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O nascimento da Mecânica da Fratura linear elástica

No século XIX, o matemático francês Cauchy


publicou trabalhos sobre a distribuição de
tensões mecânicas e deformações, levando às
primeiras formulações matemáticas do efeito de
concentração de tensões.
Representação esquemática do efeito de
concentração de tensões numa chapa submetida
a esforço de tração contendo um furo circular, ao
lado. Simulação numérica por elementos finitos,
para a mesma situação, abaixo.
Inspirado nos trabalhos de Cauchy e outros,
Charles Inglis propôs em 1913 um modelo
matemático para a distribuição de tensões ao
redor de uma trinca. Idealizando a trinca como
sendo uma elipse com razão a/b. Inglis sugeriu
que a tensão na ponta da trinca depende da
tensão aplicada, do comprimento da trinca e do
raio da ponta da trinca.

Solução de Inglis para a tensão máxima na ponta


de uma trinca elíptica passante de comprimento
“a” e raio “r” sujeita a uma tensão máxima:
Em 1920, Alan Griffith utilizou o trabalho de
Inglis para propor um critério de propagação de
trinca baseado nas leis da termodinâmica.
Segundo Griffith, a condição para que uma
trinca existente cresça (propagação) ou uma
nova trinca seja gerada (nucleação) é que este
evento produza uma redução na energia
potencial do sistema. De modo simplificado, isso
significa que a liberação de energia mecânica
associada ao crescimento da trinca deve
exceder o aumento de energia causado pela
formação de superfícies adicionais (crescer uma
trinca implica em produzir superfícies adicionais
no material).
O modelo de Griffith mostrou bons resultados
na previsão de falha por fratura de materiais
extremamente frágeis (como o vidro), mas foi
apenas após a modificação proposta pelo
cientista George Irwin que o modelo
apresentou bons resultados na previsão da
falha por fratura dos metais. Em 1957 Irwin
propôs o parâmetro fator intensidade de
tensão, usualmente representado por “K”,
sendo este o parâmetro mais importante para
a descrição do comportamento dos materiais
à fratura, segundo a teoria da MFLE
(Mecânica da Fratura Linear Elástica).
Força e energia de ligação

A natureza da força que mantém os átomos


coesos em um material. Dois átomos podem
experimentar entre si forças de atração
(decorrentes da natureza da ligação química)
ou de repulsão (decorrente da interação entre
as nuvens eletrônicas negativamente
carregadas). Tais forças variam em função do
afastamento entre os átomos e, para uma
determinada distância, chamado afastamento
de equilíbrio, essa força tende a ser nula.
Energia de deformação elástica e
Energia de superfície

Alan Griffith foi o primeiro a propor um


modelo termodinâmico para o
fenômeno da propagação de trincas.
Antes de apresentar seu modelo, dois
importantes conceitos precisam ser
introduzidos:
Energia de deformação elástica e
Energia de superfície.
Imagine que uma barra de um material é
submetida a esforço de tração, provocando
uma deformação elástica. O alongamento
observado na barra é resultado do maior
afastamento entre seus átomos. A força das
ligações químicas tende a atuar para
restaurar o afastamento interatômico de
equilíbrio. Assim, o produto entre força
restauradora e deslocamento interatômico,
para cada átomo do material, está associada
a uma forma de energia, chamada energia
de deformação elástica.
Suponha agora que a propagação de
uma trinca frature essa barra, ou seja,
divida-a em duas partes. A energia de
deformação elástica em cada parte será
nula (pois nenhum esforço externo de
tração atuará).
Portanto, chegamos à primeira
conclusão importante:
O crescimento de uma trinca está
associado à liberação da energia de
deformação elástica do material.
Para propagar uma trinca
precisamos romper as ligações
químicas do material através de um
plano. Como as ligações químicas
cooperam para que os átomos
experimentem um estado de mínima
energia potencial, os átomos que
compõem a superfície de fratura
possuirão um estado de energia
mais alto (pois participam de menos
ligações químicas que os átomos
contidos no interior do material).
A energia, portanto, empregada para
romper um plano de átomos
corresponde à própria energia de
superfície de fratura. Assim chegamos à
segunda conclusão importante: O
crescimento de uma trinca está
associado à elevação da energia de
superfície do material.
A Mecânica da Fratura trata do comportamento
à fratura de componentes contendo defeitos ou
trincas sob condições semelhantes às
encontradas na prática. Os conceitos
tradicionais de resistência dos materiais
baseados em propriedades como resistência
ao escoamento ou resistência à ruptura não
levam em conta a tenacidade à fratura do
material, a qual é definida pela mecânica da
fratura como a propriedade que quantifica a
resistência à propagação de uma trinca.
Sob certas condições de serviço, um
defeito, mesmo de dimensões muito
pequenas, pode levar a falhas
catastróficas. Por mais controlada que
seja a fabricação dos componentes,
defeitos aparecem de formas
variadas, adicionalmente àqueles
inerentes ao próprio material. As
dimensões críticas de defeitos, que
dependendo da sua posição
provocam rupturas catastróficas sob
as condições de tensões.
Fundamentos

O campo de mecânica da fratura tem como base os trabalhos de


Griffith e Irwin.

É utilizado para tratar problemas de fratura envolvendo trincas


de maneira quantitativa.

Este campo é dividido em duas partes:

• Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE).


• Mecânica da Fratura Elasto-plástica (MFEP).
Resiliência
Deformação elástica –
Propriedades de Tração

Capacidade de um material
absorver energia quando
ele é deformado
elasticamente e depois,
com o descarregamento,
ter essa energia recuperada.
Energia de deformação elástica

Módulo de resiliência (Ur) representa a


energia de deformação por unidade de
volume exigida para tensionar um
material desde um estado com ausência
de carga até a sua tensão limite de
escoamento.
A área sob a curva tensão-deformação
representa a absorção de energia por
unidade de volume.
Em materiais dúcteis, como metais,
ocorre uma grande deformação plástica
na ponta da trinca. Como nesta região o
material escoa, ela é chamada de zona
plástica. Dependendo do tamanho
desta zona plástica, pode-se utilizar a
MFLE.
Griffith estudou o comportamento do
vidro de sílica, material frágil à
temperatura ambiente verificando
que a curva tensão-deformação para
este tipo de vidro é linear até a
fratura. A resistência teórica deste
vidro é de cerca E/10, mas na
presença de pequenas trincas, a
tensão de fratura é inferior a
resistência teórica.
A análise de Griffth explica por que isso
acontece e também forneceu a base
para o campo da mecânica da fratura.
Sua análise é baseada na primeira lei
da termodinâmica: “num sistema
fechado, a energia é conservada”. A
primeira placa possui uma trinca, cujo
comprimento é pequeno em relação à
espessura da placa e a segunda não
tem. Se cada uma dessas placas é
carregada a uma tensão, acontecerá
uma pequena diferença no gráfico
carga versus alongamento.
A presença de trincas reduz a resistência do
material.
Na análise de Griffith são consideradas as
seguintes energias:

1) Energia de deformação: o processo de formação


da trinca libera energia de deformação num
elemento circular de raio r = , cujo volume é:
Para o quadrado de lado 2a, inscrito no elemento
circular o valor da diagonal é: 2 .
Logo, o raio do elemento circular, usado para cálculo
do volume é:

A redução de energia de deformação elástica por unidade de


volume (resiliência) será de:
2) Energia superficial:

γ𝑠 é a energia superficial por unidade de


área, uma constante do material. O número
4 aparece uma vez que a o comprimento da
trinca interna é 2a e a trinca possui uma
superfície superior e inferior.
O próximo passo da análise de Griffith
verifica em quais condições a trinca se
propaga. Griffith considerou que a
propagação poderia ocorrer quando a
taxa da energia de deformação liberada
fosse igual a taxa na qual a energia
seria absorvida através da criação da
trinca adicional na superfície.
Griffith propôs que a força crítica, necessária para propagar uma
trinca, está relacionada com o equilíbrio entre a energia liberada,
com o aumento da trinca, e a energia necessária para criar novas
superfícies. Na condição de propagação com o deslocamento
mantido constante, portanto com o trabalho das forças externas
nulo, tem-se que:

se We < Ws a trinca tem um comportamento estável, já que a


energia liberada é menor que a necessária para propagação;

se We > Ws a condição de instabilidade é atingida e ocorre a


propagação da trinca.
Na condição de igualdade entre We e Ws ocorre um equilíbrio instável
para a trinca.

Esta condição pode ser expressa da seguinte forma:

Tensão crítica necessária para propagar uma trinca frágil.


Griffith ensaiou um vidro frágil e o resultado estava de acordo com as
previsões da equação de 𝜎𝑐, a qual também pode ser escrita da seguinte
forma:

Para tensões menores que a tensão crítica, a trinca não irá se


propagar, pois a energia que seria liberada pela trinca virtual seria
menor do que a necessária para formar uma nova superfície. A trinca
que não se propaga é chamada de estável a menos que haja um
aumento da tensão, caso contrário a trinca é chamada de instável.
Propriedade extrínseca – Fator intensidade de tensão
Especificamente, K é a medida da severidade de uma
trinca de geometria e tamanho específicos, que é
submetida a uma determinada tensão.

Propriedade intrínseca
Tenacidade à fratura – índice c indica que o valor de K
para um nível crítico para a fratura.
É necessário introduzir um parâmetro Y ou função adimensional,
que depende tanto da posição quanto da geometria da trinca,
assim como do modo de aplicação da carga.

Trinca interna, simétrica Y = 1,0.


Trinca superficial na borda, Y = 1,12.
Exercícios
A figura ao lado ilustra uma placa
de aço com uma trinca de 15 mm na
borda. Considerando-se que a tensão
de tração atuante é 400MPa.
Determine a Tenacidade a Fratura
para o material da chapa.
Resp.: 97,2 MPa.m0,5.

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