Você está na página 1de 16

1

ESTUDO SOBRE OS GEOSSISTEMAS E TÉCNICAS DE


MODELAGEM ESPACIAL DINÂMICA

Guilherme Rodrigo Brizolari

Resumo

O presente artigo tem o objetivo de apontar algumas conceituações acerca do


método geossistêmico, assim como revelar certos pontos importantes para realizar
uma modelagem espacial dinâmica, voltados para a geração de cenários futuros. A
sua importância está diretamente ligada com a gestão do território, pois ao conhecer
as possíveis modificações que acontecerão na cobertura da terra, os gestores
públicos podem se preparar para tal acontecimento. O Geossistema é um método
baseado na totalidade do meio, entendendo a realidade por meio da compreensão
de todos os fatores. A realização de mapeamentos de uso e cobertura da terra são
fundamentais para essa análise, para realizar boas prospecções futuras, é
necessário que antes se conheça os usos passados, onde diversas metodologias
auxiliam para tais elaborações, como será possível notar ao decorrer do artigo.
Palavras-chave: Geossistemas; Modelagem espacial dinâmica; cenários
futuros; gestão do território; uso e cobertura da terra.

Abstract

This article aims to point out some concepts about the geosystemic method,
as well as to reveal certain important points to carry out a dynamic spatial modeling,
aimed at the generation of future scenarios. Its importance is directly linked to the
management of the territory, since by knowing the possible changes that will happen
in the land cover, public managers can prepare for such an event. The Geosystem is
a method based on the totality of the environment, understanding reality through the
understanding of all factors. The realization of land use and coverage mapping is
fundamental for this analysis, in order to carry out good future surveys, it is
necessary to know the past uses beforehand, where several methodologies assist for
such elaborations, as it will be noted throughout the article.
Keywords: Geosystems; Dynamic spatial modeling; future scenarios; territory
management; land use and coverage.
2

1 INTRODUÇÃO

O caráter fragmentário da ciência Geográfica é uma discussão muito presente


em sua história, que perdura de certo modo até os dias atuais, e tal fato é uma
característica muito ruim para essa ciência, como apontado por Suertearay (2017, p.
97) “se fragmentar é dividir em pedaços, as conexões são rompidas e a
possibilidade de compreensão conjuntiva se torna impossível”, Christofolettit
(1986) aponta ainda que a Geografia Física não deve se restringir apenas aos
componentes da natureza por si mesmos, mas sim buscar a compreensão do meio
como uma unidade, onde os processos integrantes e as conexões existentes sejam
analisadas de forma conjunta, enquanto Santos (2000) busca contrapor a
fragmentação da geografia por meio do espaço geográfico, articulando diversos
conceitos que favoreçam a sua operacionalização, se revelando de forma articulada
e se deslocando para o processo de totalização, notando que todos os elementos
agem de forma conjunta.
O método discutido no presente artigo, os Geossistemas, são muito
prejudicados com a fragmentação da Geografia, visto que o seu caráter de
abordagem é de algo totalizador, abrangendo diversos aspectos do meio para
entender os fenômenos ali presentes. Diversos acontecimentos auxiliaram para o
surgimento desse método, indo na contramão da compreensão do meio como partes
separadas, como por exemplo os trabalhos de Alexander Von Humboldt, a obra
“Holism and evolution”, de Smuts (1926), a conceituação de Ecossistema, elaborada
por Tansley (1935), a conceituação de “biogeocenose” por Sukachev em 1942, a
teoria geral dos sistemas, de Von Bertalanfy (1975), entre outros autores, que
serviram como base para a gênese dos geossistemas, com Sotchava (1977).
Os procedimentos técnicos são importantes para a pesquisa científica pois
possibilitam a obtenção de dados sobre a realidade, que vai embasar os caminhos
percorridos pelo método. O método em si, dispõe de uma fundamentação teórica,
auxiliando o sujeito na organização de seu raciocínio, enquanto as técnicas, por sua
vez, auxiliam o sujeito na organização das informações. Se a teoria e o método
estão no plano do “pensar” a técnica desenvolve-se no plano do “fazer” (VENTURI,
2005, p. 13). As técnicas abordadas nesse artigo se relacionam com a geração de
cenários futuros, por meio de modelos espaciais dinâmicos, consistindo na
3

elaboração de mapeamentos de uso e cobertura da terra; verificação da acurácia


dessas classificações; e utilização desses produtos, aliados a outras variáveis, em
um ambiente SIG, para gerar as prospecções de possíveis cenários.

2 A IMPORTANCIA DA PESQUISA NA GEOGRAFIA PARA A SOCIEDADE

Cada vez mais, as pesquisas na área da geografia assumem um papel de


maior relevância, independente do tema no qual está inserida, apresentando um
grande crescimento técnico-científico, sendo aceitas e utilizadas pelos órgãos
governamentais e pelas empresas como alicerce para tomada de decisão e diversos
planejamentos são feitos as tomando como base. A união do sensoriamento remoto,
GPS e o processamento de dados nos SIG´s, permitiram que várias análises e
tomadas de decisão sejam feitas de forma eficaz e relativamente rápida, sem falar
que houve uma considerável diminuição dos recursos (principalmente o financeiro e
o humano) necessários para a realização desses projetos. (BOLFE, 2006)
Conforme descrito por Flauzino (2010), as geotecnologias permitem o
“emprego de diversas ferramentas disponíveis para o conhecimento, gestão e
monitoramento das bacias hidrográficas de uma região e o aproveitamento dos
recursos naturais ali existentes”, e são um instrumento fundamental para estabelecer
planos de recuperação e preservação ambiental.
Partindo desse pressuposto, a geração de cenários prospectivos, fazendo uso
das geotecnologias, serviriam como um ótimo auxílio para a sociedade, em especial
para os gestores públicos, pois poderiam ordenar o território de forma mais eficiente,
detendo o conhecimento de possíveis transformações que viriam a ocorrer com o
passar dos anos, a possibilidade de se preparem para tais transformações (como
por exemplo uma expansão urbana em determinada direção) seriam melhor
embasadas por técnicas científicas bem conceituadas e já utilizadas para tal
finalidade.

3 MÉTODO GEOSSISTÊMICO

Para compreendermos os geossistemas na Geografia, é necessário que


antes compreendêssemos alguns fatores prévios que possibilitaram a construção do
4

arcabouço teórico que serviu como base para sua elaboração. Um dos primeiros
passos dados ocorreu após estudos de Alexander von Humboldt, ao buscar
compreender a paisagem não de forma separada, mas sim analisando as
interrelações entre seus componentes, nunca subtraindo da equação o âmbito
social, como podemos visualizar em sua conceituação sobre paisagem, ao
descrevê-la como “Der Totalcharakter einer Erdgegend”, ele aponta a paisagem
como sendo uma área geográfica disposta de forma total. Para reforçar essa ideia, a
obra “Holism and evolution”, criada por Smuts (1926), ao utilizar-se do termo
holismo, como sendo algo totalizador, torna necessário a compreensão dos
fenômenos do universo sem que ocorra uma redução dos seus processos para à
simples soma de seus constituintes, essas ideias encaixam muito bem na
abordagem sistêmica, já que o correto nesse método é a compreensão dos
componentes como um todo, organizados e constituindo um sistema de relações.
(NAVEH & LIBERMAN, 2013 e MELO, 2009)
A teoria geral dos sistemas, trabalho de Von Bertalanfy (1975), foi o primeiro a
formular um arcabouço teórico sobre sistemas, e com certeza foi fundamental para a
concepção dos geossistemas, entretanto anteriormente, a conceituação de
Ecossistema por Tansley em 1935, e de “biogeocenose” por Sukachev em 1942,
contribuiriam para um avanço científico da ecologia, e consequentemente auxiliariam
na construção teórica dos geossistemas. (MELO, 2009)
A abordagem sistêmica se difundiu em diversas áreas da ciência, mas foi com
Sotchava (1977) que ela penetrou de fato na geografia, por meio da criação do
método geossistêmico no ano de 1960. Esse método consistia na análise das
diversas interações e transformações por meio de um enfoque físico geográfico,
visto que ocorrem interrelações entre matéria e energia, onde Sotchava (1963, p. 53)
o conceituou como “unidade natural de todas as categorias possíveis, do
geossistema planetário (envelope geográfico ou ambiente geográfico em geral) ao
geossistema elementar (fácies físicogeográfica)”, ou seja, englobando desde as
feições mais genéricas e universais, até as mais detalhadas e locais. Entretanto a
sua conceituação ficou muito vaga, não havia uma definição espacial precisa,
abrindo brechas para distintas utilizações do termo, onde trabalhos empregaram o
geossistema com conteúdo, metodologia, escala e enfoque distintos, a exemplo de
Bertrand e Tricart (1968), Gerasinov (1969), Chorley & Kennedy (1971),
Beroutchachvili e Bertrand (1978), Christofoletti (1979, 1999), Preobratzensky
5

(1983), Rougeri & Beroutchachvili (1991). (DO NASCIMENTO, 2004 e TROPPMAIR,


2006)
Já Bertrand (1968) buscou aprofundar-se no conceito de geossistemas,
definindo a princípio dimensões espaciais (de 10 a 10² km²) e temporais (10 6 a 107
anos) bem definidas, assim como apontar os geossistemas como uma escala
espaço-temporal da paisagem, englobando a 4ª e 5ª ordem de grandeza na
classificação de Cailleux e Tricart (1956) . Todavia o próprio Bertrand assume que
essas delimitações são equivocadas, como podemos visualizar em Cavalcanti
(2017, p. 81):

“Isto seria modificado posteriormente, quando Bertrand passa a


escrever artigos com o georgiano Nikolai L. Beruchashvili e assume
que seu conceito de geossistema como uma dimensão de ordem de
grandeza definida é menos coerente que aquela da proposta de
Sotchava”

Diversas conceituações foram elaboradas para descrever os geossistemas,


Troppmair (2006, p. 81) aponta que:

“O Geossistema é um sistema natural, complexo e integrado onde há


circulação de energia e matéria e onde ocorre exploração biológica,
inclusive aquela praticada pelo homem. Pela ação antrópica poderão
ocorrer pequenas alterações no sistema, afetando algumas de suas
características, porém estes serão perceptíveis apenas em micro-
escala e nunca com tal intensidade que o Geossistema seja
totalmente transformado, descaracterizado ou condenada a
desaparecer”

Pech et al (1998, p. 94) vai descrever o Geossistema como sendo:

“um sistema espacial compreendendo os diferentes componentes do


meio natural. Os componentes antrópicos constituem também
elementos determinantes num Geossistema. No interior de um
Geossistema, que é de escala pluriquilométrica, existem unidades de
tamanho menor que são os geofácies e geotopos”

Apesar de haver conceituações diferentes entre os geossistemas, o


fundamental é realçar a característica e a perspectiva de visão integrada que ele
assume, e a sua importância, onde:
6

No momento em que na maior parte dá superfície terrestre se verifica


o caos na Organização do Espaço com degradação acentuada do
meio ambiente, desertificação, redução e poluição dos recursos
hídricos, desmatamentos, urbanização caótica, desequilíbrios sociais
e econômicos, redução da qualidade de vida, o estudo dos
Geossistemas, através da integração de seus elementos, oferecendo
visão e ação holística, adquire importância fundamental para um
planejamento correto da utilização e organização do espaço, ou seja,
para a Ciência Geográfica. (Troppmair, 2006, p. 87)

4 METODOLOGIA

Para uma análise espacial mais clara e profunda, será utilizado uma
ferramenta de SIG (Sistemas de Informação Geográfica), que é o programa gratuito
do Quantum GIS (QGIS), em sua versão 3.10, que é licenciada pela General Public
License (GNU). Foram coletados arquivos e informações secundárias obtidas
através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), Instituo Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Plano Diretor do Município de Araraquara, Fundação
Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS) ou dados primários produzidos
pelo autor (correções de arquivos vetoriais e o mapeamento do uso da terra)
utilizando como base imagens do Google Earth, que apresenta mosaicos de
imagens de satélites que cobrem todas as regiões da Terra, tornando possível
delimitar as áreas de interesse do trabalho com uma grande exatidão. Também
serão utilizadas imagens do satélite CBERS-4, utilizando diferentes composições de
imagens, analisando os resultados das junções de suas diferentes bandas, para
uma melhor visualização do objeto de interesse.
Com base em diferentes autores, será utilizado na dissertação o
complemento MOLUSCE do software QGIS, para assim realizar as prospecções de
cenários futuros, tomando como parâmetro metodológico os trabalhos de El-Tantawi
(2019), Guidigan (2019) e Rahman (2017). Serão realizados mapeamentos de uso e
cobertura da terra para os anos de 2020, 2010 e 2000, treinando o software por
meio de prospecções simuladas desses anos, para assim realizar as projeções de
cenários futuros, para os anos de 2030 e 2040. Será ainda acrescentado no
MOLUSCE mapeamentos hipsométricos (por meio do Modelo digital de elevação,
elaborado a partir de curvas de nível cotadas), de declividade (gerado por meio do
resultado o MDE, calculando a declividade por meio da função “slope”), distância
7

das rodovias (elaborado por meio do cálculo da distância euclidiana), geomorfologia,


pedologia e entre outros, abrangendo da forma mais holística possível o município,
adicionando os mais diversos fatores que poderiam influenciar as modificações na
cobertura do solo, para que o MOLUSCE gere um resultado mais fidedigno possível.

4.1 Mapeamento do uso e cobertura da terra

A criação de um mapa de uso e cobertura da terra é de extrema importância


para o trabalho, pois ao possuir o conhecimento do que é cada local no município, é
possível averiguar as modificações ocorridas na cobertura do solo, e com o auxílio
de um SIG, a possibilidade de realizar prospecções para as futuras modificações de
uso do solo passa a ser possível, fornecendo subsídio para as gestões territoriais. O
uso e cobertura da terra é importante para “garantir sustentabilidade diante das
questões ambientais, sociais e econômicas a ele relacionadas e trazidas à tona no
debate sobre o desenvolvimento sustentável”, conforme apontado pelo manual
técnico de uso da terra do IBGE (2013).
Para a criação de um mapeamento do uso da terra será utilizado o provedor
de algoritmos Orfeo Monteverdi, mas conhecido como OTB, que está presente no
software QGIS. Utilizando como base imagens do satélite CBERS4, cuja resolução
espacial é de 5 metros, fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), o provedor produzirá diversos polígonos, que serão agrupados tomando
como base os seus valores dos pixels, para assim tentar agrupar em um polígono,
apenas um uso da terra, esse procedimento é conhecido como segmentação, que
possibilita uma imagem ser subdividida em partes constituintes ou regiões, a partir
das propriedades dos seus pixels (como citado anteriormente), essas propriedades
podem ser o nível de cinza, textura e cor (Gonzalez & Wintz, 1987 e Hussain, 1991).
O Algoritmo de Segmentação escolhido será o Mean Shift, pois proporciona
maior liberdade na configuração de parâmetros e limiares desta segmentação, esse
algoritmo foi criado por Fukunaga & Hostetler (1975), com o intuito de reconhecer
padrões por meio da estimativa de um gradiente de uma função densidade, onde
segundo Rêgo et al. (2016) “o agrupamento das observações em diferentes classes
8

é feito através do deslocamento de cada observação por uma certa quantidade


proporcional ao gradiente no ponto de observação”. Na análise inicial para o
desempenho do algoritmo segmentador, será adotado os seguintes parâmetros:
Spatial Radius = 5 (níveis digitais)
Range Radius = 8 (alcance do raio)
E por fim, para uma segmentação que atenda melhor os objetivos do trabalho,
será adotado 30 como valor de similaridade (limiar), sendo que Barbosa (2000)
define o limiar como "a diferença mínima entre o valor de um pixel e o valor médio da
região contígua a ele, para que este pixel possa ser agrupado (...) o segundo limiar,
de área, significa o menor valor de área (em pixel) para que uma região seja
separada de outra". Esta alteração é feita no campo Minimum Region Size.
Complementando, Venturini e Santos (1998) apontam que:

“O limiar de similaridade é fornecido como um valor de diferença entre


níveis de cinza: para limiar pequeno de nível de cinza, o grau de
agregação em regiões é pequeno, ou seja, regiões que possuem
pequena variância espectral apresentarão fragmentação excessiva, o
que dificulta a interpretação e o delineamento de contornos na
imagem; a medida que o limiar aumenta, ocorre mais agregação, e,
como consequência, são formadas menos regiões.”

Após a geração desses diversos polígonos, será necessário agrupá-los nas


classes de uso da terra, sendo adotadas nesse trabalho as seguintes classes: cana
de açúcar, corpos hídricos, mancha urbana, pastagem, silvicultura e vegetação. O
agrupamento desses polígonos será feito manualmente, selecionando-os e
utilizando a ferramenta “mesclar feições selecionadas”, da versão 3.10 do QGIS,
além da realização de possíveis ajustes nesses polígonos, para corrigir os erros de
agrupamento através da edição vetorial dessa camada. Para realizar o
agrupamento, será utilizado como mapa base além da própria imagem do satélite
CBERS-4 utilizada para a delimitação dos polígonos, imagens do Google Satélite,
disponíveis no “QuickMapServices” do SIG utilizado, para facilitar a distinção das
classes e aumentar a precisão e acurácia da classificação.

4.1.1 Índice Kappa


9

Depois do mapeamento de uso cobertura da terra estar pronto, é necessário


averiguar a acurácia dessa classificação, sendo feita por meio do índice kappa,
proposto por Cohen (1960). Para a sua realização, haverá a necessidade de
transformar o shapefile resultante da classificação do uso da terra em um arquivo
raster, e em seguida, utilizando o complemento Actama do software QGIS, será
gerado a matriz de confusão da classificação, averiguando a acurácia de pontos
aleatórios (os valores variam de 0 à 1, onde 0 significa que nenhum ponto amostral
da classe realmente era correspondente daquela classe, e 1 significa que todas as
amostras correspondiam a classe de interesse), distribuídos por todas as classes de
uso da terra. A escolha da quantidade de números de amostras é feita de forma
automática pelo programa (quanto maior o polígono, mais números de amostras
será sugerido para ele), porém pode haver locais que não serão contemplados com
amostras, ou fossem sugeridos um número muito baixo de amostras, sendo possível
realizar modificações manualmente quanto as quantidades de amostras para cada
classe.
Após a matriz de confusão ter sido gerada, é possível realizar o índice kappa
seguindo alguns passos, que consistem em somar os valores da diagonal da tabela,
somar o produto das linhas e o das colunas, e em seguida aplicar a seguinte
fórmula:

(1)

Onde: K = ((N° Amostras x Somatório da Diagonal) - Somatório do Produto


das Linhas e das Colunas / ((N° Amostras^2) - Somatório do Produto das Linhas e
das Colunas). Conforme apontado por Landis e Koch (1977), valores menores de
zero são considerados pobres, entre zero e 0,20, fracos; 0,21 a 0,40, regulares; 0,41
a 0,60, moderados; 0,61 e 0,80, fortes, e entre 0,81 e 1 são considerados quase
perfeitos.

4.2 Modelagem Espacial Dinâmica


10

O ambiente SIG apresentava uma característica prejudicial à algumas


análises, como dito por Pedrosa (2004), o fato de seus produtos (mapas, por
exemplo) e análises prévias serem essencialmente estáticas, dificultavam
representações realistas de processos espaço-temporais, que são essencialmente
dinâmicos. Nesse contexto, a modelagem espacial dinâmica ganha força, visto que
torna possível uma representação mais fidedigna de processos físicos e
socioeconômicos, onde o fator tempo é deveras relevante para a análise.
O modelo espacial dinâmico é definido por Burrough (1998) como sendo “uma
representação matemática de um processo do mundo real em que uma localização
na superfície terrestre muda em resposta a variações nas forças dirigidas”, e para o
seu desempenho ser condizente com a realidade, é necessário que:

O espaço como uma entidade não homogênea tanto nas suas


propriedades quanto na sua estrutura; As vizinhanças como relações
não estacionárias; As regras de transição como regras não
universais; A variação do tempo como um processo regular ou
irregular; O sistema como um ambiente aberto a influências externas.
(Pedrosa, 2004, p. 2 apud COUCLELIS, 1997)

Existem distintos modelos espaciais dinâmicos, como por exemplo os


modelos de alocação espacial (fazem uso de regras de transição baseadas nas
características da vizinhança e do próprio local, calculando a probabilidade, nesse
caso, da conversão do uso da terra em outros usos), modelos baseados em agentes
(tais agentes são discretos, e conseguem se adaptar conforme as necessidades,
tomando decisões baseadas nas modificações do sistema), modelos econométricos
espacialmente explícitos (são baseados em teorias econômicas) e os modelos
elaborados por meio dos autômatos celulares, que é o caso do MOLUSCE.
(WAINGER, RAYBURN e PRICE, 2007).
Os Autômatos celulares (Cellular Automata - CA) foram criados por John von
Neumann e Stanislaw Ulam (VON NEUMANN, 1966) no final da década de 1940, e
conforme apontado por Delaneze (2017, p.28), os CA:

“consiste de uma grade regular de células (pixels), cada uma das


quais pode estar em um número finito de estados possíveis (classes
de uso e cobertura da terra, p. ex.), e estes estados são atualizados
de forma simultânea em intervalos de tempo discretos de acordo com
11

uma regra de transição local. O estado de uma célula é determinado


pelos estados anteriores de uma vizinhança circundante de células.”

4.2.1 MOLUSCE

O MOLUSCE (Modules for Land Use Change Evaluation) é um plug-in do


software QGIS, estando disponível para todas as suas versões superiores à versão
2.0. A sua elaboração é de autoria das empresas Asia Air Survey Co., Ltd. e Next
Gis, que buscaram construir um plug-in capaz de analisar, modelar e simular
mudanças no uso e cobertura da terra, sendo considerada uma ferramenta de
excelência, conforme o manual técnico produzido pelos desenvolvedores, para:

“análise do uso da terra e mudanças na cobertura florestal entre


diferentes períodos de tempo; modelagem de transição potencial do
uso e ocupação da terra ou de áreas com risco eminente de
desmatamento; e simulação futura do uso da terra e de mudanças da
cobertura florestal.”

A interface desse plug-in é composta pelo “Input module” (área responsável


pela adição dos mapas de uso e cobertura da terra, além de outras variáveis de
interesse, tais como rodovias, hidrografia, hipsometria, solos, densidade
populacional, entre outros), “Evaluating correlation” (local onde é possível realizar
técnicas de análise de correlação), “Area change analysis” (nesse campo é possível
analisar e comparar mapeamentos de uso e cobertura da terra de anos diferentes,
onde será gerado uma matriz de transição e mapas de alteração da cobertura,
possibilitando calcular as variações do uso da terra), “Modelling methods” (o
potencial de transição do uso da terra é medido nessa área, estando disponível os
métodos de modelagem de Rede Neural Artificial (ANN), Regressão Logística (LR),
Avaliação Multi-Critério (MCE) e Pesos de Evidência (WoE)), “Simulation” (é gerado
nesse campo um mapa de potencial de transição, uma função certeza, em caráter
experimental, e resultados da simulação. Um mapa de uso e cobertura do solo
simulado (projetado) é produzido com base em um modelo autômato-celular na
abordagem Monte Carlo) e “Validation” (nessa área é possível validar a acurácia dos
mapeamentos gerados, feitos por meio do índice kappa, seja pelo kappa padrão, um
histograma kappa ou locação kappa).
12

5 CONSIDERAÇÕS FINAIS

É possível notarmos a construção do pensamento geossistêmico no artigo,


evoluindo epistemologicamente junto com distintas áreas do conhecimento, e
sempre mantendo a sua essência totalizadora, visto que bebeu de fontes que
mantinham esse ideal em suas obras.
As técnicas são igualmente importantes no trabalho, conferindo rigidez e
caráter científico a pesquisa, para que haja um certo padrão nos procedimentos, e
metodologias a serem seguidas, para que o resultado seja fiel a realidade.
A busca por fidelidade nesses produtos gerados é importante devido a própria
utilização dessas informações geradas, visto que esses dados seriam de grande
utilidade para gestores públicos, fornecendo subsídio para a tomada de decisões, e
fornecer esse subsídio de forma equivocada, implicaria em um problema real no
mundo, onde um gestor iria realizar a gestão do território não da forma ideal,
acarretando problemas distintos e incalculáveis a priori.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, C.; Hess, L.; Melack, J.; Novo, E. Mapping amazon wetlands through
region growing segmentation and segmented-based classification JERS-1
data. (CD ROM). In: Simpósio Latino Americano de Sensoriamento Remoto, Puerto
Iguazu, Argentina. Anais. 1065 - 1076pp. 2000.

BEROUTCHACHVILI, N.; BERTRAND, G. Le Geosystéme ou Systéme Territorial


Naturel. Toulose: Revue Géographique des Pyrinées et du Ouest, 49 (2): 167-
180, 1978.

BERTRAND, Georges; TRICART, Jean. Paysage et géographie physique globale.


Esquisse méthodologique. Revue géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest,
v. 39, n. 3, p. 249-272, 1968.

BOLFE, E. L. Geotecnologias aplicadas à gestão de recursos naturais. III


Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, v. 3, 2006.

Burrough, P. Dynamic Modelling And Geocomputation. Geocomputation: A


13

Primer. P. Longley, M. Batty and R. McDonnel. London, John Wiley & Sons. 1998

CAILLEUX, André; TRICART, Jean. Le problème de la classification des faits


géomorphologiques. In: Annales de géographie. Armand Colin, p. 162-186. 1956.

CAVALCANTI, Lucas Costa de Souza; DE BARROS CORRÊA, Antônio Carlos.


Geossistemas e geografia no Brasil. Revista Brasileira de Geografia, v. 61, n. 2, p.
3-33, 2017.

CHORLEY, R.; KENNDY, B. Physical Geography, A System Approch. Prentice-


Hall, Internacional Inc, London, 1971

CHRISTOFOLETTI, Antonio. Significância da teoria de sistemas em Geografia


Física. 1986.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Ed.


Edgar Blucher, 1999.

COHEN, Jacob. A coefficient of agreement for nominal scales. Educational and


psychological measurement, v. 20, n. 1, p. 37-46, 1960.

DO NASCIMENTO, Flávio Rodrigues; SAMPAIO, José Levi Furtado. Geografia


física, geossistemas e estudos integrados da paisagem. Revista da casa da
geografia de Sobral, v. 6, n. 1, p. 21, 2004.

EL-TANTAWI, Attia M. et al. Monitoring and predicting land use/cover changes in the
Aksu-Tarim River Basin, Xinjiang-China (1990–2030). Environmental monitoring
and assessment, v. 191, n. 8, p. 1-18, 2019.

FLAUZINO, Fabrício Silvério et al. Geotecnologias aplicadas à gestão dos recursos


naturais da bacia hidrográfica do rio Paranaíba no cerrado mineiro. Sociedade &
Natureza, v. 22, n. 1, p. 75-91, 2010.

FUKUNAGA, Keinosuke; HOSTETLER, Larry. The estimation of the gradient of a


density function, with applications in pattern recognition. IEEE Transactions on
information theory, v. 21, n. 1, p. 32-40, 1975.
14

GERASINOV, I. P. Die Wissenschaft von der Biosphaere und ihre


Umgestaltung. Konstruktive Richtung des heutigen Geographischen Denkens, P.
M., Ano 113: 49-51, 1969.

GONZALES, R.C.; Wintz, P. Digital Image Processing. 2 ed. Addison-Wesley


Publishing Company. 503p. 1987.

HUSSAIN, Z. Digital Image Processing: practical applications of parallel


processing techniques. Ellis Horwood. 406p. 1991.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de uso da


terra. Rio de Janeiro. 2013

LANDIS, J. Richard; KOCH, Gary G. An application of hierarchical kappa-type


statistics in the assessment of majority agreement among multiple observers.
Biometrics, p. 363-374, 1977.

MELO, Marcos Antônio de. Mapeamento de biótopos: instrumento para o


fomento da qualidade ambiental. Tese de Mestrado. Universidade de São Paulo.
2009.

NAVEH, Zev; LIEBERMAN, Arthur S. Landscape ecology: theory and application.


Springer Science & Business Media, 2013.

PEDROSA, Bianca Maria; CÂMARA, Gilberto. Modelagem dinâmica e


geoprocessamento. EMBRAPA, Brasılia, DF, Brasil, 2004.

PREOBRAZHENSKIY, V. S. Geosystem as an Object of Landscape Study.


Geojornal, Vol. 7 nº 2, Akademische Verlagsgesellschaft, Wiesbaden, 1983.

RAHMAN, M. Tauhid Ur et al. Temporal dynamics of land use/land cover change and
its prediction using CA-ANN model for southwestern coastal Bangladesh.
Environmental monitoring and assessment, v. 189, n. 11, p. 1-18, 2017.

RÊGO, L. Estratégia para Predição de Consumo de Energia Elétrica de Curto


Prazo: Uma Abordagem Baseada em Densificação com Mean Shift para
15

Tratamento de Dias Especiais. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação


em Engenharia Elétrica, UFPA. 2016.

ROGERIE, G.; BEROUTCHACHVILI, N. Geósystéme et Paysages, Bilan et


Méthodes. Paris: Ed. Armand Collin, 1991.

SANTOS, Milton et al. O papel ativo da geografia: um manifesto. Revista Território,


v. 5, n. 9, p. 103-109, 2000.

SMUTS, Jan Christiaan. Holism and evolution. Рипол Классик, 1926.

SOTCHAVA, V.B. Algumas noções e termos da Geografia Física. Relatórios do


instituto de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente. 3. 1963.

SOTCHAVA, V. B. Estudo de Geossistemas. Métodos em Questão nº 16. São


Paulo: IG, USP, 1977

SUERTEGARAY, Dirce. Debate contemporâneo: Geografias ou Geografia?


Fragmentação ou Totalização?. GEOgraphia, v. 19, n. 41, p. 16-23, 2017.

TANSLEY, A. G. The use and abuse of vegetational concepts and terms. Ecology,
v. 16, n. 3, p. 284-307, 1935.

TROPPMAIR, Helmut; GALINA, Marcia Helena. Geossistemas. Mercator-Revista


de Geografia da UFC, v. 5, n. 10, p. 79-89, 2006.

VENTURI, L. A. B. Praticando Geografia: Técnicas de campo e laboratório em


geografia e análise ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2005.

VENTURIERI, Adriano; SANTOS, JR dos. Técnicas de classificação de imagens


para análise de cobertura vegetal. Sistemas de informações geográficas:
aplicações na agricultura, v. 2, p. 351-371, 1998.

VON BERTALANFFY, Ludwig. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1975.
16

VON NEUMANN, J. Theory of Self-Reproducing Automata, University of Illinois


Press, 1966.

WAINGER, L.; RAYBURN, J.; PRICE, E. Review of land use change models:
applicability to projections of future energy demand in the Southeast United States,
UMCES (CBL) Ref, n 07-187, 2007.

Você também pode gostar