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Derivação Gástrica em Y de Roux
Derivação Gástrica em Y de Roux
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Cirurgião Geral e Bariátrico – Piracicaba (SP), Brasil.
Autor correspondente: Irineu Rasera Junior - Av. Com. Luciano Guidotti 133 apto 22 - Higienópolis - CEP 13424-540 - Piracicaba (SP), Brasil - Tel.: 19 3426-6375 - e-mail: bariatrica@bariatrica.com.br
Tabela 1 - Perda percentual do excesso de peso dos reprodutíveis, mostrando bom equilíbrio na rela-
ção riscos/benefícios, tornam-a atrativa aos cirurgiões
e pacientes. A perda ponderal é satisfatória, bem como
a estabilidade a longo prazo, sendo suficientes com
folga para o controle das comorbidades(19). Indicações
para adolescentes e portadores de síndromes com re-
tardo mental vem sendo relatadas com freqüência cres-
cente. Os índices de perdas ponderais consideradas in-
suficientes pelos cirurgiões e pelos próprios pacientes
está em torno de 3%(16-17), quase sempre associadas ao
binômio dieta-hipercalórica/sedentarismo-excessivo.
Perdas ponderais insuficientes associadas a uma con-
COMPLICAÇÕES dição de falha na técnica cirúrgica são relatadas com
Capítulo a parte em cirurgia bariátrica, merecem freqüência bem menor. A incidência de complicações
destaque os sinais precoces de complicações intrab- graves é baixa, reduzindo-se ao fluir da padronização
dominais-taquicardia e taquipnéia - prenúncio de e experiência. Considere-se ainda, a ausência da ne-
evoluções catastróficas na ausência de condutas pre- cessidade de ajustes e de conseqüências indesejáveis
cisas e rápidas. Dor abdominal incessante no tercei- como alterações do odor e da freqüência evacuatória.
ro dia após cirurgia laparoscópica também indica Reflexo destas características, a derivação gástrica ocu-
desvio da normalidade. A observação atenta do pa- pa o primeiro lugar no mundo entre as técnicas para o
ciente que refere não estar se sentindo bem, o exa- controle do peso, com 65,1% do total, incluindo-se
me físico minucioso, a coloração do dreno e a reali- abertas e laparoscópicas(20). Ao se presumir que ainda
zação de exames complementares simples, como a não há uma cirurgia ideal, a derivação gástrica é a que
radiografia de tórax para pesquisa de coleção pleu- atualmente melhor preenche os critérios de aceitabili-
ral esquerda, compõem a base diagnóstica rápida de dade de uma técnica.
uma complicação precoce. A derivação gástrica laparoscópica vem apresentan-
A incidência de complicações precoces e tar- do resultados superiores em comparação ao aberto em
dias aparece com variação grande nas revisões de li- relação à dor pós-operatório, perdas sanguíneas, tem-
teratura, embora ainda assim, dentro de níveis bai- po de internação hospitalar e de recuperação das ati-
xos. Em recente revisão de Schneider (18), foram des- vidades habituais(21-22). Pode-se também citar a incidên-
critas as complicações de derivações sem anel por 11 cia quase nula de infecções de parede e hérnias
cirurgiões. As fístulas tiveram incidência entre 0 e incisionais. O aspecto estético é significante para um
5,1%, a estenose entre 1,6 e 27%, as úlceras grupo especial de pacientes, na sua maioria mulheres
anastomóticas 0 a 10%, as hérnias internas 0 a 2,6%, jovens, principalmente com distribuição de obesidade
a embolia pulmonar 0 a 3,3%. A mortalidade variou tipo coxo-femoral. Como desvantagem principal pode-
de 0 a 3,3%. Fobi(16) relata, em seguimento maior de se citar os custos dos materiais, que numa primeira
10 anos nas cirurgias por laparotomia, fístulas em análise causaria um maior impacto financeiro imedia-
1,6% dos casos, estenose 2%, embolia pulmonar to, embora as planilhas que levam em consideração os
0,85%, migração do anel 2,5% e 0,44% de mortali- benefícios diretos e indiretos, a curto e médio prazos,
dade com menos de 30 dias. Em nossa experiência da abordagem mini-invasiva, mostrem o oposto(23).
as complicações se limitam a duas fístulas (1,6%) e A aquisição de habilidades para a realização do
uma perfuração de delgado (0,8%). Não houve mor- bypass gástrico videolaparoscópico com segurança e
talidade, nem complicações como estenose de anas- eficácia demanda treinamento e tutoração acima da
tomose ou migração do anel nesta série até o mo- média necessária para outros procedimentos em gas-
mento. Foram necessárias duas conversões em ho- troenterologia cirúrgica. Embora ainda não exista uma
mens superobesos. estratégia padrão de treinamento, um cirurgião caute-
loso que se inicia neste campo procurar eleger pacien-
tes mais favoráveis à técnica laparoscópica, como mu-
DISCUSSÃO lheres, com IMC não superior a 50, distribuição de
Dentro das opções cirúrgicas para controle da obe- gordura coxo-femoral e sem cirurgias abdominais pré-
sidade mórbida, a técnica do bypass gástrico se mostra vias. Ter treinamento prévio em laboratório com ani-
preferencialmente elegível. Séries históricas com lon- mais e a presença de um tutor experiente em campo
go seguimento(19) e inúmeras publicações com resulta- são medidas inteligentes e éticas. Não há evidências
que, atualmente, seja necessário se habilitar na técni- cessários para se evitar pressão excessiva sobre a pare-
ca aberta antes da laparoscópica, mas também deve de gástrica predispondo à migração, e também por
fazer parte do rol de domínios. A humildade e o espí- outro lado, se evitar anéis largos demais predispondo
rito de aprendizado por parte do cirurgião iniciante ao deslizamento. Deve ser locado de maneira justa,
preservam o paciente e a reputação do procedimento. com pequena folga.
Morbi-mortalidade e tempo operatório diminuem com A despeito disso tudo, o anel vem carregado de
a experiência do cirurgião. A evolução da chamada uma simbologia para o paciente, que o considera como
curva de aprendizado fica mais rápida para cada nova a chave, ou até um amuleto que o faz emagrecer, mes-
geração de cirurgiões, principalmente dentro da mes- mo diante de explicações técnicas por parte de toda a
ma equipe(25). equipe. Prova disso são os longos diálogos com o pa-
Com igual esforço investido na técnica cirúrgica, o ciente e seus familiares, necessários ao se cogitar a re-
cirurgião precisa da vivência do trabalho em equipe tirada ou troca de anel por complicação do mesmo.
multidisciplinar. A premissa de que um paciente bem Como destacado, a nossa experiência começou com
orientado no pré-operatório tem um pós-operatório a técnica sem anel, com anastomose gastro-jejunal
com melhor evolução é tida com válida por cirurgiões manual em dois planos, moldada por uma sonda oro-
experientes. Isto é especialmente considerado quando gástrica. A colocação do anel permitiu a confecção de
o tema é perda ponderal insuficiente ou recuperação anastomose mais ampla, sem a preocupação em se per-
parcial e significativa do peso. Medidas que objetivem der restrição. A limitação do esvaziamento passa a ser
manter os pacientes dentro de um programa bariátrico, função do anel. Com isso a incidência de estenoses e
com seguimento programado são recomendadas. As dilatações endoscópicas foi reduzida de maneira sig-
revisões cirúrgicas bariátricas são associadas a índices nificativa. Argumenta-se sobre a manutenção do diâ-
elevados de morbi-mortalidade(16,26). Em pós-operató- metro original de uma gastrojejunoanastomose a lon-
rio de derivação gástrica, o alongamento das alças do go prazo, sem um material inerte inextensível, em face
"Y de Roux" no sentido de se causar malabsorção, tem às pressões do bolo alimentar que chega ao novo re-
resultados discutíveis em relação à segurança e eficá- servatório. Não há comprovação da manutenção, nem
cia. Os procedimentos de troca ou revisão do anel tam- tampouco de que a dilatação espontânea seja uma re-
bém apresentam grau elevado de dificuldade em um gra. Também não há seguimento tardio de técnicas
paciente que pouco peso perdeu. endoscópicas para estreitamento de anastomoses. Pu-
Lentificar o esvaziamento do novo reservatório blicações nos próximos anos certamente esclarecerão
gástrico, proporcionando saciedade com menor esta polêmica.
quantidade de alimentos, com conseqüente maior
perda ponderal e melhor estabilidade a longo prazo
são objetivos da colocação do anel. A falta de estu- REFERÊNCIAS
dos randomizados com longo seguimento leva as dis- 1.Fobi, MA, Lee H, Fleming AW. The surgical technique of the Fobi pouch
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rações de séries individuais similares, mas não esta-
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tisticamente sem viés. Relacionam-se à presença do
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tricas. Também o aparecimento de complicações tar- bypass procedures for weight reduction. Obes Surg. 1999;9(1):22-7.
dias como a migração e o deslizamento. Cabe sali- 5. Cummings DE, Weigle DS, Frayo RS, Breen PA, Ma MK, Dellinger EP, et al.
entar que a incidência de complicações e intolerân- Plasma ghrelin levels after diet-induced weight loss or gastric bypass surgery.
cias são as principais justificativas dos cirurgiões que New Engl J Med. 2002; 346(21), 1623-30.
optam por não colocá-lo. Diferenças no percentual 6. Flint A, Raben A, Astrup A, Holst JJ. Glucagon-like peptide 1 promotes satiety
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se admite que a derivação com anel teria uma perda Inhibition of food intake in obese subjects by peptide YY3-36. N Engl J Med.
igual ou superior, ainda que não necessária para o 2003;349(10):941-8.
controle das comorbidades, mas que caminha na di- 8. Holdstock C, Engstrom BE, Ohrvall M, Lind L, Sundbom M, Karlsson FA. Ghrelin
reção das expectativas - muitas vezes exageradas - and adipose tissue regulatory peptides: effect of gastric bypass surgery in
dos pacientes. Dificuldades técnicas em se colocar o obese humans. J Clin Endocrinol Metab 2003;88(7):3177-83.
anel quase não são citadas. 9. Fruhbeck G, Diez-Caballero A, Gil MJ, Montero I, Gomez-Ambrosi J, Salvador
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