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ESCOLA DE ENGENHARIA
LABORATÓRIO DE METALURGIA FÍSICA
Av. Osvaldo Aranha, 99- 6o andar - Sala 610
CEP: 90035-190 - Porto Alegre - RS - Brasil
Fone: (51) 3308 3565 / 3308 4245 / 3308 4248
Celular: 99893491
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1 – FADIGA................................................................................................................. 3
1.1– TIPOS DE CARREGAMENTO CÍCLICOS ....................................................... 5
1.2 – CURVAS DE WÖHLER OU S-N ...................................................................... 6
1.3 – DIAGRAMA DE GOODMAN ............................................................................ 7
1.4 – ETAPAS DO PROCESSO DE FADIGA ......................................................... 10
1.4.1 – Estágio I – Nucleação da Fadiga............................................................ 10
1.4.2 – Estágio II – Propagação ....................................................................... 122
1.5 – FATORES QUE AFETAM A VIDA EM FADIGA DOS MATERIAIS ................ 21
1.5.1 – Acabamento Superficial ......................................................................... 22
1.5.2 – Tamanho da Peça .................................................................................. 23
1.5.3 – Fator de Carga ....................................................................................... 24
1.5.4 – Temperatura ........................................................................................... 24
1.5.5 – Concentração de Tensões ..................................................................... 25
1.5.6 – Efeito da Microestrutura ......................................................................... 26
2 – ANÁLISE DE FALHA.......................................................................................... 27
2.1 – LISTA DE SUGESTÕES DE PONTOS A SEREM LEVANTADOS EM CONTA
PARA ANÁLISE COMPLETA DA FALHA (11)...................................................... 3030
2.2 – EXEMPLOS DE APLICAÇÕESA EM ANÁLISE DE FALHA........................... 33
2.2.1 - Análise de falha do conjunto da chapa intermediária de embreagem (13) 33
2.2.2 - Análise de falha do parafuso de fixação do estabilizador de uma
aeronave (13) ....................................................................................................... 39
2.2.3 - Análise de falha em pino de ensacadeira pneumática ........................... 44
2.2.4 - Análise de falha em chapa para apoio de molas .................................... 52
2.2.5 - Análise de falha em virabrequins para motores a diesel (1)......................56
2.2.6 - Análise de falha em barra de prensa........................................................67
2.2.7 - Análise de falha em parafuso da biela de um motor Ford 6.6..................76
2.2.8 - Análise de falha em turbinas para motor diesel – caso 1.........................87
2.2.9 - Análise de falha em turbinas para motor diesel – caso 2.........................92
2.2.10 - Análise de falha em turbinas para motor diesel – caso 3.......................96
2.2.11 – Análise de falha em coxins..................................................................100
2.2.12 – Análise de falha em barra estabilizadora.............................................104
2.2.13 - Análise de falha em haste de compressor............................................108
2.2.14 – Microstructural Analysis of Stainless Steel AISI 321 of Bellows
Expansion Joints……………………………………………………………..………113
2.2.15 - Análise de falha em engrenagem.........................................................118
2.2.16 - Análise de falha em suporte de pneu estepe para caminhões.............120
3 – BIBLIOGRAFIA ..........................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
Figura 1 – Representação esquemática do gradiente de tensões num corpo de prova bi-apoiado com
uma carga de flexão aplicada.
Com efeito, é comum ocorrer a falha por fadiga em materiais não submetidos
a esforços cíclicos de tração simples. Mais adiante, quando serão abordados os
aspectos macroscópicos da fadiga, será mostrado um esquema que relaciona as
características superficiais da fratura com os respectivos esforços que a originaram.
Outro detalhe que deve ser considerado é o fato de sempre ocorrer
deformação plástica envolvida numa falha por fadiga. Foi dito anteriormente que a
fadiga de alto ciclo é regida pela tensão aplicada. Todavia, apesar de às vezes não
ser visível macroscopicamente, sempre ocorre deformação plástica num processo
de fadiga, mesmo que tal deformação seja localizada apenas na ponta da trinca que
progride.
Fadiga e Análise de Falha Pg.4 de 86
1.1– TIPOS DE CARREGAMENTO CÍCLICOS
Para que haja fadiga de um componente é necessária a presença de um
carregamento cíclico ou variável com o tempo.
A tensão estática aplicada equivale à tensão média, simbolizada por σm. A
amplitude de tensão será simbolizada como σa, sendo σa a amplitude de tensão
cíclica que provoca ruptura por fadiga. As tensões máxima e mínima são
simbolizadas por σmax e σmin , respectivamente, como ilustra a figura 2 a seguir.
O caso geral de carga dinâmica pode ser estudado como a combinação dos
casos I e III de carga. (figura 3-IV) (2) e é determinada de carga flutuante.
Figura 4 – Curvas de Wöhler para trilhos ferroviários CSN novos e usados, utilizando flexão em 4
pontos.
(5)
Figura 6 - Representação de diagramas de Goodman na região positiva da tensão média .
Figura 9 – Estrias de fadiga numa liga 2024-T3 correspondem a seqüência variada da amplitude de
(4)
carregamento .
Figura 11 – Marcas de praia propagadas na seção transversal de uma haste de biela para motor
automotivo.
Figura 14 - Fratura por fadiga num pino de fixação para ensaios de carga dinâmica em corpos de
prova tipo “U” de uma servo hidráulica. A relação entre as superfícies indica alta tensão. A falha
iniciou num pequeno amassamento superficial.
Figura 16 – Curvas que relacionam o comprimento da trinca “a” com o número de ciclos em dois
níveis de tensões “σ1” e “σ2” para o estudo da fadiga. A taxa de propagação da/dN está indicada para
um comprimento de trinca “a1”nos níveis de tensão.
Fadiga e Análise de Falha Pg.18 de 86
A taxa de propagação da trinca da/dN aparentemente segue uma equação do
tipo:
da/dN = Cσaman
Onde:
C = constante;
σa = tensão alternada;
a = comprimento da trinca;
m = varia de 2 a 4;
n = varia de 1 a 2.
Figura 18 – Taxa de propagação da trinca por ∆K para duas microestruturas em aço em baixo
carbono (0.15 – 0.20% C, 0.60 – 0.90% Mn, 0.04% max P, 0.04% max S).
Fadiga e Análise de Falha Pg.20 de 86
1.5 – FATORES QUE AFETAM A VIDA EM FADIGA DOS MATERIAIS
Muitos são os fatores que diminuem a vida em fadiga dos materiais. Podem
ser considerados os expostos a seguir:
- efeitos superficiais (Ka);
- tamanho da peça (Kb);
- fator de carga (Kc).
- temperatura (Kd);
- concentração de tensões (entalhe);
- freqüência e amplitude de solicitação;
- tensão média;
- fatores microestruturais.
Todos os fatores afetam a vida em fadiga porque levam para baixo as linhas
da curva de Wöhler dos diversos materiais.
Shigley determinou uma equação linear que expressa a resistência a fadiga
de um componente levando em consideração a resistência a fadiga do material e os
diversos fatores de correção.
A teoria de Shigley(3) permite, portanto, avaliar analiticamente a resistência de
um componente em projeto.
Se = Ka Kb Kc Kd Ke Se’
Onde:
Se = resistência a fadiga do componente
Se’ = resistência a fadiga do material
Ka = fator de superfície
Kb = fator de tamanho
Kc = fator de carga
Kd = fator de temperatura
Ke = fatores diversos.
Figura 19 – Fator de redução para o limite de fadiga para um aço baixa liga devido a vários
tratamentos superficiais. (De R. C. Juvinall. Stress, Strain, and Strength, p. 234, McGraw-Hill Book
Company, New York, 1967.)
1.5.4 – Temperatura
Considerando temperaturas abaixo da ambiente, tem sido observado que os
metais apresentam um aumento na sua resistência à fadiga com o decréscimo da
temperatura.
Por outro lado, no caso de aplicações a altas temperaturas, notou-se uma
diminuição da resistência, de forma que se faz necessária a obtenção, a partir de
ensaios reais, do fator de temperatura Kd. No caso dos aços, o fator Kd segue a
equação:
344,4
Kd = para T>71oC
273,3 + T
Com o aumento da temperatura bem acima da ambiente torna-se importante
o fenômeno de fluência, de tal forma que nas temperaturas em torno da metade do
Fadiga e Análise de Falha Pg.24 de 86
ponto de fusão do material, o mecanismo de fluência é o principal responsável pela
maioria das falhas.
Observa-se, pela equação, que tomando “q” igual a zero, Kf será unitário.
Sendo assim, conclui-se que o material não possui sensibilidade ao entalhe. Mas
tomando “q” como unitário, Kf terá o mesmo valor de Kt e o material terá
sensibilidade plena.
Na realização de um projeto ou análise, antes se determina o valor de Kt a
partir da geometria da peça. Depois de especificado o material é possível, então,
determinar o valor de “q” para calcular Kf segunda a equação (3).
Kf = 1+q (Kt-1)
C. Composição química
Elementos
A B C D E F G
Especificada
Peça
D. Métodos de fusão.
Fundida ao ar;
Fundida a vácuo;
Outros.
E. Desdobramento do lingote.
Laminado a quente;
Laminado a frio;
Laminação cruzada.
F. Tratamento Termo mecânico.
1. Recozido ou solubilizado;
2. Revenido ou envelhecido;
3. Trabalho mecânico intermediário.
G. Processo de fabricação de peça.
1. Forjado;
Fundido;
Usinado;
Repuxado;
Extrusão;
Outros.
2. Tipos de junções.
Soldada;
Brasada;
Parafusada;
Colada;
Outros.
mola
Figura 22 – Conjunto da chapa intermediária com as quatro molas. À direita, detalhe da região de
engaste da mola a chapa de ferro fundido.
Então ficou claro que a ruptura por fadiga da mola era a responsável pela
quebra do conjunto. Quando rompida apenas uma delas, as demais ficaram
sobrecarregadas rompendo por tração caso não ocorresse antes o cisalhamento do
rebite. A partir daí, se continuar em operação, a rotação do disco poderia provocar a
quebra do anel.
A análise da fratura das molas indicou que algumas romperam por sobrecarga
de tração, principalmente nas bordas do furo para o rebite, propagando para fora
conforme indicam as marcas de sargento, e de um modo dúctil com shear lip nas
bordas. Outras romperam por fadiga em carregamento de tração, tendo nucleado
nas bordas do furo do rebite e propagado em direção ao lado de fora da mola,
conforme pode ser observado na figura 23.
Figura 27 – Mola de aço carbono com 0,70 – 0,80% C, temperada em óleo para uma dureza de “ RA”
72,4 – 75,2. A dimensão de 2,968 polegadas tem uma estreita faixa de tolerância (± 0,002).
Se esta distância entre centros que deve ser de 2,968 ± 0,002 polegadas (ou
75,3872 ± 0,0508 mm) for menor em uma das quatro molas, esta absorverá
praticamente toda a carga e, obviamente, entrará prematuramente em fadiga. Se for
maior que das outras três, esta estará praticamente descarregada e as outras três
sobrecarregadas havendo, neste caso, tendência de falha por fadiga em uma delas.
Com isto, concluiu-se que a causa da falha foi a fadiga da mola provocada por
uma alteração no seu processo de fabricação.
Sendo o estabilizador preso por este único parafuso, a sua ruptura em vôo
significaria um acidente fatal, tendo em vista que a aeronave fica totalmente sem
controle com a perda desta superfície. Na figura 28 pode ser visto como o
estabilizador é preso na deriva através deste único parafuso.
Foi realizado ensaio de dureza do parafuso que rompeu para comparar com a
sua especificação cujo valor é de 34 a 36 HRC. Os valores obtidos em uma seção
longitudinal foram em média de 50,18 HRC e, na superfície externa, em média 51
HRC. Considerando-se que o parafuso é feito em aço SAE 4340, conclui-se que a
temperatura de revenimento foi muito baixa reduzindo com isso sua ductilidade.
Figura 29 – Vista geral da superfície da fratura. As setas indicam a região de início da falha num
plano que contém o fundo do filete de rosca.
Até este estágio, não surgiu com clareza a causa da falha do parafuso,
entretanto, chamaram a atenção alguns fatos extremamente importantes que podem
ser relacionadas como segue:
Então, se este contato ocorreu é porque estas peças estavam fora das
medidas. Por esta razão, foi então feita uma verificação da profundidade da porca,
onde se obteve 12,4 mm ao invés dos 13 mm do desenho, e do comprimento do
parafuso que apresentou 100,80 mm no lugar dos 100 mm. Só aí, os dois milímetros
de folga ficam reduzidos para 0,6 mm.
Não foi possível verificar o anel que estava instalado na aeronave, mas com
certeza também deveria apresentar um comprimento inferior aos 89 mm previstos,
tendo em vista que o contato realmente ocorreu.
Assim sendo, a causa da falha neste caso pode ser atribuída aos erros nas
dimensões das peças, produzidas por ocasião da usinagem. Isto poderia ser evitado
se fosse dada uma folga maior, que seria conseguida, por exemplo, usando 95 mm
no comprimento da haste do parafuso ao invés dos 100 mm.
Figura 31 – Esquema representando a mudança de projeto para o encaixe da tampa. O pino foi
soldado ao dispositivo de aperto e depois foi aderida uma camada protetora contra corrosão de aço
inoxidável.
Figura 34 – Estrias de fadiga observadas na superfície fibrosa, caracterizadas por linhas paralelas
dispostas radialmente a partir do ponto inicial da fadiga. As estrias são formadas devido a deformação
plástica localizada na ponta da trinca que se propaga.
Figura 36 – Microestrutura ferrítica e perlítica com tamanho de grão em torno de 8 ASTM que
caracteriza a superfície do pino.
Figura 38 – Tamanho de grão em torno de 6 ASTM junto ao núcleo do pino com matriz ferrítica e
perlita esferoidizada. Observa-se também o alinhamento microestrutural devido a laminação.
80 Goodman
Tensão Máxima
68,5 64,5
60
(MPa)
40
32,25
20
320
0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Figura 41 – A seta indica a ruptura que inutilizou a chapa de apoio para molas. Aumento: 0,8x.
Figura 42 – Vista de topo mostrando o acabamento superficial da região da chapa cortada por
guilhotina numa região simétrica àquela trincada. Na direita, metalografia indicando a presença de
uma trinca semelhante a que resultou na falha da peça, bem como as linhas de fluxo oriundas da
fabricação.
Figura 43 – Vista em perspectiva da região crítica. Notam-se, junto à aresta, os pontos onde ocorreu
deformação plástica localizada durante o processo de estampagem. Porém, esta metalografia é
referente a chapa isenta, o que determina que os pequenos pontos concentradores de tensão
formam-se já na fabricação da peça.
Figura 45 – Fractrografia em MEV do detalhe da imagem (a), figura anterior, na região de início da
falha. Nota-se a superfície de clivagem e sinais de cementita esferoidizada indicada pela seta.
Introdução
O virabrequim dos motores a combustão interna é o componente responsável
por captar e posteriormente transmitir a energia produzida pelos cilindros (câmaras
de combustão), podendo ser considerado como seu principal componente
transformando o movimento de translação dos pistões em rotação. Os virabrequins
são peças robustas, superdimensionadas, construídas de aço ou ferro fundido e
mesmo assim ocorrem muitos casos de falha nestes componentes.
Estes componentes devem possuir alta resistência a fadiga, pois sofrem
carregamentos cíclicos durante toda sua vida útil. Entretanto muitos são os fatores
que podem alterar esta propriedade, introduzidos pelo processo de fabricação,
montagem, manutenção, material, operação e etc. Muitas vezes, devido a grande
rigidez do sistema, o motor continua em operação por algum tempo, de modo que a
superfície de fratura sofra grande amassamento prejudicando a observação dos
mecanismos de fratura.
Fadiga e Análise de Falha Pg.56 de 86
Neste trabalho serão apresentadas algumas análises de falha já realizadas
pelo LAMEF – UFRGS onde serão mostrados quatro (4) ocorrências de virabrequins
fabricados em ferro fundido e quatro (4) casos de peças forjadas em aço. A figura 48
mostra um desenho esquemático do componente e suas partes.
Cambotas Moentes
Munhões
Metodologia
A metodologia seguida para as análises de falha realizadas segue o proposto
(1)(2)(3)(4)(5)
pela literatura . Devido a grande quantidade de informações alguns
resultados, que não tiverem ligação direta com o colapso, não serão citados. Serão
discutidas, portanto, apenas as causas que levaram cada componente ao colapso. A
contagem das partes tem origem na parte frontal do componente em relação motor.
Resultados
Serão apresentados primeiramente os casos de peças fabricadas em aço e
posteriormente os casos de peças fabricadas em ferro fundido.
Figura 50 - Micrografias mostrando as regiões onde ocorreu formação de martensita não revenida.
Ataque: Nital 2%. Aumento: 180x.
Início da falha
Marcas de praia
Ruptura final
Figura 52 – Detalhe do plano de propagação desenvolvido numa extensa superfície que abrange
mais de 50% do total da seção resistente. Aumento: 0,6x.
Figura 53 – Macrografia mostrando a região temperada por indução (a) e a região do núcleo (b).
Observa-se que o término da camada temperada por indução ocorre imediatamente antes do início
do raio de concordância. Aumento: 12x.
Figura 54 – A imagem mostra uma inclusão alongada no sentido ortogonal à pista de rolamento,
próximo ao início da falha. Sem ataque.
Início da falha
Início da falha
Zona de
propagação
CONCLUSÃO
Dos oito componentes apresentados constatou-se que ocorreram duas falhas
devido a manutenção inadequada, duas falhas devido a processos de tratamento
térmico irregular, um caso de operação inadequada associado a um problema de
material e, finalmente, três colapsos onde o processo de fabricação por fundição foi
o principal responsável pelas falhas.
O estudo das situações acima mostra que quando o assunto é fadiga mesmo
peças robustas tornam-se susceptíveis à falha.
BIBLIOGRAFIA
1) Cassou, C. A., “Metodologia de Análise de Falha, Dissertação de Mestrado,
PPGEM, UFRGS, 1999.
2) Metals Handbook, “Fadigue Analysis and Prevention”, 9th edition, ASM
1986.
3) NISHIDA, S., “Failure Analysis in Engineering Aplications”, Butterworth-
Heinemann, great Britain, 1992.
4) BROOKS, C. R., “Metallurgical Failure Analysis”, Volume 7, Mcgraw- Hill,
New York, 1993
5) HERTZBERG, R. W., “Deformation and Fracture Mechanics of Engineering
Materials”, 3rd edition, John Wiley & sons, New York, 1989.
6) Society for Experimental Mechanics. Handbook of Measurement of
Residual Stresses. Lilburn: The Fairmont Press, Inc., USA, 1996
Resumo
Uma barra de prensa rompida em serviço foi analisada onde se constatou que
a falha foi oriunda da alta susceptibilidade ao entalhe do material utilizado aliada a
defeitos microestruturais.
Análises metalúrgicas indicaram que ocorreu um processo de fadiga com uma
pequena superfície de propagação originada em defeitos superficiais
(arrancamentos e “pittings”).
As análises indicaram, também, a ocorrência de uma grosseira rede de
carbonetos primários sobre a matriz martensítica do material.
Finalmente, sugerem-se algumas alterações no material a fim de aumentar a
vida em fadiga da barra.
Descrição
Foram recebidas duas partes de uma barra de prensa para forjamento que
rompeu em serviço para desenvolver análises metalúrgicas a fim de evidenciar a
causa da falha. Esta barra possui seção de 220x140 mm e 1700 mm de
comprimento e aciona cinco punções extratores.
Conforme as informações do solicitante, o projeto original da barra prevê a
utilização de um aço DIN X210CrW12 (VC 131). No entanto, a barra foi fabricada
com o aço VD2. A barra reposta, por fim, foi fabricada com o aço AISI 4140
beneficiado e sofreu têmpera por indução na face em contato com os punções
extratores.
Análise Visual
As duas superfícies de fratura foram submetidas a inspeção visual e em lupa
de baixo aumento onde determinou-se uma pequena região de convergência das
linhas radiais na fratura do corpo da barra. Já a fratura da extremidade apresentou
linhas radiais advinda de toda aresta da mudança de seção, aparentando fratura por
sobrecarga. Nesta etapa da análise, o foco de atenção partiu para esta pequena
região de convergência. Diversas imagens foram realizadas em lupa e aparentaram
tratar-se de um processo de fadiga, como mostram as figuras 62 a 65.
Figura 63 – Detalhe (b) da fratura da extremidade vista na imagem anterior. Aspecto de ruptura por
sobrecarga com linhas radiais seguindo a partir de toda a aresta de mudança de seção.
Figura 64 – Detalhe (a) da fratura central vista na imagem 61. Observam-se as linhas radiais partindo
do vértice superior direito indicado pelo retângulo.
Figura 71 – Micrografias em MEV do aspecto da face retificada na qual iniciou o processo de fadiga.
Foi aplicado um ataque com Nital 10% que revelou os carbonetos alinhados (placas claras). Observa-
se, à esquerda, uma trinca secundária seguindo um alinhamento. À direita, outra trinca secundária
oriunda de um “pitting” de corrosão.
Figura 73 – Espectro de microssonda EDS aplicada a uma das fases. Trata-se de carbonetos com
traços de vanádio, cromo e ferro.
Conclusões
O material utilizado (aço VD2) e o material especificado (aço VC131) são
inadequados para a aplicação na fabricação da barra suporte de punções extratores,
visto que apresentam grande susceptibilidade ao entalhe. A microestrutura formada
por uma grosseira rede de carbonetos primários, associada à questão das
irregularidades superficiais, acelerou o processo de falha.
Sugestões
Conforme foi informado pelo solicitante, a barra de reposição foi fabricada a
partir de um aço AISI 4140 temperado e revenido e com têmpera superficial na face
em contato com os punções.
Como foi observado neste trabalho, o ponto crítico quanto à fadiga encontra-
se na face oposta.
Sugere-se, portanto, que seja utilizado um aço AISI 4140 ou até mesmo um
AISI 4340, que apresenta maior tenacidade, mas que seja conservada a condição
superficial de retífica e que seja também temperada por indução a face crítica.
Resumo
Foi aplicada uma análise de falha em um motor a diesel Ford 6.6, onde se
constatou que o colapso foi devido à falha por fadiga de um dos parafusos da quarta
biela. Durante a análise foi verificado que outro parafuso de outra das bielas
apresentava também um processo de fadiga.
Ambos os processos de fadiga apresentaram características de início por alta
concentração de tensões e susceptibilidade ao entalhe.
O processo de fadiga foi incentivado por defeitos de fabricação nas estrias
para montagem por interferência da haste (recartilhado).
Introdução
Foi solicitada a aplicação de uma análise de falha em um motor automotivo de
combustão interna a diesel de marca Ford 6.6 de propriedade de Asun Comércio de
Gêneros Alimentícios LTDA que sofreu revisão na mecânica San Izidro na data de
05/02/2000 e veio a entrar em colapso na data de 07/08/2000.
Conforme o solicitante, o motor apresentou ruptura dos parafusos da biela do
quarto cilindro.
Sendo assim, foi efetuado o acompanhamento da desmontagem do motor e a
análise visual preliminar dos destroços. Foram observadas, além da ruptura dos dois
parafusos da biela em questão, a ruptura da base do motor, a ruptura do comando
de válvulas em três regiões distintas, e outras avarias tais como marcas de contato
das válvulas sobre os pistões, trincas e rupturas no quarto pistão, empenamento de
tuchos, varetas e válvulas.
O solicitante informou que o torque de aperto recomendado é de 10kgfm.
Antes da desmontagem das demais bielas, foi aplicado um momento torsor (torque)
nos demais parafusos através de uma chave (torquímetro) de marca RAVEN, do tipo
catraca e foi verificado que eles estavam com os 10kgfm especificados.
Após a desmontagem, alguns itens (figura 79) foram separados para a análise
em laboratório como segue:
- Os dois parafusos rompidos com a 4a biela e pistão;
- 4 outros parafusos retirados das demais bielas;
- As partes fraturadas do comando de válvulas.
Figura 79 – A imagem mostra os ítens levados ao laboratório para análise. Em (a), com 0,4x de
magnificação, observa-se o pistão e as partes da biela com os parafusos, além das partes fraturadas
do comando de válvulas. Em (b), com 0,6x, os quatro parafusos separados para ensaios mecânicos
retirados aleatoriamente das demais bielas. Em (c) detalhe da marca cunhada sobre a cabeça do
parafuso rompido da quarta biela.
Figura 81 – Vista da parte superior do pistão 3 e 4. A seta indica uma marca de contato com uma
válvula. Aumento: 0,3x.
Figura 82 – Vista da parede interna da camisa do pistão 4. Nenhuma marca que indicasse
desalinhamento de montagem foi verificada. Aumento: 0,7x.
Figura 83 – Superfícies de fratura dos dois parafusos da biela 4 (aumento de 1,5x). Em (a), ruptura
dúctil por sobrecarga. Em (b), ruptura lisa típica de fadiga. Detalhes com 6x.
Fadiga e Análise de Falha Pg.79 de 86
Figura 84 – Em (a), imagem com 20x de aumento mostrando o início da falha do parafuso fadigado.
Em (b), com 60x de aumento, um evidente defeito em outra estria vizinha à anterior.
Figura 86 – Superfícies de fratura do comando de válvulas. Nenhuma delas indicou algum sinal de
mecanismo de fadiga. Aumento: 1,1x.
Ensaios mecânicos
Os outros quatro parafusos e o crítico, rompido por fadiga, sofreram ensaios
mecânicos de tração estática e ensaios de dureza, a fim de determinar a sua classe
de fabricação. No primeiro ensaio de tração, o parafuso rompeu com um baixo valor
Figura 88 – O outro lado da fadiga da figura anterior. Em (a), com 15x de aumento, notam-se as
marcas de praia a partir do ponto inicial. Em (b), detalhe com ampliação de 60x do defeito que
originou o processo de fadiga.
Análise Microestrutural
Para preservar o parafuso causador da falha foi antes realizado o ensaio
destrutivo neste segundo parafuso. Uma seção transversal contendo as estrias
(recartilhado), logo abaixo da fratura, foi retirada e preparada metalograficamente.
Observou-se a ocorrência de microtrincas na região superior de vários dos ressaltos
das estrias e inclusive naquele da origem da fadiga (figura 89). Em um deles,
inclusive, observaram-se as linhas de fluxo oriundas da deformação plástica do
processo de recartilhado (figura 90). Observou-se que as linhas de fluxo seguiam a
deformação das cavidades e apresentavam um plano de encontro coincidente com
as microtrincas. Ou seja, apresentaram duas frentes de linhas de fluxo com sentidos
contrários seguindo as paredes projetadas da estria e estas frentes encontravam-se
no plano de trinca. Os outros parafusos do ensaio de tração foram preparados e as
mesmas características foram encontradas (figura 91).
Nesta parte do trabalho, já pode ser possível prever o fator de concentração
de tensões na microtrinca como o responsável pela falha daquele primeiro parafuso.
Para confirmar, o parafuso crítico foi, então, preparado metalograficamente da
mesma forma que os anteriores e as mesmas características foram observadas no
parafuso crítico da biela 4 (figura 92).
O fato de a fadiga ter nucleado em um único ponto e ter propagado até cerca
de 80% da seção resistente indica que o nível de tensões envolvidas é baixo,
podendo ser aquele do tempo de admissão do combustível.
Neste caso, pouco importa a tensão média aplicada, ou o torque aplicado. O
parafuso romperia com qualquer valor de torque, o que mudaria seria o tempo
necessário para a falha.
Observa-se que os parafusos possuem muitos defeitos (encruamento e
microtrincas) na maioria das suas 18 estrias. Mas a falha, nos dois casos de fadiga,
Conclusões
O colapso do motor ocorreu devido à falha por fadiga de um dos parafusos da
quarta biela. O processo de fadiga iniciou num ponto de concentração de tensões
junto à região recartilhada da haste e devido à alta susceptibilidade a entalhes do
material.
Sugestões
Para evitar falhas futuras, é preciso agir no processo de recartilhado e
posteriormente na retífica.
Quanto ao recartilhado, é preciso diminuir o encruamento que leva ao fluxo de
material em sentidos contrários com a formação de microtrincas.
Quanto à retífica, é necessária maior retirada de material a fim de eliminar o
problema causado pelo recartilhado.