamenta
o multiculturalismo, como afirma Moreira: ―Multiculturalismo representa a natureza dessa
resposta, que inclui a formulação de definições conflitantes do mundo social, decorrentes de
distintos interesses econômicos, políticos e sociais‖ (MOREIRA, 2002, p.16).
Trazida para o campo da educação, a perspectiva multiculturalista sugere reflexões
sobre como as culturas constitutivas de um dado universo de relações sociais – um país, uma
região, um estado, um município, um bairro ou uma escola, por exemplo – participam do
processo de formação dos indivíduos. Concretamente, trata-se de nos indagarmos sobre o
lugar da diversidade de valores e práticas correspondentes a grupos sociais na cultura escolar,
isto é, nos valores e práticas da instituição que, em nossa sociedade, desempenha papel central
na formação do cidadão. Dito de outro modo, os valores e práticas de nossas escolas –
formalizados nos projetos político-pedagógicos, nos currículos e concretizados nas relações
entre os agentes escolares, dão conta de formar alunos que sejam, ao mesmo tempo, sensíveis
e compreensíveis para a diversidade cultural, e crítico-reflexivos?
Pode-se dizer que o maior ou menor espaço concedido à expressão da diversidade
cultural nas práticas e valores norteadores das condutas dos agentes educacionais, de um
modo geral, e escolares, em particular, é um indicativo da maior ou menor abertura das
instituições educacionais para incorporação de valores democráticos e para a tradução desses
valores em práticas de formação dos alunos.
Observa-se que, formalmente, a legislação educacional brasileira e a escola passaram a
considerar a diversidade cultural, o respeito ao ―outro‖, como princípio que deve inspirar o
conjunto de suas práticas. Contudo, quando se observa o cotidiano escolar, os momentos e
25
Moreira (2002) afirma que Elizabeth Ellsworth (1989), em sua experiência como
professora universitária de Wisconsin, chegou à conclusão de que a sala de aula não constitui
um local seguro e adequado para o diálogo e o desenvolvimento de relações democráticas.
A homogeneização da cultura ou sua diversificação, e o modo como essas duas
tendências impactam a cultura escolar ocorre em meio de lutas (políticas, sociais, econômicas
e éticas).
Mas os movimentos, seja em direção à homogeneização, seja em direção à
diversificação, não se processam sem lutas. As relações entre as distintas identidades
culturais, assim como as tentativas, por partes de diferentes grupos, de afirmação e de
representação em políticas e práticas sociais, são complexas, tensas, competitivas,
imprevisíveis. (MOREIRA, 2002, p.17)
da população acredita que a concorrência no mercado de trabalho, por mais desleal que seja, é
um processo ―natural‖ de nossa sociedade. Isso ocorre pelo fato da ideologia hegemônica do
neoliberalismo que defende a idéia de que todos somos iguais e que o mercado econômico
deve direcionar o rumo de uma nação.
De fato, a concorrência e o individualismo são ingredientes necessários da reprodução
social. A escola, como reprodutora de valores, molda alunos para atender os seus interesses
utilizando-se de mecanismos eficazes para que haja uma relação de dominação e
subserviência.
A rigor, pode-se dizer que numa sociedade de classes as desigualdades sociais têm
efeitos sobre o desempenho escolar, e que esses efeitos são racionalizados por meio da
meritocracia – sistema de valores que atribui aos indivíduos a responsabilidade pelo sucesso e
pelo fracasso escolar, abstraindo das condições sociais que os levam ao sucesso e ao fracasso
(DUBET, 2008).
De um lado, há as escolas que formam alunos que possuem recursos e todas as
condições extra-escolares favoráveis para o sucesso escolar. Estes ingressam nas melhores
escolas, cursos superiores etc. Conseqüentemente, desfrutam de melhores chances de
emprego.
Mas há também as escolas que atendem alunos desprovidos de recursos financeiros.
Essas, comumente desprovidas de recursos escolares mínimos, terminam por favorecer, ao
invés de minimizar, os efeitos das desigualdades sociais sobre as desigualdades escolares.
Como resultado, são poucas as chances, por exemplo, de que um aluno seu chegue a
freqüentar uma universidade pública ou chegue a alcançar um bom emprego.
Essa diferença no acesso escolar ocorre devido a diferenças que implicam
desigualdades no capital cultural e econômico dos alunos que, por sua vez, repercutem sobre
as trocas simbólicas por eles realizadas ao longo de suas trajetórias de vida, como sublinha
Cazelli (2007):
[...] está associado aos benefícios mediados pelas redes extrafamiliares e ás lutas
concorrenciais entre indivíduos ou grupos no interior de diferentes campos sociais. As
ligações estabelecidas entre os indivíduos de um mesmo grupo são somente advindas do
compartilhamento de relações objetivas e de espaço econômico e social, mas também
fundadas em trocas materiais e simbólicas [...] (p.04).
Um aluno que possui uma família estruturada do ponto de vista moral e afetivo
também terá mais probabilidade de sucesso escolar, pois terá tido um ambiente doméstico
favorável, suporte necessário ao desempenho escolar. Isto significa dizer que a formação da
subjetividade é condicionada por um habitus, ―[...] um sistema de disposições, modos de
27
perceber, de sentir, de fazer, de pensar, que nos levam a agir de determinada forma em uma
circunstância dada [...]‖ (THIRTY-CHERQUES, 2006), que extrapola os limites da escola.
Famílias que podem incutir em seus filhos o habitus escolar dotam-nos de maiores
possibilidades de sucesso escolar, e este tende a se revelar na escolha e desempenho
profissional.
O inverso também é verdadeiro. Isto é, alunos que são privados de condições extra-
escolares que os preparem para a escola têm maior probabilidade de fracassar nela. Essa
privação se revela tanto como limitação de capital econômico quanto cultural da família, que
não dominando as regras do jogo escolar, se descuidaria da formação inicial de seus filhos. A
limitação de capital econômico e cultural tende, portanto, a limitar as possibilidades de
escolha do aluno que, com freqüência, muito cedo, se lança no mercado de trabalho.
Nesse sentido, as desigualdades sociais acabam repercutindo sobre as desigualdades
escolares, pois a necessidade determinada pela privação de capital econômico e cultural,
limita o acesso a condições mínimas de acúmulo desses mesmos capitais.
O ingresso numa universidade ou a especialização se convertem em ilusões, enquanto
a ―conquista‖ do primeiro emprego se apresenta como grande desafio a ser, o mais rápido
possível, enfrentado.
Na sociedade capitalista, existe uma minoria de alunos providos enquanto que a
grande maioria é desprovida de acesso a uma educação de qualidade. Portanto, a
competitividade é desleal, embora na mente das classes populares todos tenhamos chances e
oportunidades iguais, conseqüência de uma ideologia dominante que reforça o individualismo
e a meritocracia.
Essa mesma ideologia está presente na escola:
A escola, mesmo sendo pública, não é homogênea. Existem escolas públicas com
baixo rendimento escolar assim como existem escolas públicas tidas como de excelência. Mas
então, como ocorre a distribuição dos alunos que freqüentam uma e outra escola?
Mesmo havendo escolas de excelência no ensino público o acesso a elas não se dá de
forma igualitária. De acordo com a Constituição Federal, de 1988, em seu capítulo III Da
Educação, da Cultura e do Desporto, artigo 206: ―o ensino será ministrado com base nos
28
Não é diretamente a escola que realiza as grandes operações de distribuição dos alunos,
são as desigualdades sociais que comandam diretamente o acesso a diversas formas de
ensino. Uma das conseqüências desse sistema é que a escola aparece justa e ―neutra‖ no
seu funcionamento, enquanto as injustiças e as desigualdades sociais é que são
diretamente a causa das desigualdades escolares (DUBET, 2001, p.32)
[...] o capital cultural armazenado nas escolas atua como um mecanismo eficaz de
filtragem na reprodução de uma sociedade hierárquica. Por exemplo, as escolas recriam
parcialmente as hierarquias sociais e econômicas da sociedade por meio do que é
aparentemente um processo neutro de solução e instrução [...] (APPLE, 2006, p.67)
Podemos entender que este é um dos mecanismos ideológicos da escola colocando que
o sucesso profissional é de total responsabilidade do indivíduo. Não é por acaso que o Estado
possui os defensores de sua escola. Culturalmente, a escola se pauta pela idéia de que o
―fracasso‖ ou o ―sucesso‖ escolar e profissional são o resultado do esforço individual.
Segundo indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007), o ensino
superior na rede pública pertence às famílias situadas nos 20% mais ricos. Também devemos
salientar que o ensino superior é considerado o ponto mais elevado do sistema escolar,
associado à ascensão profissional e social, e que pode ser visto como uma opção de
qualificação das pessoas.
Mas isso o acesso dos 20% das famílias mais ricas no ensino público superior do país
não é um processo natural. Trata-se, antes, de um dos efeitos das desigualdades sociais sobre
as desigualdades – no caso, a de acesso à universidade pública – escolares; ou, se preferir, um
efeito daquelas sobre a inserção social e cultural dos alunos, o resultado final das diferenças
de capital.
desigualdades escolares, como metáfora para falar das vantagens culturais e sociais que
indivíduos ou famílias possuem e que, geralmente, os conduzem a um nível
socioeconômico mais elevado. (CAZELLI, 2007, p.04)
O aluno possui uma cultura que traz da sua casa através de sua família, amigos e
demais agentes do seu convívio social. Suas ações sociais não são por acaso, elas são
representadas pelos discursos de sua vivência cotidiana. Isso condiciona o ―eu‖ do aluno e de
que forma ele se observa e se identifica consciente e inconscientemente em busca de
responder as expectativas que são representados no discurso de uma cultura hegemônica.
Sendo assim, o discurso de querer ser um profissional de profissões que dão status e
estabilidade econômica é internalizada no indivíduo fazendo que ele adote pra si como uma
subjetividade.
Além da família, existe também o papel dos meios de comunicação de massa, que
avançam com as novas tecnologias, e agem de certa forma como uma ferramenta educadora.
Os programas de rádio e TV influenciam moldando o comportamento do aluno. Não nos cabe
aqui julgar se é benévolo ou não o papel da mídia para a educação dos alunos. Apenas
queremos apontá-la como uma peça que informa em tempo real e que constitui como um
processo de cultura. Embora ele não seja um integrante da família, ela reside na maioria dos
lares brasileiros. É através da mídia ―que as revoluções da cultura a nível global causam
impacto sobre os modos de viver, sobre o sentido que as pessoas dão a vida, sobre suas
aspirações para o futuro – sobre a ―cultura‖ num sentido local.‖ (HALL, 1997, p.03).
2. METODOLOGIA
2.3. Central
2.3.1. Complementares
ITEM QUANTIDADE
Nº DE SALAS 05
Nº DE SALAS DE AULA 08
BIBLIOTECA 01
BRINQUEDOTECA __
SALA DE INFORMÁTICA __
QUADRA POLIESPORTIVA __
BANHEIROS DE ALUNOS 02 (01 MASCULINO E 01 FEMININO)
BANHEIRO DE FUNCIONÁRIOS 02 (01 MASCULINO E 01 FEMININO)
COZINHA 01
PÁTIO 01
N° DE FUNCIONÁRIOS 118 (INCLUINDO PROFESSORES E
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ADMINISTRATIVOS)
ANEXOS DA ESCOLA 02 (PREDIOS)
3
A pedagoga também é professora no turno matutino
4
A secretária também exerce a função de tomar conta da biblioteca e de catalogação dos livros
35
3.1. Entrevistas
PARTE II
“O bairro Nossa Senhora de Fátima II onde a escola está inserida, é formado por uma
população de classe média baixa, onde a maioria de seus habitantes sobrevive do
subemprego; alguns são funcionários públicos e outros são autônomos. A maioria dos
pais trabalha o dia todo fora de casa, deixando em segundo plano a educação dos
filhos, e muitas vezes, a escola acaba assumindo essa responsabilidade”.
Atualmente a escola passa por um problema muito comum que é a ausência dos pais
nas reuniões escolares, muitos não comparecem devido ao medo de perder o emprego visto
que o acompanhamento familiar é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do
educando
De certo modo, podemos dizer que os casos de ―fracassos‖ escolares são casos de
solidão dos alunos no universo escolar: muito pouco daquilo que interiorizaram através
de coexistência familiar lhes possibilita enfrentar as regras do jogo escolar (os tipos de
orientação cognitiva, os tipos de comportamentos...próprios à escola) (LAHIRE, 2004,
p.19).
A escola pouco tem feito para mudar essa situação até mesmo por ser um problema
que vai muito além das suas especificidades. Diante dessa realidade, entendemos que esses
alunos são sozinhos e alheios ao universo escolar (Lahire, 2004).
A escola EL embora tendo características próprias, podemos compará-la um pouco a
uma fábrica no seu aspecto organizacional e disciplinar. Horário para entrar e sair, não tolera
atrasos e os alunos não possuem no seu intervalo um momento de lazer. Ao entrar na escola, o
corredor dá uma vista geral de todas as salas, uma forma de vigiar e observar que adentra no
38
espaço da escola. A sala da gestora, pedagoga e secretaria ficam próxima uma das outras
como forma de agilizar serviços da administração interna, mas também um meio físico
apropriado para vigilância.
Filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em
relação a cada tarefa e cada prova: colocação que ele obtém de semana em semana, de
mês em mês, de ano em ano; alinhamento das classes de idade umas depois das outras;
sucessão dos assuntos ensinados, das questões tratadas segundo uma ordem de
dificuldade crescente. (FOUCAULT, 1987, p.126)
As crianças aguardam fora da escola até às 13:00 horas, só entram antes do horário se
estiver chovendo. Essa conduta tomada por parti da direção da escola tem como justificativa
que os alunos não entre e fiquem bagunçando dentro da escola, entretanto, é uma contradição
muito grande quando o discurso por parte da escola é de integrar a escola com a família mas,
essa integração tem horário marcado.
Também observamos uma outra realidade, o vigia permite deixar alguns alunos entrar
e esperar dentro da escola. Isso acontece porque o pai que deixa o seu filho na escola EL tem
outro filho que estuda em outra escola bem distante. Então, para chegar no horário, ele deixa o
seu filho na escola EL com o vigia que o permite a sua entrada antes das 13:00 horas como
ele mesmo descreveu na sua relação com a comunidade:
“Difícil, tem uns pais que daqui da comunidade mesmo que se dá muito comigo, tem uns
que gostam muito de mim... ele chegam, as vezes deixa um filho aqui vai deixar outro lá,
te um aí “olha eu tenho que deixar meu filho aí com você, porque eu tenho que deixar o
outro muito longe e não vai dar tempo de ele chegar uma hora" (A.S.D/VIGIA).
intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O compromisso com a
escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade‖ (LUCKESI, 1994, p.56).
As salas são lotadas em média com 35 alunos em uma sala quente e abafada mesmo
com ar-condicionador e ventiladores devido a quantidade de alunos. Os alunos são
enfileirados e o conteúdo de maneira geral é exposto na lousa. Não há livros para todos os
alunos. A professora está trabalhando mais conteúdos de português e matemática para a
Provinha Brasil5.
Durante o período de observação (02 meses) é cultural da escola não ter aulas
regulares durante as semanas. Era muito comum durante a semana ter dois ou três dias em que
não havia aula ou que a aula terminava mais cedo. Isso vem ocorrendo devido a muitos
fatores: O feriado, atividades comemorativas, planejamentos, dia de pagamento dos
professores, má gestão da secretaria de educação e da própria escola que não possui e uma
gestão muito participativa fez com que a escola EL fosse uma escola que não seguisse um
calendário regular durante o ano letivo.
A concepção de cultura pela pedagoga, professora e secretária é que cultura é uma
construção de identidade de cada povo, seguindo as suas falas temos:
“Cultura é bem complexo, ampla, mas eu vejo assim que cultura é voltada para
educação é o que você traz de si, da tua geração, são valores que passam pra você e
que você coloca em prática. é isso que vejo assim, no geral, são valores que você traz,
origens, gerações, de regiões” (I.F.T/PEDAGOGA).
“Cultura é tudo que há...aquilo que vem das raízes de um povo, e se põe em prática,
tem muitas culturas em nossa cidade” (R.S./PROFESSORA).
“Cultura... [pensando em responder]) fugiu a idéia. [repetindo a pergunta]... Bom, em
cada canto tem a sua cultura né? Em Manaus, nós sendo manauara né? A cultura do
boi, entre outras tradições que vem de fora”(S.S.B/SECRETÁRIA).
Essa concepção que se adentra dentro da escola não se faz presente somente dentro da
escola, ela ganhou maior dimensão no decorrer dos estudos culturais na pós-modernidade, e
atualmente, uma das formas difusão de que a cultura é uma construção de identidade, de
valores e costumes se propaga através dos jornais, revistas e filmes. ―A mídia encurta a
velocidade com que as imagens viajam‖ (HALL, 1997, p.03).
Em Manaus, essa concepção de cultura dentro da população manauara ganhou mais
força com a popularidade do folclore de Parintins e a ciranda de Manacapuru que são
destaques nos meios de comunicação.
5
A Provinha Brasil é uma avaliação aplicada aos alunos matriculados no 3° e 5° ano do ensino fundamental
com a finalidade de avaliar o índice de desenvolvimento da educação básica
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O vigia não tem uma compreensão clara do que seria cultura, mas não quer dizer que
ele não tenha ouvido falar de cultura, ou até mesmo não tenha uma noção próxima de algum
conceito utilizado. Ao perguntar percebi que ele ficou nervoso ao responder essa pergunta.
“Entendo como cultura é um... vamos dizer uma cultura é um projeto né? Aí tem...
porque tem aquela, escuta, tem uma feira, tem feira cultural né? Será que é
isso?”(A.D.S/VIGIA).
Conhecimentos, por exemplo, um colega seu viaja, que você viaja pra outro estado, se
alguém perguntar ―qual a cultura do seu estado?‖, a pessoa não sabe né? No caso né?...
Pelo que ‗tou entendo é assim, é saber qual o folclore da tua cidade entendeu? comida
típica, essas coisas assim né? Maneira de se vestir, de falar, se tem algum festival... a
pessoa que tem influência de ler, de passa pra outros... pintura...(I.C.S/MERENDEIRA).
Quando se fala cultura você está abrangido vários setores, primeiro aqueles hábitos que
as pessoas já tem de costume, os costumes que já herdamos desde os povos antigos,
como dos indígenas e a cultura maior mesmo é aquela do conhecimento, o aprendizado,
o estudo daquela pessoa que ela tem, pra poder trabalhar, exercer uma função, ou um
trabalho dentro de uma sala de aula ou em qualquer setor já empregando aquilo que ele
aprendeu, que ele estudou a anos, passou muito tempo na faculdade é claro, então isso é
cultura, o conhecimento(A.D.G/DIRETORA).
A compreensão por parte da gestora, pedagoga e dos demais profissionais que atuam
dentro da escola não está dissociada das práticas educativas e que a educação não ocorre
somente com a relação professor-aluno. A educação ocorre nas relações sociais nos diferentes
espaços escolares (cantina, cozinha, sala de aula, na recepção) e que muitas vezes ocorre de
forma sutil e despercebido para o pesquisador: ―a vida interna da escola (...) reelabora,
segundo a sua dinâmica interna, as normas, valores, práticas comunitárias, dando-lhes uma
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coloração nova, mas nem por isso alheia ao encadeamento geral da sociedade‖ (CANDIDO,
1971, p. 111-128).
Para os 05 alunos do 5° ano na faixa etária de 10 -11 anos escolhidos foi apresentando
opções de respostas do que venha a ser cultura.
O primeiro entrevistado foi o aluno G.M.S (10 anos). Ele não menciona nenhuma das
opções mas também não soube descrever o que seria para ele cultura; a segunda entrevistada
foi a aluna (C.B.C.C/10 anos) e para ela, cultura significa uma pessoa educada, refinada que
escuta música clássica, gosta de teatro etc.; a terceira entrevistada foi a aluna (J.L.S/11 anos)
e para ela, cultura significa pessoa inteligente somente; a quarta entrevistada foi a aluna
(A.M.T/11 anos) optou por todas as respostas (cultura é pessoa inteligente, pessoa refinada,
construção de identidade e pessoa que tem seus costumes) [Obs: Antes o aluno ficou em
dúvida sobre a opção de marcar todas as respostas com a de entender que cultura seria uma
pessoa educada, refinada...]; e por último o entrevistado foi o aluno (M.F.S/10 anos) para ela
cultura significa uma pessoa inteligente, pessoa refinada, construção de identidade e pessoa
que tem seus costumes
A segunda e o quinto entrevistado que aponta a concepção de cultura como alguém
inteligente, pessoa educada, refinada... mostra o mesmo olhar da gestora, merendeira e
serviços gerais de alguém com cultura. Para eles, a palavra cultura remete um elemento de
diferenciação distinta de que é intelectual e educado em oposição ao rude, ao ignorante. O
conceito de cultura e educação embora distintas, nessa concepção de cultura está bem
próximas em que as divergências se davam apenas nas diferenciações entre os conceitos das
duas palavras (Veiga-neto, 2003).
A quarta entrevistada que optou por todas as respostas compreendia que a cultura
dentro das questões propostas não se limitava somente a palavra cultura ao significado elitista,
mas que a mesma palavra, servia também para conceituar alguém que possui seus costumes,
seus valores. Entretanto, a sua primeira resposta foi semelhante a do primeiro e do último
entrevistado (pessoa educada, refinada....) o que sustenta que essa concepção ainda é
difundida dentro da escola.
Observamos que a resposta da terceira entrevistada se assemelha com as respostas do
segundo e do quinto. Apenas mostra que o conceito de cultura dentro da escola EL relaciona-
se estreitamente com educação. Necessariamente, a inteligência não é uma condição para
aquisição cultural.
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E por último, temos o primeiro entrevistado que optou por nenhuma das respostas. Na
sua expressão, percebi o seu nervosismo, que significava dúvidas e pouca clareza acerca do
conceito cultura.
Percebemos que a cultura defendida dentro da escola aponta para duas vertentes. O
conceito de cultura é entendido como construção de identidade, mas também como um saber
erudito. ―A cultura perpassa todas as ações do cotidiano escolar, seja na influência sobre os
seus ritos ou sobre a sua linguagem, seja na determinação das suas formas de organização e de
gestão, seja na constituição dos sistemas curriculares‖ (SILVA, 2006, p.204).
Ela é transmitida nas relações implícitas dentro e fora da escola por meios de
comunicação (mídia) e na relação entre os sujeitos escolares com a família e amigos que vão
constituindo uma dinâmica própria da cultura escolar.
A escola visa formar e que desenvolve esse tipo de formação segundo consta no
objetivo do P.P.P. é um aluno crítico e reflexivo (entende-se que esse aluno possua também
uma aprendizagem de qualidade)
Embora o discurso desses profissionais da educação esteja de acordo com o que está
dito no projeto político-pedagógico, a compreensão de cidadania destes profissionais não
remete outro conceito que não seja no sentido republicano neoliberal.
Na prática a cidadania na escola não está formando alunos com autonomia política.
Segue o discurso dos alunos sobre o que eles aprendem na escola
“Contar, ler, estudar, aprender, escrever, aprendemos mais as coisas que a professora
passa e prestar atenção na aula” (G.M.S/ 10 anos).
“Qual as coisas que a professora passa, substantivo, vezes, mais e prova dos noves”
(M.F.S/10 anos).
“Gosta de ler, aprender matemática” (A.M.T/ 11 anos).
“Ler e escrever, matemática” (C.B.C.C/ 10 anos).
“Ler e escrever, ser educada”(J.L.S/ 11 anos).
Todos os alunos estudam a mais de dois anos na escola e fica em evidência que a
escola não está preocupada em formar um aluno crítico e reflexivo.
Para a Diretora, a cidadania na escola é trabalhado a partir do momento em que os
alunos alcancem a maioridade. Mencionando apenas os alunos com faixa etária de 15 e 18
anos que estudam à noite. O aluno exerce sua cidadania quando escolhe um professor
conselheiro, o aluno representante de sala, dos dirigentes de pais e mestre e a escola exerce
essa cidadania disponibilizando o espaço e orientações de como eles devem proceder. Cabe a
eles serem cidadãos ou não, ou seja, a cidadania depende somente do indivíduo.
“Olha, eu vou falar pelo turno da noite, do turno que são alunos maiores de 18 anos, a
partir de 15 anos, eles já participam das eleições, da escolha por exemplo do conselho
escolar, que a gente está fazendo, da escolha dos dirigente da associação de pais e
mestre a APMC, [...]então a gente já trabalha de uma forma orientando eles para que
eles possam exercer esse processo da cidadania, e eles mesmo já vem com a sugestão
de dizer vamos escolher o professor conselheiro, o aluno representante de sala...
“(A.D.G/GESTORA).
“Eu quero o meu aluno o que ele pretende ser quando crescer, porque nós estamos
formando cidadãos para o futuro, então ele tem que saber o ganhar e o perder, então
ele tem que sempre trabalhar pelo o que ele quer, sempre estudar pra conseguir né?
aquilo que ele pretende futuramente” ( R.S/PROFESSORA).
Apenas o último apontou como resposta, em dar continuidade aos seus estudos mas
não perdendo de vista a importância do emprego.
A escola reforça essa concepção de que o educando deva se preocupar com o trabalho
e esses valores são difundidos desde a gestão até a prática dos professores.
É de grande importância salientar que todos os alunos pertencem a uma classe
econômica baixa. A maneira de viver desses alunos já influência no seu pensamento.
E a cidadania fica apenas no documento, na retórica e nas idéias dos profissionais que
atuam na escola. Não basta que a cultura escolar diga que vivemos num país democrático e
que cabe somente o indivíduo decidir ser cidadão ou não.
A experiência tem demonstrado que adianta muito pouco a lei dizer que todos são iguais
e proibir que umas pessoas sejam tratadas como inferiores às outras se não for garantida
a igualdade de oportunidades para todos desde o nascimento. Com efeito, quando uns
nascem ricos e outros pobres, as oportunidades para uns e outros são muito diferentes e
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6
Entendido na concepção marxista-lenista que a democracia burguesa, sendo um grande progresso histórico em
comparação com a Idade Média, continua a ser sempre — e não pode deixar de continuar a ser sob o capitalismo
— estreita, amputada, falsa, hipócrita, paraíso para os ricos, uma armadilha e um engano para os explorados,
para os pobres.
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“Olha, quando se fala de autonomia pra mim, seria uma liberdade pra você exercer
qualquer coisa, mas quando se fala em autonomia de uma escola, essa palavra não
existe, se existe é entre aspas. Por que tudo que a escola faz você tem que prestar
contas pra as autoridades maiores, com a secretaria, com a coordenadoria então você
não pode fazer nada sozinho nem tomar decisão sozinha se ela não for avaliada”
(A.D.G/DIRETORA).
“Não, que eu saiba não tem” (R.S./PROFESSORA)
“Não vejo por esse lado, porque tudo você depende de uma autorização de um
superior, né? propriamente dita, a gente tem alguma mas não própria, tudo você tem
que ter o aval do superior”(I.F.T/ PEDAGOGA).
O fato da gestora e da pedagoga afirmar que a escola não possui autonomia mostra
claramente que as decisões tomadas pela Secretaria e muitas vezes não beneficiam a escola
como deveriam e essas relações de conflito de poder implícitas faz com que a escola
distancie-se de formar alunos para uma cidadania que transforme a realidade social.
Segundo o P.P.P, filosoficamente a escola norteia suas pedagogia pela perspectiva ―crítico
social dos conteúdos‖. Isto significa que ―dessa forma, nossa proposta filosófica para a E.E.
EL está pautada na postura da pedagogia ―crítico social dos conteúdos‖.
Para a pedagoga I.F.T, a tendência pedagógica está pautada ―na linha moderna, na
escola nova moderna‖, para ela, a tendência pedagógica é como aquilo que está na atualidade.
A clareza de compreensão e a ausência de conhecer qual a filosofia da escola faz com que a
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“Ouvi falar mas não sei te explicar exatamente o que é... teve aquela palestra uma vez
né? na escola, que a diretora falou que era projetos com a comunidade com a escola
da escola com a comunidade...”( I.C.S/MERENDEIRA).
“Eu já ouvi falar, mas não estou lembrado agora, não é P.D.E (Plano de
desenvolvimento Educacional) né?” (S.D.S.B./ SECRETÁRIA).
Dos alunos que foram selecionados para a entrevista, nenhum sabe o que é e somente a
aluna J.L.S acha que já ouviu falar.
Entretanto, quando perguntei à gestora se a prática do Projeto Político-Pedagógico
estava de acordo com o postulado no documento, ela afirmou:
“Com certeza, eles consideram sim [eles: professores]. A escola é uma equipe. (...) O
projeto foi preparado com todos os professores e funcionários. Então todo mundo tem
conhecimento desse Projeto Político-Pedagógico, desde nossas questões que
precisavam melhorar até as nossas ações pra ser executadas; então todos eles têm o
conhecimento, a pedagoga que está sempre em alinhamento é...”(A.D.G./GESTORA).
Já pedagoga afirmou que: ―não, contradiz muito né? Na prática do professor na sala de
aula, não tem assim, não. “Tá no paralelo a teoria com a prática. A gente vê isso no
resultado, no rendimento” (I.F.T./PEDAGOGA).
Falta de clareza e desconhecimento sobre a tendência pedagógica da escola por parte
da gestão, apoio pedagógico e da própria professora entrevistada; e o desconhecimento do
P.P.P por alunos e administrativos da escola, mostram certo descompasso entre os valores e
práticas julgados adequados pela escola e as ações e práticas características de seus agentes.
Uma das razões para isso parece ser o fato de que para a escola, mais do que cumprir com o
que determina o P.P.P, o grande desafio é cumprir as metas que são impostos pela Secretaria
de Educação.
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Não podemos entender que essa escola caminhe para a democracia uma vez que não
há participação na construção do P.P.P. por alunos, professores e demais funcionários. Uma
gestão educacional democrática consiste no ―desenvolvimento tanto de quem vai realizar a
prática como de seus usuários, na tomada de decisão, constitui-se em condição básica da
gestão democrática, efetividade de ações e autonomia da escola‖ (LUCK, 2007, p.45- 46).
Tanto a gestora quanto a pedagoga que participaram da construção do P.P.P mas ficou
claro que suas concepções são bem distintas sobre o P.P.P na teoria e prática, dentro disso,
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Considerações finais
Referências
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade, cotidiano escolar e cultura (s): uma
aproximação. Educ. Soc., Campinas, v.23, n.79, 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302002000300008&lng=pt&nrm=is
o>Acesso em: 09 Maio 2007 às 18:00.
CANDIDO, Antonio. A estrutura da escola. In: PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice M.
Educação e Sociedade. 6. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1971.
CAZELLI, Sibele; FRANCO, Creso. Os diferentes tipos de capital mobilizados no
contexto escolar e o acesso dos jovens a museus. Puc – Rio de Janeiro. Disponível em:
<www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT14-1789--Int.pdf > Acesso em: 27 da
Abril de 2007 às 10:14.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. 2.ed. Bauru: EDUSC, 1999.
DALLARI, Dalmo Abreu.. Direitos humanos e cidadania. s.ed. São Paulo: Moderna, 1998.
DUBET, François. A escola e a exclusão. Revista Éducation et Sociétés, S.l. n.5, p. 43-57,
2000/2001. s. l. Traduzido por Neide Luzia de Rezende.
______________O que é uma escola justa? A escola das oportunidades. s.ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
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ANEXO A
ANEXO B
ANEXO C
Nome:
Quanto tempo estuda na escola?
Idade:
Repetiu alguma vez? Quantas vezes?
Mora no Bairro?
Você mora com quem?
Seus pais trabalham em quê?
Freqüenta alguma religião?