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ORADORES CONVIDADOS
“Grandes Esperanças”
“O Reflexo na Água”
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Grandes Esperanças
Presidente Thomas S. Monson
Serão do SEI para Jovens Adultos • 11 de janeiro de 2009 • Universidade Brigham Young
Meus queridos jovens amigos, o espírito que permeia esta reunião aqui no Marriott Center
(no campus da Universidade Brigham Young) e em centenas de outros lugares espalhados
por todo o mundo é reflexo de sua força, devoção e virtude. Sinto-me extremamente grato
por estar com vocês esta noite. Vocês me fazem lembrar das palavras do poeta Henry
Wadsworth Longfellow:
Reli recentemente uma de minhas obras favoritas, escrita por Charles Dickens, que se chama
As Grandes Esperanças. Vocês que já leram esse clássico devem lembrar que Dickens conta
a história de um menino chamado Philip Pirrip, mais conhecido como ―Pip‖. O pequeno Pip
era órfão e não se lembrava de já ter visto a própria mãe nem o pai. Ele desejava as mesmas
coisas que os outros meninos desejam. Desejava do fundo do coração ser instruído; queria
ser um cavalheiro; queria ser menos ignorante; mas todas as suas ambições e esperanças
pareciam fadadas ao fracasso, até que certo dia um advogado de Londres, chamado Jaggers,
foi procurar o pequeno Pip e lhe disse que um benfeitor desconhecido tinha deixado uma
fortuna para ele e que Pip era ―um rapaz de futuro muito promissor‖.2
Hoje, ao olhar para vocês e ver quem são e o que são, e quem e o que vocês podem vir a ser,
eu lhes digo o mesmo que o advogado disse a Pip: Seu futuro é muito promissor—não por
causa de algum benfeitor misterioso, mas graças a um benfeitor conhecido — o Pai Celestial
—, e de vocês se esperam muitas grandes coisas.
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O autor do livro de Eclesiastes escreveu: ―Não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a
batalha‖(Eclesiastes 9:11), mas daquele que persevera até o fim. A corrida da vida é tão
importante, o prêmio tão valioso, que muita ênfase precisa ser dada a preparar-se devida e
meticulosamente.
Há muitos anos, antes de ser chamado para o Quórum dos Doze, tive a oportunidade de falar
em uma convenção empresarial, em Dallas, Texas, que é conhecida como a ―cidade das
igrejas‖. Depois da convenção, fiz um passeio turístico de ônibus pela área residencial nobre
da cidade. Ao passarmos pelas belas igrejas, nosso motorista comentava: ―À esquerda,
vemos a Igreja Metodista‖ ou ―Ali, à direita, fica a Catedral Católica‖. Ao passarmos por um
belo edifício de tijolos vermelhos, no alto de um morro, o motorista informou-nos: ―Ali
naquele edifício é onde os mórmons se reúnem‖.
Uma senhora no fundo do ônibus perguntou: ―Motorista, pode dizer-nos algo sobre os
mórmons?‖ Ele parou o ônibus no acostamento, virou-se em seu banco e respondeu:
―Senhora, tudo o que sei dos mórmons é que eles se reúnem naquele edifício de tijolos
vermelhos. Tem alguém no ônibus que sabe alguma coisa dos mórmons?‖
Passei os olhos pelo rosto de cada pessoa, procurando algum sinal de reconhecimento,
algum desejo de dizer algo. Não vi sinal algum. Então, dei-me conta de como é verdadeira a
afirmação: ―Quando chega a hora de decidir-se e agir, não há mais tempo para se preparar‖.
Nos quinze minutos que se seguiram, tive o privilégio de explicar o que Pedro chamou de ―a
razão da esperança que há em vós‖ (I Pedro 3:15). Naquela ocasião, passei a dar muito mais
valor à importância da preparação.
Na verdade, meus jovens amigos, seu período de preparação não começou no dia em que
vocês assistiram à primeira aula na faculdade. Começou muito antes de vocês virem para a
mortalidade, quando vivíamos como filhos espirituais do Pai Celestial. Sinto-me
imensamente grato por, em Sua sabedoria, Ele ter deixado registrado, no livro de Abraão
algo a respeito dessa existência:
―Ora, o Senhor mostrara a mim, Abraão, as inteligências que foram organizadas antes de o
mundo existir; e entre todas essas havia muitas das nobres e grandes;
E Deus viu que essas almas eram boas; e ele estava no meio delas e disse: A estes farei meus
governantes; pois ele se encontrava entre aqueles que eram espíritos e viu que eles eram
bons; e disse-me: Abraão, tu és um deles; foste escolhido antes de nasceres.
E estava entre eles um que era semelhante a Deus; e ele disse aos que se achavam com ele:
Desceremos, pois há espaço lá, e tomaremos destes materiais e faremos uma terra onde estes
possam habitar;
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E assim os provaremos para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes ordenar;
E os que guardarem seu primeiro estado receberão um acréscimo; e os que não guardarem
seu primeiro estado não terão glória no mesmo reino que aqueles que guardarem seu
primeiro estado; e os que guardarem seu segundo estado terão um acréscimo de glória sobre
sua cabeça para todo o sempre‖ (Abraão 3:22–26).
Depois, graças à sabedoria do Pai Celestial, nascemos na mortalidade e fomos recebidos por
uma família amorosa.
Quero que saibam o quanto seus familiares oram por vocês. Eles se preocupam com vocês.
Desejam saber como vocês estão se saindo. Eles os amam muito! Não os decepcionem.
O Senhor nos diz em Doutrina e Convênios que durante os primeiros oito anos de nossa
vida, a Satanás não é dado poder para tentar-nos, pois somos criancinhas (ver D&C 29:46–
47). Tivemos uma vantagem de oito anos em relação a Lúcifer.
Essa informação foi dada pelo Senhor ao Profeta Joseph, nos idos de 1830. Em nossos dias,
um renomado cientista social, o Dr. Glenn Doman, que com quase toda certeza nunca ouviu
essa escritura, com suas pesquisas chegou à conclusão de que ―a criança recém-nascida é
uma duplicata quase exata de [um] computador, embora superior a ele em quase todos os
aspectos.
O que for colocado no cérebro de uma criança nos primeiros oito anos de sua vida,
provavelmente ficará lá para sempre. Se colocarmos informações erradas em seu cérebro
durante esse período, será extremamente difícil apagá-las‖. Ele acredita que a fase mais
receptiva da vida humana é a idade de dois ou três anos.3
Vocês podem perguntar: ―Por que o Presidente Monson está frisando isso? Para nós, o
período de aprendizado dos primeiros oito anos de vida já se passou há muito tempo!‖ Mas
vocês, meus irmãos e irmãs, vão ser pais um dia, e também é bom que frisem bem a
importância desse primeiro período de oito anos para seus filhos e para as futuras gerações
de descendentes seus.
Quando penso em algumas das coisas que sem dúvida fizemos quando crianças,
adolescentes e jovens adultos, creio que às vezes é de admirar que nossos pais tenham
sobrevivido… ainda mais espantoso é que tenham conservado a sanidade mental. Uma
mulher que estava enfrentando uma manhã muito difícil tentando manter seus filhos sob
controle sentiu que estava a ponto de perder a sanidade.
Seu filhinho Matthew se achegou a ela e disse, todo feliz: ―Mãe, sabe aquele vaso que sua
avó deu para sua mãe, e que ela deu para você, e que você está sempre preocupada que eu
acabe quebrando?‖
Preparação Acadêmica
Vocês, meus irmãos e irmãs, entraram agora em outro grande período de preparação para se
qualificarem para a corrida da vida. Estou falando da preparação acadêmica. Ela é
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importante porque é por meio dela que aprendemos as lições que nos ajudarão a enfrentar os
desafios do mundo em constante mutação em que vivemos.
Isso, é claro, não acontece hoje. Supondo que sua proposta, geralmente enviada pela
Internet, seja escolhida e vocês sejam chamados para uma entrevista, o moderno diretor de
recursos humanos faria perguntas assim: Que diplomas você tem? Que tipo de contribuição
pode dar a nossa empresa? Que programas de computador você domina?
Esforço
Há muitos anos, tive a oportunidade de dar aulas na universidade, e lembro-me de que
alguns alunos pareciam saber onde queriam chegar. Eram aplicados, tinham objetivos e
metas e se esforçavam para alcançá-los. Outros alunos pareciam totalmente desinteressados.
Pareciam estar flutuando no mar do acaso, com ondas de fracasso ameaçando tragá-los.
Primeiro se tornavam preguiçosos, depois desanimados e então indiferentes… e acabavam
desistindo dos estudos.
Um dos alunos que desistiu dos estudos voltou para casa e disse para a mãe: ―Mãe, larguei a
faculdade. Vou abrir meu próprio caminho no mundo‖. Fez as malas e saiu para enfrentar a
vida de cabeça. Depois de enfrentar a vida por três semanas, ligou para a mãe. ―Mãe‖, disse
ele, ―lembra que você me disse quando saí de casa que se eu largasse a escola não
conseguiria arrumar emprego? Bem, você estava errada. Saí pelo mundo há apenas três
semanas, e já tive seis empregos!‖
Em sua busca pela excelência, é preciso esforçar-se de verdade. Lembrem-se: ―O que semeia
pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará‖
(II Coríntios 9:6).
A vida é um mar no qual os orgulhosos são humilhados, os que fogem do trabalho são
expostos e os líderes se revelam. Para navegá-lo em segurança e chegar ao porto desejado,
vocês precisam manter suas cartas náuticas atualizadas e à mão. Precisam aprender com a
experiência dos outros, defender seus princípios, ampliar seus interesses, compreender os
direitos dos outros de navegar no mesmo mar e ser confiáveis no cumprimento de seus
deveres.
Seu empenho na escola terá um efeito extraordinário nas oportunidades que terão depois que
terminarem os estudos. Enquanto se esforçam para conseguir boas notas, não subestimem a
importância de realmente aprenderem a pensar. Henry Ford, o grande industrial, disse: ―O
homem instruído não é aquele cuja memória é condicionada a guardar algumas datas
históricas, mas, sim, aquele que é capaz de realizar coisas. O homem que não pensa não é
instruído, por mais diplomas universitários que tenha. Pensar é o trabalho mais árduo que há,
e esse é provavelmente o motivo pelo qual existem tão poucos pensadores‖.4
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Preparação Espiritual
Maior que nosso período de preparação acadêmica é a questão da preparação espiritual.
Precisamos adquirir nosso próprio testemunho do evangelho de Jesus Cristo, que será uma
âncora para nossa alma.
Nesse período questionador e incerto da vida, alguns podem perguntar, como fez Pilatos, o
governador da Judéia, na época de Cristo: O ―que é a verdade?‖ (João 18 :38). Novamente
procuramos orientação nas revelações:
Milhares de almas sinceras que buscam a verdade continuam a confrontar essa dúvida
pungente, que estava na mente de Joseph Smith quando pesquisava as declarações das
igrejas de sua comunidade a respeito de quem estava certo e quem estava errado. Joseph
disse:
―Em meio a essa guerra de palavras e divergência de opiniões, muitas vezes disse a mim
mesmo: Que deve ser feito? Quem, dentre todos esses grupos está certo, ou estão todos
igualmente errados? Se algum deles é correto, qual é, e como poderei sabê-lo? (…)
Ele orou. A melhor descrição dos resultados dessa oração estão nas próprias palavras de
Joseph. Vocês as conhecem: ―Vi dois Personagens cujo esplendor e glória desafiam
qualquer descrição, pairando no ar, acima de mim. Um deles falou-me, chamando-me pelo
nome, e disse, apontando para o outro—Este é Meu Filho Amado. Ouve-O!‖ (Joseph
Smith—História 1:17). Joseph ouviu e aprendeu. Sua pergunta tinha sido respondida.
Para aqueles que buscam humildemente, não há necessidade de seguir às escuras, aos
tropeços, pelo caminho que conduz à verdade. Ele foi bem demarcado pelo Pai Celestial.
Precisamos primeiro ter o desejo de saber por nós mesmos. Precisamos estudar; precisamos
orar; precisamos fazer a vontade do Pai; então, conheceremos a verdade, e ela nos libertará.
Aqueles que buscam humildemente são favorecidos por Deus, deixo-lhes essa promessa.
Pensem nisso.
Lembrem-se de que a dúvida e a fé não podem coexistir na mente, porque uma afasta a
outra. A dúvida destrói, ao passo que a fé completa. Uma atitude de fé nos leva para mais
perto de Deus e Seus propósitos.
perturbadores e rebeldes: ‗eu me proponho a permanecer com minha fé, com a fé que meu
povo professa. Sei que nela há felicidade e alegria, e proíbo vocês, pensamentos agnósticos e
questionadores, de destruírem a casa da minha fé. Reconheço que não compreendo o
processo da criação, mas aceito-a como fato. Admito que não posso explicar os milagres da
Bíblia nem tento fazê-lo, mas aceito a palavra de Deus. Não estive com Joseph, mas acredito
nele. Não adquiri minha fé por meio da ciência, e não permitirei que a ciência a destrua‘‖.6
Os maus hábitos também podem ser uma armadilha. Primeiro, podemos largá-los, se
quisermos. Depois, queremos largá-los, se pudermos. John Dryden, um influente poeta
inglês e dramaturgo do século dezessete disse:
Os bons hábitos, por outro lado, são os músculos da alma. Quanto mais os usamos, mais
fortes ficam.
O Pai Celestial nos aconselhou a buscar ―qualquer coisa virtuosa, amável, de boa fama ou
louvável‖ (Regras de Fé 1:13). A permissividade, a imoralidade, a pornografia e a pressão
dos colegas fazem com que muitos sejam lançados no mar do pecado e esmagados contra os
recifes cortantes das oportunidades perdidas, bênçãos revogadas e sonhos desfeitos.
Fujam de tudo que se assemelhe à pornografia. Ela é perigosa e vicia. Se continuarem a ver
pornografia, seu espírito e sua consciência perderão a sensibilidade.
Não tenham medo de sair de um cinema, de desligar a televisão nem de mudar a estação de
rádio se o programa apresentado não estiver de acordo com os padrões do Pai Celestial. Em
suma, se tiverem dúvidas se certo filme, livro ou outra forma de entretenimento é sadia, não
vejam, não leiam, não participem.
Esta fórmula é bem interessante: ―O trabalho é que vence, não a mera intenção‖. Uma
atitude de trabalho resulta na capacidade de esforçar-se continuamente até atingir uma
determinada meta.
―Essa é a jogada decisiva da partida. Title recebe a bola pelo centro, prepara-se para lançar,
mas os jogadores do time adversário penetram o campo de ataque e partem para cima de
Tittle, parece que é fim de jogo.
Êpa! Ainda não! Title consegue escapar e recuar. Ele prepara-se e lança a bola para o
jogador além da linha de fundo marcar o touchdown!
No jogo da vida, muitas vezes é preciso persistir. A vida feliz não é anunciada em qualquer
idade com rufar de tambores e trombetas. Ela se desenvolve ano a ano, pouco a pouco, até
que, por fim, nos damos conta de que a temos. Ela é alcançada por um volume de trabalho
realizado tão bem que podemos erguer a cabeça com segurança e encarar o mundo sem
medo.
Vejam o exemplo de Cristóvão Colombo. Vejamos uma página do diário de sua primeira
viagem. Dia após dia, esperavam encontrar terra, sem sucesso, ele simplesmente escrevia:
―Hoje, continuamos a navegar‖. 9 A perseverança traz grandes recompensas.
Ajudar os Outros
Terceiro, ajudem os outros na corrida da vida. Lembrem-se de que, quando você ajuda
outro a subir a montanha, você mesmo chega um pouco mais perto do topo. Tente ver seu
irmão da perspectiva correta. Certo homem disse: ―Olhei para meu irmão pelo microscópio
da crítica e disse: ‗Como meu irmão é grosseiro‘. Depois, olhei para meu irmão pelo
telescópio da zombaria, e disse: ‗Como meu irmão é pequeno‘. Depois, olhei para o espelho
da verdade e disse: ‗Como meu irmão se parece comigo‘‖.
A missão do Mestre caracterizava-se por uma atitude de amor. Ele deu visão aos cegos, fez
os coxos andarem e deu vida aos mortos. Talvez, quando encararmos nosso Criador, Ele não
nos pergunte: ―Quantos cargos você teve‖, mas, sim, ―Quantas pessoas você ajudou?‖ Na
verdade, não amamos o Senhor se não O servimos, servindo Seus filhos.
Lembrem-se de que não estamos sozinhos nesta grande corrida da vida. Temos direito à
ajuda do Senhor. O Apóstolo Paulo disse aos hebreus:
―Deixemos todo o (…) pecado (…) e corramos com paciência a carreira que nos está
proposta,
olhando para [o exemplo de] Jesus, autor e consumador da fé‖ (Hebreus 12:1–2).
Antes de O termos como nosso companheiro, antes de ser possível tê-Lo como guia e segui-
Lo, precisamos encontrá-Lo. Para encontrá-Lo, gostaria de sugerir que, antes de tudo,
precisamos abrir espaço para Ele em nossa vida. Ele disse: ―As raposas têm covis, e as aves
do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça‖ (Mateus 8:20).
O médico e discípulo Lucas descreveu a cena da natividade: ―E deu à luz a seu filho
primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar
para eles na estalagem‖ (Lucas 2:7).
O Senhor convida a cada um de nós. Pensem nessas palavras do Senhor como se fossem
dirigidas a vocês individualmente: ―Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha
voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo‖ (Apocalipse 3:20).
Ah, meus jovens irmãos e irmãs, abram espaço para o Senhor em sua casa e em seu coração,
e Ele será seu companheiro. Ele estará a seu lado. Ele lhes ensinará o caminho da verdade.
Com a ajuda do Senhor e com a preparação que mencionei, será possível seguirem adiante
nesta corrida da vida e alcançarem seu futuro promissor, concretizarem suas grandes
esperanças. Depois, no final de tudo, poderão dizer: ―Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a fé‖ (II Timóteo 4:7).
Agindo assim, receberão as bênçãos do céu. Aquele que percebe a queda de um pardal, a
Sua própria maneira, reconhecerá nosso serviço.
O irmão Edwin Q. Cannon Jr. (o ―Ted‖, como o chamamos), foi missionário na Alemanha,
em 1938. Ele aprendeu a amar o povo dali e o serviu fielmente. Ao término de sua missão,
voltou para casa em Salt Lake City. Casou-se e começou seu próprio negócio.
Quarenta anos se passaram. Um dia, o irmão Cannon foi até meu escritório e disse que
estivera organizando suas fotografias da missão. (―Organizar‖, bela palavra! Significa olhar
todas, separar duas e guardar o resto!) Entre as fotografias que tinha guardado desde a época
de sua missão, havia várias que ele não conseguia identificar especificamente. Toda vez que
pretendera desfazer-se delas, tivera a impressão de que devia guardá-las, embora não
soubesse por quê. Eram fotografias tiradas pelo irmão Cannon durante sua missão, quando
servia em Stettin, Alemanha, e nelas via-se uma família: a mãe, o pai, uma garotinha e um
menininho. Ele sabia que o sobrenome deles era Berndt, mas não lembrava mais nada. Ele
disse que sabia que havia um Berndt que era líder da Igreja, na Alemanha, e ele pensou,
embora considerasse remota essa possibilidade, que aquele Berndt teria alguma relação com
a família Berndt que morava em Stettin e que aparecia nas fotografias. Antes de desfazer-se
das fotos, ele achou que deveria consultar-me.
Eu disse ao irmão Cannon que em breve iria para Berlim, onde achava que veria Dieter
Berndt, o líder da Igreja, eu mostraria as fotos a ele para ver se havia algum parentesco e se
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ele gostaria de ficar com elas. Havia também a possibilidade de eu ver a irmã do irmão
Berndt, que era casada com Dietmar Matern, um presidente de estaca de Hamburgo.
O Senhor nem sequer me deixou chegar a Berlim antes de fazer com que Seus propósitos
fossem cumpridos. Eu estava em Zurique, na Suíça, subindo no avião para Berlim, quando o
próprio Dieter Berndt entrou no avião também. Ele sentou-se ao meu lado, e eu lhe disse que
tinha umas fotografias antigas de pessoas com o sobrenome Berndt que moraram em Stettin.
Entreguei-lhe as fotos e perguntei se conseguia identificar as pessoas das fotografias. Com
os olhos fixos nas fotos, ele começou a chorar e disse: ―Na época da guerra, nossa família
morava em Stettin. Meu pai morreu quando uma bomba lançada pelos aliados atingiu a
fábrica onde ele trabalhava. Pouco depois, os russos invadiram a Polônia e a região de
Stettin. Minha mãe pegou minha irmã e eu, e fugiu do inimigo que avançava. Deixamos
tudo que tínhamos para trás, inclusive todas as fotografias. Irmão Monson, eu sou o menino
que aparece nessas fotografias, e minha irmã é a menina. O homem e a mulher são nossos
queridos pais. Até hoje, eu não tinha nenhuma fotografia de nossa infância em Stettin nem
de meu pai‖.
Enxugando minhas próprias lágrimas, eu disse ao irmão Berndt que as fotografias eram dele.
Ele as colocou com cuidado e carinho em sua pasta.
Na conferência geral seguinte, quando Dieter Berndt visitou Salt Lake City, ele visitou o
irmão Edwin Cannon Jr. e sua esposa para agradecer-lhe pessoalmente por ter sido inspirado
a guardar aquelas preciosas fotografias e por ter seguido essa inspiração durante quarenta
anos.
Presto-lhes este testemunho: que Deus vive, que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, que
Ele é nosso Irmão mais velho, Ele é nosso Redentor, Ele é nosso Salvador, Ele é a fonte de
suas grandes esperanças de um futuro promissor.
Deixo-lhes minha bênção e expresso-lhes meu amor. Vocês são uma geração escolhida e
especial, com grandes esperanças. Que o Pai Celestial os guie e abençoe sempre, e que vocês
sempre se esforcem para alcançar esse futuro promissor, é minha oração, em nome de Jesus
Cristo, nosso Salvador. Amém.
Notas
1. Henry Wadsworth Longfellow, Moritus Salutamus (1875), em The Complete Poetical
Works of Longfellow (1922), p. 311.
2. Charles Dickens, Great Expectations (Nova York: Alfred A. Knopf, 1992), p. 130.
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3. Citado por Glenn Doman em ―Too Young to Read?‖ Life, 27 de novembro de 1964, p.
111; ver também p. 107.
7. John Dryden, ―Of the Pythagorean Philosophy‖ (1700), sobre um tema de Ovídio em
Metamorfoses, volume XV, em The Poetical Works of Dryden (1950), p. 881.
8. ―Stick to Your Task,‖ em Jack M. Lyon et al. (org.), Best-Loved Poems of the LDS
People, (1996), pp. 255–256.
9. Ver Lillian Eichler Watson, ed., Light from Many Lamps (1979), p. 138.
10. William Cowper, ―Light Shining out of Darkness,‖ Olney Hymns (1779), nº 35, em
Masterpieces of Religious Verse, ed. James Dalton Morrison (1948), pp.10–11.
Que alegria é estar aqui com vocês, hoje, e prestar-lhes meu testemunho do
evangelho restaurado de Jesus Cristo. Assim como vocês, sinto-me grato pelos
princípios do evangelho que nos dão uma perspectiva eterna e nos ensinam a ter
alegria nesta vida e na eternidade.
Depois que fui designado Assistente dos Doze Apóstolos, no Templo de Salt Lake,
o Élder LeGrand Richards, que era 46 anos mais velho que eu, aproximou-se,
abraçou-me e disse-me ao ouvido: ―Oh, como seria bom voltar a ser menino e ter
toda a vida pela frente‖. Voltar a ser menino? Eu tinha 42 anos de idade! O motivo
de eu lhes dizer isso é que hoje falarei como se vocês fossem um pouco mais
novos do que acham que são. Por isso, meus queridos irmãos e irmãs, quando
olho para vocês, vejo a juventude de Sião. Vocês são um exército real com uma
nobre herança. São um exemplo vivo para as gerações futuras. Como diz o hino:
―Deve Sião fugir à luta … ? Não! Sempre fiéis nossa fé guardaremos‖.1
Gostaria de falar hoje para vocês sobre como ser ―sempre fiéis‖. Em minha opinião,
só poderemos ser ―sempre fiéis‖ se buscarmos e alcançarmos um lugar
espiritualmente elevado na vida e permanecermos ali.
Por três vezes Amaliquias enviou uma mensagem a Leônti, pedindo que descesse
ao vale para falar com ele. Por três vezes Leônti se recusou a deixar a segurança
do lugar elevado em que estava. Mas Amaliquias era persistente. Na quarta vez,
Amaliquias aproximou-se do acampamento de Leônti e disse: ―Saia só um
pouquinho de sua fortaleza, e traga seus guardas com você. Eu subirei a montanha
para me encontrar com você‖ (ver Alma 47:12).
―Todas essas coisas te servirão de experiência e serão para o teu bem‖ ((D&C
122:7).
Talvez alguns de vocês não se casem. A esses digo: para vocês, o mais importante
é lembrar-se de permanecer em lugares elevados e nunca deixarem de ser
virtuosos, porque aprendemos que a eternidade reserva muitas bênçãos que estão
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Quando Leônti saiu da fortaleza e sucumbiu à tentação, todo o seu povo sofreu por
isso. Amaliquias os levou de volta ao cativeiro, e muitos foram mortos em batalha
depois disso. Como seguidores do Salvador convertidos, temos o encargo de
fortalecer as pessoas ao nosso redor. Subimos para um lugar elevado não só para
escapar do adversário, mas também para elevar outras pessoas e levá-las a um
lugar seguro.
Escolher Amizades com Cuidado Quando eu era menino, minha mãe me levava a
um laguinho (ela era excelente professora), onde dávamos comida para os cisnes.
Ela era excelente professora. Ela me dizia: ―Está vendo algum abutre ou ave
predadora no meio desses belos e pacíficos cisnes? Há somente cisnes porque
somente aves da mesma espécie se reúnem em bandos‖! A mensagem era bem
simples. Seus amigos refletem o tipo de pessoa que você é, e com quem você
gosta de conviver. É entre seus amigos que vocês acabarão escolhendo seu
companheiro ou companheira eterna, e são seus amigos que os ajudarão a
permanecer no caminho estreito e apertado e a se manterem sempre fiéis.
Ao mesmo tempo, precisamos perguntar a nós mesmos: ―Que tipo de amigo sou
eu‖? Sejam um bom exemplo. Sejam uma luz para o mundo. Liderem e guiem
todos a seu redor no caminho da retidão. Eles dependem de vocês para serem
elevados e fortalecidos.
Para alcançar um lugar elevado, precisamos primeiro ter o desejo de estar no reino
de Deus e acima das coisas do mundo. A fé é o principal elemento desse desejo.
As escrituras explicam que fé ―não é um conhecimento perfeito‖, mas mesmo que
―não [tenhamos] mais que o desejo de acreditar‖, podemos desenvolver fé, ―pondo
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Podemos ser como Joseph Smith, cujo serviço ao Senhor começou com a fé
simples que um menino teve em um versículo de escritura: ―E, se algum de vós tem
falta de sabedoria, peça-a a Deus‖ ((Tiago 1:5). A sincera oração de Joseph teve
como resposta a Primeira Visão e, dali por diante, ele seguiu as instruções do
Senhor. Joseph amadureceu e, assim como ele, também nos desenvolveremos
fielmente no serviço do evangelho. Passaremos a ser mais semelhantes ao
Salvador em nossas ações de cuidar, doar e testificar, se confiarmos no Espírito
Santo para guiar-nos e liderar-nos em tudo o que fizermos.
O Espírito Santo sempre nos dará orientação, coragem e força para permanecer
em lugares elevados. Por meio da influência do Espírito Santo, podemos receber
revelação em resposta a nossas orações, manter um forte testemunho do Salvador
por toda a vida, perseverar até o fim e alcançar a vida eterna.
Creio que nunca nos afastaremos muito do lugar elevado se tivermos o Espírito
sempre conosco. Todos os domingos, temos a oportunidade de renovar nossos
convênios batismais tomando o sacramento. Ao fazê-lo, prometemos ao Senhor
que estamos dispostos a tomar Seu nome sobre nós, lembrar-nos sempre Dele e
guardar Seus mandamentos (ver D&C 20:77). Se estivermos dispostos a fazer isso,
recebemos a promessa de que sempre teremos Seu Espírito conosco.
No Livro de Mórmon, o rei Benjamim explicou por que nossa disposição de tomar o
nome do Salvador sobre nós é tão importante:
―Não há qualquer outro nome por meio do qual podeis ser libertados. Não há
qualquer outro nome pelo qual seja concedida a salvação; quisera, portanto, que
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tomásseis sobre vós o nome de Cristo, todos vós que haveis feito convênio com
Deus de serdes obedientes até o fim de vossa vida.
E acontecerá que aquele que fizer isto se encontrará à mão direita de Deus, porque
saberá o nome pelo qual é chamado; porque será chamado pelo nome de Cristo‖
((Mosias 5:8–9).
Ao esforçar-nos para tomar sobre nós o nome de Cristo — para tornar-nos cristãos
— colocamos Cristo e Sua obra em primeiro lugar em nossa vida. Santificamo-nos
e procuramos tornar-nos semelhantes a Ele buscando conhecer Sua vontade e
servindo fielmente ao próximo. É seguindo dessa forma os sussurros do Espírito
Santo que ensinamos nossos semelhantes e alcançamos um lugar espiritualmente
elevado.
Obediência
A obediência aos ensinamentos de Cristo nos mantém em lugares elevados. Como
o salmista escreveu:
Mas assim como a história de Leônti e Amaliquias que está nas escrituras, o
adversário é muito astuto em suas tentações. Ele nos tenta a escolher um lapso
momentâneo de bom senso, descendo do lugar elevado. Nesse processo podemos
perder todas as bênçãos que nos estão reservadas se formos fiéis. Quero muito
que vocês compreendam que não vão querer passar a vida se lamentando por
suas decisões erradas e desobediências. Lembro-me das palavras de Whittier:
Não há nada mais triste que passar a vida atormentado por uma decisão do
passado. O que vocês precisam se lembrar ao se arrependerem, é que o quarto
elemento do arrependimento é perdoar a si mesmo. Lembrem-se de que não há
nada que tenham feito que não possa ser deixado para trás.
Estudar e Ponderar
Outro modo importante de permanecermos em lugares elevados é o estudo
diligente e cuidadoso e a oração. Podemos aprender muito com nosso Salvador.
Ao ser tentado por Lúcifer, Ele orou ao Pai Celestial pedindo forças e disse: ―Vai-te
para trás de mim, Satanás‖ ((Lucas 4:8).
O que vocês precisam entender é que vocês têm um corpo mortal, por terem
decidido vir a este mundo e passar pela mortalidade; mas nem Satanás nem seus
seguidores jamais terão um corpo. E se vocês ordenarem a ele que se retire, ele
será obrigado a se retirar. Uma vez que entendam isso, começarão a compreender
que são filhos de Deus.
O que teria acontecido se Leônti tivesse orado pedindo orientação, como fez
Jesus? Se ele tivesse feito isso, acho que não teria sucumbido aos convites de
Amaliquias para descer da segurança do alto da montanha. Tenho certeza de que
o Espírito teria advertido Leônti dos perigos que havia para ele e seu povo. Sinto-
me grato pelas escrituras, porque nelas podemos aprender com seus exemplos de
fidelidade e coragem, para que evitemos os erros dos que não foram fiéis. Sinto-me
grato por poder buscar orientação na oração e seguir os sussurros do Espírito.
Viver previdente não significa cobiçar as coisas deste mundo. Significa usar os
recursos da Terra de modo sábio, sem desperdício, mesmo nos momentos de
fartura. Viver previdente significa evitar dívidas excessivas e contentar-nos com o
suficiente para nossas necessidades.
Esses princípios são tão importantes para uma pessoa como para uma família. Se
vocês ainda não forem casados, comecem a praticá-los sozinhos, para que,
quando chegar o momento certo, já terão formado hábitos saudáveis. Essa
autodisciplina vai abençoar muito sua família no futuro.
O Templo
Viver de modo previdente também nos abençoa com tempo e paz na consciência
para concentrar-nos em outros importantes aspectos da permanência em lugares
elevados. O templo é o lugar mais elevado que podemos alcançar na mortalidade.
Para nós, atualmente, o templo é nosso topo da montanha—é a casa escolhida do
Senhor para as ordenanças, os ensinamentos sagrados, os convênios eternos e
para a comunicação pessoal com o Senhor. É onde fazemos convênios com o
Senhor, como se estivéssemos na presença Dele.
Por saber que as ordenanças e os convênios do templo são necessários para que
entremos no grau mais elevado do reino celestial, frequentemente me pergunto por
que alguém que tomou sobre si os convênios sagrados do templo e alcançou um
lugar elevado quebraria esses convênios e desceria do lugar em que se encontra.
Esse tipo de infidelidade, por sua vez, parte o coração do cônjuge e dos filhos, que
desejam ser uma família eterna.
Tenho observado, ao longo dos anos, muitos casais que mantiveram o casamento
forte e vivo, permanecendo fiéis aos seus convênios do templo. Para concluir, hoje,
gostaria de contar a vocês o que vi esses casais bem-sucedidos fazerem. Estas
coisas aparentemente ―pequenas‖ fortaleceram não somente o casal, mas toda a
família.
Terceiro, decidem obter as bênçãos eternas do reino de Deus em vez dos bens
materiais e temporários do mundo. Procuram alcançar um lugar elevado e
permanecer ali.
Quarto, esses casais sabem que, quando forem selados para esta vida e para toda
a eternidade, escolheram uma companheira ou um companheiro eterno. Não
precisam procurar mais. Não namoram mais outras pessoas.
Conclusão e Testemunho
Meus irmãos e irmãs, para concluir, espero que consigam ver a importância de
buscar um lugar elevado, permanecer ali e de levar outros a alcançar esse mesmo
lugar. Desejo e peço em oração que vocês compreendam de fato quem são e
conduzam sua vida de modo a sempre terem a companhia do Espírito. E que, com
isso, alcancem o lugar elevado que levará vocês e sua posteridade a merecerem
todas as bênçãos eternas a que têm direito.
Que o Senhor conceda as mais ricas bênçãos a vocês, que são a nova geração.
Vocês são o exército real que vai conduzir vocês mesmos, sua família, seus
amigos e aqueles que vocês servem para um lugar elevado. Presto testemunho de
que aqueles que fazem da busca de um lugar elevado e de permanecer ali o
objetivo de sua vida, serão abençoados para, um dia, estarem no lugar mais
elevado de todos: na presença de Deus, o Pai, e de Seu Filho, Jesus Cristo‖. Que
possamos todos viver de modo a sermos dignos de alcançar essas bênçãos
celestiais, por meio de nossa obediência no cumprimento dos convênios sagrados,
é minha oração, em nome de Jesus Cristo. Amém.
Notas
1. ―Deve Sião Fugir à Luta‖, Hinos, nº 183
2. John Greenleaf Whittier, ―Maud Muller‖, estrofe 53, em The Complete Poetical
Works of Whittier (1894), p. 48.
24
Irmãos e irmãs, amo vocês e sinto-me grato por estar com vocês hoje. Quero
particularmente dar boas-vindas aos que estão no último ano do seminário e que
assistem pela primeira vez a uma transmissão do SEI. Quero incentivá-los a,
enquanto prosseguem os estudos, aproveitarem ao máximo as oportunidades que
terão de aprender e crescer espiritualmente por meio da matrícula e da
participação ativa nos cursos do instituto. Também poderão assistir a futuros
serões do SEI que vão fortalecê-los e abençoá-los.
―Viemos a este mundo com o objetivo de obter um corpo e poder apresentá-lo puro
diante de Deus no reino celestial. O grande princípio de felicidade consiste em ter
um corpo. O diabo não tem corpo, e esse é seu castigo. Ele fica contente quando
consegue obter o tabernáculo de um homem e, quando foi expulso pelo Salvador,
pediu para entrar numa vara de porcos, mostrando que preferia o corpo de um
suíno a não ter corpo algum. Todos os seres com corpos possuem domínio sobre
os que não os têm‖. ―O diabo não tem poder sobre nós, exceto se o permitirmos.
No momento em que nos rebelarmos contra qualquer coisa que vem de Deus, o
diabo exercerá seu domínio.‖1
―Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós?
Satanás não tem um corpo, e seu progresso eterno foi interrompido. Assim como a
água que flui no leito de um rio é contida por uma represa, o progresso eterno do
adversário foi interrompido por ele não ter um corpo físico. Devido a sua rebelião,
Lúcifer negou a si mesmo todas as bênçãos e experiências mortais que são
possíveis graças a um tabernáculo de carne e ossos. Ele não pode aprender as
lições que só um espírito com corpo é capaz de aprender. Ele não pode se casar
nem desfrutar as bênçãos da procriação e da vida em família. Não pode vivenciar a
realidade da ressurreição literal e universal de toda a humanidade. Um dos mais
fortes significados da palavra condenado, conforme aparece nas escrituras,
evidencia-se por essa incapacidade de continuar a desenvolver-se e de tornar-se
semelhante ao Pai Celestial.
Uma vez que o corpo físico é um elemento tão importante no plano de felicidade do
Pai e em nosso desenvolvimento espiritual, não admira que Lúcifer procure frustrar
nosso progresso tentando-nos a usar nosso corpo de modo impróprio. Uma das
maiores ironias da eternidade é a de que o adversário, que é miserável justamente
por não ter um corpo físico, procure seduzir-nos e tentar-nos a partilhar de sua
miséria utilizando nosso corpo de modo impróprio. A própria ferramenta que ele
não tem e não pode usar torna-se, assim, o alvo principal de seu empenho em
levar-nos à destruição física e espiritual.
Os Ataques do Adversário
O adversário tenta influenciar-nos tanto a fazer mau uso de nosso corpo físico
como a subestimar a importância desse nosso corpo. É importante que
reconheçamos e combatamos esses dois métodos de ataque.
Quando qualquer dos filhos do Pai Celestial faz mau uso de seu tabernáculo físico
seja quebrando a lei da castidade, usando drogas ou substâncias que viciam,
desfigurando ou deformando a si mesmo ou adorando o falso ídolo da imagem do
corpo, seja o seu próprio ou de outra pessoa, Satanás se deleita. Para aqueles de
nós que conhecem e compreendem o plano de salvação, qualquer forma de
profanação do corpo é rebelião (ver Mosias 2:36–37; D&C 64:34–35) e uma
negação de nossa verdadeira identidade como filhos e filhas de Deus.
Irmãs e irmãos, não sei dizer todas as maneiras pelas quais vocês podem fazer
mau uso do corpo, ―porque há vários modos e meios, tantos que não os posso
enumerar‖ (Mosias 4:29). Vocês sabem o que é certo e o que é errado e têm a
responsabilidade de aprender por si mesmos ―pelo estudo e também pela fé‖ (D&C
88:118) quais são as coisas que devem e quais as que não devem fazer, bem
27
Por exemplo: todos podemos divertir-nos numa ampla gama de atividades sadias,
divertidas e motivadoras, mas subestimamos a importância de nosso corpo e
colocamos em risco nosso bem-estar físico ao chegar a extremos insólitos e
perigosos em busca de uma crescente descarga de adrenalina. Podemos justificar-
nos dizendo que nada há de errado nessas aventuras e experiências
aparentemente inocentes. Contudo, quando colocamos em risco o próprio
instrumento que Deus nos deu para ter experiências de aprendizado na
mortalidade, seja por mera busca de emoção ou diversão, por vaidade ou para
obter aceitação, estamos na verdade menosprezando a importância de nosso
corpo físico.
Vocês podem estar-se perguntando: ―Mas irmão Bednar, você começou seu
discurso de hoje falando sobre a importância do corpo físico para nosso progresso
eterno. Está sugerindo que os videogames e os vários tipos de comunicação
computadorizada podem fazer com que menosprezemos a importância do corpo
físico?‖ É exatamente isso que estou declarando. Deixem-me explicar:
Vivemos numa época em que a tecnologia pode ser usada para imitar a realidade,
para intensificá-la e para criar uma realidade virtual. Por exemplo: um médico pode
usar um programa de simulação para adquirir valiosa experiência na realização de
uma operação cirúrgica complicada, sem jamais colocar a vida de um paciente
humano em risco. Um piloto, num simulador de voo, pode praticar diversas vezes
os procedimentos de aterrissagem de emergência que podem salvar muitas vidas
humanas. Arquitetos e engenheiros podem usar tecnologias inovadoras para
28
Ric Hoogestraat é ―um homem corpulento [53 anos] com um longo rabo de cavalo
grisalho, costeletas grossas e um grande bigode grisalho. (…) [Ric passa] seis
horas todas as noites e, muitas vezes, até 14 horas seguidas nos fins de semana,
no papel de Dutch Hoorenbeek, sua identidade virtual, que é um personagem de
dois metros de altura e muito musculoso (…). O personagem parece ser uma
versão mais jovem e fisicamente melhorada do [Ric].
32
[Ele] se senta diante do computador com as cortinas fechadas (…). Enquanto sua
esposa, Sue, assiste à televisão na sala, o Sr. Hoogestraat conversa on-line com
uma mulher que na tela aparenta ser ruiva, alta e magra.
A mulher com quem ele é legalmente casado não achou isso nada engraçado. ‗É
realmente de partir o coração‘, diz Sue Hoogestraat (…) que é casada com o Sr.
Hoogestraat há sete meses.‖4
Irmãos e irmãs, procurem entender. Não estou sugerindo que toda tecnologia seja
intrinsecamente ruim, pois não é. Tampouco estou dizendo que não devemos usar
seus muitos recursos de modo adequado para aprender, comunicar-nos, inspirar e
alegrar a vida e para edificar e fortalecer a Igreja, pois é claro que devemos; mas
ergo a voz de advertência declarando que não devemos jogar fora nem prejudicar
um relacionamento autêntico pela obsessão por relacionamentos inventados.
―Quase 40% dos homens e 53% das mulheres que participam de jogos on-line
dizem que seus amigos virtuais são tão bons ou melhores do que os amigos da
vida real, de acordo com um estudo realizado com 30.000 usuários (…) por um
pesquisador que concluiu recentemente o doutorado na Universidade Stanford.
Mais de 25% dos usuários de jogos [que participaram da pesquisa responderam
que] o momento mais emocionante de sua semana anterior havia ocorrido num
mundo virtual computadorizado.‖5
Meus amados irmãos e irmãs, tomem cuidado! À medida que a fidelidade pessoal
diminui nas comunicações computadorizadas, e os propósitos dessas
comunicações se tornam distorcidos, pervertidos e iníquos, o potencial para uma
tragédia espiritual fica perigosamente alto. Imploro a vocês que se afastem
imediata e permanentemente desses lugares e dessas atividades (ver II Timóteo
3:5).
DVDs para distribuição para amigos e familiares, são atos desonestos de qualquer
forma. Todos teremos de prestar contas a Deus e, no final, seremos julgados por
Ele de acordo com nossos atos e desejos de nosso coração (ver Alma 41:3).
―Porque, como imaginou no seu coração, assim é ele‖ (Provérbios 23:7).
Ergui a voz de advertência sobre apenas alguns dos perigos espirituais de nosso
mundo dominado pela tecnologia e em rápida transformação. Repito que nem a
tecnologia nem a rápida transformação são por si sós boas ou más. O verdadeiro
desafio está em compreender essas duas coisas no contexto do plano eterno de
felicidade. Lúcifer vai incentivá-los a fazer mau uso de seu corpo físico e a
subestimar a importância desse corpo. Vai incentivá-los a substituir a infinita
variedade das criações de Deus pela repetitiva monotonia virtual e convencer-nos
de que somos meros mortais que recebem a ação em vez de almas eternas
abençoadas com o arbítrio moral para agir por nós mesmos. Com astúcia, ele
instiga os espíritos com corpo a privarem-se das bênçãos e experiências de
aprendizado ―segundo a carne‖ que o plano de felicidade do Pai e a Expiação de
Seu Unigênito nos proporcionam.
Essas verdades eternas sobre a importância de nosso corpo físico vão fortalecê-los
contra as falsidades e ataques do adversário. Um de meus desejos mais profundos
é que vocês tenham um testemunho sempre crescente da Ressurreição e que por
ela sejam sempre gratos, sim, sua própria ressurreição com um corpo celestial e
exaltado, ―por causa da vossa fé [no Senhor Jesus Cristo], de acordo com a
promessa‖ (Morôni 7:41).
A Nova Geração
Quero agora falar-lhes especificamente sobre quem vocês realmente são. Vocês
são realmente a nova geração de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
34
Em seguida, disse que essa declaração se baseava nesta verdade ensinada pelo
Presidente George Q. Cannon: ―Deus reservou para esta dispensação espíritos
que têm coragem e determinação para enfrentar o mundo e todos os poderes
visíveis e invisíveis do maligno a fim de proclamar o evangelho, defender a verdade
e estabelecer e edificar a Sião de nosso Deus, sem medo das consequências. Ele
enviou esses espíritos nesta geração para assentar os alicerces de Sião, de modo
que nunca mais seja derrubada e erguer uma semente que será justa e honrará
Deus de modo supremo e será obediente a Ele em todas as circunstâncias.‖7
Alegramo-nos com o fato de que o Senhor tenha elevado o padrão para os rapazes
e moças de hoje, por intermédio de Seus servos autorizados. Tendo em vista o que
sabemos sobre quem somos e sobre o motivo por que estamos aqui na Terra, essa
orientação inspirada é muito bem-vinda e valorizada. Devemos reconhecer que
Lúcifer se esforça incessantemente para ―baixar o padrão‖, incentivando-nos a
fazer mau uso do corpo físico e a subestimar a importância dele.
―Porque nesses dias surgirão também falsos Cristos e falsos profetas; e farão tão
grandes sinais e prodígios que, se possível, enganarão até os eleitos, que são os
eleitos de acordo com o convênio. (…)
―Dai ouvidos às palavras do Senhor e pedi ao Pai, em nome de Jesus, tudo aquilo
de que necessitardes. Não duvideis, mas acreditai; e começai, como antigamente,
e vinde ao Senhor com todo o vosso coração e operai a vossa própria salvação
com temor e tremor perante ele.
Sede sábios nos dias de vossa provação; despojai-vos de todas as impurezas; não
peçais para satisfazer vossas concupiscências, mas pedi com inquebrantável
firmeza que não caiais em tentação, mas que possais servir ao verdadeiro Deus
vivo‖ (Mórmon 9:27–28).
Testifico que Deus vive e que é nosso Pai Celestial. Ele é o Autor do plano de
salvação. Jesus é o Cristo, o Redentor, cujo corpo foi ferido, quebrantado e
açoitado por nós, ao oferecer o sacrifício expiatório. Ele ressuscitou. Ele vive e
dirige Sua Igreja nestes últimos dias. Estar ―eternamente envolvido pelos braços de
seu amor‖ (2 Néfi 1:15) será uma experiência real, e não virtual.
Notas
1. Citado por William Clayton, relatando um discurso proferido em data
desconhecida por Joseph Smith em Nauvoo, Illinois; L. John Nuttall, ―Extracts from
William Clayton‘s Private Book‖, pp. 7–8, Journals of L. John Nuttall, 1857–1904,
L. Tom Perry Special Collections, Universidade Brigham Young, Provo, Utah; cópia
na Biblioteca de História da Igreja; ortografia e uso de maiúsculas padronizados;
ver também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 220.
2. Boyd K. Packer, The Instrument of Your Mind and the Foundation of Your
Character (serão do Sistema Educacional da Igreja para jovens adultos, 2 de
fevereiro de 2003), p. 2.
4. Alexandra Alter, ―Is This Man Cheating on His Wife?‖ Wall Street Journal, 10 de
agosto de 2007, pp. W8, W1.
6. Citado por William Clayton; L. John Nuttall, ―Extracts from William Clayton‘s
Private Book‖, p. 8.
É um privilégio estar aqui com vocês esta noite. Quero agradecer a todos do coral
pela bela música. Muito obrigada pelo espírito que trouxeram. E obrigada pela linda
oração. Sinto-me feliz e humilde por estar aqui e oro para que esta noite cada um
de vocês saiba o quanto o Senhor os ama. Quero que saibam como é grande o
amor que tenho por vocês.
Estou contente por meu marido, Steve, e alguns membros de minha família
também estarem aqui hoje. Amo meu marido. Fizemos faculdade na Universidade
Brigham Young e foi aqui que decidimos nos casar. Acho que seria interessante
mencionar que hoje é nosso aniversário de casamento. Feliz aniversário, meu
querido! Estamos casados o mesmo número de anos que foram necessários para
construir o templo de Salt Lake! Ou que os filhos de Israel vagaram pelo deserto! E
tudo o que podemos mostrar que conseguimos nesses anos está aqui na primeira
fila. Nossos filhos são nosso tesouro. Eu os amo. Adoro ser a mãe deles. Eu os vi
crescer no evangelho e ser ensinados por oradores que falaram de vários púlpitos
da Igreja. E sou grata por terem decidido seguir o conselho dos profetas, videntes e
reveladores.
Foi aqui na BYU, num devocional como este, que tudo começou para mim. Eu
estava namorando um rapaz. Certa noite, ele começou a falar de casamento e foi
muito persistente! Não dormi bem naquela noite por causa das coisas que ele me
disse, e eu sabia que tinha de tomar uma decisão. Orei para que o Senhor me
ajudasse a saber o que fazer, mas não recebi nenhuma resposta instantânea. Na
manhã seguinte, fomos juntos a um devocional. Enquanto assistia ao devocional,
foi com assombro que ouvi o orador, o Élder A. Theodore Tuttle, levantar-se e
começar a falar sobre o processo de tomar decisões importantes. Foi como se ele
estivesse falando diretamente para mim. Ele conhecia o que se passava no meu
coração e suas palavras penetrarem-me profundamente na alma. Ele explicou o
processo da tomada de decisões, citando a seção 9 de Doutrina e Convênios.
Todos pareciam conhecer aquela seção das escrituras, exceto eu. Vocês devem
saber o que ela diz, mas para mim, naquele dia, foi pura revelação e mostrou-me
um padrão de como receber respostas a minhas orações. Ele leu:
―Eis que não compreendeste; supuseste que eu o concederia a ti, quando nada
fizeste a não ser pedir-me.
Mas eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves
perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o teu peito;
portanto sentirás que está certo.
Mas se não estiver certo, não terás tais sentimentos; terás, porém, um estupor de
pensamento que te fará esquecer o que estiver errado‖ (D&C 9:7–9).
Eu sabia que teria de agir! Não podia simplesmente continuar a fazer o que estava
fazendo. Tinha que decidir que tomaria uma decisão. Sabia disso e sabia que Deus
sabia que eu sabia. Depois de tomar a decisão provisória de seguir em frente, não
posso dizer que a resposta que recebi veio como um ―ardor no peito‖. Mas senti-me
bem e tive um sentimento positivo e agradável. Não estava mais perplexa nem
preocupada. Senti paz. Eu sabia o que fazer e estava feliz. Então, fui em frente e
aquele jovem persistente está aqui comigo hoje. Sou grata por sua bondade, sua
insistência e sua paciência.
39
Será que tudo foi fácil depois daquela resposta? Não. Meu marido diz até hoje que
é capaz de mostrar a vocês as marcas que meus saltos deixaram na calçada da
entrada do templo de Salt Lake onde eu parei, com medo, e pensei: quero esperar.
Mas aprendi o seguinte: se você exercer fé por meio da oração, o Senhor vai
ajudá-lo a tomar decisões importantes em momentos importantes. Ele vai ouvir e
responder suas orações por meio dos sussurros do Espírito Santo. Ele não vai
abandoná-los. Vocês foram abençoados com a capacidade de receber a orientação
do Espírito Santo. Em Doutrina e Convênios, seção 8, o Senhor promete a cada um
de nós: ―Falarei em tua mente e em teu coração‖ (D&C 8:2). Foi isso o que
aconteceu comigo e vai acontecer com cada um de vocês.
Presto testemunho de que o Senhor ouve e responde nossas orações e que Ele vai
guiar-nos e orientar-nos, se procurarmos fazer Sua vontade e guardar Seus
mandamentos. Esse é o processo de receber revelação pessoal. Então, oro nesta
noite para que o Espírito do Senhor acompanhe vocês ao ouvirem a mensagem
que preparei, para que seja bem clara a todos. Oro também para que essa
mensagem crie raízes em seu coração e que se torne muito pessoal para cada um
de vocês. Que o Espírito Santo grave em sua mente a importância desta simples
mensagem, para que possam incorporá-la nas decisões importantes que tomarem
nos momentos decisivos de sua vida.
Vou começar com uma breve história de uma menina pioneira chamada Agnes
Caldwell. Agnes contou a experiência que teve na Companhia de Carrinhos de Mão
Willie, em 1856. Na época, ela tinha apenas nove anos de idade. Ela relatou:
―Embora eu fosse muito jovem, ao fechar os olhos consigo ver tudo com precisão
panorâmica diante de mim, o caminhar incessante ficará para sempre em minha
lembrança. Muitas vezes eu ficava tão cansada e emburrada que me dependurava
no carrinho, então alguém me afastava gentilmente. Daí, eu me jogava no chão, à
beira da estrada, e começava a chorar. Então, ao perceber que todos estavam me
deixando para trás, eu me levantava depressa e corria para alcançá-los‖.
Essa foi a maior corrida da vida dela! Foi difícil e ela resistiu. Mas por ter corrido,
ela conseguiu gerar calor suficiente em seu corpo para mantê-la aquecida e evitar
que congelasse na viagem de carroção. Cada um de vocês está a caminho de Sião
e, tal como Agnes, o que o Senhor disse aplica-se a vocês: ―Acordem e se ergam e
prossigam e não se demorem‖ (D&C 117:2), pois Sião não é apenas um lugar—
Sião é ―o puro de coração‖ (D&C 97:21). E a pureza de coração tem de ser sua
meta para que alcancem o destino final! Nunca houve uma geração como a de
vocês. Vocês estão mais bem preparados e equipados. Têm todo o necessário, e
este é o momento da maior corrida de sua vida: sua corrida para Sião!
O que lhes é pedido é o mesmo que o Senhor pediu quando deu à Sua Igreja o
nome de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Em Doutrina e
Convênios 115 lemos: ―Erguei-vos e brilhai, para que vossa luz seja um estandarte
para as nações‖ (v. 5). A pequena Agnes Caldwell correu para Sião, e por isso, ela
e todos que agiram como ela ergueram um estandarte para as nações e para esta
geração. Sua jornada para Sião tinha tudo a ver com sua fé e testemunho. Tinha
tudo a ver com Joseph Smith, Morôni, Oliver Cowdery, Néfi, Moisés, Josué e até
Thomas S. Monson. E tinha tudo a ver com vocês e comigo. Agnes correu para
Sião porque tinha um testemunho. Sua mãe sabia que o evangelho era verdadeiro
e ensinou isso a sua filha. Eles sacrificaram tudo o que tinham para ir para Sião e
ali construir um templo a nosso Deus. Sabiam que Joseph Smith era um profeta de
Deus e que o Livro de Mórmon era verdadeiro. Sabiam que as bênçãos que seriam
concedidas nos templos sagrados eram necessárias para que o plano fosse
cumprido. E sabiam, como Morôni ensinou várias vezes a Joseph Smith, que ―se
assim não fosse, toda a terra seria totalmente destruída na sua vinda‖. (Joseph
Smith — História 1:39).
41
Quando a mulher, nas ruas de Jerusalém, estendeu a mão e tocou a orla do manto
do Salvador, ela sabia que seria curada. Por quê? Porque reconheceu Sua pureza
e poder. O próprio Salvador declarou: ―Bem conheci que de mim saiu virtude‖
(Lucas 8:46; grifo do autor; ver também Marcos 5:30; Lucas 6:19). O tipo de virtude
a que Ele se referia era o poder, o poder do sacerdócio, que sempre acompanha os
homens SUD que são puros e praticam ―a virtude e a santidade diante [do Senhor]‖
(D&C 38:24).
No ano passado, num dia frio de abril, depois da conferência geral, subi até o topo
do Pico Ensign com minhas duas novas conselheiras, Mary Cook e Ann Dibb. Ali,
desfraldamos um xale peruano dourado, uma bandeira que conclamava um retorno
à virtude. Ali no topo do pico, olhando para o vale e vendo a magnificência do
templo de Salt Lake, soubemos que um retorno à virtude significava um retorno à
pureza moral. A virtude é a chave de ouro que abre as portas do templo. Como
ensinou o Élder Russell M. Nelson, o templo é o verdadeiro motivo de tudo o que
fazemos na Igreja: ―Cada atividade, cada lição, tudo o que fazemos na Igreja
aponta para o Senhor e Seu santo templo‖.7 Brigham Young sabia disso e ali, no
topo do pico Ensign, nós também o soubemos.
tornar-nos salvadores no monte Sião — de fazer pelos outros algo que eles não
podem fazer por si mesmos. Isso só pode acontecer se formos dignos de fazer e
cumprir convênios sagrados e de receber as ordenanças do templo.
Para cumprir as tarefas a que vocês foram preordenados, sua fé precisa estar
firmemente centrada em nosso Salvador Jesus Cristo. E vocês precisam lembrar-
se que fé não é apenas um princípio de poder, mas de ação. Precisam agir para
exercer a fé que já possuem. Na esfera pré-mortal, vocês mostraram ―grande fé e
(…) boas obras‖ (Alma 13:3). Alma disse que todos vocês foram ―chamados e
preparados desde a fundação do mundo, segundo a presciência de Deus‖ (Alma
13:3). Rapazes, vocês foram preparados para receber o sacerdócio, que deve
capacitá-los a exercer o poder de Deus enquanto estiverem aqui na Terra. Moças,
vocês receberam o nobre dom e responsabilidade de nutrir outras pessoas e de
tornarem-se mães de espíritos preciosos. Foi-lhes confiado o próprio poder da
divindade — o de criar vidas. As pessoas virtuosas estão comprometidas com a
santidade da vida. Elas respeitam o conselho de Deus sobre como a vida deve ser
concebida, protegida e nutrida. Não há força maior do que a da virtude nem
confiança maior do que aquela proporcionada por uma vida virtuosa.
Vocês sabiam que ele era correto e sabiam que o Salvador faria o que disse que
iria fazer, porque vocês O conheciam! Não havia espíritos neutros na guerra no céu
e não pode haver posições neutras agora, quando devemos escolher entre o bem e
o mal. O próprio Senhor disse: ―Quem não é comigo é contra mim‖ (Mateus 12:30).
Vocês estavam do lado Dele! Estavam ávidos para receber seu encargo. Sabiam o
que seria exigido de vocês. Sabiam quão difícil seria, mas tinham confiança de que
poderiam não apenas cumprir sua missão divina, mas fazer algo de importância
vital. Como um profeta disse a respeito de vocês e da época em que vivem:
―Por quase seis mil anos Deus os reservou para surgirem nos dias finais, antes da
Segunda Vinda do Senhor. (…) Deus reservou para a batalha final alguns de seus
filhos mais fortes, que vão ajudar a conduzir o Reino triunfantemente. É aí que
vocês entram em cena, porque vocês são a geração que precisa preparar-se para
encontrar Deus.
Exigimos uma reforma social, mas talvez o que seja necessário seria uma reforma
moral — uma conclamação para um retorno à virtude. E se nós, que recebemos
tanto, inclusive o evangelho restaurado de Jesus Cristo, não liderarmos o mundo
nesse retorno à virtude, quem o fará? Vocês foram líderes no mundo pré-mortal e
defenderam tudo o que hoje está sendo ameaçado na sociedade. Vocês, que estão
44
No Livro de Mórmon, Helamã e seus jovens guerreiros ficaram conhecidos por sua
virtude e sua capacidade de confiar no testemunho de suas mães. Eles foram ―fiéis
em todas as ocasiões e em todas as coisas que lhes eram confiadas‖ (Alma 53:20).
Eles guardavam seus convênios e lutaram para garantir que seus pais também
pudessem fazer o mesmo. A vitória era seu objetivo, e a virtude era sua força.
Pelo que será conhecida a sua geração? Será conhecida como uma geração
tolerante, uma geração consumista, uma geração X ou Y? Vocês serão conhecidos
como a geração que foi seduzida a viver uma vida virtual em vez de virtuosa? Ou
será que vocês serão ou poderiam ser conhecidos por sua pureza e virtude, e por
sua coragem e força em liderar o restante do mundo para um retorno à virtude, um
retorno tão assombroso que a própria pureza de sua vida e força de sua convicção
alterarão o curso da sociedade e mudarão o mundo?
Vocês estão se preparando para a volta do Salvador. Vocês precisam ter aversão
ao pecado. Precisam posicionar-se e preparar-se agora para terem ―mais
pureza‖.12 Foi profetizado que, um dia, os povos de todas as nações dirão: ―Vinde,
subamos ao monte do Senhor, (…) e ele nos ensinará os seus caminhos e
andaremos em suas veredas; porque de Sião sairá a lei (…)‖ (2 Néfi 12:3). Vocês
serão a geração que vai liderar essa subida?
por meio da pureza de pensamentos e ações. Não permitam que ninguém moleste
as dádivas que receberam de Deus. Ao fazerem isso, sua família e as gerações
que se seguirão vão ser fortalecidas e abençoadas.
Há vários anos, eu estava correndo bem cedo pela manhã, na véspera do dia de
Ação de Graças, com um grupo de mulheres. Demos àquela corrida o nome de
nossa corrida de Ação de Graças, e enquanto corríamos, gritávamos coisas pelas
quais nos sentíamos gratas. Eu tinha acabado de dizer que era grata por um corpo
forte e saudável, quando escorreguei numa poça de gelo e caí na estrada. Quando
tentei me erguer, percebi que tinha me machucado muito. Vi que havia quebrado a
perna logo acima do tornozelo, e não vou dizer como percebi isso, senão vou
desmaiar bem aqui na frente de vocês. Meu marido disse que se eu fosse jogadora
de futebol americano profissional, estaria nas manchetes naquela noite.
das coisas que podemos fazer agora para permanecermos virtuosos em um mundo
tóxico?
Primeiro, arrepender-nos. Estou bem ciente de que há alguns que me ouvem hoje
que cometeram erros ou não se sentem virtuosos. É por isso que um retorno à
virtude é tão importante. Vocês precisam saber que podem retornar. Vocês podem
mudar.
Alguns de vocês foram vítimas de pecados cometidos por outros. Como Morôni
disse, vocês foram ―[despojados] daquilo que é mais caro e precioso do que tudo
(…) a castidade e a virtude‖ (Morôni 9:9). Por favor, saibam que graças à Expiação
do Salvador, a cura é possível. A culpa não foi sua, porque vocês não pecaram, e o
arrependimento não é exigido. O Salvador sofreu não apenas por nossos pecados
e imperfeições, mas também tomou sobre Si nossos sofrimentos (ver Alma 7:11).
Por meio de Sua infinita Expiação, Ele vai curá-los e dar-lhes paz. Corram para Ele.
Por causa da Expiação do Salvador, Deus vai ouvir suas orações. Ele as
responderá por meio do Espírito Santo e por meio de pessoas que colocará em seu
caminho.
―não [teremos] mais disposição para praticar o mal, mas, sim, de fazer o bem
continuamente‖ (Mosias 5:2).
Por último, sorriam! E quando sorrirem, lembrem-se de quem são. Vocês são filhos
e filhas de nosso Pai Celestial. Ele conhece vocês. Sabe o seu nome. Ele confia
em vocês e os ama. Por isso, sorriam! Esse é somente o treinamento básico, mas
precisa ser rigorosamente cumprido todos os dias.
Prossigam—Não Desanimem!
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Quero acrescentar só mais uma sugestão à lista: ”Prossigam (…) tendo um perfeito
esplendor de esperança” (2 Néfi 31:20). Não desanimem! Sua jornada às vezes
será desafiadora e nem sempre será fácil.
Ao estudar as escrituras, fica cada vez mais claro para mim que o Senhor tira Seu
povo escolhido da zona de conforto muitas e muitas vezes e o ensina as coisas
que realmente importam. Por exemplo, na primeira parte da jornada dos jareditas,
eles pararam em uma praia e lá ficaram por quatro anos. Estavam realmente numa
zona de conforto! Na verdade, ficaram tão confortáveis que se esqueceram de
invocar o Senhor. Mas o Senhor tinha outra coisa em mente. Ele repreendeu o
irmão de Jarede por três horas. Até lhe antecipou que a próxima parte da jornada
seria difícil, que ele seria submerso nas profundezas do mar e carregado pelos
ventos. Mas também lhe deu alento com estas belas palavras: ―[Eu] vos preparo
contra essas coisas‖ (Éter 2:25). O Senhor irá prepará-los e preparar-lhes um
caminho!
Sim, ai do que dá ouvidos aos preceitos dos homens e nega o poder de Deus e o
dom do Espírito Santo!‖ (2 Néfi 28:24–26).
Não sejam apenas espectadores ou críticos. Vocês não fizeram isso na esfera pré-
mortal. Não foram neutros naquela ocasião. Permaneceram firmes. Não permitam
que as mesmas vozes que clamam por tolerância não tolerem vocês ou sua
opinião. Esta é a arena na qual tudo o que vocês defenderam e escolheram
naquela época está acontecendo agora. Não se cansem, nem se distraiam e nem
se desqualifiquem! Estejam dispostos a sair da zona de conforto e ―prosseguir com
firmeza (…) tendo um perfeito esplendor de esperança‖ (2 Néfi 31:20).
Em outra época e em outro lugar, outro estandarte foi desfraldado. Isso foi feito por
um homem corajoso, Morôni, que estava comprometido com a causa da retidão. A
sociedade em que ele vivia estava tumultuada. Conforme descreve o Livro de
Mórmon, o desejo de poder, riqueza e posição social havia feito com que alguns
dos mais fortes e determinados ―[fossem envenenados], aos poucos‖(Alma 47:18).
Em outras palavras, aqueles que inicialmente eram fortes e determinados, foram
sucumbindo aos poucos. Alexander Pope expressou da seguinte forma o que
significa ser ―envenenado aos poucos‖:
Vocês são o estandarte! Sua vida de pureza e virtude é o estandarte que fará com
que as nações da Terra ergam os olhos e venham ao templo. Se permanecerem
virtuosos, serão guiados pelo Espírito Santo, e sua virtude pessoal vai qualificá-los
a frequentar o templo. Se não tiverem uma recomendação, agora é o momento de
tornarem-se dignos de recebê-la. Esse é o seu trabalho. O templo será uma força e
uma proteção para vocês num mundo cada vez mais tenebroso e se tornará um
estandarte não apenas para vocês, mas para as nações. Um retorno à virtude é um
retorno ao templo, e um retorno ao templo é um retorno ao Salvador.
A jornada até Sião — o puro de coração — vai exigir tudo o que temos. Oro para
que cada um de nós tenha o desejo e a força para sair de nossa zona de conforto,
ao preparar-nos para a maior corrida de nossa vida e, como Agnes Caldwell,
estenda o braço e pegue na mão do Mestre. Sua promessa é para todos nós: ―Irei
adiante de vós. Estarei a vossa direita e a vossa esquerda e meu Espírito estará
em vosso coração e meus anjos ao vosso redor para vos suster‖ (D&C
84:88).Testifico que o Pai Celestial e Seu Filho Jesus Cristo vivem e que vão nos
preparar para o grande trabalho que deve ser feito nos templos santos de nosso
Deus em preparação para a Segunda Vinda do Salvador. Digo isso em nome de
Jesus Cristo. Amém.
Notas
1. ―Tema das Moças‖, Progresso Pessoal das Moças (livreto, 2001), p. 5.
9. Ezra Taft Benson, ―In His Steps‖, em 1979 Devotional Speeches of the Year
(1980), p. 59.
51
10. Ver M. Russell Ballard, Conference Reports, outubro de 1990, pp. 45–49; ou A
Liahona novembro de 1990, pp. 35–38.
13. Boyd K. Packer, ―Faith in the Lord Jesus Christ and His Atonement‖ (discurso
proferido em um seminário para novos presidentes de missão, 27 de junho de
2009), p. 5.
18. Alexander Pope, An Essay on Man (1732), epístola 2, linhas 217–20, The
Complete Poetical Works of Pope, ed. Henry W. Boynton (1931), p. 144.
52
O Reflexo na Água
Presidente Dieter F. Uchtdorf
O Patinho Feio
Um dos mais apreciados contadores de histórias de todos os tempos foi o escritor
dinamarquês Hans Christian Andersen. Em uma de suas histórias, ―O Patinho
Feio‖, uma mãe pata descobre que um de seus filhinhos recém-nascidos é muito
grande e feio. A princípio, a mãe imagina que talvez tenha chocado um ovo de
peru, mas o filho feio sabe nadar tão bem quanto os outros. Ela, então, conclui que
o pobre coitado é simplesmente anormal e desfigurado.
Apesar das privações, ele se sentia mais forte e adorava abrir as asas e voar,
embora estivesse sozinho.
Então, certo dia, viu voando acima dele um bando de aves majestosas, brancas
como a neve, de movimentos graciosos, que tinham um pescoço longo e belo e
asas grandes e elegantes. Que criaturas magníficas! E como eram felizes! O
patinho feio ficou muito desejoso de voar com elas. Teve medo de que o matassem
por ser tão feio. Mas decidiu que aquilo seria melhor do que ser sempre humilhado
pelos outros animais ou do que morrer de frio no inverno. Então, alçou voo e seguiu
o bando até um belo lago, onde todos desceram até a água.
Ao pousar no lago, o patinho feio olhou para a água e viu o reflexo de um cisne
magnífico. Aos poucos, sem acreditar a princípio, o patinho feio se deu conta de
que aquele era o seu próprio reflexo! Para sua surpresa, os outros cisnes o
receberam muito bem e até reconheceram que ele era o mais belo e majestoso de
todos os cisnes. Finalmente ele descobrira quem ele realmente era.
As Grandes Perguntas
Como aquele jovem cisne, a maioria de nós já sentiu em alguma época da vida que
não se encaixava num grupo. Grande parte da confusão que sentimos nesta vida
decorre do fato de simplesmente não compreendermos quem somos. Um número
muito grande de pessoas segue pela vida achando que tem pouco valor, quando
na verdade são criaturas magníficas e eternas, dotadas de valor infinito e um
potencial que vai além do que podem imaginar.
A descoberta de quem realmente somos faz parte desta grande aventura chamada
vida. As maiores mentes da humanidade têm-se debatido incessantemente com
estas perguntas: De onde viemos? Por que estamos aqui? O que acontece depois
da morte?E como tudo isso se encaixa? Que sentido tem todas essas coisas?
Como membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, porém,
fomos abençoados com respostas a essas perguntas, e as transmitimos livremente
a todos os que queiram ouvir. Conhecemos essas respostas não devido a
suposições inteligentes ou porque encontramos uma explicação científica. Temos
as respostas porque mensageiros celestes revelaram esses mistérios ao homem.
Esse mesmo conhecimento está ao alcance de todos neste planeta, pelo poder do
Santo Espírito, desde que sejam sinceros de coração.
54
MMeus caros jovens amigos, esse conhecimento permite que vocês vejam seu
próprio reflexo na água. Dá-lhes a certeza de que vocês não são comuns, não
foram rejeitados e não são feios. Vocês são divinos e mais belos e gloriosos do que
podem imaginar. Esse conhecimento muda tudo. Muda seu presente. E pode
mudar seu futuro. Pode mudar o mundo.
Estamos profundamente cientes, meus caros jovens amigos da Igreja, que vocês
enfrentam muitos desafios na vida onde quer que estejam. Por meio de seus
líderes e por contato direto com vocês individualmente, sei quão grandes são suas
preocupações. Escolhi dentre as muitas perguntas que me foram encaminhadas
apenas algumas que creio serem as mais difíceis e preocupantes que afetam
vocês, jovens santos do mundo inteiro. Espero poder incutir-lhes hoje, na mente e
no coração, que o conhecimento de quem vocês realmente são pode ajudá-los a
sobrepujar as questões mais difíceis da vida.
Quero deixar isto bem claro: a depressão grave e as ideias suicidas não são
assuntos triviais e devem ser levados a sério. Peço a todos que sofrem de
depressão ou que têm ideias suicidas que procurem ajuda de profissionais de
confiança e dos líderes da Igreja. Se vocês conhecem alguém que pensa em
suicídio, sejam amigos verdadeiros dessa pessoa e cuidem para que ela receba
ajuda. Por favor, saibam que amamos vocês e queremos que tenham sucesso e
sejam felizes na vida.
Tendo esclarecido esse ponto, quero dizer que a maioria das pessoas se sente
triste ou incapaz de vez em quando. É natural que tenhamos momentos de
infelicidade ou dúvida. A pergunta ―por que devo continuar vivendo?‖ é
simplesmente outra forma de expressar a antiga dúvida escrita por William
Shakespeare, há 400 anos e proferida por milhões de Hamlets no mundo inteiro
desde aquela época: ―Ser ou não ser: eis a questão‖.1
Mas Shakespeare estava errado: ―Ser ou não ser‖ não é a questão de forma
alguma. Há outras opções além dessa simples contradição. A meu ver, Hamlet
deveria dirigir-se ao público e dizer: ―Sabendo que sou filho de Deus, o que preciso
fazere como devo ser para viver à altura desse potencial? Eis a questão‖. Sei que
essa alteração no texto arruinaria por completo uma das maiores obras-primas da
literatura de todos os tempos. Mesmo assim, se eu tivesse escrito um roteiro para
vocês, é isso que eu colocaria nele.
Pensem de onde vocês vieram. Vocês são filhos e filhas do maior e mais glorioso
ser de todo o universo. Ele ama vocês com um amor infinito. Ele quer o melhor
55
para vocês. Acham que o Pai Celestial quer que vocês se sintam deprimidos e
infelizes? Ele não quer isso, de modo algum. Ele nos deu os mandamentos, que é
a estrada real para uma vida cheia de propósito, paz e alegria. Tudo o que
precisamos fazer é seguir por ela. Conhecer e viver os mandamentos de Deus
realmente nos enchem de alegria e satisfação.
Faz bem rir! Faz bem ser feliz! Ergam a voz e ―[louvem] ao Senhor com cânticos,
com música, com dança, e com orações de louvor e ação de graças‖ (Doutrina e
Convênios 136:28).
Não consigo imaginar um céu só de pessoas sérias, que nunca dizem o que
pensam ou que não gostam de música nem de conversar uns com os outros. Para
mim, isso não seria o céu. Tenho certeza de que vocês não foram criados para
passar as horas e os dias de sua vida isolados uns dos outros, preocupados ou
desesperados. Vocês foram criados para ter alegria (ver 2 Néfi 2:25), por isso
vamos comemorar as misericordiosas bênçãos de um Pai Celestial alegre e
amoroso!
Vocês não precisam esperar por uma permissão para encher a alma de gratidão e
felicidade. Podem muito bem fazer isso por conta própria. Reúnam os jovens de
suas alas ou ramos assim como de outras estacas e distritos próximos. Dancem
juntos, estudem o evangelho juntos, trabalhem juntos, sirvam ao próximo juntos, e
divirtam-se com essas coisas. É minha sincera oração que o conhecimento de
quem vocês são e do que podem se tornar encha seu coração com o sereno amor
de Deus e que isso acenda em vocês uma felicidade digna de seu verdadeiro
legado, porque verdadeiramente vocês são príncipes e princesas, reis e rainhas.
Há uma velha história sobre uma moça que estava numa expedição arqueológica e
encontrou uma lâmpada de aparência muito antiga. Quando ela esfregou a
lâmpada, um gênio apareceu e ofereceu-lhe um desejo. Ela pensou um pouco e
pediu paz no mundo — que as pessoas se amassem e vivessem em harmonia
para sempre.
O gênio pensou no pedido dela e, por fim, disse: ―O que você está pedindo é
impossível. A divisão entre os povos do mundo existe há muito tempo e é por
demais profunda. Por favor, peça outra coisa. Qualquer coisa menos isso‖.
Ela pensou de novo e disse: ―Em algum lugar do mundo há uma pessoa que é a
ideal para mim. Quero encontrar esse homem, que é bonito, atencioso e tem senso
de humor. Um homem que vai me ajudar com as tarefas domésticas, que adora
crianças, que não fica assistindo a programas esportivos o tempo todo, que tem um
ótimo emprego e que pensa na minha felicidade em primeiro lugar. Um homem que
irá fazer compras comigo e que se dará bem com minha família‖.
Sei que isso pode ser uma decepção para alguns de vocês, mas não acredito que
haja somente uma pessoa ideal para vocês. Acho que me apaixonei por minha
esposa, Harriet, desde a primeira vez que a vi. Mesmo assim, se ela tivesse
decidido se casar com outro, acredito que eu teria conhecido outra pessoa e me
apaixonado por ela. Sinto-me eternamente grato por isso não ter acontecido, mas
não creio que ela fosse minha única chance de felicidade nesta vida, nem eu
tampouco para ela.
Outro erro que vocês podem cometer facilmente ao sair com alguém é esperar que
a pessoa seja perfeita. A verdade é que as únicas pessoas perfeitas que vocês vão
encontrar são aquelas que vocês não conhecem muito bem. Todo mundo tem
imperfeições. Não estou sugerindo que baixem seus padrões e casem-se com
alguém com quem não poderão ser felizes. Mas uma das coisas que aprendi à
medida que fui amadurecendo na vida é que, se uma pessoa está disposta a me
aceitar, imperfeito como sou, então, eu também devo estar disposto a ser paciente
com as imperfeições dos outros. Como você não vai encontrar perfeição na outra
pessoa, e ela também não vai encontrar perfeição em você, sua única chance de
perfeição está em tornarem-se perfeitos juntos.
Há pessoas que não se casam porque sentem que falta uma certa ―magia‖ no
relacionamento. Suponho que ao dizerem ―magia‖, refiram-se à centelha da
atração. Apaixonar-se é um sentimento maravilhoso, e eu jamais os aconselharia a
casar com alguém que não amem. No entanto — e isso é outra coisa que às vezes
é difícil de aceitar — essa centelha de magia precisa ser constantemente cultivada.
Quando a magia perdura num relacionamento é porque o casal fez com que isso
acontecesse, e não porque ela surgiu misticamente por meio de alguma força
cósmica.
Falando com franqueza, chega a dar trabalho. Para que qualquer relacionamento
sobreviva, os dois lados precisam trazer consigo sua própria magia e usá-la para
manter o amor. Embora eu já tenha dito que não acredito em uma alma gêmea
única e exclusiva, sei o seguinte: depois que você se compromete a casar, seu
cônjuge se torna sua alma gêmea, e é seu dever e responsabilidade esforçar-se
57
todos os dias para manter as coisas assim. Depois que assumimos o compromisso,
a busca por uma alma gêmea chega ao fim. Nossos pensamentos e ações deixam
de ser de procurar e passam a ser de criar.
Mas isso não me impediu de agir, de modo algum. Encontrei maneiras de estar no
mesmo lugar em que ela estava. Quando eu distribuía o sacramento na Igreja, eu
dava um jeito de levá-lo para a família dela. Fazia tudo o que podia para
impressioná-la, mas acho que ela me considerava um pouquinho imaturo. A
centelha simplesmente não existia para ela. Cheguei a perder a esperança de
convencê-la de que poderíamos ser algo mais do que amigos.
Então, fui embora, alistei-me na força aérea e viajei para o outro lado do mundo
para fazer um curso de piloto nos Estados Unidos. Foi só quando voltei para a
Alemanha, depois de terminar meu treinamento como piloto de caça — vários anos
depois de tê-la conhecido — que aquela bela jovem olhou para mim e disse as
palavras mágicas que eu tanto ansiara por ouvir: ―Você amadureceu desde a última
vez que o vi‖.
Agi rapidamente depois disso, e em poucos meses casei-me com a mulher que eu
já amava havia tanto, tanto tempo.
Portanto, não desistam, irmãos e irmãs. Só por terem sido rejeitados uma ou duas
vezes, ou três ou quatro, ou algumas centenas de vezes, não percam a esperança.
Irmãos, o segredo para encontrar a garota de seus sonhos é procurar conhecer
muitas moças e, quando se apaixonarem e sentirem que é a coisa certa, pedi-la em
casamento. Se ela disser que não, continue a procurar e a orar até finalmente levar
a jovem certa para o altar do templo. Simplesmente não desistam.
Irmãs, sejam gentis. Vocês podem muito bem recusar convites para sair ou
propostas de casamento. Mas, por favor, façam-no de modo gentil. E irmãos, por
favor, comecem a convidar! Há muitas de nossas jovens que nunca saem com
rapazes. Não suponham que certas garotas jamais sairiam com vocês. Às vezes,
elas estão se perguntando por que ninguém as convida para sair. Simplesmente
convidem e estejam preparados para seguir adiante, caso a resposta for não.
Uma das tendências que vemos em algumas partes do mundo é a dos nossos
jovens se reunirem apenas em grandes grupos em vez de saírem com alguém,
como casal. Embora não haja nada de errado em reunir-se frequentemente com
outros jovens da mesma idade, não sei se vocês podem realmente conhecer uma
pessoa se estiverem sempre em grupo. Uma das coisas que vocês precisam
aprender é a conversar com alguém do sexo oposto. Uma ótima maneira de
aprender isso é estar a sós com alguém, para conversar, sem ter a ―proteção‖ do
grupo.
Na maioria das vezes, ao saírem com alguém, não é necessário gastar muito ou
planejar demais. Quando minha mulher e eu nos mudamos da Alemanha para Salt
Lake City, uma das coisas que mais nos surpreendeu foi o processo elaborado e às
58
vezes desgastante que os jovens desenvolveram para convidar alguém para sair
ou para aceitar esses convites.
Relaxem. Encontrem maneiras simples de estarem juntos. Uma das coisas que eu
mais gostava de fazer quando era jovem e queria sair com uma moça era
acompanhá-la até sua casa depois da Igreja. Lembrem-se, seu objetivo não deve
ser o de colocar o vídeo de seu encontro no YouTube para que tenha milhões de
acessos. Seu objetivo é conhecer uma pessoa e aprender a desenvolver um
relacionamento significativo com pessoas do sexo oposto.
Há entre vocês, bons jovens da Igreja, alguns que talvez nunca se casem. Embora
sejam dignos em todos os aspectos, pode ser que nunca encontrem alguém com
quem se selarão no templo do Senhor nesta vida. Sós os que já sentiram essa
desesperança conseguem realmente compreender a solidão e a dor dessas
pessoas. Conheço muitas mulheres cujo maior desejo é o de ser esposa e mãe,
mas não compreendem por que suas orações nunca foram atendidas. Há muitos
homens solteiros que, por algum motivo, também se encontram sozinhos.
Em primeiro lugar, quero dizer-lhes que suas orações foram ouvidas. Seu Pai
Celestial conhece o desejo de seu coração. Não sei por que as orações de uma
pessoa são respondidas de uma forma, ao passo que as de outra são respondidas
de modo diferente. Mas posso dizer-lhes o seguinte: os desejos justos de seu
coração serão realizados.
Às vezes, pode ser difícil ver algo além do que está bem à nossa frente. Somos
impacientes e não queremos esperar o cumprimento futuro de nossos maiores
desejos. No entanto, o curto período desta vida não é nada comparado com a
eternidade. Se simplesmente tivermos esperança, exercermos fé e perseverarmos
com alegria até o fim — e eu disse com alegria até o fim — lá, no grande futuro
celeste, veremos o cumprimento dos desejos justos de nosso coração e muitas
coisas mais que hoje mal conseguimos compreender.
Enquanto isso, não fiquem esperando alguém para tornar sua vida completa.
Parem de ter dúvidas em relação a si mesmos e de achar que vocês têm algum
defeito. Em vez disso, procurem atingir seu potencial como filhos de Deus.
Procurem estudar. Empenhem-se numa carreira profissional significativa e
busquem realização própria servindo aos outros. Usem seu tempo, talentos e
recursos para melhorar a si mesmos e abençoar as pessoas a seu redor. Tudo isso
faz parte de sua preparação para terem sua própria família. Envolvam-se
ativamente em sua ala ou ramo e procurem magnificar seus chamados, sejam eles
quais forem.
Nunca consegui olhar para aquelas nuvens sem ficar fascinado com sua beleza e
grandiosidade. Elas se erguiam em imensas formações escuras e dentro delas
viam-se relâmpagos brilhantes faiscando de um lado para o outro, com indescritível
fúria flamejante. Que visão gloriosa e fascinante!
Mas o que vocês acham que os pilotos fazem quando se aproximam dessas
tempestades? Eles fogem delas, por mais belas e fascinantes que pareçam. À
medida que a umidade se eleva nessas nuvens, começa a congelar, formando
granizos do tamanho de bolas de futebol que podem perfurar metal e destruir um
avião. A turbulência e as fortes descargas elétricas podem fazer o avião ou seus
sistemas entrarem em pane.
O mesmo princípio não se aplica também quando vocês veem coisas capazes de
causar dano espiritual? A tentação não seria tentação se não parecesse atraente,
fascinante ou divertida. No entanto, tal como o piloto que se aproxima de uma
tempestade, vocês precisam aprender a fugir dela, por mais bela ou fascinante que
pareça.
Por amar Seus filhos, o Pai Celestial nos deu mandamentos para manter-nos a
uma distância segura dessas tempestades perigosas. Ele não obriga nenhum de
Seus filhos a seguir Seu caminho. Ele permite e espera que vocês escolham por si
mesmos, mas saibam disto: algumas escolhas conduzem ao desastre. Portanto,
escolham o que é certo.
É Verdade?
Agora, a próxima questão: Como encontrar respostas para as dúvidas e
perguntas? Como vocês podem saber que o evangelho é verdadeiro? Há algum
problema em termos dúvidas a respeito da Igreja ou de sua doutrina? Meus
queridos jovens amigos, somos um povo questionador porque sabemos que as
dúvidas nos conduzem à verdade. Foi assim que a Igreja começou: com um rapaz
que tinha dúvidas. Na verdade, não sei como podemos descobrir a verdade sem
fazer perguntas. Nas escrituras, raramente encontramos uma revelação que não foi
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dada em resposta a uma pergunta. Sempre que uma pergunta surgia, e Joseph
Smith não tinha certeza de qual era a resposta, ele procurava o Senhor, e o
resultado foram as maravilhosas revelações de Doutrina e Convênios. Muitas
vezes o conhecimento que Joseph recebia ia muito além da pergunta original. Isso
acontece porque o Senhor pode responder não apenas às perguntas que fazemos,
mas o mais importante é que Ele pode responder às perguntas que deveríamos ter
feito. Vamos dar ouvidos a essas respostas!
Deus ordena que procuremos resposta para nossas dúvidas (ver Tiago 1:5-6) e
pede apenas que busquemos ―com um coração sincero e com real intenção, tendo
fé em Cristo‖(Morôni 10:4).Se fizermos isso, a verdade de todas as coisas pode ser
manifestada a nós ―pelo poder do Espírito Santo‖ (Morôni 10:5).
Não tenham medo; façam perguntas. Sejam curiosos, mas não duvidem!
Apeguem-se sempre à fé e à luz que já receberam. Como vemos de maneira
imperfeita na mortalidade, nem todas as coisas farão sentido agora. Na verdade,
acho que se tudo fizesse sentido para nós, isso seria uma prova de que tudo fora
inventado por uma mente mortal. Lembrem-se de que Deus disse:
Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus
caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais
altos do que os vossos pensamentos‖(Isaías 55:8-9).
Mas vocês sabem que não é verdade. Graças à palavra revelada de um Deus
misericordioso, vocês já viram seu verdadeiro reflexo na água e sentiram a glória
eterna do espírito divino que há dentro de vocês. Vocês não são seres comuns,
meus amados amigos de todo o mundo. Vocês são gloriosos e eternos.
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Não importam quais sejam suas provações e circunstâncias na vida, peço que se
lembrem de quem são, de onde vieram e para onde estão indo: porque a resposta
a essas perguntas vai lhes dar verdadeira confiança e orientação na vida.
O Pai Celestial vive. Ele conhece vocês. Ele fala com vocês nestes últimos dias por
intermédio de profetas e apóstolos. O Presidente Thomas S. Monson é o profeta do
Senhor na Terra em nossos dias. Esta Igreja é dirigida pelo Salvador, Jesus Cristo.
Sei disso. Ele é o cabeça desta Igreja.
Falo a vocês hoje com imperfeições e com sotaque alemão, mas prometo-lhes que
as palavras que sentem no coração, na mente e na alma chegam até vocês por
meio da eloquência, da pureza e do poder do Espírito Santo. E pelo poder do
Espírito Santo vocês podem saber a verdade de todas as coisas.
É minha oração e bênção que ao olharem para seu reflexo consigam ver além das
imperfeições e incertezas e reconheçam quem realmente são: gloriosos filhos e
filhas do Deus Todo-Poderoso. No sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.
Notas
1. William Shakespeare, Hamlet, ed. W. J. Craig, Oxford Shakespeare (1924),
ato 3, cena 1, linha 56.