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Introdução
A necessidade de mapear a nova ciência da mente e suas vertentes, para melhor entender as
opções sendo desenvolvidas hoje em dia na literatura filosófica e nas ciências cognitivas, é
importante para pensar a teoria e prática educativas. Por esse motivo, essa pesquisa propõe fazer um
mapeamento inicial das ciências cognitivas contemporâneas e como podem nos ajudar a
compreender a experiência educacional.
No pensamento ocidental, especificamente o moderno, o foco na análise do entendimento
tradicionalmente é voltado à cognição visto como algo separado do corpo, das emoções e do
ambiente. No entanto, recentemente houve uma apreciação maior do papel do corpo e das emoções
no entendimento e nas capacidades cognitivas. Além disso, teorias atuais enfatizam o acoplamento
do organismo com seu ambiente para explicar capacidades cognitivas. É nessa abordagem geral que
essa pesquisa se situa. A pergunta de partida da pesquisa é: quais novas teorias da cognição estão
sendo desenvolvidas nas ciências cognitivas e como elas podem impactar nossa compreensão da
experiência educacional? A pesquisa procura compreender o papel do cérebro, do corpo e do
ambiente como base da cognição – desfazendo a dicotomia corpo/mente e adotando uma concepção
corporificada da mente. A maioria das teorias que envolvem o estudo da cognição na infância levam
em consideração a linguagem e cultura, bem como, mais recentemente, o cérebro, na chamada
neuropedagogia. No entanto, embora esteja presente, é claro, a importância do corpo no processo de
entender o mundo é ainda pouco estudado na educação.
Essa pesquisa pretende focar na base corporal da cognição, com ênfase na educação da
criança pequena. Nas últimas décadas, várias teorias começaram a considerar a ação do corpo, no
seu acoplamento com o meio físico e cultural, como sendo central na explicação das capacidades
cognitivas do ser humano. Isso levou à abordagem conhecida como enativa (enactive), que, junto
com outras – tais como a teoria embutida, a teoria incorporada e a teoria estendida - fazem parte do
que está sendo chamada a Nova Ciência da Mente (Rowlands, 2010) [2]. Essa abordagem vem
sendo desenvolvida na segunda metade do século XX e no início do século atual, embora suas
raízes poderiam ser identificadas em pensadores nas tradições do pragmatismo americano (William
James e John Dewey) e da fenomenologia (Merleau-Ponty), no início do século XX. Essas
abordagens permitem aprofundar na compreensão do papel do biológico na cognição humana, mas
sem desconsiderar o meio no qual o sujeito está inserido, inclusive a linguagem.
Metodologia
Na pesquisa filosófica, que é teórica por natureza, a questão de método a ser adotado exige
um tratamento diferente daquele numa investigação empírica. Basicamente, o procedimento
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Objetivos
Discussões
Inicialmente o relatório explorará questões que envolvem o ponto em que as ciências
cognitivas se baseiam e para responder essa primeira elucidação remeto-me ao pequeno texto de
Pedro Henrique Passos Carné no texto [4]A RELAÇÃO ENTRE A FILOSOFIA DA MENTE E AS
CIÊNCIAS COGNITIVAS(2008) no qual ele explora sucinta e objetivamente a temática:
Outro ponto de destaque que serviu para uma melhor ambientação do projeto foi a
compreensão dos principais referenciais e conceitos. As revisões literárias que se limitaram a um
período que vai de Descartes à Andy Clark.
Como marco inicial das questões relativas a mente, convencionalmente a temática é
remetida a Descartes, todavia, considera-se a obra inaugural que marca a Filosofia da Mente o livro
[6]The Concept of Mind, de Gilbert Ryle (1949). Nesta obra, Ryle se dedica exaustivamente à
destruição do que ele intitula como “o dogma do fantasma na máquina”, termo que denota a
“doutrina oficial sobre o fenômeno mental” oriunda da tradição filosófica (mais especificamente de
Descartes), para fazer com que se desenvolva uma verdadeira teoria acerca do fenômeno mental.
Tendo como principal referência o livro Mindware.An introduction to the philosophy of
cognitive Science(2001) de Andy Clark o presente relatório se baseará nessa literatura específica
para apontar as questões suscitadas na decorrência da pesquisa. Os assuntos abordados limitar-se-ão
as modelos internalistas e externalistas no âmbito da filosofia da mente. Teorias internalistas
privilegiam aspectos internos ao indivíduo para explicar a mente, especialmente o cérebro, enquanto
teorias externalistas dão ênfase no que é externo ao indivíduo, tais como artefatos culturais,
ambiente físico, iniciando um apontamento para os conceitos abordados no paradigma mente
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corporificada (embodied mind), perpassando pelas principais teorias que de certo modo procuram
explicar a mente e a cognição a partir da união entre o cérebro, o corpo e o ambiente, por meio do
paradigma da embodied mind, que dá ênfase nas concepções enativa (enactive), corporificada
(embodied), embutida (embedded) e estendida (extended) da mente.
Modelos internalistas
Dualismo
Perspectiva que dimensiona o ser humano em 2 instâncias, uma física (o corpo) e outra não
física (mente), todavia a questão que é posta é: Como ocorre a relação entre esses entes haja vista
que nossos pensamentos, crenças, desejos (elementos imatérias), se relacionam com elementos
matérias como o ambiente em que estamos inseridos?
Para responder a indagação inerente ao modelo defendido, Clark apresenta as 3 maiores
vertentes do Dualismo, a saber: o Paralelismo, o Epifenomenalismo e o Interacionismo
3. Interacionismo – Tal ramo dualista pode ser considerado o mais famoso e tem como
representante o francês René Descartes. O modelo cartesiano concebe duas dimensões
distintas o corpo e a mente e preconiza as influências mútuas desses elementos. Para o
modelo de Descartes essa influência é mediada pela glândula pineal. Clark destaca nesse
ponto que a influência de aspectos físicos em características compreendidas de acordo como
esse ramo como um aspecto não-físicos, podem ser empiricamente demonstradas, como por
exemplo a influência de drogas como o ecstasy nas emoções, entretanto as implicações não-
físicas na dimensão física não podem ser empiricamente demonstradas.
Funcionalismo
mesma forma um estado mental pode ser entendido como podendo ser implementado em suportes
diferentes. No modelo computacionalista os estados mentais eram vistos apenas como manipulação
de informação e eram definidos nesse sentido.
Entretanto, de acordo com [7]Sara Bizarro no artigo Filosofia da Mente(2012):
Há muitas objecções ao funcionalismo computacionalista, mas a mais conhecida é a
do Quarto Chinês, proposta por Searle. John Searle propôs a experiência de
pensamento conhecida como o argumento do Quarto Chinês . A experiência consiste
numa situação na qual imaginamos um sujeito que apenas fala inglês fechado num
quarto com um manual sofisticado que relaciona certos caracteres chineses com
outros caracteres chineses. O indivíduo pratica a manipulação destes símbolos,
seguindo regras propostas num grande manual. Passado algum tempo ele é capaz de
responder a mensagens enviadas pelos seus guardas chineses com tal eficácia que
eles não conseguem descobrir se ele é ou não Chinês. A pergunta crucial nesta
situação é a seguinte: o indivíduo fechado naquele quarto sabe ou não falar Chinês?
A resposta óbvia parece ser: não. Ele apenas manipula símbolos encontrados num
manual e não tem qualquer ideia do que está a dizer, logo, compreender uma língua
não pode ser apenas uma simples manipulação de símbolos. O Quarto Chinês de
Searle foi tradicionalmente considerado como um argumento contra o funcionalismo
computacional, como não dizemos que o indivíduo fala Chinês existe uma diferença
essencial nos estados mentais de um indivíduo que apenas manipula símbolos e num
indivíduo que fala uma língua. O funcionalismo não é necessariamente
computacional.(2012)
Paradigma Simbólico
A abordagem simbólica pressupõe uma complexificação das informações pois, nesse
paradigma todos os níveis de cognição podem ser traduzidos em elementos mais complexos e assim
por diante.
O paradigma simbólico postula estados mentais representacionais que se dão num
nível simbólico e abstrato, bem como a existência de uma base de representação
formal e lógica fundamental que descreve todos os objetos primitivos, as relações e
as ações que compõem o mundo real [8](FODOR e PYLYSHYN, 1988). Assim, o
conhecimento pode ser representado por regras lógicas e símbolos, e o
comportamento inteligente advém da execução dessas regras e da manipulação
desses símbolos [9](TORSUN, 1995). Fodor e Pylyshyn (1988) acrescentam, ainda,
que a informação é representada por feixes de símbolos, que são produzidos em
seqüência, de acordo com as instruções de um programa computacional simbólico.
Dessa forma, todo o processamento das informações é feito em série. [10](MOTA,
ZIMMER,2005)
Paradigma Conexionista
O conexionismo, parti da premissa de que o processamento cognitivo está intimamente
ligado à maneira como os neurônios se interconectam no cérebro. Dessa forma, processos
cognitivos como a memória e a aprendizagem são estudados levando em conta sua base física e o
meio ambiente onde se situa o sistema em que eles ocorrem.
Modelos externalistas
A partir desse experimento uma indagação emana corroborando a ideia da teoria, qual é a
dificuldade de conceber a cognição como algo além dos limites do corpo haja vista que para o
desafio mental tanto Inga quanto Otto independente da memória orgânica ou não se utilizaram das
crenças para filtrar as informações, sendo assim da mesma forma que uma memória orgânica
constitui o processo cognitivo, memórias não-orgânicas também se enquadram nesse quesito. Clark
e Chalmers também criam alguns quesitos para que os modelos não-orgânicos
Que o recurso esteja disponível de forma confiável e normalmente chamado. (Otto
sempre carrega o caderno e não responde que ele "não sabe" até depois que ele tenha
consultado). 2. Que qualquer informação assim recuperada seja mais ou menos
automaticamente endossada. Normalmente não deve estar sujeito a escrutínio crítico
(ao contrário das opiniões de outras pessoas, por exemplo). Considerou-se tão
confiável quanto algo recuperado claramente da memória biológica. Quando
solicitado. ponto no passado, e de fato existe como conseqüência deste endosso. 3.
Que a informação contida no recurso deve ser facilmente acessível como e 4. Que a
informação no caderno foi conscientemente endossada em algum ponto no passado e
de fato existe como conseqüência deste endosso.(Clark, Chalmers, 1998)
ocorre de forma dependente, e não constitutiva, dizer que um processo cognitivo é impulsionado
pelo ambiente não implica que o processo seja constituído ambientalmente ([21]Adams, Aizawa
2001, 2010; [22]Rupert 2004).
As you move with respect to the cube, you learn how its aspect changes as you
move — that is, you encounter its visual potential. To encounter its visual potential
is thus to encounter its actual shape. When you experience an object as cubical
merely on the basis of its aspect, you do so because you bring to bear, in this
experience, your sensorimotor knowledge of the relation between changes in cube
aspects and movement. To experience the fi gure as a cube, on the basis of how it
looks, is to understand how its look changes as you move. (Noë2004, 77)
Conclusões
De forma geral o estudo teórico permitiu um mapeamento que pode ser explorado
teoricamente a partir de duas dimensões quando exploramos as nuances da filosofia da mente.
Abordagens internalistas e abordagens externalistas. Teorias internalistas privilegiam aspectos
internos ao indivíduo para explicar a mente, especialmente o cérebro, enquanto teorias externalistas
dão ênfase no que é externo ao indivíduo, tais como artefatos culturais, ambiente físico etc.
No livro Mindware: an introduction to the philosophy of cognitive science Andy Clark [1]
propõe a compreensão a partir do retrospecto das teorias mais notórias e inicia um apontamento
para os conceitos abordados no paradigma mente corporificada (embodied mind), perpassando pelas
principais teorias que de certo modo procuram explicar a mente e a cognição a partir da união entre
o cérebro, o corpo e o ambiente, por meio do paradigma da embodied mind, que dá ênfase nas
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Referências
[2]Rowlands, M. The New Science of the Mind. From Extended Mind to Embodied
Phenomenology. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2010.
[3]Severino, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. 21ª. Edição. Sâo Paulo: Cortez, 2000.
[4]CARNÉ, Pedro Henrique Passos. A relação entre a filosofia da mente e as ciências cognitivas.
(2008)
[5] THAGARD, Paul. Mente. Introdução à Ciência Cognitiva. Trad. Maria Rita Hofmeister. Porto
Alegre, Editora Artes Médicas, 1998.
[6] RYLE, G.: The Concept of Mind. New York: Barnes & Noble, 1949.
[10] MOTA; ZIMMER, Mailce ;Márcia Cristina . Cognição e aprendizagem de L2: o que nos diz
a pesquisa nos paradigmas simbólico e conexionista in: Rev. Brasileira de Lingüística Aplicada,
v. 5, n. 2, 2005
[13] NEWELL, A.; ROSENBLOOM, P. S.; LAIRD, J. E. Symbolic architectures for cognition. In:
POSNER, M. (Ed.). Foundations of cognitive science. Cambridge, MA: MIT, 1998. p. 436-459.
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[18] Shapiro , L. 2004 . The Mind Incarnate. Cambridge, Mass. : MIT Press .
[21] Adams , F. , and K. Aizawa . 2001 . The bounds of cognition . Philosophical Psychology 14 :
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[22] Rupert , R. 2004 . Challenges to the hypothesis of extended cognition . Journal of Philosophy
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[23] Gibson , J. 1979 . The Ecological Approach to Visual Perception. Boston : Houghton-Miffl in .
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