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Encyclopédie de Géographie

Antoine BAILLY – Robert FERRAS – Denise PUMAIN


Paris, Economica, 1983. 1167p.
Milton Santos

Tradução Livre
Prof. Dr. Aldo Dantas
Geógrafo – CREA: 210749956-0

Posfácio: os novos mundos da geografia

Neste período de globalização considerado como pertencendo ao mundo


pós-moderno e para além de toda visão convencional, a problemática da
geografia pode ser abordada segundo três direções: os novos horizontes
neste fim de século, os novos desafios à formação do saber geográfico
(realidades e metáforas), os temas possíveis. Esforçaremos-nos para não
produzir uma “conclusão” para esta enciclopédia, nem um último capítulo,
mas chamando a atenção para aberturas.

1 – Horizontes revelados

Através de Claudel, Colombo se exclama: “Eu fui enviado para reunir a


Terra!”. Seu personagem é vítima da crença, vinda do fim do século XV,
que a descoberta de novos continentes iria levar ao conhecimento do
Mundo (Bosque, 1992). Isso se repetirá, se renovará no curso dos séculos,
cada vez que se pensou que o mundo estava inteiramente descoberto;
assim em 1758 quando a Terra foi medida a partir do cálculo da distância
entre os astros, o contorno dos oceanos foi visto de forma mais precisa
dando uma imagem do Planeta mais próximo da realidade.
Siegfried em seu Aspects du XX siècle, diz “nossa geração conseguiu
descobrir o mundo... Sem dúvida Vasco da Gama, Colombo e Magalhães
chegaram há quatro séculos as regiões mais distantes do planeta, mas sua
obra permanece incompleta e se poderia ler sobre as cartas manchas que
indicam terras desconhecidas”. Ele acrescenta que no céu “os horizontes
novos se abrem em direção de proposições que definem a imaginação,
pois o século XX toma a existência das galáxias, a imensidão do universo e
sua contínua expansão”. Isto foi escrito há quarenta anos, este grande
pensador deveria reescrever hoje, pois finalmente o conhecimento do
mundo tornou-se possível.
Durante séculos, a idéia de que os homens construíam o ecúmeno esteve
muito limitada em sua relação com a realidade. O fim do século XV
ampliou radicalmente o horizonte geográfico da humanidade. Graças ao
desenvolvimento vertiginoso da ciência e da técnica este horizonte ainda
se alarga até o fim do século XX.
Se para as descobertas anteriores, a parte do acaso foi importante, hoje é
a ciência o motor das descobertas. A geografia se renova através das
relações estreitas e biunívocas entre técnica e ciência. Pela primeira vez
na história da humanidade o planeta é totalmente conhecido,
globalmente e localmente, permitindo uma visão ao mesmo tempo
estática e dinâmica da totalidade do ecúmeno. Por outra parte, as
coordenadas do tempo e do espaço tornaram-se muito mais precisas:
tempo e espaço começam a ser definidos com precisão mais que
milimétrica.
Todas essas descobertas e possibilidades abertas pelo progresso científico
e técnico vão mudar a estrutura do que existe, a começar pelas novas
formas de oposição entre essência e aparência. Para um passado
relativamente recente, destacamos três momentos desta oposição:
Num primeiro momento consideramos que havia uma separação radical
entre a ideologia e o real, que no movimento de uma sociedade havia o
domínio da chamada realidade e o domínio da chamada ideologia. Esta
discussão foi abordada por diferentes filósofos. O marxismo insistiu
durante muito tempo nesta separação entre o real e a ideologia
considerada por alguns como sendo absoluta. Em seguida, o progresso da
técnica e a evolução dos processos produtivos a partir da metade deste
século possibilitaram a compreensão de que a ideologia havia se tornado
real, num processo sutil, mas eficaz onde o falso é apresentado como
verdadeiro.
Enfim, no mundo atual a historia vive ao lado da fabula, e é mesmo a
partir da fábula que se constrói a historia. O que falar dos os espaços
virtuais e da manipulação estrema da imagem? Essa confusão total à qual
nossos espíritos estão submetidos nos introduz na questão da pós-
modernidade.
Nossa época é constituída de paradoxos, de difícil visibilidade e de
definições complexas que desafiam nossa capacidade de entendimento e
de conceitualização. Durante séculos caminhamos do desconhecido para
o conhecido; e agora nós fazemos uma viagem em sentido inverso, do
conhecido para o desconhecido: nada nos escapa e, portanto tudo nos
escapa. No começo de nossa história, a oposição se situava entre o
conhecido e o desconhecido, hoje ela está entre o Mundo e suas imagens,
que podem ser fabricadas e impostas como se elas fossem o Mundo.

2 – Os novos desafios à formação do saber geográfico

As mesmas condições que contribuem para o alargamento do horizonte


geográfico limitam de outro lado a compreensão das coisas. Pois como
discernir, nesse mundo tornado artificial metáfora e realidade autêntica?
Que abordagem fazer sobre questões tais como as novas relações espaço-
tempo com a tão decretada preeminência do tempo sobre o espaço, a
idéia de desterritorialização, a redefinição da região e do lugar, o papel da
produção da hiper-realidade com o virtual e a manipulação da imagem?
Esses problemas reais interessam e desafiam os geógrafos porque eles
estão no coração mesmo de seu objeto, o espaço.
Como os períodos históricos são marcados pela chegada de novas
condições técnicas, as relações espaço-tempo correspondentes mudam a
cada uma delas. O problema é que se quer discutir essas relações espaço-
tempo sem se ter definido antes o tempo e o espaço. Ora, sem definição
prévia destes termos, a expressão parece uma metáfora que nem permite
formular nenhum conceito e nem chega a nenhum progresso no domínio
intelectual. Alias a metáfora não tem pretensão operacional, ela se
contenta em chamar a atenção sobre certos aspectos do fenômeno.
Nosso interesse parte do que permitem estas novas relações, quer dizer
os progressos científicos técnicos e informacionais atuais. Partindo do
estado atual da ciência, da técnica e da informação nos teremos a
possibilidade de redefinir o tempo e o espaço. Todavia, a geografia não
parece apressada em introduzir a técnica em sua teorização, em seu
método e seus estudos sistemáticos. Essa é uma das razões de expressões
vagas tais como “relação espaço-tempo”. Partindo da técnica nós
poderíamos definir o tempo e o espaço a partir dos mesmos elementos e
adotando parâmetros idênticos. O fosso entre espaço e tempo seria, pois
preenchido e consideraríamos os dois como uma realidade unitária, um
espaço tempo, permitindo construir uma teoria geográfica valida.
Voltaremos a isto.
A cada nova impulsão a velocidade espanta e desorienta fazendo pensar
que o processo de evolução atingiu seu ponto culminante. A velocidade
acelerada dá a impressão que o espaço se esfacela diante do tempo; que
o tempo desafia o espaço; alias isso se deve à confusão feita entre a idéia
de espaço e a idéia de distância.
Um outro dado insiste sobre a suposta preeminência do tempo sobre o
espaço: a possibilidade da teleação de da telepresença. A ação pode partir
de pontos os mais longínquos graças ao transporte à distancia das
mensagens, das idéias e das ordens. Disto resulta uma convergência dos
momentos e da conquista da simultaneidade que reduzem radicalmente o
esfacela as fricções do espaço. A simultaneidade e a unicidade dos
momentos podem dar a impressão de que o espaço não existe mais.
No entanto o tempo não suprime o espaço. Ao contrário ele se realiza
pelo espaço. O tempo empírico existe apenas pelos lugares permitindo a
transformação de um tempo geral – o tempo do mundo – em um tempo
particular que é o tempo de cada pessoa, cada empresa, cada instituição,
realizada segundo as condições técnicas e organizacionais próprias a cada
lugar. É, pois o lugar que determina o tempo e não o tempo que
determina o lugar.
A palavra desterritorialização aparece no vocabulário pós-moderno e pode
ser interpretado de diferentes maneiras. Uma delas seria a morte do
Estado territorial atravessado hoje por fluxos transnacionais sem
consideração pelas fronteiras. A outra acepção da palavra trata a grande
mobilidade dos homens e de todos os fatores em função de uma certa
confusão entre a idéia de localização e imobilidade. Ora, se os fatores
migram, é para se instalar em outros lugares. Em nossos dias notamos
grande mobilidade, mas sem desterritorialização, pois mover-se no espaço
não significa não estar no espaço.
Neste contexto, a idéia de não-lugar pode ser considerada ao menos
segundo dois sentidos. Antes de tudo, graças a informação, a economia
atual é uma economia do imaterial; no entanto esta informação é ela
mesma um veículo com sustentação material, localizada.
De outra parte, a idéia de não-lugar indicaria que no mundo atual existem
numerosas formas espaciais idênticas, como os edifícios “inteligentes” das
grandes cidades. Se tudo se parece, o que caracteriza o lugar? O fato é
que a realidade do lugar não vem (não é dada pela) da existência desses
imóveis, mas antes da ordem espacial e temporal de um conjunto de
objetos. A ordem espacial nos mostra o arranjo destas construções e suas
relações com aquelas de outros tipos e de outras idades em um dado
lugar, enquanto a ordem temporal significa a seqüência de sua instalação.
As semelhanças morfológicas e, sobretudo, funcionais entre objetos de
diferentes lugares são evidentes, mas cada ponto da terra tem sua própria
definição que refuta a idéia de não-lugar.
Desterritorialização, não-lugar. É nesta ordem de idéias que alguns
pretendem decretar a morte da região. A região é uma situação e uma
construção, quer dizer um produto social. No mundo atual o edifício
regional tem uma duração de vida mais curta. As regiões se fazem e se
desfazem mais rapidamente na medida em que aumenta a densidade dos
eventos. Com efeito, o numero de eventos do mundo atual se multiplicou
e são mais espessos por unidade de tempo e por unidade de espaço.
Todavia o que faz a região não é a longevidade do edifício, mas sua
coerência funcional. As regiões mudam de contorno porque a coerência
funcional se modifica com o tempo.
O período histórico atual, caracterizado pela fugacidade choca nossa
herança cultural e nossa memória de um tempo onde as coisas andavam
lentamente. Hoje, o passado longo, de densidade adquirida por sua
duração, dá lugar a um presente denso. O presente ampliado – não o
presente instantâneo – é relativamente curto, mas rico pelo numero e a
qualidade das interações. E ai reside a novidade da região atual:
acumulação substituída pela densidade.
Segundo Schutz (1967), numa situação dada, nós temos ao mesmo tempo
o mundo de nossos ancestrais e o mundo de nossos contemporâneos,
com nossos pais como traço de união. Até recentemente o presente era
marcado mais fortemente pela influencia do mundo do passado, agora a
influencia mais forte é aquela do mundo contemporâneo.
Segundo Luhman (1982) nos fazemos pouca coisa do passado distante e
podemos influir pouco sobre o futuro distante. Desta forma estaríamos
mais perto de construir o futuro próximo que antes, na medida em que o
mundo dos contemporâneos tem primazia sobre o mundo do passado e
que o passado distante tem hoje menos valor. Não é mais o passado que
nos guia, mas o futuro. A memória pode ainda ser um cimento da
sociedade, mas sua ancora é o futuro.
Nossa época produz novos espaços outrora impossíveis e impensáveis,
como os espaços de hiper-realidade sob forma de imagens ou do virtual.
Ed verdade que Leibnitz havia imaginado a existência de uma máquina
“cuja estrutura faz pensar, sentir ou perceber”, mas “visitando o seu
interior nós encontramos apenas peças que se ligam entre elas, mais que
jamais explicam uma percepção”. Trata-se de uma premonição de
Leibnitz, mas isso não é suficiente para atingir uma interpretação da
diferença entre o que seria o real e o hiper-real.
G. Balandier, (Images, images, images, 1987) afirma que a imagem atual é
responsável da produção do novo real. A imagem seduz, desconcerta,
inquieta, mas não podemos evitá-la pois ela é o centro do mundo
contemporâneo, da visualização do mundo. A relação de tudo isso com a
geografia é que ela procura uma visão do mundo dita científica que se
opõe a outras visões. Quando o mundo começa a produzir esse novo real,
a tarefa do geógrafo se complica. A ideologia que se instala no real e
compõe a paisagem através dos outdoors e todo sorte de signos, interessa
também ao geógrafo e demanda uma interpretação no conjunto dos
outros elementos. Não podemos deixar de lado este ou aquele aspecto ou
pedaços do espaço, mas ao contrário considerar o conjunto para
encontrar a explicação mais totalizante.

3 – Os temas possíveis

O desafio ao qual deve responder o a geografia nesta época de grandes


mudanças e a recomposição de seu corpo explicativo, partindo de
realidades e metáforas para chegar a conceitos ao mesmo tempo
constitutivos e operativos que representem nossa época e permitam uma
análise correta.
Para cada momento histórico, o Mundo como totalidade pode ser
definido como um conjunto de possibilidades concretas e historicamente
presentes com possibilidade (potencialidade) ou como ato. Cada época
faz surgir novas variáveis, produto da inteligência humana e motor da
evolução. A historia da técnica retraça esta história do mundo. Os
sistemas técnicos sucessivos marcam a subdivisão da história em
períodos, épocas caracterizadas por modos de fazer, quer dizer
autorizações de fazer e possibilidades de fazer.
Essas possibilidades definem o mundo em um momento dado, mas não se
realizam universalmente. A totalidade-mundo é formada de variáveis que
jamais se encontram de maneira completa e que jamais se encontram por
toda parte. Está ai o princípio da diferenciação das partes no interior do
todo, e da diferenciação dos lugares no conjunto do espaço.
O Mundo seria apenas o Ser enquanto o Lugar seria o Existir, pois o
mundo é apenas latência. Tudo que existe no lugar existe também no
Mundo, mas a recíproca não é verdadeira.
O real total é a História se fazendo nos lugares através das formas sociais
em transformação e as formas geográficas que se adaptam à evolução
histórica.
O grande privilegio, para nós que vivemos este fim de século, é que a
noção de totalidade se enriquece e se afirma com os progressos científicos
e técnicos: o Planeta permite trabalhar com uma totalidade construída
empiricamente.
Até agora a totalidade era uma construção intelectual, produzida pelo
espírito dos filósofos, mas hoje ela atinge uma existência concreta,
empírica porque o planeta inteiro está coberto por um sistema técnico
unitário e de produção global que universaliza os homens, os objetos e
suas relações. Trata-se pela primeira vez na historia do homem, de uma
universalidade concreta e empírica (Santos, 1985). Em nome da unidade
do mundo produzido pela globalização, os eventos se unificam, a
dependência das partes em relação ao todo se confirma e os lugares se
universalizam.
Esta universalidade concreta e esta totalidade empírica devem permitir à
geografia de dar um grande salto teórico, unindo o lugar e o mundo no
mesmo movimento visível, ultrapassando dicotomias e ambigüidades que
a marcaram durante mais de um século.
Através da Técnica o Tempo e o Espaço se fundam em conjunto e podem
assim ser empiricamente compreendidos. Mas da mesma forma que o
Mundo existe apenas como latência, o tempo global não existe, não
podendo tomar o lugar dos outros tempos (Santos, 1994).
O tempo geral – o tempo do mundo – é dado pelo conjunto das condições
da vida social em um momento dado, cesura que revela o conjunto das
possibilidades de ações, mas que existe apenas como generalidade.
A temporalização é uma espécie de interpretação do tempo a partir do
qual os indivíduos, grupos, classes, empresas, instituições, Estados, em
função de suas próprias distinções de poder, saber, conhecimentos e
localização, produzem ações. Em outras palavras, a práxis individual
produz tempos empíricos concretos a partir de possibilidades históricas
teoricamente abertas a todos. Como essas possibilidades são, por
múltiplas razões, desigualmente utilizadas, resulta daí temporalidades
diversas.
O tempo nos oferece possibilidades que são virtuais tanto que elas
permanecem na esfera do possível, até que nós nos decidamos exercer
uma ação. A partir da ação as possibilidades virtuais tornam-se realidades
práticas. A temporalização transporta, pela via do trabalho, as
possibilidades do Mundo a um lugar. É o processo de espacialização.
A espacialização da qual fala E. Soja (1989) não é o espaço, mas a maneira
cuja temporalização prática age sobre o espaço já construído para fazer
outro espaço. Através desta associação entre temporalização prática e
espacialização prática, os conceitos de tempo e de espaço se fundam no
conceito único de tempo espaço, e a percepção desta fusão deve conduzir
a um progresso epistemológico no interior da disciplina geográfica.
A forma e o tempo são os pólos da compreensão. Eles podem ser
igualmente a base da produção de uma teoria geográfica que valoriza ao
mesmo tempo o fenômeno, a existência e a essência que representa a
História. Tratar-se-ia de uma geografia fenomenológica e existencial, ou
de uma filosofia das técnicas?
A fenomenologia se propõe a trabalhar a partir de coisas elas mesmas,
recusando o empirismo porque seu método transcende o corporal, a
simples sensação da coisa, procurando recolocá-las num contexto mais
amplo. É assim que se vai da existência à essência. Como o espaço
geográfico não é outra coisa senão a funcionalização do mundo – a
essência transformada em existência – podemos lhes aplicar este método
na medida em que tomemos cuidado de utilizar a técnica como mediador
necessário, visto que a técnica é hoje o grande veiculo do processo
histórico. Neste sentido, uma geografia fenomenológica e existencial será
igualmente uma filosofia das técnicas embasada sobre a produção
concreta do mundo e dos lugares, “filosofia cientifica” segundo Husserl
(1964) partindo das possibilidades do mundo e de sua realização empírica
nos lugares.
A geografia sempre foi ameaçada por dicotomias, notadamente nesta
noção eternamente ambígua: a paisagem. Nós devemos ultrapassar essas
dicotomias, entre o universal e o particular, a objetividade e a
subjetividade, a estrutura e a historia, entre o que nós chamamos
aparência (chamada até recentemente ideologia) e a realidade (o que nós
chamamos realidade até descobrirmos que a ideologia é também
realidade).
A fenomenologia se apresenta, pois como um instrumento fundamental
para a geografia. A partir das coisas, dos objetos, da configuração
geográfica, a fenomenologia permite de se passar do universal ao
particular, sem correr o risco de uma interpretação empirista, mas com o
apoio da Historia, indo além da coisa, do objeto, da materialidade do
espaço. A dicotomia entre objetividade e subjetividade pode ser balizada
tanto pela noção de estrutura quanto pela utilização de um método
fenomenológico que inclua o que eu ousarei chamar Geografia Existencial,
que dizer englobando o Ser e o Existir, no lugar de se contentar com uma
ótica individualista e fragmentaria excluindo o movimento do mundo
como um todo e da sociedade como um todo. Trata-se de compreender a
produção da particularidade como realização da existência. É necessário,
para compreender isso, considerar o espaço como um aspecto da
sociedade, uma instancia social que devemos analisar para definir sua
constituição, seus elementos, seus processos e chegar a elaborar um
amplo sistema de conceitos que exprimam de forma sistemática este
aspecto da realidade: o espacial do social, o socioespaical.
Como lembrava Ortega y Gasset (1939), a técnica é um momento do
mundo. Atualmente, ela é a base da globalização que se impõe como o
grande paradigma histórico para todo estudo de ciências sociais e
humanas.
Nós insistimos sobre a idéia de que nossa época é um período histórico, o
período técnico-científico. Nossa definição de espaço como um conjunto
indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações (Santos,
1994), pode ser compreendida apenas se considerarmos o meio
geográfico como um meio técnico-científico-informacional.
Diante dos estudos de um mundo tornado amplamente e profundamente
perceptível, a geografia ver se abrir novas possibilidades. As facilidades de
comunicação, de intercomunicabilidade entre os homens obrigam a se
levar em consideração a produção das redes de informação que se
superpõem aos fluxos de matérias e constituem a nova matriz da
organização territorial: tessitura de linhas muita vezes invisíveis, mas que
determinam o que há de mais importante na vida econômica, social e
cultural. Tudo que participa para produção da totalidade empírica pode
servir de base a uma teorização geográfica profunda. E a partir das
possibilidades do mundo – ainda não utilizadas ou incompletamente ou
mal utilizadas – poderemos propor combinações para oferecer aos
homens bases para uma existência mais digna e mais harmoniosa.
Assim a geografia ganha mais força explicativa e capacidade para
participar da reconstrução da teoria social e da reconstrução do mundo.

Palavras – chave
Desterritorialização, Espaço-tempo, Não-lugar, Socioespacial, Terras
desconhecidas, Totalidade.

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