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1.

BRASIL: UM PAÍS DE JOVENS DE CABELOS BRANCOS

Pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE mostra que o mito de que o Brasil é um país de
jovens é coisa do passado: 15% da sua população é hoje constituída por idosos – são cerca de 32
milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, que colocam o País como o sexto mais
envelhecido do mundo.

Além disso, pelas projeções apresentadas, o processo de envelhecimento da população brasileira


tem sido bem mais rápido do que nos demais países. Para se ter uma idéia, enquanto em países
como a Suécia foram necessários 80 anos para que 14% de sua população atingisse a faixa
superior a 65 anos de idade, esta marca por aqui levou somente 20 anos.

Entre os diversos fatores que contribuíram para isto, economistas apontam a Constituição de 1988
e o Estatuto do Idoso como os mais importantes – o primeiro, pelas mudanças que trouxe nas
aposentadorias, e o segundo, pelas conquistas alcançadas.

Também vale ressaltar que a melhoria das condições de saneamento básico e dos avanços da
medicina nos últimos anos foram pontos preponderantes nessa mudança de cenário populacional
no País.

2. MUDANÇA DE POSTURA

É certo que os dois últimos fatores apontados acima não apenas contribuíram
para o aumento da expectativa de vida da população brasileira e seu
acelerado ritmo de envelhecimento. Foi preponderante também para uma
mudança nos hábitos, no comportamento e nas atitudes dos que possuem
mais do que 60 anos de idade.

Setembro / 2005 Estudo de Mercado – Marketing Rede Bahia de Televisão


Ao aumentarem em número, essa parcela da população não somente aumentou em renda como,
consequentemente, aumentou também sua gama de interesses. A pesquisa do IBGE mostra que
os idosos não apenas votam mais freqüentemente como ainda assistem mais a telejornais e lêem
mais jornais do que os jovens.

Aliando a isso o fato de que as rendas da aposentadoria e dos fundos de pensão tiveram um
crescimento de 54% (enquanto a renda do trabalhador caiu 8,5% ao ano, em média), entende-se o
porque de só agora o mercado resolver pesquisar e entender as expectativas e os anseios deste
segmento da população – e, com isso, conhecer dados dos mais relevantes que ajudam a traçar
um perfil minucioso sobre a terceira idade. Entre os principais, têm-se que:
• a maioria das pessoas acima de 60 anos de idade no Brasil é mulher;
• a renda desta faixa etária totaliza R$ 60 bilhões ao ano (o dobro da média nacional);
• a renda média desta população é de cerca de R$ 600,00;
• a proporção de pessoas que pertencem às classes AB é maior do que a média
nacional (38% dos idosos estão nesta classe, contra 29% do total nas regiões
metropolitanas);
• 68% das pessoas neste segmento influenciam as compras em seus lares;
• 47% dos idosos auxiliam com contribuições esporádicas, mas que ajudam a melhorar o
padrão de consumo da família.
Fonte: IBGE

3. COM DINHEIRO PARA CONSUMIR

Por tudo apontado acima, e também pelo fato de representarem 15% da população – e ainda por
serem responsáveis por manter a renda de cerca de 10 milhões de lares brasileiros – as pessoas
com mais de 60 anos de idade já começam a ser vistas por boa parte da classe empresarial
nacional, mesmo que de forma incipiente, como uma nova oportunidade de negócios.

Antes de mais nada, é incipiente porque, como visto anteriormemte, a rapidez do


processo de envelhecimento da população nacional fez com que boa parte das
empresas não tivessem tempo para dar a devida importância a este segmento
populacional. Como conseqüência, têm-se boa parte dos produtos vendidos para
idosos muito associados à sua incapacidade de locomoção e à sua condição física limitada do que
ao crescimento desse grupo etário no mercado consumidor.

Setembro / 2005 Estudo de Mercado – Marketing Rede Bahia de Televisão


No entanto, como dito antes, essa enorme carência de produtos e serviços voltados para as
necessidades dos idosos que se verifica atualmente pode estar com os dias contados: já existem,
principalmente nos países do Primeiro Mundo, ações mercadológicas e campanhas publicitárias
que atribuem às pessoas com mais de 60 anos uma nova imagem (a de serem donos absolutos de
seu tempo, com condições físicas e financeiras de usufruírem os benefícios de uma vida planejada
para esse momento).

Esse novo conceito que surge sobre a terceira idade (de que aposentadoria e velhice deixam de
ser uma idade de recolhimento e descanso para se transformar num período de atividade, lazer e
recreação pessoal) não só contamina o mercado em geral como ajuda a derrubar vários ícones do
preconceito contra os idosos – apesar de ainda ser longo o caminho a se percorrer.

4. O PERFIL CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE

O idoso de hoje não pode ser comparado, de forma alguma, a maioria dos avós de anos atrás.
Primeiro, porque tratam-se de indivíduos com dinheiro suficiente para consumir, com nível de
exigência e instrução alto, que acompanham a moda e desejam lazer com qualidade. E, segundo,
porque, como conseqüência disso, a cada ano que passa, essas pessoas já são vistas como um
mercado consumidor solidificado (e crescente, diga-se de passagem).

O problema é que, na maioria das situações, não encontram o que procuram com
facilidade – o que não significa dizer que façam questão de lojas especializadas na
terceira idade. Pelo menos é o que aponta a pesquisa do IBGE, que mostra, entre
outras coisas, que senhoras com mais de 60 anos de idade, por exemplo, querem as
cores da moda, o modelo usado pelas mais jovens, mas adaptado ao seu corpo (e
querem encontrar esse produto em uma loja de departamentos ou no comércio da esquina).

3.1) Vestuário
No que diz respeito a esse tema, os dados mostram que 36% dos entrevistados não encontram
roupas com facilidade – e desses, 42% têm dificuldade em comprar roupas sociais (e quando
encontra, os modelos não agradam). A pesquisa indica ainda que, para os mais idosos, as roupas
não apresentam numeração de acordo e os modelos estão dissociados da moda. Também faltam
roupas adequadas para pessoas hospitalizadas.

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Com relação aos calçados, os idosos se mostraram desejosos de modelos iguais aos similares
comercializados nas lojas especializadas, mas devem ser mais confortáveis e apresentar o mesmo
custo. Os sapatos para festas e uma linha especial para os diabéticos foram os itens que, de
acordo com os entrevistados, estão entre os mais difíceis de serem achados.

3.2) Alimentação
Ainda de acordo com a pesquisa, os idosos brasileiros gastam, em média, 24% do que recebem
com alimentação. Em relação a restaurantes, 75% informaram que freqüentam estes
estabelecimentos, em média, três vezes por mês – mas reclamam que a grande maioria deveria ter
rampa na entrada e barras de apoio, bem como piso antiderrapante. Além disso, carecem de
lugares reservados para cadeira de rodas, pessoas especializadas para orientar na escolha da
alimentação e atendimento especial.

Quando o assunto é compras em supermercados, dos 93% que os freqüentam, 62% escolhem os
produtos de acordo com a qualidade e a marca e apenas 27% são influenciados pelo preço. Entre
as reclamações, estão a dificuldade em encontrar uma variedade de opções de produtos naturais e
diet, cosméticos específicos, material de limpeza, arroz e macarrão integral. Também se queixaram
do atendimento dos caixas, dos carrinhos de compra não apropriados e das filas grandes (mesmo
para idosos).

3.3) Cuidados Pessoais


Neste item, 80% informou que freqüenta salão de beleza e barbeiro. No entanto, mostram não
estarem satisfeitos com serviços de depilação, produtos para maquiagem, tamanho das letras nos
rótulos dos cremes, sabonetes, além das tinturas.

3.4) Lazer e Recreação


Entre as atividades de lazer preferidas, estão a caminhada (realizada por 77% dos entrevistados),
passear no shopping (72% das indicações), ouvir música (70%) e viajar (62%). Baseados nas
respostas, percebe-se que as academias de ginástica possuem um filão para explorar – basta que,
para isso, se adeqüem às necessidades da terceira idade, com equipamentos, profissionais e
aulas dirigidas especificamente à esse público.

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3.5) Turismo
Por possuir maior tempo livre, as pessoas com mais de 60 anos de idade são público-alvo para o
turismo – podendo garantir, inclusive, a ocupação dos equipamentos e serviços turísticos na baixa
estação.

Quem planeja trabalhar com este target, no momento de montar um pacote, por exemplo, deve
observar cuidados especiais na hospedagem, na alimentação e no transporte (principalmente por
se tratar de um público altamente exigente).

Os hotéis devem ter piso antiderrapante, rampas, corrimões e banheiros com apoio. O serviço de
check-in deve ser rápido e o estabelecimento deve ter funcionários para auxiliar no carregamento
das bagagens. O cardápio deve ser leve e o hotel deve servir as três refeições. Na questão do
transporte, o motorista deve estar preparado para atender esses turistas e o ônibus precisa
apresentar poltronas mais confortáveis e espaçosas, banheiros adequados e escadas adaptadas
para diminuir a altura do chão ao primeiro degrau na hora do embarque e desembarque dos
idosos.

3.5) Finanças
Desde que o governo permitiu a concessão de empréstimos atrelados aos pagamentos dos
benefícios do INSS, essa modalidade de crédito para os aposentados não parou de crescer no
Brasil: já são mais de 2 milhões de beneficiados que, juntos, contrataram R$ 4,3 bilhões até o
momento. Para se ter uma idéia do quanto a terceira idade caiu nas graças do sistema financeiro,
hoje, até farmácias estão intermediando estas concessões para esse público.

A novidade, agora, é a chegada de um cartão de crédito exclusivo para os pensionistas da


Previdência oficial. Trata-se de um cartão de crédito como os tradicionais, mas com duas grandes
vantagens: além de não cobrar anuidade, permite que os aposentados financiem suas despesas
no chamado crédito rotativo com juros mais baixos que os praticados no mercado (algo em torno
de 4%, enquanto que algumas administradoras chegam a cobrar, em média, 12% de juros ao
mês).

O que mais atrai os bancos para este tipo de financiamento é o baixo risco de calote – afinal, por
ser uma operação de crédito consignado (o tomador autoriza o banco a debitar parte da dívida do
crédito que ele recebe mensalmente do INSS), a inadimplência é praticamente zero (mesmo em
caso de morte, há um seguro que cobre o prejuízo).

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Em relação ao risco de um endividamento dos aposentados, para evitar esse complicador, o
Governo Federal limitou o valor dos descontos mensais a, no máximo, 10% do valor do benefício
recebido. Além disso, o limite de crédito do cartão vai até duas vezes o valor do que é pago pelo
INSS.

Por tudo isso, e mais o fato de ganharem ainda mais tempo para pagarem suas despesas (uma
vez que o prazo entre a data da compra e o vencimento da fatura pode chegar a 40 dias), esse é
um produto que está ganhando, a cada dia que passa, mais adeptos entre as pessoas da terceira
idade.

Enfim, dentro de todo esse contexto apresentado aqui, não fica difícil entender os
motivos que levam este segmento da população a afetar o crescimento, os
investimentos, o consumo, a saúde pública e até o mercado de trabalho tanto dos
países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento – embora, nestes últimos, ainda o
faça de maneira um tanto acanhada.

O próximo passo agora é se fazer uso de tais informações a favor dos negócios e, a partir de
então, se dirigir mais e mais a esse novo mercado que surge: a terceira idade (ou, como muitos
preferem chamar: a melhor idade).

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