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Licenciatura em Geologia Aplicada e do Ambiente - 2005/2006

INTRODUÇÃO À MECÂNICA DAS ROCHAS


Fernando M. S. F. Marques *

Aula teórica 9

* Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências de Lisboa

DEFORMAÇÃO (STRAIN) E DEFORMABILIDADE DAS ROCHAS

- Deformação - modificação da posição relativa de pontos num sólido por alteração


do estado de tensão a que está sujeito (sobrecarga ou descarga).

- Deformabilidade - relação entre as modificações do estado de tensão e as


correspondentes deformações.

- A deformação, natural ou artificial é frequentemente fenómeno muito complexo e com


expressão tridimensional

- Nestas condições é elucidativo observar situações simples, de deformação bidimensional.

- Tal como no estudo das tensões, são consideradas deformações normais e de corte (ou
cisalhamento).

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DEFORMAÇÃO HOMOGÉNEA

O estado de deformação é o mesmo em qualquer ponto do sólido considerado,


resultando que:

- Segmentos de recta mantêm-se rectilíneos

- Círculos são deformados em elipses

- Elipses são deformadas em outras elipses

l
DEFORMAÇÃO NORMAL

l’

l − l' Contracção positiva


ε=
l

γ Q Q’
DEFORMAÇÃO DE CORTE

ψ
l

P, P’

γ = tg ψ Deformação de corte negativa

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k - deformação normal
Exemplos de deformação finita homogénea:
γ - deformação de corte

y y
(x,y) (x’,y’) (x’,y’)

(x,y)

x x
x’ = kx y’ = y x’ = k1x y’ = k2y
Extensão ao longo do eixo x Extensão ao longo dos eixos x e y

y y
(x,y)
(x,y) (x’,y’) (x’,y’)
y
γ
1

x x
x’ = x + γy y’=y x’ = kx y’ = (1/k) y
Corte simples Corte puro

Corte simples Corte puro


 x' 1 γ   x   x' k 0  x
 y' = 0 1 ×  y   y' =  0 1 / k  ×  y 
           

OPERAÇÕES NÃO COMUTATIVAS

k 0  1 γ  k kγ   1 γ  k 0  k γ / k 
 0 1 / k  × 0 1 =  0 1 / k  0 1 ×  0 1 / k  =  0 1 / k 
           
(kxγ)+(0x1)= kγ (0x0)+(1x1/k)=1/k

1 2 1

3 2 3

Corte simples seguido de corte puro Corte puro seguido de corte simples

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EQUAÇÃO GERAL DA TRANSFORMAÇÃO DE FIGURAS BI-DIMENSIONAIS
USANDO COORDENADAS HOMOGÉNEAS

As coordenadas homogéneas são úteis para tratar casos mais gerais onde, para além da
deformação normal e de corte é necessário considerar movimentos de translação –
deslocamentos da figura sem rotação.

As coordenadas homogéneas num plano (situação bidimensional) correspondem a três


coordenadas: Duas coordenadas cartesianas e uma terceira que caracteriza a translacção.

EQUAÇÃO GERAL DA TRANSFORMAÇÃO DE FIGURAS BI-DIMENSIONAIS


USANDO COORDENADAS HOMOGÉNEAS

 x'  a c m   x   a b p
 y' = b d n  ×  y  [x' y' 1] = [x y 1]×  c d q 
      ou
 1  p q s   1  m n s 

em que x’ = ax + cy + m
o termo a está relacionado com a deformação extensional
o termo c está relacionado com a deformação de corte
o termo m está relacionado com a magnitude da translação

tal como y’ = bx + dy + n

Corte, escala
rotação  a b p Projecção, perspectiva

 c d q
 
Translação
m n s  Escala geral

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DEFORMAÇÃO INFINITESIMAL

Corresponde a deformação homogénea num elemento de dimensão infinitesimal no interior


de um corpo que sofre deformação finita.

A deformação pode ser caracterizada pela variação das coordenadas de um ponto situado no
extremo de um segmento de recta imaginário, situado no interior do corpo, no decurso da
deformação.

DEFORMAÇÃO INFINITESIMAL Considerando os pontos P e Q dentro do sólido

As componentes de movimento
P (x,y,z) ux, uy, uz podem variar com a
 x + dx, 
y   localização no interior do corpo
 y + dy ,  em deformação pelo que são
Q  z + dz 
  funções de x, y e z

P* (x+ux, y+uy, z+uz)

 x + dx + u x *, 
 
 y + dy + u y *, 
Q*  
x  z + dz + u z * 

Considerando que a distância PQ é muito pequena e


que o ponto P fica fixo (deslocamento normalizado):
z
εxx = dux / dx e dux = εxx dx

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DEFORMAÇÃO INFINITESIMAL y
Q Q*

considerando deformações normais


Semelhantes à anterior dx dux
segundo os eixos y e z resulta: P,P* x

− du x
du x   − ε xx 0 0  dx  ε xx =
du  =  0 dx
 y  − ε yy 0  × dy 
du z   0 0 − ε zz   dz 

Considerando ainda as componentes de deformação de corte resulta:

 ε xx ε xy ε xz  Que é um tensor de 2ª ordem, tal como o que caracteriza o


  estado de tensão.
ε yx ε yy ε yz  Tal como naquele existem sempre orientações para as quais
 ε zx ε zy ε zz  as deformações de corte se anulam, resultando apenas
 deformações normais designadas de principais:

ε 1 0 0
0 ε2 0 

 0 0 ε 3 

As equações de transformação do tensor da deformação são também idênticas às da


transformação do tensor das tensões, podendo utilizar-se o circulo de Mohr para relacionar
deformações normais e de corte em planos com orientações variadas.

ε x' = ε x cos 2 θ + ε y sen 2 θ + 2 ε xy sen θ cos θ

ε y' = ε x sen 2 θ + ε y cos 2 θ − 2 ε xy sen θ cos θ

( ) (
ε x' y' = ε xy cos 2 θ − sen 2 θ − ε x − ε y cos θ sen θ )

Outras propriedades dos tensores de 2ª ordem, focadas na caracterização de tensões, são também
aplicáveis ao tensor das deformações, como a existência de três invariantes, dos quais se relembra
o primeiro, pelas suas implicações práticas:

ε xx + ε yy + ε zz = ε 1 + ε 2 + ε 3 = constante

Do primeiro invariante resulta que a deformação média num ponto é constante, qualquer que
seja a orientação dos eixos de referência

As propriedades que permitem a transformação do tensor da deformação são muito importantes,


visto que, tal como no caso da medição (in situ ou em laboratório) das tensões, a medição das
deformações é geralmente efectuada com aparelhos que medem apenas deformações normais
(variações de distância entre pontos).

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Lei de Hooke generalizada, Módulo de Young E=σ/ε
em três dimensões para um
meio isotropico elástico
(∆σ a / ∆ε a ) = ε r
linear com
Coeficiente de Poisson ν = −
(∆σ a / ∆ε r ) ε a
E – Módulo de elasticidade
ν – Coeficiente de Poisson

Lei de Hooke generalizada, em três dimensões para


um meio anisotrópico com três eixos de simetria
perpendiculares entre si (simetria ortotrópica), com
eixos x, y e z paralelos aos eixos de simetria

E – Módulo de elasticidade
ν – Coeficiente de Poisson

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Avaliação e/medição da deformação - análise de formas (clastos, fósseis, cristais) e das relações
geométricas entre a situação inicial e a final encontrada no terreno – tema tratado em Geologia
Estrutural

Medição da deformabilidade no material rocha:

- Ensaios de compressão uniaxial ou triaxial com medição das deformações

Medição da deformabilidade dos maciços rochosos:

São utilizados alguns dos equipamentos empregues na determinação do estado de tensão “in situ”,
como por exemplo os macacos planos.

São ainda utilizados ensaios específicos – Ensaios de carga sobre placa – com adaptações
específicas para operação à superfície ou em galerias.

A deformabilidade pode ser estimada a partir dos resultados da aplicação de classificações


geomecânicas de maciços rochosos, através da utilização de correlações empíricas.

Deformabilidade do material rocha σa


σc

Es
σc /2

Et = Em

(-) εr εa (+)

σ1

σ3 = 0 Compressão
uniaxial

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Deformabilidade nos
maciços rochosos

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