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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Ciência Política – Mestrado

Trabalho de Metodologia

Prof. Bruno Reis


1º semestre de 2009

1. Enuncie a pergunta a ser respondida (o seu problema). Se você não tiver ainda definido com precisão o problema de
que pretende se ocupar na dissertação, não se preocupe: é legítimo – e quase saudável, a esta altura. Mas invente
um, que será o seu problema nesta disciplina. Lembre-se: ele deve ser formulado como uma pergunta. (Duas dicas: I.
Ao montar sua pergunta, procure referir-se menos a fenômenos específicos que a tipos de fenômenos: deixe a
identificação do caso a ser estudado para a hora de detalhar o desenho da pesquisa. II. Tente desde já embutir na
pergunta – talvez apoiando-se na literatura existente sobre o seu assunto – pelo menos duas respostas plausíveis
que circulam na paisagem: “Há quem diga isso, mas há também os que afirmam aquilo.” Acredite: a atenção a essas
duas dicas vai te ajudar adiante...)

2. (Semântica.) Reflita descritivamente sobre as categorias conceituais explicitamente empregadas na pergunta.


Esboce as taxonomias que contêm as categorias operacionais cruciais da sua pergunta. Em seguida, delineie os
atributos que permitiriam classificar algum conjunto de fenômenos ou objetos no interior de cada categoria – ou
seja, defina as categorias relevantes no âmbito da sua pesquisa. Não se trata de definir os conceitos tal como
aparecem na pergunta, mas antes definir as categorias entre as quais os conceitos (concebidos como “variáveis”)
poderão variar. Lembre-se de que este é um exercício metodológico, e não teórico: importa menos o que diz a
literatura do que os “valores” que essas categorias podem vir a assumir dentro da sua pesquisa.

3. (Sintaxe.) Reflita analiticamente sobre as categorias lógicas empregadas na pergunta. Quais são os nexos que você
pretende postular (ou contestar) entre os conceitos envolvidos? Sua pergunta efetivamente os descreve com
precisão? (Lembre-se de que a escolha das palavras na formulação de um problema não é trivial, e tem implicações
sobre o desenho da pesquisa.)

4. Com base nas inevitáveis hesitações que terão permeado o esforço de responder as três primeiras questões,
explicite aqui uma ou duas formulações alternativas do seu problema que você terá chegado a imaginar. (Embora as
palavras importem, não basta mudar a redação de modo a deixar o problema intacto. Ao imaginar formulações
alternativas, você deve conceber, a rigor, outros problemas analíticos – embora sobre o mesmo tema.) Por que você
acabou por preferir a sua formulação? Especule: por que razões alguém poderia vir a preferir alguma das
alternativas?

5. Agora leia novamente a sua pergunta inicial, e procure identificar nela, tal como se encontra formulada, um
conjunto de proposições que a sua pergunta presume serem verdadeiras (ou seja, identifique algumas premissas de
que você parte, explícita ou implicitamente). Justifique a razoabilidade de suas premissas – e, acima de tudo,
certifique-se de que elas não estejam respondendo de antemão à sua pergunta (ou, dito de outro modo, que elas
não estejam comprometendo previamente o seu trabalho com a aceitação de uma hipótese específica como solução
do seu problema). Certifique-se, também, de que as suas premissas não sejam idiossincráticas demais, pessoais
demais. Afinal, lembre-se de que, em princípio, o público potencial do seu argumento é constituído justamente por
aqueles que compartilham com você suas premissas.

6. Isto pode soar trivial, mas não é: lembre-se de que a sua pergunta deve admitir em princípio mais de uma resposta.
Quais seriam as respostas logicamente plausíveis que você consegue imaginar para a sua pergunta? Dito de outro
modo, enumere algumas hipóteses concebíveis para a solução do seu problema. Feito isso, escolha a sua preferida:
seu melhor palpite para a resposta da pergunta, a solução do seu problema em que você preliminarmente acredita
(sua hipótese de trabalho). Dentre as demais respostas concebíveis, aponte agora aquela hipótese que você julga
contrariar mais crucialmente a sua própria: aquela que você quer contestar – a sua, digamos, “hipótese rival”.
Explicite as razões pelas quais você julga que essa outra hipótese é a “rival” crucial da sua hipótese de trabalho.

7. Identifique variável independente e variável dependente em sua hipótese de trabalho.


8. Agora, antes de prosseguir, detenha-se por um momento e pergunte-se, em termos puramente especulativos, não
empíricos: por que você acredita na sua hipótese de trabalho? Por que lhe parece razoável em princípio atribuir o
comportamento da sua variável dependente à variável independente que você escolheu? Quais seriam os
mecanismos (causais, em princípio) a que você atribuiria a vinculação aqui postulada entre essas duas variáveis?
Como eles vinculam as duas variáveis? Em suma, esboce em poucas linhas a teoria subjacente à sua hipótese de
trabalho – e, só para não perder o hábito, bem rapidamente, também aquela subjacente à hipótese rival.

9. Aponte alguns falseadores potenciais da sua hipótese, ou seja, eventos que, se acontecerem no mundo, te farão
acreditar que a sua hipótese está errada. Reflita: esses eventos te fariam acreditar na hipótese rival?

10. Faça agora o experimento mental oposto, e imagine falseadores potenciais da hipótese rival. Em que medida eles
constituiriam uma corroboração da sua hipótese de trabalho?

11.Comece agora (só agora!...) a esboçar o desenho de sua pesquisa. Imagine maneiras de você testar a sua hipótese
contra o “mundo real” (ou, melhor ainda, se possível, a testar uma hipótese contra a outra: a sua hipótese de
trabalho contra a hipótese rival). O que você buscaria observar no mundo para tentar estabelecer se a sua hipótese
de trabalho é verdadeira ou falsa?

12.Como você observaria essas coisas? Em outras palavras: imagine uma maneira de você operacionalizar
empiricamente as suas variáveis, ou seja, identificar no mundo diferentes formas de se manifestarem as variáveis,
diferentes valores que elas podem assumir (isto pode ser uma mensuração quantitativa ou não – mas lembre-se:
uma variável deve variar...).

13.Esboce o desenho da pesquisa usando “O”s (para diferentes observações da variável dependente) e “X”s (para
“tratamento”, ou seja, o momento de operação do nexo entre a variável independente e a dependente), à maneira
de Campbell. [Consultar material do curso para a exposição e discussão de variados desenhos de pesquisa – mas
nada impede que você invente outro.]

14. (Ameaças à validade.) Em que medida o seu desenho elimina explicações (hipóteses) alternativas à sua? Ou seja,
digamos que dê tudo certo, e a sua hipótese se veja corroborada pelos dados empíricos produzidos na observação
do seu caso: o que poderia, ainda assim, ter saído errado? Que outra hipótese (imaginada ou não nas questões
anteriores) seria ainda consistente com os mesmos dados?

15.Especifique um desenho alternativo (pode ser inventado ou extraído de Campbell) que também poderia ser usado
para se tentar responder à sua questão. E procure assegurar-se de que ele poderia eliminar a maldita hipótese que
sobreviveu ao desenho anterior. Lembre-se, porém, de que nenhum desenho elimina todas as conjecturas
alternativas...

16.Explique em quê o desenho afinal escolhido é melhor e pior que o desenho alternativo. O que é que cada um
controla e o outro não? Mais especificamente, avalie em que medida os variados tipos de ameaças à validação são
eliminados ou não pelo desenho escolhido (e pelo desenho alternativo).

17. Descreva em linhas gerais a pesquisa que você quer fazer – agora com palavras, para uma pessoa normal... Faça de
conta que você está escrevendo para um amigo seu que nunca tenha estudado metodologia científica. Faça-o
entender a maneira como a pesquisa aqui desenhada o ajuda a resolver o problema que você se propôs.

18.Lembre-se de que mecanismos teóricos e nexos causais não são diretamente observados, mas sim inferidos. Em
última análise, porém, o que de fato importa do ponto de vista da ciência não é tanto a sobrevivência ou não da sua
hipótese, mas sobretudo a teoria que resulta – ainda que de maneira um tanto indireta – do experimento. Situe o
seu problema no contexto mais amplo da literatura corrente, e responda: por que a sua pesquisa deveria ser feita?

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