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Departamento de Educação

O paradigma da mente corporificada na explicação da cognição humana.

Aluno: Guilherme da Silva Candido


Orientador: Ralph Ings Bannell

Introdução
A necessidade de mapear a nova ciência da mente e suas vertentes, para melhor entender as
opções sendo desenvolvidas hoje em dia na literatura filosófica e nas ciências cognitivas, é
importante para pensar a teoria e prática educativas. Por esse motivo, essa pesquisa propõe fazer um
mapeamento inicial das ciências cognitivas contemporâneas e como podem nos ajudar a
compreender a experiência educacional.
No pensamento ocidental, especificamente o moderno, o foco na análise do entendimento
tradicionalmente é voltado à cognição visto como algo separado do corpo, das emoções e do
ambiente. No entanto, recentemente houve uma apreciação maior do papel do corpo e das emoções
no entendimento e nas capacidades cognitivas. Além disso, teorias atuais enfatizam o acoplamento
do organismo com seu ambiente para explicar capacidades cognitivas. É nessa abordagem geral que
essa pesquisa se situa. A pergunta de partida da pesquisa é: quais novas teorias da cognição estão
sendo desenvolvidas nas ciências cognitivas e como elas podem impactar nossa compreensão da
experiência educacional? A pesquisa procura compreender o papel do cérebro, do corpo e do
ambiente como base da cognição – desfazendo a dicotomia corpo/mente e adotando uma concepção
corporificada da mente. A maioria das teorias que envolvem o estudo da cognição na infância levam
em consideração a linguagem e cultura, bem como, mais recentemente, o cérebro, na chamada
neuropedagogia. No entanto, embora esteja presente, é claro, a importância do corpo no processo de
entender o mundo é ainda pouco estudado na educação.
Essa pesquisa pretende focar na base corporal da cognição, com ênfase na educação da
criança pequena. Nas últimas décadas, várias teorias começaram a considerar a ação do corpo, no
seu acoplamento com o meio físico e cultural, como sendo central na explicação das capacidades
cognitivas do ser humano. Isso levou à abordagem conhecida como enativa (enactive), que, junto
com outras – tais como a teoria embutida, a teoria incorporada e a teoria estendida - fazem parte do
que está sendo chamada a Nova Ciência da Mente (Rowlands, 2010) [2]. Essa abordagem vem
sendo desenvolvida na segunda metade do século XX e no início do século atual, embora suas
raízes poderiam ser identificadas em pensadores nas tradições do pragmatismo americano (William
James e John Dewey) e da fenomenologia (Merleau-Ponty), no início do século XX. Essas
abordagens permitem aprofundar na compreensão do papel do biológico na cognição humana, mas
sem desconsiderar o meio no qual o sujeito está inserido, inclusive a linguagem.

Metodologia
Na pesquisa filosófica, que é teórica por natureza, a questão de método a ser adotado exige
um tratamento diferente daquele numa investigação empírica. Basicamente, o procedimento
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adotado é o de análise e interpretação de textos filosóficos e científicos, visando a reconstrução


racional e crítica dos argumentos dos autores. Esse processo exige a análise dos textos, identificação
de conceitos e argumentos e, portanto, uma interpretação e problematização dos argumentos dos
autores em pauta. A interpretação, nesse contexto, é feita através de levantamento de problemas,
inconsistências, incoerência e evidência empírica contrária, além de outros elementos, para, com
base na reflexão pessoal, reelaborar os argumentos num outro texto, que tem como característica
central uma discussão crítica das perspectivas, conceitos, posições e argumentos adotados pelos
interlocutores escolhidos (Severino, 2000) [3]. Esse método de trabalho oferece a possibilidade de
desenvolver novos conceitos, análises e teses, a partir da apropriação crítica do trabalho de outros.

Objetivos

O objetivo principal do projeto é uma exploração das concepções da cognição desenvolvidas


na filosofia e nas ciências cognitivas nas últimas décadas que dão prioridade às abordagens enativa,
embutida, incorporada e estendida da mente, bem como suas implicações para a educação. Para
atingir esse objetivo, optamos por investigar a concepção da cognição desenvolvida por Andy
Clark, filósofo e cientista cognitivo inglês, bem como outras teorias da cognição e compará-las,
para melhor entender o terreno conceitual e teórico em torna da questão da mente e cognição
humana. Depois, vamos refletir sobre as implicações dessas concepções de cognição para a
pedagogia.

Discussões
Inicialmente o relatório explorará questões que envolvem o ponto em que as ciências
cognitivas se baseiam e para responder essa primeira elucidação remeto-me ao pequeno texto de
Pedro Henrique Passos Carné no texto [4]A RELAÇÃO ENTRE A FILOSOFIA DA MENTE E AS
CIÊNCIAS COGNITIVAS(2008) no qual ele explora sucinta e objetivamente a temática:

“A ciência cognitiva é o estudo interdisciplinar da mente e da inteligência,


englobando filosofia, psicologia, inteligência artificial, neurociência, lingüística e
antropologia” (p. IX) . Esta afirmação de [5]Paul Thagard, acerca do caráter plural
das ciências cognitivas, inaugura o prefácio de seu livro introdutório ao estudo das
mesmas, bem como orienta a edição da MIT Encyclopedia of Cognitive Sciences,
em nada introdutória, efetuada por Robert Wilson e Frank Keil. A pergunta que
orientaria determinada pluralidade, constituindo-se como a interseção de todos estes
conjuntos disciplinares, se dirigiria, por sua vez, à funcionalidade da mente humana.
Afinal, tal como expressa o professor da University of Waterloo, “o principal
objetivo da ciência cognitiva é explicar como as pessoas chegam a seus diferentes
tipos de pensamento. Não apenas descrever os diferentes tipos de resolução e
aprendizado de problemas, mas também explicar como a mente realiza estas
operações” (p. 15). (CARNÉ, 2008)
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E sua relação com a filosofia:

A filosofia é que reflete e sistematiza a ou as atitudes de base que constituem o único


laço social no interior da área”. Isto significa que a existência de uma
hipótese central nas ciências cognitivas seria uma atribuição filosófica à mesma, fato
que transformaria o agrupamento de disciplinas em um projeto epistemológico
profundamente determinado e orientado. Enquanto os mais diversos cientistas se
encontrariam imersos em debates profundamente controversos acerca das melhores
descrições (melhores modelos) para as mais diversas operações mentais, o filósofo
se constituiria como “o árbitro que disciplina, regula e finalmente julga estes
confrontos”(Ibidem)

Outro ponto de destaque que serviu para uma melhor ambientação do projeto foi a
compreensão dos principais referenciais e conceitos. As revisões literárias que se limitaram a um
período que vai de Descartes à Andy Clark.
Como marco inicial das questões relativas a mente, convencionalmente a temática é
remetida a Descartes, todavia, considera-se a obra inaugural que marca a Filosofia da Mente o livro
[6]The Concept of Mind, de Gilbert Ryle (1949). Nesta obra, Ryle se dedica exaustivamente à
destruição do que ele intitula como “o dogma do fantasma na máquina”, termo que denota a
“doutrina oficial sobre o fenômeno mental” oriunda da tradição filosófica (mais especificamente de
Descartes), para fazer com que se desenvolva uma verdadeira teoria acerca do fenômeno mental.
Tendo como principal referência o livro Mindware.An introduction to the philosophy of
cognitive Science(2001) de Andy Clark o presente relatório se baseará nessa literatura específica
para apontar as questões suscitadas na decorrência da pesquisa. Os assuntos abordados limitar-se-ão
as modelos internalistas e externalistas no âmbito da filosofia da mente. Teorias internalistas
privilegiam aspectos internos ao indivíduo para explicar a mente, especialmente o cérebro, enquanto
teorias externalistas dão ênfase no que é externo ao indivíduo, tais como artefatos culturais,
ambiente físico, iniciando um apontamento para os conceitos abordados no paradigma mente
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corporificada (embodied mind), perpassando pelas principais teorias que de certo modo procuram
explicar a mente e a cognição a partir da união entre o cérebro, o corpo e o ambiente, por meio do
paradigma da embodied mind, que dá ênfase nas concepções enativa (enactive), corporificada
(embodied), embutida (embedded) e estendida (extended) da mente.

Modelos internalistas

Dualismo

Perspectiva que dimensiona o ser humano em 2 instâncias, uma física (o corpo) e outra não
física (mente), todavia a questão que é posta é: Como ocorre a relação entre esses entes haja vista
que nossos pensamentos, crenças, desejos (elementos imatérias), se relacionam com elementos
matérias como o ambiente em que estamos inseridos?
Para responder a indagação inerente ao modelo defendido, Clark apresenta as 3 maiores
vertentes do Dualismo, a saber: o Paralelismo, o Epifenomenalismo e o Interacionismo

1. Paralelismo – Para essa vertente, os processos mentais e os processos corporais ocorrem em


paralelo, isto é, não se influenciam. A premissa básica é que esses processos foram criados
em plena harmonia, por Deus ou por qualquer outra força reguladora

2. Epifenomenalismo – No quesito processos mentais e físicos os epifenomenalistas mantém


de certo modo esses dois aspectos isolados, porém, para essa vertente os processos físicos
influenciam os mentais, mas os mentais não exercem nenhuma influência sobre a dimensão
física. A resposta que esse ramo do dualismo apresenta para as questões que envolvem as
sensações que sentimos de controle dos nossos movimentos é que essa sensação é uma
ilusão.

3. Interacionismo – Tal ramo dualista pode ser considerado o mais famoso e tem como
representante o francês René Descartes. O modelo cartesiano concebe duas dimensões
distintas o corpo e a mente e preconiza as influências mútuas desses elementos. Para o
modelo de Descartes essa influência é mediada pela glândula pineal. Clark destaca nesse
ponto que a influência de aspectos físicos em características compreendidas de acordo como
esse ramo como um aspecto não-físicos, podem ser empiricamente demonstradas, como por
exemplo a influência de drogas como o ecstasy nas emoções, entretanto as implicações não-
físicas na dimensão física não podem ser empiricamente demonstradas.

Funcionalismo

O funcionalismo é a ideia de que os estados mentais são conceitualmente redutíveis a


estados funcionais. O funcionalismo teve na sua origem na ideia de estados computacionais que
consistem em determinados inputs que são manipulados de formas específicas e produzem outputs
específicos. Se considerarmos que os estados mentais podem ser assim definidos, então pode
compreender-se que um estado mental, embora tenha necessariamente um qualquer suporte físico, é
independente do tipo de suporte onde é implementado. A ideia era de que tal como o mesmo
programa ou software pode ser implementado em sistemas operativos ou hardware diferente, da
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mesma forma um estado mental pode ser entendido como podendo ser implementado em suportes
diferentes. No modelo computacionalista os estados mentais eram vistos apenas como manipulação
de informação e eram definidos nesse sentido.
Entretanto, de acordo com [7]Sara Bizarro no artigo Filosofia da Mente(2012):
Há muitas objecções ao funcionalismo computacionalista, mas a mais conhecida é a
do Quarto Chinês, proposta por Searle. John Searle propôs a experiência de
pensamento conhecida como o argumento do Quarto Chinês . A experiência consiste
numa situação na qual imaginamos um sujeito que apenas fala inglês fechado num
quarto com um manual sofisticado que relaciona certos caracteres chineses com
outros caracteres chineses. O indivíduo pratica a manipulação destes símbolos,
seguindo regras propostas num grande manual. Passado algum tempo ele é capaz de
responder a mensagens enviadas pelos seus guardas chineses com tal eficácia que
eles não conseguem descobrir se ele é ou não Chinês. A pergunta crucial nesta
situação é a seguinte: o indivíduo fechado naquele quarto sabe ou não falar Chinês?
A resposta óbvia parece ser: não. Ele apenas manipula símbolos encontrados num
manual e não tem qualquer ideia do que está a dizer, logo, compreender uma língua
não pode ser apenas uma simples manipulação de símbolos. O Quarto Chinês de
Searle foi tradicionalmente considerado como um argumento contra o funcionalismo
computacional, como não dizemos que o indivíduo fala Chinês existe uma diferença
essencial nos estados mentais de um indivíduo que apenas manipula símbolos e num
indivíduo que fala uma língua. O funcionalismo não é necessariamente
computacional.(2012)

Paradigma Simbólico
A abordagem simbólica pressupõe uma complexificação das informações pois, nesse
paradigma todos os níveis de cognição podem ser traduzidos em elementos mais complexos e assim
por diante.
O paradigma simbólico postula estados mentais representacionais que se dão num
nível simbólico e abstrato, bem como a existência de uma base de representação
formal e lógica fundamental que descreve todos os objetos primitivos, as relações e
as ações que compõem o mundo real [8](FODOR e PYLYSHYN, 1988). Assim, o
conhecimento pode ser representado por regras lógicas e símbolos, e o
comportamento inteligente advém da execução dessas regras e da manipulação
desses símbolos [9](TORSUN, 1995). Fodor e Pylyshyn (1988) acrescentam, ainda,
que a informação é representada por feixes de símbolos, que são produzidos em
seqüência, de acordo com as instruções de um programa computacional simbólico.
Dessa forma, todo o processamento das informações é feito em série. [10](MOTA,
ZIMMER,2005)

A Inteligência Artificial (IA) surgiu no bojo desse paradigma cognitivo na década de


50, com o desenvolvimento da ciência da computação [11](HAYKIN, 1994, p. 3-5;
TORSUN, 1995). Teóricos da IA postulavam que qualquer pensamento inteligente
pode ter sua raiz nas computações de sistemas simbólico-físicos [12](CLARK, 19
89).No modelo simbólico, o processamento de informação consiste essencialmente
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na transformação de símbolos de acordo com regras, que, na Inteligência Artificial,


estariam estabelecidas num programa computacional [13](NEWELL,
ROSENBLOOM e LAIRD, 1998, p. 96). Nesse paradigma, há uma grande
preocupação com a descrição do processo de representação, visto como uma
manipulação de símbolos feita no nível semântico. Assim, a ênfase é dada aos
processos mentais – softwares– sem preocupação alguma com a relação desses com
a estrutura onde ocorrem: o cérebro – ou hardware. Esse paradigma está em
consonância com a posição racionalista, ou platônico-cartesiana, segundo a qual a
realidade mental é distinta da realidade física [14](DAMASIO, 2000). Essa visão
dualista estabelece sua opção pela mente e pelo tratamento formal do símbolo,
deixando o cérebro de lado. Ao privilegiar a mente, centrando seus estudos sobre a
cognição em representações mentais abstratas, o paradigma simbólico prioriza a
construção de modelos de estruturas cognitivas de armazenamento e organização de
conhecimento semelhantes a arquivos de um computador, como os esquemas e os
frames [15](MINSKY, 1981). A principal teoria do paradigma simbólico é a do
processamento da informação, que compreende a cognição como a operação
coordenada de vários processos mentais que se realizam em um sistema de memória
multicomponencial [16](ASHCRAFT,1994). (ibidem)

Modelos como o de Chomsky(apreensão da linguagem) e o de David Marr(visão) podem


ser enquadrados nessa perspectiva, pois pressupõem que a quantidade de informações disponíveis
no ambiente não são suficientes para explicar esses fenômenos, sendo assim a necessidade de
complexificação de informação para que a visão e a linguagem se traduzam como eles percebem.

Paradigma Conexionista
O conexionismo, parti da premissa de que o processamento cognitivo está intimamente
ligado à maneira como os neurônios se interconectam no cérebro. Dessa forma, processos
cognitivos como a memória e a aprendizagem são estudados levando em conta sua base física e o
meio ambiente onde se situa o sistema em que eles ocorrem.

De acordo com [17]Shanks (1993), a idéia central do conexionismo está no


processamento de informação do cérebro, que se dá através de redes neuroniais –
cujas células nervosas, os neurônios, comunicam-se umas com as outras através da
transmissão de impulsos elétricos. Um princípio básico do conexionismo é que a
maioria das redes neuroniais do cérebro, senão todas, passa por mudanças sutis que
ocorrem nas sinapses entre os neurônios. (Mota, Zimmer, 2005)
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Nessa etapa apresentarei as teorias Externalistas e uma necessária explicação de que as


elucidações apresentadas aqui demonstram a tese mais forte(most radical interpretation), isto é, a
compreensão que de fato rompe com a primazia do cérebro sobre o corpo e o ambiente.

Modelos externalistas

Mente Corporificada - The Mind Embodied


Mark Rowlands no livro The New Science of the Mind : From Extended Mind to Embodied
Phenomenology(2010) limita a concepção de mente para assim apresentar uma definição com um
viés materialista:
There is a persistent tendency in most of us to think of the mind as something that
lies behind and holds together our various mental states and processes; to think of it
as something to which all those states and processes belong. If we think of the mind
in this way, then cognitive science — in both Cartesian and non-Cartesian forms —
is not a science of the mind but of mental processes. Of course, if we think of the
mind as nothing more than a network of mental states and processes, things are
different. On this, what is often known as the Humean view of the mind — for
Hume might have held a view similar to it — cognitive science would indeed be a
science of the mind. 1 However, in the absence of any consensus on whether or not
the mind is in this sense Humean, I shall continue to regard the new science of the
mind as, fundamentally, a science of mental states and processes. Therefore, what I
am going to call the thesis of the embodied mind is more accurately rendered the
thesis of embodied mental processes. This is a bit of a mouthful, so I shall continue
talking of the thesis of the embodied mind; but it should be understood that it is a
thesis concerning mental processes and not the mind as this is perhaps commonly
understood. (Rowlands,2010)
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Essa concepção de mente como processos mentais é fundamental para a abordagem


defendida de que os processos mentais não ocorrem apenas no cérebro, mas a estão encorporados,
de acordo com essa perspectiva o corpo com o cérebro constituem os processos cognitivos.
[18]Shapiro(2004) e [19]Damasio(1994), tem defendido a tese de que, pelo menos, alguns
processos mentais ocorrem de combinação cérebro e corpo, de forma constitutiva. Shapiro(2004)
salienta:
psychological processes are incomplete without the body ’ s contributions. Vision for
human beings is a process that includes features of the human body. . . . Perceptual
processes include and depend on bodily structures. This means that a description of
various perceptual capacities cannot maintain body-neutrality and it also means that
an organism with a non-human body will have non-human visual and auditory
psychologies. (SHAPIRO,2004 p.190)

Reforçando ainda mais a concepção da mente incorporada(embodied), pode se pensar em


alguns apontamentos que Shapiro(2004) fez, de que a ‘’visão humana requer um corpo
humano’’(tradução pessoal), sendo assim o corpo não é só dependente para que o ser humano veja
ou ouça, entretanto, ele compõe com o cérebro como o ser humano vê e ouve.

Mente Estendida - Extended Mind


Abordagem que preconiza a relação da cognição além dos limites do corpo[20](Clark,
Chalmers,1998) sendo assim abrindo margem para a cognição na combinação com elementos
externos ao organismo humano, como, por exemplo, um diário ou até mesmo com tecnologias
digitais como celulares, computadores e afins.
Clark apresenta um quadro no qual apresenta um elemento fundamental para a cognição,
elemento esse que com a memória permitem a realização de uma das etapas do processo cognitivo
The Standing Beliefs (Box 9.1).
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A partir dessas crenças o argumento central da abordagem da mente estendida será


desenvolvida e para isso Clark propõe o experimento mental de Otto e Inga a saber:
The fictional characters Otto and Inga are both travelling to a museum
simultaneously. Otto has Alzheimer's disease, and has written all of his directions
down in a notebook to serve the function of his memory. Inga is able to recall the
internal directions within her memory. In a traditional sense, Inga can be thought to
have had a belief as to the location of the museum before consulting her memory. In
the same manner, Otto can be said to have held a belief of the location of the
museum before consulting his notebook. The argument is that the only difference
existing in these two cases is that Inga's memory is being internally processed by the
brain, while Otto's memory is being served by the notebook. In other words, Otto's
mind has been extended to include the notebook as the source of his memory. The
notebook qualifies as such because it is constantly and immediately accessible to
Otto, and it is automatically endorsed by him. (Clark,Chalmers,1998)

A partir desse experimento uma indagação emana corroborando a ideia da teoria, qual é a
dificuldade de conceber a cognição como algo além dos limites do corpo haja vista que para o
desafio mental tanto Inga quanto Otto independente da memória orgânica ou não se utilizaram das
crenças para filtrar as informações, sendo assim da mesma forma que uma memória orgânica
constitui o processo cognitivo, memórias não-orgânicas também se enquadram nesse quesito. Clark
e Chalmers também criam alguns quesitos para que os modelos não-orgânicos
Que o recurso esteja disponível de forma confiável e normalmente chamado. (Otto
sempre carrega o caderno e não responde que ele "não sabe" até depois que ele tenha
consultado). 2. Que qualquer informação assim recuperada seja mais ou menos
automaticamente endossada. Normalmente não deve estar sujeito a escrutínio crítico
(ao contrário das opiniões de outras pessoas, por exemplo). Considerou-se tão
confiável quanto algo recuperado claramente da memória biológica. Quando
solicitado. ponto no passado, e de fato existe como conseqüência deste endosso. 3.
Que a informação contida no recurso deve ser facilmente acessível como e 4. Que a
informação no caderno foi conscientemente endossada em algum ponto no passado e
de fato existe como conseqüência deste endosso.(Clark, Chalmers, 1998)

Cognição Embutida - Embedded Cognition


O modelo da mente imbutida dentre as principais abordagens que procuram explicar é o que
possuí uma tese que não rompe claramente com uma abordagem cartesiana(internalista), podendo
ser compreendida com até certo ponto similar ao modelo da mente estendida. De acordo com esta
tese alguns processos cognitivos dependem do ambiente, pois só funcionam em conjunto. A grande
diferença entre essa abordagem e as demais é que nesse modelo a cognição, envolve o ambiente
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ocorre de forma dependente, e não constitutiva, dizer que um processo cognitivo é impulsionado
pelo ambiente não implica que o processo seja constituído ambientalmente ([21]Adams, Aizawa
2001, 2010; [22]Rupert 2004).

Abordagem Enativa - Enactive approach


Clark limita claramente sua compreensão sobre a abordagem enativa as eluicidações de Alva
Nöe modelo que compreende a cognição como o resultado da relação da ação corpo com o
ambiente, modelo bastante inspirado na abordagem ecológica de James Gibson [23](Ecological
Approach to Visual Perception, 1979). Nessa abordagem a cognição se envolve o movimento
corporal, o espaço(as superfícies) e o conhecimento sensório-motor [24](Noë, 2004).

As you move with respect to the cube, you learn how its aspect changes as you
move — that is, you encounter its visual potential. To encounter its visual potential
is thus to encounter its actual shape. When you experience an object as cubical
merely on the basis of its aspect, you do so because you bring to bear, in this
experience, your sensorimotor knowledge of the relation between changes in cube
aspects and movement. To experience the fi gure as a cube, on the basis of how it
looks, is to understand how its look changes as you move. (Noë2004, 77)

Para essa abordagem a percepção é ressignificada, a concepção tradicional de que apenas


processamos estímulos externos(quer ser já pela visão ou pelo tato), não se aplica a esse modelo,
pois a cognição aqui é compreendida pela constituição da ação corporal(movimento) com o
ambiente. Mais uma vez tendo como um referencial teórico o conceito de Affordances (Gibson,
1979), que em linhas gerais pode ser compreendido como as possibilidades que um organismo
possuí e suas formas de percepção são limitas ou potencializadas, pela sua forma, mobilidade,
elasticidade entre outras características corporais.

Conclusões
De forma geral o estudo teórico permitiu um mapeamento que pode ser explorado
teoricamente a partir de duas dimensões quando exploramos as nuances da filosofia da mente.
Abordagens internalistas e abordagens externalistas. Teorias internalistas privilegiam aspectos
internos ao indivíduo para explicar a mente, especialmente o cérebro, enquanto teorias externalistas
dão ênfase no que é externo ao indivíduo, tais como artefatos culturais, ambiente físico etc.
No livro Mindware: an introduction to the philosophy of cognitive science Andy Clark [1]
propõe a compreensão a partir do retrospecto das teorias mais notórias e inicia um apontamento
para os conceitos abordados no paradigma mente corporificada (embodied mind), perpassando pelas
principais teorias que de certo modo procuram explicar a mente e a cognição a partir da união entre
o cérebro, o corpo e o ambiente, por meio do paradigma da embodied mind, que dá ênfase nas
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concepções enativa (enactive), corporificada (embodied), embutida (embedded) e estendida


(extended) da mente.
O projeto se manteve apenas no âmbito do mapeamento teórico, motivando assim o
surgimento de uma nova proposta, a saber, compreender melhor a abordagem enativa, para assim
correlaciona-la com as implicações educacionais. No momento estou examinando percepção partir
dessa perspectiva e no futuro pretendo ampliar a investigação para incluir questões sobre
representações. As implicações dessa investigação para a educação da criança pequena, também
serão incluídos na próxima etapa da pesquisa

Referências

[1]Clark, A. Mindware.An introduction to the philosophy of cognitive Science. 2na. Edition.


Oxford: Oxford University Press, 2014.

[2]Rowlands, M. The New Science of the Mind. From Extended Mind to Embodied
Phenomenology. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2010.
[3]Severino, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. 21ª. Edição. Sâo Paulo: Cortez, 2000.
[4]CARNÉ, Pedro Henrique Passos. A relação entre a filosofia da mente e as ciências cognitivas.
(2008)

[5] THAGARD, Paul. Mente. Introdução à Ciência Cognitiva. Trad. Maria Rita Hofmeister. Porto
Alegre, Editora Artes Médicas, 1998.

[6] RYLE, G.: The Concept of Mind. New York: Barnes & Noble, 1949.

[7] BIZARRO, Sara. Filosofia da Mente, 2012

[8]FODOR, J.; PYLYSHYN, Z. Connectionism and cognitive architecture: a critical analysis.


Cognition, v. 28, p. 3-71, 1988.

[9] TORSUN, I. S. Foundations of intelligent knowledge-based systems. London: Academic


Press, 1995. 402p.

[10] MOTA; ZIMMER, Mailce ;Márcia Cristina . Cognição e aprendizagem de L2: o que nos diz
a pesquisa nos paradigmas simbólico e conexionista in: Rev. Brasileira de Lingüística Aplicada,
v. 5, n. 2, 2005

[11]HAYKIN, S. Neural networks. Ontario: Macmillan College, 1994.

[12]CLARK, A. Microcognition: philosophy, cognitive science and parallel distributed processing.


Oxford: Blackwell, 1989.

[13] NEWELL, A.; ROSENBLOOM, P. S.; LAIRD, J. E. Symbolic architectures for cognition. In:
POSNER, M. (Ed.). Foundations of cognitive science. Cambridge, MA: MIT, 1998. p. 436-459.
Departamento de Educação

[14]DAMASIO, A. The feeling of what happens: body and emotion in the making of consciousness.
New York: Harcourt, 2000.

[15] MINSKY, M. A framework for representing knowledge. In: HAUGELAND, J. (Ed.). Mind
Design. Cambridge, MA.: MIT., 1981.p. 332-356.

[16] ASHCRAFT, M. H. Human memory and cognition. New York: Harper Collins, 1994.

[17] SHANKS, D. Breaking Chomsky’s rules. New Scientist, v. 137, p. 26-30, 1993.

[18] Shapiro , L. 2004 . The Mind Incarnate. Cambridge, Mass. : MIT Press .

[19] Damasio , A. 1994 . Descartes ’Error. New York : Grosset Putnam

[20]Clark , A. , and D. Chalmers . 1998 . The extended mind . Analysis 58 : 7 – 19 . Reprinted in


Menary 2010.

[21] Adams , F. , and K. Aizawa . 2001 . The bounds of cognition . Philosophical Psychology 14 :
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[22] Rupert , R. 2004 . Challenges to the hypothesis of extended cognition . Journal of Philosophy
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[23] Gibson , J. 1979 . The Ecological Approach to Visual Perception. Boston : Houghton-Miffl in .
[24] No ë , A. 2004 . Action in Perception. Cambridge, Mass. : MIT Press

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