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Socorro-me de um grande autor, o muito singular e polémico Jean-Luc Godard, para, à sua
guarda, celebrar em texto o Dia do Autor de 2011, correspondendo ao amável convite que me
foi dirigido pela Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores.
Por ocasião da estreia do seu último filme – FILM SOCIALISME, em Maio de 2010, Godard
disse, numa entrevista a Jean-Marc Lalanne (Les Inrockuptibles), serem profundamente
injustas as aflições por que a Grécia estava a passar, já que a Europa e o Ocidente é que lhe
eram devedores. Devedores de incalculáveis biliões pelos direitos antiquíssimos da invenção
da Democracia, da Filosofia, da Tragédia, da Lógica!...
O termo autor chega-nos da Antiguidade, do latim augeo (es, ere, auxi, auctum), que significa
fazer crescer, acrescentar, aumentar, ampliar. Em qualquer momento, mas particularmente
em tempos de crise, remeter para esta matriz etimológica confirma e amplia o dever de se
respeitar e vangloriar todos os que justamente “fazem crescer”, ou seja, todos os autores.
Volto a Jean-Luc Godard. Questionado na mesma entrevista sobre os direitos que cabem ao
autor, Godard respondeu com a mordacidade que o caracteriza: “Direitos? O autor só tem
deveres!”. Quereria ele referir-se à pulsão e à urgência interiores que cada autor sente em dar
forma a algo novo, em “dever” criar e “fazer crescer”? Ou…?
Sendo hoje o Dia do Autor, e tendo os autores portugueses o apoio e a defesa atenta da
Sociedade Portuguesa de Autores, permitam-me que aproveite a circunstância que nesta data
celebramos para nomear um “autor desconhecido”, prestando-lhe a minha mais sincera
homenagem através da breve história que vos quero contar.
Gastão Jaquet, enquanto funcionário da Brisa e especialista em electrónica, foi incumbido pela
Administração da empresa, na década de 80, de inventar um sistema que agilizasse o
pagamento das portagens. Gastão Jaquet aplicou-se e, aplicando os seus conhecimentos e o
seu desejo de “fazer crescer”, chegou sozinho à criação de um modelo que surpreendeu o
mundo das auto-estradas, sendo depois adoptado por muitos que à Brisa logo se dirigiram
para aquisição dos direitos de utilização do inovador e engenhoso dispositivo. Falo-vos do
inventor da famosa “Via Verde”, inventor cujo nome não conheceu o merecimento da fama,
nem me consta que lhe tenham sido alguma vez processadas royalties sobre a sua invenção.
Dizem-me que se reformou há poucos anos. Não o conheço, mas gostaria que lhe fosse dado
testemunho, neste Dia e nesta Casa, da minha admiração, solidária e grata.
À Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores sou, desde há muito, grata, pelo empenhado
esforço na defesa dos direitos de todos os autores portugueses. Fico agora mais grata ainda
pela oportunidade concedida de poder associar-me, com estas palavras, à Festa do Dia do
Autor.