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- Eeeeeehhh – gritava Laurence no meio da rua enquanto balançava uma folha nas

mãos.

- Que foi? Que foi? – a curiosidade salta nos olhos de Igor – Porque está gritando?

- É o resultado do vestibular, cara – brincava com a folha como se fosse um origami –


Nós passamos cara, acredita? Nós passamos!

Igor pareceu não acreditar na noticia, nem se lembrara do vestibular que havia feito,
tampouco de ter acertado tantas questões. Os dois, indo para a mesma universidade
juntos, a melhor coisa do mundo para ele, pois jamais imaginara ir para uma cidade
diferente, sozinho e voltar a ser indefeso como era no ensino médio. Lembrou-se de
quando era só um pirralho na escola anterior, perseguido pelos maiorais e por toda a
escola, até que se mudou para a atual, onde por sorte conheceu Laurence, um garoto que
tinha tudo para ser o pior estorvo da vida dele, um daqueles que costumava persegui-lo,
mas não.

Tornaram-se tão amigos que, agora que estava finalizando o ensino médio eles
pensaram em fazer o mesmo curso – Direito – sonhavam em ajudar as pessoas da
pequena cidade em que moravam. Defender as causas perdidas e inverter a situação,
salvar os pescadores de lá das garras da sociedade. Até porque, os pais de Laurence
trabalhavam em um navio, daqueles bem grandes, eram donos do restaurante de lá, e
como Igor e Laurence sempre estavam lá, conheciam todo mundo.

- Cara, eu ainda não acredito - disse Igor entre uma mastigada e outra.

Igor estava deitado em sua cama, jogava salgadinhos para cima e caia na boca, mas
acertava mais o chão do que a própria boca.

- Pois é verdade, vamos diretamente pra faculdade – o rosto entusiasmado de Laurence


parecia viajar – garotas, carros, bebidas... Garotas!

Soltaram uma gargalhada após a frase e ficaram por um segundo parados, até que
Laurence se levanta com uma mão na barriga e outra apontada para cima, como se
acabasse de ter uma idéia.

- Já sei! Temos que comemorar – disse isso enquanto corria para fora do quarto de Igor.

- Ei, ei. Aonde você vai? – Igor corria atrás dele tropeçando em tudo – Ai meu pé,
espera ai.

- Vou ligar para meu pai, com certeza ninguém lá sabe ainda, vou pedir para fazerem
uma festa lá no restaurante deles – Laurence pega o telefone, olha mais uma vez para
Igor e esbraveja – Cara, nós vamos pra faculdade!

O navio estava ancorado lá no porto La Caída por mais ou menos uma semana, e
provavelmente ficaria um mês, e durante este período, virava na realidade um
restaurante, até as férias chegarem e o navio zarpar de novo até outros portos pelo
mundo.

- Nossa, ele ficou super animado com isso – novamente Laurence corria para um lado e
Igor ia seguindo-o.

- Sério? – indagou Igor tentando acompanhar os passos dele pela rua – e, só pra constar,
pra onde estamos indo agora?

- Ele disse para irmos para lá – sem olhar para traz Laurence responde – vai fazer um
almoço para nós e hoje à noite é a festa, já vai planejar tudo agora.

- Humm, legal – concordou Igor com os planos dele.

- Tipo, pega isso – entregou o celular dele para Igor – aproveita meus créditos e convida
a galera ai, pode convidar a vontade.

Igor pegou o celular e começou a ligar convidando um e outro que ele ainda gostava na
escola. Procurou mais algum numero, mas nada. Laurence andava com um olhar alto,
planejava mundos e fundos para o próximo ano, pois ele estará na universidade com o
melhor amigo dele e todos os seus problemas acabariam. Não veria mais as brigas de
família, nem ficaria mais sozinho quando os pais viajarem, nem nada mais de
problemas. A princípio foi por isso que ele fez amizade com Igor, os dois eram bastante
solitários, mas Laurence era bem mais extrovertido, mas ele sentiu um conforto que
nunca teve em outras amizades, eram realmente ótimos amigos.

- Liga para a Michelle, por favor? – pediu Laurence ao Igor, enquanto estava
procurando na agenda algum numero – convida ela?

- A ta, vai falar que está com vergonha? – Igor respondeu segurando uma risada – Ta,
eu vou convidar, eu sei que vocês já têm um rolo estranho, mas eu ligo sim.

Os dois riram disso por uns segundos, Laurence foi entrando num prédio muito bonito.
Vidros pretos revestiam sua parte externa, brilhando e refletindo o que passava ao seu
redor, uma enorme porta de vidro com maçanetas douradas que refletiam ainda mais
que os vidros.

- Vem aqui, vou pegar uma coisa – Laurence corria mais uma vez, o que já incomodara
Igor no dia de hoje.

- Tá, mas, pode esperar? – Igor tentava mostrar uma falsa raiva, mas por final riu e saiu
correndo atrás.

Chegaram num Caixa Eletrônico e Laurence foi à frente da maquina, fez todos os
procedimentos e tirou uma bolada em dinheiro, dava pra contar várias notas.

- Pra que tudo isso? – Igor parecia surpreso, pois Laurence nunca pareceu ter tanto
dinheiro assim, até porque seus pais trabalhavam muito e ele se queixava de estar em
casa, sem dinheiro e sem ninguém. Sempre chamava Igor pra lá para ficarem jogando
vídeo-game ou comendo salgadinhos.

- Pra nossa festa, oras. – Laurence fez uma pose do tipo “Mãe brigando com o filho” e
riu em seguida – Te contar um segredo e não conta para ninguém, tá?

- Lógico que não, fala – disse balançando a cabeça para cima e para baixo.

- Peguei um empréstimo agora pra fazermos nossa festa e comprar umas coisinhas para
nossa viajem – disse Laurence cochichando, como se fosse algo ultra-secreto – porque
já é no final do ano agora.

- Você ta falando sério? – Igor indagou num tom de advertência – Você tá maluco?

- Ah, me deixa, eu nunca tive festas, quero aproveitar a ultima antes de ir para
faculdade.

Por um momento os dois ficaram parados lá, olhando um para o outro, Igor estava
pensando se ele nunca tivera mesmo uma festa até hoje. Será que nem de aniversário ele
teve?

Assim que o devaneio passou, Laurence correu novamente, só que desta vez puxando
Igor com ele.

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