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R. Ra’e Ga DOI: 10.

5380/raega
Curitiba, v.47, n.1. p. 6 -20, Jul/2020 eISSN:2177-2738

GÊNESE DA TEORIA DOS GEOSSISTEMAS: UMA DISCUSSÃO COMPARATIVA DAS ESCOLAS


RUSSO-SOVIÉTICA E FRANCESA

GENESIS OF THE THEORY OF GEOSYSTEMS: A COMPARATIVE DISCUSSION OF THE RUSSO-


SOVIET AND FRENCH SCHOOLS
Cristina Silva Oliveira1, Roberto Marques Neto2

RESUMO
A teoria geossistêmica não integra uma corrente de pensamento delineada por conceitos padronizados na ciência
geográfica. Contrariamente, pelo menos duas escolas com diferentes abordagens filosófico-metodológicas aparecem
com propostas conceituais e interpretativas do conceito: a russa-soviética e a francesa. Estas escolas apreenderam
por ângulos diferentes a dimensão antrópica, espacial e escalar do geossistema. O objetivo do trabalho é expor a
gênese da escola Russo-soviética e da escola Francesa de geossistemas e apresentar, em termos sucintos, o que
distingue suas maneiras de tratar os problemas ambientais e sociais. Em seguida, será feita uma comparação sobre
suas raízes históricas, influências teóricas, com especial atenção à atitude de cada uma frente a duas questões que
são fundamentais no estudo dos geossistemas: 1) como cada escola interpreta a questão escalar em suas análises; 2)
como cada escola explica a relação entre homem e natureza. Interpreta-se a gênese das escolas precursoras no
desenvolvimento do conceito, com enfoque nas diferenças atribuídas ao componente ambiental e problemas de
ordem antrogênica. Levando em consideração que as duas escolas de pensamento tenham se desenvolvido de modo
independente, busca-se a partir das explanações do texto, sugerir que sejam intensificados os intercâmbios entre as
duas escolas de pensamento, de modo a contribuir para um melhor entendimento das principais questões que
permeiam o paradigma dos geossistemas na Geografia.
Palavras chave: geossistemas; estudos da paisagem; homem e natureza.
ABSTRACT
Geosystemic theory does not integrate a stream of thought outlined by standardized concepts in geographical
science. Conversely, at least two schools with different philosophical-methodological approaches appear with
conceptual and interpretive proposals of the concept: the Russian-Soviet and the French. These schools seized by
different angles the anthropic, spatial and scalar dimensions of the geosystem. The purpose of this study is to expose
the genesis of the Russian-Soviet school and the French school of geosystems and show, in succinct terms, what
distinguishes their ways of dealing with environmental and social problems. Next, a comparison will be made on their
historical roots, theoretical influences, with particular attention to the attitude of each one to two questions that are
fundamental in the study of geosystems: 1) how each school interprets the scalar question in its analyzes; 2) how
each school explains the relationship between man and nature. The genesis of the precursor schools in the concept
development is interpreted, focusing on the differences attributed to the environmental component and
anthropogenic problems. Considering that the two schools of thought have developed independently, we seek from
the explanations of the text to suggest that the exchanges between the two schools of thought be intensified, in order
to contribute to a better understanding of the main issues. that permeate the paradigm of geosystems in geography.
Keywords: geosystems; landscape studies; man and nature.

Recebido em: 01/03/2018


Aceito em: 24/07/2018

1 Universidade Estadual Paulista em Presidente Prudente (UNESP). Emails: chrisoliveira.jf@gmail.com


2 Universidade Estadual de Juiz de Fora (UFJF). Email: roberto.marques@ufjf.edu.br

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1. INTRODUÇÃO geossistema como uma taxonomia têmporo-


O vocábulo geossistema é utilizado na espacial da paisagem. Posteriormente, a partir de
ciência geográfica para caracterizar uma suas aproximações com N. Beroutchauchvilli,
perspectiva teórica que estimula muitas Bertrand passa a compreender o geossistema
discussões, aplicações e críticas. Se por um lado como um conceito (CAVALCANTI, 2013) e
existem dúvidas sobre o sentido preciso do trabalhá-lo em sua dimensão teórica. Em 1991,
conceito, por outro pode-se observar o grande Bertrand propõe o sistema tripolar GTP
número de trabalhos que utilizam a abordagem ((Geossistema (fonte), Território (recurso) e
sistêmica como base teórico-metodológica sem Paisagem (identidade)) (BERTRAND, 1991;
considerar precisamente as diferenças que a BERTRAND; BERTRAND, 2007). Na sua essência, o
distingue de outras perspectivas teóricas, novo modelo teórico proposto busca a
procedimentos metodológicos e ao tipo de compreensão do meio ambiente através dos
problema que ela suscita. No entanto, os conceitos de geossistema, paisagem e território,
desalinhamentos conceituais dissipam-se quando articulando sociedade e natureza e
se admite que o pensamento geossistêmico não transcendendo os estudos setoriais da geografia
compõe uma corrente de pensamento delineada (NEVES, 2017). Em síntese, este arranjo teórico
por conceitos padronizados na ciência geográfica. esforçou-se para construir uma proposta
Ao contrário disso, pode-se identificar pelo menos epistemológica capaz de colocar o conjunto da
duas concepções com diferentes expedientes problemática ambiental no quadro da “natureza e
metodológicos, decorrentes das culturas da sociedade” e de construir uma proposta de
científicas e do potencial técnico de cada país em método objetivando definir os conceitos, as
que a teoria foi desenvolvida/aplicada, bem como práticas metodológicas e as técnicas ou
de fatores de ordem histórica tangentes a estas tecnologias de trabalho.
espacialidades. A abordagem se refere aqui aos No Brasil, tanto a proposta teórica e
sistemas russo-soviético e francês. metodológica de Viktor Sochava quanto a de
No âmbito da Escola Russo-soviética o Georges Bertrand tiveram grande repercussão.
surgimento da concepção geossitêmica está Estas influências ajudaram a traçar, no país,
ligado ao nome de Viktor Borisovich Sochava, e na algumas trajetórias teóricas específicas nos
sua estruturação pode-se atribuir grande estudos da paisagem e dos geossistemas. Este
relevância ao papel desempenhado pelos artigo discute questões relativas à teoria e ao
institutos e estações experimentais de pesquisa, método dos geossistemas mediante a
que tem por função primeira coletar dados em interpretação dialógica dos principais trabalhos
caráter permanente e contínuo voltados para a representativos dessas escolas, temporalizando-
interpretação da estrutura, funcionamento, se no período que perfaz desde sua fase de
dinâmica e evolução do geossistema, imprimindo formulação e expansão no final dos anos 1960 e
um caráter deveras analítico para a Geografia início dos anos 1970 até os dias atuais, discutindo
Física, pelo menos no que se refere a forma de dialógica e comparativamente os preceitos da
tratamento dos dados brutos. ciência da paisagem inerentes à tradição
No que diz respeito à Escola Francesa, as geográfica russo-soviética, e aqueles pertencentes
primeiras considerações sobre o geossistema ao sistema de pensamento francês construído em
aparecem na proposição teórica e metodológica torno da figura de Georges Bertrand.
apresentada por Bertrand em 1968 em artigo
intitulado “Paisagem e Geografia Física Global: 2. ORIGENS DA TEORIA DOS GEOSSISTEMAS:
esboço metodológico” publicado no periódico RAÍZES HISTÓRICO-GEOGRÁFICAS DO
Revue des Pirineus et au Soud, traduzido e CONCEITO NA RÚSSIA E NA FRANÇA
publicado no Brasil em 1971. Nesse contexto
histórico, o geógrafo interpreta o conceito de

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Nesta seção do texto busca-se realizar Nesse contexto histórico, as viagens de exploração
uma contextualização histórica, contemplando os desses naturalistas foram motivadas pelo
fatores e descobertas no âmbito científico geral e crescente interesse nos estudos dos fenômenos
específico da Geografia que subsidiaram o naturais e pesquisas sobre flora, fauna e geologia.
desenvolvimento da teoria e que dão suporte O reflexo historiográfico dessas viagens foi a
teórico para as pesquisas na atualidade. Através intensificação das pesquisas e acúmulo de
de uma análise histórica, busca-se entender qual materiais cartográficos e descritivos da paisagem
foi a gênese do conceito na Rússia e na França; (SNYTKO, 2014).
explicar as suas características distintivas, As primeiras manifestações geográficas
relacionando-as não só às tradições científicas que científicas originadas na Rússia datam do final do
são autóctones destes países, mas também do século XIX, principalmente sob influência das
cenário científico europeu. escolas geográficas de Anoutchine e de
Dokoutchaev (FROLOVA, 2007). Segundo Claval
2.1.Desenvolvimento do pensamento (2006), é com Dokoutchaev que a abordagem
global no estudo das paisagens assume sua forma
geossistêmico na Rússia
mais original. Em seus estudos, o russo fica
Na literatura geográfica russa, o conceito impressionado com a uniformidade, com a escala
de geossistemas ocupa lugar central no âmbito do país e das paisagens vegetais e com as formas
das discussões vinculadas aos estudos da de agricultura com as quais estão ligadas. Acentua
geografia física, principalmente aqueles que o caráter integral das associações entre os solos,
versam mais especificamente da paisagem. O vegetação e as condições climáticas, e que foi o
desenvolvimento da teoria dos geossistemas de mote para sua proposição acerca dos fatores de
Sochava foi fundamental na construção da formação do solo, forjando na crônica científica
geografia física moderna, não só na Rússia como uma Pedologia fortemente apoiada na ciência da
em outros países. paisagem.
Na Rússia, sua importância está atrelada Ainda no plano teórico, Dokuchaev no
a fundação do Instituto de Geografia da Sibéria e final do século XIX publica um conjunto de artigos
do Extremo Oriente e da Divisão Siberiana da nos quais formaliza uma perspectiva teórica
Academia de Ciências da URSS (atualmente antiga, relacionada à compreensão do espaço
Instituto de Geografia V.B. Sochava e Academia de terrestre a partir da configuração geográfica
Ciências da Rússia). Em decorrência do derivada das interações entre a natureza viva e
desenvolvimento do conhecimento nesses não viva. O conjunto destes artigos recebeu o
institutos (cobertura regional dos postos de nome de Teoria das Zonas Naturais e refletia a
monitoramento, previsão e predição das análises preocupação em explicar padrões geográficos
e duração das investigações), eles se tornaram resultantes do controle latitudinal (zonas
centros científicos de referência das escolas de horizontais) e altitudinal (zonas verticais) sobre os
geomorfologia, geoquímica da paisagem, climas, formas de relevo, drenagem, solos e seres
hidrologia paisagística, geografia do vivos, determinando assim potenciais de uso da
desenvolvimento econômico, geografia terra (CAVALCANTI, 2013).
populacional, Geografia médica e cartografia Com base nas tradições de V.V.
(RAGULINA, 2016; SEMENOV; SNYTKO, 2013). Dokuchaev e de seu discípulo L.S. Berg, uma nova
escola da morfologia da paisagem chefiada por
2.2. Raízes Histórico-Geográficas do Conceito Solncev foi desenvolvida em Moscou. Esta
abordagem, concentrando-se principalmente no
O movimento de construção do
mapeamento em grande escala de unidades
pensamento geográfico russo tem suas raízes mais
tipológicas de paisagem e numa taxonomia
profundas vinculadas aos trabalhos de
rigorosa dessas unidades, tornou-se um conceito
naturalistas e viajantes datados da Idade Média.

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de liderança na Geografia Física complexa na do país. Na década de 1950, por exemplo, um


União Soviética (ROOSAARE, 1994). complexo trabalho de levantamento das
Estes categorizados cientistas da condições geográficas no território da URSS,
paisagem ofereceram métodos concretos de realizado pela Academia de Ciências da URSS,
investigação científica e definiram a paisagem conduziu numerosas expedições solo-botânico
como objeto integrador da Geografia. Nesse chão para a avaliação da terra em diferentes regiões do
fértil é que foram semeadas as bases para uma país. A pesquisa estava em estreita conexão com
longa história de formação da ciência da paisagem o levantamento de informações sobre a drenagem
na Rússia, que se prolonga pelo século seguinte, de zonas úmidas, com a construção de novas
vindo a culminar na Teoria dos Geossistemas. cidades, estradas, assentamento e outros
Intimamente inserida em um contexto (NATUREZA, 2014).
político ideológico, o desenvolvimento da Teoria Neste contexto ganham relevo os
dos Geossistemas na Rússia aparece investimentos do governo soviético na construção
sobremaneira influenciado pelas representações de estações de pesquisa estacionárias. A esse
espaciais inseridas na ótica socialista da extinta respeito, Sochava chama atenção que através do
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. método de ordenação integrada viabilizada pela
O discurso geográfico preconizado por rede de estações geográficas na Sibéria, o
este momento político-cultural incentiva o funcionamento dos diversos regimes naturais e
desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico e sua integração diretamente em campo crescente
experimental de uma Geografia Física voltada contribuiu para as análises espaciais geográficas
para resolução de questões de ordem prática, ao permitir o conhecimento dos processos
visando subsidiar o desenvolvimento do quadro ambientais e consequente compreensão dos
geográfico para a organização territorial do país. A mecanismos formadores e reguladores da
influência do então instituído regime político na paisagem. Em outros termos, a rede de estações
Rússia acentua as tendências já existentes no permanente favorecia o estudo dos ritmos de
desenvolvimento da Geografia da Paisagem no fenômenos que ocorrem na natureza, fornecia
qual, papel de destaque era conferido às uma base racional para a tipologia físico-
investigações geográficas e sua relação direta com geográfica dos geossistemas e possibilitava a
a prática. Neste período os geógrafos deveriam identificação das regularidades estrutural-
subsidiar cientificamente os planos soviéticos de dinâmicas, a fim de obter uma visão mais
transformação da natureza, contribuindo assim detalhada sobre as leis que regem os processos
com os objetivos de construção política de naturais (BAZHENOVA; PLYUSNIN; SNYTKO, 2014).
orientação socialista (FROLOVA, 2007). Isso foi tão evidente que as estações foram
Neste período foram realizadas grandes qualificadas como físico-geográficas complexas
expedições geográficas para recenseamento e por permitirem a execução de simulações
reconhecimento multitemáticos de territórios numéricas, geração de modelos matemáticos e
infindáveis da Rússia asiática. Estas expedições investigação da evolução temporal dos elementos
estavam associadas aos planos de construção de geográficos (REIS JUNIOR; HUBSCHAMAN, 2007).
usinas hidrelétricas, prospecção de depósitos de Dessa forma, durante a década de 1970
recursos minerais e à necessidade de colonização na URSS uma grande importância foi dada aos
de vastos espaços próximos, como o Ural, Cáucaso estudos da dinâmica da paisagem. Nesse
e Sibéria (FROLOVA, 2006). Mas não só a isso, já contexto, pesquisas detalhadas sobre as
que o país necessitava de informações ambientais biogeocenoses, meteorologia e hidrologia, tendo
e políticas completas e objetivas sobre grandes como aporte experimental a observação
áreas contidas em seus territórios (mapas em estacionária e medição nestes domínios,
escala continental detalhados com precisão fundamentaram a introdução de uma abordagem
matemática), para desenvolvimento econômico de sistemas e modelagem nos estudos dos

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geossistemas, em oposição aos estudos centrais de reflexão – Teoria Geral dos Sistemas e
descritivos e mapeamentos tradicionais materialismo histórico-dialético. Essa última linha
(ROOSAARE, 1994). Nessa perspectiva, assumem de pensamento coincide substancialmente não
destaque os avanços nos estudos geográficos apenas com os trabalhos de Sochava, mas
realizados pela Universidade de Moscou que também com os de uma série de autores russos.
foram publicados em uma série de produtos A geografia soviética foi apoiada
cartográficos e atlas integrados onde constam filosoficamente pelo materialismo dialético em
informações da regionalização físico-geográfica da uma visão marxista que poderia ser considerada
URSS com mapas e textos descritivos (SNYTKO, como clássica (RODRIGUEZ; SILVA, 2010). Na
2014). perspectiva materialista toda a realidade é
Ao longo desse período diversas fontes reduzida à matéria, embora o próprio conceito de
bibliográficas, cartográficas e descritivas da matéria possa variar bastante. De modo geral,
paisagem foram produzidas associadas à evolução portanto, o materialismo nega a existência da
das práticas, do saber-fazer e dos saberes alma ou da substância pensante cartesiana, bem
geográficos desenvolvidos por grupos como a realidade de um mundo espiritual ou
interdisciplinares de estudo da paisagem. É a divino cuja existência seria independente do
partir desse acúmulo de materiais e da mundo material. O próprio pensamento teria uma
incorporação teórico-metodológica da análise origem material, como um produto dos processos
sistêmica que Sochava ultrapassa o campo de de funcionamento do cérebro (ABBAGNANO,
origem nos estudos da paisagem ao suprimir 2000).
deficiências teóricas de interpretação. Diante disso, Marx formula um método a
Assim, estendendo a teoria sistêmica de partir da ideia de dialética. Como o
Bertalanffy aos domínios da Geografia Física, “reflexo das formas universais do ser e
Sochava em 1963 introduz o vocábulo das relações que se manifestam no
geossistema nos estudos geográficos designando mundo material e no conhecimento, as
uma categoria de sistemas abertos, categorias e as leis da dialética
hierarquicamente organizados e que estabelecem permitem a formulação dos
conexões com a esfera socioeconômica imperativos, aos quais devem submeter
(CHRISTOFOLETTI, 1999). A importância a atividade do pensamento e a
fundamental da doutrina dos geossistemas é o atividade prática” (CHAPITULIN, 1982,
estabelecimento de uma base teórica e p.2).
metodológica para abordar as questões Constituindo-se como princípios do
relacionadas com a avaliação e previsão do estado pensamento dialético, do método dialético do
do meio ambiente. conhecimento e da transformação criativa da
Notavelmente, os esforços do autor vão realidade, o conhecimento desses princípios eleva
em direção a uma tendência inaugurada com a o nível do pensamento, alarga suas possibilidades
Teoria Geral dos Sistemas que buscava inverter a criativas (CHAPITULIN, 1982). No decorrer desse
lógica da fragmentação e especialização nos processo Marx reitera a necessidade de
campos científicos, embora na Rússia os estudos considerar a realidade socioeconômica de
da paisagem já sinalizassem para abordagens determinada época como um todo articulado,
integrativas como nos trabalhos de Dokuchaev no atravessado por contradições específicas, entre as
final do século XIX (proposta de classificação dos quais a da luta de classes. Em consequência dessas
solos) e Vernadsky com a publicação “The ideias, mas graças, sobretudo, à contribuição de
Biosphere” em 1926 na Rússia (VERNADSKY, Engels, a dialética se converte no método do
1997). materialismo e no processo do movimento
Os textos produzidos por Sochava (1963) histórico que considera a Natureza:
indicam que sua obra se originou de duas linhas

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“a) como um todo coerente em que os desenvolvimento de bases científicas para o


fenômenos se condicionam estudo da complexidade dos geossistemas
reciprocamente; b) como um estado de formulado por Sochava influenciou a produção de
mudança e de movimento; c) como o inúmeros textos na União Soviética, França e
lugar onde o processo de crescimento América Latina tornando-se alicerce para o estudo
das mudanças quantitativas gera por dos geossistemas (MELNYK, 2008).
acumulação e por saltos, mutações de A importância teórica e metodológica
ordem qualitativa: d) como a sede das que a teoria dos geossistemas assumiu na Rússia
contradições internas” (Marx- no mapeamento, classificação e previsão do
Engels)(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, comportamento dos geossistemas está
p.54). relacionada ao crescente interesse na
Assim, o materialismo dialético de Marx transformação da esfera paisagem, no
se caracterizaria como teoria filosófica que planejamento do desenvolvimento econômico,
fundamentaria a concepção científica dos estudos utilização dos recursos naturais, no equilíbrio dos
da paisagem e geossistemas na Rússia. espaços e dos meios naturais, e bom
A noção de natureza, como pode ser visto funcionamento dos ecossistemas (SNYTKO;
a partir do pensamento dialético, foi baseada na SEMENOV, 2008). Neste contexto de
compreensão da natureza como totalidade. preocupação global com as consequências
Assim, a paisagem natural era compreendida negativas das alterações do meio ambiente, o
como um todo dialético, formado por estudo e mapeamento estrutural e dinâmico dos
componentes naturais que interagiam como pares geossistemas tornou-se relevante no
opostos dialéticos (RODRIGUEZ et al, 2010). equacionamento dos problemas inerentes ao
Munido do método materialista e pelo conhecimento das condições ambientais locais,
sistêmico, Sochava desenvolve o conceito de suas variações espaciais e modificações sob a
geossistema fortemente influenciado pelas influência de diferentes atividades econômicas,
ciências naturais e experimentais e pela crescente avaliação dos limites naturais dos geossistemas,
ascensão da ecologia. gestão e proteção do meio ambiente. Autores
Inicialmente, o novo pressuposto teórico- inscritos em linha de pesquisa soviética sustentam
metodológico da ciência foi tratado como um que os trabalhos de Sochava constituem os pontos
enfoque estrutural-dinâmico na ciência da de referência e os parâmetros da reflexão
paisagem (SOCHAVA, 1967 apud SNYTKO; geossistêmica em nosso tempo (LYSANOVA;
SEMENOV, 2008). As ideias fundamentais relativas SEMENOV; SOROKOVOI; 2011; SUVOROV; KITOV,
à ciência dos geossistemas foram avançadas por V. 2013).
B. Sochava no 5º Congresso da URSS Geographic A abordagem geossistêmica reverberou
Society, em 1970, em seu artigo intitulado primeiramente na França, a partir das
"Geografia e ecologia", traduzido para o inglês no formulações de Georges Bertrand e de suas
ano seguinte (SOCHAVA, 1971). Além disso, na interfaces com o canal de comunicação eslavo.
sexta edição do mencionado congresso, em 1975,
o jornal "Ciência dos Geossistemas" foi 2.3.Geossistemas pela interpretação francesa
apresentado pelo preconizador do conceito Sabidamente, a influência da Geografia
(SOCHAVA, 1975 apud SNYTKO; SEMENOV, 2008). Francesa no desenvolvimento do pensamento
Em caráter sintético, os postulados mais geográfico brasileiro é histórica e remonta sua
importantes da concepção geossistêmica foram origem acadêmica com a implantação do curso de
estabelecidos pelo autor em uma monografia Geografia da USP e, consequente presença de
intitulada “Introdução à Teoria dos Geossistemas" professores franceses nas universidades
(SOCHAVA, 1978). De grande importância para os brasileiras a partir das vindas de Pierre
estudos integrados da Geografia Física, o Deffontaines e Pierre Monbeig. Nesse rol de

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geógrafos de grande influência, toca de forma segundo diferentes ordens de grandeza (TRICART,
mais direta a alçada da presente reflexão a figura 1965). Doravante, a publicação da obra “A Terra,
de Georges Bertrand, geógrafo e geomorfólogo de planeta vivo” em 1972 consolida a transgressão
origem formado pela Université Toulouse – Le holística na Geografia Francesa, nevralgicamente
Mirail/France (REIS JUNIOR, 2012). É nesse abordando as estreitas interdependências entre
contexto mais amplo que a reflexão as manifestações da vida e os diversos elementos
epistemológica sobre a obra de Bertrand deve ser do meio físico-geográfico (TRICART, 1981).
entendida. O cenário histórico do pensamento
A noção de paisagem na Geografia geográfico no qual Bertrand traz a lume sua
Francesa apresenta uma veia culturalista histórica, proposta se temporaliza, portanto, à consolidação
já firmada na concepção de ‘gênero de vida’ da abordagem sistêmica na Geografia Física em
propugnada por Vidal de La Blache, que o sistema de Tricart (1965) figurou como
estabelecendo-se uma lógica de diferenciação de referência fundamental na sua construção
áreas baseada em um princípio de unidade, pelo metodológica. O distinto geógrafo defendia que o
qual os horizontes culturais que habitam geossistema consistia em uma unidade situada
determinada região seriam determinantes para a entre a 4ª e 5ª grandeza têmporo-espacial,
consubstanciação de sua integridade. Nesse ordenamento estabelecido a partir da lógica
sentido, o conceito de paisagem se aproximou do proposta por Jean Tricart. O critério que se impõe
conceito de região entre os geógrafos franceses da em sua abordagem, portanto, é o de compreender
primeira metade do século vinte (ROGERIE e o geossistema em uma ordem escalar hierárquica
BEROUTCHACHVILI, 1991; LEITE, 2006). Vidal estabelecida. No contexto histórico em que foi
defendia que o estudo da Terra deveria partir de publicado este artigo, o autor compreendia o
leis gerais e aplica-las em diversos ambientes a fim geossistema como uma “unidade dimensional
de apreender a fisionomia das diferentes regiões: circunscrita entre alguns quilômetros quadrados e
“cada região é a expressão de uma série particular algumas centenas de quilômetros quadrados”
de causas e efeitos” (HAEBSTERT, et al. 2012, p. (BERTRAND, 1971, p.18).
81). A partir da década de 80 as obras de
A emergência da reflexão de Georges Bertrand assinalaram uma transição importante: o
Bertrand se temporaliza na segunda metade da autor propõe o sistema tripolar GTP (Geossistema
década de setenta, contemporaneamente à (fonte), Território (recurso) e Paisagem
profusão da Teoria Geral dos Sistemas no corpo (identidade)). Nesse sistema, seu principal
teórico e metodológico da Geografia, a começar interesse é reaproximar estes três conceitos para
pela Ecologia da Paisagem alemã, preconizada por analisar como funciona um meio ambiente pelos
Carl Troll em 1939, e o próprio advento do olhares peculiares da Geografia na sua globalidade
conceito de geossistema concebido na antiga (BERTRAND; BERTRAND, 2002). Em suma,
União Soviética. Na França, Jean Tricart avançava apreender as interações entre elementos
por horizontes interpretativos e metodológicos constitutivos referentes ao geossistema (G), ao
que consolidavam um distanciamento cada vez território (T) e à paisagem (P).
maior com a didática de Willian Morris Davis A tríade Geossistema/Território/
calcada na Teoria do Ciclo Geográfico (DAVIS, Paisagem (GTP) é uma tentativa teórica de
1899) em demanda a uma geomorfologia menos compreender a “complexidade-diversidade” do
exclusivista e mais integrativa, pautada na noção ambiente através de uma base policonceitual
de sistemas abertos. Nessa virada epistemológica, (REIS JUNIOR, 2007). Para Bertrand, o GTP é um o
o autor propõe uma nova ordenação têmporo- sistema flexível cujas entradas (caminhos)
espacial dos fatos geomorfológicos terrestres a permitem a análise da totalidade sob três pontos
partir de um princípio taxonômico de organização de vista diferentes. Para o autor, nesse conjunto
da informação que ordenava os fatos geomórficos tripolar, podem ser visualizados três grandes tipos

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de diversidade: uma que está mais ligada aos sua interatividade. Dessa forma, o sistema GTP
fenômenos naturais (geossistema), uma associada (geossistema, território, paisagem) define três
aos fenômenos inerentes à esfera política e campos conceituais, semânticos e metodológicos
econômica e a outra concernente aos aspectos (figura 1). Cada palavra, cada conceito, cada
culturais. objeto é situado em um sistema de coordenadas
Do ponto de vista substantivo, a proposta tripolares e pode ser definido em relação à
teórica GTP é uma concepção de tipo sistêmico distância que os separa dos três conceitos
que se propõe a demonstrar a complexidade do fundadores.
meio ambiente considerando a sua diversidade e

Figure 1 - O sistema GTP. Fonte: BERTRAND; BERTRAND (2007).

Estas três coordenadas abertas em um etc.), e uma entrada vertical


mesmo sistema geográfico traçam três caminhos (geohorizontes); e um conceito
autônomos que correspondem a três categorias temporal e histórico. Ele leva em
espaço-temporal diferentes, mas consideração tanto a evolução
complementares: o geossistema-fonte, o (memória do geossistema) quanto a
território-recurso, a paisagem-identidade. fenologia (estados do geossistema)”
De modo geral, na proposta do autor, o (BERTRAND; BERTRAND, 2007, p.124).
sistema GTP possibilita fornecer caráter cultural à Em termos práticos, Passos (2016)
paisagem, enquanto que o território configura a destaca que na modelagem GTP o pesquisador
entrada que permite analisar as repercussões da deve fazer uma completa revisão bibliográfica
organização e dos funcionamentos sociais e sobre a dimensão epistemológica e sobre a
econômicos sobre o espaço considerado e, o consistência da metodologia (GTP) que será
geossistema é um conceito territorial, uma utilizada. Dessa forma, o autor destaca quais são
unidade espacial bem delimitada e analisada a as etapas essenciais ao estudo do GTP pela via
uma dada escala, ou seja, é um conceito epistemológica bertrandiana, as quais incluem:
naturalista que põe em evidência a interação um inventário pré-paisagístico, ou seja, um
entre seus três componentes: biótico, abiótico, inventário das materialidades, a partir do conceito
antrópico. de geossistema/geocomplexo – geofacies –
“Um conceito espacial que define geótopo e; um inventário dos componentes
unidades espaciais a partir de uma imateriais/ideias, a partir da realização de
grade taxocorológica com duas entrevistas focando a problemática da percepção
entradas: uma entrada horizontal da paisagem, ou seja, das representações das
(geótopo, geofácies, geocomplexo pessoas que habitam nas áreas de estudo.

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Por essa linha metodológica o meio elementos do "potencial


ambiente antes de ser uma questão social é uma ecológico" (hidrologia e
questão de natureza, portanto necessário a dissecação, processos morfo-
representação da dimensão espacial do pedogenéticos e modelado), assim
geossistema a partir dos instrumentos, técnicas como os fatores que contribuem
cartográficas e observações empíricas, nas escalas para sistematizar o geocomplexo,
horizontal: Geótopo (1:10000), Geofácies fazer uma avaliação das
(1:25000) e Geocomplexo (1:100000/200000); e articulações entre as escalas de
na escala vertical/geohorizontes – rocha, perfil do atuação clima: mesoclimas,
solo, superfície do solo e pirâmide de vegetação topoclimas e microclimas.
(PASSOS, 2016). 4) Exploração biológica do potencial
É importante lembrar que o geossistema ecológico - Os geocomplexos e os
é também um conceito temporal e histórico e, geofácies são definidos em função
portanto, é preciso considerar tanto a evolução (a do estado de biostasia ou de
memória do geossistema) como a fenologia, isto resistasia e da dinâmica
é, os tempos/estádios do geossistema: a) tempo progressiva, regressiva ou
instantâneo (registro fotográfico em climácica (equilíbrio)
momentos/dias de ocorrência de fenômenos
excepcionais: fortes chuvas, secas, queimadas A partir de 2007 Georges Bertrand
etc.; (b) tempo diário (dia e noite): medidas de propõe uma nova ferramenta de estudo do meio
temperaturas, por exemplo; (c) tempo ambiente: o protocolo didático SPT (Sistema-
meteorológico; (d) tempo sazonal: registro Paisagem-Território). Como sugere o conteúdo do
fotográfico da fenologia e das cores das estações artigo “Un paisaje más profundo de la
do ano. epistemología al método”, os estudos da
Em exposição das principais etapas do paisagem devem passar por uma vertente
trabalho com GTP Passos, por meio de um projeto epistemológica-interdisciplinar, e por um viés
temático realizado via Fapesp (2015), mostra metodológico, chegando-se no pólo didático
como devem ser realizadas os procedimentos (BERTRAND, 2008).
metodológicos e as análises dos dados. O O que se afigura do exposto é que a
pesquisador deve considerar: trajetória epistemológica e também filosófica do
geógrafo francês mudou consideravelmente com
1) As dominantes estruturais – o passar dos anos. Os conceitos de geossistema,
Análise do arcabouço sobre o qual território e paisagem passaram a ter diferentes
evolui a paisagem, isto é, o centralidades nas suas propostas teóricas. Em
substrato geológico- 1968, no artigo “Paisagem e Geografia física
geomorfológico que constitui o Global: esboço metodológico” a centralidade foi
suporte da atual paisagem das dada ao conceito de paisagem, o autor considera
áreas de estudo. nesse contexto, o geossistema como uma unidade
2) As condições pedológicas hierárquica. Na década de 90 aparece nas
relacionadas ao substrato reflexões do autor o modelo tripolar GTP, onde a
geológico–Diagnóstico e avaliação paisagem conforma uma noção cultural; e com a
do solo como nexo entre o passagem dos anos 2006/2007 emerge o mais
potencial ecológico e a exploração atualizado protótipo teórico do autor:
biológica, paisagem/território. A fusão conceitual
3) Condições climato-hidrológicas – paisagem/território busca reconhecer que a
Tendo em vista que em função do paisagem pressupõe diversidade e que no “âmbito
clima, organizam-se os demais de um tratamento científico, os caracteres

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RUSSO-SOVIÉTICA E FRANCESA

próprios da noção (representatividade cultural, geógrafos brasileiros nas décadas iniciais do


campo sígnico, efeito experiencial e de vivência) desenvolvimento da abordagem geossistêmica no
podem ser agregados as implicações da dimensão país, a tentativa de Bertrand em enquadrar
territorial” (REIS JUNIOR, 2012, p.36). A seguir será taxativamente um sistema em uma grandeza
discutido comparativamente escola russa e escola estabelecida a priori não passou sem críticas por
francesa de geossistema. parte de alguns autores (PENTEADO-ORELLANA,
1986; MONTEIRO, 2000), que refutaram esta
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES concepção defendendo que a delimitação de um
3.1. As escolas Russo-soviética e Francesa: um sistema é, antes de mais nada, um ato de
diálogo entre duas concepções sobre abstração que, em grande medida está ligado ao
geossistemas conhecimento e percepção ambiental do
As discussões precedentes fazem ver que pesquisador.
a abordagem sistêmica teve entrada na Geografia Além disso, Sochava frisava que o
por meio de diferentes matrizes teórico- geossistema deve ser concebido como um sistema
metodológicas, construídas em diferentes bases natural que interage com a esfera socioeconômica
empíricas e contextos históricos e ideológicos por meio de conexões (CHRISTOFOLETTI, 1999), o
distintos, ainda que o surgimento legítimo tenha que difere da organização feita por Bertrand
se dado na antiga União Soviética. conjugando o meio físico no potencial ecológico, a
A breve contextualização histórica esfera biótica no que chamou de exploração
traçada nos tópicos anteriores ajuda a biológica, além da ação antrópica. Outra
compreender os vários traços diferenciais das discordância importante se refere à classificação
concepções de Sochava e Bertrand. linear de Bertrand das zonas aos geótopos,
Primeiramente, a concepção de Sochava acerca diferente da lógica bilateral de Sochava que
dos geossistemas é diferente daquela que discerne as integridades homogêneas (geômeros)
Bertrand propôs em 1968 para o seu modelo de e heterogêneas (geócoros), respectivamente as
Geografia Física Global, poucos anos depois do tipologias e os objetos ou indivíduos geográficos,
geógrafo soviético. conforme apontado em comunicações diversas
A primeira dissonância ocorre na origem, (SOCHAVA, 1971, 1978, 1978a).
conforme destacado por Cavalcanti (2013), que Georges Bertrand se aproximou dos
esclarece que enquanto Viktor Sochava concebe o geógrafos soviéticos, fato este determinante para
geossistema como um conceito, Bertrand o uma guinada na sua concepção sobre o
interpreta como uma categoria taxo-corológica geossistema, tendo como marco bibliográfico o
posicionada entre algumas dezenas e algumas artigo intitulado “Géosystème ou Système
centenas de quilômetros quadrados, isto é, uma territorial naturel” (BEROUTCHACHVILI;
unidade com posição hierárquica definida entre o BERTRAND, 1978), publicado na Revue
topo das unidades inferiores e a base das unidades Géographique des Pyrénés et du sud-ouest, onde
superiores, de acordo com a hierarquização fica clara a retratação do geógrafo francês no
proposta pelo autor. O conceito construído por sentido de passar a entender o geossistema como
Sochava é mais complexo, e entende que os um conceito, ao gosto dos geógrafos soviéticos.
geossistemas se manifestam em qualquer Contudo, conforme salienta Cavalcanti (2013), a
grandeza escalar (de alguns metros até toda influência da obra de Bertrand através do trabalho
superfície terrestre): “toda categoria dimensional de “Paisagem e Geografia Física Global” é
de geossistemas (topológica, regional, planetária) identificada na produção bibliográfica dos
possui suas próprias escalas e peculiaridades geógrafos brasileiros, em muitos casos, usado
qualitativas da organização geográfica” como sinônimo da concepção de Sochava. Dessa
(SOCHAVA, 1977, p.10). A despeito do viés forma, marcada produção bibliográfica é
bertrandiano ter sido mais acolhido entre os produzida no Brasil sobre os geossistemas

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RUSSO-SOVIÉTICA E FRANCESA

comungando com uma concepção bertrandiana esquematiza a relação entre o geossistema


renunciada pelo seu próprio formulador ainda no (interação dos componentes internos) e as
final da década de 1970. No entanto, mesmo influências externas na sua estrutura, ressaltando
diante da relativa convergência que se estabelece, a ideia de conexão supramencionada.
a abordagem geossistêmica prosseguiu por Por outro lado, a Escola Francesa
caminhos próprios na União Soviética e sua esfera interpreta a atividade humana como um dos três
de influência em relação ao pensamento francês, componentes geossistêmicos: potencial ecológico
sempre influente na Geografia ocidental. + exploração biológica + ação antrópica (REIS
Notoriamente, outro ponto importante JUNIOR, 2006). Significa dizer que os
pelo qual as concepções francesa e russo-soviética geossistemas, para a Escola Francesa, além de
se diferenciam diz respeito ao papel representarem uma “abstração teórica de
desempenhado pela ação antrópica na estrutura e fenômenos naturalistas de troca, ligam-se
dinâmica dos geossistemas. A escola Russo- profundamente a um território” (REIS JUNIOR,
soviética, de caráter naturalista, conceitua o 2007, p.253). Por essa orientação, o modelo
geossistema como bio-físico-químico e geossistêmico de Bertrand atribuiu espaço
energético; em outras palavras, um sistema igualmente significativo às atividades humanas na
natural que troca matéria e energia com o estrutura e dinâmica do geossistema, encarnando
ambiente. Sob essa perspectiva, Sochava (1977, uma dimensão mais culturalista que não tem lugar
p.6) salienta que “embora os geossistemas sejam de mais destaque no canal de comunicação
fenômenos naturais, todos os fatores econômicos eslavo.
e sociais que influenciam sua estrutura e
peculiaridades espaciais são tomados em
consideração durante o seu estudo.” A figura 2 – II
I II

Figure 2 - I – Modelo geossistêmico proposto por Bertrand (ação antrópica com a mesma dimensão na
organização do geossistema). II – Modelo geossistêmico proposto por Sochava (atividades humanas
influenciam a estrutura do geossistema, ou seja, os fatores econômicos estabelecem conexão com o
geossistema, sobretudo no que se refere as paisagens transformadas pelo homem. Organizado pelos
autores. (Adaptado de Bertrand, 1971; Huggett, 2003).

Interessa apontar mais algumas classificação e mapeamento. Do ponto de vista do


diferenças conceituais e metodológicas entre as geógrafo russo o critério utilizado na
duas escolas. Além das diferenças na proposta individualização e mapeamento dos geossistemas
escalar (escala de manifestação do geossistema), são as formações biogeográficas, com grande
dimensão e hierarquização das classes, outro ênfase ao papel desempenhado pela cobertura
ponto de discordância é o critério utilizado para vegetal na discretização de unidades. Por outro

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lado, para o geógrafo francês, a base de ótica da paisagem. Numa perspectiva dialética
mapeamento e individuação de unidades entre as leis físicas e sociais. Para esse autor,
homogêneas é o relevo. A escolha do critério devido ao seu conteúdo social e subjetivo, a
adotado por cada pesquisador está paisagem é uma leitura sociocultural do
intrinsecamente associada às características geossistema (BERTRAND; BERTRAND, 2007).
físico-geográficas de cada um dos países. No plano Por outro lado, para Sochava, o estudo
metodológico e operacional, concernente à dos geossistemas tem relação direta com o
própria cartografia dos geossistemas, é inegável interesse da sociedade nos impactos das
que o sistema russo-soviético apresenta soluções atividades antrópicas, na utilização racional dos
mais resolutas estabelecidas nos chamados mapas recursos naturais e preservação, conservação de
regionais-tipológicos (ABALAKOV; SEYKH, 2010; paisagens naturais e culturais. O autor destaca
KUZMENKO, 2011; KUZNETSOVA et al. 2011), que que além da classificação e avaliação dos
representam, em um mesmo documento geossistemas, atenção especial deve ser dada à
cartográfico e pelo princípio da hierarquização, as noção de geossistemas a serviço da colaboração
integridades homogêneas (geômeros) e do homem com a natureza (SOCHAVA, 1977). Em
heterogêneas (geócoros). outras palavras, o geógrafo deve entender a
As implicações epistemológicas das manifestação dos fatores antropogênicos nos
diferentes concepções geossistêmicas vão além complexos naturais, buscando o melhor
do mapeamento e individuação de unidades, pois planejamento territorial para que as atividades
cada nível escalar corresponde a uma abordagem humanas não desencadeiem crises ecológicas e
específica (inerente ao problema estudado), conflitos de uso da terra.
coerente com sua extensão espacial, duração do
fenômeno analisado, e metodologias e técnicas 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
utilizadas. Essas várias diferenças conceituais e Buscou-se com esse trabalho traçar em
metodológicas influenciam na individualização linhas gerais a genealogia da Escola Russo-
das unidades de mapeamento e na interpretação soviética e da Escola Francesa de geossistemas a
dos tipos e intensidade de interações que se partir de seus personagens protagonistas
formam em uma determinada área. (Sochava e Bertrand), bem como discutir
Contudo, no decurso de suas trajetórias dialogicamente a natureza de ambas as
teóricas, embora tenham divergido bastante concepções.
quanto a suas proposições (escola russa e escola Do ponto de vista conceitual/teórico
francesa), os diálogos estabelecidos entre observa-se:
Bertrand e Beruchachvili favorecem debates 1) Escola francesa: a ênfase no estudo
enriquecidos pelas trocas de experiências entre os dos geossistemas foi nas relações
dois países. O fato é que a proposta de Bertrand entre potencial ecológico +
foi consideravelmente modificada com o passar exploração biológica + ação
dos anos, fruto do seu amadurecimento teórico. antrópica, com destaque para o
Por exemplo, na Escola Russa-soviética, embora o homem como elemento
conceito de geossistema considere a influência da organizador do geossistema, em
ação antrópica (para alguns autores de forma outras palavras o homem é
secundária), nos estudos realizados pelo geógrafo englobado na abstração teórica.
francês o homem é considerado como princípio Dessa forma, na proposta do autor
organizador do geossistema. Todavia sua a relação sociedade/natureza, vista
contribuição teórica reverberou no Brasil pela lente geossitêmica deveria
principalmente através do Sistema GTP. Nesse ressaltar o papel dominante
sistema os aspectos subjetivos, simbólico, cultural exercido pelas atividades humanas
e a dimensão histórica são compreendidos pela

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RUSSO-SOVIÉTICA E FRANCESA

(impactos) nas alterações dos geossistemas em um quadro científico mais


sistemas ambientais físicos. amplo. Assim, a proposta teórica apresentada por
2) Escola russa: a ênfase é dada ao Bertrand em 1991, reflete a necessidade de uma
estudo da dinâmica e evolução dos incorporação conceitual e metodológica aos
sistemas naturais através dos estudos em geografia física capazes de trabalhar
monitoramentos executados pelas os problemas e os temas sociedade/natureza de
estações experimentais na Sibéria. forma articulada.
Na concepção russa as atividades Nesses termos, considera-se interessante
humanas influenciam a estrutura que os intercâmbios entre as escolas russo-
do geossistema, ou seja, os fatores soviética e francesa sejam intensificados, pois
econômicos estabelecem conexão cada uma dessas escolas interpreta aspectos
com o geossistema, sobretudo no importantes do geossistema. Em outras palavras,
que se refere as paisagens uma e outra exprimem dimensões diferentes da
transformadas pelo homem. esfera humana no geossistema, importantes para
o desenvolvimento de novas formulações,
Do ponto de vista metodológico - métodos e técnicas capazes de contribuir para
mapeamentos e análises: uma melhor explicação do geossistema.
1) Escola francesa: Restrita ao
mapeamento e discretização da 5. REFERÊNCIAS
estrutura da paisagem – análise ABALAKOV, A. D.; SEDYKH, S. A. Regional-
fisionômica e qualitativa do typological study and mapping of geosystems:
complexo territorial natural. analysis of the implementation. Geography and
Natural Resources, v. 31, p. 317-323, 2010.
2) Escola russa: Desenvolveu
pesquisas da estrutura, função e ABBAGNANO, N. História da filosofia. 3.ª ed..
Lisboa: Editorial Presença. Vol.6, 1982.
dinâmica dos geossistemas
BAZHENOVA, O. I.; PLYUSNIN, V.M.; SNYTKO, V. A.
fundamentada pela análise
Implementation of the Program of Geographical
sistêmica e cibernética. Em Station-Based Investigations in Siberia (50 Years
consequência dos avanços Since the Appearance of the Monograph Entitled
adquiridos com a construção de “Alkuchanskii Govin”). Geography and Natural
bases de dados históricas das Resources, Vol. 35, No. 4, pp. 303-309, 2014.
estações experimentais os dados e BERTRAND, G. Paisagem e geografia Física Global.
resultados eram submetidos à Esboço Metodológico. Série Caderno de Ciências
quantificação e modelagem. da Terra, no 13, IG-USP. 1972.
BEROUTCHACHVILI, N.L. e BERTRAND, G.. Le
Nessas condições, fica explícito que as Géosystème ou Système territorial
abordagens se desenvolveram de forma distinta naturel. Revue Géographique des Pyrénés et du
sud-ouest. Toulose. 1978. p. 167-180.
nos países analisados, tanto do ponto de vista
conceitual quanto material. No entanto, as BERTRAND, G.; BERTRAND, C. Uma geografia
transversal e de travessias: o meio ambiente
contribuições dos autores devem ser vistas à luz
através dos territórios e das temporalidades.
do seu contexto histórico, político, econômico e Maringá: Massoni, 2007. 332p
intelectual, incorporando as transformações
BERTRAND, G. Un paisaje más profundo de la
gradativas que foram ocorrendo com os avanços epistemología al método. Cuadernos Geográficos.
científicos nas ciências em geral (como foi o caso v. 42, p. 1727, 2008.
do geógrafo francês que teve sua proposta CAVALCANTI, L. C. S. Da descrição de áreas à
aperfeiçoada, introduzindo elementos da teoria teoria dos geossistemas: uma abordagem
da complexidade de Morin ao seu sistema GTP) epistemológica sobre sínteses
que contribuíram para o estudo teórico dos naturalistas.Pernambuco, 2013. 218p. Tese

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OLIVEIRA, C.S., MARQUEZ NETO, R.
GÊNESE DA TEORIA DOS GEOSSISTEMAS: UMA DISCUSSÃO COMPARATIVA DAS ESCOLAS
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(doutorado em geografia) – Universidade Federal MELNYK, A. Ecological analysis of landscapes.


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