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De volta as raízes: Devolvendo ao Deficiente Mental sua Potencialidade.

Τ
Rosa M. Prista

“O presente trabalho anuncia um programa de desenvolvimento a pessoas


portadoras de Síndrome de Down que após anos de institucionalização, de
discriminação constante do meio social são amputadas de desejar, de exercer sua
inteligência, de trabalhar e de sentir suas próprias produções. Tais fatos são expressos
corporalmente por rigidez postural, inércia, servilidade, lentidão de movimentos,
sentimentos de menos valia que não se justificam sob o aspecto orgânico.

A família, por sua vez, reduzida, em muitos casos, a figura materna, cristaliza
papéis sociais que bloqueando a ação criativa das figuras parentais impedem o
reconhecimento e resignificação da potencialidade dos habitantes deste grupo social. A
busca de sobrevivência destas famílias provoca a subordinação dos valores da vida aos
valores da utilidade.

O programa possui como referenciais filosóficos, os estudos de Manuel Sérgio


Vieira e Cunha, criador da Ciência Motricidade Humana e Célèstin Freinet, educador
francês que inaugurou um novo olhar sobre a prática pedagógica.

Τ
Psicóloga, psicomotricista, mestre em Psicologia, diretora científica do Centro de
Estudos da Criança, fundadora do Programa de Desenvolvimento para pessoas
portadoras de Síndrome de Down, doutoranda em Psicologia e Qualidade de Vida,
American World – Iowa/ EUA; Conselheira-presidente do I Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre a Pedagogia Freinet e Psicomotricidade do Rio de Janeiro.
(I) Conceitos contemporâneos de valor

(II) De volta as raízes: Motricidade e relações objetais, origens corporais da


identidade

(III) Um resgate à potencialidade do sujeito. Do ato condicionado ao poder de agir.

(IV) O valor do trabalho e da aquisição própria.

(V) Qualidade de vida: Um olhar sistêmico sobre as necessidades do Homem.

(VI) Referências Bibliográficas.

Conceitos contemporâneos de valor


Oito horas, salão de convenções de uma secretaria de educação ou um salão de
eventos de determinada faculdade ou uma reunião de educadores em um espaço
comunitário, não importa. . . a dinâmica de grupo escolhida para estas pessoas solicita
que os participantes digam quem são e suas expectativas ao curso oferecido. As pessoas
se olham, mãos são apertadas, cabeças abaixadas. . . Algum tempo e alguém propõe ao
outro começar e seguir um movimento linear. Personas surgem automaticamente. .
.”Sou professora, trinta e quatro anos no magistério. . .”; “Sou
diretora do colégio X, do Y e do W. . .”; “Diretora”; “Sou biólogo, advogado,
administrador . . .”. Um sem número de títulos surgem caracterizando os seres
humanos. De repente alguém se manifesta: “Não sou ninguém. . .” Serão respostas
específicas de um grupo ou o caráter social definido na cultura ocidental e denunciado
por Erich Fromm? Respostas de histórias individuais ou um sistema conceitual que
condiciona nossa forma de agir e de se movimentar? E a dialética entre sujeito e cultura
citado por Wallon e Vygotsky, poderiam se aplicar a esta situação? Após todos os
elementos do grupo se expressarem através das personas cristalizadas, são solicitadas a
perceberem que são muito mais do que disseram; muito mais do que suas personas
definem...
São oferecidos vários tipos de folhas de papel-almaço, ofício, vegetal, reciclado
com flores, com pedaços de vegetais, folhas vergè coloridas, papelão, pedaços de papel-
jornal... São solicitados a guardar todos os materiais e buscar uma folha de papel.
Alguns se levantam, tocam, escolhem... outros esticam as mãos e pegam a primeira
folha que alcançam... outros pegam duas, três folhas...
No momento de se recolocarem surgem ansiedades, medos, desconfianças. O que
espera que eu faça? O que devo dizer? O medo de ser , de ser autêntico se concretiza...
Após a expressão, um turbilhão de fatos são narrados, condicionamentos expostos,
insatisfações...Surgem seus recursos internos, potencialidades são expressas. Através
do estímulo dado pelo papel, a motricidade se manifesta e a complexidade humana
emerge... Sem dúvida estamos vivendo um momento muito crítico na área da
terapêutica e da educação. Valores humanos estão sendo invertidos numa busca
desenfreada Ser através do Ter.
“O ser humano inclui sua relação com as significações.”
Tillich, citado por Fromm1.
Tal inversão tem levado educadores, técnicos e leigos a um empobrecimento de
suas possibilidades criativas e recursos internos.
“O Homem deixa de ser e manifesta sua vida na medida em que passa a
ter e sua vida se torna mais alienada”2
Só atingindo a Motricidade - a primeira estrutura de relação do sujeito – podemos
permitir ao ser humano esta consciência. Fromm (1977) já analisava as questões
referentes a ter ou ser. Para ele a necessidade do restabelecimento da essência humana é
ponto primordial e tal resgate só pode ser feito no desnudamento dos aspectos materiais.
Sem radicalismo, ele denuncia a mudança rápida de nossos hábitos provenientes de
novas eras que se instalam na humanidade. Tal mudança intervém nos recursos
adaptativos do Homem que pode levá-lo a ampliação de suas capacidades, de sua
comunicação como sua habilidade de pensar e criar. Entretanto o sistema conceitual
condicionador da sociedade ocidental tem levado o Homem a ações sem reflexões, sem
emoções... conseqüência tem sido a “esterilidade da mente e do coração, à apatia moral
e à inércia intelectual e até mesmo o de produzir dinossauros sociais incapazes de viver
num mundo em evolução.”1
Atualizando os escritos de Fromm vamos nos recolocar na era da informática, na
época da produção ilimitada, e por conseguinte, de consumo ilimitado; onde a técnica
nos torna onipotentes, capazes de tudo, de usar inclusive nossos próprios pares e a
natureza no atingir de um único objetivo: superar a própria natureza para TER, ter
status, poder reconhecimento...custe o que custar. “Somos uma sociedade de pessoas
notoriamente infelizes: solitários, ansiosos, deprimidos, destrutivos, dependentes –
pessoas que ficam alegres quando matamos o tempo que tentamos poupar.”1
1- Fromm, 1977
2- Marx, 1844
A paixão pela posse só concretiza o vazio que foi se instalando no interior do ser
humano quando a atenção às suas necessidades de nutrição – afetividade, alimentação,
foram desviadas para um consumo desenfreado.
“Na medida em que todos queiram ter mais, deve haver formação de
classes, deve haver guerra internacional. Cobiça e paz excluem-se reciprocamente.”1
Na medida que o olhar para o exterior, ofusca e deturpa um olhar interior, o que era
bom para o Homem – dentro de uma visão antropossociológica – é substituído para o
que é bom para o sistema, incluindo um espírito de conquista e hostilidade que cegou-
nos a ver o limite do ser humano, dos recursos naturais de nosso planeta e
consequentemente suas reais necessidades.
Vítor da Fonseca (1986) indaga: “Serão os deficientes e os que tem dificuldades de
aprendizagem os grandes réus e os únicos culpados desta situação ou serão apenas um
produto pré-fabricado por esta sociedade impotente, frustrada e em seca permanente...
E qual será o papel do professor, no meio disto tudo?
E que será isso de ser professor? ...não será “apenas” um ser capaz de ser mais
velho? Mais vivo?
E que será isso de ser mais velho?
...não será um ser capaz de não possuir tudo e todos?
...não será um ser capaz de não tirar?
...não será um ser capaz de não prender?
Mas haverá quem possa ser capaz de não prender se não for interiormente livre?
Quem poderá dar alguma coisa se ainda está com sede? Sede de vida, sede de
espaço, sede de tempo, sede de afetividade, sede de fome e fome de tudo?
A autora compreende que os conceitos contemporâneos de valor, marcados por uma
história de interesses, de desequilíbrios econômicos e sociais, por dogmas religiosos
provocaram uma inversão total de valores e ficamos secos da possibilidade de olhar o
outro além do próprio referencial, respeitando a diversidade de crenças, valores e
culturas. Tais questões fogem ao controle de quem tem pressa de se nutrir e de buscar
um poder artificial marcado pela posse de objetos, pessoas, diplomas e títulos.
No contato desta sociedade iremos encontrar pessoas que foram estigmatizadas
com um rótulo de deficientes mentais e que ao sabor de professores e técnicos
desnutridos de afeto, espaço, tempo...recebem um atendimento artificial, fragmentador e
destruidor do potencial existente em cada ser...
De volta às raízes: Motricidade e relações
objetais, origens corporais da identidade.
Na vida intra uterina há reciprocidade entre mãe e filho, que no decorrer dos anos
se transformará na matriz de identidade da criança. Entre mãe e filho há um excitante
desenvolvimento que dependendo dos procedimentos adotados poderá promover ao
amadurecimento de ambos ou uma dependência patológica. No início da vida, o bebê
responde a todo e qualquer estímulo oriundo do interior de sua mãe ou de seu ambiente.
O aumento da tensão gerado por suas necessidades com descargas motoras difusas e
ocasionais são alívio para a criança mas ao mesmo tempo um sinal para mãe. É uma
comunicação fusional, tônica e necessária ao desenvolvimento de ambos. São nestas
mensagens tônicas que ambos se moldam. A medida que a motricidade do feto se
expressa através dos movimentos, dá a mãe a resposta que lhe fornece feedback de suas
reações.
“Ele possui ritmos de comportamento próprios, dentro dos ritmos de
experiência da mãe, sendo que os ritmos de ambos estão entrelaçados em uma sincronia
na qual cada um começa a conhecer o outro. Durante toda a gravidez, uma mãe está
experimentando essa interligação do feto à ela e está sentindo suas reações às
experiências pelas quais ela passa.3
Rosen e Rosen (1975) relatam estudos sobre fetos que respondem a altos ruídos
emitidos perto da mulher grávida com resposta de susto.
Ao nascer o sistema neuro-motor do bebê não o permite, nos primeiros meses de
vida, utilizar a motricidade voluntária, “entretanto seu sistema tônico está desenvolvido
tanto no plano sensitivo como motor.”4
Estes primeiros contatos com o mundo ficam registrados a um nível pré-
inconsciente, que segundo Aucouturier (1985) seja a origem primitiva da “consciência”
nos seres vivos.
“Está aí a organização primária, fundamental, de afetividade que se projetará mais tarde
no simbólico, na estética dos gestos, das linhas, das formas, das cores, dos sons, das
tonalidades musicais ou vocais, talvez mesmo na harmonia do pensamento, até mesmo
no matemático.” 5
A motricidade na infância é expressão natural da afetividade. O recém-nascido
encontra-se num estado de nebulosidade pois seu eu é indiscriminado do ambiente e
portanto suas ações são reativas a todo e qualquer movimento deste meio. Sua
consciência é indiferenciada.
A vivência motora de estados hipertônicos (quando vivencia estados desagradáveis
– desconfortos pela fome, posturas e cólicas) quando seu corpo se enrijece e estados
hipotônicos (quando vivencia estados prazerosos, as agradáveis sensações
proprioceptivas geradas por ações próprias da maternagem – balanceio, lentidão,
continuidade, suavidade, satisfação alimentar) quando seu corpo se expande, relaxa são
as primeiras expressões afetivas que criam a comunicação fusional necessária à
segurança afetiva da criança e que irão dar forma a consciência do ser humano.
Dependendo da troca com o meio e da forma como esta ocorre poderemos criar um
terreno fértil ou estéril à construção de um sujeito autônomo.
Cada fase do desenvolvimento tem seus próprios ritmos, que atuam como
organizadores da integração corporal e da relação com objetos. Com o aumento das
trocas relacionais, o desenvolvimento biopsicológico encontra condições de expansão e
há o favorecimento da diferenciação eu/ não eu. A resposta sorriso da criança, descrito
como primeiro organizador por Spitz 6 inaugura uma relação eu-outro de forma mais
ativa. É a primeira manifestação dirigida e intencional, indicando uma transição da
passividade total à atividade, da recepção diacrítica. O mesmo autor encontra os
primórdios dos gestos semânticos não e sim no início da vida, presentes no ato motor de
mamar.
“Encontrou como origem do gesto do meneio de cabeça com sentido
negativo o padrão motor inato da rotação, quando a criança vira lateralmente a cabeça,
ao ser posta na posição de mamar. E o meneio afirmativo tem suas origens nos
movimentos de aproximação ao seio, quando este é retirado em bebês acima de três
meses.”6
A ampliação de movimentos decorrentes desta comunicação constituirão
coordenações que facilitarão o deslocamento da criança.
3 Brazelton, 1988
4 LaPierre, 1986
5 LaPierre e Aucouturier, 1988
6 Spitz, 1981
A aquisição da preensão e da marcha são fatores fundamentais organização
psicomotora possibilitando colocar grupos de músculos esqueléticos a serviço de
seqüências de ações dirigidas e permitindo ajustamentos de postura e equilíbrio.
Segundo Spitz este é o segundo grande momento organizador e que dará suporte para o
domínio do espaço e futuramente para o domínio da função simbólica (desenho,
linguagem, gestual, verbal), expressa numa atividade muscular altamente especializada.
Tal evolução depende do distanciamento das ações da figura materna com a entrada da
figura paterna que rompe a nível psíquico com a possessão da mãe com seu filho e
introduz um outro olhar; outros movimentos através de seu toque, voz e ações de
paternagem. Enquanto a figura materna está voltada para a completude, a nutrição, o
fechamento protetor, a figura paterna introduz a falta, a abertura, a interdição, a
punição; dois movimentos opostos e interdependentes com funções especificas e
necessárias para a vivência da totalidade psíquica. De um contato fragmentado e
indiferenciado com o mundo, a criança passa a utilizar o contato de corpo inteiro com o
meio. O interesse pelo mundo se altera. Do contato centrado em seu corpo e da mãe
passa a visualizar o exterior, as pessoas e os objetos. Organiza-se o eu corporal
incorporado com a descoberta de si, de sua imagem,
“Sou o que recebi de minha mãe, ou o que posso produzir na luta por me
diferenciar dela, tal como ela se concretiza como figura existente, desde seu real
fisiológico que me gerou”
O surgimento do eu psíquico depende da vivência da imitação. Para Wallon (1930) a
imitação é própria da evolução biológica e necessária para a constituição de uma
totalidade psicomotora.
“Por meio da imitação e do jogo, os circuitos sensório-motores e
perceptivo-motores vão despertando, organizando e organizando-se como estrutura
nervosa em movimento, em formação e acabamento e cuja expressão concreta e
material se traduz à vista e na prática pela mielinização das próprias vias nervosas.”8

Um resgate à potencialidade do portador de deficiência


mental. Do ato condicionado ao poder de agir.

Wallon foi o primeiro psicólogo a resgatar a importância da motricidade na


emergência da consciência, sublinhando a reciprocidade entre os aspectos da afetividade
e da função tônica. Motricidade não é um dado no desenvolvimento humano, mas a
verdadeira estrutura de relação do Homem com o meio, definindo que entre este há uma
unidade indissolúvel, uma dialética que favorecerá ou bloqueará o desabrochar da
inteligência humana. Mediante esta vertente é preciso definir a concepção de mundo
que foi aceita neste trabalho e sem dúvida rejeitar a visão cartesiana que possa surgir ao
falar em movimento. Indo além do anatômico, fisiológico e biomecânico, passando
pela integração corpo-mente e ousando superar a dicotomia, falar de um movimento –
expressão do SER. Assumir uma postura sistêmica compreendendo e acreditando que
todos os fenômenos estão interligados.
Na procura de um sistema teórico que pudesse sustentar esta visão sistêmica o
encontro se faz com a Motricidade Humana, ciência criada por Manuel Sérgio Vieira e
Cunha. Este a chama de “A Nova Ciência do Homem” porque questiona a forma
simplista como muitas áreas profissionais se referem ao ser humano. Procura recolocar
o Homem no lugar de complexidade.
7 Fonseca, 1977
“O Homem é presença e espaço na História, com o corpo, desde o corpo
e através do corpo.”8
Na ciência da Motricidade Humana, o Homem é definido como um ser
eminentemente carente que está sempre em busca de sua complexidade, através da
motricidade que implica na personalização do movimento humano. Intencionalmente
vai em busca de objetivos, de suas escolhas, significando seus atos. Busca estar aberto
ao mundo, aos outros (a existência é dialógica) e a transcendência, buscando ser
humanamente cada vez mais. Entretanto nossa sociedade possui um enquadre bastante
contraditório. Teoricamente acreditamos na autonomia do ser, falamos de liberdade,
descoberta, criatividade; na prática, fazemos o inverso.
Quando o bebê está em vida intra-uterina ele inicia seu contato com o mundo de
forma energética e viva. Prepara-se para ser ativo num mundo de exigências.
“O bebê recém-nascido traz consigo, para esta vida, a qualidade
permeável que lhe garante o que o espera (e aquilo que dele depende) nas necessidades
e impulsos das mulheres individuais, na tradição de gerações de mães e na instituição
universal da maternidade.”9
Brazelton reafirma:
“O trabalho de apego não necessita ser executado somente pelos pais; o
recém-nascido é programado com uma grande variedade de capacidades e respostas
para ir ao encontro de sua mãe ou pai. Pelo menos metade da tarefa de apego é
realizada pelo bebê.”
Piera Aulagnier citada por Fernandez 10 informa que quando bebês vive-se uma
violência primária mas necessária. A mãe interpreta os sons de seu filho outorgando
significados. “Violência primária corresponderia a ousadia de arvorar-se competência
para interpretar as manifestações pulsionais do bebê, interpretar as emissões de sons
envoltos em movimentos e ir significando as emoções que nelas estão impregnadas.” E
continua: “É violência contra uma suposta autonomia porque neste momento, é a mãe
que pensa pela criança, que atribui sentido às suas manifestações.”10
Este momento na vida de todo ser humano é fundamental pois a partir do desejo da
mãe irá constituir-se um terreno propício para surgir o desejo do filho que sendo
respeitado na sua diferença, originalidade poderá constituir uma dialética entre estes
desejos. Constituída esta dialética a palavra poderá surgir com dupla finalidade: de
satisfação pulsional com o desejo de voltar-se para o outro já que sua primeira
experiência (com a mãe) foi prazerosa, a tendência é buscar novas parcerias, do pai, do
professor.. Entretanto este processo vem sendo muito difícil de ocorrer em nossas atuais
famílias que em busca do agir desenfreado perdem a possibilidade de viver e de
perceber as capacidades extraordinárias que seus membros possuem.
Na família onde surge um bebê com síndrome de Down a situação
inicial já é fragmentada por uma série de sentimentos ambivalentes. A espera, o desejo,
a desilusão, a desesperança, a negação. Ações de proteção, abrigo ou rejeição são
experenciados mas dificilmente expressos em palavras. Muito pouca alegria há em
serem pais de uma criança especial. Não é de admirar que a maioria destas pessoas
portadoras de necessidades especiais sejam sérias, curvadas e com baixa vitalidade
corporal. “Nos pais estão concentradas todas as atitudes da sociedade culturalmente
determinadas, além de suas próprias esperanças e aspirações mutiladas em relação ao
filho.
8 Manuel Sérgio, 1986
9 Erickson, 1963
10 Fernandez, 1992
11 Cruickshank, 1979
culturalmente determinadas, além de suas próprias esperanças e aspirações mutiladas
em relação ao filho.”11
Os pais, mesmo hoje em dia, enfrentam muitos desapontamentos e precisam lutar com
atitudes sociais estereotipadas. Ainda há muita ignorância e informações errôneas
geradoras de sentimentos de culpa, fracassos e suspeitas unilateralmente direcionados à
figura materna. Tais situações são reforçadas por médicos e técnicos insensíveis às
expectativas dos pais e de forma brutal e onipotente anunciam a chegada de um bebê
Down, prescrevendo seu destino com subestimação. Outros pais lutam tentando fazer
tudo o que podem e acabam esquecendo de sua própria vida e da vida familiar. Na
verdade todo e qualquer pai deseja e cria altas expectativas em relação a seu filho e para
lidar com a situação real de um filho com necessidades especiais é preciso deixar morrer
a imagem do “filho perfeito” para dar lugar ao filho que está presente, descobrindo
eficiências e os limites que a Síndrome impõe.
“É raro o pai ou mãe que pode honestamente aceitar seu filho
completamente como uma criança normal. É possível para os pais aceitarem seu filho
como uma criança excepcional.”11
Da timidez inicial escondendo seus filhos da vida social à programas de cunho
inclusivo onde seus filhos são expostos arbitrariamente radicalismos são organizados.
A grande questão que até a presente data não foi amplamente discutida e colocada em
ação é o desejo do próprio sujeito, seus valores e o movimento na busca de qualidade de
vida. Apenas a pessoa pode falar de suas próprias necessidades e carências e diante de
uma escuta atenta da família construir seu modo de viver. Como todo este processo não
ocorre naturalmente e uma névoa de incapacidade se mantém à volta da pessoa
portadora de necessidades especiais há a constituição da violência secundária.
“Todo pai se encontra ante um duplo desafio: como construir uma
escuta paterna/ materna que possa esperar, suportar, descobrir a originalidade e a
diferença no enunciado da criança sem apagar o espaço – em construção no tempo – de
uma autonomia de pensamento que redundará em possíveis e necessárias oposições e
enfrentamentos com o desejo deles.”10
A violência secundária, ou seja, a impossibilidade de permitir ao portador de
Síndrome de Down de ser significante, expressa a incapacidade do adulto em entender a
linguagem de respostas não-verbais do bebê, continuando a tomar decisões sobre este
apenas segundo sem ponto de vista. É a manutenção do bebê como objeto apesar de
recursos psiconeurológicos de ser sujeito, sujeito de sua ação.
Destas discussões surge em 1995, o Programa de Desenvolvimento de pessoas
portadoras de Deficiência Mental, programa criado no Centro de Estudos da Criança,
Rio de Janeiro, Brasil com a intenção de desmistificar o conceito de incapacidade que
permeia o olhar da sociedade sobre estes sujeitos, assim como questionar os
programas educativos ou reeducativos (?) que não levam em conta a pessoa do
portador de Síndrome de Down, assim como não levam em conta a qualidade de vida de
seu contexto familiar. O programa de Desenvolvimento refuta atividades pré-
estabelecidas e se baseia no paradigma sistêmico – todas as expressões do sujeito são
retratos de sua história pessoal e estão interligadas dialeticamente com a história de sua
família e da humanidade. O programa atua sobre o conceito de “Homem em
movimento” (Manuel Sérgio, 1986) busca nas técnicas do educador Célèstin Freinet
um caminho ousado que faça emergir uma comunicação tônica, primitiva, aquela que
foi cerceada no início de vida dos sujeitos que foram expostos a violência secundária.
Para que a pessoa recupere certa independência, certa autonomia afetiva é
necessário vivenciar seu corpo fantasmático 4, ou seja trazer a tona a memória pré-
inconsciente contida na constituição corporal do sujeito. A revivência da simbiose
tônico-afetiva, o distanciamento, a vivência do objeto transicional, a aquisição da noção
de permanência, o acesso ao significante, `a palavra, ao conceito que evoca o
significado e assegura a permanência do mundo são etapas revividas ou constituídas
neste programa.
A vivência afetiva do objeto, objetos macios, regressivos como a terra, a argila
permitem o retorno a estes estágios que investidos pelo prazer e poder de agir sobre o
próprio corpo facilita a organização e concordância progressiva das percepções próprio
e extero-ceptivas, facilitando aos membros deste grupo, sair do estado de objeto para o
de sujeito. No programa encontram-se pessoas na faixa de um à trinta e cinco anos,
portadores de Síndrome de Down e freqüentadores no mínimo de dez anos de
instituições destinadas a educação especial. Das dez pessoas do programa, três delas
com idade entre vinte e um e trinta e cinco anos serão alvo deste trabalho por terem
chegado bloqueadas em seu movimento de agir, de desejar, expressando gestos muito
lentos, estereotipadas e pobres em suas experiências motoras; postura corporal
arqueada. Após sete meses de atuação em grupo foi possível o “poder agir” associado
do “poder sentir” trazendo nova dimensão ao prazer primitivo. Presença do prazer de
ação, de pegar os objetos, investindo espacialmente, com novos movimentos,
intercalando descobertas corporais com os movimentos estereotipados; novos
deslocamentos, lançamentos.
Dos movimentos lentos e fracos alguns movimentos mais fortes e rápidos ensaiam
seu aparecimento na tentativa de marcar o sujeito com seu prazer de viver o corpo e de
dominá-lo. Músicas clássicas e harmônicas como as valsas se intercalam com o
movimento forte dos tangos. De atitudes isoladas surge o encontro e a possibilidade de
dançar. Primeiro sozinho, depois buscando o outro. Importante registrar que estes
corpos que urgem por encontrar a espontaneidade registram uma história de culpas,
preconceitos e frustrações no que mais rico possuíam: suas energias vitais que foram
sendo mutiladas ao longo de um processo social-familiar e escolar de submissão e de
controle. A possibilidade de se redescobrirem pessoas eficientes, acreditadas pelos
orientadores, sendo reforçadas atualmente pelos membros de sua família que também
sendo trabalhadas em terapia familiar resgatam sua potencialidade com recursos
criativos para traçar suas metas. Tal processo inaugura um olhar profundo sobre a
educação das pessoas portadoras de Síndrome de Down. Sem dúvida, nestes onze
meses de atuação em grupo, os resultados parciais resgatam um caminho de abertura
para a vida, para a criatividade, para a autonomia, para o desenvolvimento do potencial
da pessoa.
É um caminho que ao pisar nele não se tem retorno e que esbarra numa
série de pré-conceitos, normas e formas de agir que devem ser colocados em
discussão...

O valor do trabalho e da aquisição própria


“Em educação, como em tudo, só os homens livres podem ser libertos.” A frase
de Girardi toca num dos pontos mais profundos no que se refere aos aspectos
terapêuticos e educacionais. Todo o conhecimento acumulado até a presente data pela
humanidade só terá valor prático quando considerarmos o Homem o centro de nossas
ações, para então poder se realizar as mudanças profundas e necessárias e honesta em
suas ações. Tais modificações, profundas e necessárias, devem ocorrer a partir da
mudança de postura profissional, quando rejeita-se a partir da nossa própria crítica,
modelos verbalistas, livrescos e ousa-se criar uma prática onde a atividade intelectual e
motora se entrelaçam dialeticamente, de forma que a realização como ser humano seja
resultante de sua criatividade, do trabalho produtivo e da práxis.
Feitosa 12 alerta que o conceito de praxis, de praxicidade, eclode num modelo de
sociedade que se importa cada vez mais com o desenvolvimento tecnológico, alterando
o como da ação...
É preciso compreender este conceito contextualizado no sentido da vida, na razão
de ser do ato humano pois “quem não age para transformar, está agindo para manter o
estabelecido”12
O trabalho humaniza, pois é o próprio meio de existir do Homem. Fortalece
vínculos e constrói uma formação sólida frente a sociedade em constante transformação.
Obriga o sujeito à aquisição dos conhecimentos que fundamentam sua ação com
coerência e reflexão, implicando responsabilidade e profissionalismo.
A possibilidade de liberar as potencialidades do ser humano é condição prévia para
que o profissional visualize um olhar diferenciado frente a vida e frente ao outro,
valorizando cada detalhe da ação do sujeito como ganhos consideráveis.
Rogers 13 informa em sua obra que a pessoa atualiza suas potencialidades na
medida que exercita sua criatividade, logo o processo educativo só pode ser único e
original, partindo do trabalho do educando.
Gutierrez 14 já anunciava a necessidade de uma “educação socialmente produtiva”
na medida em que se supõe uma intencionalidade e um modelo social de
desenvolvimento.

“O desenvolvimento não é apenas um fenômeno econômico, mas um


aspecto da contínua criação do Homem em todas as suas dimensões, desde o
crescimento econômico até a concepção do sentido, dos valores e das finalidades da
vida.”15
As pessoas portadoras de necessidades especiais possuem potencialidades que
requisitam ativação. Como qualquer pessoa são criativos e capazes de exercitar sua
capacidade, realizando e desenvolvendo-se como pessoas por meio de suas próprias
ações. As pessoas portadoras de necessidades especiais possuem potencialidades que
requisitam ativação. Como qualquer pessoa são criativos e capazes de exercitar sua
capacidade, realizando e desenvolvendo-se como pessoas por meio de suas próprias
ações. Célèstin Freinet, educador francês do início do século passado, ousou criar esta
prática. O trabalho produtivo foi gerador de uma atividade altamente apaixonante,
expressão criadora que encerrou as maiores possibilidades do Homem.
A educação para os anormais e deficientes, forma como era chamada na época, foi
questionada por Freinet. Muito tempo se ficou olhando para as deficiências e
anormalidades por influência da Medicina e Biologia e perdeu-se a essência pedagógica.
Foram criados métodos que ensinavam passo a passo o que fazer com estas pessoas.
Mas Freinet indagava “se não existiriam indivíduos que sobem as escadas de quatro em
quatro ou até com um impulso vão ao topo e para os quais é sumamente enervante e
debilitante marcar passo no mesmo lugar.
Bachelard, citado por Gloton e Clero em La Creatividad en el niño afirma que a
omnisciência dos pais, seguida imediatamente em todos os níveis de instrução pela
omnisciência dos professores, fundamenta um dogmatismo que é a negação da cultura.”
Tal ponto nos parece profundo porque a sociedade precisa manter separações, divisões
entre educação e educação especial, adestrar, “socializar”, “incluir” quem nunca foi
referendado para que a crítica, a reivindicação não provoque ameaças a estrutura
doentia que se tornou algumas instituições que lidam com a “deficiência”.
12 – Feitosa, 1996
13 – Rogers, 1975
14- Gutierrez, 1975
15- Garandy, 1975
A educação para os anormais e deficientes, forma como era chamada na época, foi
questionada por Freinet. Muito tempo se ficou olhando para as deficiências e
anormalidades por influência da Medicina e Biologia e perdeu-se a essência pedagógica.
Foram criados métodos que ensinavam passo a passo o que fazer com estas pessoas.
Mas Freinet indagava “se não existiriam indivíduos que sobem as escadas de quatro em
quatro ou até com um impulso vão ao topo e para os quais é sumamente enervante e
debilitante marcar passo no mesmo lugar.
Bachelard, citado por Gloton e Clero em La Creatividad en el niño afirma que a
omnisciência dos pais, seguida imediatamente em todos os níveis de instrução pela
omnisciência dos professores, fundamenta um dogmatismo que é a negação da cultura.”
Tal ponto nos parece profundo porque a sociedade precisa manter separações, divisões
entre educação e educação especial, adestrar, “socializar”, “incluir” quem nunca foi
referendado para que a crítica, a reivindicação não provoque ameaças a estrutura
doentia que se tornou algumas instituições que lidam com a “deficiência”.
Não é possível compactuar com a burocracia, discursos, disciplinas falsas, com a
morosidade, inércia profissional e a impossibilidade de criar presente nos trabalhos em
educação especial. Emerge mundialmente o paradigma da complexidade (Morin); o
paradigma sistêmico (Kuhn, Capra); a visão antropossociológica (Manuel Sérgio) e a
necessidade de propor uma atuação construída na ação dos seres humanos e baseada no
avanço científico que nos inunda mundialmente.
O valor do trabalho, integrando produção e organização com a educação foi
exaustivamente explorado na prática de Célèstin Freinet. Humanizar o trabalho,
socializar a produção, participação e inter-relação do grupo eram temperos constantes
na prática mais autêntica de formação humana já registrado. Sem formação
universitária, vivendo o conhecimento científico como um caminho natural do saber
fazer ousou ir além do inatismo que concebia o conhecimento pré-formado no
pensamento; o empirismo que marcava a preponderância do meio para o
conhecimento; compactuou com o interacionismo inaugurado por Piaget, onde sujeito
e realidade se interavam, derivando daí o conhecimento, mas foi além e na dialética
sujeito/ cultura/ outro fez sua prática. Tal uso deu-lhe visão vasta do fenômeno humano
e do fenômeno da vida!
“O professor-educador ignora as vantagens de tomar, cada dia, o banho
de mundo infantil que revela a pulsação da comunidade escolar, que o faz participar
dessas trocas espontâneas onde não se pára de dar e receber, porque são tecidas nos
próprios circuitos de uma vida sem fronteiras.”16
Da mudança de paradigma, a sensação e a prática rica e complexa do
ser humano, “a possibilidade de confiança renovada na natureza e em seu seio” Τ,
reencontrar os caminhos da vida, fora dos quais ninguém poderá construir de forma útil.
Para tal é preciso que antes de especialistas, tenhamos pessoas disponíveis a viver e
assumir a responsabilidade por suas escolhas e ações.

16 – Freinet, Τ L’education du travail.


Qualidade de Vida: Um olhar sistêmico sobre as necessidades do Homem.
Uma proposta de atuação

A visão sistêmica de vida deve ser a base apropriada para pensar qualidade de
vida. É urgente rever a adaptação do ser humano sob um prisma de interdependência e
complexidade para dar suporte ao movimento multidilacerante que está presente no
mundo. Há carência de informações nos seres humanos que permitam a cada um
construir um plano de vida que suporte além da sobrevivência, um estado de bem-estar
compatível às necessidades humanas. O crescimento tecnológico econômico e
institucional indiferenciado não comportou o desenvolvimento humano, na verdade o
Homem criou seu próprio fracasso. Pensou nas maiores estratégias tecnológicas mas
esqueceu de suas próprias necessidades. Do esquecimento à adoção de modelos
fragmentados, rígidos, e áridos a estrutura cartesiana é bem representada. Entretanto
para se falar de qualidade de vida é preciso falar de dinamismo, de contínua mudança,
de transcendência, de interdependência ecológica...É preciso olhar para si e num fluxo
dialético olhar o meio e os habitantes além dos próprios desejos. É preciso
intersubjetivar...
“Não podemos alterar nossa constituição genética, mas podemos
influenciar a expressão dessa genética’”.17
Para chegar a uma nova visão da realidade, é exigido um papel amadurecido, de co-
participante no sistema. Tal papel só pode ser introjetado quando a ligação com o
mundo vai além do externo e atinge a “consciência intuitiva de unidade da vida,
interdependência em suas múltiplas manifestações e seus ciclos de mudança e
transformação.”
Tais mudanças são sentidas mundialmente na área da Psicologia, nos programas em
prol do desenvolvimento humano; na área da medicina com o crescimento da
psicossomática e os programas preventivos. A busca de compreensão do indivíduo e do
sintoma partem para uma visão sistêmica, de família, de construção histórica. Inúmeras
pesquisas permeiam a busca do todo, da integração corpo-mente...
Na educação especial podemos encontrar instituições que descontentes com o
sistema vigente, exploram novas alternativas, ousam criar metodologias científicas onde
a totalidade da vida seja contemplada. Uma instituição que ousou foi o Centro de
Estudos da Criança já citado neste artigo. Denominado de comunidade científica por
Manuel Sérgio Vieira e Cunha, sua equipe trabalha livremente na utilização maior de
sua capacidade intelectual, em contato ativo com profissionais de vários saberes e
nacionalidades. Desta possibilidade foi possível criar o programa de qualidade de vida
onde os responsáveis por pessoas portadoras de necessidades especiais são estimulados
a ir além do papel remediativo, “esquecer” que são pai e mãe de “excepcional” para
reencontrar a sua unidade como seres humanos.
Daí as temáticas são experenciadas além do canal gnoseológico, vivendo o estético,
segundo o qual informações, imagens são apreendidos como construções subjetivas e
portanto únicas em cada contexto familiar. O objetivo não é o de acumular informações
ou de massificar pais com regras, normas e exercícios, mas devolver aos progenitores
sua autonomia de pensamento, seus sonhos, seu potencial criador, de forma que suas
vidas possam alternar movimentos, num dinamismo exigido atualmente.

17 – Capra, 1996
“Nada é fixo para aquele que alternadamente pensa e sonha”. 18
Com certeza, o caminho para a descoberta de novos horizontes, novas soluções
encerra um elemento irracional, intuitivo que não pode surgir em pessoas que
duramente foram dilaceradas por terem um filho que foge aos padrões esperados. Sob o
enquadre de protecionismo, de ajuda, muito do prazer, do dinamismo, da criatividade,
da união familiar foi mutilado.
O programa de qualidade de vida promove saúde, prazer, vida...Se subdivide em
três unidades: a primeira de retorno à consciência corporal, enquanto totalidade
psicofísica, percebendo o corpo não como instrumento mas como seu próprio SER.
Intervenções corporais, relaxamentos inventários de stress, inventários de vida, de
potencialidades são algumas técnicas utilizadas. A Segunda unidade, de percepção e
mudança nutricional: nutrição afetiva, de tempo, de espaço, sexual e alimentar através
de relaxamentos, dinâmicas grupais, atividades físicas e palestras informativas. A
terceira unidade, de reconstrução de papéis, funções e formas de viver baseia-se nos
princípios filosóficos escolhidos por cada estrutura familiar e um novo mapeamento do
estilo de viver.
O desenvolvimento do programa tem possibilitado o resgate do sujeito
historicamente posicionado, livre de pseudo-culpas, amadurecendo seu interior na busca
de objetivos, ideais para seu contexto familiar e portanto disponível a cooperar com o
social de forma autônoma, crítica e criativa.
É um processo transformador, às vezes contrário ao movimento social, mas
tampouco os que nele embarcam cedem seu tempo, espaço, às novas idéias e ao novo
bem-estar que permite lidar eficazmente com as diversas situações de vida.

18- Bachelard, 1972


Conclusão

Os primeiros resultados do programa de Desenvolvimento para pessoas


portadoras de necessidades especiais, no presente trabalho, para portadores de Síndrome
de Down anuncia um programa inédito de desenvolvimento que vem influenciando a
qualidade de vida do sujeito e sua família.

O uso de uma metodologia calcada filosoficamente no conceito de “Homem em


Movimento” e nas técnicas da Pedagogia Freinet tem permitido atingir níveis profundos
da personalidade do indivíduo – ao nível da memória do corpo, resgatando a
intencionalidade do ato, essência para a formação de um indivíduo autônomo, onde a
práxis é contemplada.

Mesmo aqueles sujeitos que são considerados treináveis nas instituições


especiais, tendo como meta o exercício das atividades de vida diária tem se beneficiado,
desbloqueando um potencial que vinha sendo escamoteado por anos de imobilidade e
aprisionamento de sua inteligência.

O mesmo ocorrendo com a família, onde esta pessoa é recolocada como


elemento constitutivo e pensante a partir de um olhar sistêmico, circulatório do
conhecimento, tem sido possível resgatar o canal criativo do sistema familiar na
resolução de seus conflitos e no planejamento de metas que resgatem a qualidade de
vida.
Referências Bibliográficas
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2- Marx, K. – Manuscritos filosóficos e econômicos. Rio de Janeiro, Ed. Zahar,1844
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Alegre, Artes Médicas, 1988.
4- La Pierre – Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora, São Paulo, ed. Manole,
1986

5-La Pierre e Aucouturier – A Simbologia do Movimento, Porto Alegre, Artes Médicas,


1988.
6-18 – Spitz, O primeiro ano de vida, São Paulo, Ed. Martins Fontes, 1981
7– Fonseca, V. – Contributo para o estudo da génese da Psicomotricidade, Lisboa, Ed.
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8– Sérgio, M. – Para uma epistemologia da Motricidade Humana, Lisboa,
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11-Cruickshank e Johnson – A Educação da criança e do jovem excepcional. Porto
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16- Bachelard, G. – La dialetique de la Dureé, PUF, Paris, 1972.
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