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Sistema Massa-Mola
Mestrando
José Alves de Oliveira Neto
Novembro 2008
1
Sistema Massa-Mola
Consideremos um corpo de massa m fixado na extremidade inferior de uma mola helicoidal vertical
de comprimento l, conforme figura (1) abaixo:
A massa provoca na mola, para baixo, uma deformação de comprimento x. Duas forças atuam no ponto
onde a massa está ligada à mola: a força peso, devida a atração gravitacional, e dada por P mg , onde g é
aceleração da gravidade, e a força restauradora da mola, dirigida para cima e indicada por Fm. Admitindo-se
que a deformação x é pequena, segue, da lei de Hooke, que a força restauradora da mola é proporcional a x e
assim podemos escrever Fm kx . O sinal menos na ultima equação simboliza o fato de P e Fm serem
forças de mesma direção, mas de sentidos opostos; a constante k é chamada de constate da mola e é
determinada com base nas propriedades da mola (composição do material, espessura, diâmetro da mola,etc).
Uma vez que o sistema massa-mola está em equilíbrio, as duas forças se anulam, e assim,
mg kx 0 . (1)
f (t ) mu " (t ) (2)
Para se compreender melhor a dinâmica desse sistema, devemos considerar separadamente as quatro forças
que compõe a resultante f, a saber:
2
dirigida para baixo, sendo dada por Fm k . x u k .[( x u )] k ( x u ) . Assim, em qualquer
caso, a força restauradora é:
Fm k ( x u ) (3)
3. A força resistiva ou de amortecimento, Fa, que sempre atua na direção oposta à direção do
movimento e é devida às propriedades do meio (atrito, resistência do ar, viscosidade) ou fruto da
utilização de algum dispositivo absorvedor de choques, denominado amortecedor. Os resultados
experimentais mostram que esta força é aproximadamente proporcional à velocidade escalar du / dt
da massa e se du / dt 0, então u esta aumentando, o corpo está se deslocando para baixo e Fa estará
dirigida para cima; por outro lado, se du / dt 0, u está diminuindo, o corpo está se deslocando para
cima e Fa estará dirigida para baixo. Logo, a força amortecedora Fa, será sempre da forma,
4. Finalmente, existe ainda a possibilidade da atuação de uma força externa F(t) dirigida para cima ou
para baixo, dependendo de F(t) ser positiva ou negativa. Esta é a força que dá origem ao fenômeno
conhecido como oscilador harmônico forçado e na maioria das vezes tem caráter periódico.
Portanto, considerando a atuação destas forças, podemos reescrever a equação (2) como,
mu" (t ) f (t ) P Fm Fa F (t )
mu" (t ) mg k (( x u (t )) bu ' (t ) F (t )
mu" (t ) mg kx ku (t ) bu ' (t ) F (t )
mu" (t ) ku (t ) bu ' (t ) F (t )
ou seja,
d 2u du
m b ku F (t ) (6)
dt 2
dt
A equação acima é uma equação diferencial linear de segunda ordem, onde m, b e k são constantes
com significados físicos bem definidos; u(t) é a função incógnita que indica a posição da mola em cada
du d 2u
instante, e são a velocidade e a aceleração respectivamente. Para completar a descrição do
dt dt 2
fenômeno, devemos especificar duas condições iniciais, a saber, a posição e a velocidade iniciais, ou seja:
3
1. Oscilações Livres
d 2u du
Na equação m b ku F (t ) , suponhamos que não aja atuação de força externa nem a
dt 2
dt
presença de força amortecedora, isto é, sendo F (t ) 0 e b 0 temos:
d 2u
m 2 ku 0 (8)
dt
ou,
mu"ku 0 (9)
k k k
mr 2 k 0 r 2 r . Como k e m são constantes positivas segue que é negativo e
m m m
k
assim r é complexo, isto é , r 0 .i . Portanto as soluções particulares são,
m
k k k
f 1 (t ) e 0.t . cos t cos( w0 t ) e f 2 (t ) e 0.t .sen t sen( w0 t ), onde w0 .
m m m
A 2 B 2 R 2 (cos 2 sen 2 )
A 2 R 2 cos 2
Assim, B
B 2 R 2 sen 2 R A 2
B 2
e tg
A
4
Portanto,
u (t ) R cos(w0 t ) (13)
I. O período , que é o tempo necessário para uma oscilação completa, dado por:
2 m
2 (14)
k/m k
1 1 k
f / Hz (15)
2 m
III. A freqüência angular wo, expressa em radianos por segundo, e dada por:
k
w0 (16)
m
R A2 B 2 (17)
d 2u du
m b ku 0 (18)
dt 2
dt
5
Dos três casos acima o mais importante é o terceiro e assim vamos investigá-lo um pouco mais de perto.
Para tanto, vamos modelar o seguinte problema:
Uma mola é esticada de 10cm por uma força de 3N. Um corpo com massa 2kg é pendurado na mola
e também é ligado a um amortecedor viscoso que exerce uma força de 3N quando a velocidade do corpo for
5m/s. Se o corpo for puxado para baixo, 5cm alem da posição de equilíbrio, e receber uma velocidade inicial
para baixo de 10cm/s, determinar a sua posição em qualquer instante.
Solução
Sabemos que o problema é governado pela equação mu " (t ) bu ' (t ) ku 0 . Assim, precisamos
determinar os valores de m, b e k. A frase “uma mola é esticada de 10cm por uma força de 3N” nos permite
encontrar a constante da mola. Então,
3
Fm kx 3 k .0,1 k 30
0,1
Por outro lado, o trecho “um amortecedor viscoso exerce uma força de 3N quando a velocidade do corpo for
5m/s” nos dá a chave para obter a constante de amortecimento, isto é:
3
Fa b.u ' (t ) 3 b.5 b
5
3
2u" u ' 30u 0 , u (0) 0,05 e u ' (0) 0,1 (20)
5
3 9 9 6000 5991
2r 2 r 30 0 240
5 25 25 25
3 5991
3 i. 5991 3 5991
r 5 5 .i
4 20 20 20
Logo, como as raízes da equação característica são complexas, as soluções particulares reais são:
3
t 5991 3
t 5991
f1 (t ) e . cos
20
t e f 2 (t ) e 20 .sen t .
20 20
6
3
3 20 t 5991 5991
3
t 5991 5991 5991 5991
u ' (t ) e [ A cos t Bsen t ] e 20 [ Asen t B cos t ]
20 20 20 20 20 20 20
3
t 5991 2 ,15 5991
u ( t ) e 20 .[ 0 , 05 . cos t .sen t ] . (22)
20 5991 20
B
Calculando R A 2 B 2 0,0572 e tg 0,5555 0,5071 , reescrevemos (22) como:
A
O gráfico abaixo nos dá a posição do corpo de massa m em função do tempo t. Observe que ele está na
posição u 0,05 , quando t=0, oscila no intervalo 0,05 a 0,05 , e vai diminuindo mais e mais, ou seja, vai
se aproximando da posição de equilíbrio à medida que o tempo aumenta. Isso é devido ao fator de
amortecimento u a (t ) 0,0572 .e 0 ,15 t . Ao lado a ausência do termo e 0 ,15 t nos revela o comportamento sem
o efeito do amortecimento.
3. Oscilações Forçadas
7
Vamos estudar agora o caso no qual uma força externa periódica , do tipo F0 cos wt , é aplicada ao
sistema massa-mola. A equação (6) toma, então, a forma:
d 2u du
m 2 b ku F0 cos wt (23)
dt dt
Ou ainda,
Para começar, vamos supor que não haja amortecimento. Então a equação (24) assume a forma:
Para resolver esta equação necessitamos encontrar uma solução para a equação homogênea e a solução da
não homogênea. Assim, devemos resolver a equação:
mu" ku 0 (26)
k
mr2 k 0 mr2 k r .
m
Como m e k são constantes positivas, segue que r é complexo ou seja, r 0 i . k . Portanto a solução
m
k k .
geral de (26) é: u h A .e 0 t . cos t B .e 0 t sen t
m
m
Ou simplesmente,
k
u h A.. cosw0 t B.senw0 t , w0 (27)
m
Para resolver a equação não homogênea vamos supor que a equação procurada seja u a. cos( wt ) . Então,
u ' awsen( wt )
u" aw 2 cos(wt )
Substituindo u e u”em (25), teremos:
Portanto, utilizando (27) e (29) obtemos a solução geral da equação (25), ou seja:
8
F0 k
u A.. cosw0 t B.senw0 t . cos( wt ), w0 (30)
m( w w 2 )
2
0 m
É interessante observar que esta função é a soma de duas funções periódicas de diferentes freqüências w0 e
w e diferentes amplitudes. Existem dois casos de especial importância.
3.1.1.Batimentos
Para encontrarmos os valores das constantes A e B podemos supor que o corpo esteja inicialmente
em repouso, isto é, u (0) 0 e u ' (0) 0 . Então, derivando (30) e utilizando as condições iniciais:
F0 F0
u(0) A. cos0 B.sen0 2 2
cos0 0 A
m(w0 w ) m(w0 w2 )
2
wF 0
u ' Aw 0 sen ( w 0 t ) Bw 0 cos( w 0 t ) sen ( wt )
m ( w 02 w 2 )
wF 0
u ' ( 0 ) Aw 0 sen 0 Bw 0 cos 0 sen 0 0 B 0 .
m ( w 02 w 2 )
Logo
F0 F0
u (t ) 2 2
cos( w0 t ) cos( wt ) .
m( w w )
0 m( w0 w 2 )
2
Portanto,
F0
u (t ) cos wt cos w0 t (31)
m( w w 2 )
2
0
w w w w
Por outro lado, é possível, subtraindo as formulas de cos( a b ) e fazendo a 0 t eb 0 t,
2 2
w w w w
obtermos cos wt cos w0 t 2.sen 0 t .sen 0 t . Dessa forma (31) toma a forma:
2 2
2 F0 w w w w
u (t ) 2 2
sen( 0 t ) sen( 0 t) (32)
m( w0 w ) 2 2
Temos assim um movimento que possui variação periódica de amplitude, expressa pelo termo
2 F0 w w
2 2
sen( 0 t ) . Apresentamos abaixo duas figuras típicas deste fenômeno. A primeira exibe o
m( w0 w ) 2
gráfico de u (t ) 3sen (0,1t ).sen (0,9t ) . A segunda realça o fato do gráfico de u (t ) 3sen (0,1t ).sen (0,9t ) ser
limitado pelas funções u1 (t ) 3sen(0,1t ) e u2 (t ) 3sen(0,1t ) .
9
3.1.2. Ressonância
O efeito da ressonância ocorre quando a força externa possui freqüência igual à freqüência natural do
sistema, isto é, w w0 . A equação (25) assume agora a forma:
mu" ku F0 cos w0t (33)
k
Sua solução é, u u h u p onde u h A. cos w 0 t B .sen w 0 t , w 0 e a solução up da não homogênea
m
é obtida observando-se que o termo não homogêneo, F0 cos w0t , é uma solução da equação e assim a solução
procurada é da forma u p at . cos w0 t bt .senw0 t . Derivando,
u 'p a cos w0t aw0tsenw0t bsenw0t bw0t cos w0t (a bw0t ) cos w0t (b aw0t ) senw0t
u 'p' bw0 cos w0t (aw0 bw02t ) senw0t aw0tsenw0t (bw0 aw02t ) cos w0t
u 'p' (2bw0 aw02t ) cos w0t (2aw0 bw02t ) senw0t.
(2bmw0 amw02t kat ) cos w0t (2amw0 bmw02t kbt ) senw0t F0 cos w0t
Igualando os coeficientes correspondentes, temos:
10
F0 k
u A. cos w0 t B.senw0 t tsenw0 t , w0 (34)
2mw0 m
Exemplo
Admitindo que força externa possui freqüência igual à freqüência natural do sistema, encontre a solução e
exiba o gráfico do sistema forçado sem amortecimento descrito pelo problema de valor inicial:
u" u 3 cos wt , u (0) 1, u ' (0) 1
Solução
k 1
r 2 1 0 r 0 i e w0 1
m 1
u h A cos t Bsent
F0 3 3
up tsenw0 t tsent tsent. Logo,
2mw0 2 .1 .1 2
3
u A cos t Bsent tsent
2
3
u A cos t Bsent tsent
2
3 3
u ' Asent B cos t sent t cos t
2 2
3
u (0) A cos 0 Bsen0 0sen0 1 A 1
2
3 3
u" (0) Asen0 B cos 0 sen0 0 cos 0 1 B 1
2 2
Portanto,
3
u cos t sent tsent (35)
2
O gráfico de (35) está na figura abaixo
11
3
Observe que a presença do termo tsent faz o movimento ficar ilimitado quando t . Na
2
prática isto significa que a mola irá se partir. O fenômeno da ressonância pode provocar problemas sérios no
projeto de estruturas, uma vez que a instabilidade gerada por ela pode levar à desestruturação do sistema.
Solução da homogênea:
mu " (t ) bu ' (t ) ku (t ) 0 : (37)
Já sabemos que a solução de (37) é u h c1e r1t c 2 e r2t , onde r1 e r2 são soluções da equação característica,
que podem ser reais ou complexas conjugadas.
Para encontrar a solução da não homogênea podemos admitir que a massa, após um certo tempo, passará a
oscilar com a freqüência da força externa, de modo que a solução procurada deve ser da forma:
Daí,
(k mw 2 )
A F0
Ak Bbw Amw 2 F0 cos wt ( k mw 2 2
) b 2 2
w
Bk Abw Bmw 2 0 B bw A bw
F0
k mw 2
(k mw 2 ) 2 b 2 w 2
k b
Como w02 k mw02 e fazendo b 2m , vem:
m 2m
12
(k mw2 ) (mw02 mw2 ) m(w02 w2 )
A F0 F0 2 2 F0
(k mw2 ) 2 b 2 w2 (mw02 mw2 ) 2 (2m ) 2 w2 m [(w0 w2 ) 2 4 2 w2 ]
bw bw 2mw
B A F0 2 2 F0
k mw 2
( k mw2 2
) b 2 2
w m [( w0 w 2 2
) 4 2 2
w ]
( w02 w2 ).F0 / m 2w.F0 / m
Portanto, A e B 2 (39)
( w0 w ) 4 w
2 2 2 2 2
( w0 w 2 ) 2 4 2 w 2
Reescrevendo u p (t ) A cos wt Bsenwt na forma u p (t ) R cos( wt ) e lembrando que:
B
R A 2 B 2 e tg
A
F0 / m 2
R e tg
( w02 w 2 ) 2 4 2 w 2 0 2 2 (40)
Finalmente,
F0 / m
u p (t ) cos( wt ) (41)
( w02 w 2 ) 2 4 2 w 2
F0 / m
u c1e r1t c 2 e r2t cos( wt ) (42)
( w02 w 2 ) 2 4 2 w 2
b b b b b
u h c1e 2m
t
c2 e 2m
t
c1e 2m
t
.e 2m
t
c2 e 2m
t
.e 2m
t
c1e
2m
t t
t
c 2 e 2 m e 2 m c1e t c 2 e t .e t (43)
b
Em (43) é real ou complexo, mas é uma constante real positiva. Assim quando t ,
2m 2m
e t 0 e conseqüentemente u h c1e r1t c 2 e r2t 0 . Por este motivo u h c1e r1t c2 e r2t é chamada de
solução transiente. Como resultado, resta apenas o termo:
F0 / m
U (t ) cos( wt ) (44)
( w02 w 2 ) 2 4 2 w 2
Observe que esta ultima expressão varia com a mesma freqüência da força externa, possui amplitude
constante e não depende das condições iniciais. Esta é a chamada solução estacionária ou resposta
forçada, pois é o que permanece depois que o estado transiente desaparece.
13
Exemplo: Resolver o sistema oscilatório descrito pelo problema de valor inicial:
248 127 t
1
127 8 8t
1
127 8 2
u(t) e 8 . sen t e . cos t cos( 2 t ) sen ( 2 t )
2159 8 17 8 17 17
Observe o efeito da solução transiente nos 20 primeiros segundos e como ela desaparece a partir daí,
gerando um movimento de mesma amplitude e mesma freqüência.
Bibliografia
1. Symon, Keith R.- Mecânica. Tradução Gilson Brand Batista. Rio de Janeiro-RJ. Ed. Campus, 1982.
2. Boyce, Willian E., DiPrima, Rchard C.-Equações Diferenciais Elementares e Valores de Contorno.
Tradução Horácio Macedo. Rio de Janeiro-RJ, Ed. LTC, 1998.
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Movimento Ondulatório, vol 2. Tradução Jean Pierre Von der Weid. Rio de Janeiro-RJ. Ed. LTC,
1984.
4. Aplicativo MAPLE 11. Waterloo Maple Inc. Waterloo, Ontário-Canadá.
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