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Fratura

Seleção de Materiais
Prof. João Victor Soares Chagas
Introdução
• Anteriormente, vimos que a metodologia de
seleção de materiais pode ser expressa em termos
de resistência mecânica, de rigidez ou de uma
combinação dos dois critérios.
• Com isso, a funcionalidade é assegurada e a
introdução do fator custo garante a viabilidade
comercial do produto ou componente.
Introdução
• Porém, exemplos práticos mostram que essas
considerações não são suficientes para
assegurar a integridade das estruturas, mesmo
que as cargas estejam bem abaixo das suportáveis
pelos materiais escolhidos.
• Até o início do século XX, essa questão era tratada
com a aplicação de fatores de segurança
desmesuradamente altos, superdimensionando
a estrutura.
Introdução
• O problema dessa abordagem reside no fato de os
critérios tradicionais de cálculo estrutural
ignorarem a existência de fatores de
concentração de tensão.
Concentração de tensões e fratura
• Nos anos 20, Griffith introduziu a ideia de que em
sólidos frágeis há pequenas trincas que atuam
como concentradores de tensão, denominadas
pela mecânica da fratura de trincas de Griffith.
• Inicialmente pensava-se na fratura como um
processo de quebra de ligações e afastamento
dos átomos, mas esse processo é energeticamente
“caro”, sendo necessárias altas tensões para sua
ocorrência (E/5).
Concentração de tensões e fratura
• O mecanismo de escorregamento de uma
camada de átomos sobre a outra é mais realista,
visto que requer valores menores de tensão
(G/10).
• Isso evidencia que, em maior ou menor grau, a
tensão será parcialmente aliviada por
deformação plástica antes da ruptura das
ligações atômicas.
Concentração de tensões e fratura
• Em materiais, a regra é deformação plástica
antes de ruptura.
• E é um indicador da resistência a deformação
linear e G é um indicador da resistência a
deformação ao cisalhamento. A deformação
plástica, portanto, é tanto maior quanto menor
for a razão G/E.
Concentração de tensões e fratura
Mecânica da fratura linear elástica (MFLE):
• Essa teoria baseia-se nos trabalhos de Griffith,
observando que as trincas atuam como
concentradores de tensão.
• Considere uma placa sujeita a tensão de tração
uniforme axial, σ. As linhas tracejadas
representam a trajetória da tensão e vamos supor
que o valor numérico de σ seja inversamente
proporcional ao espaçamento entre linhas.
Concentração de tensões e fratura
𝝈𝒑 = 𝝈𝟎 (𝟏 + 𝟐𝒂Τ𝝆)
𝜎𝑝 : 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑙𝑜𝑐𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜
𝜎0 : valor para x=0
Concentração de tensões e fratura
• Suponha que exista um entalhe no meio da placa.
As linhas de tensão não se propagam no vazio e
assim procuram se adaptar a nova situação,
acumulando-se nas raízes do entalhe, que tem
raio de curvatura ρ. O aumento da densidade local
das linhas nos permite visualizar diretamente a
concentração de tensões.
• Analiticamente, podemos abordar a MFLE através
de duas formas: energia e intensidade crítica de
tensão.
Concentração de tensões e fratura
• Energia:
Da mecânica da fratura, temos:

Energia criada no sistema pela formação da trinca:


𝑈𝑆 = 2𝑎𝐺𝐶 GC : energia de fratura

Energia liberada pela progressão da trinca:


2
𝑎²
𝑈𝑅 = 𝜋𝜎
𝐸
Concentração de tensões e fratura
• Portanto, 𝑼𝑺 aumenta linearmente o
comprimento da trinca e 𝑼𝑹 com o quadrado
desse comprimento. O sistema perde energia
durante a criação da trinca e deve ganhar energia
para que essa trinca se propague.
• Até determinado comprimento a resultante da
soma dessas energias é positiva, isto é, deve ser
executado trabalho sobre a placa para que a
trinca se propague.
Concentração de tensões e fratura
• A partir de certo comprimento da trinca, chamado
comprimento crítico de trinca 𝒂𝒄 a energia
resultante diminui e a trinca se propaga
espontaneamente.
• É importante notar que essas considerações
energéticas fornecem as condições para o
crescimento instável da trinca; o crescimento
estável pode ocorrer em tensões inicialmente
baixas e em aumento progressivo.
Concentração de tensões e fratura
Concentração de tensões e fratura
• A condição crítica ocorre no ponto de inflexão da
𝑑𝑈
função U, da energia total, ou seja, = 0.
𝑑𝑎
• Desenvolvendo a equação de U, chegamos a
seguinte expressão:
𝐸𝐺𝐶 1Τ2 = 𝜎 𝜋𝑎
• Essa equação expressa a condição de fratura
súbita em material frágil.
Concentração de tensões e fratura
• O conceito da MFLE limita-se a materiais
frágeis. O critério de Griffith visto
anteriormente também pode ser modificado para
levar em conta a deformação plástica local no
ápice da trinca, já que a plasticidade contribui
para o aumento da tenacidade via consumo de
energia.
Concentração de tensões e fratura
Fator de intensidade de tensão:
• O balanço de energias durante a propagação da
trinca é limitado a materiais frágeis. Irwin
adaptou-o a metais, partindo de expressões
anteriormente desenvolvidas para descrever o
campo de tensões elásticas na vizinhança de uma
trinca elíptica em uma placa infinita.
Concentração de tensões e fratura
• Para esse caso, utilizam-se coordenadas θ e r
centradas no ápice da trinca e considera-se que há
três tipos de deformação naquele local,
denominados:
1. Modo I: abertura;
2. Modo II: escorregamento coplanar;
3. Modo III: rasgamento.
Concentração de tensões e fratura
Concentração de tensões e fratura
• Irwin observou que a tensão junto ao defeito era
proporcional a σ𝑎1Τ2 e modificou as equações que
descreviam o campo de tensões elásticas de modo
a incorporar esse fator sob a forma 𝐊 = 𝛔 𝝅𝒂 𝟏Τ𝟐 ,
denominado fator de intensidade de tensão.
• Assim, K toma a forma 𝑲𝑰 , 𝑲𝑰𝑰 , 𝑲𝑰𝑰𝑰 , conforme o
modo de abertura das trincas.
Concentração de tensões e fratura
• As grandezas mostradas anteriormente não
devem ser confundidas com o fator de
concentração de tensões, 𝐾𝑓 , que é a razão entre
a tensão amplificada e a nominal associadas à
trinca 𝜎𝑃Τ𝜎0 .
Concentração de tensões e fratura
• Para estender a aplicabilidade da MFLE, além do
caso particular da trinca central em uma placa
infinita, o fator de intensidade de tensão K, toma a
forma geral:

𝑲 = 𝒀𝝈(𝝅𝒂)𝟏Τ𝟐

• Y é um fator geométrico que no modelo de Griffith


é igual a 1.
Concentração de tensões e fratura
• As características da MFLE e de K devem ser
lembradas:
1. Todos os materiais contém trincas ou defeitos.
2. O fator de intensidade de tensão K pode ser
calculado para vários casos particulares de
configurações de trinca e de cargas.
3. A falha ocorre quando K excede o valor crítico do
material.
Concentração de tensões e fratura
• Quando σ for igual a 𝜎𝑓 (tensão de fratura do
material), 𝐾 = 𝐾𝐶 , valor crítico de K para
fratura denominado tenacidade à fratura. Essa
propriedade pode ser determinada
experimentalmente. Ainda, 𝑎 = 𝑎𝑐 , igualando-se
ao comprimento da trinca instável. Dessa
forma, para o modo I de abertura de trinca
podemos reescrever a expressão para 𝐾𝐼𝐶 :
𝑲𝑰𝑪 = 𝝈𝒇 (𝛑𝒂𝒄 )𝟏Τ𝟐
Concentração de tensões e fratura
• Os conceitos apresentados foram desenvolvidos
para sólidos elásticos que se comportam
linearmente e na forma de placa infinita de
espessura unitária com trincas passantes. Embora
muitas vezes eles sejam suficientes para materiais
essencialmente frágeis, como cerâmicas e
polímeros, necessitam de modificações para
ser aplicados a metais.
Limitações da MFLE
• A aplicação prática do conceito de intensidade de
tensão K deve levar em conta as seguintes
correções:
1. Ocorrência de plasticidade.
2. Efeitos de escala.
3. Diferentes geometrias da trinca.
Limitações da MFLE
• Plasticidade: as soluções da MFLE para a ponta
da trinca prevêem tensões infinitas para o raio da
curvatura da trinca tendendo a zero e, assim, um
material frágil dotado de uma trinca não poderia
suportar força alguma. Entretanto, materiais
reais deformam sob tensões finitas antes da
fratura, o que implica a existência de uma
região de deformação plástica junto a ponta da
trinca.
Limitações da MFLE
• O raio da zona plástica, de acordo com Irwin, é
função do fator de intensidade de tensões e do
limite de escoamento do material.
• Rigorosamente falando, as soluções da MFLE são
aplicáveis apenas se o raio da região de
deformação plástica for muito pequeno em
relação aos tamanhos da trinca e da amostra.
Limitações da MFLE
Limitações da MFLE
• Estimativa para o raio da zona plástica:
1 𝐾
𝑟𝑝 =
2𝜋 𝜎𝑦
• Tenacidade a fratura com a correção
elastoplástica:
𝐾𝐼𝐶 = 𝜎𝑓 [𝜋 𝑎 + 𝑟𝑝 ]1Τ2
Limitações da MFLE
• A diferença entre os valores de 𝑲𝑰𝑪 calculados
𝝈𝒓
pelos dois métodos aumenta com a razão , isto
𝝈𝒚
é, quando a zona plástica aumenta de volume.
Em um ensaio, para assegurar que a zona plástica
continue pequena em relação às outras dimensões
da amostra, a amostra deve ser tanto maior
quanto maior a dutilidade do material.
Limitações da MFLE
• Espessura do material: esta variável afeta os
valores de 𝐾𝐼𝐶 pela alteração dos efeitos de
plasticidade.
Limitações da MFLE
• Para pequenas espessuras, a superfície de
fratura faz ângulo de 45° com a superfície,
correspondendo a uma fratura dúctil de
cisalhamento.
• Aumentando a espessura, a deformação no
sentido desta é gradualmente suprimida, a região
de cisalhamento torna-se cada vez menor e a
zona de fratura corresponde a um estado triaxial
de tensões que se aproxima da condição de
deformação plana.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Determinação de 𝑲𝑰𝑪 : é feita com corpos de
prova e procedimentos padronizados; para
materiais metálicos aplica-se a norma ASTM
E399. O corpo de prova tem a forma mostrada na
figura a seguir, é carregado em tração e provido
de uma pré-trinca de comprimento controlado
imposta por tensão cíclica.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Para manter as condições de deformação plana,
tanto o comprimento da trinca como a
espessura da amostra são controlados de modo
que o raio da região plástica seja desprezível.
• Para metais e ligas dúcteis, esse requisito pode
fazer com que as dimensões do corpo de prova
atinjam valores incompatíveis com as máquinas
de ensaio, o que obriga a recorrer a outros
métodos de ensaio.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Um importante aspecto é o requisito de
interfaceamento entre o equipamento de
ensaio e a amostra, o que com cerâmicas é
bastante difícil pois implica em concentrações de
tensão. Desta maneira, os ensaios de flexão em
três e quatro pontos são muito utilizados para
medição da energia superficial e,
consequentemente, da energia de fratura.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Para polímeros, a obtenção de valores de
tenacidade à fratura pode ser realizada através de
amostras entalhadas. A MFLE é uma suposição
bastante realista, dada a pequena extensão da
zona plástica destes materiais.
• O modo tradicional de se verificar a fragilidade ou
dutilidade de um polímero é o ensaio de
impacto, cujos pontos positivos são simplicidade
e rapidez, embora não forneça dados
quantitativos utilizáveis.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Para materiais metálicos nota-se claramente uma
relação inversa entre 𝑲𝑰𝑪 e resistência
mecânica, evidenciando o importante efeito da
plasticidade. Veremos adiante que, alterando
convenientemente parâmetros microestruturais,
essa correlação pode ser modificada
vantajosamente no sentido de aumentar ambas
propriedades.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
Determinação da energia de impacto:
• Os métodos experimentais da mecânica da fratura
são bastante críticos tanto no sentido da
preparação do corpo de prova e iniciação e
crescimento da pré-trinca, quanto na própria
escolha do método.
• A alternativa clássica é o ensaio de impacto,
historicamente anterior ao estudo da mecânica da
fratura, mas ainda usado extensivamente devido a
sua simplicidade de execução.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• O ensaio consiste em submeter uma amostra
entalhada ao impacto de um peso conhecido
caindo de uma altura também conhecida. Há duas
modalidades de ensaio: Charpy e Izod, que se
diferenciam essencialmente pelas dimensões do
corpo de prova e por seu posicionamento ao
receber o impacto – horizontal o primeiro e
vertical o segundo.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
A energia G para fraturar a amostra é o produto do peso do pêndulo pela
diferença entre altura inicial e altura após o impacto. O ensaio Charpy está
detalhado na Norma ASTM E23-31T.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Os ensaios de impacto são executados em uma
faixa de temperatura e geram curvas de
energia de impacto que assumem diversas
formas, conforme o comportamento do material.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• O material A sofre uma transição súbita de
energia de impacto a certa temperatura. A figura
mostra as regiões frágil, de transição e dúctil.
• A transição dúctil-frágil em metais advém da
progressiva redução de mobilidade das
discordâncias com a diminuição da temperatura.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Para polímero é difícil generalizar, mas
normalmente a diminuição de energia de impacto
com a temperatura se dá de forma contínua
devido à influência de 𝑻𝒈 na mobilidade das
moléculas.
• Em cerâmicas, as discordâncias são
virtualmente imóveis e praticamente não há
acréscimo de plasticidade com o aumento da
temperatura. Alguns óxidos são exceções.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• A maior limitação do ensaio de impacto é
justamente seu resultado; não há como utilizá-lo
em expressões analíticas associadas a projeto e
dimensionamento, portanto serve apenas para
análises comparativas de materiais.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
Mecânica da fratura e ensaio de impacto:
• As limitações dos métodos Charpy e Izod
incentivaram cientistas a buscar uma correlação
entre 𝐶𝑉 e 𝐾𝐼𝐶 .
• Para aços de alta resistência foi obtida uma
expressão que correlaciona tais grandezas.
Essa expressão é válida apenas nas regiões dúctil
e de transição.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Para os materiais poliméricos, porém, foi
encontrada uma relação entre a energia
absorvida durante a fratura de uma amostra
entalhada, 𝐶𝑉 , e a energia crítica de deformação
liberada na fratura, 𝐺𝐼𝐶 . Essa relação leva em
conta a espessura e largura da amostra e
também um fator geométrico predeterminado.
A partir de 𝐺𝐼𝐶 obtemos o valor de 𝐾𝐼𝐶 .
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura

𝑪𝑽 = 𝑮𝑰𝑪 𝑩𝑫𝝋
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• O ensaio Charpy instrumentado tem por
objetivo a caracterização de processos dinâmicos
de fratura, registrando a variação carga-tempo
durante a fratura. O equipamento possui uma
célula de carga alojada ao cutelo do equipamento
de impacto e um osciloscópio.
𝒂
𝑲𝑰𝒅 = 𝑷𝒎𝒂𝒙 𝒀
𝑾
𝑲𝑰𝑫 é a tenacidade
à fratura no modo
dinâmico. a é o
comprimento da
pré-trinca. W é a
largura da amostra.
Y é função de a e W.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Na fratura frágil da imagem anterior, o processo é
limitado por tensão, isto é, a fratura instável
intervém quando a tensão de fratura é alcançada à
frente da raiz da trinca, e a superfície de fratura
é plana e sem deformação plástica. A curva
carga-tempo atinge rapidamente seu valor
máximo, caindo verticalmente a zero. 𝑬𝑰
corresponde à energia de iniciação da fratura
e a propagação não consome energia.
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Para situação de fratura dúctil, vemos a fratura
controlada por deformação. A energia total
consumida consiste da soma de 𝑬𝑰 (iniciação da
trinca), 𝑬𝑰𝑰 (crescimento estável da trinca) e 𝑬𝑰𝑰𝑰
(cisalhamento e compressão).
Métodos de ensaio de tenacidade à fratura
• Em suma, a instrumentação do ensaio de
impacto permite correlacionar seus resultados
com os da mecânica da fratura. Além disso, pela
análise do registro carga-tempo é possível
separar os mecanismos e energias relativas aos
processos de iniciação e de propagação da trinca,
que são indistinguíveis no ensaio convencional.
Mecanismos e aspectos da fratura
• Falha é um termo adequado a estruturas e
fratura é um termo adequado ao material ou a um
corpo de prova. Pode ocorrer falha sem que
haja fratura, como no caso da flambagem. Por
outro lado, pode ocorrer fratura sem que haja
falha, como no caso de estruturas que seguem
resistindo mesmo com a presença de trincas.
Mecanismos e aspectos da fratura
• O termo fratura dúctil pode se referir ao modo de
fratura ou a um colapso por deformação plástica
seguido de ruptura do material.
• O termo fratura frágil pode ser entendido como
modo de falha, propagação rápida de uma trinca
instável, ou como modo de fratura – clivagem.
Mecanismos e aspectos da fratura
Fratura dúctil:
• O mecanismo consiste na formação de
microcavidades. Estas, frequentemente formadas
pela decoesão de partículas de segunda fase.
• Com a aplicação da carga, a deformação
macroscópica se instaura. A deformação plástica
se torna instável e a estricção local dos
ligamentos que separam as cavidades conduz ao
crescimento e ao coalescimento dessas
cavidades e daí a fratura final.
Mecanismos e aspectos da fratura
• É comum a ocorrência da fratura dúctil devido à
influência de inclusões ou partículas de
segunda fase.
Mecanismos e aspectos da fratura
• A fratura dúctil consome muita energia devido
ao grande trabalho de deformação envolvido.
Além disso, a trinca não se propaga
rapidamente, e a falha da estrutura ou
componente é precedida por extensa deformação
plástica que serve de “aviso” ao usuário.
Mecanismos e aspectos da fratura
Fratura frágil ou por Clivagem:
• Os metais CCC e HC são frágeis em baixa
temperatura, mesmo que apresentem ductilidade
em temperatura ambiente ou elevada. Por outro
lado, os metais CFC são pouco afetados pela
temperatura. Para cerâmicas e a maioria dos
plásticos, em geral, é comum a ocorrência de
fratura frágil.
Mecanismos e aspectos da fratura
• Na fratura frágil temos a iniciação e a
propagação da trinca. Esses dois eventos
ocorrem rapidamente.
• A iniciação, por sua vez, pode ser o resultado do
coalescimento ou reação de discordâncias,
bloqueio da movimentação de maclas ou da
fratura de uma partícula da segunda fase
influenciada pela deformação plástica da matriz.
Mecanismos e aspectos da fratura
• A propagação geralmente é transcristalina e cria
duas superfícies pela ruptura das ligações
atômicas – fratura macroscópica.
• Foram propostas várias fórmulas para se definir
um critério de fratura por clivagem. Um desses
assume que a fratura ocorre quando a tensão
microscópica é superada ao longo de um
comprimento crítico da trinca.
Mecanismos e aspectos da fratura
• A redução do tamanho do grão no material
tende a aumentar o limite de escoamento do
mesmo através da supressão de mecanismos de
plasticidade, o que em princípio deveria reduzir
a tenacidade do material.
• Entretanto, o principal efeito da diminuição do
tamanho do grão é a redução do tamanho do
núcleo do defeito inicial, inibindo o mecanismo
de clivagem.
Mecanismos e aspectos da fratura
Mecanismos e aspectos da fratura
• O contorno de grão constitui efetiva barreira
para a propagação da trinca, a qual, ou cessa sua
progressão, ou é obrigada a mudar de direção
para continuar seu deslizamento sobre um plano
de baixo índice do grão vizinho. Assim, ela deixa
de estar orientada favoravelmente em relação à
direção da tensão.
Mecanismos e aspectos da fratura
• Na verdade, para aços, o conceito de bloqueio de
trinca por um obstáculo é mais complexo do que
ao relacionado ao tamanho de grão. Devemos
relacionar também a ideia de unidade
microestrutural, que toma diferentes aspectos
conforme o tipo de estrutura. Por exemplo, o
pacote de martensita é considerado o conjunto de
placas de martensita com a mesma orientação.
Mecanismos e aspectos da fratura
• A tenacidade em cerâmicas é muito dependente
do tamanho de defeitos como poros. Basta um
defeito maior do que o tamanho crítico da trinca
para causar a fratura.
Seleção de materiais e tenacidade
• Uma vez conhecido o campo de tensões, os
procedimentos de seleção baseados nas
propriedades de resistência mecânica e
rigidez são suficientes para garantir o correto
dimensionamento e a funcionalidade da estrutura
ou componente.
Seleção de materiais e tenacidade
• Porém, se o material não for analisado no que se
refere a tenacidade, a ocorrência de falha
súbita por fratura frágil não será afastada.
• Nessa situação, lança-se mão de tabelas que
apresentam a tenacidade de vários materiais e,
principalmente, dos mapas de Ashby. Com esse
tipo de informação, é possível selecionar o
material mais adequado para um projeto no qual o
critério dominante é a segurança contra fratura
frágil.
Seleção de materiais e tenacidade
Seleção de materiais e tenacidade
• É importante destacar que 25 MPa 𝑚 é o limite,
frequentemente citado em normas e códigos, tido
como valor mínimo aceitável para segurança
no projeto estrutural.
• A seleção baseada nos índices de mérito do tipo
tenacidade x densidade não tem muita utilidade,
pois ignora questões de dimensionamento.
Seleção de materiais e tenacidade
• O mapa anterior evidencia o índice de mérito
associado a energia de fratura (𝐺𝐶 ). Lembrando
que o critério de fratura é 𝐺𝐶 ≥ 2𝛾. Onde 𝛾 é a
energia interfacial ( ≅ 0,001 𝑘𝐽Τ𝑚²).
• Dessa maneira, o gelo e o cimento/concreto
exibem energias de fratura da ordem de 𝛾. Assim,
para fraturar concreto, é necessária apenas a
energia similar àquela usada para romper
ligações atômicas.
Seleção de materiais e tenacidade
• Para cerâmicas de engenharia, consome-se
aproximadamente 10-100 𝛾 , e para metais,
valores de 500 a 100000 maiores que 𝛾.
• Os mecanismos de plasticidade intervêm
levemente no caso das cerâmicas de engenharia e
fortemente no caso dos materiais metálicos,
denunciando o alto consumo de energia por
deformação plástica.
Seleção de materiais e tenacidade
• De especial importância é a comparação de
cerâmicas avançadas e polímeros; embora estes
exibam valores de 𝐾𝐼𝐶 menores, sua energia de
fratura é maior. Assim, o emprego de polímeros é
mais seguro que o das cerâmicas avançadas.
Seleção de materiais e tenacidade
• Não é oportuno optar por materiais com
tenacidade mais alta que a necessária. A escolha
de um alto 𝐾𝐼𝐶 permite o uso de altas tensões, que
para serem aproveitadas integralmente conduzem
a dimensionamento incompatível com
requisito final (rigidez, por exemplo).
• Além disso, na maioria dos casos, quanto maior
for a tenacidade de um dado material, mais alto
será seu custo.
Seleção de materiais e tenacidade
• O nível mínimo de tenacidade necessária pode ser
determinado pelo critério de dimensão do
defeito mínimo detectável, definido pelo alcance
dos ensaios não destrutivos (ENDT). Esse critério
é importante no caso de estruturas que recebem
inspeção periódica, para determinar se o
tamanho máximo das trincas preexistentes excede
o tamanho crítico da trinca.
Seleção de materiais e tenacidade
• O conhecimento do 𝐾𝐼𝐶 do material pode ser
usado para determinar com razoável precisão a
intensidade da tensão suportável na presença
de um defeito ou o tamanho permissível máximo
desse defeito em presença de determinada tensão.
Seleção de materiais e tenacidade
• As técnicas de ENDT podem ser aplicadas
rotineiramente a estruturas sujeitas a fadiga a fim
de acompanhar a eventual progressão das
trincas e cuidar para que não alcancem o
tamanho crítico.
• Na seleção de materiais, segundo o critério de
segurança, é importante conhecer a relação entre
os limites de detecção das técnicas de ENDT e o
tamanho permissível da trinca.
Seleção de materiais e tenacidade
Evolução da tensão
aplicável em função do
tamanho da trinca para
três valores de 𝐾𝐼𝐶 .
Quanto maior a
tenacidade, maior o
tamanho permissível
da trinca para dada
tensão.
Seleção de materiais e tenacidade
Seleção de materiais e tenacidade
• De acordo com a tabela, uma trinca interna que se
torne instável ao alcançar 2 mm não poderá ser
detectada por ultrassom antes da falha. Deve-
se, então, recorrer a um material mais tenaz ou
reduzir as tensões aplicadas.
Seleção de materiais e tenacidade
• Os processos de fabricação envolvem a produção
inevitável de defeitos com tamanho variável,
como processos de soldagem, portanto, é
importante conhecer a ordem de grandeza deles.
• É comum o estabelecimento de normas que
relacionam suas dimensões máximas com as
tensões aplicadas. Para isso, especificam-se
valores mínimos de 𝐾𝐼𝐶 .
Seleção de materiais e tenacidade
• A disposição dos materiais metálicos no mapa de
propriedades (fazendo 90° com a bissetriz xy),
evidencia que a tenacidade a fratura não tem
mais relação com a energia das ligações
atômicas, mas é controlada por mecanismos de
plasticidade.
• Em outras palavras: a fratura é dúctil, não frágil.
Seleção de materiais e tenacidade
• Se o material não for inerentemente frágil, uma
baixa resistência mecânica incentiva a fratura
dúctil, de alta energia – canto inferior esquerdo.
• Condições opostas levam à fratura antes da
deformação plástica – canto inferior direito.
Seleção de materiais e tenacidade
𝑲𝟐𝑰𝑪
• No mapa, as linhas-guias = 𝑪 equivalem ao
𝝅𝝈𝟐𝒚
raio da zona plástica, onde ocorrem os
mecanismo de dissipação de energia elástica
liberada com a progressão da trinca, chamado de
zona de processo.
• No mapa, o tamanho da zona de processo é dado
em mm.
Seleção de materiais e tenacidade
• Do ponto de vista da segurança do projeto, é
obviamente preferível escolher materiais
localizados no extremos superior esquerdo do
mapa, mas o objetivo deve ser a combinação
ótima de propriedades.
• Otimização de propriedades pode ser
visualizada diretamente no gráfico, em que é
indicada pelo vetor bissetriz do sistema de
coordenadas, que une a origem ao material de
interesse.
Seleção de materiais e tenacidade
• Logicamente, quanto maior for esse vetor, melhor
é a combinação de propriedades; e novamente
vemos que os aços ocupam o melhor lugar
nesse contexto, pois são alcançados pelo vetor
mais longo.
Seleção de materiais e tenacidade
• Para materiais que exibem plasticidade, a
redução da resistência mecânica está
associada ao aumento da tenacidade, ou seja,
ao deslocamento perpendicular ao vetor bissetriz
na direção do campo superior esquerdo.
• Entretanto, é possível ativar mecanismos de
tenacificação sem perda de resistência
mecânica. Em aços, por exemplo, podemos citar o
refino de tamanho de grão e a obtenção de
baixos níveis de impureza.
O refino do grão age no
sentido de diminuir a
temperatura de
transição.
A redução das impurezas
causa o aumento da
energia de fratura
dúctil.
A figura (b) mostra a
alteração da tenacidade
de um aço de acordo com
o mecanismo de
endurecimento.
Seleção de materiais e tenacidade
Exemplo 3: Seleção de material para um vaso de
pressão.
• Considere um vaso de pressão cilíndrico. É preciso
determinar qual dos materiais é mais seguro na
ocorrência de aumento súbito de pressão. Para
isso, é necessário considerar alguns requisitos
para segurança da operação.
Seleção de materiais e tenacidade
1. O comprimento da trinca crítica deve ser
maior que a espessura da parede. Dessa forma,
a fratura ocorrerá por crescimento lento e não
por clivagem. A falha ocorrerá por vazamento
lento, conduzindo a queda de pressão para níveis
seguros.
2. O tamanho crítico da trinca deve ser maior que
o mínimo comprimento detectável por ENDT, a
fim de possibilitar o monitoramento da trinca.
Seleção de materiais e tenacidade
• Da análise matemática, tiramos que o vaso de
pressão que resistirá à maior pressão P é aquele
𝑲𝟐𝑰𝑪
que exibe a maior relação .
𝝈𝒚
Seleção de materiais e tenacidade
• No mapa, através da análise da linha-guia em
questão, vemos que o material com o melhor
índice de mérito é o aço, localizado na
extremidade superior esquerda. O uso desse
material daria extrema segurança ao vaso de
pressão, mas à custa de eficiência muito baixa
(muito espesso).
FIM!

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