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SUMÁRIO

PÁGINA
1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA 03
1.1 Conceitos básicos 03
1.2 Fatores de produção 06
1.3 As teorias econômicas 09

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS DOUTRINAS 10


ECONÔMICAS
2.1 O pensamento econômico: da Antiguidade ao 10
Século XVIII
2.2 A Doutrina Liberal e Individualista 16
2.3 As reações socialistas 23
2.4 A teoria do neoliberalismo 23

3 O MODELO IS-LM 25
3.1 O mercado de bens e serviços 25
3.2 O mercado monetário 30
3.3 O equilíbrio no mercado de bens e produtos e no 36
mercado monetário

4 O BALANÇO DE PAGAMENTOS E O CÂMBIO 44

5 A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA 52

6 PERSPECTIVAS DA TEORIA ECONÔMICA 58


6.1 A curva da demanda 58
6.2 A curva da oferta 61
6.3 O mecanismo do mercado 64
6.4 A elasticidade da demanda 67
6.5 As preferências do consumidor 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78

1
1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

Neste capítulo tratamos dos conceitos básicos da economia, da definição


do termo economia, dos objetos principais da economia, e da sua divisão em teorias
econômicas.

1.1 Conceitos básicos


A palavra economia vem do grego oikonomia com as seguintes
características:

 “Ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição e


consumo de bens [...]“.
 “Sistema produtivo de um país ou região [...]”.
 “A arte de bem administrar uma casa [...]”.
 “Contenção ou moderação nos gastos; poupança [...]”.
 “Organização dos diversos elementos de um todo [...]”.
 “Bom uso que se faz de qualquer coisa [...]”.
 “Contenção, moderação ou ausência de desperdício em qualquer atividade”
(Ferreira, 1999: Aurélio p. 716).

Economia é o estudo dos aspectos econômicos da vida e está situada


dentro da área das Ciências Sociais.

As Ciências Sociais se ocupam dos diferentes aspectos do


comportamento humano e são também caracterizadas como ciências do
comportamento ou ciências humanas. A economia demonstra interdependência com
outras áreas como: Ética, Filosofia, Direito, Antropologia, Psicologia, Sociologia e
Política, entre outras. Baseados nestes aspectos, podemos usar a seguinte definição
do termo economia: “A economia é a ciência que estuda as formas de
comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas
necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos
alternativos.” (Robbins apud Rossetti, 2000; p. 52). Outra definição do termo
economia é a “ciência que estuda o uso dos recursos escassos na produção dos
múltiplos bens que a sociedade deseja” (VICENCONTI, 2007. p. 2.).

Na economia tratamos dos seguintes termos e fenômenos: meios


escassos, fins alternativos e ilimitáveis, escolha e alocação. A interação e
complexidade destes termos podem ser resumidas na sistematização de Robbins,
mostrada na próxima página.

Por um lado, os meios ou recursos somente estão disponíveis em


quantidades limitadas. O indivíduo ou uma empresa possuem recursos limitados
como dinheiro, instalações de máquinas, quantidades de trabalhadores e outros. Por

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outro lado, querem alcançar certos fins e satisfazer suas necessidades. Geralmente,
estas necessidades são ilimitadas, pois o indivíduo após alcançar certo objetivo (a
compra de um determinado produto), certamente desejará alcançar um objetivo
maior. O mesmo ocorre com as empresas. Após alcançar a colocação de um
produto num mercado, desejam aumentar sua participação neste mercado ou entrar
em outros mercados. Isto significa que os objetivos aumentam cada vez mais. O
conflito fundamental está entre os objetivos a serem alcançados e os recursos
limitados. É impossível alcançar todos os objetivos desejáveis ao mesmo tempo.

Indivíduos ou empresas precisam fazer escolhas. Os fins devem ser


definidos conforme os meios ou recursos disponíveis. A determinação de alcançar
um fim significa alocar recursos para este fim.

Meios Fins
(ou recursos) escassos (ou necessidades)
e limitados múltiplos e ilimitáveis

Escolhas entre fins possíveis e


meios disponíveis

Alocação
de recursos
(custos)

Consecução de Não-consecução de
determinado fim outros fins

Benefício Custo de
oportunidade

Sistematização de Robbins: Conflito fundamental na Economia

3
A alocação de recursos e o alcance deste determinado fim significam um
benefício para o indivíduo ou para a empresa. Mas, como os recursos são escassos
e o indivíduo ou a empresa precisa escolher um fim, outros fins deixam de ser
realizados. Estes benefícios não alcançados causariam os chamados custos de
oportunidade. Teoricamente seria o custo que a não-realização de um ou outro
projeto causaria ao indivíduo ou à empresa.

Vejamos um exemplo prático para ilustrar o problema principal da


economia: a escassez de recursos e as possibilidades de produção. As premissas
do modelo são:
a) Os recursos produtivos são fixos.
b) Não há progresso tecnológico, este é considerado constante.
c) É possível produzir somente dois produtos (produto A ou produto B).

B
5
(6/4)
4

(11/3)
3

2 (15/2)

1 (18/1)

0 A
6 11 15 18 20

Fonte: VICENTONTI, 2007. p. 3.

Podem ser produzidos dois tipos de televisões, uma televisão do tipo A e


outra do tipo B. Existem 10 máquinas na área produtiva e 20 trabalhadores. Estes
fatores na produção são constantes, não existe possibilidade de contratar mais
trabalhadores ou de comprar mais máquinas. Os fatores de produção são
empregados de forma mais eficiente possível e plena, nenhum equipamento e
nenhum trabalhador ficaria sem atividade. A empresa pode decidir produzir somente
a televisão do tipo A e não produzir nenhuma televisão do tipo B. O gráfico mostra
todas as possíveis combinações de produção desta empresa em produzir televisões
do tipo A e B. Em seguida, podemos conectar os pontos de produção e chegamos a
uma curva. Esta curva é chamada de curva de possibilidades de produção.

4
Como todos os meios de produção estão operando, não existe
subutilização, ou seja, pontos abaixo da curva de possibilidades de produção não
existem. Todos os outros pontos da curva denominam quantidades máximas de
produção dos dois produtos A e B. Pontos acima desta curva também não podem
ser alcançados com os meios de produção disponíveis. Se a empresa pretendesse
fabricar quantidades maiores teria que contratar mais trabalhadores ou comprar
mais máquinas.

Notamos que se a empresa decidir produzir uma unidade a mais de um


produto, terá que abrir mão da produção de certa quantidade do outro. É o problema
central de economia, a escassez de recursos e a decisão qual produto deve ser
produzido e qual não (ou em menor escala). Se partirmos do ponto de produzir 20
unidades do produto A e 0 unidades do produto B, notaremos que a cada unidade
adicional de B que pretendemos produzir, teríamos que abrir mão de quantidades
crescentes do produto A. Para produzir uma unidade de B teríamos que deixar de
produzir 2 unidades do produto A (18/1). Em seguida, partindo do ponto (18/1)
teríamos que deixar de produzir 3 unidades de A para fabricar mais um produto do
tipo B (15/2). No próximo passo, querendo produzir mais uma unidade de B já
seriam 4 produtos de A que deixaríamos de produzir (11/3), depois 5 de A (6/4) e
depois 6 (5/0). Na economia trata-se de lei de rendimentos decrescentes ou custo de
oportunidade. Este fenômeno é observado no dia-dia, na agricultura, quando numa
fazenda pretende-se substituir um cultivo (pasto) já adaptado às condições locais
por outro (trigo) ainda não adaptado. Outro exemplo é transferir um trabalhador já
experiente na produção de certo produto para a produção de outro para o qual
possui menos experiência.

1.2 Fatores de produção


Geralmente, podemos dividir os fatores de produção de um país em três
categorias:

a) Terra (Recursos naturais).


b) Trabalho (mão-de-obra).
c) Capital.

A Terra inclui todos os fatores de produção oriundos da terra que podem


ser utilizados na produção num determinado país. Não são considerados fatores de
produção elementos que não podem ser empregados na produção por motivos
técnicos (falta de tecnologia disponível para explorar). O solo fértil na agricultura é
fator de produção, como também um rio que borda a propriedade e cuja água é
utilizada para a irrigação dos cultivos.

O fator Trabalho caracteriza a População Economicamente Ativa (PEA)


de um determinado país. A PEA inclui somente as pessoas de uma população que

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estão em idade de trabalhar. Desta população, chamada de população ativa,
devemos descontar as pessoas que não estão procurando trabalho (donas de casa
e estudantes). Aí teríamos a PEA, que se divide em População Ocupada e
População Desempregada.

O Capital de um país abrange todos os equipamentos, edificações e


instalações empregados na produção deste mesmo país. Quanto mais capital um
país possuir, maior a capacidade produtiva em comparação a outro país. Também é
denominado estoque de capital de uma economia e não deve ser confundido com
capital na linguagem financeira, quando falamos exclusivamente de dinheiro.

Diante da capacidade limitada dos recursos produtivos e das necessidades


ilimitadas dos consumidores, um sistema econômico precisa responder três
perguntas básicas:

a) O que deve ser produzido? (a sociedade escolhe diante da limitada


capacidade produtiva).
b) Como estes produtos devem ser produzidos? (a sociedade escolhe quais dos
recursos escassos serão escolhidos da forma mais eficiente possível).
c) Quem é o destinatário do produto produzido? (a sociedade escolhe quem
receberá os produtos, ou seja, para quem serão distribuídos e quais as
quantidades por destinatário).

No modelo simplificado de economia existem dois agentes econômicos,


as unidades de produção representadas pelas empresas, e as unidades de
consumo, representadas pelas famílias. As famílias podem ser proprietários dos
fatores de produção através do fornecimento de mão-de-obra ou através da
disponibilização de propriedades para as empresas. As empreses produzem bens e
serviços utilizando estes fatores de produção cedidos pelos proprietários. Em troca
desta utilização, os proprietários recebem renda. Esta renda que as famílias
recebem é usada para a compra de bens e serviços, denominada dispêndio.

A renda é composta dos itens salários (todas as remunerações pelo


pagamento do fator de produção trabalho), juros e lucros (todas as remunerações do
fator de produção capital) e aluguéis (todas as remunerações dos proprietários dos
recursos terra e capital). Observe que o agente econômico denominado empresa é
distinto do seu dono que pertence ao agente econômico chamado família.

Para responder a pergunta o que deve ser produzido em uma economia,


deve-se levar em conta as possibilidades de produção. Estas são determinadas
pelos fatores de produção (oferta) e pelas necessidades das unidades consumidoras
(demanda). A relação entre oferta e demanda determinará preços e quantidades de
equilíbrio (mecanismo de equilíbrio de mercado). As necessidades são influenciadas

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também pela distribuição aos destinatários dos produtos produzidos (veja o último
item).

DISPÊNDIO (pagamento pela compra de bens e serviços)

Bens e serviços
Empresas Famílias

(unidades de produção) (unidades consumidoras)

Fatores de produção

RENDA (pagamento pelo uso dos fatores de produção)


Modelo simplificado do funcionamento de uma economia (Adaptado de VICECONTI, 2007. p. 8).

Os tipos de mercado (tipos de concorrência entre os produtores)


determinam como deve ser produzido, pois as empresas precisam adotar um
processo produtivo do menor custo possível para se impor num mercado. Contudo,
o custo de produção é distinto em mercados de concorrência perfeita, monopólio ou
oligopólio.

A distribuição aos destinatários dos produtos produzidos é determinada


pela contribuição de cada fator na produção. O fator mão-de-obra em um país com
grande abundância de mão-de-obra e pouco capital (máquinas, edificações e
equipamentos) recebe remuneração baixa, enquanto os juros e lucros recebem uma
remuneração mais alta. Trabalho de mão-de-obra qualificada é mais bem
remunerado. Note que a remuneração aos destinatários dos produtos influencia
também na questão o que deve ser produzido em uma economia.

1.3 As Teorias Econômicas


As teorias econômicas são baseadas na observação de fatos econômicos
e na tentativa de descrevê-los. Como qualquer ciência, a economia orienta-se a
fatos. Neste caso são fatos econômicos. Os economistas observam o ambiente
econômico de forma sistematizada a fim de descrever fenômenos econômicos. Após
a aplicação de testes científicos nos resultados observados tentam definir princípios,
teorias, leis e modelos da economia. Desta base, desenvolvem as teorias
econômicas.

7
Fatos econômicos Observação sistematizada Economia
do mundo real descritiva

Teoria Econômica
(Princípios, teorias, leis e modelos da economia)

Teoria Econômica

A teoria econômica pode ser dividida em duas áreas principais: a


macroeconomia e a microeconomia. Em geral, a macroeconomia trata da economia
como um todo, ou seja, do conjunto dos participantes dos mercados. A
microeconomia dedica-se ao comportamento dos indivíduos e das empresas de
forma mais isolada.

Teoria Econômica
Macroeconomia Microeconomia
(do grego makrós – “grande”) (do grego mikrós – “pequeno”)
• Contabilidade Social, sistemas de • Teoria do consumidor.
contas nacionais. • Teoria da produção.
• Análise de macrovariáveis: renda, • Teoria dos custos (da empresa).
consumo, poupança, investimento, • Estrutura concorrencial e equilíbrio dos
exportações, importações, tributos e mercados.
dispêndios públicos, oferta e
demanda monetária.

Exemplos de leis da economia: Lei da demanda e da oferta, lei dos rendimentos


decrescentes, etc.

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2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS DOUTRINAS ECONÔMICAS

No capítulo 1 aprendemos que Economia é uma ciência. Ciência é


definida como a observação e explicação de fatos econômicos. A ciência, em geral,
é neutra, objetiva. Neste capítulo tratamos de doutrinas.

Conforme o dicionário Aurélio, uma doutrina é um “1. Conjunto de


princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, científico,
etc. [...] 3. Ensinamento, pregação. 4. Opinião de autores. 5. Texto de obras escritas.
6. Regra, preceito, norma [...]” (FERREIRA, 2004. p. 703.). Hugon define doutrina
como “um projeto de organização da sociedade, tal como seu autor a julga melhor.
Ela contém os elementos da política econômica escolhida para realizar a
organização desejada” (HUGON, 1980. p. 21.). Uma doutrina representa
subjetividade, pois nela estão contidos interesses individuais ou coletivos, posições
políticas e filosóficas ou atitudes psicológicas (HUGON, 1980). É óbvio que
diferentes doutrinas econômicas são desenvolvidas durante o tempo. Dependem da
cultura, da prosperidade, da educação e de inúmeros outros fatores. São dinâmicas,
orientam-se às sociedades do respectivo período, ou seja, podem estar atualizados
num período numa determinada sociedade, mas podem estar obsoletas quando
surgirem tendências novas. Em seguida, veremos que novas doutrinas econômicas
surgiram com o tempo, muitas vezes uma contrária a outra.

2.1 O pensamento econômico: da Antiguidade ao Século XVIII


As primeiras referências conhecidas à Economia encontram-se nos
trabalhos de Aristóteles (384-322 a.C.). Ele estudou aspectos de administração
privada e finanças públicas. Platão (427-347 a.C.) estudou a divisão do trabalho. Ele
descobriu a sua necessidade e suas vantagens. Porém, Platão opinava que as
vantagens da divisão de trabalho teriam como conseqüência o surgimento de uma
população densa demais. Preferiu, pois, abrir mão das vantagens da divisão de
trabalho para evitar as inconveniências de uma população em excesso.

No capítulo que trata da introdução à economia, aprendemos que o termo


oikonomia vem do grego.

Nos séculos IV e III a.C. pôde se observar o desenvolvimento de uma


vida econômica de trocas. A Grécia crescia rapidamente, devido às novas
conquistas de territórios e riquezas. O comércio era absolutamente necessário, pois
as terras gregas eram compostas de solos pouco férteis e rochosos para alimentar a
grande população que habitava dentro de suas fronteiras. Se referirmos às doutrinas
econômicas e os fatores que as influenciavam, podemos pensar numa tendência
através de um pensamento econômico florescente. Contudo, este não foi o caso.
Nesta época, a filosofia exercia uma grande influência em todos os pensamentos,
inclusive no pensamento econômico.

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A filosofia grega pregava a preponderância do geral sobre o particular, a
igualdade e o desprezo da riqueza. Como a Grécia vivia em constantes guerras, o
indivíduo tinha a obrigação de sacrificar-se pela sociedade. O bem-estar individual
vem em segundo lugar, primeiro vem a segurança e a prosperidade de todos. O
princípio da igualdade significava que numa terra de meios econômicos limitados
(solo) se alguém enriquecesse seria à custa das perdas de outrem, ou seja,
problemas de ordem econômica seriam as conseqüências. Todas as terras deviam
estar divididas de forma igualitária, caso que houvesse algum desequilíbrio, o
casamento entre rico e pobre era obrigatório. Até mesmo a quantidade da população
estava sujeita a uma quantidade definida para evitar o desequilíbrio desta igualdade.
O desprezo da riqueza significava que qualquer objeto de riqueza era considerado
um obstáculo à felicidade e que o homem devia ter como objetivo desistir de
qualquer objeto desta natureza. Conforme a filosofia, o mais importante para o
homem era se preocupar com a vida da alma, depois com os cuidados do corpo e
somente depois, com a riqueza. Esta tendência filosófica parece extremamente
antieconômica, pois impedia o desenvolvimento da riqueza.

Mesmo assim, na antiga Grécia encontramos os primeiros elementos de


grandes doutrinas econômicas, as correntes individualista, socialista e
intervencionista.

A corrente individualista, representada por Hípias e Protágoras (séculos V


e IV a.C.), questionava a supremacia do Estado em relação ao indivíduo. Eles
tentaram reativar o trabalho individual e criticaram o trabalho somente para a cidade.
Também não concordavam com o desprezo pela riqueza e o intervencionismo do
Estado na vida do cidadão e na economia. Esta corrente não conseguiu conquistar
grande divulgação, pois seus principais defensores eram escritores menos
conhecidos.

A corrente socialista era representada por Platão. Para o filosofa, a


sociedade ideal era composta por guerreiros, magistrados e trabalhadores manuais.
Somente os homens livres, que eram os guerreiros e magistrados, incluindo seus
servidores, eram os senhores da cidade. O princípio do desprezo à riqueza era o
fundamento do comunismo e conforme o princípio da igualdade, os homens livres
estavam sujeitos ao comunismo absoluto (de bens, de mulheres e de filhos). Nesta
sociedade reinava a justiça. Esta era a garantia de que o homem livre podia dedicar-
se quase que exclusivamente à política e aos estudos de filosofia. O mínimo
necessário era reservado à Economia. Para o trabalhador manual não havia lugar
nesta organização, comerciantes e artesãos não eram bem vistos e somente o
agricultor merecia consideração razoável.

A terceira corrente é o intervencionismo de Aristóteles. Ele criticava


profundamente a corrente representada por Platão e defendia a oposição entre o

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comunismo e a propriedade (a família). Porém, concordava com a supremacia do
Estado sobre o indivíduo. Por exemplo, o estado precisava intervir para manter a
estabilidade demográfica, ou seja, devia impor restrições à população caso que a
reprodução alcançasse taxas expressivas. Resumindo, tratava-se de um
intervencionismo mais moderado.

Não podemos necessariamente falar de doutrinas econômicas na Grécia,


mas encontramos elementos importantes que mais tarde seriam fragmentos para
doutrinas econômicas posteriores.

Na antiga Grécia aparecem também as primeiras idéias monetárias.


Aristóteles distinguia duas economias, a natural, que era a economia doméstica, e a
não-natural, que era a economia mercantil. A economia natural era à base de troca,
a ão-natural era à base de troca através de moeda. Aristóteles considerava a
segunda economia censurável, pois não considerava as necessidades pessoais e
sim também a revenda. Aristóteles já examinava os processos desta economia não-
natural: o lucro comercial, o lucro usuário (o juro) e o lucro industrial. Também é
interessante que Aristóteles já distinguia três funções da moeda: facilitador de
trocas, instrumento de comparação de valores e reserva de valor.

Enquanto a Grécia era um país pequeno, o Império Romano abrangia


grandes territórios. Por isto, seu pensamento econômico era influenciado pela
política. Sua política visava assegurar o poder de dominação do Império Romano e a
riqueza era apenas um meio para conseguir este fim, mas não servia para gerar
bem-estar. As províncias eram obrigadas a abastecer Roma com alimentos e
suprimentos de qualquer natureza. O próprio romano era apenas consumidor, não
queria ser produtor, sua função era puramente política. A agricultura, cujas técnicas
foram melhoradas pelos romanos, era exercida pelos escravos e não pelos
romanos. Pequenas propriedades eram transformadas em grandes latifúndios. Nem
as artes, ofícios industriais e o comércio eram atividades consideradas adequadas
para um homem livre. Todo o sistema produtivo e de transporte (as grandes vias e
aquedutos) serviam exclusivamente para abastecer as tropas que protegiam os
pontos fronteiriços do Império Romano.

Da mesma forma, como constatamos na antiga Grécia, tampouco no


Império Romano desenvolveu-se uma doutrina econômica. Eram apenas
pensamentos econômicos desenvolvidos pelos teóricos romanos. Estes
pensamentos podem ser divididos em idéias intervencionistas e individualistas.

A corrente de idéias intervencionistas teve sua origem nas prolongadas


guerras e na lentidão do transporte que causaram diversos problemas de
abastecimento no Império Romano. Trigo era distribuído abaixo do preço de
mercado, havia uma garantia para o fornecimento gratuito aos indigentes e a

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distribuição de pão era feita diretamente pelo Estado. Estas medidas, com o intuito
de melhorar o abastecimento da população, causaram sérias conseqüências, como
o aumento do déficit público, da corrupção e de fraudes na distribuição. Esta
regulamentação afetou o sistema produtivo diretamente, como o preço do mercado
não era mais obtido, a agricultura deixou de ser uma atividade bem remunerada e
começou a entrar em decadência. Os produtores somente podiam vender seus
produtos aos compradores oficiais do Império. Tudo começou a ser regulado, a
semeadura, a colheita e o transporte dos produtos que era monopolizado pelo
Estado. Outro efeito negativo foi a falta de incentivos à população indigente para
exercer atividades produtivas. Vários escritores (“scriptores de re rustica”) criticavam
esta regulamentação. Segundo eles, Roma precisava retornar a valorizar a terra em
vez de regulamentar tudo a fim de resolver os problemas de abastecimento.

As idéias individualistas foram desenvolvidas pelos jurisconsultos


romanos. Estabeleceram a propriedade privada e o direito das obrigações dos
cidadãos. Estes trabalhos não ganharam importância em Roma, porém, no século
XVIII foram redescobertos pelos fisiocratas e clássicos e serviram de base para suas
doutrinas econômicas.

Como pudemos constatar, gregos e romanos, apesar de não terem


desenvolvidas doutrinas econômicas propriamente ditos, deixaram os fundamentos
para as doutrinas econômicas posteriores.

O fim do Império Romano significou o começo da Idade Média (séculos V


ao XIV). Com a queda de Roma iniciava-se um processo de diversas guerras e
invasões bárbaras, deixando grandes destruições por toda a Europa. O feudalismo
criava pequenas áreas de domínio, causando uma fragmentação política e
econômica. A falta de manutenção das vias de transporte criadas por Roma
aumentava a isolação de muitas regiões. Os habitantes de uma pequena região
forneciam exclusivamente para seus senhores. O comércio e a troca regional não
existiam mais. As moedas como meio de troca eram aceitas somente de forma
interna. No século XI começou um período de prosperidade. A Igreja e a Realeza
conseguiam restabelecer a ordem social e a organização política. As cidades se
tornavam os novos centros do comércio onde se negociava mercadorias. Ofereciam
proteção aos seus habitantes contra o excesso dos seus senhores e assaltantes das
caravanas. Os habitantes das cidades se organizavam em associações e
desenvolviam a divisão do trabalho (manufatura). Fora das cidades, situavam-se os
campos agrícolas, que com a prosperidade das cidades deixavam de ser sistemas
de sustento e se transformavam em fornecedores de produtos agrícolas para a
cidade. O maior volume do comércio intra-regional exigia investimentos nas vias de
transporte e possibilidades de crédito, entre outras. Em 1096 iniciou-se a Primeira
Cruzada e o retorno ao comércio no Mar Mediterrâneo. Os exércitos precisavam ser
abastecidos e o encontro das culturas ocidental e oriental permitia maiores trocas

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comerciais e a descoberta de novas técnicas. Mesmo que diversas guerras e
epidemias tivessem causado grandes distúrbios, na Idade Média iniciou-se a volta
do mercado regional. As idéias econômicas sofriam forte influência da Igreja que
pregava a moderação referente à propriedade e ao lucro. Devia-se conseguir o
equilíbrio de tudo, principalmente obter justiça nas trocas de mercadorias e serviços,
ou seja, preço justo e salário justo. A propriedade particular era admitida, tratava-se
de um direito, porém, impunha também deveres de ordem social. A propriedade
tinha forte ligação com o crescimento populacional. O homem podia possuir tantas
propriedades quanto sua atividade lhe permitia adquirir, sempre relacionadas as
suas possibilidades físicas e intelectuais (crescimento da família). Contudo, o
excesso era condenado, pois a conseqüência seria um desequilíbrio social. A
propriedade tinha que atender a necessidade econômica do seu proprietário e, ao
mesmo tempo, estar dentro dos limites para não causar prejuízo para o interesse
social. O trabalho humano era considerado essencial, condenava-se a ociosidade.
Dois tipos de trabalho eram distinguidos: o trabalho para obter riquezas utilizáveis
diretamente pelo homem e o trabalho para obter riquezas artificiais. O primeiro, que
incluía a agricultura, era bem visto, o segundo com ressalvas, porém, pouco a pouco
vinha melhorando sua imagem enquanto se movia entre não lesionar a sociedade e
dar utilidade para seu consumidor.

Referente à moeda, havia constantes mutações monetárias. Os reis


consideravam a moeda como propriedade particular deles. Havia necessidade de
ajustar as moedas devido a menores arrecadações de impostos e crescentes
dispêndios públicos. Porém, na Idade Média, esta política começava a afetar
seriamente os comerciantes, pois a moeda com suas constantes mutações
representava um obstáculo nas relações de troca entre os comerciantes. Orèsme
contestava a opinião dos reis de que a moeda era assunto pessoal deles.
Argumentava que, como era meio de troca, pertencia aos comerciantes e à
coletividade. Existiam cinco formas de mutações monetárias:

a) Mutação da efígie (quando um novo príncipe mandava fabricar novas


peças com seu cunho. Somente era aceitável se as moedas com o
cunho antigo continuassem em circulação com a mesma relação de
troca).
b) Mutação de proporção (quando era mudada a relação legal
estabelecida para os valores dos dois metais – ouro e prata –
empregados como moeda. Somente era aceitável se o valor dos
metais como mercadorias também variasse).
c) Mutação nominal da moeda (quando o soberano modificava os preços
estabelecidos).
d) Mutação do peso da moeda (quando o soberano reduzia o peso de
uma moeda sem mudar o nome).

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e) Mutação da matéria (quando o rei mandava substituir um metal
precioso por outro e alterava as proporções das ligas).

Estas críticas tiveram como conseqüências que o soberano levava em


consideração o interesse social e agisse de forma moderada e equilibrada, que eram
os elementos fundamentais da Idade Média.

O mercantilismo (entre 1450 e 1750) pode ser considerado a primeira


escola econômica. Surge no século XVI o Renascença, que teve como
conseqüência a ressurreição de um novo espírito para a civilização. Anteriormente, a
Igreja dominava o pensamento econômico pregando a moderação. Com o
Renascença surgiu a curiosidade do saber, do bem-estar, do consumo e do luxo. As
vias de transporte eram expandidas, viagens mais longas traziam novas idéias e
bens exóticos, residências nobres eram erguidas e técnicas de imprensa
melhoradas. Criou-se o lema “rien de trop” (nada é demais), ou seja, não havia
limites para o descobrimento do homem e do mundo. Todos estes fatos favoreceram
o desenvolvimento de atividades econômicas. O mundo se distanciava das idéias da
Igreja sobre a austeridade, o movimento da Reforma surgiu. João Calvino
(Calvinismo) defendia a atividade econômica e se opunha à ociosidade do homem.
Para ele, o sucesso profissional somente podia ser alcançado na busca do lucro.
Concordava com o empréstimo a juros, pois a função bancária podia impulsionar a
economia. Sem dúvida alguma, este movimento de reformas foi a base do futuro
espírito capitalista.

Na Idade Média havia o feudalismo com pequenas áreas dominadas por


diversos senhores. No Renascença começavam surgir monarcas mais fortes,
capazes de unir grandes territórios. Estes grandes territórios se transformaram em
unidades políticas e econômicas, tornando o comércio um negócio público e não
mais exclusivamente privado, como era considerado na Idade Média. Surgiram as
nações e com isto, era necessário o desenvolvimento de uma política econômica, ou
seja, de uma doutrina econômica para defender seus interesses nacionais.

Outro fator importante para o desenvolvimento econômico foi o fator


geográfico. Com a utilização da bússola e a invenção da caravela pelos portugueses
para enfrentar a navegação em alto mar, os europeus descobriram novos lugares
(África, América do Norte e do Sul, as Índias) e diversas mercadorias novas,
principalmente metais preciosos, chegavam em grandes quantidades. Observava-se
um forte aumento de preços das mercadorias. O Rei Carlos IX da França ordenou
examinar a causa deste problema. Descobriu-se que o aumento dos estoques de
metais preciosos causava o aumento dos preços (Jean Bodin e sua a teoria
quantitativa em 1658). Contudo, concluiu-se de forma equivocada que a riqueza de
um país dependia exclusivamente da quantidade do seu estoque de metais
preciosos, ou seja, quanto mais metal precioso um país possuía, mas rico era. A

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Espanha servia de base para esta conclusão, era o país que mais possuía metais
preciosos e era considerado naquela época o país mais rico. Na verdade, os
mercantilistas não achavam que a quantidade de metais preciosos em estoque de
um país era o único indicador de riqueza, mas era o indicador mais importante. Os
metais preciosos não estragavam, tinham sua durabilidade e a conservação do seu
valor garantido. Também era importante um estoque alto de metais preciosos
mantidos por um país para estar preparado para guerras e corromper os inimigos.
Esta teoria metalista era a base da doutrina econômica dos mercantilistas. Existiam
cinco formas de mercantilismo: a espanhola, a francesa, a inglesa, a alemã e a
fiduciária. O objetivo de todos era o mesmo. A forma francesa é chamada também
de mercantilismo industrialista ou de colbertismo (Jean Baptiste Colbert, ministro das
finanças da França). Como os franceses não possuíam minas de ouro ou prato no
exterior (como os espanhóis) tratavam de conseguir metais preciosos através da
exportação de seus produtos mais industrializados. A indústria era promovida em
detrimento da agricultura. Incentivava-se o crescimento populacional para aumentar
a produção industrial e para dispor de mais homens para seus exércitos. O consumo
de bens de luxo era proibido e existiam salários máximos para não encarecer a
produção industrial e continuar ser competitivo em comparação a outras nações.

2.2 A doutrina liberal e individualista


Em 1725 e 1740 ocorreram duas crises graves na França. Como os
mercantilistas favoreciam o desenvolvimento da indústria em detrimento da
agricultura, a população rural vivia em miséria. O Estado seguia uma política de
intervencionismo cada vez mais rigorosa e arbitrária. Surgiu então a oposição entre
os interesses dos indivíduos e os interesses do Estado.

A escola fisiocrata
A escola fisiocrata foi a primeira escola econômica. Os fenômenos de
miséria no campo observados e o intervencionismo excessivo do Estado exigiam
uma resposta em forma de teorias para acabar com tais condições. O médico
francês Dr. François Quesnay foi seu maior defensor. Conforme os fisiocratas
(fisiocracia – regras da natureza) a terra era a única fonte de riquezas. Existia uma
ordem natural com leis naturais, absolutas e imutáveis. Qualquer intervenção era
proibida. Quesnay desenvolveu a tabla econômica (“tableau economique”) em que
explicava o funcionamento de um sistema econômico fechado baseado nas leis
naturais. Havia três classes: os trabalhadores produtivos, os trabalhadores estéreis e
os proprietários da terra. As classes trocavam mercadorias e preços num período de
um ano em que se supunha preços estáveis. O comércio era livre, existia o sistema
capitalista de aluguel de terra e não havia distinção entre fatores produtivos e bens
produtivos. Tratava-se do primeiro modelo para desenhar a economia de um país. O
sistema de Quesnay tomava como base a agricultura da qual dependiam as outras
classes.

15
Posteriormente, o tableau economique de Quesnay recebeu muitos
elogios, como por exemplo, por reconhecer o direito à propriedade sobre a noção da
utilidade social e por destacar a liberdade econômica. Contudo, recebeu também
críticas. Reclamava-se a excessiva importância da agricultura como única fonte de
riqueza sem considerar a produtividade da indústria e do comércio.

Pagam 2 bilhões aos Proprietários da terra


proprietários
- aristocratas
- clero
Compram 1 bilhão dos
trabalhadores estéreis
Compram 1 bilhão dos
produtores
Compram 1 bilhão de
produtos artesanatos
Produtores Trabalhadores estéreis

- agricultores - artesãos
- ganadeiros - mercadores
- pescadores
Compram 1 bilhão de
produtos de subsistência e
1 bilhão de matéria-prima

A teoria clássica
Adam Smith (1723-1790), filósofo e economista escocês, é considerado o
pioneiro da teoria econômica clássica. Sua obra mais conhecida, A riqueza das
nações, foi publicada em 1776. Nesta obra, Smith tratava diversas questões
econômicas, como as leis de mercado, aspectos monetários e distribuição do
rendimento da terra. Finalizou sua obra com recomendações políticas.

Smith concordava com os fisiocratas em alguns pontos, por exemplo,


defendia o laissez-faire, ou seja, os mercados deviam funcionar livremente, sem
intervencionismo do Estado. Os fisiocratas consideravam a agricultura o elemento
central de sua teoria, mas para Smith, a divisão de trabalho era o ponto central de
sua obra. O fundamento da riqueza das nações era a divisão do trabalho, pois este
era o fator decisivo para aumentar a produção de um país (teoria do valor-trabalho).
Divisão de trabalho significava que cada trabalhador devia se especializar em uma
tarefa. Este método contribuiu para a economia de tempo e aperfeiçoamento dos
métodos para a invenção de novas máquinas e técnicas. Outra conseqüência
16
desejada da divisão do trabalho era o incentivo à troca de produtos distintos que
criava novos mercados ainda inexistentes. Novos mercados significam novas
iniciativas privadas e novas divisões de trabalho com novos aumentos de
produtividade e maior número de trocas. É importante destacar que Adam Smith
considerava dois fatores importantes na avaliação da produtividade de trabalho: a
relação entre população ativa e inativa e a eficácia do trabalho, ou seja, não o
elemento quantitativo do trabalho (tempo empregado), mas o rendimento deste.

Adam Smith opinava que o papel do Estado na economia devia ser


apenas para proteger a sociedade contra eventuais ataques e para criar algumas
obras necessárias. O Estado não devia intervir nas leis de mercado e na prática
econômica. Conforme Smith, os participantes dos mercados, que buscavam
maximizar os lucros, promoveriam automaticamente o bem-estar de todos.

Referente ao comércio exterior, Smith defendia um comércio livre sem


barreiras. Desta forma, a divisão de trabalho podia ser feita de forma internacional.
O mundo seria uma grande oficina e o trabalho executado onde era mais econômico
(que exigia menor tempo para ser realizado) conforme as condições regionais. As
trocas que seguiam aumentariam ainda mais a riqueza de todas as nações. Aí
entrava outro fator na teoria de Smith: a acumulação de capitais. A liberdade do
comércio exterior descrita facilitaria a acumulação de capital. Capital se acumularia
devido à diferença entre o valor produzido e o valor consumido na produção. Por
isto, o capital deveria ser empregado onde a produção fosse a mais econômica
possível. O livre comércio permitia esta aplicação em diversas regiões, resultando
numa maior riqueza para todos os países.

Vejamos um exemplo numérico da teoria das vantagens absolutas e


como dois países conseguem aumentar seu capital através de especialização de
trabalho e livre comércio entre eles:

França Irlanda
Produção de 1 unidade em Produção de 1 unidade em
Roupa 20 horas 10 horas
Carvão 10 horas 20 horas

Existem dois países que produzem roupa e carvão ao mesmo tempo. A


França produz uma unidade de roupa em 20 horas, a Irlanda em 10 horas. Na
produção de carvão, a relação é à contrária. Suponhamos que a necessidades de
cada país seriam duas unidades de carvão e duas unidades de roupa. Tanto a
França quanto a Irlanda empregariam 60 horas na produção de duas unidades cada.

17
França Irlanda
Produção Total Consumo Produção Total Consumo
(Unidades/Horas) (Unidades/Horas)
Roupa 2 2
4 / 60 4 / 60
Carvão 2 2
Vantagens absolutas sem comércio exterior

Numa economia com comércio exterior, a França produziria somente


carvão, pois consegue produzir uma unidade em 10 horas, enquanto a Irlanda
precisaria de 20 horas. Empregaria todas as 60 horas disponíveis na produção de 6
unidades de carvão. A Irlanda, mais produtiva no item roupa, concentrar-se-ia neste
produto, alcançando 6 unidades em 60 horas disponíveis. Como cada país tem
necessidades de 2 unidades cada, poderiam vender o excedente de produção para
o outro. O resultado seria um aumento de produtividade de 50%, já que os dois
países ficariam com três unidades de cada produto, sem aumentar a quantidade de
horas trabalhadas.

França Irlanda
P I E Total Consumo P I E Total Consumo
(Unidades/Horas) (Unidades/Horas)
Roupa 0 3 0 3 / 00 6 0 3 3 / 60
Carvão 6 0 3 3 / 60 0 3 0 3 / 00
Vantagens absolutas com comércio exterior (P – produção; I – Importação; E – Exportação)

David Ricardo (1772-1823), economista inglês, era outra grande


personalidade da teoria clássica. Os principais trabalhos de Ricardo foram: “Os
princípios da política econômica e política de impostos”; “As teses sobre a influência
de preços baixos de cereais nos lucros de capital” e “A teoria das vantagens
comparativas”.

Os trabalhos de Ricardo foram motivados pelo conflito entre os interesses


da indústria e da agricultura. Apesar de a Inglaterra ter sido o berço da
industrialização e ter possuído o monopólio da navegação com bloqueio do resto da
Europa, o continente conseguiu desenvolver indústrias que agora competiam
diretamente com o próprio setor. Ricardo descobriu que a indústria britânica não
produzia a preços competitivos devido ao alto custo de vida neste país. Segundo
ele, os altos impostos de importação para trigo eram os responsáveis pelo elevado
custo de vida. Sobre a chamada lei dos cereais (Corn Law), a agricultura de cereais
na Inglaterra recebia alta proteção de seus produtos. Como os impostos de
importação sobre cereais eram excessivamente altos, podiam vender seus produtos
no mercado nacional também a preços elevadíssimos, porém, ainda um pouco mais
barato que um produto possivelmente importado agregado de imposto. O custo
elevado de um produto vital tinha como conseqüência maiores salários para os
trabalhadores nas indústrias, estes por sua vez, encareciam a produção industrial.
Os agricultores nacionais e proprietários das terras recebiam tranquilamente suas

18
rendas, mas os industriais e capitalistas não conseguiam obter lucros consideráveis,
absolutamente importantes no processo de acumulação de capital e investimento no
processo produtivo. Ricardo concluiu que as taxas de importação sobre cereais
deviam ser reduzidas para tornar a indústria britânica novamente competitiva.

Mais tarde, Ricardo desenvolveu a teoria das vantagens comparativas


(comércio exterior). Aprendemos da obra de Adam Smith (A riqueza das nações)
que um país deve se especializar na produção de produtos para as quais apresenta
a estrutura de custos mais competitivos. Ricardo afirmava que um país, mesmo que
não tivesse a vantagem absoluta poderia produzir de forma mais competitiva que
outro, resultando numa divisão de trabalho e elevação do bem-estar para os dois
países. Vejamos o exemplo a seguir:

França Turquia
Padeiros Produtividade Produção Total Padeiros Produtividade Produção Total
Pão 10 20 200 30 4 120
Pescadores Produtividade Produção Total Pescadores Produtividade Produção Total
Peixe 10 20 200 10 12 120

A França possui 10 padeiros e 10 pescadores, cada um produzindo 20


unidades por dia, resultando numa produção total de 200 pães e 200 peixes por dia.
Com 30 padeiros e 10 pescadores, a Turquia consegue produzir 4 pães e 12 peixes
por dia, respectivamente, totalizando 120 pães e 120 peixes por dia. Numa
economia sem comércio exterior os dois produziriam 320 pães e 320 peixes por dia.

França Turquia Produção Total


Pão 10 x 20 = 200 30 x 04 = 120 200 + 120 = 320
Peixe 10 x 20 = 200 10 x 12 = 120 200 + 120 = 320
Possibilidades de produção sem comércio exterior:

Pela teoria das vantagens absolutas de Smith, não haveria comércio


exterior, pois tanto na produção de pão quanto na produção de peixe a França
levaria a vantagem. Contudo, neste caso, deve se determinar para qual produto a
relação da vantagem produtiva é maior:

Vantagem comparativa da França referente à produção de pão: 20-04 = 16


Vantagem comparativa da França referente à produção de peixe: 20-12 = 08

A vantagem da França na produção de pão é maior (16) do que na


produção de peixe (08). Conclui-se que a França produziria o pão, a Turquia o peixe
e depois compram do outro o produto que não estão mais produzindo.

19
França Turquia Produção Total
Pão 20 x 20 = 400 0 400 + 0 = 400
Peixe 0 40 x 12 = 480 0 + 480 = 480
Possibilidades de produção com comércio exterior:

O resultado é uma maior produção de pão (400) e de peixe (480) que


resulta numa produção adicional de 80 pães e 160 peixes com comércio exterior.
David Ricardo também concluiu que não é a quantidade de dinheiro num país, nem
o valor monetário desse dinheiro que determinava a riqueza de uma nação.

Thomas Malthus (1766-1834), cujo pai possuía grandes extensões de


terra, foi um economista britânico, filósofo social e pastor da igreja anglicana. Sua
teoria mais conhecida, “A teoria dos princípios da população”), examinou a relação
entre o crescimento da população, a produção de alimentos e seus impactos na
economia. Malthus chegou à conclusão de que a terra tivesse limites de
produtividade e não conseguiria acompanhar o crescimento populacional. A
conseqüência seria um limite populacional dado pela própria capacidade produtiva
da terra. Segundo o economista, o crescimento da população era geométrico, por
exemplo, cada casal teria quatro filhos e todas as gerações seguintes seguiriam esta
mesma lógica (sempre se multiplicando pelo mesmo fator). Contudo, a produtividade
agrícola cresceria somente de forma aritmética, por exemplo, 20% ao ano, mas após
este acréscimo não teria mais a mesma expansão. Isto levaria a uma situação em
que a terra não poderia mais alimentar sua população e que a economia estaria
sujeita a limites de desenvolvimento. Somente fatores como a miséria, o vício e a
contenção moral poderiam limitar este crescimento populacional. Malthus defendia o
adiamento de casamentos e a limitação voluntária de nascimentos nas famílias
pobres. Segundo ele, até guerras seriam úteis em reduzir o crescimento
populacional.

Os críticos da teoria de Malthus alegam que ele não previu o progresso


tecnológico na agricultura e as técnicas de controle de natalidade para aumentar a
produção agrícola e conter o crescimento geométrico da população.

John Stuart Mill (1806-1873), filósofo e economista britânico, descreveu


no seu trabalho “Fundamentos da economia política”, o crescimento econômico
como uma situação de estagnação. Opinava que após um período de crescimento
econômico e alcance de uma vida de prosperidade para todos, chegaria um período
de estagnação. Contudo, esta situação de estagnação econômica não significaria
automaticamente uma estagnação de progresso intelectual, cultural e científico e
falta de mercadorias e serviços. A estagnação se daria exclusivamente na área de
acumulação de capital e de crescimento populacional. Nesta situação, ninguém seria
pobre, ninguém queria ser mais rico e ninguém precisaria se preocupar com os
esforços de alguns que queriam avançar enriquecendo a custas dos outros. Para
20
Mills, a voracidade pelo crescimento econômico era vício e prejudicava a população.
Se o ser humano abdicasse a este vício, os avanços culturais, sociais e éticos
seriam muito maiores. Atividades de renda não estariam afetadas pela estagnação
econômica. A única diferença seria que melhoramentos na indústria serviriam para
seu propósito original, que era a redução do trabalho manual, e não o aumento da
renda dos capitalistas (retentores de capital).

Jean-Baptiste Say (1768-1832), francês, economista e empresário,


desenvolveu a teoria da oferta. Segundo ele, não existiam problemas de demanda
na economia, pois a produção gerava renda e esta por sua vez criava a demanda.
Conforme Say, a economia era dividida em produção, distribuição e consumo.
Fatores de produção eram trabalho, terra e capital. Say defendia impostos reduzidos
e criticava uma posição dominante do Estado e da Igreja. Ele considerava somente
o monopólio do Estado na emissão de moedas válido. Nas outras áreas, o Estado
devia permitir a maior liberdade possível para os homens, pois esta possibilitaria ao
ser humano desenvolver as suas capacidades da melhor forma possível. Uma
condição indispensável para a liberdade era o direito à propriedade. Este permitia a
acumulação de capital, a formação do preço de mercado com intercâmbio de
mercadorias, o incentivo ao trabalho, a divisão de trabalho e a geração de riquezas.

A teoria neoclássica
Os economistas neoclássicos mais importantes foram Alfred Marshall,
León Walras, Eugene Böhm-Bawerk, Joseph Alois Schumpeter, Vilfredo Pareto,
Arthur Pigou e Francis Edgeworth. Como os neoclássicos acreditavam na
autoregulamentação dos mercados (através do mecanismo de oferta e demanda),
não se preocuparam com a política e planejamento macroeconômico. Eles
analisaram aspectos microeconômicos, como o comportamento do consumidor e a
teoria marginalista. Schumpeter desenvolveu a teoria do desenvolvimento
econômico, Böhm-Bawerk a teoria do capital e dos juros. Os neoclássicos aplicavam
métodos matemáticos para explicar as suas teorias.

A teoria keynesiana
John Maynard Keynes (1883-1946), inglês, economista, matemático e
político, foi um dos economistas mais importantes do século XX. A crise econômica
mundial que começou em 1929 e se alongava, fez com que ele duvidasse das
teorias do laissez-faire em que o Estado não intervinha na economia. Durante a
pesada crise econômica mundial era óbvio que o sistema de equilíbrio do mercado
sem intervenciosmo pelo Estado não conseguiria recuperar o crescimento
econômico. Segundo ele, o próprio setor público precisava aumentar sua demanda
para gerar um impulso da demanda geral. Em tempos de crise, o setor público
substituia a falta de demanda pelo setor privado até que este se recuperasse para
gerar uma nova demanda firme. O Estado podia usar as ferramentas de política
monetária e fiscal para criar esta demanda adicional, resultando num novo equilíbrio

21
do mercado. Em outras palavras, não era a oferta que gerava sua demanda, pelo
contrário, a demanda criava a oferta.

2.3 As reações socialistas


A teoria do marxismo foi desenvolvido pelo economista alemão Karl Marx
(1818-1883), apoiado de Friedrich Engels (1820-1895). Marx desenvolveu o conceita
da mais-valia. Segundo Marx existiam duas classes sociais, a classe capitalista, ou
seja, a burguesia que possuia os meios de produção, e o proletariado que somente
possuia sua força de trabalho para vender e assim garantir sua subsistência. O
trabalhador recebia remuneração pelo capitalista, mas esta remuneração era inferior
ao verdadeiro valor gerado por este serviço. Esta diferença era a mais-valia e este
valor ia para o bolso do capitalista em forma de lucros, juros e aluguéis. Seria o valor
extra, gerado pelo trabalhador, além do valor pago por sua força de trabalho.

2.4 A teoria do neoliberalismo


O neoliberalismo é uma doutrina econômica que teve sua origem em
1938 quando Alexander Rüstow, sociólogo e economista alemão (1885-1963) criou
este termo ao criticar duramente as teorias socialistas. Contudo, o neoliberalismo
ganhou mais popularidade nos anos 1960 e 70. Defendia um regime de liberdade
em que os mercados não deviam sofrer intervenções governamentais. Os preços
eram capazes de regular os mercados e por isto o Estado devia promover a livre
concorrência, eliminando cartéis e monopólios. Somente devia atuar em alguns
setores imprescindíveis, mas num grau mínimo, como a manutenção da segurança
nacional e pública, a garantia da propriedade particular, a validade de contratos
jurídicos e a estabilidade da moeda. Também cabia uma função social ao Estado em
que devia socorror os mais fracos que sofriam com injustiças econômicas.

Friedrich August von Hayek (1899-1992), austríaco, economista, foi um


dos mais conhecidos representantes desta teoria. Outro grupo que se formou foi o
grupo de Chicago com seu principal mentor, o economista americano Milton
Friedman (1912-2006) e um grupo de economistas chilenos, os chamados Chicago
Boys que definiram a política econômica do governo Pinochet durante a ditadura
militar naquele país, conforme os conceitos sugeridos pela teoria neoliberal.

Hayek também explicou que ciclos econômicos eram a consequência da


diferença entre a taxa natural de juros (em que a poupança era igual ao
investimento) e a taxa de juros do mercado. A diferença entre os dois era suprido
por base monetária (liquidez), o que possibilitava as empresas investimentos que
antes não eram realizáveis. A renda se expandia de forma artificial o que levava,
após certo período, a um aumento de preços. Os participantes do mercado
precisavam se adaptar ao incremento dos preços, o que em seguida levava ao
aumento dos juros. Investimentos, que antes eram rentáveis, deixavam de ser
executados, levando ao colapso da economia. Hayek culpava os bancos centrais

22
pelo aumento da liquidez, pois em diversos países os bancos centrais estariam
sujeitos a pressões políticas.

Milton Friedman foi um dos economistas mais importantes do século XX.


Desenvolveu diversos trabalhos na economia. Criticou fortemente a política do bem-
estar pelo Estado (Free to choose, 1990). Segundo ele, os maiores inimigos da
economia eram a inflação e a política do bem-estar. O Estado do bem-estar era
fraude nas pessoas que ainda trabalhavam e que pagavam impostos. Desenvolveu
um modelo em que descrevia quatro formas como se podia gastar dinheiro:

1. Gastar seu dinheiro para si mesmo, (compra de sapatos).


2. Gastar seu dinheiro para outros (presentes de Natal).
3. Gastar o dinheiro dos outros para si (refeições a custas da empresa
para que trabalha).
4. Gastar o dinheiro dos outros para outros (Estado do bem-estar).

A facilidade com que se gasta dinheiro aumenta consideravelmente de


cima para baixo. Os métodos 3 e 4 são a razão pela qual a inflação cresce e a
decadência dos países industrializados se acelera. O Estado, sob o argumento falso
de precisar ajudar aos pobres, tira dinheiro do bolso dos trabalhadores através da
sua burocracia todo-poderosa. Se fosse feito um cálculo dividindo o dinheiro
desviado dos trabalhadores para ajudar aos pobres pela quantidade dos realmente
pobres (e estatísticamente comprovados) no país, estes deveriam ter duas vezes a
renda que atualmente a população geral possui em média. Na verdade, para os
pobres sobra muito pouco, a grande maioria do dinheiro é usado para a burocracia e
o pagamento de salários no setor público.

Outra fonte do neoliberalismo foi o ordoliberalismo que teve como seu


fundador o economista alemão Walter Eucken (1891-1950). Eucken era contra a
política econômica do laissez-faire, mas também contra a política econômica da total
regulamentação. Opinava que o Estado necessitava criar as condições para que o
mecanismo de mercado (formação de preço natural através de concorrência
perfeita) pudesse funcionar. A principal preocupação do Estado deveria ser de não
permitir que alguns grupos econômicos tivessem mais vantagens do que outros
através de grupos de pressão política (lobby).

23
3. O MODELO IS-LM

Numa economia dentro de um período de um ano podemos analisar as


contas nacionais por duas maneiras diferentes: do ponto de vista da oferta
(produção) e do ponto de vista da demanda.

3.1 O mercado de bens e serviços


A produção abrange o valor de todos os bens e serviços produzidos por
uma sociedade. Trata-se de um fluxo de bens e serviços que podem ser divididos
em quatro grupos:

BC – Bens e serviços de consumo Bens produzidos para satisfazer as


necessidades da sociedade (duráveis,
não-duráveis e semiduráveis).
BK – Bens e serviços de capital Bens produzidos para repor e expandir a
capacidade produtiva (produção de
máquinas e equipamentos, construção
civil).
BP – Bens e serviços públicos Bens de consumo ou de capital, mas de
uso público (segurança pública, infra-
estrutura, serviços públicos).
BI – Bens e serviços intermediários Insumos ou matérias-primas que servem
para a produção das outras categorias.

Estas quatro categorias formam o valor bruto da produção. Contudo,


como há bens intermediários incluídas nesta contagem, este valor não seria correto.
Por um lado, deve-se excluir desta contagem os bens intermediários, não somente
os bens intermediários usados na produção nacional, mas também os bens
intermediários importados e usados na produção nacional. Por outro lado, deve-se
acrescentar a esta contagem os bens intermediários exportados que são usados na
produção de bens de consumo no exterior.

O produto interno bruto (PIB) pode ser escrito desta forma:

PIB ≡ BC + BK + BP + XBI – MBI (1.1)

XBI – Bens Intermediários exportados


MBI – Bens Intermediários importados

Temos que levar em conta que um país produz produtos para seu mercado nacional
(doméstico) e para o mercado internacional (externo):

PIB ≡ DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI – MBI (1.2)
24
DBC – Bens de consumo para o mercado doméstico.
XBC – Bens de consumo para o mercado externo (exportação).
DBK - Bens de capital para o mercado doméstico.
XBK – Bens de capital para o mercado externo (exportação).
DBP – Bens públicos para o mercado doméstico.
XBP – Bens públicos para o mercado externo (exportação).

A demanda de um país abrange o valor que as famílias, empresas e o


governo gastam em um ano na compra dos seguintes bens e serviços: bens e
serviços de consumo, bens de capital e bens públicos. Podem ser bens produzidos
no mercado doméstico ou importados. Podemos descrever a demanda da seguinte
forma:

D ≡ DBC + DBK + DBP + MBC + MBK + MBP (1.3)

Podemos resumir os bens e serviços de consumo (DBC + MBC)


demandados pelas famílias como consumo privado (C), os bens de capital (DBK +
MBK) demandados pelas empresas como investimento privado (I) e os bens
públicos (DBP + MBP) como gasto público (G). Exclui-se desta contagem os bens
intermediários que estão contemplados na contagem dos produtos finais. A nova
forma seria:
D ≡ C + I + G (1.4)

Geralmente, o PIB (a oferta) de uma economia não é igual à sua


demanda (D). Isto somente seria possível se não houvesse intercâmbio com o
exterior. Se subtrairmos a demanda da oferta chegaremos a seguinte fórmula:

PIB – D ≡ [DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI – MBI] - [DBC + DBK +
DBP + MBC + MBK + MBP]

PIB – D ≡ [DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI – MBI] - [DBC + DBK +
DBP + MBC + MBK + MBP]

PIB – D ≡ XBC + XBK + XBP + XBI - MBC - MBK - MBP – MBI

XBC, XBK, XBP e XBI são todas as exportações (X) de todas as


categorias e MBC, MBK, MBP e MBI todas as importações (M) de todas as
categorias, podemos uni-los sob importações e exportações como segue:

PIB – D ≡ X – M (1.6)

25
Se substituirmos a demanda D pela equação 1.4 podemos reescrever a
fórmula da seguinte forma:

PIB ≡ D + (X – M) ≡ C+ I + G + (X – M) (1.7)

O PIB de uma economia é a soma dos gastos em consumo privado (C),


investimento privado (I), gasto público (G) mais o saldo das exportações e
importações (X – M). Este último item é chamado também de componente externo
do produto, ou saldo das transações reais.

O PNB (Produto Nacional Bruto) é deduzido do PIB, já que no


componente externo do produto se inclui a renda líquida enviada ao exterior (RL).
Neste caso, temos que substituir o saldo das transações reais (X – M) pelo saldo da
conta corrente do balanço de pagamentos (SCC). Como SCC = (X – M) – RL temos
a seguinte constelação:

PNB ≡ C+ I + G + (SCC) (1.8)

Se isolarmos cada um dos setores (setor privado, público e externo)


chegaremos às necessidades de financiamento de cada um:

A letra T significa impostos (inglês – taxes). Se deduzirmos a receita total


do governo (as receitas do governo são os impostos) dos dois lados, chegaremos a
renda disponível do setor privado (PNB – T).

PNB – T ≡ C+ I + (G – T) + (SCC) (1.9)

O termo (G – T) significa que os gastos do setor público (G) são maiores do que as
receitas. Se o governo gastar mais do que arrecada, este termo representaria as
necessidades de financiamento do governo. Se passarmos também o consumo
privado (C) para o lado esquerdo da equação, este seria a poupança privada (S) da
economia, pois o setor privado, após a dedução de impostos da renda, ou consome
ou poupa.
PNB – T – C ≡ I + (G – T) + (SCC)
[Em que PNB – T – C = S]

S ≡ I + (G – T) + (SCC)

Passamos a poupança para o lado direito:

(I – S) + (G – T) + (SCC) ≡ 0 (1.10)

26
Agora temos uma equação em que podemos facilmente identificar as
necessidades de financiamento de cada um dos setores (privado, público e externo).
Se o setor privado mais do que poupa (I > S) precisa se financiar pelo setor público
ou pelo setor externo. O mesmo ocorre se o governo gasta mais do que arrecada (G
> I), ou se financia pelo setor privado ou busca poupança no exterior (SCC).

A renda disponível do setor privado da economia (yd) é a renda bruta do setor


privado menos os impostos (t) pagos ao governo menos a renda líquida enviada ao
exterior (rl). O setor privado ou consome (c) ou poupa (s) esta renda disponível.
Assim, podemos colocar a fórmula para a renda disponível da seguinte forma:

yd ≡ y – t - rl ≡ c + s

Agora precisamos descobrir quais são os fatores que influenciam as


variáveis e como estas se comportam. A arrecadação de tributos depende da renda.
Quanto maior a renda, maior é a arrecadação e quanto menor a renda, menor é a
arrecadação tributária:
(+)
t = t (y)
Esta equação indica que a arrecadação tributária é função da renda e
esta relação é positiva (mostrada através do sinal + ).

As variáveis consumo (c) e poupança (s) dependem da renda disponível


(yd). Note que a renda disponível se distingue da renda (y) pelo fato de ter sofrida a
dedução dos impostos. Os impostos fazem parte da renda, porém, como são
deduzidos diretamente, as famílias não dispõem desta parcela. Por isto, somente
conseguem tomar decisões sobre as partes que consumirão ou pouparão:
(+)
c = (yd)
(+)
s = (yd)
Na equação abaixo, não será considerada a variação inesperada de
estoques na decisão de investimentos das empresas. Para facilitar o nosso modelo,
a única variável que influencia a decisão de investimentos é a taxa de juros. As
empresas precisam de recursos para efetuar investimentos com o fim de aumentar a
produção. Existem duas maneiras de obter recursos, ou recursos próprios gerados
pelas empresas ou recursos de terceiros no sistema financeiro. Quando uma
empresa estuda a possibilidade de investir recursos próprios na sua produção
seguramente analisará primeiro a taxa de juros no mercado. Ela compara esta taxa
de juros com o retorno do investimento planejado. Se a taxa de juros do mercado for
mais baixa do que a taxa de retorno do investimento empresarial, certamente
investirá na empresa, pois o retorno do capital investido na empresa seria maior do
que no mercado. Quando a taxa de juros no mercado é alta, provavelmente muitos

27
investimentos na empresa teriam um retorno menor e as empresas deixariam de
investir. Neste caso, seria mais conveniente aplicar o dinheiro disponível no mercado
financeiro. Resumindo, a taxa de juros exerce uma influência invertida aos
investimentos, ou seja, quando a taxa de juros tende a aumentar, cada vez mais
investimentos na produção das empresas deixam de ser lucrativos e quando tende a
baixar, ocorre o contrário, mais investimentos planejados das empresas começam a
ficar rentáveis e serão realizados. Neste caso, utilizamos o sinal “–“ para descrever
esta relação.
(-)
i = i (r)

i+g+x-m
s + t + rl
s + t + rl
A0
i (r0)+ g + x - m

A1 B
i (r1)+ g + x - m

0
Y1 Y2
s + t + rl

r
A1
r1

r0 A0 IS

0
Y1 Y2
Equilíbrio no mercado de produto (SILVA, 1999).

Todas as variáveis podem ser incorporadas na nossa equação. Esta


equação descreve a situação de equilíbrio do mercado do produto. Como se trata de
uma equação de duas variáveis (y e r), existem inúmeras soluções possíveis de

28
equilíbrio, podendo ser interpretado numa curva. Nesta situação de equilíbrio, não
ocorrem aumentos nem reduções inesperadas de estoque.

(-) (+) (+)


i (r) + g + x – m = s (yd) + t(y) + rl

Incluímos o consumo nos dois lados:


(+) (-) (+) (+) (+)
c (yd) + i (r) + g + x – m = y = c (yd) + s (yd) + t(y) + rl

r
A1 X
r1

r0 A0 IS
Y

0
Y1 Y0
A curva IS e situações de desequilíbrio

No ponto X ocorre uma situação de desequilíbrio, em que a taxa de juros


é maior do que o nível de renda correspondente.

A equação de equilíbrio:

i (r) + g + x – m = s (yd) + t(y) + rl

passa a ser:

i (r1) + g + x – m < s (yd0) + t(y0) + rl

Como o taxa de juros é maior, os investimentos serão reduzidos, pois


muitos projetos deixam de ser lucrativos e vale mais a pena aplicar os recursos em
títulos. A conseqüência é uma elevação inesperada de estoques. Perante esta
situação, os atacadistas e varejistas diminuem as encomendas para se livrarem dos
estoques. Menores encomendas pelos comerciantes levam a uma menor produção
no setor produtivo. A renda e a taxa de juros começam a reduzir ao mesmo tempo
até a situação chegar novamente à curva IS.

29
No ponto Y ocorre uma situação de desequilíbrio, em que a taxa de juros
é menor do que o nível de renda correspondente.

A equação de equilíbrio:

i (r) + g + x – m = s (yd) + t(y) + rl

passa a ser:

i (r0) + g + x – m > s (yd0) + t(y0) + rl

Como o taxa de juros é menor, os investimentos serão elevados, pois


agora muitos projetos se tornam lucrativos e vale mais a pena investir do que aplicar
os recursos em títulos. A conseqüência é uma redução inesperada de estoques.
Perante esta situação, os atacadistas e varejistas começam fazer novas
encomendas para suprir os estoques. Maiores encomendas pelos comerciantes
levam a uma maior produção no setor produtivo. A renda e a taxa de juros começam
a crescer ao mesmo tempo até a situação chegar novamente à curva IS.

Resumindo, a curva IS mostra todos os pares de renda (y) e taxa de juros


(r) em que o mercado de produtos está em equilíbrio sem que haja inesperado
aumento ou redução de estoques.

3.2 O mercado monetário


O mercado monetário de um país, como qualquer outro mercado,
caracteriza-se pelo lado da oferta e da demanda da moeda.

A oferta da moeda
Geralmente, a função do Banco Central de um país é garantir a
estabilidade dos preços dos bens e serviços negociados no mercado nacional, ou
seja, manter o valor da moeda nacional. No Brasil, esta função é exercida pelo
Banco Central do Brasil (Bacen) que foi criado pela Lei 4.595 de 31 de dezembro de
1964. Mais informações sobre esta autarquia federal vinculada ao Ministério da
Fazenda podem ser obtidas no site www.bcb.gov.br. O Bacen é responsável pela
base monetária que é o conjunto de todas as moedas e cédulas emitidas por ele. O
dinheiro representa o meio de pagamento universalmente aceito pelos participantes
do mercado para pagar bens e serviços. Somente o Bacen pode emitir (criar)
moeda. Quando o Bacen entrega dinheiro para os bancos comerciais, estes
precisam dar algo em troca, é como uma relação contábil, pois a base monetária
para o Bacen representa um passivo, a qualquer momento em que o Banco
Comercial quiser seu bem de volta, o Bacen é obrigado a receber as cédulas em
troca. Base monetária é criada quando um exportador receber um pagamento de

30
seu cliente no exterior e precisa trocar a moeda estrangeira (por exemplo, dólares
americanos) por reais. Quando um importador precisar pagar seu cliente no exterior
(em dólares), ele procurará o Bacen, comprará os dólares necessários e remeterá o
dinheiro para seu cliente no exterior. Se ele comprar dólares, o fará com reais, neste
caso, os reais pagos ficam com o Bacen e a base monetária é reduzida. Outra forma
de criar ou reter base monetária ocorre quando o Governo Federal lança títulos da
dívida pública para se financiar. Quando os bancos comerciais compram estes
títulos, base monetária é retida, quando o Bacen compra estes títulos de volta dos
bancos comerciais, base monetária é criada. Hoje em dia, a base monetária é muito
maior do que o dinheiro em forma de moedas ou papel em circulação. Muitas vezes,
vemos somente o saldo da nossa conta corrente ou das nossas aplicações no
extrato físico ou na tela do computador através da consulta pela internet. Os bancos
comerciais trabalham com o nosso dinheiro, emprestam para outros bancos ou
pessoas físicas ou jurídicas. É o chamado multiplicador monetário.

Conhecemos algumas formas de como o Bacen pode restringir ou


aumentar a base monetária, porém nos exemplos acima citados, sua atuação foi
mais passiva. Como sua função é garantir pela estabilidade dos preços, ele precisa
dispor de outras ferramentas para controlar a quantidade da base monetária em
circulação. Quanto mais dinheiro estiver em circulação mais perigo existe para o
surgimento de inflação que é o processo do aumento de preços. O Bacen somente
consegue atuar no controle dos meios de pagamento na emissão, ou seja, na sua
relação com os bancos comerciais. Não existe atuação direta do Bacen referente ao
cliente final, o consumidor.

Basicamente, o Bacen possui três instrumentos da política monetária para


controlar a base monetária, que são a alíquota do depósito compulsório, a taxa de
redesconto e as operações de mercado aberto.

O depósito compulsório caracteriza a parcela dos depósitos à vista dos


bancos comerciais que precisa ficar retida no Bacen. É uma obrigação legal.
Quando o Bacen aumentar a alíquota dos depósitos compulsórios, os bancos
comerciais serão obrigados a reter mais dinheiro no Banco Central. Vamos supor
que a alíquota é de 10%. Quando um cliente de um banco comercial deposita R$
100.000 num banco comercial, R$ 10.000 ficariam retidos automaticamente no
Bacen e somente R$ 90.000 estariam disponíveis para o banco comercial. Se a
alíquota aumentar para 20%, somente R$ 80.000 estariam disponíveis para o banco
comercial, reduzindo o dinheiro em circulação.

Outra ferramenta para controlar a base monetária é a taxa de redesconto.


Em todas as operações de empréstimos trabalha-se com taxas de redesconto. Se
um cliente comprar um carro a prazo, a concessionária não financia esta compra, ela
repassa esta operação a uma financiadora. Esta financiadora cobra uma taxa de

31
desconto para a concessionária que receberá o dinheiro imediatamente. A
financiadora tampouco dispõe de dinheiro suficiente para financiar todas as
operações de crédito, por sua vez, também passa este financiamento a outra. o
último financiador desta cadeia é o Bacen que também cobra uma taxa de
redesconto. Quando esta taxa de redesconto cobrado pelo Bacen é muito baixa,
vale a pena para todas as operadoras de crédito trabalharem estas operações. Cada
uma agrega um pouco a esta taxa até chegar ao cliente final, o comprador do carro.
Isto significa que quando os créditos são baratos, e conseqüentemente as taxas de
desconto são baixas (de forma sucessiva), a base monetária aumenta devido ao
aumento das operações de compras financiadas. Contudo, se o Bacen aumentar
esta taxa de redesconto para os bancos comerciais, aumentará para todos
sucessivamente até chegar ao cliente final, o comprador de carro. Este pode desistir
de comprar o carro devido às altas taxas cobradas para financiar seu carro.

O último meio para controlar a base monetária são as operações de


mercado aberto (“open market”). É a forma já descrita acima quando o Bacen opera
na compra ou venda de títulos da dívida pública, aumentando ou reduzindo a base
monetária. A vantagem nestas operações é que o Bacen consegue prever o valor
exato da expansão ou redução da base monetária, por exemplo quando vende
títulos da dívida pública de R$ 100 milhões no mercado, sabe que a redução da
base monetária foi exatamente este valor.

Ainda existem outros meios de controle da base monetária no Brasil,


porém, não serão tratados nesta apostila devido a sua alta complexidade.

A oferta da moeda no mercado monetário é determinada pelo Banco


Central. Suponhamos que o Bacen possui total controle sobre a base monetária,
desta forma, podemos descrever a oferta real de moeda da seguinte forma:

MS
S
m = -------
P

Em que:
MS – Oferta nominal da moeda (quantidade)
P – índice de preços.

A demanda da moeda
Ao falar da demanda por moeda pelos participantes do mercado,
distinguimos somente dois ativos, a moeda (o papel-moeda em poder do público e
os depósitos à vista nos bancos comerciais) e os títulos. Já conhecemos uma forma
de títulos, que são os títulos da dívida do Governo Federal. Existem inúmeros
outros, como propriedades, ações de empresas, moedas estrangeiras, derivados

32
financeiros, etc. Dos dois ativos citados, somente a moeda é amplamente aceita nas
transações comerciais. Existem transações com títulos, mas geralmente, costuma-
se trocar bens e serviços por moeda. É a vantagem da moeda, porém, a grande
desvantagem da moeda é que ela não rende juros se não aplicada em títulos
(aluguel, rendimentos financeiros das ações e outros títulos). Os motivos para
manter moeda sem poder desfrutar de rendimentos são a possibilidade de efetuar
transações comerciais (motivo transacional) e para poder aproveitar oportunidades
de investimentos que podem aparecer a qualquer momento (motivo especulativo).

Referente ao motivo transacional para manter moeda, podemos dizer que


quanto maior a renda de um indivíduo, maior é o valor das transações que efetua e
maior é a necessidade de manter um elevado estoque de moeda para poder realizar
estas transações. A renda é representada pela letra y.

y k (y)
y1

y0

0 m=M/P
m0 m1

Demanda transacional de moeda (adaptado de SILVA, 1999).

A renda y1 é maior do que a renda y0, por tanto, a quantidade de moeda


demandada m1 é maior do que m0.

A demanda especulativa da moeda se orienta à taxa de juros. Os agentes


de mercados esperam por oportunidades para investir em projetos que rendem mais
do que outros. Quando a taxa de juros é muito alta, torna-se muito caro manter
moeda, pois os custos de oportunidade (veja capítulo 1) são muito altos. Neste
cenário, os participantes dos mercados investiriam em títulos de maior rendimento
possível, ou seja, não teriam moeda em caixa para esperar novas oportunidades
mais lucrativas. Quando a taxa de juros é muito baixa, preferem manter moeda em
caixa para esperar melhores oportunidades de investimento, já que o custo de
oportunidade é baixo.

33
A taxa de juros r1 é mais alta do que a taxa de juros r0. Referente à taxa
de juros r1, os agentes dos mercados teriam pouco dinheiro em caixa (m1), pois seria
mais rentável aplicar a moeda em títulos. Quando a taxa começa a baixar até r0, os
investimentos se tornam menos rentável e os agentes começam a manter mais
moeda em caixa esperando por melhores oportunidades (m0).

r1

r0
l (r)

0 m=M/P
m1 m0
Demanda especulativa de moeda (adaptado de SILVA, 1999).

A
r B
y D
m (r1)
D
m (r2) D
m (r0)

y0 r0 D
m (y2)
D
m (y1)
D
m (y0)

0
m2 m1 m0 m=M/P m0 m1 m2 m=M/P

Demanda total (transacional e especulativa) de moeda (adaptado de SILVA, 1999)

Como já aprendemos de quais variáveis depende a oferta e demanda no


mercado monetário, podemos escrever a fórmula que descreve a demanda total por
moeda:

34
MD (+) (-) (+) (-)
D
m = ----- = mT (y) + mE (r) = k (y) + l (r)
P
Existem duas formas de demonstrar graficamente a demanda por moeda.
No quadro A é medida a renda. Quando a taxa de juros aumenta de r0 para r1, com a
mesma renda y0, a quantidade demandada de moeda reduz. No quadro B, com a
mesma taxa de juros r0, com o aumento da renda de y0 para y1, a quantidade
demandada de moeda aumenta. O equilíbrio no mercado monetário, como em
qualquer mercado, é alcançado quando a oferta é igual à demanda:

MS (+) (-)
----- = k (y) + l (r)
P

A B
S S
y M / P0 D
r M / P0
m (r2)
D
m (r1)
y2 A2 D
m (r0) r2 A2

D
A1 m (y2)
y1 r1
A1 D
m (y1)
A0
D
y0 A0 r0 m (y0)

0
S S
M / P0 m=M/P M / P0 m=M/P

LM (P0) LM (P0)

A2 A2
r2 r2

r1 A1 r1 A1
A0 A0
r0 r0

y0 y1 y2 y0 y1 y2

A curva LM: equilíbrio entre oferta e demanda da moeda (SILVA, 1999).

35
Todos os pontos A0 (r0 / y0), A1 (r1 / y1) e A2 (r2 / y2), são pontos que
mostram a qual taxa de juros e qual renda se obtém o equilíbrio da demanda e da
oferta de moeda. Por tanto, a curva LM (P0) mostra todos os pontos de equilíbrio do
mercado monetário (entre oferta e demanda) a determinado nível de preços (P0).

LM (P0) LM (P0)

A2 A2
r2 r2

A1 Y A1
r1 r1
X
A0
r0 r0 A0

y0 y1 y2 y0 y1 y2

Excesso da demanda por moeda Excesso da oferta de moeda

Pontos à direita da curva LM (P0) são pontos em que existe excesso de


demanda por moeda (por exemplo, o ponto X). A oferta monetária pelo Bacen é
insuficiente para atender a demanda dos agentes econômicos em manter moeda
transacional e especulativa. Nestes casos, os agentes tentam vender seus títulos
para obter moeda, porém, não conseguem (falta de moeda no mercado). Isto
somente ocorreria se a taxa de juros aumentasse. Começa o processo em que a
taxa de juros sobe (e cada vez mais os agentes teriam menos interesse em vender
seus títulos) até chegar novamente na curva LM (P0) no ponto A2.

Outra situação de desequilíbrio ocorre no lado esquerdo da curva LM (P0),


aqui existe excesso da oferta da moeda (por exemplo, o ponto Y), ou seja, os
agentes econômicos não querem manter tanta moeda nos caixas como no ponto Y.
A taxa de juros é mais alta do que no equilíbrio e os agentes tentam comprar títulos
para reduzir a quantidade de moeda em caixa. Somente conseguiriam se a taxa de
juros baixasse. Ocorre um processo de redução gradativa da taxa de juros e
redução da quantidade de moeda em caixa na medida em que comprarem os títulos
até chegar novamente na curva de equilíbrio LM (P0) no ponto A0.

3.3 O equilíbrio no mercado de bens e produtos e no produto monetário


As duas curvas LM e IS podem ser projetadas em um mesmo gráfico, já
que dependem das mesmas variáveis, da taxa de juros (r) e da renda (y). No ponto
A0 as duas curvas se cruzam, este ponto é o ponto em que o mercado de produto e
36
o mercado monetário estão em equilíbrio. Devemos chamar a atenção para o fato de
que somente para o nível de preços P0 existe este equilíbrio dos dois mercados. Se
o nível de preços sofrer alteração, o equilíbrio será outro.

LM (P0)
r

r0 A0

IS

0 y
y0
Equilíbrio dos dois mercados: mercado de produto e monetário (SILVA, 1999).

Qualquer ponto na curva IS fora do ponto A0 marcaria uma situação de


equilíbrio do mercado de produtos, mas não do mercado monetário. Ocorrerão os
mesmos mecanismos descritos acima quando aprendemos como atuavam as forças
do mercado quando um ponto está fora da curva IS. O mesmo ocorre para pontos
na curva LM fora do ponto A0. Somente no ponto A0 os dois mercados estão em
equilíbrio para o nível de preços P0.

Se aumentar o nível de preços, teremos um deslocamento da curva LM


(P0) à esquerda, agora no ponto antigo de desequilíbrio A0 estaria ao lado direito do
novo equilíbrio e da curva LM (P1). Significa uma situação de excesso de demanda
por moeda em que os agentes tentariam vender seus títulos, mas somente
conseguem isto se a taxa de juros aumentar. Então, a taxa de juros começa a
aumentar. Mas, se a taxa de juros aumentar, muitas empresas irão reduzir seus
investimentos. Isto provoca uma redução da renda (salários, lucros), o consumo
privado se reduz, ocorre elevação inesperada de estoques e os comerciantes
começam a pedir menos, causando uma nova redução da produção do lado das
empresas. Podemos constatar que o aumento do nível dos preços causa uma
redução do nível de renda de equilíbrio. Se projetarmos todos os equilíbrios da curva
IS com as curvas LM e seus respectivos níveis de preços, chegamos a uma nova
curva, a curva da demanda agregada da economia. Esta depende do nível de
preços e da renda. A curva da demanda agregada mostra para cada nível de preços
o valor correspondente do produto que equilibra ao mesmo tempo o mercado de
produtos e o mercado monetário.
37
r LM (P2)
LM (P1)

A2 LM (P0)
A1
A0
IS

0 y
yD2 yD1 yD0

P LM (P2)
LM (P1)

B2 LM (P0)
P2
B1
P1 B0
P0
DD

0 y
yD2 yD1 yD0
Equilíbrio do mercado de produto e monetário, curva da demanda agregada (SILVA, 1999).

Depois de conhecer o modelo IS-LM e a demanda agregada, podemos


agora analisar como as atividades do governo em sua política econômica
influenciam a renda nacional e os juros. O governo dispõe de duas ferramentas para
exercer política econômica: a política fiscal e a política monetária.

Comecemos pela política fiscal. Nesta, o governo pode decidir sobre


receitas e despesas. Geralmente, as receitas públicas são obtidas através da
arrecadação de impostos. Estas receitas que o governo obtém, mas tarde saem dos
cofres públicos e se transformam em gastos públicos. Vamos analisar primeiro o que
ocorre quando o governo aumenta os impostos e como se comportam as outras
variáveis.

38
r
LM (P0)
A0
r0

A1 IS0
r1

IS1
0 y
yD1 yD0

B0

P0 B1
DD0

DD1
0 y
yD1 yD0
Aumento da arrecadação tributária (SILVA, 1999).

Antes do aumento dos impostos, o ponto de equilíbrio dos dois mercados


era o ponto A0 a uma taxa de juros r0 e uma renda de yD0. Para a curva da demanda
agregada DD0, o ponto de equilíbrio era o ponto B0. As alíquotas de impostos
maiores causam um deslocamento da curva IS à esquerda. Um aumento dos
impostos deixa as famílias com menos renda disponível, por conseqüente,
reduziriam seus gastos. Um consumo menor das famílias leva a um acúmulo
inesperado de estoques, o que causaria encomendas menores dos lojistas à
indústria para desovar primeiro os estoques. A indústria, por sua vez, começa a
produzir menos e como conseqüência empregar menos pessoas. Uma menor
quantidade de pessoas empregadas significa menos renda em total para a
população. O nível de preços não se altera, mas a curva da demanda agregada
desloca-se à esquerda, ou seja, a renda nacional se situa num nível inferior (yD1) ao
da situação inicial (yD0).
39
Uma elevação de impostos leva a um menor nível de renda, o contrário
ocorre numa redução de impostos, pois neste caso, o nível de renda aumentaria.

r
LM (P0)
A1
r1
A0
r0 IS1

IS0
0 y
yD0 yD1

B1

P0 B0 DD1
DD0
0 y
yD0 yD1
Aumento dos gastos públicos (SILVA, 1999).

Vejamos agora uma situação em que o governo decide aumentar os


gastos públicos, por exemplo, o projeto “minha casa minha vida” é lançado pelo
governo federal. O governo contrata empresas construtoras, paga as despesas e
posteriormente, oferece financiamento através da Caixa Econômica Federal à
população para adquirir estas casas. Como o governo gasta de forma antecipada e
somente após vários anos começa a receber os valores de volta (geralmente, nem o
valor integral), trata-se de um aumento dos gastos públicos de forma imediata. No
nosso modelo, a curva IS0 se desloca para cima, já que os gastos do governo estão
contemplados nesta curva. Maiores gastos do governo geram no mercado de
material de construção uma inesperada desova de estoque. Os lojistas são
40
obrigados a repor estes estoques e demandam produtos adicionais ao setor
produtivo. Este atende, mas para conseguir atender esta demanda adicional precisa
contratar mais funcionários. Estes, por sua vez, se tornam assalariados e gastam
esta renda adicional no mercado, aumentando o nível de renda em geral. Como não
ocorre aumento do nível de preços, a curva da demanda agregada se desloca
também para cima, de DD0 para DD1, levando a um maior nível de renda. A taxa de
juros também aumentou, pois com o aumento da renda se gerou um aumento da
moeda com fins transacionais. Contudo, a quantidade da moeda não aumentou, os
agentes tentam vender títulos para atender sua maior demanda por moeda, mas
somente conseguem com um aumento da taxa de juros.

r
LM0 (P0)

LM1 (P0)
A0
r0
A1
r1

IS

0 y
yD0 yD1

B1

P0 B0 DD1
DD0
0 y
yD0 yD1
Aumento das reservas internacionais (SILVA, 1999).

Aprendemos que o Bacen possui vários instrumentos para controlar a


base monetária. Conhecemos também as operações de criação e retenção de base
monetária em que o Bacen não possui influência, como, por exemplo quando um
41
exportador precisa vender seus dólares recebidos e transformar em reais (criação de
base monetária), ou, quando um importador precisa comprar dólares do Bacen para
pagar o exportador afora (neste caso a base monetária é reduzida). Para facilitar o
entendimento, definimos agora a oferta monetária como segue:

MS ≡ ME + MI
Em que:
MS = Oferta nominal da base monetária.
ME = Oferta monetária nominal originária das operações externas do Bacen, no
caso em que variações das reservas internacionais obrigam o Bacen á
emissão ou destruição da base monetária.
MI = Oferta monetária nominal originária das operações internas do Bacen.

r
LM1 (P0)

LM0 (P0)
r1 A1
A0
r0
IS

0 y
yD1 yD0

B0
P0
B1 DD0

DD1
0 y
yD1 yD0
Redução da oferta monetária pelo Bacen (SILVA, 1999).

42
Investidores estrangeiros estão na expectativa de obter altas taxas de
retorno investindo em ações da Petrobrás. Como eles não podem investir dólares
diretamente na Bovespa, precisam cambiar seus dólares por reais. Uma grande
quantidade de dólares ingressa no Brasil e o Bacen é obrigado a trocar estes
dólares por reais. Por um lado, o Bacen aumenta suas reservas internacionais, mas
por outro lados, como moeda em forma de real é entregue aos investidores, a base
monetária aumenta consideravelmente. Conseqüentemente, a curva LM desloca-se
para a direita. A moeda, agora em grandes quantidades no mercado, torna-se
menos escassa, levando a uma queda da taxa de juros. Uma taxa de juros menor
estimula os investimentos das empresas e das famílias que agora conseguem
créditos a taxas de juros menores. Maiores investimentos levam a maiores
despesas, aumentando a renda nacional. No novo ponto de equilíbrio da demanda
agregada (B1), o nível de preços não foi alterado, a taxa de juros é menor e a renda
é maior do que antes do ingresso dos capitais estrangeiros.

Quando o Bacen utiliza as ferramentas de redução da base monetária, ou


em caso de saída de capitais estrangeiros do país, ocorre o contrário. O nível de
renda se torna menor e a taxa de juros maior do que antes da medida tomada.

43
4. O balanço de pagamentos e o câmbio
O balanço de pagamentos é um registro sistemático realizado pelo Banco
Central das transações econômicas de um país com o resto do mundo durante
determinado período de tempo (geralmente de um ano). É dividido em contas
correntes e contas de capital.

A conta corrente é dividida em quatro categorias: balança comercial,


serviços não-fatores, serviços de fatores e transferências unilaterais.

Conta Corrente
Categoria Valores registrados Soma Saldo
1 Balança comercial Exportações e importações. Saldo das
2 Serviços não-fatores Fretes, seguros, turismo, 1 transações
serviços diplomáticos, + reais
pagos ou recebidos do 2
exterior.
(x-m) Saldo da
3 Serviços de fatores Fatores ligados aos fatores conta
de produção (trabalho, corrente
capital, etc.): salários, Renda líquida
3
aluguéis, juros, lucros,
+
enviada ao (SCC)
dividendos remetidos ou exterior
4
recebidos do exterior. (rl)
4 Transferências Doações entre países,
unilaterais remessas ou recebimentos.

Saldo da conta corrente do balanço de pagamentos:

SCC = x – m - rl

Conta de Capital
Categoria Valores registrados Soma Saldo
1 Investimento direto (id) Contas dos investimentos
de empresas estrangeiras
no país e empresas
nacionais no exterior.
Saldo da conta de
2 Empréstimos e Valores contraídos ou capital
financiamentos (ef) concedidos por bancos, 1+2+3+4
empresas nacionais e
governos. (SCK)
3 Amortizações (am) Parcelas de empréstimos
contraídos ou concedidos.
4 Outros capitais (ok) Contas de pequeno valor.

Saldo da conta de capital do balanço de pagamentos:

SCK = id + ef - am + ok

44
A soma do saldo de conta corrente mais o saldo de conta de capital é o saldo do
balanço de pagamentos. Deste, somente se deduz a conta de erros e omissões
(SEO):

SBP = SCC + SCK + SEO


No saldo de balanço de pagamentos são registradas todas as transações
entre residentes no país e o exterior e todas as entradas e saídas de divisas no país.
Se o saldo do balanço de pagamentos é positivo, o Bacen aumenta o estoque de
divisas, caso contrário, reduz o estoque de divisas.

Vejamos agora como as variáveis influenciam o balanço de pagamentos,


começando com o saldo da conta corrente e seu primeiro item, as transações reais
(exportações, importações e serviços não-fatores). O nível de preços dos produtos
domésticos exerce forte influência sobre o balanço de pagamentos. Se houver
elevação do nível de preços domésticos, os produtos nacionais se tornam mais
caros e menos competitivos em comparação a produtos estrangeiros. Isto leva a
uma redução das exportações e aumento nas importações para substituir produtos
nacionais mais caros. Encontramos efeitos parecidos referente ao nível de preços no
exterior. Se os preços no exterior forem mais em conta do que os preços dos
produtos no mercado doméstico, ocorre o mesmo, as importações destes produtos
se elevam e as exportações caem.

Variável Relação (exportação) Relação (importação)


Nível de preços domésticos (-) (+)
(P) x = x (P) m = m (P)
Nível de preços internacionais (+) (-)
(P*) x = x (P*) m = m (P*)
Taxa de câmbio (TC) (+) (-)
x = x (TC) m = m (TC)
Nível de renda nacional (y) (+)
---- m = x (y)
Nível de renda internacional (+)
(y*) x = x (y*) ---

Outra variável que influencia as transações reais é a taxa de câmbio (TC),


que é a quantidade de moeda nacional trocada por uma unidade de moeda
estrangeira. Conforme a equação, o nível de preços de produtos nacionais deve ser
igual ao do nível de preços internacionais:

P
---- ≡ P*
TC

45
Suponhamos uma taxa de câmbio inicial de 1 U$ = R$ 1,00. Se a taxa de
câmbio aumentar (1 U$ = R$ 2,00), a equação do lado esquerdo diminui seu valor,
tornando nosso preço mais baixo e nosso produto mais competitivo no mercado
exterior. Lógica conseqüência é uma elevação das exportações. Para os produtos
estrangeiros importados, ocorre o contrário. Como a taxa de câmbio sofreu aumento,
os produtos estrangeiros se tornam mais caros, já que o importador precisa gastar
mais reais para comprar produtos cujo preço é em dólares.

Se ocorrer redução da taxa de câmbio (1 U$ = R$ 0,50), acontece o


contrário, as exportações se tornam menos competitivos, resultando num volume
inferior de exportações. No caso das importações ocorre aumento das mesmas, já
que se torna mais em conta para os nossos consumidores comprar mercadorias
estrangeiras em vez de comprar produtos nacionais.

A renda no exterior exerce influência de tal forma que, quando houver


aumento de renda num país no exterior, este poderia demandar mais produtos do
nosso país, já que teria mais disponibilidade financeira. Nossas exportações
sofreriam um aumento. E quando a renda no nosso país se elevar, estaríamos em
condições de demandar mais produtos no exterior, levando a um aumento das
importações.

Agora podemos descrever como os volumes das exportações e


importações se comportam ao ser submetidos a estas variáveis:

(-) (+) (+) (+) (+) (-) (-) (+)


x = ( P , P* , TC , y* ) m = ( P , P* , TC , y )

Resumindo, o saldo das transações reais (soma do saldo da balança comercial com
o dos serviços não-fatores) seria:

(-) (+) (+) (-) (+)


STR = x - m = STR ( P , P* , TC , y , y* )

Para a conta de serviços de fatores e as transferências unilaterais,


podemos facilitar nosso modelo e dizer que a renda líquida enviada ao exterior
depende praticamente exclusivamente da taxa de juros internacionais (r*) e da
dívida externa brasileira (DE) como segue:

(+) (+)
rl = rl (r* , DE )

Para ambas as variáveis a influência é a mesma, uma elevação da taxa


internacional de juros e uma elevação da dívida externa brasileira causa um maior
montante de renda líquida enviada ao exterior.
46
Analisemos agora as variáveis que influenciam o saldo da conta de
capitais. O investimento direto, ou seja, como os estrangeiros (empresas, governos,
pessoas físicas) aplicam capital no Brasil, depende basicamente de dois fatores, da
taxa de juros reais no Brasil e da taxa de juros reais no exterior. Se a taxa de juros
reais no Brasil, deduzindo todos os custos de transação, for maior, investirão aqui, e,
se for o contrário, no exterior. Podemos colocar a seguinte equação:

(+) (-)
id = id ( r , r* )

Os empréstimos e financiamentos contraídos ou concedidos também


dependem das taxas de juros reais domésticas e internacionais. Se a taxa de juros
doméstica se elevar, os empréstimos no mercado nacional se tornam mais caros e
as empresas ou o governo brasileiro tentam buscar empréstimos no exterior com
taxas de juros reais mais baixo. Neste caso, entram divisas no país.

(+) (-)
ef = ef ( r , r* )

No caso das amortizações, caso que a taxa de juros reais no exterior


crescer, as empresas procuram novos empréstimos mais baratos no mercado
doméstico, tentando pagar as amortizações fora (saída de divisas).

(-) (+)
am = am ( r , r* )

Resumimos o saldo da conta de capital, deixando ok como constante:

(+) (-) (+) (-) (-) (+) (+) (-)


SCK = id ( r , r* ) + ef ( r , r* ) - am ( r , r* ) + ok = SCK = ( r , r* )

Podemos facilitar nossa equação e dizer que o saldo da conta de capital


depende da diferença entre a taxa de juros real doméstica e a taxa de juros real
internacional:

(+)
SCK = SCK ( r – r* )

Quando a taxa de juros reais nacional é igual à taxa de juros reais no


exterior, o saldo de conta de capital é zero, se for superior o saldo é positivo e se for
menor o saldo é negativo.

Voltamos agora para o equilíbrio do balanço de pagamentos:


47
SBP = SCC + SCK + SEO ou [SEO constante]

SCC = - SCK
Colocando as variáveis:

(-) (+) (+) (-) (+) (-) (-) (+) (-)


SCC = (P , P* , TC , y , y* , r* , DE) = - SCK = ( r , r* )

Ou, quando a variação das reservas internacionais (∆RI) não sofre


alteração:

(-) (+) (+) (-) (+) (+) (-) (-)


∆RI = SBP = SBP (P , P* , TC , y , y* , r , r* , DE)

∆RI > 0
Elevação de reservas BP (P0)
r
internacionais
A1
SCC > - SCK Y SCC < - SCK
SCC + SCK > 0 SCC + SCK < 0
Superávit Déficit
r0 X
A0 ∆RI < 0
Redução de reservas
internacionais
0 y
y0 y1

A curva do balanço de pagamentos (SILVA, 1999).

Acima vemos a curva do balanço de pagamentos que mostra a situação


em que todas as combinações da taxa de juros e renda levam ao equilíbrio do
balanço de pagamentos. Para todos os pontos vale a relação SCC = - SCK, ou seja,
um eventual déficit ou superávit da conta corrente é compensado por um superávit
ou déficit na conta de capitais. Lembramos também de que para todos os pontos na
curva do balanço de pagamentos não há alteração das reservas internacionais.

Analisemos possíveis situações de desequilíbrio e como funcionam os


mecanismos que levam novamente ao equilíbrio do balanço de pagamentos. No
48
ponto X, ao lado direito da curva do balanço de pagamentos, o nível de renda é y1, e
a taxa de juros é r0, mas esta taxa de juros é mais baixa do que no equilíbrio (que
seria r1). Se a taxa de juros no mercado doméstico é mais baixo do que seria para
este nível de renda, ocorre saída de capital do país, levando a um saldo de conta de
capital inferior ao que levaria ao equilíbrio. O saldo de balanço de pagamentos se
torna deficitário. O mecanismo que leva ao equilíbrio é a taxa de juros.

Para qualquer país é muito importante obter resultados positivos no saldo


de conta corrente. Quando um país apresenta constantes déficits na conta corrente
(por exemplo, mais importações do que exportações) precisa equilibrar este déficit
com a entrada de capitais externos ou empréstimos externos. Se esta situação é
temporária, não há grandes problemas, porém se continuar por um período
prolongado, as obrigações externas do país (dívida externa) aumentam de tal forma
que o país não é mais capaz de cumprir com as obrigações contraídas.

Câmbio
A taxa de câmbio é “o preço da moeda estrangeira em termos da moeda
nacional ou vice-versa” (VICECONTI, 2007. p 257). Podemos escrever a taxa de
câmbio de duas formas:

a) U$ 1,00 = R$ 2,00 - um dólar americano vale dois reais brasileiros.


b) R$ 1,00 = U$ 0,50 - um real brasileiro vale meio dólar americano.

Existem duas formas de se utilizar a taxa de câmbio, a convenção do


incerto e a convenção do certo. Os EUA usam a convenção do certo, ou seja, o
preço da própria moeda nacional é cotado em termos da estrangeira: 1 U$ = € 0,80.
Se a taxa de câmbio se eleva (1 U$ = € 0,90), a moeda nacional se valorizou.

O Brasil usa a convenção do incerto, em que se usa o preço da moeda


estrangeira em relação ao da moeda nacional: 1 U$ = R$ 1,69. Se a taxa de câmbio
se eleva (1 U$ = R$ 1,80), a moeda nacional se desvalorizou.

Há taxas de câmbio flexíveis (flutuantes) ou fixas.

Uma taxa de câmbio é flexível quando seu valor é determinado livremente


no mercado de divisas. Num país que atua na área de comércio exterior
(praticamente todos os países), há oferta e demanda por divisas. Os exportadores
ofertam divisas, pois quando mandam seus produtos para fora recebem os
pagamentos em moedas estrangeiras (dólar americano, euro). Outra oferta de divisa
ocorre quando investidores estrangeiros querem aplicar seus capitais na bolsa de
valores ou em filiais de empresas estrangeiras no Brasil. Como não é permitida a
manutenção de moeda estrangeira como meio de pagamento, precisam trocar a
moeda estrangeira por moeda nacional. A demanda por divisas é caracterizada pela

49
procura de importadores que devem pagar as mercadorias estrangeiras em divisas,
neste caso compram divisas, trocando-as por reais. Diversos fatores podem
influenciar a taxa de câmbio, como o nível do produto interno (y), o nível geral de
preços no mercado nacional (p), o nível geral de preços no mercado externo (p*), a
taxa de juros interna (r), a taxa de juros internacional (r*), que são os mais
importantes. As funções da demanda e da oferta de divisas pode ser resumida como
segue:

(+) (+) (-) (-) (+)


Dd = f ( y , p , p* , r , r* ) demanda por divisas

(-) (-) (+) (+) (-)


Od = f ( y* , p , p* , r , r* ) oferta de divisas

Podemos mostrar como as duas curvas de comportam através do modelo abaixo:

O´d
TC Od

A1
TC1
D´d
TC0 A0
Dd

0 Q
Q0

Elevação da taxa de câmbio devido ao aumento do nível de preços internos (VICECONTI,


2007).

Após um aumento dos preços internos, a demanda por divisas


aumentará, pois os produtos nacionais se tornam menos competitivos e as
importações se elevam. Os importadores, para poder pagar seus fornecedores
afora, precisam comprar divisas para poder remeter os montantes para o exterior. A
curva Dd se desloca para a direita (D´d). Também há conseqüências para a curva da
oferta de divisas (Od). O aumento dos preços internos causa um deslocamento da
curva Od para O´d., resultando numa taxa de câmbio TC1 maior do que a taxa de
câmbio anterior (TC0).

50
A taxa de câmbio é fixa quando o Banco Central de um país determina a
taxa de câmbio conforme uma tabela.

O Brasil adotou o sistema da taxa de câmbio flutuante. Esta flutuação do


câmbio é chamada de flutuação suja, já que o Bacen pode intervir no mercado de
câmbio caso a moeda nacional se valorize ou desvalorize demais.

51
5. A distribuição de renda
Na macroeconomia temos três agregados macroeconômicos. São o
Produto, a Renda e a Despesa.

No capítulo três já falamos do produto, é o valor total de bens e serviços


finais produzidas pelas empresas, geralmente, num período de um ano. A produção
abrange a agregação de valores e atividades comerciais, como as prestações de
serviços e a intermediação financeira. Para chegar ao valor do produto, temos que
deduzir do valor bruto da produção o consumo intermediário (compra de insumos
intermediários). A renda é a soma de todas as remunerações pagas ao setor
produtivo, como aluguel, salário, lucro e juros. Finalmente, a despesa é a soma dos
valores gastos pelos consumidores na aquisição dos bens e serviços produzidos
pelo setor produtivo. Caso que não haja a formação de estoques, podemos supor
que a seguinte equação seria válida numa economia:

Produto = Renda = Despesa

Note que dentro da renda temos contabilizados os lucros das empresas.

PIB per capita por países (2005). Fonte: Wikimedia.

Agora podemos perguntar como está renda é distribuída numa economia?


Os proprietários do setor produtivo recebem lucros (diferença entre o custo de
produção e o preço de venda), pagam aluguéis por algumas máquinas usadas no
processo produtivo, pagam juros pelos empréstimos necessários a fim de investir na
expansão da capacidade produtiva e pagam salários aos funcionários e aos
empresários. Existem diversos índices usados para medir a distribuição de renda

52
numa determinada economia. Os índices mais usados para medir a distribuição de
renda ou o bem estar de uma economia são o PIB per capita, o Coeficiente de Gini,
o Índice P90/P10 e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

O Índice de PIB per Capita é a divisão do PIB de um país pelo número de


habitantes deste país. Este índice dá somente uma idéia geral sobre a distribuição
de renda de um país. Os críticos alegam que o PIB per capita diz pouco sobre a
distribuição de renda, já que podem existir poucos habitantes com rendas
exorbitantes e muitos com rendas muito baixas. A figura a seguir mostra o PIB per
capita no mundo em 2005. Os seguintes países possuem um PIB per capita acima
dos U$ 30.000: EUA, Canadá, Japão, Alemanha, Suíça, Áustria, Islândia, Noruega,
Finlândia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Inglaterra, Irlanda e Escócia.
O Brasil está situado no grupo dos países abaixo dos U$ 10.000.

Posição
Estado PIB per capita (em R$)
2008 2007
01 01 Distrito Federal 45.978
02 02 São Paulo 24.457
03 03 Rio de Janeiro 21.621
04 05 Santa Catarina 20.369
05 04 Espírito Santo 20.230
06 06 Rio Grande do Sul 18.378
07 08 Mato Grosso 17.927
08 07 Paraná 16.928
09 10 Minas Gerais 14.233
10 11 Mato Grosso do Sul 14.188
11 09 Amazonas 14.014
12 12 Goiás 12.879
13 14 Rondônia 11.977
14 13 Roraima 11.845
15 15 Amapá 11.033
16 16 Tocantins 10.223
17 17 Acre 9.896
18 18 Sergipe 9.779
19 19 Bahia 8.378
20 20 Rio Grande do Norte 8.203
21 21 Pernambuco 8.065
22 22 Pará 7.993
23 23 Ceará 7.112
24 24 Paraíba 6.866
25 25 Alagoas 6.227
26 26 Maranhão 6.104
27 27 Piauí 5.373
Distribuição de renda per capita por estado brasileiro. Fonte: IBGE.

Se analisarmos a situação do PIB per capita no Brasil notaremos uma


grande discrepância entre os estados brasileiros. O Sudeste, Sul e Centro-Oeste
53
demonstram um PIB per capita bem acima do dos estados nordestinos. Destaca-se
Destaca
o PIB per capita de São Paulo, primeiro colocado, que é nove vezes o PIB per capita
do último colocado, o estado do Piauí.

% de renda Máximo: 0
Mínimo: 1

a
CG = ----------
(a + b)
Linha da igualdade
perfeita

% de pessoas
O Coeficiente de Gini. Fonte: Wikipedia.

O Coeficiente de Gini foi desenvolvido em 1912 pelo estatístico italiano


Corrado Gini e mede a distribuição de renda num país. A escala varia de 0 a 1. Se
seu valor é 0 significa que a distribuição de renda é totalmente equilibrada, ou seja,
10% da população recebem 10% da renda, renda, 50% da população recebem 50% da
renda e assim por diante. Quanto mais próximo ao valor 1, mas desigual é a
distribuição de renda num país.

O Coeficiente de Gini no mundo (2005). Fonte: CIA.

Os países da melhor distribuição de renda são os países escandinavos,


e
outros países da União Européia, a Austrália e o Canadá. O Brasil demonstra um
54
índice de pouca distribuição de renda (0,567 em 2005), contudo, este índice está
baixando, ou seja, a distribuição de renda no Brasil tende a ser cada vez mais igual,
mesmo que ainda seja um caminho muito longo até chegar a padrões satisfatórias
de diversos países industrializados.

O Índice de P90/P10 mede quanto o grupo formado pelos 10% mais ricos
recebe em comparação ao grupo dos 10% mais pobres. A escala começa em 0, ou
seja, quanto mais baixo o índice é, melhor é a distribuição de renda. O Japão possui
um índice de 4,23 e o Brasil de 68. Significa, que para cada dólar que os 10% mais
pobres destes países recebem, no Japão, os 10% mais ricos receberiam 4,23
dólares e no Brasil 68 dólares. Resumindo, o Brasil seria um país com uma
concentração de renda muito maior do que o Japão.

Em 1990, o economista indiano Amartya Sen e seu colega paquistanês


Mahbub ul Hap desenvolveram o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Este
índice é composto por três outros índices: Expectativa de vida ao nascer (uma vida
longa e saudável), o acesso ao conhecimento (anos médios de estudo e anos
esperados de escolaridade) e o PIB per capita (um padrão de vida decente).
Amartya Sen recebeu em 1998 o Prêmio Nobel de Economia pelo seu trabalho. A
Organização das Nações Unidas começou utilizar este índice a partir de 1993 para
comparar os países conforme seu grau de desenvolvimento humano. Existem três
categorias de países: desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos.

Muito alto Alto Médio Baixo Sem informação

O IDH no mundo (2010). Fonte: ONU.

O Brasil já conseguiu alcançar o nível de um país desenvolvido e seu


índice alcançou em 2010 o nível de 0,699.

55
Como um país pode conseguir uma melhor distribuição de renda? Nos
anos 1960 e 70, os países da Europa Ocidental tiveram um forte crescimento
econômico e alcançaram níveis de emprego próximos ao do pleno emprego. A
arrecadação tributária cada vez maior e o aumento da dívida pública a taxas de juros
favoráveis possibilitavam políticas de distribuição de renda através de benefícios
sociais para as classes menos favorecidas.

No Brasil, existem alguns tipos de transferências sociais, como a bolsa


família e o seguro desemprego. Antigamente, as transferências do governo para
pessoas físicas abrangiam quase que exclusivamente o pagamento de
aposentadorias. Para que um país possa melhorar a distribuição de renda através
de políticas públicas, precisa aumentar também a eficácia da política tributária.
Existem diversos tipos de tributos: os impostos, as taxas e as contribuições de
melhoria. Neste curso tratamos somente dos impostos. São divididos em tributos
diretos e indiretos. Tributos diretos são cobrados sobre o patrimônio e a renda, como
o Imposto de Renda para pessoa física ou jurídica. Tributos indiretos são cobrados
sobre o consumo, como, por exemplo, o ICMS. Socialmente, tributos diretos seriam
mais justos, já que o indivíduo com a maior capacidade paga mais impostos do que
um indivíduo com uma renda menor (progressividade do imposto). O Imposto de
Renda é cobrado através de alíquotas que aumentam com a renda. Não podemos
dizer o mesmo para os impostos indiretos. O indivíduo que ganha um salário mínimo
paga a mesma alíquota sobre um pacote de arroz que um indivíduo que ganha dez,
vinte ou trinta salários mínimos. Conseqüentemente, podemos dizer que tributos
indiretos são socialmente injustos (regressividade do imposto).

Arrecadação do
governo

0 t* 1
t – alíquota de impostos
A curva de Laffer (adaptada).

Outro aspecto interessante referente aos tributos é a alíquota aplicada


pelo governo. Quanto maior a alíquota de impostos, maior será a disponibilidade de
56
sonegação de impostos. Este fenômeno foi explicado pelo economista Arthur Laffer
que foi conselheiro do governo americano durante a presidência de Ronald Reagan.
Se o governo não aplicasse nenhuma alíquota de impostos (alíquota zero), também
sua arrecadação seria zero. Se aplicasse uma alíquota de 100% (no gráfico é o valor
1), também sua arrecadação seria zero, pois nenhum indivíduo pagaria impostos
devido à garantia de sobrevivência. A alíquota ideal seria entre zero e 100%. A curva
de Laffer mostra arrecadação crescente para o governo ao aumentar a alíquota de
imposto, e chega a um nível de máxima arrecadação à alíquota t*. A partir desta
alíquota t* qualquer aumento resultará numa arrecadação decrescente, já que os
indivíduos começam a preferir sonegar impostos.

57
6. PERSPECTIVAS DA TEORIA ECONÔMICA
Neste capítulo tratamos da teoria microeconômica, em particular, da
demanda dos consumidores e da oferta pelas empresas. Em seguida, analisaremos
como a demanda dos consumidores reage a aumentos de preços e como os
consumidores tomam suas decisões.

6.1 A Curva da demanda


A curva da demanda explica de quais fatores depende o consumo
(demanda) de um bem. Estes fatores são: o preço do próprio bem, a renda
monetária dos indivíduos, os preços de bens substitutos e complementares e outros
fatores, como clima, ações de propaganda ou sazonalidade. Representa a
combinação de todos os preços e suas respectivas quantidades que os
consumidores são capazes de adquirir.

Preço do bem x (Px)


As alterações do preço do próprio bem causam somente movimentos ao
longo da curva da demanda, e o trajeto da curva não se altera. Todas as outras
alterações das variáveis causam um deslocamento da curva da demanda. Se o
preço do produto é P1, o indivíduo adquire a quantidade Q1. Um aumento do preço
deste mesmo bem causaria uma redução das quantidades adquiridas. Se o preço
aumenta de P1 para P2, a quantidade adquirida cai de Q1 para Q2. O seguinte
gráfico mostra esta relação entre a quantidade de um bem que os consumidores
(indivíduos) desejam adquirir e o preço deste bem. Para facilitar o entendimento e os
cálculos, nos próximos capítulos usamos, em vez de curvas, retas para desenhar a
curva da demanda.
Preço

P2

P1
D (demanda)

Q2 Q1 Quantidade
A curva da demanda em relação ao preço

 Um aumento de preço de um bem significa uma redução no consumo (D -


demanda) deste bem, ou seja, os consumidores já existentes neste mercado
consomem menos e alguns não conseguem mais adquirir tal produto e saem
do mercado.
58
 Uma redução de preço de um bem significa um aumento no consumo (D -
demanda) deste bem ou seja, os consumidores que já estão no mercado
podem comprar mais e os consumidores que ainda não estavam no mercado
podem começar a consumir tal produto.

Renda dos indivíduos (R - renda monetária)


Um aumento da renda disponível significa que os consumidores possuem
um maior poder aquisitivo. São capazes de comprar maiores quantidades de um
determinado bem ou estão dispostos a pagar mais caro por este bem. É o chamado
efeito renda, com uma renda maior, os consumidores podem comprar mais de um
determinado bem sem alterações de preços deste bem.

Px - Preço

P1

D’

Q1 Q2 Q - Quantidade
A curva da demanda e aumento da renda disponível

Matematicamente trata-se de um deslocamento da curva da demanda


para à direita (de D para D’). Da mesma forma, uma redução da renda disponível
dos indivíduos causaria um deslocamento da curva da demanda à esquerda, como
mostra o gráfico a seguir. Outros deslocamentos da curva da demanda são
causados pelas alterações dos preços de bens substitutos e complementares e
outros fatores como estação, campanhas de propaganda, etc.

Preços de Bens substitutos e complementares (Py, Pz)


Um fator importante para a demanda de um bem são os bens substitutos
e complementares deste mesmo bem. Vejamos as definições a seguir:

“Dois bens são substitutos quando um aumento no preço de um deles


provoca um aumento na quantidade demandada do outro” (Pindyck, 2002, p. 22).
Exemplos são os bens carne bovina e frango, ou combustíveis como gasolina e
álcool.
59
Px - Preço

P1

D’
Q - Quantidade
Q2 Q1
A curva da demanda e redução da renda disponível

“Dois bens são complementares quando um aumento no preço de um


deles provoca uma queda na quantidade demandada do outro” (Pindyck, 2002, p.
23). Exemplos são carros e combustível.

 Um aumento de preço de um bem substituto significa um aumento no


consumo do bem de referência (se o preço da carne bovina aumentar, os
consumidores começam a consumir mais frango). A curva da demanda se
desloca para à direita.
 Uma redução de preço de um bem substituto significa uma redução no
consumo do bem de referência (se o preço da carne bovina reduzir, os
consumidores começam a consumir menos frango). A curva da demanda se
desloca para à esquerda.
 Uma redução de preço de um bem complementar significa um aumento no
consumo do outro bem complementar (cimento e tijolo, computadores e
programas para computadores). A curva da demanda se desloca para à
direita.
 Um aumento de preço de um bem complementar significa uma redução no
consumo do outro bem complementar. A curva da demanda se desloca para
à esquerda.

Outros fatores
Entre estes, podemos mencionar fatores climáticos (frio, calor) ou
estações (verão, inverno, carnaval, halloween, etc.). Além disto, existem campanhas
de propaganda ou ações informativas, como recentemente a ação informativa sobre
certos tipos de gordura em bolos. Estas ações levam a uma redução da demanda
por certos produtos.

60
Resumindo, podemos escrever a curva da demanda como a seguinte
função:

D = f (Px, R, Py, Pz, F)

Em que:

D- Demanda
Px - Preço do bem
R- Renda disponível
Py - Preço de um bem substituto
Pz - Preço de um bem complementar
F- Outros fatores

Curva da demanda: A curva da demanda mostra a relação entre a


quantidade de um bem que os consumidores desejam
adquirir e o preço deste. Geralmente é negativamente
inclinada em relação ao preço.

Matematicamente: Q = a-bP
Exemplo: Q = 8-2P

6.2 A curva da oferta


A curva da oferta mostra a relação entre as quantidades de um bem que
os produtores estão dispostos a vender a determinado preço. Como no caso da
curva da demanda, utilizamos uma reta em vez de uma curva para facilitar a nossa
análise da curva da oferta.

Preço (Px)
O - Oferta
P2

P1

Q1 Q2 Q - Quantidade
A curva da oferta
61
De que fatores depende a venda (oferta) de um bem?

Preço de venda do bem (Px)


Quanto mais alto for o preço, maior será a capacidade e o desejo das
empresas de produzir e vender.

Um preço mais alto pode permitir a contratação de funcionários adicionais


para aumentar a produção ou a entrada de novas empresas que ainda não atuam
neste mercado.
Custo de matéria prima
Uma redução no custo da matéria-prima significa que a produção se
tornaria mais lucrativa (deslocamento da curva da oferta para à direita). O contrário
ocorre no caso de um aumento no custo da matéria-prima. A produção se tornaria
menos lucrativa. Conseqüentemente, a curva da oferta se deslocaria para à
esquerda.

Custo de mão-de-obra, custo de capital (juros)


O custo de mão-de-obra e o custo de capital, como juros, podem
influenciar da mesma forma a curva da oferta. Qualquer aumento do custo de mão-
de-obra como salários ou encargos sociais impostos pelo governo ou pelos
sindicatos, causariam um aumento do custo de produção. Conseqüentemente, a
curva da oferta se deslocaria para à esquerda. Uma redução dos encargos sociais
ou de salários tornaria a produção mais barata e teria como efeito o deslocamento
da curva da oferta à direita. Aumentos ou reduções do custo de capital em forma de
juros têm os mesmos efeitos que os outros custos de produção, causando
deslocamentos à esquerda em caso de aumentos da taxa de juros e deslocamentos
à direita em caso de reduções da taxa de juros.

Preço (Px) O - Oferta


O’
P1

P2

Q1 Q2 Quantidade Q
A curva da oferta e redução de custo no processo produtivo
62
Para os casos de reduções de custos no processo produtivo, as
empresas poderiam vender mais pelo mesmo preço (P1, Q2) ou vender a mesma
quantidade a um preço menor (P2, Q1).

Px O’
O
P1

P2

Q2 Q1 Q
A curva da oferta e aumento de custo no processo produtivo

Para os casos de aumento de custos no processo produtivo, as empresas


poderiam vendar menos pelo mesmo preço (P1, Q2).

Resumindo, podemos escrever a curva da demanda como a seguinte


função:
O = f (Px, CMP, CINS, CMDO, CCAP)
Em que:

O- Oferta
Px - Preço do bem
CMP - Custo de matéria-prima
CINS - Custo de insumo
CMDO - Custo de mão-de-obra
CCAP - Custo de capital

Curva da oferta: A curva da oferta mostra a relação entre a quantidade


de um bem que os produtores desejam vender e o
preço deste. Geralmente é positivamente inclinada em
relação ao preço.

Matematicamente: Q = c + dP
Exemplo: Q = 8 + 2P

63
6.3 O mecanismo do mercado
A demanda dos compradores e a oferta dos vendedores compõem um
mercado. Podemos definir mercado como o “grupo de compradores e vendedores
que, por meio de suas interações efetivas ou potenciais, determina o preço de um
produto ou de um conjunto de produtos” (Pindyck, 2002, p. 7). Geralmente, um
mercado possui limites geográficos ou abrange certos produtos.

Num mercado definido, existe somente um ponto, em que a quantidade


ofertada e a quantidade demandada são iguais. Este é o chamado ponto de
equilíbrio. O mecanismo funciona através do preço de equilíbrio. O preço de
equilíbrio (P0) é o preço que iguala a quantidade ofertada e a quantidade
demandada. Qualquer mercado em desequilíbrio, ou seja, quando o preço P0 não
iguala oferta ou demanda, se ajusta através do preço e volta ao ponto de equilíbrio.
Neste ponto, oferta e demanda se igualam novamente.

Vejamos a seguir alguns exemplos de desequilíbrio e como o mercado se


ajusta através do mecanismo de mercado.

O mecanismo do mercado
O mecanismo do mercado é a tendência dos preços de se modificarem
num mercado livre até que haja balanceamento do mercado.

Px
O

P0

Q0 Q
O mecanismo de mercado: situação de equilíbrio

Excesso de oferta
Existe um excesso de oferta quando a quantidade oferecida é maior do
que a quantidade demandada. Uma oferta maior do que a demanda significa que as
empresas tentariam vender uma quantidade maior de um bem a um preço mais
64
caro. O gráfico a seguir mostra o excesso da oferta. As empresas oferecem a
quantidade Q2 no mercado com o preço P1 mais elevado do que o preço de
equilíbrio P0. A este preço P1, os indivíduos somente estariam dispostos a comprar
a quantidade Q1, muito inferior do que a quantidade ofertada. A diferença entre Q2 e
Q1 é o excesso de oferta. Como os consumidores não aceitam estes preços mais
altos, os produtores estariam obrigados a baixar os preços até chegar ao preço de
equilíbrio do mercado P0. O mercado volta ao preço de equilíbrio com as
quantidades anteriores.

Px O

P1
A
B
P0

Q1 Q0 Q2 Q

Excesso de oferta
O mecanismo de mercado: Excesso de oferta

Excesso de demanda
Existe um excesso de demanda quando a quantidade demandada é maior
do que a quantidade ofertada. Neste caso, os consumidores tentariam comprar mais
quantidades Q1 a um preço mais baixo (P1). Porém, as empresas somente estariam
dispostas a oferecer uma quantidade inferior a este preço (Q2). Existe um excesso
de demanda. O mecanismo de mercado provoca uma redução das quantidades
demandadas ao preço de equilíbrio anterior (P0) com as quantidades demandadas
Q0.

O equilíbrio do mercado ocorre através do preço, da quantidade, ou dos


dois. Somente existe um equilíbrio e este é estável.

Este modelo da oferta e da demanda somente funciona em mercados


competitivos (ou seja, um indivíduo ou uma empresa não possuem poder de afetar o
preço). Mais adiante, veremos outros tipos de mercados.

65
Contudo, existem deslocamentos da curva da oferta que alteram o preço,
a quantidade, e com isto, o ponto de equilíbrio do mercado.

Px O

P0
B

P1
A D

Q2 Q0 Q1 Q

Excesso de demanda

O mecanismo de mercado: Excesso de demanda

Quando a oferta aumenta, a curva da oferta se desloca de O para O’ a


direita. A curva da demanda permanece inalterada. Isto significa uma maior
quantidade ofertada Q1 (maior do que Q0). Porém, a curva da demanda permanece
inalterada e esta quantidade maior de produtos no mercado somente pode ser
absorvida pelos consumidores a preços mais baixos. O preço de equilíbrio cai de P0
para P1. O novo equilíbrio estará no ponto P1/Q1.

Px O O’

P0

P1

Q0 Q1 Q
O mecanismo de mercado: Aumento da oferta

66
Deslocamentos da curva da oferta ocorrem quando há redução de custos
para uma empresa. Isto pode ocorrer através de uma redução dos preços de
matérias-primas ou de produtos semi-acabados para a produção, ou devido a uma
redução dos salários dos trabalhadores. O mesmo ocorre em caso de progresso
tecnológico, ou seja, quando máquinas mais modernas conseguem aumentar a
produtividade de uma empresa. As empresas podem produzir mais a um custo igual
ou mais barato. A curva da oferta não se desloca quando o preço do bem x se
altera. Nestes casos haverá somente movimento ao longo da curva da oferta.
Alteram-se somente as quantidades oferecidas. Da mesma forma, podem ocorrer
deslocamentos da curva da demanda que afetam o ponto e o preço de equilíbrio.
Neste caso, o deslocamento da curva da demanda é de D para D’. Os consumidores
demandam agora quantidades maiores (Q1) do que as quantidades do equilíbrio Q0.
A conseqüência é o aumento do nível de preços de P0 para P1. A curva da oferta de
produtos das empresas permanece inalterada. O novo equilíbrio encontra-se em
P1/Q1. Deslocamentos da curva da demanda ocorrem quando a renda disponível
dos indivíduos aumenta ou quando o preço de um bem substituto ou complementar
se altera. O mesmo pode ocorrer quando os consumidores começam a demandar
mais de um produto x devido a uma ação de marketing ou propaganda para um
produto.

Px
O

P1

P0

D’

Q0 Q1 Q
Mecanismo de mercado: Aumento da demanda

6.4 A elasticidade da demanda


As quantidades procuradas variam em função do nível do preço do bem x.
Conforme a curva da demanda, qualquer aumento do preço do bem x causaria uma
redução da quantidade demandada deste bem. Uma redução do preço do
determinado bem x causa um aumento nas quantidades demandadas. Em outras
palavras, a curva da demanda é sensível aos preços. Aparentemente existem bens
cujas alterações de preços provocariam reações diferentes nas quantidades
demandadas. Um aumento do preço da gasolina não necessariamente provocaria
67
uma grande redução no consumo da gasolina a curto prazo. Porém, um aumento do
preço da carne bovina, provavelmente significaria uma redução considerável do
consumo deste bem. Há diferentes graus de sensibilidade da demanda por um bem
em relação a alterações de seu preço.

A elasticidade-preço da demanda é a relação existente entre as


modificações relativas (ou percentuais) observadas nas quantidades procuradas,
decorrentes de alterações relativas (ou percentuais) introduzidas nos preços. A
elasticidade-preço da demanda é diferente em cada ponto da curva da demanda.

Modificação percentual da quantidade procurada dx


E= ---------------------------------------------------------- = -----
Modificação percentual do preço dp

Em que: E é a elasticidade-preço da demanda.

Se a elasticidade-preço for igual a 1, significa que um aumento de preço


do bem x em 10% causaria uma redução de 10% nas quantidades demandadas
deste bem (porcentagem de aumento de preço é igual à redução da porcentagem
das quantidades demandadas).

-0,10
E= -------- = │-1,0 │ = 1
+0,10

dx – alteração da quantidade demandada do bem x


Px
dp – alteração do preço do bem x

P=
1,10 dp= 0,10

P= 1,0

dx= -0,10

x= 0,90 x= 1,0 X
Elasticidade-preço da demanda. E = 1

68
Se a elasticidade-preço for menor que 1, significa que um aumento de
preço em 10% causaria uma redução menor do que 10% da quantidade
demandada.

-0,05
E= -------- = │-0,5 │= 0,5
+0,10

Neste caso, a elasticidade-preço é 0,5. Uma elasticidade-preço menor


que 1 significa uma demanda menos elástica.

Px dx – alteração da quantidade demandada do bem x


dp – alteração do preço do bem x

P=
1,10 dp = 1
P= 1,0
dx = 0,5

D
X
x= 0,95 x= 1,0

A elasticidade-preço da demanda menos elástica

Se a elasticidade-preço for maior que 1, significa que um aumento de


preço do bem x em 10% causaria uma redução maior do que 10% da quantidade
demandada.

-0,15
E= ------- = │-1,5 │ = 1,5
+0,10

A elasticidade-preço é 1,5. Isto significa que a demanda é mais elástica.


69
Px dx – alteração da quantidade demandada do bem x

dp – alteração do preço do bem x

dp= 1
dx= 1,5
D

A elasticidade-preço da demanda mais elástica

Existem casos extremos, como a demanda totalmente elástica ou


totalmente inelástica.

Demanda totalmente elástica


Uma demanda é totalmente elástica se qualquer alteração no preço do
bem x provoca uma alteração enorme nas quantidades demandadas deste bem. A
elasticidade da demanda é infinita: E = ∞. Isto significa que o consumidor não aceita
nenhum aumento de preço deste bem. Caso que ocorra, o consumidor deixa de
consumir este bem.

Graficamente:

Px

A demanda totalmente elástica

70
Demanda totalmente inelástica
Uma demanda é totalmente inelástica se qualquer alteração no preço do
bem x não provoca nenhuma alteração nas quantidades demandadas deste bem. A
elasticidade da demanda é zero: E = 0. A empresa pode oferecer o bem x a um
preço muito alto e o consumidor aceitaria este preço.

Px D

A demanda totalmente inelástica

A elasticidade-preço da demanda é muito importante para a tomada de


decisões de uma empresa referente a alterações de preços, ou seja, uma
elasticidade-preço da demanda mais elástica (maior do que 1) torna aumentos de
preços mais difíceis e menos lucrativa, pois os consumidores reduziriam numa
magnitude maior a quantidade demandada do que o aumento de preço. O contrário
ocorre quando a elasticidade-preço é mais inelástica, pois aumentos de preços
teriam como conseqüência uma redução menor das quantidades demandadas do
que o aumento de preço.

EXERCICIOS
A curva da demanda é uma função das quantidades demandadas em relação ao
preço. Esta curva é negativamente inclinada em relação ao preço, ou seja, a um
preço maior, as quantidades demandadas pelos indivíduos caem. Além disto, a
demanda depende de outros fatores como renda disponível, preço de um bem
complementar, preço de um bem substituto ou ações de marketing. Analise o gráfico
a seguir partindo da demanda inicial D. Determine como os seguintes impactos se
refletem graficamente na curva da demanda e marque a resposta correta com um x:

1) Aumento da renda disponível


A( ) B( ) C( )
Há um deslocamento da A curva da demanda D Há um deslocamento da
curva D para à esquerda não se altera, há somente curva D para à direita
(D2). um movimento ao longo (D1).
da curva.
71
Px

D1

D - demanda
D2
Qx

2) Redução de preço de um bem complementar


A( ) B( ) C( )
Deslocamento da curva D A curva da demanda D Deslocamento da curva D
para à esquerda (D2). não se altera, há somente para à direita (D1).
um movimento ao longo
da curva.

6.5 As preferências do consumidor


A teoria do consumidor demonstra como o indivíduo escolhe e toma
decisões. Geralmente, o indivíduo é considerado racional, trata-se de um ser
humano, que é maximizador ou otimizador. Este indivíduo é exposto a limitações
como renda individual disponível, preços dos produtos e outras restrições. Cada
indivíduo possui desejos e preferências. Estas preferências individuais apresentam
três premissas, que são:

Completas
O indivíduo sabe avaliar e conhece perfeitamente os itens que precisa.

Não saciáveis
O indivíduo sempre prefere mais a menos, ou seja, o indivíduo sempre quer mais do
que já possui.

Transitivas

72
Quando um indivíduo prefere uma cesta A com certos produtos definidos
à uma cesta B, e, uma cesta B à uma cesta C, a conseqüência será que também
preferiria A à B.

A curva de indiferença
A curva de indiferença ou curva da utilidade representa a combinação de
dois bens x1 e x2 que dão a mesma satisfação (U1) ao consumidor. Esta curva é
estritamente convexa à origem, ou seja, negativamente inclinada.

x2

x2 A

B
x2’
C
x2’’ U1

x1 x1’ x1’’ x1

A curva de indiferença (curva de utilidade)

Os movimentos ao longo da curva de indiferença demonstram as


combinações de todos os bens x1 e x2 que dão a mesma satisfação ao consumidor.
Se houver movimentação ao longo da curva U1 do ponto A para o ponto B, o
consumidor consome menos do bem x2 e em compensação mais do bem x1. Do
ponto B para o ponto C, o consumidor abre ainda mais mão do produto x2 e o
substitui por unidades do bem x1. Neste caso ele já precisa consumir muito mais
unidades do bem x1 para substituir as unidades não consumidas do bem x2. Quanto
mais á direita, menos o indivíduo está disposto a deixar de consumir x2, cada vez
ele precisa substituir as unidades x2 não consumidas por uma quantidade muito
maior de unidades x1.

As curvas de utilidades de um mesmo indivíduo nunca podem se cruzar


(transitividade).
73
x2

B
C
x2
U2

U1

x1
x1 x1’

As curvas de indiferença: transitividade

Neste caso:
U1: A ~ B (A igual a B)
U2: A ~ C (A igual a C)
Isto significaria que B ~ C

Porém, C > B, ou seja, no ponto C a quantidade do bem x1 consumida é


maior do que em B, enquanto a quantidade do bem x2 consumida é igual.

O aumento da utilidade de um indivíduo


Existem diversos níveis de utilidades para um indivíduo. O indivíduo
procura alcançar a maior utilidade possível. O gráfico a seguir mostra diferentes
níveis de utilidade para um indivíduo.

A curva da utilidade U3 representa uma maior utilidade do que a curva U2


para o indivíduo. A curva U2 representa uma maior utilidade do que a curva U1.
Porém trata-se de utilidades ordinais. Somente sabemos que um valor maior
significa uma maior utilidade, mas não podemos dizer que U2 com a utilidade 60 é
duas vezes maior do que U1 com a utilidade 30. Não se trata de uma escala
cardinal.
74
x2

U3 = 100

U2 = 60

U1 = 30

x1
As curvas com utilidades diferentes

A restrição orçamentária
A restrição orçamentária mostra as limitações que cada indivíduo sofre
devido ao nível de renda disponível.

x2

M C

M D B
p2 A

U1
M
p1 x1

A restrição orçamentária

75
A forma matemática da restrição orçamentária é:
M = p1x1 + p2x2
Em que:
x1 – quantidade do bem 1
x2 – quantidade do bem 2
p1 – preço do bem 1
p2 – preço do bem 2
M – renda monetária disponível

A restrição orçamentária do indivíduo é uma reta dos pontos M/p2 até


M/p1 e descreve todas as combinações das quantidades x1 e x2 que o consumidor
poderia adquirir com a renda disponível, alcançando a mesma utilidade U1. O
indivíduo sempre escolherá o ponto onde a curva da utilidade e a reta orçamentária
se tocam, pois neste ponto alcançaria o máximo da utilidade sob a restrição da reta
orçamentária. Neste caso, seria o ponto A. O ponto D está situado na reta
orçamentária, mas não está na curva da utilidade, por isto não seria um ponto onde
o indivíduo alcançaria o máximo de satisfação. O ponto C está na curva da utilidade,
mas não na reta orçamentária, o indivíduo não dispõe de recursos necessários para
alcançar este ponto (somente através de um aumento da renda disponível, o que
deslocaria a reta orçamentária à direita para cima). O ponto B também não é
alcançável, pois está acima da curva da utilidade do indivíduo e também fora da reta
orçamentária.

Existem deslocamentos da restrição orçamentária. Isto ocorre quando


ocorre redução ou aumento de preço de um produto.

x2

M
B
p2
U2

A
U1
M2
M1

M1 M2
x1
p1 p1
O deslocamento da restrição orçamentária: Redução de preço
76
Se o preço do bem 1 cai, o indivíduo pode consumir mais bens desta
categoria por um preço mais barato. Teoricamente se torna mais rico. A restrição
orçamentária gira em torno do ponto M/p2 para à direita. Ao mesmo tempo
consegue alcançar uma curva da utilidade mais para cima, como U2.

Se ocorresse uma redução do preço do bem 2, haveria um movimento da


restrição orçamentária em torno do ponto M1/p1, com as mesmas conseqüências
para o bem 2.

Para os casos de aumentos de preços, o movimento da restrição orçamentária seria


o oposto. O indivíduo estaria obrigado a aceitar uma curva de utilidade mais baixa.

77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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