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Guilherme Rodrigo Brizolari Matrícula: 2021.1.225.

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Resenha sobre os textos “A natureza do espaço”, cap. 7 ao 10 e


“Desenvolvimento desigual”, cap. 3

A evolução das técnicas é um fator fundamental para a compreensão das


relações entre o homem e o meio, à medida que a técnica evolui, se transformando
de simples ferramentas para grandes máquinas e autómatos, nossa capacidade de
modificar o espaço também se transforma. Essas evoluções técnicas ocorrem de
forma sucessiva, onde uma nova técnica se sobrepõe a outra (como por exemplo a
substituição da iluminação por querosene para a iluminação elétrica), porém estão
dispostas em sistemas interligados.

O tempo de evolução das técnicas estão cada vez menores, o período de


surgimento de uma nova revolução técnica acontece cada vez mais cedo. Assim
como a sua difusão acontece cada vez mais rápido, visto que em tempos passados
esse processo de difusão era gradual, e atualmente ocorre de forma abrupta,
abrangendo mais áreas e mais pessoas. Isso pode ser analisado levando em
consideração as características artificiais dessas técnicas, tornando-as cada vez
mais racionais, e ao passo que se tornam racionas, abafam as espontaneidades e
criatividades, homogeneizando os diferentes locais a partir de uma lógica capitalista.

A revolução mais recente é a tecnológica, detendo como pilar estrutural a era


da informação. A informação embasa diversas técnicas atuais, podemos apontar
ainda a sua importância na dominação da divisão organizacional do trabalho, se
tornando base do poder. Atualmente quem detém a informação, detém o poder, por
isso 90% dos dados veiculados por satélites são propriedade de grandes empresas.

O computador também detém um papel muito importante nessa nova era,


visto que é a ferramenta da instantaneidade conquistada, assumindo a possibilidade
de implantar o tempo real das coisas. Serve ainda como manipulador da informação,
amplia o poder de comunicação e recebe e transmite mensagens instantaneamente,
transformando as relações do mundo, ainda mais pela sua acessibilidade, onde
cada vez mais, mais pessoas conseguem manter essa ferramenta informática em
suas casas. A sua influência sobre nós e como agiremos no futuro é algo incerto, as
influências dessas tecnologias sobre nós é objeto de diversos estudos, e não é por
menos, visto que há uma substituição do nosso pensamento crítico por um
pensamento associado, mecânico, pautados em uma lógica matemática, onde o
tempo, ao se tornar praticamente simultâneo nesse âmbito, altera até mesmo
nossas relações espaciais, nos tornando refém de um relógio que rege nossa vida e
nosso cotidiano.

A globalização e as consequentes modificações espaciais estão estruturadas


em 3 unicidades, a da técnica, o do tempo e o do motor da vida econômica e social.
As técnicas surgem dispostas de forma local, onde cada grupo de homens primitivos
possuíam suas próprias técnicas e formas de lidar com o espaço, à medida que as
relações entre esses grupos vão se intensificando, o número de técnicas vai
diminuindo, visto que ocorrerá um processo de imposição/apropriação dessas
técnicas. Esse processo será extremamente intensificado com o capitalismo e o pós-
guerra, que garantiram as condições para a propagação universal desse sistema
técnico, restringindo as escolhas das pessoas. O alcance é universal, porém a sua
distribuição se dá de forma irregular, onde certas regiões se apropriaram mais das
técnicas do que outras.

Quanto a unicidade do tempo, sua ocorrência passa a ser possível por meio
das técnicas de comunicação atuais, que permitem o conhecimento de fenômenos
de forma instantânea, independentemente de sua localização. Esse advento altera
completamente diversos âmbitos da nossa sociedade, a transmissão de informação
ocorre de forma simultânea (fator fundamental para a globalização), o conhecimento
sobre os fatos chega muito mais rápido do que algumas décadas atrás. Os satélites
também possuem um papel fundamental nessa unicidade do tempo, já que sua
utilização é útil em diversos aspectos espaço-temporais, e possibilita um
conhecimento extenso e aprofundado das características de cada lugar, como por
exemplo a percepção de uma queimada em uma floresta quase em tempo real. O
setor financeiro se beneficia muito dessa instantaneidade temporal, pois a
internacionalização do capital torna-se possível, proporcionando uma globalização
financeira.
Quanto a unicidade do motor da vida econômica e social, podemos explicá-la
por meio da propagação internacional de uma mais-valia, assegurada graças a
grandes organizações, onde “o campo de ação da mais-valia universal é esse
chamado mercado global, fundado no intercâmbio global e na lei do valor universal".
As empresas mundiais são cada vez mais poderosas (em especial às ligadas a
informação), abrangendo cada vez mais mercados, e fortalecendo cada vez mais o
monopólio.

O espaço está em constante modificação, os objetos nele presentes são


alterados por diferentes atores, em diferentes intensidades e de diferentes formas.
“O objeto é científico graças à natureza de sua concepção, é técnico por sua
estrutura interna, é científico-técnico porque sua produção e funcionamento não
separam técnica e ciência. E é, também, informacional porque, de um lado, é
chamado a produzir um trabalho preciso - que é uma informação - e, de outro lado,
funciona a partir de informações. Na era cibernética que é a nossa, um objeto pode
transmitir informação a outro objeto”. Os objetos são produzidos de forma distinta
atualmente, há um acúmulo de informações prévias para a sua produção, e mais
significativo ainda, a sua produção parte a priori do científico, da ideia humana, para
depois partir para o material, isso permite determinar uma função pré-estabelecida,
garantindo a sua eficácia e os resultados esperados, ou seja, as “naves espaciais, o
avião e, mesmo, em menor escala, o automóvel e os próprios edifícios instruem a
criação de um material adequado àquilo que o arquiteto ou o engenheiro desejam
obter. A história das viagens interplanetárias e da aviação é a história da produção
de um material capaz de resistir a uma dada temperatura, de entrar e sair da
atmosfera, de resistir à velocidade.”

Os objetos atualmente são uma nova forma de alienação, projetados não


mais para nos obedecer, mas sim para seguir um papel a ser desempenhado,
seguindo uma lógica desconhecida por nós. A sua produção ocorre visando uma
função, onde a sua especialização é extrema, diferentemente do que ocorria
antigamente, onde os objetos desempenhavam diversas funções. Esses objetos
estão dispostos por meio de sistemas, que são ligados de forma interna (o objeto em
si é um sistema) e externa. Há ainda uma constante evolução técnica desses
objetos, que embasadas em uma política consumista, apoiada por empresas e
instituições globais, ocasiona em um sentimento constante de necessidade de troca
desses objetos.

Muitas definições foram dadas ao espaço, seja o espaço absoluto ou o


relativo, principalmente relacionando-os com a física, atribuindo a sua função como
um receptáculo da matéria. Porém se o espaço é “o produto de abstração contínua,
a definição de espaço como uma base abstrata na qual toda a realidade existe deve,
pelo menos, ser questionada. É o espaço, ‘em si mesmo’, uma base para a
realidade, ou é o conceito abstrato de espaço que é um fundamento para o modo
em que vemos a realidade?”. A matemática também influência nas concepções
espaciais, “o espaço pré-newtoniano era simultaneamente físico e social; o espaço
pós-einsteiniano é matemático”.

A dialética somou importantes contribuições na conceituação do espaço,


apontando a sua constituição como um produto social, e assim distanciando o
espaço (que se torna geográfico), da forma como utilizamos atualmente, do espaço
em que Einstein, Newton e entre outros utilizavam em suas obras, diferenciando o
espaço científico (busca se abstrair da atividade e dos eventos sociais) do espaço
social (tratado como sendo justamente o campo dessa atividade). Onde “a base
conceitual para o surgimento de um espaço social separado reside mais claramente
na separação feita por Newton de espaço relativo e do espaço absoluto. Com o
espaço absoluto de Newton, o mundo dos fenômenos físicos, biológicos e
geográficos poderia ser tratado como a base natural do espaço físico. O espaço
social, por outro lado, poderia ser tratado como um espaço puramente relativo,
existindo dentro do espaço absoluto”, ou seja, seria uma espacialidade metafórica,
um campo abstrato humanamente constituído pelos eventos sociais. Torna-se
impossível analisar o espaço ignorando o fator humano, onde apesar da relação
dialética entre eles, há agora uma indissolubilidade entre o espaço e a sociedade.

A criação do Estado é um fator importante para o estudo do espaço,


principalmente ao levar em conta a separação do espaço com a sociedade, “uma
segunda natureza a-espacial abstrata (espaço social), torna-se possível com a
definição espacial explícita de Estado”, realizada por meio de divisões territoriais,
separando as pessoas em grupos tomando como base a sua localização, não mais
o seu parentesco, e ainda pautadas em uma certa mobilidade estatal do território,
podendo se expandir, retrair ou ainda mudar de local.

“Expansão geográfica é sinônimo de expansão social e desenvolvimento; este


ocorre, nesse estágio, somente pela expansão do âmbito geográfico no qual o
espaço é produzido socialmente. A Geografia é a ponta de lança do progresso
humano”, entretanto o espaço se torna cada vez mais irrelevante para o intercâmbio
social, “à medida em que as relações econômicas, tecnológicas, políticas e culturais
se desenvolvem e se expandem, a base institucional para manipular as relações
também se torna mais complexa e perde, progressivamente, qualquer definição
espacial intrínseca. Contudo, quanto mais a sociedade se liberta do espaço, mais o
espaço pode ser transformado numa mercadoria”.

Desde o início da relação entre o homem e a natureza há uma constante


transformação do espaço natural. As fases do espaço em que habitamos foi dividida
em 3 pelo Milton Santos, denominados de meio natural, meio técnico e meio técnico-
científico-informacional.

O meio natural servia para o homem como base material para sua existência,
fornecendo alguns recursos, que eram extraídos, mas sem muita modificação do
espaço, visto que a natureza detinha potencial para se reconstituir.

O meio técnico se caracteriza pelo surgimento de um espaço mecanizado,


composto por elementos naturais e artificiais, se distinguindo por meio da
intensidade no qual o meio natural é substituído por um meio artificial. As técnicas
utilizadas nesse período transcendiam uma técnica que servia apenas como
“alongamento” do corpo, utilizada no meio natural, eram técnicas que alongavam o
seu território, impondo um novo tempo social frente ao tempo natural. Porém a sua
abrangência era limitada, eram poucos os países que alcançaram essa fase a
princípio, e a sua visão de expansão era limitada.

O meio técnico-científico-informacional é caracterizado pela junção da técnica


com a ciência, onde essa união ocorre “sob a égide do mercado. E o mercado,
graças exatamente à ciência e a técnica, torna -se um mercado global. A ideia de
ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global devem ser encaradas
conjuntamente e desse modo podem oferecer uma nova interpretação à questão
ecológica, já que as mudanças que ocorrem na natureza também se subordinam a
essa lógica”. Os objetos produzidos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e
informacionais, visto que são elaborados com uma extrema intencionalidade de sua
produção e de sua localização, já surgindo como informação. A natureza cada vez
mais se torna algo exótico em nosso cotidiano, antes as transformações se davam
apenas nos grandes centros urbanos, atualmente as modificações ocorrem até
mesmo no âmbito rural, cientificando e tecnificando a paisagem. A informação passa
a reger as relações espaciais moldando o meio para a sua circulação. Essa nova
fase se relaciona com a globalização, impondo uma lógica global a todos os
territórios, garantindo uma unidade e uma universalidade, mesmo tratando de casos
pontuais.

O conhecimento detém um papel importante atualmente, a possibilidade de


saber a disponibilidade de recursos de uma determinada região, é fundamental para
as empresas, visto que, com as técnicas certas, haveria uma maximização de seus
lucros, transformando assim, conforme a lógica capitalista, o conhecimento em um
recurso.

A concepção atual de espaço relativo não se dá por meio da física nem da


filosofia, mas sim por meio do processo de acumulação de capital, onde por meio da
expansão do capitalismo e do trabalho abstrato, ocorre uma modificação espacial
intensa, construindo as infraestruturas necessárias para atender o capital,
proporcionando uma “integração progressiva e a transformação de espaços
absolutos em espaços relativos; os espaços absolutos são a matéria-prima para a
produção do espaço relativo”. O capitalismo, em uma escala global, pode
transformar o espaço em um meio de produção, mas não podemos negar qualquer
função ao espaço. O que se perde nesse reducionismo conceitual é a relatividade do
espaço geográfico e a relação entre espaço relativo e espaço absoluto, pois são
produzidos sob o capitalismo. A sociedade não mais aceita o espaço como um
receptáculo, mas sim o produz, nós não vivemos, atuamos ou trabalhamos no
espaço, mas sim produzimos o espaço, vivendo, atuando e trabalhando.

A relevância atual do espaço geográfico é fruto de uma maior atenção dada a


questões como “a centralização e a descentralização da indústria, a industrialização
seletiva do Terceiro Mundo, o consumismo, o declínio regional, a
desindustrialização, o nacionalismo, o redesenvolvimento urbano e a gentrificação e
as questões mais gerais do reestruturamento espacial durante as crises”, sendo que
“tais padrões geográficos são o produto de tendências contraditórias: primeiramente,
quanto mais o desenvolvimento social emancipa o espaço da sociedade, mais
importante se torna a fixidez espacial; em segundo lugar, e acima de tudo, as
tendências para a diferenciação e a universalização, ou para a igualização,
aparecem lado a lado, no bojo do capitalismo”. O desenvolvimento desigual é a
manifestação concreta da produção do espaço sob o capitalismo.

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