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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, pp.

125 - 141, 2004

GEOGRAFIA, SISTEMAS E ANÁLISE AMBIENTAL: ABORDAGEM


CRÍTICA

Vanda de Claudino Sales*

RESUMO:
A ascensão mundial da problemática ambiental resulta em grande número de pesquisas de cunho
ambiental no âmbito da Geografia. Tal abordagem é considerada como capaz de produzir a sutura
teórica entre sociedade e natureza, colocando-se como Geografia Unitária e concretizando o processo
iniciado pela Geografia Crítica, de eliminação da Geografia Física. A análise ambiental, porém, pautada
em geossistema, naturaliza a sociedade, por nivelar a ação social aos demais elementos do meio.
Por outro lado, ele não considera tempo e evolução na dinâmica processual, natural ou social.
Nestes termos, a consolidação do caráter social da Geografia estaria sendo costurada em função
de uma abordagem acrítica. Tal paradoxo é pautado pela busca de uma identidade para a Geografia,
mas também pela defesa de mercado de trabalho, o que demonstra ausência de percepção dos
limites entre ciência básica e prática profissional na comunidade geográfica.
PALAVRAS-CHAVE:
Geossistemas; análise ambiental; sistemas; Geografia Física; Epistemologia da Geografia

ABSTRACT:
The rising of the world environmental problem results in a large number of environmental researchs
in the ambit of Geography. Such approach has been considered as able to produce a theoretical
suture between the society and nature, placing itself as Unitary Geography and accomplishing the
process begun by the Critical Geography, of elimination of the Physical Geography. But the
environmental analysis based on geosystem, naturalizes the society, by even out the social action
to the others elements of the environment. On the other hand, it does not consider time and
evolution in the processual dynamic, natural or social. In these terms, the consolidation of the
social character of the Geography would be soldered due to an acritical approach. Such paradox is
grounded by the searching for an identity of the Geography, but also by the defense of the job
market, what shows the lack of perception of the thresholds between basic science and professional
practice in the geographical community.
KEY WORDS:
Geosystems; environmental analysis; systems; Physical Geography; Epistemology of Geography

* Professora Doutora do Departamento de Geografia e Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Ceará. E-mail: vcs@ufc.br
126 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C.

I - Introdução superação da dicotomia entre físico e humano


De tempos em tempos, a ciência e a (e.g. MONTEIRO, 1981; SEABRA, 1988) e a
sociedade elegem determinados temas como concretização da unicidade da Geografia..
objeto preferencial de ação, reflexão e debate. Nestes termos, para além de uma simples
Transformados em questões dada a freqüência questão da atualidade, a temática ambiental
e a intensidade com que são tratados, esses pareceria estar sendo capaz de fomentar a
assuntos adquirem prestígio, status e apelo sutura da ruptura sociedade/natureza em
cultural, do que resulta uma prática discursiva termos teóricos. Aqui, tematizamos a questão
bem definida, forjada no uso de termos a partir da consideração de aspectos
fundamentais que produzem imediata empatia metodológicos associados aos métodos
e identificação universal - Brunet et al. (1992) sistêmico, geossistêmico, dialético e
usaram a irônica expressão bolsa de termos para uniformitarianista em trabalhos realizados sob
exprimir a riqueza terminológica associada a o prisma do meio físico, na perspectiva de
cada tempo, a cada lugar e a cada temática. Na analisar as implicações do uso dessas
bolsa de termos da Geografia brasileira atual, abordagens no processo de busca de
um discurso de forte apelo cultural é aquele construção de uma identidade social na
associado ao tópico ambiental. Geografia.
Com efeito, a Geografia brasileira
apresentou nos últimos anos significativo II - A Teoria Geral dos Sistemas, Instrumento
acúmulo de conhecimento associado à temática da Geografia Física
ambiental, aqui compreendida como aquela que
II. 1 - Recuperação de conceitos
tem por objeto a análise da relação sociedade
x natureza tomada a partir das alterações A aplicação da Teoria dos Sistemas
impostas ao meio físico - de outra forma posto, debutou nos Estados Unidos nas primeiras
em se tratando da Geografia, que tem nessa décadas do século XX, em consonância com o
relação a sua mais duradoura identidade, a avanço da Cibernética. A sua utilização nas
terminologia seria redundante. Tal crescimento ciências naturais é fruto do trabalho pioneiro
é evidenciado pelo expressivo número de de Bertalanfy (e.g. 1950, 1973), que a aplicou
pesquisas e de publicações associadas, bem à Biologia e à Termodinâmica. Várias décadas
como pela crescente atuação técnica de foram necessárias para que tais preceitos se
profissionais geógrafos em atividades públicas estendessem pelo conjunto das ciências e pela
e privadas que visam à elaboração de totalidade das ciências naturais (BOULDING,
diagnósticos, análises e zoneamentos 1956). Na Geografia Física, a aplicação da visão
geoambientais e sócioambientais. Esse sistêmica data dos anos 1950, inicialmente
crescimento consolida a abordagem utilizada em pesquisas de cunho hidrológico e
geossistêmica como referência teórico- climatológico. Na Geomorfologia, ela é
metodológica fundamental para um grande introduzida na nos anos 1960 (CHORLEY, 1962).
número de geógrafos. Os sistemas foram definidos como
Paralelamente, sobretudo no âmbito dos conjuntos de elementos que se relacionam
eventos nacionais de geógrafos e da entre si, com certo grau de organização,
Associação dos Geógrafos Brasileiros -AGB, a procurando atingir um objetivo ou uma finalidade
perspectiva dialética é a privilegiada. Pautado (BERTALANFY, 1950). Há formulações mais
no uso de termos como Geografia ambiental, complexas, porém, como a de Hall e Fagen
meio ambiente, análise geoambiental e até (1956), que definem sistema como o conjunto
Geografia socioambiental (MENDONÇA, 2002), de elementos e das relações entre eles e seus
o discurso ambiental hoje tem como elemento atributos, ou a de Thorness e Brunsden (1977),
de aceitação e identificação cultural na que o consideraram como conjunto de atributos
comunidade geográfica a possibilidade de e de suas relações no meio físico, organizados
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para executar uma função particular. A II. 2 - O paradoxo do subjetivismo


organização do conjunto (CHRISTOFOLETTI, Uma vez delimitado, o sistema constitui
1979) é decorrente das relações entre os um conjunto unitário, completo, uma entidade
elementos, e o grau de organização entre eles discreta e isolada em relação aos outros níveis
confere o estado e a função de um todo. Cada de sistemas que compõem o universo (CHORLEY
todo está inserido em um conjunto maior - o e HAGGET, 1977). O reconhecimento e a
universo -, que, formado por subsistemas, definição de um sistema, nesses termos,
compreende a soma de todos os fenômenos e requerem da parte dos pesquisadores
dinamismos em ação (CHRISTOFOLETTI, 1979). procedimento mental pautado pelo exercício da
Assim posto, qualquer conjunto de abstração (CHRISTOFOLETTI, 1978). O uso da
objetos que tenham propriedades comuns pode noção de limiar (e.g. CHORLEY E KENNEDY,
ser considerado sistema. Critérios diversos, no 1977), por conduzir à exclusão de relações
entanto, foram pautados por diferentes autores consideradas triviais e não essenciais e por
com vistas à individualização dos conjuntos. Na implicar a adoção de critérios de magnitude
concepção de Hall e Fagen (1956), por exemplo, espacial hierárquica - sistemas, subsistemas -
bastaria haver funcionamento e relacionamento conduz à distinção entre diferentes classes de
de elementos para que os sistemas pudessem sistemas (e.g. CHORLEY E HAGGET, 1978).
ser caracterizados; Thorness e Brunsden (1977) O limiar apresenta-se, no entanto,
consideraram que, na medida em que o sistema conceitualmente pouco desenvolvido, pois
procura realizar determinada finalidade, a dependente ele mesmo do conhecimento e da
compreensão de seu funcionamento depende definição de outros fatores - relações,
da identificação dos elementos componentes e parâmetros, atributos, fluxos, escalas espaciais
das relações entre componentes e seus e temporais de funcionamento - que pecam por
atributos, bem como dos parâmetros de igual falta de precisão e clareza. Tal contexto é
entradas (os inputs) e saídas (os outputs) da tanto mais complexo quanto mais especializado
matéria e da energia que responderiam pelo é o pesquisador - que busca sempre abordar o
funcionamento do todo. grupo de elementos diretamente vinculados aos
Nesse tocante, considera-se de forma pontos-chaves de sua investigação, de forma
geral a existência (FORSTER et al., 1957) de três tal que a paisagem nunca é estudada
tipos de sistemas quanto ao grau de relação integralmente (QUEIROZ NETO, 1973). Os
com o meio: sistemas isolados, que não realizam sistemas podem assim facilmente resultar de
trocas com o ambiente no qual se acham pura construção teórica que, pautada em
instalados; sistemas abertos, que trocam matéria concepções subjetivas e idealizadas, nem
e energia com o meio circundante, sistemas sempre correspondem à dinâmica efetiva do
fechados, que trocam apenas energia. Do ponto meio analisado.
de vista espacial, os sistemas apresentariam Essa situação em parte explica alguns
magnitudes variadas, da megaescala à escala equívocos relatados quanto à aplicação do
local. De acordo com os aspectos de forma e método, a exemplo de realização de análise
estrutura, os sistemas foram classificados (e.g. acerca de sistemas erosivos em áreas que não
CHORLEY E KENNEDY, 1971; CHORLEY E HAGGET, eram palco de nenhuma erosão sistemática
1977) como morfológicos (baseados em (VIERS, 1973). E1a está talvez também no cerne
propriedades físicas tais como geometria, da persistência de modelos teóricos
densidade, comprimento), funcionais (com base desconectados da dinâmica da natureza, sendo
na ação dos processos responsáveis pelas disso o grande exemplo a concepção davisiana,
formas e funcionamento do sistema) e controlado ultrapassada, do ciclo erosivo - ou concepção
(definidos pela ação controladora das atividades teórica de existência de ciclidade na evolução
humanas sobre os processos). do relevo ao longo do tempo geológico,
materializada por meio das fases juventude,
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maturidade e senilidade -, síntese de sistemas sendo relativamente cerceada com o uso e o


isolados (CHORLEY, 1962). desenvolvimento de modelos matemáticos,
A situação foi objeto de algum debate na realização de experimentos e adoção de
Geografia Física brasileira: Penteado (1980), sistemas geográficos de informação, na
por exemplo, ressaltou a necessidade, indicada perspectiva de definir variáveis cuja
já por outros pesquisadores (e.g. CAMPBEL, identificação possa ser universal, em qualquer
1958), de consideração de alguns meio adotado (e.g. COELHO NETO, 1992, 1997;
procedimentos funcionais básicos FERNANDES; 2001; FERNANDES et al., 2002;
(contigüidade, similaridade, objetivo comum) GUERRA, 1998, dentre outros). Ao mesmo
para a definição dos elementos que compõem tempo, nos departamentos de Geografia e
e identificam os sistemas, na perspectiva de Geociências de várias universidades brasileiras,
reduzir a subjetividade. A adoção desses estudantes de graduação e pós-graduação
procedimentos, contudo, igualmente genéricos, dedicam-se a complementar a formação básica
nunca foi considerada como imprescindível definida pelos currículos de Geografia por meio
(CHRISTOFOLETTI, 1979). Dessa forma a de disciplinas, optativas ou não, voltadas para
individualização de sistemas e subsistemas e o aprendizado do uso dos parâmetros
de seus elementos e atributos parece ter matemáticos, estatísticos, químicos e físicos
permanecido, nos primórdios da aplicação do requeridos para a boa aplicação do método
uso da teoria dos sistemas na Geografia Física, (MARQUES, 1994).
o resultado puro e simples (CHRISTOFOLETTI, A produção científica realizada sob essa
1979:33) do uso do bom senso (destaque perspectiva sistêmica de cunho clássico (em
nosso). contraposição à concepção geossistêmica,
Assim a pesquisa de cunho sistêmico ambiental, atualmente em evidência: ver
conviveu com o sério paradoxo da objetividade parágrafos seguintes) é significativa, mas não
contra a subjetividade: forjada no seio da busca pode ser contabilizada na grande cena dos
de uma revitalização científica baseada nos acontecimentos da Geografia brasileira, que são
otimismos oriundos da automação, da evolução os encontros nacionais de geógrafos - ENG. A
da Cibernética e do uso de técnicas de aceitação cultural dessa abordagem é restrita
quantificação, na prática a análise sistêmica de aos eventos temáticos, apoiados ou não pela
teor clássico resultou da percepção AGB (simpósios de Geomorfologia e Geografia
individualizada da dinâmica dos meios. Física, seminários de combate à erosão dos
Associada à permanente falta de intimidade do solos e estabilidade de encostas, dentre
conjunto dos geógrafos para com as técnicas outros).
quantitativas - a definição e caracterização dos
componentes dos sistemas implicam o cálculo II. 4 - O tempo que pára: a exclusão da
de parâmetros estatísticos, probabilísticos, dimensão temporal
estocásticos e alométricos, procedimentos que
os geógrafos estão longe de saber manusear Os sistemas representam um conjunto de
-, a aplicação da teoria geral dos sistemas na elementos - a idéia de conjunto, como implícito,
Geografia Física produziu (SMALLEY e VITA- traduz a existência de elementos que possuem
FINZI, 1969) mais confusão que propriedades comuns. Em se tratando da
esclarecimentos. pluralidade dos fenômenos que compõem as
paisagens naturais, essa premissa é
certamente falsa: um dado tipo de cobertura
II. 3 - A aparente superação da vegetal não recebe as mesmas influências de
subjetividade heranças geoestruturais como um perfil de solo
Na atualidade, a subjetividade inerente ou uma vertente, nem depende de escala
à definição de sistemas físicos parece estar temporal semelhante para atingir o clímax. A
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Teoria dos Sistemas homogeneíza artificialmente (2) dimensão tempo moderno,


as diferenças genéticas e evolutivas dos intermediária, tomada a partir dos últimos mil
elementos que compõem os sistemas pelo anos e para áreas de porte médio - por exemplo,
desprezo à dimensão temporal. Tal consideração bacias fluviais. Nessa dimensão, as variáveis
está na base mesmo da conceituação de selecionadas como independentes e
sistemas. É Bertalanfy (1973) a salientar que dependentes são diferentes do primeiro caso,
sendo o tempo não relevante e os grandes
“...nos sistemas físicos, os
elementos naturais, independentes.
eventos são, em geral, determinados
apenas por condições momentâneas. O (3) dimensão tempo presente, definida como
passado é, por assim dizer, não superior a um ano, a ser adotada para
anulado” (1973:195). pequenas áreas. Nesse caso, o tempo geológico
é irrelevante e os grandes elementos da
Em tal contexto, na análise sistêmica, todo paisagem natural independentes, voltando-se
elemento de cunho evolutivo a médio e longo a análise para os processos da atualidade.
prazo é desconsiderado, com evidente prejuízo Ainda aqui, a proposta não permite a
para a análise dos processos, formas e evolução apreensão das inter-relações estabelecidas ao
das paisagens. longo de toda a extensão do tempo geológico.
Schum et Licthy (1973) consideraram os Se considerarmos que algumas heranças
problemas decorrentes da atemporalidade da morfoestruturais perduram nas paisagens por
análise sistêmica. Para esses autores, a até várias centenas de milhões de anos (e.g.
distinção entre causas e efeitos na dinâmica de PEULVAST e CLAUDINO SALES, 2002), de forma
um sistema dado depende do tempo, bem como a condicionar a evolução ulterior dos demais
do tamanho da área de pesquisa considerada. elementos que hoje as compõem, fica evidente
Se áreas extensas são tomadas em um tempo o empobrecimento, em termos de conhecimento
longo, algumas das variáveis são dependentes e de compreensão, da consideração apenas
do clima, do substrato rochoso, do relevo inicial momentânea da dinâmica dos meios físicos.
e do próprio tempo envolvido. Essas variáveis A proposta de adoção de escalas
tornam-se porém independentes com a espaciotemporais tal qual proposto por Schum
mudança da escala para um tempo menor e em et Lithcy (1978) teve ainda assim o mérito de
pequenas áreas. A paisagem contemporânea é minimizar alguns dos problemas decorrentes da
dessa maneira um estádio dentro de um período identificação das variáveis a serem utilizadas na
do tempo geológico, e sua dinâmica deve ser definição dos sistemas. Ela chegou a ser
estudada na escala do tempo atual em diversos parcialmente retrabalhada por Klink (1981), que
espaços amostrais reduzidos. Dessas defendeu a idéia, a título de propor uma
considerações resultou a proposta da metodologia de mapeamento de unidades
possibilidade de adoção de variadas escalas geossistêmicas, da necessidade de realização
espaciotemporais na análise sistêmica. de estudos de cunho genético e evolutivo dos
Definidas em termos de grandes e pequenas componentes do meio, anteriormente à
áreas e de longos e curtos períodos, elas foram definição do funcionamento inter-relacional do
apresentadas como: geocomplexo. Assim posto, a proposta suprime
(1) dimensão tempo geológico, tomada a as lacunas que, na concepção de Schum e Licthy
partir do Pleistoceno para estudos de cunho (1978), existiam para condicionantes ambientais
geomorfológico, ou com duração variada para de idade anterior ao Pleistoceno.
cada tipo de sistema considerado. A dimensão Em que pese a importância na análise
tempo geológico presta-se ao estudo de ambiental do conhecimento do estádio de
extensas áreas, para o que as grandes variáveis evolução das paisagens - ou da memória longa
do sistema, inclusive o próprio tempo, são dos sistemas (CHRISTOFOLETTI, 1978) -, não
consideradas dependentes;
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parecem ser muitos os exemplos na produção de elementos sociais, econômicos e técnicos,


brasileira de pesquisas realizadas com base na que lhes modificam a dinâmica natural peculíar;
análise sistêmica (e.g. CHRISTOFOLETTI, 1977; nesse sentido, a concepção geossistêmica
CRUZ, 1985; KLINK; 1981) ou de inspiração implica conceitualmente a relação sociedade x
sistêmica (e.g. CLAUDINO SALES, 1993) que natureza.
levaram em conta longos intervalos temporais Em termos espaciais, os geossistemas
como preconizado por esses autores. foram divididos (SOTCHAVA, 1977) em escala
Ao mesmo tempo em que a dimensão local ou topológica, escala regional e escala
evolutiva, a longo ou médio prazo, dos planetária. Em termos de hierarquia de
elementos que compõem os sistemas é funcionamento, as categorias definidas, em
desprezada na análise sistêmica tradicional, não ordem decrescente, foram geossistemas
menos complexa é a situação dos cenários (correspondendo a paisagens ou ao ambiente
futuros - isto é, da previsão, tão fortemente natural), geócoros (classe de geossistemas de
solicitada na atualidade. O futuro na análise estrutura heterogênea), geômeros (classe de
sistêmica nada mais representa que uma geossistemas com estrutura homogênea) e
sucessão de etapas seqüenciais previsíveis, geotopos (geossistemas associados a unidades
definidas a partir de um começo pré-concebido. morfológicas ou setores fisionômicos
A inexistência de conhecimento acerca das homogêneos).
escalas temporais mais apropriadas para a Bertrand (1968), na sua Geografia Física
observação (CHRISTOFOLETTI, 1978) assim Global, conceituou geossistema como um tipo de
como (FERNANDES et al., 2002) o reduzido sistema aberto, hierarquicamente organizado,
conhecimento acerca de certos parâmetros formado pela combinação dinâmica e dialética,
físicos envolvidos (por exemplo, formas de portanto instável, de fatores físicos, biológicos
encostas, propriedades de solos), impede ainda e antrópicos. O geossistema resulta, segundo o
uma maior compreensão dos mecanismos de autor, da combinação dinâmica de um potencial
ruptura envolvidos e a previsão mais efetiva de ecológico (geomorfolologia, clima, hidrologia),
ocorrência de novos fenômenos. de uma condição de exploração biológica natural
Apesar das limitações, inúmeras (vegetação, solo, fauna) e de atividades ditas
pesquisas associadas ao controle e previsão de antrópicas. Partindo dessa abordagem, o autor
riscos ambientais são realizadas no Brasil (e.g. propôs a adoção de escalas espaciais diferentes
COELHO NETO et al., 1990; COELHO NETO, - em ordem decrescente são elas a zona, o
1992; GUERRA, 1994, 1998; FERNANDES, 2002, domínio, a região, o geossistema, o geofácies e o
dentre outros). O resultado dessas pesquisas, geotopo, estes dois últimos classificados a partir
em diversos casos, fomenta uma atuação política de critérios biogeográficos e antrópicos.
crítica dos pesquisadores envolvidos, em defesa A partir dos preceitos teóricos associados
de valores socioambientais. ao conceito de geossistemas e em consonância
com o crescimento mundial da problemática
III - Dos Sistemas à Análise Geoambiental ambiental, a Geografia penetra a ativa era da
análise ambiental, expressa na realização dos
III. 1 - Os geossistemas
diagnósticos, zoneamentos e avaliação de
Um tipo particular de sistema físico, impactos ambientais. De forma secundária, são
dinâmico e aberto é aquele denominado tratados os temas de manejo e planejamento
geossistema. Sotchava (1977) caracterizou-o dos usos dos espaços naturais e, em alguns
como a expressão dos fenômenos naturais casos - ainda raros - de recuperação de áreas
resultantes da interação, na superfície da Terra, degradadas. É esse conjunto de procedimentos
da litomassa com biomassa, aeromassa e que recebe a rubrica de análise ambiental (e.g.
hidromassa. Para esse autor, as formações MENDONÇA, 1993, ROSS, 1990). Motivadora e
naturais experimentam na atualidade o impacto utilitária, a perspectiva ambiental possibilitou o
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resgate e o consumo, no âmbito dos grandes de reconhecimento de campo - que podem ser
fóruns da Geografia brasileira, de pesquisas e feitos, como já o são com freqüência, por toda
de pesquisadores que ali não encontravam mais sorte de profissionais, especializados ou não na
espaço de expressão (e.g. MONTEIRO, 2002). análise da relação sociedade x natureza. A
Os geossistemas, sob cuja óptica é produção nos termos expostos parece
realizada a maior parte da pesquisa e atuação comprometer a possibilidade de crescimento da
dos geógrafos na área ambiental, não eliminam Geografia como ciência estruturada, pois, afinal,
a necessidade do estabelecimento de como lembra Navarra (1973) a propósito do uso
procedimentos metodológicos necessários à da teoria sistêmica nas ciências físicas,
caracterização das variáveis a serem sistematizar é sempre tarefa prévia ao
consideradas - é preciso saber quais elementos conhecimento científico.
do relevo, do clima, do solo, da vegetação, são
necessários, e qual a importância que eles III. 2 - Analise geoambiental: Geografia
assumem na dinâmica do meio. Parcela Unitária - Geografia Crítica?
considerável da produção dita geoambiental
não considera, no entanto, nenhum desses A Geografia, que ao final da década de
preceitos teóricos e conceituais, parecendo ser 1970 surgiu no Brasil com a denominação de
o uso da terminologia relação sociedade x Geografía Crítica, na esteira de um movimento
natureza ou meio ambiente suficiente para eximir renovador cujo grande momento público ocorreu
os pesquisadores da necessidade de definições durante a realização do 3° Encontro Nacional
teórico-metodológicas, próprias da pesquisa de Geógrafos (AGB, Fortaleza, 1978), veio
científica. colocar-se como um divisor de águas na Ciência
Geográfica, rompendo com a sua produção
Embora de forma não generalizada, a
acadêmica tradicional: questionando a
situação caracteriza tanto pesquisas ao nível
perspectiva geográfica posta exclusivamente
de graduação quanto de pós-graduação - a
sobre o produto da ação do homem no espaço,
exceção acha-se relativamente situada nos
a Geografia Crítica quis saber dos processos
trabalhos que ostentam propostas de
sociais que determinam esse produto, a partir
zoneamento ambiental, que necessariamente
do que projetou sua visão para a própria
exige a adoção de escalas espaciais
sociedade. Para tanto, introduziu o discurso
hierárquicas. Tal tipo de aplicação é hoje
marxista na ciência, adotou o método histórico-
solicitada por organismos públicos que adotaram
dialético como o arsenal teórico- metodológico
(Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro
privilegiado e elegeu como objeto de estudo um
de Recursos Naturais Renováveis - IBAMA;
processo social, a produção do espaço.
Comissão Interministerial para os Recursos do
Mar- CIRM, Instituto Brasileiro de Geografia e Evidentemente o rompimento
Estatística-IBGE) a metodologia geossistêmica estabelecido pela Geografia Crítica deu-se com
como elemento de definição de políticas públicas o que de conservador e arcaico havia na
voltadas para o planejamento e a gestão Geografia, atingindo, portanto, todas as suas
territorial (e.g. SOUZA, 1994; MORAES, 1999). áreas e especializações. Um desdobramento
contundente de tal visão recaiu sobre a eterna
Em tal contexto, com freqüência, o que é
polêmica da dicotomia natureza/sociedade na
produzido são meros diagnósticos descritivos,
ciência, resultando no alijamento dos estudos
simples arrolamento das características físicas
de natureza física do âmbito da Geografia Crítica,
do meio, tal qual realizado em trabalhos
sob o argumento da não importância social e
clássicos de Geografia Física, inclusive de forma
política dessa abordagem. Tal postura adquiriu
compartimentada - ainda que agregando um
contornos bastante concretos na ação dos
tópico sobre uso e ocupação. Em outros casos,
geógrafos críticos: freqüentes foram as
o produto da análise geossistêmica é o simples
argumentações postas, em debates e em
resultado da sistematização de dados oriundos
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publicações, no sentido de pensar que à setenta, não deu conta de acompanhar


Geografia não competia lidar com areias. a dinâmica social. O ecológico e o
Algumas afirmações foram mais objetivas - tal é ambiental desviam a cena acadêmica
o caso daquelas de Moreira (1980), ao em Geografia” (1999:109).
considerar que
Por outro lado e ao mesmo tempo, os
“o geomorfólogo costuma usar o termos geógrafo físico, geomorfólogo,
status de geógrafo, mas que status é esse? climatólogo, pedólogo, carentes que se
E fica também na ambigüidade, não encontram da aceitação cultural que hoje atinge
construindo uma epistemologia própria” a dimensão ambiental da Geografia, são banidos
(1980:17). dos grandes espaços da Geografia brasileira -
da AGB, dos encontros nacionais de geógrafos-
Moreira (1980 ) também postulou a noção
ENG’s, das publicações de cunho geográfico
de que
geral. Hoje, são inclusive considerados
“... corre um rio, às margens do qual ultrapassados por profissionais cuja produção
há solos férteis. Esses termos são todos científica era há pouco tempo referenciada no
da Geografia Física. Se me permitem a espaço da Geografia Física. Dessa forma, por
expressão, Geografia Física faz parte de uma um viés ou por outro, a Geografia consolida um
linguagem que temos que reformular” certo caráter unitário - doravante aqui
(1980:18). identificado pela denominação de Geografia
Unitária.
O momento presente seria o da
Se a Geografia é unitária, porém, quando
concretização dessas considerações, pela
baseada em geossistemas, ela também o é
superação, por meio da análise geoambiental,
formalmente acrítica, pois os geossistemas,
da dualidade entre físico e humano na
assim como os sistemas em geral, não
Geografia? Por um lado, com pauta na aceitação
consideram a ação de processos que ocorrem
cultural da abordagem ambiental tanto na
em escala temporal de médio e longo prazo. Tal
academia quanto no palco das demandas
fato implica na apreensão de uma ação social
sociais, existe um refazer das análises na esfera
naturalizada, nivelada aos demais elementos do
dos geógrafos “humanos”. Mamigoniani (1996)
meio - meio naturalizado, o geossistema não
declara que
comporta o ser social organizado em torno de
“...está na hora de se perceber, sistemas de poder e de interesses econômicos
com humildade, que existem leis naturais definidos. Assim, Bertrand (1968) considera a
e leis sociais, independentemente da ação antrópica como um input, semelhante a
vontade dos indivíduos” (1996:199). qualquer outro de ordem natural que atinge e
modifica temporariamente a dinâmica interna
O autor proclama ainda que dos geossistemas, até que estes se adaptem
“...a Geografia Física, armada no às novas condições criadas. E Socthava (1977)
paradigma geossistema, continua suas afirma que
pesquisas e realiza mais progressos que a “...fatores antropogênicos e
Geografia Humana” (1996:199). espontâneos, condicionando a estrutura
de um geossistema, podem, em todos os
Moraes (1999) agora avalia necessária a casos, serem referidos à categoria de
expressão da dinâmica das configurações físico- naturais, mesmo quando seguem certos
naturais dos lugares, e Silva (1999) evidencia: procedimentos sócio- econômicos”
“A Geografia não se apercebeu da (1978:7).
emergência de novos sujeitos sociais, não
perseguiu os desdobramentos dos anos
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Sposito (1999, 2002), tratando de dialética. Nesta, os pesquisadores pretendem


questões epistemológjcas, considerou a ressaltar as leis da dialética - movimento, motor
existência de três abordagens no âmbito da de transformação da matéria; contradição
Geografia e demais ciências humanas: a interna, segundo a qual nenhum fenômeno seria
abordagem empírico- analítica, positivista, que passível (e.g. SPOSITO, 1999, 2002) de uma
considera todos os fenômenos sociais e naturais única mudança. Na perspectiva de desvendar
como regidos por leis invariáveis, não os fenômenos da realidade apoiados na
comportando noção de historicidade; a dimensão histórica dos acontecimentos na
abordagem histórico-critico-dialética, que tem na esfera ambiental, os pesquisadores assumem
ação/transformação categorias fundamentais; a noção de que a ciência pode fornecer
a abordagem fenomenológica-hermêneutica, elementos para a transformação da sociedade.
que postula a interpretação como fundamento Na Geografia Brasileira, a valorização do meio
para a compreensão dos fenômenos. O autor ambiente tomada a partir da abordagem
não considerou nem inseriu o paradigma ambiental dialética teve em Gonçalves (1989)
geossistêmico em suas reflexões, embora tenha um precursor. Hoje, amplia-se o numero de
referenciado os sistemas, porque reconhece geógrafos que fazem esse percurso, da
Chorley e Hagget (produtores da escola Geografia Social à análise ambiental (nas
sistêmica na Geografia; ver parágrafos cidades: e.g. RODRIGUES, 1998; SPOSITO,
anteriores) como representantes da corrente 2001; SOUZA, 2002; nas áreas litorâneas: e.g.
positivista na Geografia, inclusive brasileira MORAES, 1999; em perspectiva global: e.g.
(SPOSITO, 1999). WALDMAN, 1992; RIBEIRO, 2001, 2004).
Em se tomando essas considerações Na óptica oposta - partindo dos
como referenciais, três outros caminhos elementos do meio físico para a relação
analíticos também se impõem: (1) os sistemas sociedade/natureza, no inicio dos anos 80,
ambientais físicos ou geossistemas acham-se Monteiro (1981) discutiu meio ambiente numa
referenciados na abordagem positivista - mas perspectiva filosófica. Vários anos depois,
não nos referíamos a um espaço geográfico Casseti (1991) aborda o ambiente a partir da
produto histórico e social para fundamentar as compreensão dialética da apropriação do relevo
argumentações da unicidade da Geografia e a (ainda que tomando como ponto de partida o
ampla aceitação da análise geoambiental na geossistema). Nos marcos da análise acerca
fase da Geografia Unitária?; (2) não dos climas da cidade de São Paulo, Tarifa e
reconhecemos o geossistema como uma Azevedo (2001), baseados na concepção
abordagem própria da Geografia, ciência lefebvriana de ritmanálise (LEFEBVRE, 1975)
humana - com o que desconhecemos a larga propõem o ritmo como um caminho possível para
produção geográfica que vem sendo feita nessa a compreensão da interação dialética dos
perspectiva e ainda, de evidência, a essência fenômenos físicos, biológicos, humanos e sociais
da Geografia dita ambiental, que movimenta as no espaço.
publicações e atividades da Geografia atual; (3) Via de regra, a análise dialética associada
aceitamos comodamente o paradigma à questão ambiental não permite o
geossistêmico tal qual posto, e atingimos a fase aprofundamento do conhecimento da dinâmica
de Geografia Unitária, social, por meio da dos elementos físicos, senão da interferência
atemporalidade e acriticidade, formal e informal, deles na qualidade de vida das populações. A
teórica e prática. aceitação da necessidade de estudos
geográficos do meio físico já propiciou reflexões
sobre essa limitação: para ultrapassá-la,
III. 3 - A análise ambiental dialética
Moraes (1999) sugeriu a realização de trabalhos
Outra forma de tratamento da temática ao mesmo tempo dialéticos e holísticos. Mas o
ambiental é ofertada pelo uso da abordagem holismo - de holos, tudo, freqüentemente
134 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C.

também referenciado na perspectiva compreensão da estruturação espacial de


geossistêmica - parece só ser possível de ser bacias hidrográficas, a reconstituição dos climas
praticado por meio de trabalhos do passado, inclusive daqueles que subsidiaram
interdisciplinares, envolvendo, além de o alvorecer da sociedade humana em seus
geógrafos, outros profissionais. Na ausência de primeiros e ulteriores passos históricos. Ela
conhecimento científico da dinâmica de todas comporta ainda (BLOOM, 1996) as análises
as partes envolvidas nas situações analisadas, sobre a capacidade das ondas marinhas em
o que resulta só poder ser um falso discurso modelarem a costa, a renovação constante do
de holismo ou um holismo falso. solo pela intemperização das rochas, o
transporte de sedimentos pela ação do gelo,
as variações eustáticas cenozóicas. A Geografia
III. 4 - Outra abordagem do meio físico:
Física produzida em tal perspectiva não pode
o atualismo do Uniformitarianismo
ser crítica, tampouco social, nem ambiental. O
Para além da análise sistêmica, que dizer de ambiente como relação sociedade
geossistêmica e dialética, a Geografia Física, e x natureza, ou natureza produto da sociedade
em particular a Geomorfologia, tem na quando se trata de analisar superfícies de
geocronologia um importante instrumento de aplainamento, origem de margens continentais,
apoio à análise física do espaço. Baseada na evolução quatemária das paisagens (e.g.
perspectiva metodológica oriunda do Princípio KOHLER, 1994; MUHUE, 1994; MOURA, 1994;
do Atualismo - ou o Uniformitarianismo dos SAADI, 1993;; JATOBÁ, 2002; CLAUDINO SALES,
inglêses James Hutton (1740-1797) e Charles 2002; CLAUDINO SALES E PEULVAST, 2002,
Lyell (1802), que afirmaram um presente, chave 2004, dentre tantos outros pesquisadores e
do passado – muitos pesquisadores buscam temas) ?
desvendar e esclarecer os passos da evolução
Como evidência do tipo causa-efeito, na
dos grandes elementos que compõem as
fase atual de consolidação da Geografia Unitária
paisagens naturais.
tal abordagem física é desprezada (e.g.
A perspectiva uniformitarianista apóia- SUETERGARAY e NUNES, 2002). No entanto, esse
se na interpretação da dinâmica dos processos produto científico tem sido requisitado por
atuais e da consideração de que estes, outras áreas do conhecimento - Arqueologia,
submetidos sempre às mesmas leis físicas, Geologia, História Natural, História, Biologia,
atuaram de forma semelhante, ainda que com Engenharia, Direito Ambiental. Constantes são
intensidades diferenciadas, ao longo da também as demandas sociais associadas ao
história natural da Terra. A apreensão dessa planejamento e gestão ambiental. Solicitações
dinâmica é obtida por clássicas técnicas de de mesma natureza incluem o turismo ecológico
levantamento de campo, análises laboratoriais e cientifico e atividades voltadas para o fomento
e interpretação de cartas, hoje agregando da cultura geral das sociedades. Diversos são
instrumentos novos oriundos de técnicas da ainda os exemplos de aplicação do
informatização (construção de modelos conhecimento da dinâmica do meio físico em
numéricos de terreno) e do sensoriamento longo prazo em embates políticos afeitos à
remoto da superfície da Terra (radar, satélite). preservação do ambiente e à qualidade de vida
Da adoção do princípio do Atualismo, de populações. Nestes termos, verifica-se que
surgem, numa perspectiva geográfica, espacial, o que não é importante para a Geografia
a recomposição da longa história das paisagens Unitária ainda assim o é para a sociedade.
naturais, a decodificação da monumental Aqui, outro aspecto da armadilha do
história dos continentes, o desvendamento dos ambiental merece reflexão – a Geografia Física,
processos de nascimento e extinção de teórica, pautada no Uniformitarianismo, só pode
oceanos e mares, a identificação da origem e ser desenvolvida com base nos mecanismos da
evolução dos grandes volumes de relevo, a Tectônica de Placas, mas a Tectônica de Placas,
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 135

estrondosa e avassaladora revolução no âmbito relação com as diferentes formas da


das ciências a partir dos anos 1970 e 1980, é sociedade se produzir e reproduzir”
simplesmente desconhecida dos geógrafos (199:348/349).
físicos brasileiros. Esses geógrafos, amparados
pelas facilidades do discurso unitário e pelo Enquanto isso, o coro de um sem-número
pragmatismo de demandas sociais, de geógrafos censura o aprofundamento
confortavelmente eliminaram de suas agendas epistemológico da Geomorfologia, ou da
o aprofundamento teórico, sem o qual não Pedologia, denunciador da busca de
existem meios possíveis para explicar a evolução fortalecimento de status de ciências autônomas
das paisagens naturais antes dos homens – e - mas o que querem os geógrafos da Geografia
como haverão de efetivamente diagnosticar Unitária? Estaríamos em meio a uma cruzada
impactos com os homens no meio físico se o gloriosa que demanda abnegações em prol da
meio físico representa um avassalador consolidação de uma identidade geográfica que
desconhecido? não abarca a todos? Não sabemos mais o
A falta de conhecimento e atualização sentido das idéias, ou não queremos saber? Por
acerca dos mecanismos e ecos da Tectônica de onde haverá passado, ademais, aquela
Placas é verificável na maioria esmagadora das consideração de que a Geografia poderia
publicações em Geografia Geral e contribuir para superar o autoritarismo, ouvindo
Geomorfologia, que são feitas ao longo dos as diferentes vozes, identificando o novo e os
últimos anos – é pois menos por falta de possíveis pactos, e organizando e difundindo
importância do que por falta de elementos de informação (e.g. BECKER, 1999)?
produção científica que Geografia Física hoje se De evidência, trata-se da busca de
coloca como algo ininteligível aos olhos da construção e de fortalecimento de uma
comunidade geográfica. identidade geográfica, pautada na afirmação de
ser a Geografia uma ciência social: nenhuma outra
afirmação parece ter tido maior ressonância na
IV - Geografia Social e Geografia Física: um
comunidade geográfica, nas últimas décadas,
impossível Elo (Conclusões)
do que essa exaltação do caráter social da
IV. 1 - A identidade social da Geografia Geografia. Estaríamos vivenciando, após um
Brunet et al. (1999), na forma irônica que longo e tortuoso percurso, a fase terminal de
encontraram para expressar a Geografia, consolidação de uma identidade geográfica? No
afirmaram que o espaço geográfico compreende, Brasil, em se tomando como critério os eventos
além de quantidade de heranças da sociedade, nacionais de geógrafos, essa identidade social
também memórias da natureza (1999:6). estaria efetivamente consolidada, a despeito da
Suertagaray e Nunes (2002), tomando como (ou em razão da?) propalada crise das ciências
parâmetro o XII ENG para analisar a natureza sociais. Aliada à fragmentação do mundo
da produção em Geografia Física, concluíram ser globalizado e à determinação social da
a produção atual majoritariamente ambiental, degradação mundial das paisagens e da
portanto nos moldes da qualidade social da qualidade de vida, essa fase histórica, com
Geografia (os autores não consideraram a efeito, parece ser propícia ao fortalecimento
produção em Geografia Física veiculada em dessa identidade social da Geografia.
outros tantos fóruns que não a AGB...). Sposito A busca da definição de uma identidade
(1999) considerou ser a Geografia geográfica parece, porém, estar sendo ditada
“uma ciência cujo objeto é a antes pela perspectiva de construção de um
sociedade e que, portanto, mesmo os projeto de Geografia do que por um projeto de
seus aspectos físicos (destaque do autor) construção de sociedade: assim é que Santos
devem ser abordados a partir de sua (2000), tratando dos processos globaritários,
afirma a certeza de podermos produzir as idéias
136 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C.

que permitirão mudar o mundo. Brunet et al. Mendonça (2002) reconhecem ser esta uma
(1996), nas Palavras da Geografia, acreditam ser abordagem problemática, mas enaltecem a
esse unicidade da Geografia. Geógrafos não
“...um campo do conhecer e do agir brasileiros têm feito também algumas
ainda subestimado nos meios cultivados, considerações - a exemplo de Claval (2002),
...o que é uma pena para a nossa que avaliou que o estudo das relações homem/
cultura comum, e provavelmente para a meio ambiente é atualmente realizada segundo
ação” (1996:10). perspectiva ecológica (2002:21) e não
geográfica.
Pontos de vista com teor semelhante, Para além dessa questão maior, de
mais ou menos explícitos, não são raros nos construção de uma identidade própria, ou talvez
meios geográficos: o que parece, pois, de fato diretamente associada a ela, parece existir, de
guiar a busca e a construção da identidade uma forma implícita e relativamente disfarçada,
social da Geografia, no Brasil e no mundo, é a uma defesa de mercado, interna e externa à
disposição que têm os geógrafos de verem a categoria, norteada ainda pela ausência de
Geografia alçada ao palco das grandes ciências clareza, no âmbito da comunidade geográfica,
da humanidade. Contudo, para tanto, o que do que vêm a ser ciência básica e ciência
parece mais facilmente próximo para aplicada.
empréstimo à galeria do conhecimento universal Do ponto de vista da defesa de mercado
é a categoria analítica espaço, não disputada interno, a existência de grande número de
com nenhum outro conhecimento moderno – o jovens universitários, estudantes dos cursos de
ambiente e o meio ambiente, esses já são de Geografia, que hoje não encontram nenhum
domínio público. outro espaço público de ação política além dos
Seja como for, a trilha parece longa e anfiteatros da AGB, fazem da perspectiva de
ambígua, pois o que ora está posto em termos existência de uma Geografia social e unitária
epistemológicos - aqueles termos que, todos (igualitária?) uma expressão de paradigma. E
sabemos, consolidam uma ciência - não parece assim temos mergulhado no superficialismo e
suficientemente substanciado para apaziguar e nas facilidades da venda de discursos,
unificar o que é Geografia: dos volumes transformando o que é de natureza
Paradigmas da Geografia da Revista Terra Livre essencialmente aplicada em elementos de
(AGB, números 16 e 17) à publicações recentes natureza paradigmática. Sobreviverá, uma
acerca da ciência geográfica, passando pelos ciência, desse tipo de reprodução?
trabalhos apresentados durante os últimos Do ponto de vista do mercado externo à
encontros nacionais de geógrafos, não categoria, o tema é relativamente tabu, mas,
detectamos, se não incorremos em erros, ainda assim, Carlos (com. oral, 2004) avaliou a
qualquer avaliação analítico-crítica a respeito, análise ambiental como inserida em ruptura
por exemplo, do paradigma geossistema na sua acadêmica ditada pelo mercado. Na permanente
posição de importante elo de existência da criação de necessidades e de mercados, os
Geografia Unitária. processos globaritários indicados por Santos
Para negar essa homogeneidade, (2000) indicarão talvez em breve razões
algumas rápidas exceções se fazem de toda mercadológicas para o estudo do meio físico de
forma sentir: nos marcos da Geografia Social, per se?
Moraes (1999) avaliou o geossistema como Capel também rompeu o tabu durante a
impróprio à apreensão das inter-relações conferência que realizou no encerramento do
contraditórias dos atributos físicos e relações XIII Encontro Nacional de Geógrafos (João
sociais na gestão dos espaços costeiros no Pessoa, julho de 2002): fortalecendo a
Brasil. Nos marcos da Geografia de inspiração perspectiva da identidade social, humana, da
ambiental, Suertegaray e Nunes (2002) e
Geografia, Sistemas e Análise ambiental: abordagem crítica, pp. 125 - 141 137

Geografia, fortalecendo a Geografia Cultural e independentemente do que postulam os


abrindo janelas ( Geografia dos Sonhos), geógrafos - título doravante resguardado aos
conclamou a aceitação de todos os métodos da profissionais que participam do processo de
Geografia e postulou a necessidade de consolidação da Geografia Social (como afinal
permanência da Geografia Física no âmbito da propôs Moreira nos idos dos anos 1980?), os
ciência, mas em nome do corporativismo – estudos voltados para a história da natureza e
contudo, em se considerando os dados de para a dinâmica do meio físico a médio e em
Suetergaray e Nunes (2002), os geógrafos não longo prazo haverão sempre de existir. Dos
deveriam guardar receios de perdas, pois os geógrafos Estrabão nos idos dos anos 10 d.c.
geógrafos físicos, seríamos tão poucos... - e em com sua análise da latência de certas estruturas
nome da necessidade de conhecimentos de vulcânicas (1) (e.g. Fouache, 1996) a Heródoto
dinâmica natural na formação de alunos no dos idos do século IV, com o seu reconhecimento
ensino fundamental. da condição de dádiva do Nilo ao Egito (e.g.
Nesse tocante, a situação não deixa de FOUACHE, 1996), do fluvialismo de Leonardo da
ser curiosa: Claval (2002), analisando a volta Vinci à deriva dos continentes de Wegener, o
do cultural na Geografia, salienta que a conhecimento sobre a dinâmica física dos meios
Geografia vivenciada pelos meninos, mulheres sempre interessou a humanidade - não sendo
e idosos difere muito das geografias dos adultos produzido pelos geógrafos, ele o será por
masculinos. Entre (1) a compreensão da outros cientistas.
necessidade de percepção do mundo natural na A tarefa de decodificação desse universo
infância, justificadora da manutenção da natural vai além, muito além, da descrição da
Geografia Física na Geografia Social de acordo condição de substrato e de memória do espaço
com Capel (com. oral, 2002), (2) a compreensão geográfico, por mais aceitável e legítimo que o
de variadas percepções de Geografia existentes corporativismo geográfico possa ser: as ciências
entre gêneros e faixas etárias, de acordo com naturais já inscreveram monumentos
Claval (2002) e (3) as considerações freqüentes prodigiosos na galeria do conhecimento
na comunidade geográfica acerca do caráter universal que a Geografia Social ora margeia, e
ultrapassado das expressões Geografia Física ou isso antes mesmo do surgimento e do domínio
Geomorfologia, talvez cunhássemos na bolsa das técnicas e dos métodos, eminentemente
geográfica de termos a nomenclatura Geografia geográficos, de espacialização dos elementos
Cultural Física para no exercício terminológico do meio.
encontrar a forma heureca de simplesmente Se a permanência do conhecimento da
acomodar a permanência da produção de dinâmica dos espaços físicos representará
pesquisas uniformitarianistas acerca dos coexistência entre Geografia Física e Geografia
aspectos físicos e acerca das memórias naturais Social, se essa coexistência estará restrita aos
contidas no espaço geográfico social? espaços dos Departamentos de Geografia e de
As contradições que a Geografia hoje Geociências, se será realizada por intermédio
enfrenta no tocante à relação físico-social e à da consolidação de outras identidades em
busca de consolidação da identidade social da ciências paralelas, se ela adquirirá caráter
ciência permitem a consideração de opções, interdisciplinar em função de migração de
aparentemente aceitas, não mais elaboradas conteúdos para outras áreas do conhecimento,
do que estas. como ora já se verifica, particularmente no
tocante à assimilação da Geomorfologia pela
Geologia - pois sempre existem rios, às margens
IV.2 - A permanência dos estudos de
dos quais ainda há solos férteis -, essas são
caráter físico: outras identidades ?
questões que os geógrafos deveriam começar
Aglutinadora mas não totalitária, essa é a realmente considerar.
a condição da identidade social da Geografia:
138 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 16, 2004 SALES, V.C.

Agradecimentos
Agradecemos aos professores Eustógio
Wanderley Correia Dantas (UFC) e José
Borzachiello da Silva (UFC) as críticas,
sugestões e considerações apresentadas ao
texto original

Notas

1 A propósito de vulcões: acha-se em curso no geológicos gerais. A considerar a Geografia Unitária,


Departamento de Geografia da UFC pesquisa a pesquisa deveria ser encerrada - dever-se-ia
intitulada Os vulcões de Fortaleza, envolvendo talvez aguardar a chegada no local de uma
alunos do Laboratório de Geomorfologia Ambiental, intervenção do tipo antrópica - o turismo? A
Costeira e Continental – LAGECO. O objetivo da extração mineral? Uma apropriação do relevo ?-
pesquisa é identificar a origem e a evolução de para ser relatado, em perspectiva interativa, a
oito necks e/ou cones vulcânicos distribuídos em produção daquele espaço social. Dever-se-ia talvez
terrenos particulares na Região Metropolitana de deixar a tarefa da elaboração desse conhecimento
Fortaleza, em lugares ainda de acesso difícil e sem prévio para pesquisadores de outras áreas, pois
nenhum tipo de uso e ocupação definido. O que se patrimônio natural, para merecer a leitura espacial
sabe desses relevos vulcânicos pouco ultrapassa dos geógrafos, ao que parece - ou não conseguimos
o nível de informação contida em alguns mapas
entender bem? - apenas se for degradado.

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Trabalho enviado em abril de 2004.

Trabalho aceito em agosto de 2004.

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