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ASPECTOS CIRÚRGICOS

Derivação gástrica em "Y de Roux"


Roux-en-Y gastric bypass
Irineu Rasera Junior*

RESUMO ça com as publicações de Fobi(1) em 1989 e Capella(2)


As técnicas de derivação gástrica constituem o grupo de cirurgi- em 1991. Garrido, AB(3) introduziu a técnica no Brasil
as bariátricas mais realizadas atualmente no mundo. A derivação em 1995, por laparotomia. A partir da descrição da
gástrica laparoscópica com anel tem sido descrita como uma Derivação Gástrica laparoscópica em 1994 por
modificação segura destas técnicas, cujos resultados pretendem Wittgrove, A, diversas modificações foram propostas
ser superiores à anterior em termos de perda e estabilidade incluindo-se a colocação do anel, variações na técnica
ponderal, além de redução das complicações peri-operatórias. O
da anastomose e na estratégia cirúrgica. Diversos ci-
objetivo desta descrição é mostrar a evolução tática nesta abor-
dagem cirúrgica, que permitiu uma padronização segura e
rurgiões adotaram tais procedimentos laparoscópicos
reprodutível do procedimento. São discutidos alguns aspectos com anel, como Marema, R, de Paula, A, Szego, T e
sobre os mecanismos de perda e manutenção ponderal, além dos Ramos, A.
resultados obtidos com essas alterações.

Descritores: Anastomose em-Y Roux; Derivação gástrica/méto- MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO


dos; Laparoscopia/métodos; Obesidade/cirurgia; Perda de peso O objetivo dessa cirurgia é proporcionar sensação
precoce de saciedade, através da confecção de um novo
reservatório gástrico de volume bastante reduzido, so-
ABSTRACT
mado aos efeitos causados pela reconstrução do trân-
The techniques of gastric derivations constitute the group of sito em "Y de Roux". A presença de uma alça de del-
bariatric surgeries more accomplished now in the world. The
gado interposta entre o novo reservatório e o estôma-
Laparoscopic Silastic Ring Gastric Bypass has been described as
a safe modification of these techniques, whose results intend to go remanescente tem a função de evitar fistulizações
be superior to the previous in weight loss and long-term stability, espontâneas tardias do tipo gastro-gástrica(4). Classifi-
besides reduction of the peri-operative complications. The objective cada pela Federação Internacional de Cirurgia da Obe-
of this description is to show the tactical evolution in this surgical sidade (IFSO) como técnica do tipo “mista”, ou seja,
approach, that allowed a safe standardization and easer learn of restritiva e malabsortiva, assim permanece até hoje,
the procedure. Some aspects are discussed on the weight loss
embora esta última ação ainda demande melhores es-
mechanisms and maintenance, besides the results obtained with
those alterations. clarecimentos. Após as publicações por Cummings(5)
em 2002 sobre a fisiologia do hormônio Ghrelina, pas-
Keywords: Anastomosis, Roux-en-Y; Gastric bypass/methods; sou-se a compreender um pouco mais sobre os meca-
Laparoscopy/methods; Obesity/surgery; Weight loss nismos de funcionamento destas cirurgias. Assim, o que
era tido inicialmente como um processo de modifica-
ção anatômica quase que exclusivamente, começou a
INTRODUÇÃO ser entendido como rearranjo de ordem metabólica.
A técnica da gastroplastia com anel seguida de Deri- Mesmo antes da descoberta da Ghrelina, já se pensava
vação Gástrica em "Y de Roux" (DGYR) ganhou for- no papel que outros hormônios e peptídeos intesti-

*
Cirurgião Geral e Bariátrico – Piracicaba (SP), Brasil.
Autor correspondente: Irineu Rasera Junior - Av. Com. Luciano Guidotti 133 apto 22 - Higienópolis - CEP 13424-540 - Piracicaba (SP), Brasil - Tel.: 19 3426-6375 - e-mail: bariatrica@bariatrica.com.br

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nais poderiam desempenhar em situações de deriva- os é introduzida no segundo dia de pós-operatório.


ções gastro-duodenais, como o Glucagon-like peptí- Alta hospitalar após dieta, com inibidor de bomba de
deo I (GLP-I), Polipeptídeo YY (PYY), entre outros(6-7). prótons por 30 a 60 dias. Orientado a ingestão contí-
Porém, a diminuição dos níveis de Ghrelina no pós- nua e diária de polivitamínicos via oral.
operatório(5,8-10) como resultado da exclusão do fundo
gástrico do trânsito alimentar, parece ter papel rele-
vante. Entre seus efeitos podemos citar a diminuição DA LAPAROTOMIA PARA LAPAROSCOPIA
da fome referida pelos pacientes operados, fato esse Nossa experiência laparoscópica começou com a
que já nos chamava a atenção mesmo antes da desco- derivação gástrica sem anel, como proposto por Higa(11).
berta do hormônio. Mesmo não tendo ainda toda sua Nesta fase ainda não havia a padronização da técnica
fisiologia elucidada, a Ghrelina é um marco importan- com anel por esta via. Paralelamente, a cirurgia com
te na história desta cirurgia, sendo diferencial em re- anel por laparotomia seguia com resultados consisten-
lação a outros procedimentos, exclusivamente restriti- tes. Assim, naturalmente ocorreu a transição. Descre-
vos ou que mantém o fundo gástrico no trânsito ali- veremos a seguir cada passo, desde a técnica inicial até
mentar, não apresentando redução em seus níveis a atual com anel, justificando as modificações.
séricos em comparação aos não operados(9). Nesta linha
de raciocínio, hoje podemos entender que muito dos
efeitos da reconstrução em “Y de Roux” se devem ao POSIÇÃO DOS PORTAIS
fato de haver derivação gástrica e duodenal, associado Inicial: 05 portais, sendo um supraumbelical para a
a uma sinalização mais precoce(6-7) do GLP-I e PYY pela câmera, um subxifoideo 5mm para afastamento do fí-
chegada rápida de alimentos em uma porção mais distal gado, um de 12mm no hipocôndrio direito (HCD) li-
do intestino delgado. Como efeitos principais, temos a nha hemiclavicular, 2 de 12mm no hipocôndrio esquer-
estimulação do centro da saciedade e a pronta reversão do (HCE) nas linhas hemiclavicular (LHC) e axilar
do ciclo maligno da Síndrome Metabólica. anterior (LAA).
Atual: 06 portais, sendo um umbelical ou supraum-
belical, conforme o biotipo, para a câmera; 2 no HCD,
O PREPARO PARA CIRURGIA sendo um de 5mm na LHC e outro de 12mm quase na
Os pacientes candidatos à gastroplastia são aten- linha média; um subxifoideo 5mm; 2 no HCE, sendo
didos em primeira consulta com o cirurgião, adotan- um de 12mm na LHC e outro com 5mm na LAA.
do-se os critérios internacionalmente aceitos para in- Modificações: Pelo fato do cirurgião trabalhar à
dicação cirúrgica. São submetidos à rotina de exames direita do paciente, a colocação de 02 portais no HCD
laboratoriais e interconsultas médicas, além das ava- permite melhor ergonomia na realização das suturas e
liações e orientações da equipe multidisciplinar. To- no grampeamento. Uma ótica mais longa, com 50cm e
dos atendem à rotina do consentimento informado. 45 graus permitiu o acesso transumbelical. O portal da
Recebem antibioticoterapia profilática com LAA do HCE pode ser de 5mm, pois não utiliza pin-
Cefazolina, além de profilaxia anticoagulante com ças de 12mm, nem o grampeador, e pode ser utilizado
enoxiparina 40mg, 2 horas antes da cirurgia e manti- como orifício para saída do dreno.
da durante a internação hospitalar. Em situações ex-
cepcionais é prolongada conforme orientação do ci-
rurgião vascular. Anestesia geral endovenosa, isola- POSIÇÃO DO PACIENTE
da ou combinada, não se utilizando bloqueios regio- Inicial: Em poucos casos iniciais, adotamos operar
nais. Analgesia pós-operatória controlada pelo pa- entre as pernas do paciente (à francesa). Logo depois
ciente (PCA) é uma opção dos mais variados serviços passamos à lateral direita. Durante o procedimento,
de analgesia pós-operatória. No pós-operatório ime- mudava-se a inclinação da mesa conforme as necessi-
diato, o paciente é recebido na sala de recuperação dades dos tempos cirúrgicos.
pós-anestésica, onde permanece por 3 horas em mé- Atual: Cirurgião à direita do paciente. Mesa o tem-
dia. Na enfermaria é estimulado a deambular com po todo em Trendelemburg reverso.
auxílio, caminhando da maca de transporte ao leito e Modificações: Nem sempre é fácil ou seguro
ao toalete. Permanece em jejum por 24 horas. A se- posicionar o paciente superobeso para se operar entre
guir é orientado a iniciar ingesta de água, água-de- as pernas. Exige mesas especiais com perneiras apro-
côco e isotônicos (exceto diabéticos, hipertensos gra- priadas. A padronização da tática cirúrgica permitiu
ves e nefropatas). Fisioterapia respiratória é admi- manter o Trendelemburg reverso durante todo o pro-
nistrada duas vezes ao dia. Dieta líquida sem resídu- cedimento.

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TÁTICA DA ABORDAGEM Atual: "Y de Roux" à 40cm do Treitz, com 150cm


Inicial: A escolha da primeira abordagem, estôma- de extensão. Até 200cm para superobesos. Alça
go ou "Y de Roux", era aleatória. Quase sempre se antecólica e antegástrica.
optava em deixar as anastomoses entéricas prontas Modificações: Parece não haver diferenças signi-
antes de se iniciar o grampeamento gástrico. ficativas nos resultados quando se usa alças de 75
Atual: Primeiro a confecção do reservatório gástri- ou 150cm em pacientes com IMC menor que 50Kg/
co, anel e anastomose gastro-jejunal. A seguir, ente- m². Parece haver maior perda ponderal quando se
roanastomose e, por último, a secção da alça. usa alças de 200cm para IMC maior que 50, numa
Modificações: Essas modificações foram essenciais comparação entre alças de 75 e 200cm (12-13). Opta-
na nova padronização. Permitiram que toda a cirurgia mos por 200cm. O posicionamento antecólico da alça
fosse realizada no andar supramesocólico, com a mesa também agilizou o procedimento, evita o risco de
sempre na posição de Trendelemburg reverso. torção da alça e pode diminuir a incidência futura
de hérnias internas.

CONFECÇÃO DO RESERVATÓRIO GÁSTRICO


DRENAGEM DA CAVIDADE
Inicial: Grampeamento a partir da pequena cur-
vatura, em direção e sentido da grande curvatura, abai- Inicial: em todos os casos, com dreno laminar
xo do segundo vaso, após dissecção cuidadosa até vi- exteriorizdo no HCE.
sualização da bolsa omental. segue com grampeamento Atual: a rotina permanece em todos os casos, com
paralelo à sonda orogástrica, um Fouchetpds ethic 11, dreno túbulo-laminar à vácuo (modelo Blake® 19F
até finalizar junto ao cárdia. Podem-se utilizar os dois com reservatório J-Vac®).
portais mais mediais de 12mm. Geralmente eram ne- Modificação: A drenagem sero-hemática ficou mais
cessárias 3 ou 4 disparos de 45mm (ou equivalente) eficiente. Também permitiu a identificação precoce de
no total. fístulas de baixo débito e controle clínico de grandes
Atual: Mesma técnica, porém utilizando-se 4 ou 5 débitos hemorrágicos(14-15).
disparos.
Modificações: Confeccionar o novo reservatório
OUTROS ASPECTOS
gástrico um pouco mais longo facilita a colocação do
anel numa distância segura da anastomose gastro- Gastrostomia: Não realizada de rotina.
jejunal. A sobresutura da linha de grampos, tanto no Tamanho de grampos: Cargas azuis, com fechamen-
estômago excluso quanto na neocâmara gástrica, to de 1,5mm, podem ser usadas praticamente em to-
invagina a linha cruenta, previne eventuais falhas de das as anastomoses. Cargas brancas, vasculares, com
grampeamento, fixa o anel evitando-se o deslizamen- fechamento de 1,0mm, são usadas com freqüência nas
to ou rotação do mesmo e evita aderências. anastomoses entéricas com a finalidade de se evitar
sangramentos na linha de sutura, desde que as alças
não sejam demasiadamente espessas. Cargas verdes,
ANASTOMOSE GASTRO-JEJUNAL com fechamento de 2,0mm, podem ser usadas em si-
Inicial: Anastomose manual, em dois planos, com tuações de estômago espesso, como pós retirada de
fio de polydioxanone 3-0. Antes da sutura da parede balão intra-gástrico.
anterior, passava-se a sonda para alça, calibrando-se a Anel: Confeccionado a partir de Silastic com 6,2 a
anastomose. 6,5 cm de comprimento, dentro do qual um fio de
Atual: Anastomose com grampeador linear, na pa- poliéster 2-0 é utilizado para o fechamento.
rede lateral do reservatório. Passa-se a sonda para a alça.
Fechamento em dois planos com polydioxanone 3-0.
PERDA PONDERAL PÓS-OPERATÓRIA
Modificações: Também foi determinante na nova pa-
dronização. Ficou mais rápida, mais reprodutível para quem Durante o primeiro mês ocorre a perda ponderal
se inicia na técnica. A incidência de complicações de anas- mais rápida, sendo 9,5% em média. Segue-se um ema-
tomose – fístulas e estenoses – foi reduzida ao mínimo. grecimento continuo e decrescente, até por volta de
12 meses, quando atinge valores acima de 70% do ex-
cesso de peso, em média. A tendência é pela estabili-
RECONSTRUÇÃO DO TRÂNSITO dade a longo prazo, com pequena recuperação
Inicial: "Y de Roux" à 30cm do Treitz, com 100cm ponderal lenta após 24 meses. A Tabela 1 pode ser
de extensão. Alça retrocólica retrogástrica. referência da evolução ponderal de técnicas similares.

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Tabela 1 - Perda percentual do excesso de peso dos reprodutíveis, mostrando bom equilíbrio na rela-
ção riscos/benefícios, tornam-a atrativa aos cirurgiões
e pacientes. A perda ponderal é satisfatória, bem como
a estabilidade a longo prazo, sendo suficientes com
folga para o controle das comorbidades(19). Indicações
para adolescentes e portadores de síndromes com re-
tardo mental vem sendo relatadas com freqüência cres-
cente. Os índices de perdas ponderais consideradas in-
suficientes pelos cirurgiões e pelos próprios pacientes
está em torno de 3%(16-17), quase sempre associadas ao
binômio dieta-hipercalórica/sedentarismo-excessivo.
Perdas ponderais insuficientes associadas a uma con-
COMPLICAÇÕES dição de falha na técnica cirúrgica são relatadas com
Capítulo a parte em cirurgia bariátrica, merecem freqüência bem menor. A incidência de complicações
destaque os sinais precoces de complicações intrab- graves é baixa, reduzindo-se ao fluir da padronização
dominais-taquicardia e taquipnéia - prenúncio de e experiência. Considere-se ainda, a ausência da ne-
evoluções catastróficas na ausência de condutas pre- cessidade de ajustes e de conseqüências indesejáveis
cisas e rápidas. Dor abdominal incessante no tercei- como alterações do odor e da freqüência evacuatória.
ro dia após cirurgia laparoscópica também indica Reflexo destas características, a derivação gástrica ocu-
desvio da normalidade. A observação atenta do pa- pa o primeiro lugar no mundo entre as técnicas para o
ciente que refere não estar se sentindo bem, o exa- controle do peso, com 65,1% do total, incluindo-se
me físico minucioso, a coloração do dreno e a reali- abertas e laparoscópicas(20). Ao se presumir que ainda
zação de exames complementares simples, como a não há uma cirurgia ideal, a derivação gástrica é a que
radiografia de tórax para pesquisa de coleção pleu- atualmente melhor preenche os critérios de aceitabili-
ral esquerda, compõem a base diagnóstica rápida de dade de uma técnica.
uma complicação precoce. A derivação gástrica laparoscópica vem apresentan-
A incidência de complicações precoces e tar- do resultados superiores em comparação ao aberto em
dias aparece com variação grande nas revisões de li- relação à dor pós-operatório, perdas sanguíneas, tem-
teratura, embora ainda assim, dentro de níveis bai- po de internação hospitalar e de recuperação das ati-
xos. Em recente revisão de Schneider (18), foram des- vidades habituais(21-22). Pode-se também citar a incidên-
critas as complicações de derivações sem anel por 11 cia quase nula de infecções de parede e hérnias
cirurgiões. As fístulas tiveram incidência entre 0 e incisionais. O aspecto estético é significante para um
5,1%, a estenose entre 1,6 e 27%, as úlceras grupo especial de pacientes, na sua maioria mulheres
anastomóticas 0 a 10%, as hérnias internas 0 a 2,6%, jovens, principalmente com distribuição de obesidade
a embolia pulmonar 0 a 3,3%. A mortalidade variou tipo coxo-femoral. Como desvantagem principal pode-
de 0 a 3,3%. Fobi(16) relata, em seguimento maior de se citar os custos dos materiais, que numa primeira
10 anos nas cirurgias por laparotomia, fístulas em análise causaria um maior impacto financeiro imedia-
1,6% dos casos, estenose 2%, embolia pulmonar to, embora as planilhas que levam em consideração os
0,85%, migração do anel 2,5% e 0,44% de mortali- benefícios diretos e indiretos, a curto e médio prazos,
dade com menos de 30 dias. Em nossa experiência da abordagem mini-invasiva, mostrem o oposto(23).
as complicações se limitam a duas fístulas (1,6%) e A aquisição de habilidades para a realização do
uma perfuração de delgado (0,8%). Não houve mor- bypass gástrico videolaparoscópico com segurança e
talidade, nem complicações como estenose de anas- eficácia demanda treinamento e tutoração acima da
tomose ou migração do anel nesta série até o mo- média necessária para outros procedimentos em gas-
mento. Foram necessárias duas conversões em ho- troenterologia cirúrgica. Embora ainda não exista uma
mens superobesos. estratégia padrão de treinamento, um cirurgião caute-
loso que se inicia neste campo procurar eleger pacien-
tes mais favoráveis à técnica laparoscópica, como mu-
DISCUSSÃO lheres, com IMC não superior a 50, distribuição de
Dentro das opções cirúrgicas para controle da obe- gordura coxo-femoral e sem cirurgias abdominais pré-
sidade mórbida, a técnica do bypass gástrico se mostra vias. Ter treinamento prévio em laboratório com ani-
preferencialmente elegível. Séries históricas com lon- mais e a presença de um tutor experiente em campo
go seguimento(19) e inúmeras publicações com resulta- são medidas inteligentes e éticas. Não há evidências

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que, atualmente, seja necessário se habilitar na técni- cessários para se evitar pressão excessiva sobre a pare-
ca aberta antes da laparoscópica, mas também deve de gástrica predispondo à migração, e também por
fazer parte do rol de domínios. A humildade e o espí- outro lado, se evitar anéis largos demais predispondo
rito de aprendizado por parte do cirurgião iniciante ao deslizamento. Deve ser locado de maneira justa,
preservam o paciente e a reputação do procedimento. com pequena folga.
Morbi-mortalidade e tempo operatório diminuem com A despeito disso tudo, o anel vem carregado de
a experiência do cirurgião. A evolução da chamada uma simbologia para o paciente, que o considera como
curva de aprendizado fica mais rápida para cada nova a chave, ou até um amuleto que o faz emagrecer, mes-
geração de cirurgiões, principalmente dentro da mes- mo diante de explicações técnicas por parte de toda a
ma equipe(25). equipe. Prova disso são os longos diálogos com o pa-
Com igual esforço investido na técnica cirúrgica, o ciente e seus familiares, necessários ao se cogitar a re-
cirurgião precisa da vivência do trabalho em equipe tirada ou troca de anel por complicação do mesmo.
multidisciplinar. A premissa de que um paciente bem Como destacado, a nossa experiência começou com
orientado no pré-operatório tem um pós-operatório a técnica sem anel, com anastomose gastro-jejunal
com melhor evolução é tida com válida por cirurgiões manual em dois planos, moldada por uma sonda oro-
experientes. Isto é especialmente considerado quando gástrica. A colocação do anel permitiu a confecção de
o tema é perda ponderal insuficiente ou recuperação anastomose mais ampla, sem a preocupação em se per-
parcial e significativa do peso. Medidas que objetivem der restrição. A limitação do esvaziamento passa a ser
manter os pacientes dentro de um programa bariátrico, função do anel. Com isso a incidência de estenoses e
com seguimento programado são recomendadas. As dilatações endoscópicas foi reduzida de maneira sig-
revisões cirúrgicas bariátricas são associadas a índices nificativa. Argumenta-se sobre a manutenção do diâ-
elevados de morbi-mortalidade(16,26). Em pós-operató- metro original de uma gastrojejunoanastomose a lon-
rio de derivação gástrica, o alongamento das alças do go prazo, sem um material inerte inextensível, em face
"Y de Roux" no sentido de se causar malabsorção, tem às pressões do bolo alimentar que chega ao novo re-
resultados discutíveis em relação à segurança e eficá- servatório. Não há comprovação da manutenção, nem
cia. Os procedimentos de troca ou revisão do anel tam- tampouco de que a dilatação espontânea seja uma re-
bém apresentam grau elevado de dificuldade em um gra. Também não há seguimento tardio de técnicas
paciente que pouco peso perdeu. endoscópicas para estreitamento de anastomoses. Pu-
Lentificar o esvaziamento do novo reservatório blicações nos próximos anos certamente esclarecerão
gástrico, proporcionando saciedade com menor esta polêmica.
quantidade de alimentos, com conseqüente maior
perda ponderal e melhor estabilidade a longo prazo
são objetivos da colocação do anel. A falta de estu- REFERÊNCIAS
dos randomizados com longo seguimento leva as dis- 1.Fobi, MA, Lee H, Fleming AW. The surgical technique of the Fobi pouch
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