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FRAGILIDADE AMBIENTAL E METODOLOGIA (ROSS 1994)

A fragilidade dos ambientes naturais face às intervenções é maior ou menor em função de


suas características genéticas. A princípio, salvo algumas regiões do planeta, os ambientes
naturais mostram-se ou mostravam-se em estado de equilíbrio dinâmico até o momento em
que as sociedades humanas passaram progressivamente a intervir cada vez mais
intensamente na exploração dos recursos naturais.

Os estudos integrados de um determinado território pressupõem o entendimento da


dinâmica de funcionamento das ações humanas. Assim, a elaboração do zoneamento
ambiental deve partir da adoção de uma metodologia de trabalho baseada na compreensão
das características do ambiente natural e do meio socioeconômico.

O conhecimento das potencialidades dos recursos naturais, passa pelos levantamentos dos
solos, relevo, rochas e minerais, águas, clima, flora e fauna. Esses componentes do estrato
geográfico que dão suporte à vida animal e humana. Para análise da fragilidade, entretanto,
exige-se que esses fatores sejam analisados de forma integrada, calcada sempre no
princípio que a natureza apresenta funcionalidade intrínseca de seus componentes

Tricart definiu que os ambientes que estão em equilíbrio dinâmico são estáveis e quando
estão em desequilíbrio são instáveis. Partindo desse princípio, Ross define que as Unidades
Ecodinâmicas Instáveis são aquelas que sofreram intervenções antrópicas que modificaram
intensamente o ambiente natural através de desmatamentos e prática econômicas diversas,
enquanto as Unidades Ecodinâmicas Estáveis são as que estão em equilíbrio dinâmico e
foram poupadas da ação humana, encontrando-se em seu estado natural. Essas novas
definições foram aplicadas no planejamento ambiental estabelecendo as Unidades
Ecodinâmicas Instáveis ou de instabilidade emergente, sendo cada variável (rocha, solo,
drenagem, geomorfologia, clima, etc) que atinge a área sendo niveladas por graus de
intensidade.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM (MAXIMILIANO, 2004)

Em meio a tendências à especialização da década de 60, Bertrand, geógrafo francês,


descartou que a paisagem fosse uma simples junção de elementos geográficos; antes
definiu-a como “combinação dinâmica, instável, dos elementos físicos, biológicos e
antrópicos.”

Portanto, percebe-se que a visão da paisagem original era de uma certa precaução,
delimitada pelo conhecimento da realidade circundante. Diferentemente, as artes chinesa e
japonesa foram marcadas por um cosmocentrismo, com um certo senso da natureza como
sistema vivo, do qual o ser humano fazia parte.

O registro da paisagem ocorreu primeiro na pintura, sob o olhar mais atento e minucioso de
pintores tanto ocidentais como orientais.

O geossistema consiste em classes hierarquizadas do meio natural. Possui três escalas de


grandeza: planetária, regional e topológica. A sua identificação parte de dois princípios: de
homogeneidade e de diferenciação.
BERTRAND (1972, p. 1), geógrafo francês, considerou que paisagem seria “um termo
pouco usado e impreciso” e, por isso mesmo, utilizado às vezes sem critério. Para este
autor, não seria a simples junção de elementos geográficos que resultaria em uma
paisagem, mas a combinação dinâmica, instável, dos elementos físicos, biológicos e
antrópicos, porque a paisagem não é apenas natural, mas é total, com todas as implicações
da participação humana.
Assim, como objeto do interesse da pesquisa, a paisagem pode ser entendida como o
produto das interações entre elementos de origem natural e humana, em um determinado
espaço. Estes elementos de paisagem organizam-se de maneira dinâmica, ao longo do
tempo e do espaço. Resultam daí feições e condições também dinâmicas, diferenciadas ou
repetidas, o que permite uma classificação, ao agruparse os arranjos similares, separando-
os dos diferentes.

A AÇÃO DO HOMEM ENQUANTO PONTO FUNDAMENTAL DA GEOLOGIA DO


TECNÓGENO: PROPOSIÇÃO TEÓRICA BÁSICA E DISCUSSÃO ACERCA DO CASO
DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (PELOGGIA, 1997)

O cerne da Geologia do Tecnógeno encontra-se, além da consideração do estabelecimento


das atividades humanas e em particular a atividade essencialmente humana, a produção de
seus meios de existência sobre condições de relevo e se substratos determinadas,
encontra-se na consideração efetiva do homem como agente geológico.

Enquanto os fatores essencialmente naturais funcionam através de cadeias causais, a ação


humana se dá através de posições Ideológicas, finalidades, objetivos pré-idealizados (e
mesmo que os resultados dessa ação não necessariamente correspondam aos objetivos
pré-fixados, e muitas vezes mesmo ao contrário, enquanto resultantes de uma atividade
produtiva alienada).

"Sendo a declividade de um rio função da quantidade e textura dos detritos ou carga, a


alteração dessa quantidade, resultante de incrementos erosivos, mantida a declividade, leva
portanto ao assoreamento, acarretando a mudança do padrão fluvial".

Além de modificar as estruturas do relevo, as ações antropogeomorfologicas atuam


negativamente nas dinâmicas da natureza ao, por exemplo, assorear um rio e levantar seu
fundo, dificultando seu escoamento e contribuindo para alagamentos.

A originalidade do Período Tecnógeno ou Quinário consiste portanto em que, conforme


sintetiza Oliveira (1995), "as novas coberturas pedológicas e as novas formações
geológicas, que se encontram em processo de geração, estão fortemente influenciadas pela
ação do homem".

No entanto, deve ser lembrado mesmo que, ao contrário, a ação humana pode se efetuar
no sentido da amenização dos processos naturais, como nas áreas de estabilidade
morfodinâmica de origem antrópica definidas por Ross (1991).
TEORIA DOS SISTEMAS

A teoria geral de sistemas se desenvolve a partir das formulações do biólogo L. Von


Bertalanffy que, em 1940, afirma ser necessário tratar os problemas que cercam os seres
humanos como "típicos de sistemas", considerando seus contornos, seus componentes e
as relações entre as partes. Esse autor lança o desafio da construção de uma disciplina que
tivesse como objetivos principais investigar isomorfismos de conceitos, leis e modelos em
campos diferentes; e ajudar nas transferências úteis entre os campos, promovendo a
unidade das ciências.

Os princípios da teoria geral de sistemas reproduzem idéias previamente desenvolvidas


para entender sistemas biológicos e incluem (MORGAN, 1996):

1 homeostase – auto-regulação para manter um estado estável; sendo obtida através de


processos que relacionam e controlam a operação sistêmica pelo mecanismo da
retroalimentação (desvios de algum padrão ou norma desencadeiam ações de correção);
2 entropia/entropia negativa – sistemas fechados tenderiam ao desaparecimento pela
entropia; sistemas abertos buscam a auto-sustentação, importando energia do ambiente
para atingir condições de estabilidade;
3 estrutura, função, diferenciação e integração – estando intrinsecamente inter-relacionados
permitem a autosustentação;
4 requisito da variedade – relacionada com a idéia de diferenciação e integração, afirma que
os mecanismos regulatórios internos precisam ser tão diversificados quanto a diversidade
do ambiente com o qual se relacionam;
5 eqüifinalidade – em um sistema aberto podem existir muitos modos diferentes de chegar a
um dado estado final, ou seja, a estrutura do sistema em um dado momento não é mais que
um aspecto ou manifestação de um processo funcional mais complexo (ela não determina o
processo);
6 evolução do sistema – capacidade que depende da habilidade de mover-se para formas
mais complexas de diferenciação e integração, e para maior variedade, facilitando a
habilidade de lidar com desafios e oportunidades colocadas pelo ambiente (envolve
processos cíclicos de variação, seleção e retenção de características selecionadas).

Outro aspecto dessa abordagem envolve a concepção do sistema contendo o todo dentro
do todo. Assim, sistemas contêm subsistemas que, por sua vez, podem ser sistemas
abertos e que, portanto, interagem entre si, com o sistema ao qual pertencem e com o
ambiente.

Teoria da Complexidade:

"A organização cria ordem (criando o seu próprio determinismo sistêmico), mas também
desordem: por um lado, o determinismo sistêmico pode ser flexível, comportar suas zonas
de aleatoriedade, de jogo, de liberdades; por outro, o trabalho organizador, como já
dissemos, produz desordem (aumento de entropia). Nas organizações, a presença e a
produção permanente da desordem (degradação, degenerescência) são
inseparáveis da própria organização. O paradigma da organização comporta, portanto,
nesse plano, igualmente uma reforma do pensamento; doravante, a explicação já não deve
expulsar a desordem, já não deve ocultar a organização, mas deve conceber sempre a
complexidade da relação organização - desordem - ordem."

ABORDAGEM SISTEMICA E COMPLEXIDADE NA GEOGRAFIA (LIMBERGER, 2006)

DEFINIÇÃO DE SISTEMA: Neste sentido, uma definição muito interessante encontrada em


Morin (1997, p. 99) é a de Ferdinand de Saussure. Em 1931 ele diz que um “sistema é uma
totalidade organizada, feita de elementos solidários só podendo ser definidos uns em
relação aos outros em função de seu lugar nesta totalidade” (grifo meu), no qual se destaca
o conceito de organização, articulando-o ao de totalidade e ao de inter-relação, bem como o
de hierarquia.

Ainda neste sentido, dentre os vários conceitos existentes sobre sistema, alguns autores
colocam que para se caracterizar um sistema é necessário que exista qualquer con-junto de
objetos que possa ser relacionado no tempo e no espaço. No entanto, outros dizem que
além de relações é necessário que haja uma finalidade, a execução de uma função por
parte desse conjunto inter-relacionado, para que possa ser considerado como um sistema
(CHRISTOFOLETTI, 1979).

Basicamente, segundo o critério funcional, proposto por Forster Rapoport e Trucco, os


sistemas são classificados em isolados e não isolados. Os isolados são aqueles onde não
ocorrem trocas de energia nem de matéria com outros sistemas. Já os não-isolados podem
ser divididos em fechados e abertos: nos fechados ocorre troca apenas de energia, e nos
abertos existe troca de energia e de matéria (CHRISTOFOLETTI, 1999).

Um sistema é composto por matéria, energia e estrutura (CHRISTOFOLETTI, 1979, p 8). A


matéria se caracteriza pelo material que será mobilizado através do sistema, é aquilo que
vai se movimentar. A energia se caracteriza pelas forças que fazem o sistema funcionar,
“gerando a capacidade de realizar trabalho”. Já a estrutura é constituída pelos “elementos e
suas relações, expressando-se através do arranjo de seus componentes” (Idem, p. 13).

Considerando-se o âmbito da Geografia em particular, a abordagem sistêmica favoreceu e


dinamizou o desenvolvimento da chamada “Nova Geografia”. Serviu, nesta ciência, para
uma melhor focalização das suas pesquisas e para delinear com maior exatidão o seu setor
de estudo, permitindo também reconsiderações de seus conceitos e uma revitalização de
vários setores, com destaque para a Geomorfologia.

Assim, através da análise de sistemas e sua complexidade, pode-se criar conhecimentos


sobre a natureza e sua estrutura, os elementos que a compõem, saber a maneira como uns
influenciam os outros, o papel e função de cada um dos componentes e como o homem e
suas atividades modificam a organização espacial de um dado território (VEADO, 1998).
Entendendo-se como a natureza funciona pode-se também buscar resolução para os
problemas que o homem enfrenta.

GEOECOLOGIA DA PAISAGEM

O objeto inicial da análise da Geoecologia da Paisagem é a paisagem natural, dentro de


uma concepção de estudo que a concebe como uma realidade geográfica. No enfoque
geoecológico, ela é interpretada como uma conexão harmônica de componentes e
processos, intrinsicamente integrados. Nesse sentido, a sua análise e interpretação requer
uma abordagem sistêmica.

Na concepção de Rodriguez et al (2010), a Geoecologia da Paisagem é uma ciência de


caráter ambiental, que propicia uma contribuição fundamental para a análise e diagnóstico
das bases naturais de determinado espaço geográfico. Ela oferece fundamentos teórico-
metodológicos para a implementação de ações de planejamento e gestão ambiental,
direcionados à implantação de modelos de uso e ocupação voltados à sustentabilidade
socioambiental. No contexto atual, a intensidade da ocupação humana e as transformações
ambientais, leva a que a paisagem seja compreendida como um conjunto constituído por
feições naturais, sociais e culturais.

A fundamentação científica da Geoecologia da Paisagem constitui um sistema de métodos


e procedimentos técnicos de pesquisa, cujo maior intuito é propiciar o estabelecimento de
um diagnóstico integrado. As bases fornecidas pelo diagnóstico, irão subsidiar informações
necessárias para a instituição de programas de desenvolvimento socioeconômico, e seus
devidos planos de gestão e manejo territorial.

GEODIVERSIDADE E GEOCONSERVAÇÃO

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