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Introdução à Cognição Incorporada

Book · November 2021


DOI: 10.24824/978652511973.1

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Marcello Gazzola
Universidade Católica de Petrópolis
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Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização
Marcello A. Schall Gazzola
(Autor)

Helmuth Krüger
(Colaborador)
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização

INTRODUÇÃO À
COGNIÇÃO INCORPORADA

Editora CRV
Curitiba – Brasil
2021
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação: Editora CRV
Capa: Ana Paula Rodrigues
Foto de Aba: Eraldo Bittencourt de Gouvêa
Revisão: O Autor

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização

CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506

G289

Gazzola, Marcello A. Schall.


Introdução à cognição incorporada / Marcello A. Schall Gazzola (autor),
Helmuth Krüger (colaborador). Curitiba : CRV, 2021.
88 p.

Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-1972-4
ISBN Físico 978-65-251-1973-1
DOI 10.24824/978652511973.1

1. Psicologia 2. Cognição incorporada 3. Psicologia cognitiva 4. Corporalidade


I. Krüger, Helmuth. col. II. Título III. Série.

CDU 159.92 CDD 153.1


Índice para catálogo sistemático
1. Psicologia cognitiva – 153.1

ESTA OBRA TAMBÉM ENCONTRA-SE DISPONÍVEL


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2021
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
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Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Helmuth Krüger (UCP)


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Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)

Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.


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Ao Prof. Helmuth Krüger (in memoriam)


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AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Helmuth Krüger, de quem tive o grande e inesque-
cível privilégio de ser um último orientando. Como certamente
é compartilhado por inúmeros ex-alunos, esta relação teve forte
influência sobre mim, meu pensamento crítico e também valores,
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de modo que o estudo resultante só poderia lhe dever muito. Esta


publicação, originalmente planejada por ele, é feita, enfim, em
sua homenagem, com gratidão pelo exemplo que nos brindava a
todos, e que segue vivo na memória como inspiração.

Aos professores Luís Antônio Campos, Cleia Zanatta e Lélio


Lourenço, pelo retorno dado sobre os escritos que originaram este
livro, além do incentivo à realização dele, certamente enriquecido
por suas sugestões, críticas e questionamentos.

Agradeço também às pessoas que me ajudaram mais dire-


tamente nesta publicação, de diferentes formas: Ana Lúcia Gaz-
zola, Guilherme Gazzola, Juliana Nabuco, William Barbosa e
Ana Paula Rodrigues. Muito obrigado.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................... 13
Marcello A. Schall Gazzola

PREFÁCIO................................................................................. 15
Luís Antônio Monteiro Campos
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PRÓLOGO.................................................................................. 17
Cleia Zanatta

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO........................................................................... 19

CAPÍTULO 2
MENTE E MATÉRIA.................................................................. 23

CAPÍTULO 3
COGNITIVISMO E PSICOLOGIA COGNITIVA....................... 29

CAPÍTULO 4
CONCEITO E DEFINIÇÃO DE COGNIÇÃO........................... 35

CAPÍTULO 5
CORPO ORGANISMO E CORPO VIVIDO.............................. 41

CAPÍTULO 6
EXPERIMENTOS DA COGNIÇÃO INCORPORADA.............. 45

CAPÍTULO 7
ENTENDIMENTOS DA COGNIÇÃO INCORPORADA........... 57

CAPÍTULO 8
FUNCIONAMENTOS DA COGNIÇÃO INCORPORADA........ 67

CAPÍTULO 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................... 71

REFERÊNCIAS.......................................................................... 75

ÍNDICE REMISSIVO................................................................. 85
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APRESENTAÇÃO
Este livro se origina da dissertação Relação mente-corpo
na Psicologia Cognitiva, um estudo teórico da Cognição Incor-
porada (Gazzola, 2020), orientada pelo Prof. Helmuth Krüger
no Curso de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica
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de Petrópolis. Dele foi o maior estímulo para que tornássemos o


trabalho mais acessível através desta publicação.

A dedicação ao estudo da relação entre mente e corpo partiu


sobretudo de um interesse pessoal e profissional como psicólogo
e psicoterapeuta. Apesar de não ser um tema novo nem recente,
é misterioso e comumente negligenciado. Cursos e livros de
graduação em Psicologia raramente referem a corporalidade e
as relações de estados e sensações corporais com estados e pro-
cessos mentais. Penso que a consideração do corpo nessa área é
importante pelo fato de não sermos mentes etéreas, e a função
do corpo ser mais do que apenas carregar a cabeça e executar
seus comandos.

Ao descobrir a cognição incorporada durante os estudos do


Mestrado, meu interesse inicial foi em suas aplicações na Psicote-
rapia, em que há quase 100 anos existem abordagens nas quais se
trabalha com o corpo, mas sem conexão com a pesquisa científica
acadêmica. Porém, o progresso nas leituras foi revelando uma cres-
cente variedade de assuntos, disciplinas envolvidas, aplicações,
terminologias especializadas, experimentos, teorias concorrentes
e muitas controvérsias, gerando uma complexidade que dificulta o
entendimento e desfavorece a popularização do tema. Ficou claro
que a Psicoterapia era apenas uma dentre muitas áreas de possível
aplicação da cognição incorporada e, portanto, um objetivo muito
secundário frente à importância de se procurar obter, primeiro,
uma compreensão mais inteligível do conceito básico.

Este se tornou o objetivo da pesquisa de Mestrado, a que o


presente livro dá continuidade ao expor o resultado de maneira
14

mais acessível e simplificada. Além disso, no Brasil a cognição


incorporada é pouquíssimo conhecida. Uma rápida busca no por-
tal de periódicos da CAPES utilizando os descritores “cognição
incorporada” ou “cognição corporificada” revela apenas 16 resul-
tados, sendo o primeiro de 2010. Já ao buscar por “embodied
cognition” obtêm-se aproximadamente sete mil resultados, sendo
quase mil apenas em 2020, e o primeiro datado de 1996. Assim,
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reunir, elaborar e disponibilizar informações sobre o tema em lín-


gua portuguesa é uma contribuição relevante para sua introdução
no cenário nacional, constituindo uma possível referência para
futuros trabalhos. Este conteúdo pode ainda adquirir relevância
prática ao contribuir como fundamentação teórica para novas
possibilidades de atuação profissional, além de, desde já, servir
à informação de interessados em geral, além de estudantes e pro-
fissionais da Psicologia em suas diversas vertentes, a respeito de
um aspecto pouco contemplado de seu principal objeto de estudo.

Marcello A. Schall Gazzola


Autor
PREFÁCIO
Introdução à Cognição Incorporada, de Marcello Gaz-
zola, resulta da última orientação de Mestrado do Professor
Helmuth Krüger, que faleceu no dia primeiro de dezembro
de 2020, coincidentemente dia de seu aniversário. Dado seu
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apreço pelo autor e pela obra, ela já estava prevista para publi-
cação futura na Série Universitária criada e organizada pelo
professor Helmuth. A concretização desta publicação é uma
homenagem ao saudoso professor Helmuth, criador do curso de
Mestrado em Psicologia da Universidade Católica de Petrópolis,
a quem Deus certamente acolheu e satisfez seu maior desejo
em vida, que foi a busca pela Verdade. O mérito deste livro,
os leitores poderão verificar em sua bela e coerente redação.
Aproveitem a leitura.

Luís Antônio Monteiro Campos


Professor e Coordenador do Curso de Mestrado em
Psicologia da Universidade Católica de Petrópolis/RJ
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PRÓLOGO
Este livro de Marcello Gazzola rememora os anos em torno
da elaboração de estudos que constituíram uma experiência aca-
dêmica e afetiva em companhia de nosso querido e sempre pre-
sente Prof. Dr. Hemuth Krüger.
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Acompanhei, de perto, o trabalho dos dois, semanalmente,


nas dependências do Curso de Mestrado em Psicologia da Uni-
versidade Católica de Petrópolis, durante os anos de 2019 e 2020.
Nesse período, Marcello, como mestrando, recebia as orientações
do Prof. Helmuth para a elaboração de seu trabalho, e sua dedi-
cação e motivação para realizá-lo nos contagiava.

Entre aulas, estudos, conversas e cafezinhos, caminhavam


Marcello e seu mestre a dialogar e se entusiasmar, envolvendo-
-nos na experiência observadora da realização. Assim foi nas-
cendo o livro Cognição Incorporada, que ora enriquece as obras
dedicadas aos estudos no âmbito da Psicologia Cognitiva e da
Cognição Social.

Certamente, se ainda estivesse entre nós de modo “incorpo-


rado”, o Professor Helmuth estaria orgulhoso de seu orientando,
ao ver o trabalho realizado em colaboração mútua, agora a ganhar
o corpo de um livro que poderá caminhar entre as mãos de leitores
interessados no assunto ou em conhecê-lo.

O livro reúne, então, não só a elaboração cuidadosa e rigo-


rosa de um texto que nos põe em contato e amplia nossos conheci-
mentos sobre o tema, como também registra uma história, mesmo
que não escrita aqui nesta obra. Essa história está incorporada nas
lembranças gratas e inesquecíveis de uma convivência elegante,
cheia de sabedoria e conhecimentos que transformavam as con-
versas em verdadeiras aulas serenas, agradáveis e sensíveis, que
só um grande mestre pode nos legar.
18

Obrigada, Marcello, e obrigada, Prof. Helmuth, por terem


feito parte deste encontro que a vida nos permitiu e que se man-
tém vivo e cheio de verdades em nossos corações.

Cleia Zanatta
Professora e Investigadora no Curso de Mestrado em
Psicologia da Universidade Católica de Petrópolis/RJ
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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Cognição incorporada, tradução de Embodied Cognition,
pode ser considerada tanto uma área temática de pesquisa multi-
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disciplinar dentro das Ciências Cognitivas e Filosofia da Mente,


envolvendo Psicologia, Neurociência, Linguística, Robótica,
entre outras, quanto um novo conceito de cognição, proposto
em um conjunto de perspectivas teóricas diferentes entre si mas
que enfatizam o papel ou participação do corpo na cognição e
aplicações disso a outros temas e disciplinas.

Em Psicologia pesquisa-se interações entre processos cog-


nitivos e corporais, especificamente sensoriais e motores, como
expressões faciais, posturas, gestos, movimentos e ações, bem
como sensações de tato, temperatura, peso, esforço, tensão, dor,
entre outras, e suas relações com percepção, memória, aten-
ção, linguagem, categorização, tomada de decisão, percepção
social, inferências, autopercepção, inclusive temas que ultra-
passam o estritamente cognitivo, como julgamento, empatia,
atitudes e estados subjetivos envolvendo emoção e motiva-
ção. Alguns experimentos retratam, por exemplo, uma relação
entre intervenções diretas no corpo e efeitos de facilitação ou
inibição de processos psicológicos, sugerindo consonâncias e
dissonâncias cognitivo-corporais.

Apesar da interação mente-corpo ser pouco estudada, a con-


sideração dela não é nova. O diferencial da cognição incorporada
é a pesquisa experimental, da qual uma amostra é revista no sexto
capítulo, cuja base em evidências aponta a extensão e profundi-
dade dessa integração mente-corpo, utilizando a base conceitual
e o rigor científico do Cognitivismo.

Em geral, autores do assunto criticam a concepção tradicio-


nal da cognição como estágio intermediário entre input sensorial
20

e output comportamental, que ocorre com autonomia destes, e


em que a sensorialidade intracorporal é largamente desconside-
rada dentre os inputs e o corpo é entendido principalmente como
output, lugar de execução motora e de reação a pensamentos e
emoções. Em vez disso, aspectos corporais são incluídos àqueles
que, como aceita-se ser o caso da afetividade e da motivação,
contribuem para moldar a produção de significados em interação
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com a cognição.

Porém, mesmo que diferentes propostas teóricas se emba-


sem em muitas das mesmas pesquisas empíricas, a forma como
interpretar os dados é muito disputada por autores teoricamente
inconciliáveis entre si, sem consenso quanto aos mecanismos
explicativos das interações cognitivo-corporais, nem definição
específica da cognição incorporada que tenha sido aceita por uma
parcela representativa de autores deste campo, hoje amplo e hete-
rogêneo. Como reconhecido por alguns deles (Goldman, 2016,
p. 316), na verdade, em muitas publicações sequer é fornecida
objetivamente a definição sobre a qual se trabalha.

Pode-se concluir por certa falta de nitidez quanto ao objeto


de estudo, algo fundamental para o desenvolvimento teórico e a
melhor compreensão dos fenômenos, além de mais favorável à
produção de aplicações práticas responsáveis e bem-sucedidas.
Esta foi, então, a justificativa principal para a realização de um
estudo teórico sobre a cognição incorporada a fim de contribuir
para sua clareza e objetividade.

Exemplos de perspectivas divergentes são: o processamento


mental não é executado pelo cérebro, mas pelo corpo como um
todo; a dinâmica intracorporal e de interação física com o mundo
externo dispensa a noção de representações mentais; represen-
tações mentais do corpo são infiltradas em diversas atividades
cognitivas sobre outros conteúdos; as representações mentais são
baseadas nos circuitos cerebrais de sensorialidade e motricidade,
entre outras.
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 21

Há alguns artigos e livros dedicados a apresentar o campo


em sua diversidade e abrangência, que tentam sumarizá-lo e orga-
nizá-lo. Um deles é The Routledge Handbook of Embodied Cog-
nition (Shapiro, 2014), uma das maiores revisões sobre o tema,
com 400 páginas e aproximadamente 50 colaboradores. Outra,
mais suscinta, é Embodied Cognition (Wilson & Foglia, 2017).
Apesar da diferença entre essas e outras, uma concordância
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mínima costuma ser sobre a distinção entre abordagens da cog-


nição incorporada mais moderadas e outras mais radicais, assim
categorizadas conforme a ruptura pretendida com o Cognitivismo.

O presente trabalho é voltado ao primeiro grupo, de modo


que, antes de prosseguir, cabe uma breve observação acerca do
segundo e a justificativa para a escolha realizada. A abordagem
que ocupa o polo mais radical é identificada como Enativismo,
inicialmente proposta por Francisco Varela, Evan Thompson e
Eleanor Rosch no livro The Embodied Mind (1991), obra con-
siderada por muitos como o marco inicial da teorização sobre a
cognição incorporada. O Enativismo envolve uma ressignificação
extrema do conceito de cognição em que se rejeita a existência
de representações mentais e a perspectiva internalista de que a
cognição ocorre no interior de cada um.

Em vez disso, utilizando toda uma terminologia própria


relacionada aos trabalhos de Humberto Maturana sobre auto-
poiese, a cognição aconteceria através de dinâmicas intracorpo-
rais e interações físicas com o meio, ditos acoplamentos entre
cérebro, corpo e ambiente, de forma a abranger até mesmo o
extracorpóreo, todo o ambiente físico, ferramentas com que se
interage e intersubjetividades. Um de seus principais teóricos
e divulgadores atuais é o filósofo Shaun Gallagher, que numa
passagem de seu livro Enactive Interventions: Rethinking the
Mind (2017, p. 21-25), reconhece que afinal talvez se trate mais
de uma Filosofia da Natureza do que de um projeto científico.
Mas alguns pesquisadores dessa abordagem e de outras derivadas
ou aparentadas (Hutto & Myin, 2012), sustentam uma postura
22

revolucionária de que todo o Cognitivismo prévio deveria ser


inteiramente descartado, aspirando a substituí-lo.

A forma como o Cognitivismo é concebido por tais críticos


comumente está sujeita a parcialidades, caricaturas e equívocos,
como equiparações à abordagem radicalmente computacional da
cognição que não a distingue da inteligência artificial. Sem entrar
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no mérito da real necessidade e adequação de uma revolução


paradigmática, levar a sério a verificação das abordagens mais
radicais e suas discrepâncias inconciliáveis com fundamentos
básicos da Psicologia Cognitiva e do Cognitivismo, por si só
demandaria um tempo muito excedente à duração do Mestrado.
Respeitando ainda o princípio da simplicidade, foi tomada uma
atitude mais parcimoniosa, de limitar-se ao estudo da vertente
moderada, com interesse em uma compreensão da cognição incor-
porada mais conciliável com o Cognitivismo.

Mesmo assim ainda há desafios para a conceitualização


e a compreensão. Observa-se, por um lado, que as teorias são
permeadas pela questão tradicionalmente conhecida como pro-
blema mente-cérebro, que trata do controverso reducionismo da
dimensão subjetiva, psicológica e mental à dimensão objetiva,
biológica e cerebral. Por outro lado, são aplicadas a questões
que envolvem uma corporalidade em âmbito qualitativamente
diverso do organismo objetivo, pois trata-se de aspectos da
experiência subjetiva do corpo, através do qual se vive, sente,
expressa, age e modifica a realidade. Talvez daí derive a com-
plexidade do tema, pela qual importa esclarecer bem o sentido
de “cognição” e de “incorporada”.
CAPÍTULO 2
MENTE E MATÉRIA
A Psicologia veio a existir como disciplina científica autô-
noma em meados do século XIX como uma nova abordagem ao
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estudo da mente humana, diferenciando-se de um lado da Filo-


sofia, e de outro da Fisiologia. Portanto, seu objeto de estudo não
lhe é exclusivo e nem novo, mas bastante anterior. Aspectos cog-
nitivos da mente, por exemplo, já têm sido alvo de investigação
filosófica rigorosa pelo menos desde Aristóteles (384-322 a.C.).
Ainda assim, até hoje perdura um grande mistério a respeito do
que é a mente. Na introdução do livro Historical Foundations
of Cognitive Science (Smith, 1990) encontra-se um inventário
resumido de nosso desconhecimento sobre o tema.

Uma das várias razões para esse estado das coisas é o fato
da mente e seus fenômenos serem aparentemente imateriais,
não poderem ser diretamente observados, a não ser pelo método
incerto da introspecção, de aplicação limitada a si mesmo em que
observador e objeto se confundem. O avanço das Neurociências
no fim do século XX trouxe a possibilidade de imageamento
cerebral e correlações dessas imagens com a mente, suscitando
grandes expectativas em parcelas da comunidade científica e
adquirindo um status irrefletido de credibilidade científica perante
a sociedade leiga.

A novidade, entretanto, é apenas relativa, e os questionamen-


tos a respeito bastante antigos. No livro Crenças psicológicas na
Antiguidade Clássica, segundo capítulo, Helmuth Krüger (2019)
aponta como, nos primórdios da Filosofia, havia crenças sobre a
relação entre o corpo e diferentes concepções da alma, as quais
incluem atributos hoje considerados psicológicos, como a facul-
dade do pensamento e a consciência. Filósofos se dedicaram ao
problema das relações entre corpo e alma pelo menos desde a
24

Antiguidade, através da Idade Média com destaque para os teó-


logos escolásticos, como São Tomás de Aquino, então na Idade
Moderna, como Descartes e tantos outros através do Iluminismo
até a contemporaneidade. Trata-se de um assunto vasto, mencio-
nado para situar devidamente a questão mente-cérebro como um
capítulo recente de uma história bem mais ampla.
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Fato é que não há resolução consensual para o atual problema


mente-cérebro, como nunca houve para o problema das relações
entre matéria e espírito, e entre corpo e diferentes concepções de
alma. O cerne atual dessa discussão é sobre a dificuldade de con-
ceber como estados fisiológicos do organismo, especialmente os
cerebrais, como a passagem de impulsos elétricos por circuitos
neurais e a bioquímica dos neurotransmissores, se relacionam com
a experiência subjetiva da consciência e o funcionamento mental.
A seguir explicitamos brevemente algumas perspectivas sobre
esse problema, especialmente em Filosofia da Mente e relativas
ao Cognitivismo.

Hoje há dados abundantes sobre correlações de fenômenos da


dimensão cerebral com outros da dimensão mental. Por exemplo,
a luz refletida de superfícies é absorvida pelo sistema ocular e
traduzida para impulsos elétricos em circuitos específicos de certa
região do cérebro, o que coincide com a experiência pessoal de
percepção visual de imagens coloridas, bem delimitadas e integra-
das em movimentos com aparente continuidade. Outro exemplo:
a prática deliberada e continuada de meditação já se descobriu ser
acompanhada por mudanças significativas em diversos padrões
de ativação neuronal.

Mas nada é suficiente para concluir se cérebro e mente


refletem um ao outro enquanto correm paralelamente, se ambos
interagem mutuamente entre si e como, ou se apenas um deles é
causa do outro, e qual. Qualquer posicionamento assumido não
decorre diretamente dos fatos, não tem provas definitivas a seu
favor ou contra, e sim é aceito de antemão como uma crença
que pode ser chamada de pressuposto filosófico ou postulado,
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 25

para então orientar a interpretação dos dados, que, a princípio,


poderiam ser acomodados em diferentes perspectivas.

Tais pressupostos a respeito do problema mente-cérebro


são herdados da história prévia, e podem ser divididos em dois
grandes grupos, dualista e monista, com subdivisões.
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No dualismo classicamente admite-se a existência de duas


substâncias, mental e material, distintas e irredutíveis uma à outra.
Dentre os dualistas, há os que supõem um paralelismo entre elas,
referente à inexistência de relações diretas, ou, mais comumente,
um interacionismo, como é o caso de Descartes e muitos outros.
Um problema ao sustentar o dualismo interacionista é o desco-
nhecimento absoluto sobre como se daria essa interação, através
de que meio e que mecanismo tradutor, além de permanecer a
dúvida sobre o que a mente afinal seria, implicando uma espécie
de espiritualismo indefinido.

Monistas são todos quantos creem existir apenas um tipo de


substância fundamental, mas podem divergir, por exemplo, entre
o monismo mentalista, em que a realidade material é conside-
rada ilusória; o monismo neutro, em que mente e matéria seriam
aspectos ou manifestações de uma terceira e única verdadeira
substância formadora da realidade; e o tipo mais difundido atual-
mente que é o monismo materialista ou fisicalista, nomes para a
crença de que toda a realidade é em última instância de natureza
física, e no caso da mente, neural. Mesmo aqui há variantes, como
o materialismo reducionista e o pretensamente não reducionista.

A suposição de que a investigação neurológica desvendaria


a mente é o típico reducionismo materialista, em outras pala-
vras, a crença de que a mente é o cérebro, ou em outras palavras
ainda, de que o que se chama de mente não exista, apenas o
cérebro. Em Filosofia do Cérebro, João Teixeira (2012) expõe
limitações a que essa superestimação do conhecimento neuroló-
gico está sujeita. Em décadas de Neurociência, os significados
e interpretações dos dados de imagem do cérebro decorrem das
26

correspondências traçadas com conceitos essencialmente psi-


cológicos e comportamentais, e não o contrário. Puros dados
de imagem não permitem inferir inequivocamente os processos
mentais correntes, seus conteúdos e contextos. Além disso, há
sérias restrições quanto ao conhecimento sistemático que se pode
reunir sobre o cérebro, dada a ordem de grandeza avassaladora de
sinapses e a complexidade de sua organização. E ainda que esse
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empreendimento fosse possível, não explicaria as qualidades da


experiência subjetiva, o fenômeno da consciência e a experiência
introspectiva, criticas bem colocadas por filósofos como Thomas
Nagel e David Chalmers.

A alternativa para manter o compromisso com o materia-


lismo mas superar o problema do seu reducionismo insatisfatório
é mediante um “dualismo de propriedades”, um monismo que
afinal relembra aspectos do dualismo cartesiano. A diferença seria
que em vez de uma definição substancialista da mente, isto é,
como uma substância imaterial com realidade própria, adota-se
uma definição mais processual. A existência da mente é reconhe-
cida não como a de algo em si, mas como um processo ou função
executada pelo sistema físico subjacente, que, portanto, a produz
e influencia. Porém, a função mental emergente teria propriedades
exclusivas, não seria redutível ao organismo e inclusive poderia
influenciá-lo de volta. Karl Popper exemplifica:

Podemos conjecturar que a Consciência, por sua vez, é pro-


duzida por estados físicos; contudo, ela os controla em con-
siderável extensão. Assim como um sistema legal ou social
é produzido por nós e, todavia, nos controla, não sendo em
qualquer sentido razoável “idêntico” ou “paralelo” a nós,
mas interage conosco, assim também os estados de cons-
ciência (a “mente”) controlam o corpo e interagem com ele
(Popper, 1975, p. 230 apud Castañon, 2006, p. 216).

Afinal pode-se questionar se isso representa de fato um


monismo, ou um dualismo interacionista adaptado. Independente
da categorização, permanece a dúvida sobre como a experiência
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 27

mental emergiria dos processos físicos neurais e como os influen-


ciaria de volta.

Há ainda os que afirmam tratar-se de um falso problema,


situado como mera questão linguística ou de confusão conceitual,
como o neurocientista Max Bennett e o filósofo Peter Hacker em
Philosophical Foundations of Neuroscience, de 2003. Perguntar
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como estados mentais e biológicos estariam associados seria o


primeiro erro, enquanto deveria simplesmente ser aceito que a
vida humana pode ser descrita por diferentes métodos e termi-
nologias, partes de um pluralismo não unificável. O problema
seria tentar descrever uma abordagem nos termos de outra, como
a psicológica pela neurocientífica, e a interessante sugestão que
fazem é que atributos psicológicos não deveriam ser referidos ao
cérebro, apenas a seres humanos como um todo.

Coerente com a permanência da dúvida acerca do problema


mente-cérebro por tantos séculos, por fim há os agnósticos quanto
à possibilidade da sua resolução, como o filósofo e historiador
da Psicologia, Daniel Robinson (2010, p. 791). Argumenta que a
discussão ontológica, isto é, sobre a verdadeira natureza da reali-
dade, é condicionada pela epistemológica, sobre as possibilidades
e limitações do conhecimento humano acerca da realidade, e no
caso aqui tratado, da mente.
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CAPÍTULO 3
COGNITIVISMO E
PSICOLOGIA COGNITIVA
Do Latim cognoscere, o termo cognição apareceu na lite-
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ratura em inglês pela primeira vez em 1447 (Chaney, 2013), e


historicamente seu uso esteve associado a conhecimento, reflexão,
pensamento, entendimento e consciência. A partir da metade do
século passado o termo “cognição” foi popularizado pelo nascente
movimento multidisciplinar, científico e filosófico, conhecido
como Cognitivismo, integrado principalmente por áreas da Psi-
cologia, da Linguística, da Computação e da Neurociência, além
da Filosofia da Mente.

Em O Cognitivismo e o Desafio da Psicologia Científica,


tese de Gustavo Castañon (2006), encontra-se uma extensa expo-
sição crítica, contextual, filosófica e científica acerca do movi-
mento cognitivista e sua abordagem característica da mente em
Psicologia, designada Psicologia Cognitiva, que nos últimos 50
anos tem sido a corrente mais expressiva da Psicologia cientí-
fica em geral. No entanto, o caminho para o prestígio atual da
Psicologia Cognitiva passou por uma necessidade de superação
do descrédito posto pelo Behaviorismo, dominante na época de
seu surgimento, quanto à mente ser algo etéreo e especulativo,
sem realidade própria.

O Behaviorismo, cujo marco inicial é historicamente reco-


nhecido na publicação de Psychology as the behaviorist views it
de John Watson em 1913, foi muito favorecido pelo Positivismo,
corrente da Filosofia da Ciência mais influente à época, segundo
a qual a cientificidade era creditada exclusivamente à pesquisa
do que fosse concreto, diretamente observável e mensurável.
Nesse espírito, no Behaviorismo buscava-se definir a Psicologia
exclusivamente como o estudo do comportamento manifesto,
30

relacionando-o apenas a condições ambientais igualmente pal-


páveis, externas à pessoa. Na dinâmica de estímulo-resposta,
o ambiente induziria comportamentos reflexos, e, por aprendi-
zagem associativa, as consequências ambientais prazerosas ou
desprazerosas gerariam condicionamentos das futuras respos-
tas comportamentais.
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Na vertente mais radical desta concepção, o ser humano seria


regido pelo condicionamento resultante do histórico de intera-
ções prévias com o ambiente circundante, apenas com variações
devidas ao determinismo biológico da herança genética. Portanto,
seria passivo em relação ao próprio destino, desprovido de livre-
-arbítrio, autonomia e decisão, tal qual uma máquina reativa. O
pensamento seria melhor entendido como comportamento verbal,
apenas sem a ativação das cordas vocais. A mente e a consciên-
cia seriam ilusões produzidas como efeito colateral das reações
fisiológicas do organismo aos estímulos, nunca a verdadeira causa
de qualquer comportamento (Skinner, 2006/1974). É justo acres-
centar que essas poucas informações não fazem jus às contribui-
ções válidas, diversidade interna, expressividade e longevidade
dessa corrente, apesar de seu reducionismo eliminativo da mente.
Bastam, entretanto, para contextualizar o contraste trazido pela
Psicologia Cognitiva.

Conforme Krüger em Cognição Social: conceito, definição e


temas (2018, p. 13-14), de uma forma ou de outra, temas relacio-
nados à mente como consciência, percepção e memória sempre
estiveram no centro dos interesses da Psicologia desde seu surgi-
mento bem antes do Behaviorismo, que foi uma exceção. Além
disso, mesmo durante o forte desenvolvimento desse, o Beha-
viorismo nunca chegou a ser a corrente exclusiva de teorização
e pesquisa científica em Psicologia, na verdade sua dominância
naquela época ainda se limitava aos Estados Unidos e sobretudo
à Psicologia Experimental. Porém, a corrente comportamental
que ganhava força colocava o mentalismo em descrédito com a
dúvida quanto aos conteúdos mentais serem, na verdade, nada
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 31

(Neisser, 2014, p. 8), e assim ameaçava relegar a produção cien-


tífica prévia e paralela à pseudociência.

Isto não ocorreu por uma série de fatores concomitantes.


A Filosofia da Ciência foi transformada pelos trabalhos de Karl
Popper (Castañon, 2006, p. 25-35), que marcaram a superação
do modelo positivista e a admissão de que teorias envolvendo
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conceitos totalmente abstratos concorressem pelo maior poder


explicativo dos fatos observáveis. Bastava que as teorias fossem
testáveis, mas além de corroboradas deveriam ser também falseá-
veis, isto é, as formulações teóricas precisariam ter uma delimi-
tação clara de seus próprios limites e condições de refutação de
suas previsões por experimentos futuros. Resguardada a abertura
para essa possibilidade, a aceitação de uma teoria dependeria
também da dificuldade de falseá-la.

Em paralelo a essa mudança, a Psicologia Cognitiva foi


impulsionada por desenvolvimentos confluentes de outras disci-
plinas em direção contrária ao Behaviorismo. Na resenha histó-
rica e autobiográfica de George Miller (2003), um dos primeiros
psicólogos cognitivistas, ele relata sua experiência pessoal desse
processo e aponta como seu marco inicial especificamente um
simpósio no Massachusetts Institute of Technology em 1956, em
que pesquisadores de Psicologia, Linguística e Engenharia da
Computação se encontraram para discutir seus trabalhos pioneiros
interligados em torno da Teoria da Informação.

Um dos impulsos iniciais mais importantes veio do campo


da Linguística, pelo trabalho de Noam Chomsky, presença impor-
tante no referido simpósio de 1956. Chomsky (1959) fez uma
revisão crítica contundente do livro Verbal Behavior de Skinner,
em que partiu de uma crítica às especulações dele sobre o “com-
portamento verbal”, a linguagem, e chegou à crítica muito mais
geral às especulações reducionistas do Behaviorismo sobre os
processos mentais. Chomsky defendeu a existência de uma capa-
cidade inata para a linguagem à espera dos conteúdos fornecidos
32

pela experiência: uma espécie de predisposição mental para deter


regras de organização da informação, representando a retomada
do racionalismo em oposição ao empirismo behaviorista.

O aprendizado da linguagem teria que envolver um inter-


mediário entre a exposição a “comportamentos verbais” alheios
e a criação dos próprios, e esse intermediário seria a abstração,
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a partir das frases ouvidas, da lógica de estruturação de frases, a


qual pode ser expressa por um conjunto de leis, a sintaxe. Apenas
um postulado desse tipo, ele argumentou, explicaria a capacidade
humana de, a partir de um número finito de frases aprendidas,
poder gerar um número infinito de frases novas. Elas seriam cria-
das por operações lógicas segundo as tais regras de organização,
independente de alfabetização e na ausência de qualquer introdu-
ção formal à gramática. Esta foi uma proposta revolucionária em
seu campo e grande contribuinte para reabilitar a postulação da
realidade da mente, não só como lugar da sintaxe, mas também da
organização de toda informação e estruturação do conhecimento
segundo regras que não são aprendidas desde estímulos ou sequer
fornecidas diretamente pelo meio.

Paralelamente, a nascente Ciência da Computação permi-


tia simulações computacionais de tarefas cognitivas humanas e
dispunha as bases da Inteligência Artificial. Desta fonte veio o
modelo computacional da mente humana, que permitia compreen-
der a mente segundo a equivalência do cérebro com o hardware e
da mente com o software. Assim como um programa ou sistema
operacional instalado, a cognição operaria logicamente segundo
regras determinadas, sua “programação”, cujos processos pode-
riam ser especificados, testados e estudados, reforçando a acei-
tabilidade da existência da mente.

O intercâmbio interdisciplinar foi crescente, passando a


envolver ainda a Filosofia da Mente e a Neurociência, originando
o movimento cognitivista, cujos desenvolvimentos contribuíram
para o estabelecimento da Psicologia Cognitiva como alternativa
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 33

ao Behaviorismo, e através dela o retorno do estudo psicológico


da mente à legitimidade científica. Temas preexistentes puderam
ser reunidos e revalidados sob essa nova perspectiva com suas
bases filosóficas e metodológicas para abordá-los com mais obje-
tividade e aliando às construções teóricas o compromisso com a
pesquisa experimental.
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Em 1967, Ulric Neisser publicou Cognitive Psychology,


livro em que pela primeira vez organizou-se e apresentou-se a
diversidade de temas e pesquisas da área, dando-lhes coesão e
visibilidade, contribuindo decisivamente para a consolidação
dessa disciplina acadêmica. Em duas ou três décadas a Psicologia
Cognitiva tornou-se a corrente psicológica científica mais pro-
dutiva até a atualidade, permeando diversas áreas da Psicologia
pura e aplicada, como a Psicologia Experimental, a Psicologia
Social, a Psicologia Clínica, as Psicologias do Desenvolvimento,
da Educação e da Personalidade, a Psicolinguística, a Psicologia
Positiva e a Neuropsicologia.

A enorme variedade de temas a que a pesquisa cognitivista


se aplica deriva do núcleo de temas da pesquisa básica em Psi-
cologia Cognitiva, que é classicamente composto por: atenção,
percepção e memória, bases para representação mental, catego-
rização e estruturação do conhecimento, linguagem e aprendiza-
gem rumo aos mais complexos como pensamento, inferências,
julgamento, raciocínio, tomada de decisão, solução de problemas,
inteligência e consciência, conforme dois extensos livros de Psi-
cologia Cognitiva comumente utilizados em cursos universitários
(Sternberg & Sternberg, 2016; Eysenck & Keane, 2017). Obser-
va-se que o termo “cognição” em si não figura entre os temas
citados. Isto se deve ao entendimento de que é algo mais amplo
do qual os temas referidos são aspectos ou estágios hipotéticos
(Neisser, 2014/1967, p. 3).
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CAPÍTULO 4
CONCEITO E DEFINIÇÃO
DE COGNIÇÃO
Cognição se refere a todas as formas de conhecer e ter cons-
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ciência, conforme consta no Dicionário Online da Associação


Americana de Psicologia (2020). Consta, também, que é con-
siderada um dos componentes da mente mais tradicionalmente
identificados, junto com a afetividade e a conação, termo rela-
cionado à motivação e intencionalidade. Apesar do esclareci-
mento importante de que a cognição não constitui a totalidade
da mente, esta conceituação tem um caráter generalista e ines-
pecífico, dada a amplitude da formulação “todas as formas de
conhecer e ter consciência”.

No livro inaugural de Neisser (2014/1967, p. 7-8), a defi-


nição operacional que sumariza a cognição é assim fornecida:
processamento mental de informações. Em benefício da clareza,
cabe especificar o que se entende por informações, por mental e
por processamento. As informações em processamento são ele-
mentarmente as representações mentais, que numa explicação
simples e literal são representantes de algo, sem ser esse algo em
si. Elas se constituem inicialmente a partir da captação senso-
rial de estímulos e sua decodificação, adquirindo uma existência
abstrata. As representações mentais também podem ser consti-
tuídas sem se referirem diretamente a qualquer ente existente
da realidade física, como no caso de conceitos. São o material
dos processamentos cognitivos que as selecionam, relacionam,
armazenam, recuperam e transformam, compondo percepções
contextualizadas, pensamentos e crenças que dão sentido a si
mesmo e ao mundo, e orientam escolhas e ações.

O posicionamento de Neisser sobre o mental é inspirado


na contribuição de Hilary Putnam (1960) na Filosofia da Mente.
36

Parte-se da diferenciação entre cérebro e mente se utilizando a


metáfora computacional para diferenciar os níveis fisiológico
e psicológico de análise, que seriam respectivamente como
hardware e software, a máquina concreta e o programa virtual.
Apesar de ser executado pela máquina, um programa não pode
ser exclusivamente explicado pela análise do aparelho em que é
utilizado, como exemplifica o fato de um mesmo programa poder
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rodar em diferentes computadores. Dessa forma, a mente deve-


ria ser abordada como propriedade emergente do cérebro, com
funcionalidade e características próprias não redutíveis a ele. Ao
psicólogo mais deve interessar investigar as funções mentais e as
relações entre elas do que propriamente sua constituição física.

A mesma metáfora computacional é utilizada para explicar


o “processamento”, entendendo-se que assim como programas
computacionais são compostos de séries de instruções para lidar
com símbolos, sua programação, haveria leis padronizadas de
funcionamento mental para lidar com informações, cabendo ao
cientista cognitivo descobri-las. Enfim, essa definição de cognição
como processamento mental de informações envolve todo tipo de
processos de obtenção, seleção, comparação, organização, com-
binação, transformação, criação, armazenamento, recuperação e
utilização de informações.

Assim, entende-se que a cognição esteja implicada em todo


tipo de atividade humana, pois se refere a processos mentais que
sucedem qualquer estimulação sensorial gerando percepções e
interpretações, bem como antecedem e orientam a manifestação
de comportamentos a partir de memórias, julgamentos e decisões.
Ocorrem também na ausência de qualquer um deles, sensoriali-
dade ou comportamento, por exemplo no caso de pensamentos,
lembranças e imaginação. Reconhece-se ainda que apenas parte
dos processos cognitivos é refletida nas experiências de percepção
e pensamento, ou seja, a experiência cognitiva consciente é ape-
nas uma fração da cognição. Há muitos mecanismos e estruturas
cognitivas de processamento de informação a que não se tem
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 37

acesso subjetivo, o que é expresso pelo conceito de inconsciente


cognitivo (Kihlstrom, 1987).

Uma conceitualização comumente feita por Helmuth Krüger


(2018), é a identificação de três diferentes aspectos da cognição
passíveis de serem estudados: estados, processos e conteúdos cog-
nitivos. Processos são, por exemplo, perceber, lembrar, interpre-
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tar, raciocinar e julgar, e seu estudo é relacionado a descrevê-los,


elaborar medidas indiretas confiáveis, identificar seus padrões e
regras de organização ou funcionamento. Eventualmente pode-se
fazer previsões, testagens, e numa perspectiva mais aplicada gerar
intervenções socialmente benéficas. Também pode-se focalizar
os conteúdos cognitivos, como todos os tipos de representações
mentais, percepções, conceitos, crenças e sistemas de crenças,
evocados à consciência ou mesmo influenciando processos cog-
nitivos inconscientemente. Sob outra ênfase, pode-se estudar
ainda os estados subjetivos capazes de influenciar tais processos,
inclusive também inconscientemente. Estes vão além da esfera
estritamente cognitiva apesar de manterem componentes dela, e
incluem diferentes estados motivacionais, de humores, de aten-
ção, bem como estados alterados de consciência.

Desde o início, Neisser (2014/1967, p. 10-12) considerou


que a “metáfora computacional da mente” era uma fonte de ins-
piração teórica e terminológica, um argumento a favor da legi-
timidade de se pesquisar a cognição, e um recurso didático para
explicá-la, mas com as ressalvas importantes de que um programa
de inteligência artificial não se compara à complexidade humana,
não tem emoções e desejos, não possui atenção seletiva nem
se distrai, não tem uma mente multifacetada, ao que se pode
acrescentar que não tem consciência, liberdade nem criatividade.
A concepção da mente como máquina virtual representaria um
novo reducionismo, apesar de menos estreito que o do Beha-
viorismo. Essa caricatura é explorada por diversos críticos de
forma generalizada e inexata, mas também encorajada por alguns
cognitivistas reducionistas, o que rende estereotipificações da
Psicologia Cognitiva.
38

Em O Cognitivismo é um Humanismo, Castañon (2007)


argumenta que ambas as abordagens, Cognitivista e Humanista,
surgiram na Psicologia quase ao mesmo tempo e em oposição ao
Behaviorismo, ao Fisicalismo e à Psicanálise, mas o Cognitivismo
proporcionou uma cientificidade maior enquanto ainda satisfez
os critérios do Humanismo, sendo parcialmente responsável pela
não consolidação do Humanismo enquanto corrente científica
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bem estruturada na Psicologia.

No modelo antropológico do projeto cognitivista de ciência


psicológica, enfatiza-se que é da natureza humana a busca ine-
rente por significado, que não é simplesmente extraído “pronto”
do mundo. Considera-se que o ser humano é, portanto, um inter-
pretador da própria realidade, além de construtor ativo de mui-
tas das próprias regras de interpretação, não sendo diretamente
reativo à externalidade, mas sim aos sentidos atribuídos a ela de
modo singular. A percepção da realidade por parte de uma pessoa
é então interpretativa e avaliativa, envolvida por seu contexto psi-
cológico total, do qual participam suas crenças, memórias, afetos,
expectativas, necessidades, valores, motivações, intencionalidade,
objetivos pessoais, inconsciente cognitivo, personalidade e ainda
sua capacidade criativa de auto direcionar-se.

O comportamento é ao menos mediado por tais processos


mentais, quando não deliberadamente guiado por eles, e é estu-
dado não apenas como um fim, mas principalmente como um
meio para investigar as condições mentais subjacentes. Em última
instância, o que a Psicologia deveria estudar segundo essa pers-
pectiva é a cognição, conceito que em suma designa como o ser
humano dá significado ao seu mundo e os fatores que moldam
esse processo, em interdependência com a afetividade, a moti-
vação, a personalidade, bem como a aprendizagem e as intera-
ções sociais.

Sumariamente, a definição computacional da cognição como


processamento mental de informação tem seu valor por permitir
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 39

teorizações e pesquisas que se encaixam nos requisitos científicos


de experimentação, previsibilidade, explicabilidade causal e uni-
versalidade, o que favorece sua aceitação como parte da provável
verdade a respeito da mente. Por outro lado, é insuficiente para dar
conta de aspectos cognitivos complexos em que incida maior liber-
dade, jamais redutíveis a mecanismos estáveis, como a consciência,
a criatividade e a autodeterminação, os quais só estão parcialmente
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ao alcance explicativo da Ciência. Então, uma conceituação mais


aberta da cognição é como produção de sentido ou significado, o
que dá margem a estudos mais descritivos e compreensivos, para
além dos explicativos. Essa última perspectiva também é mais
inclusiva da interdependência cognitiva com a afetividade e a moti-
vação, por exemplo, mas ainda sem menção à corporalidade, que
em geral não faz parte do interesse dos cognitivistas.

Em Terapia Cognitivo-Comportamental, quando se men-


ciona o corpo, usualmente é a respeito da influência da cognição
sobre as emoções e o corpo sem considerar sua bidirecionalidade,
nos moldes da hipótese ideomotora de William James, da Psico-
logia do século XIX, segundo a qual:

todos os estados mentais, úteis, inúteis ou prejudiciais deter-


minam uma atividade corpórea. Eles conduzem a modifi-
cações invisíveis na respiração, na circulação, na tensão
muscular em geral, na atividade glandular ou visceral,
mesmo quando não provoquem movimentos visíveis nos
músculos da vida voluntária. Assim, não somente os esta-
dos de consciência privilegiados (tais como as volições, por
exemplo), mas todos os estados de consciência, sejam puros
pensamentos ou puros sentimentos, provocam movimentos
(James, 1894 apud Penna, 2001, p. 83-84).

Na Psicologia Cognitiva mais geral, o tema corporal se res-


tringe à relação entre mente e matéria expressa pelo problema
mente-cérebro, à dificuldade de saber o que a mente realmente é
em termos de constituição física neural, apesar da comprovada
possibilidade e produtividade de investigar seu funcionamento,
40

assuntos do segundo e terceiro capítulos. Porém, a ênfase no cére-


bro inevitavelmente obscurece a existência do organismo maior,
totalmente integrado e autorregulado, do qual o cérebro faz parte.
E assim como se pode pesquisar de um lado a mente e de outro
o cérebro segundo os níveis psicológico e fisiológico de análise,
também o corpo como um todo pode ser encarado sob duas óticas
contrastantes, não só a objetiva e impessoal, do corpo biológico,
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um organismo, como também a fenomenológica, da experiência


subjetiva do próprio corpo, assuntos do próximo capítulo.
CAPÍTULO 5
CORPO ORGANISMO
E CORPO VIVIDO
O materialismo reducionista tem sido uma perspectiva de
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peso na comunidade científica, como exemplificado pela recente


pesquisa de Moreira-Almeida e colegas (2018) acerca dos últimos
vinte anos da literatura especializada em revistas de psiquiatria,
em que se verificam frequentes desinformações relevantes e inter-
pretações distorcidas das perspectivas alternativas. É o caso do
que se veicula acerca do dualismo cartesiano, comumente retra-
tado de modo errôneo e pejorativo, como uma separação total e
absurda entre mente e corpo. A verificada tendência a vilanizar
Descartes é geralmente associada com a reprodução superficial de
uma narrativa em que falta referência a fontes primárias. Dentre
estas é possível encontrar passagens que contradizem tais nar-
rativas, como:

A natureza me ensina, por meio dessas sensações como dor,


fome, sede e assim por diante, que não estou meramente
presente em meu corpo como um marinheiro está em um
navio, mas que estou intimamente ligado e, por assim dizer,
misturado com ele, de modo que eu e o corpo formamos
uma unidade. Se assim não fosse, eu, que não sou senão
uma coisa pensante, não sentiria dor quando o corpo fosse
ferido, mas perceberia o dano puramente pelo intelecto,
assim como um marinheiro percebe pela vista se alguma
coisa em seu navio está quebrada (Descartes, 1641/1984,
p. 56 apud Moreira-Almeida et al., 2018, p. 339, traduzido
livremente do inglês, grifo nosso).

Esta citação de Descartes talvez surpreenda a muitos, espe-


cialmente aos opositores da separação total entre mente e corpo
supostamente cartesiana, que não é bem assim. Essa observação
abre caminho para a distinção importante entre duas possíveis
42

abordagens do corpo. Claramente, no problema mente-cérebro


trata-se exclusivamente de uma delas, a abordagem biológica,
objetiva e impessoal, em que o corpo é encarado como organismo,
conjunto de anatomia e fisiologia. Este é o corpo a que se refere
o dualismo cartesiano, bem como os autores que apontam como
a investigação do cérebro não é capaz de explicar a experiência
qualitativa da consciência.
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A outra abordagem poderia ser dita fenomenológica, refe-


rente à experiência pessoal e subjetiva do corpo, como exempli-
ficada por conceitos filosóficos originados a partir de Husserl,
como ser-no-mundo de Heidegger, corpo vivo de Edith Stein,
ou corpo próprio de Merleau-Ponty. Trata-se do corpo vivido,
animado pela consciência, que encarna uma pessoa e através do
qual ela sente, vivencia, se faz presente, se expressa e transmite
significados, age a partir de uma intencionalidade e modifica
sua realidade.

Tomando o corpo vivido, a unidade formada entre mente


e corpo é óbvia. Descartes e muitos outros antes e depois já a
reconheciam, de modo que tal perspectiva não constitui qual-
quer revolução ou inovação conceitual. Mais simplesmente, é
um tema muito pouco contemplado em Psicologia e neste livro
argumenta-se por sua relevância e pelo valor de considerá-lo
mais atentamente. A novidade atual é sua pesquisa experimental,
sob o nome de Cognição Incorporada, a partir da qual surge uma
base em evidências sobre a profundidade, extensão e também
bidirecionalidade da relação mente-corpo.

O comum ao tratar dos processos cognitivos de sensação e


percepção é associá-los à exterocepção, captação de estímulos
externos a partir dos cinco sentidos, com omissão das informações
de vários tipos que chegam à mente a partir de estímulos internos
ao corpo, como se ele fosse apenas reativo à cognição, sendo que
desde o nascimento ou antes, o interior do corpo é a fonte mais
ininterrupta de estímulos.
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 43

Voltando à abordagem biológica, dois dos três sistemas condu-


tores de informações de fora do cérebro para dentro dele são dedi-
cados ao intracorporal. Os termos propostos pelo neurofisiologista
Charles Sherrington em The Integrative Action of the Nervous Sys-
tem, de 1906, e em uso até hoje para designar essas bases orgânicas
da sensorialidade são: exterocepção, propriocepção e interocepção.
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A propriocepção é resultado da transmissão ao cérebro do


estado mecânico do sistema muscular responsável por toda a
motricidade, incluindo além dos músculos também tendões,
articulações e pele. A informação veiculada é sobre a posição
do corpo, localização e movimento dos membros, contração e
esforço muscular (Proske & Gandevia, 2012). Sua integração com
o sistema de controle motor tem um papel crucial para o equilí-
brio, a orientação espacial, a locomoção e a coordenação fina de
quaisquer movimentos para realizar comportamentos intencionais
e interagir com o meio. A origem mental dos movimentos físicos,
isto é, como uma intenção motora surgida na consciência se tra-
duz em impulsos elétricos que enfim estimulam os músculos, é
mais um exemplo do mistério da relação mente-cérebro.

A via interoceptiva inicialmente era pensada como transmis-


sora apenas dos estados fisiológicos dos órgãos. Com o avanço
das pesquisas, hoje sabe-se abranger muito mais, de modo
que a interocepção representa a condição fisiológica do corpo
inteiro, cada uma de suas partes e sistemas, como o cardiovas-
cular, respiratório, gastrointestinal, genital-urinário, endócrino,
imunológico, entre outros, com destaque para seu papel funcio-
nal na homeostase, a autorregulação metabólica do organismo
(Craig, 2020, p. 2-15). Inclui ainda os músculos, articulações,
tendões e pele, mas com funções diferentes da propriocepção,
como sinalização térmica, de danos sofridos (nocicepção) e de
energia metabólica (ergocepção).

Na experiência pessoal do próprio corpo, a propriocepção


relaciona-se a autoconsciência de posturas, expressões faciais e
44

gestos, além da sensação de quaisquer movimentos, força exer-


cida e peso de objetos. A interocepção está relacionada com as
diferentes sensações viscerais, de temperatura, excitação sexual,
dor, fome, sede, saciedade, enjoo, falta de ar, enfim, todas as sen-
sações corporais relativas a estados internos, facilmente classifi-
cadas entre gradações de mal-estar a bem-estar e envolvidas nas
experiências afetivas de emoções e humores. Resta dizer que essa
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consciência corporal está diretamente relacionada ao sentir e pode


ser desenvolvida, resultando em elevação da autoconsciência e os
consequentes benefícios para si, suas decisões, ações e relações
como bem exemplificado por António Damásio (1994, 1996) na
análise de Phineas Gage e sua hipótese dos marcadores somáticos.

Porém, a vasta maioria dessa dinâmica neural interoceptiva


é inacessível à experiência subjetiva do próprio corpo, o corpo
vivido, e, portanto, restrita à dimensão biológica e inconsciente
do corpo organismo. Os reflexos dos processos corporais incons-
cientes na experiência consciente e os efeitos de experiências
conscientes neles constitui todo um campo de investigação pouco
explorado. Da parcela da interocepção que se correlaciona a fenô-
menos de dimensão psicológica como as sensações variadas e
altamente diferenciadas exemplificadas anteriormente, como se
dá esta correlação é assunto do problema mente-cérebro ainda
em aberto.
CAPÍTULO 6
EXPERIMENTOS DA
COGNIÇÃO INCORPORADA
Cognição Incorporada não é um nome novo para o já
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conhecido materialismo reducionista de fenômenos mentais a


fenômenos cerebrais. Não é uma resposta para o problema men-
te-cérebro, nem deve ser tomada como um projeto para isso.
Independentemente do posicionamento dos pesquisadores a esse
respeito, suas contribuições apontam uma insuficiência da for-
mulação do problema mente-cérebro a partir da demonstração
de que há mais corporalidade em jogo. Antigamente, o dualismo
vigente era entre alma e corpo, mas, sendo hoje entre mente e
cérebro, o resto do corpo é comumente desconsiderado como se
o cérebro existisse isoladamente.

As pesquisas são focadas nas influências mútuas entre pro-


cessos cognitivos e aspectos da corporalidade vivida, como a
sensorialidade e a motricidade. Embora essa interação seja um
tema comumente negligenciado, sua afirmação não é inovadora.
O diferencial aqui é a pesquisa experimental cuja base em evidên-
cias aponta a extensão e profundidade da integração mente-corpo,
utilizando a base conceitual e o rigor científico do Cognitivismo.
O desenvolvimento teórico posterior foi estimulado pelo acúmulo
de resultados surpreendentes de influências cognitivo-corporais
recíprocas, de facilitação ou interferência, sugerindo consonân-
cias e dissonâncias entre sensações ou movimentos, de um lado,
e de outro lado, atividades cognitivas aparentemente indepen-
dentes desses.

Inicialmente esparsas, pesquisas nessa direção existem pelo


menos desde 1960 (Solarz, 1960). Foram se adensando em ace-
leração constante com o interesse atraído pelos resultados sur-
preendentes fora do escopo do Cognitivismo, até que na década
46

de 90 começaram a surgir as primeiras propostas teóricas e a


denominação de Cognição Incorporada. Investigam interações
entre processos cognitivos e corporais, especificamente motores e
sensoriais, como expressões faciais, posturas, gestos, movimentos
e mimetismo corporal em interações sociais, bem como sensa-
ções de tato, temperatura, peso, esforço, tensão, dor, entre outras,
e suas relações com percepção, memória, atenção, linguagem,
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categorização, tomada de decisão, percepção social, inferências


e autopercepção, inclusive temas que ultrapassam o cognitivo,
como julgamento, empatia, atitudes e estados subjetivos envol-
vendo emoção e motivação. Alguns experimentos retratam, por
exemplo, uma relação entre intervenções diretas no corpo e efei-
tos de facilitação ou inibição de processos psicológicos, sugerindo
consonâncias e dissonâncias cognitivo-corporais.

No total, neste capítulo constam quarenta e quatro referên-


cias a pesquisas empíricas e experimentais publicadas em revistas
científicas. Isto não cobre exaustivamente toda a vastidão de pes-
quisas realizadas, algo pouco factível, mas abrange diversos tipos
de fenômenos de cognição incorporada. Agrupamos as pesquisas
de acordo com o aspecto corporal abordado, explicitando os temas
cognitivos envolvidos. Sempre que existentes, foram expostas
em sequência as pesquisas relacionadas, investigando direções
opostas de influência cognitivo-corporal: efeitos corporais cau-
sados por atividades cognitivas, efeitos cognitivos causados por
atividades corporais, e interações entre atividades cognitivas e
corporais simultâneas, indicativas de compatibilidades e efeitos
de interferência positiva ou negativa entre ambos, facilitando ou
dificultando os processos em questão.

Expressões faciais

Partindo das expressões faciais, um tópico popular em CI,


Cacioppo et al. (1986) exibiram imagens agradáveis e desagra-
dáveis aos participantes enquanto realizavam uma eletromio-
grafia da face, monitorando com eletrodos quaisquer mínimas
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 47

ativações de músculos reconhecidamente relacionados a expres-


sões emocionais (corrugador do supercílio, orbicular do olho, e na
bochecha o zigomático maior). Foram selecionadas imagens de
impacto moderado ou fraco que não geravam expressões visual-
mente perceptíveis, e observou-se que as visualizações eram
acompanhadas por microativações musculares correspondentes ao
que evocavam, e estas prediziam com precisão a positividade ou
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negatividade e a intensidade das sutis reações afetivas às imagens,


conforme relato posterior dos participantes em questionários de
avaliação. Uma pesquisa similar foi feita em relação a palavras
em vez de imagens (Niedenthal, 2007).

Já em Strack et al. (1988), os participantes registraram em


escalas suas avaliações humorísticas de tiras em quadrinhos,
enquanto eram induzidos a expressões típicas de alegria ou tristeza
de forma mecânica e inconsciente, ao serem requisitados a segurar
uma caneta entre os dentes ou entre os lábios, com a desculpa de
que a pesquisa investigaria métodos para ensinar paraplégicos a
escrever com a boca. O resultado foi uma diferença significativa
nas médias das avaliações para os mesmos quadrinhos, em cor-
respondência com a expressão facial adotada. Isto indicaria que
a expressão corporal não se restringe a uma função de output
da cognição, mas tem uma capacidade de influenciá-la (como
input) através de um tipo de priming corporal, que facilitaria ou
dificultaria a acessibilidade cognitiva ao conceito de “engraçado”.

A este respeito, Foroni e Semin (2009) descobriram que a


mera exposição às pessoas de verbos associados a expressões emo-
cionais como “sorrir” bastava para obter avaliações de quadrinhos
como mais engraçados. Entretanto, isso não ocorria quando os
participantes seguravam a famosa caneta entre os lábios de forma
a impedir a contração da musculatura do sorriso. Fica em aberto
se a manipulação corporal funcionaria como uma espécie de “con-
tra-priming” ou priming oposto, cujo efeito anularia o do priming
verbal prévio, ou se o corpo teria um papel de mediação no efeito
do priming verbal, sendo através dele que o verbo “sorrir” transmite
seu efeito, o qual é bloqueado se bloquearmos a mediação corporal.
48

O papel corporal regulador das emoções, mais do que mera-


mente expressivo, já é hipotetizado, por exemplo, desde 1872 por
Charles Darwin em The expression of the emotions in man and
animals, e desde 1890 nos Principles of Psychology de William
James. Ambos tratam do fenômeno hoje já bem reconhecido e
aceito como facial feedback (Laird, 1984), com base no qual
Wollmer et al. (2012) realizaram um teste clínico randomizado
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com grupo controle para averiguar uma possibilidade incomum


de tratamento para depressões não responsivas a outros métodos.
Utilizaram a toxina botulínica, cujo uso cosmético para eliminar
rugas tem o efeito colateral de paralisar o tecido muscular, para
restringir expressões faciais de humores deprimidos, e de fato
obtiveram uma confirmação significativa de efeitos positivos.

Outro fenômeno relacionado às expressões faciais é a ocor-


rência de espelhamento interpessoal automático, que se hipotetiza
ser um mecanismo envolvido na percepção social e na empatia.
É mais uma ideia antiga, pelo menos desde 1907 com Theodor
Lipps (apud Zahavi, 2010), muito impulsionada pela recente
mas já popular descoberta dos neurônios-espelho (Rizzolatti
et al., 1996). O espelhamento facial seria ativado ao engajar-se
em interação social, então o feedback facial da expressão espe-
lhada provocaria no indivíduo emoções aparentadas às da pessoa
com quem se interage e espelha.

Em Zajonc et al. (1982), o reconhecimento de expressões


faciais alheias foi consideravelmente prejudicado pelo bloqueio
da capacidade de espelhamento facial, através de mascar chiclete,
em relação ao grupo controle cuja musculatura facial esteve livre,
e a outro grupo, com esforço muscular em outra parte do corpo
que não a face. Um relato impressionante sobre empatia e espe-
lhamento facial foi o de Zajonc et al. (1987), que examinaram
a similaridade de aspectos faciais entre fotos de recém-casados
e dessas mesmas pessoas 25 anos mais tarde. Concluíram que
após 25 anos de convivência houve um aumento na semelhança,
algo não encontrado entre falsos casais criados por recombinações
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 49

aleatórias das fotos. Mais ainda, níveis maiores de semelhança


estiveram associados a relatos de maior felicidade no casamento.

Posturas

Weisfeld e Beresford (1982) observaram a postura de um


grupo de estudantes recebendo suas notas em exames, registrando
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que notas mais altas se associavam à adoção de posturas mais ere-


tas, enquanto notas mais baixas a posturas mais curvadas. Riskind
e Gotay (1982) induziram seus participantes a posturas eretas ou
curvas sob o pretexto de investigar condições fisiológicas con-
forme diferentes posições musculares, e depois os conduziram
a um “experimento separado” em que deviam tentar solucionar
problemas (alguns insolúveis). A postura adotada previamente
afetou a velocidade de desistência dos participantes, de modo que a
postura mais colapsada correspondeu a desistências mais precoces.

Stepper e Strack (1993) também induziram os participantes a


posturas eretas ou curvas sob o pretexto de investigar efeitos disso
na performance em um teste, depois disseram a todos que seus
resultados haviam sido muito acima da média. De real interesse
foi o relato do nível de satisfação pessoal (quantificado em esca-
las) de cada um com seu suposto desempenho excepcional, em
que novamente verificou-se uma diferença conforme a postura.

Em continuidade, Riskind (1984) projetou um experimento


que o levou a resultados interessantes sobre o papel das posturas
na autorregulação emocional, o que chamou de appropriateness
hypothesis. Cruzando diferentes condições de postura (ereta ou
colapsada) e tarefas (possíveis ou impossíveis) de resolução de
problemas, verificou que a postura colapsada, quando inapro-
priada (pareada com o sucesso na solução da tarefa), relacionou-
-se a menores sensações de autorrealização e de autoeficácia, mas
quando apropriada (pareada com a experiência de insucesso),
relacionou-se a sentimentos menores de impotência e desmotiva-
ção, em comparação com o insucesso quando em postura ereta.
50

Desta vez relativo à memória, em outro experimento de


Riskind (1983), os participantes deveriam recordar memórias
pessoais agradáveis ou desagradáveis, enquanto em posturas
e expressões faciais diversas. A compatibilidade ou incom-
patibilidade entre a expressão corporal e o valor afetivo das
lembranças afetou o tempo de resposta, revelando um efeito
facilitador ou dificultador na recuperação de memórias. Desde
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então muitas outras pesquisas foram feitas sobre isso (como


Wilson & Peper, 2004; Dijkstra et al., 2007). Tsai e colegas
(2016) fizeram a mesma investigação utilizando eletroence-
falograma e concluíram que recordar eventos felizes em pos-
tura colapsada requer maior esforço do órgão cerebral do que
quando em postura ereta.

Gestos e movimentos

Algumas pesquisas retratam fenômenos claramente sujeitos


ao contexto cultural, como Wells e Petty (1980), em que parti-
cipantes universitários foram instruídos a realizar movimentos
verticais ou horizontais com a cabeça (como os gestos típicos de
sim e não em muitas culturas), ou nenhum movimento, pensando
que testavam a estabilidade de um novo fone de ouvido em desen-
volvimento. Enquanto isso o aparelho transmitia uma simulação
da rádio universitária, em que o comentador argumentava por
um aumento ou diminuição das taxas cobradas pela instituição
aos alunos. Não só os movimentos afetaram os índices de con-
cordância e discordância com as mensagens, como o movimento
foi acelerado ou desacelerado de acordo com o conteúdo mais ou
menos favorável da transmissão.

Tom e colegas (1991) replicaram a pesquisa anterior, e ao


final do experimento foi oferecida uma caneta de brinde aos par-
ticipantes, que poderiam escolher entre a que estivera à vista em
cima da mesa durante a tarefa motora ou outra que não haviam
visto. Aqueles previamente engajados no movimento “não” ten-
deram a rejeitar a que estivera a vista.
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 51

Outra série de pesquisas inter-relacionadas se refere aos


movimentos de extensão e flexão dos braços. O estudo mais
antigo encontrado na literatura pesquisada é o de Solarz (1960),
replicado por Chen e Bargh (1999), em que os participantes deve-
riam avaliar palavras como positivas ou negativas, indicando
sua resposta através de movimentos de empurrar (extensão) ou
puxar (flexão) uma alavanca. A flexão era mais rápida quando
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emparelhada ao estímulo avaliado como positivo, e a extensão


ao negativo, sugerindo que tais movimentos mecânicos estariam
automática e inconscientemente relacionados a atitudes de aproxi-
mação e evitação/afastamento, mesmo que aparentemente neutros
de afeto e desconexos de interação com o estímulo em si (isto é,
não aproximavam nem afastavam a fonte do estímulo).

Cacioppo e colegas (1993) conduziram seis experimentos


dentre os quais, durante a flexão ou extensão ou neutralidade dos
braços, apresentaram ideogramas chineses, um tipo de estímulo
totalmente neutro, novo e sem qualquer significado para os par-
ticipantes, inquirindo em seguida o quanto os sujeitos gostaram
das imagens, e obtendo médias mais altas associadas à flexão,
e mais baixas à extensão. Concluíram que tais movimentos têm
efeitos discerníveis sobre predisposições a atitudes mais positivas
ou negativas.

Já na pesquisa de Centerbar e Clore (2006), percebeu-se que,


para estímulos já previamente avaliados como mais negativos,
a concomitância com a extensão dos braços, gesto de afasta-
mento, provocava avaliações melhores, exibindo um efeito de
compatibilidade em que tanto o movimento associado a evitação
e afastamento quanto a aproximação podem afetar avaliações
positivamente a depender do fator contextual. Outras relações
encontradas foram entre tais movimentos e a tendência a formar
impressões de estranhos como mais ou menos psicologicamente
semelhantes a si (Nussinson et al., 2010), bem como a acessi-
bilidade cognitiva a conceitos e percepções mais positivas ou
negativas (Neumann & Strack, 2000).
52

Em relação a atenção, pesquisadores encontraram uma asso-


ciação entre o gesto de aproximação e a flexibilidade da aten-
ção (Friedman & Förster, 2005), e entre o gesto de evitação e a
concentração da atenção (Koch et al., 2008). Friedman e Förster
(2010) pesquisaram influências dos movimentos do braço na ado-
ção de diferentes estilos cognitivos de processamento de infor-
mação, encontrando compatibilidades entre, respectivamente,
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flexão/aproximação e estratégias associativas de processamento,


criatividade e insight, e entre extensão/afastamento e estratégias
de processamento mais sistemático e raciocínio analítico.

Entretanto, outras pesquisas revelaram que o efeito de movi-


mentos numa mesma direção poderia ser invertido dependendo do
significado atribuído a eles (Eder & Rothermund, 2008; Markman
& Brendl, 2005). Em Seibt et al. (2008), ao inverter o ponto de
referência para instruir os participantes sobre o movimento em
questão, o efeito de flexão do braço como “trazer um objeto
para si” foi o mesmo que o de extensão quando instruído como
“aproximar-se de um objeto” com as mãos. O mesmo ocorreu
para o inverso: extensão como afastar para longe de si, e flexão
como afastar-se de algo, sugerindo que as pesquisas anteriores
podem ter sido influenciadas pela forma como foram dadas as
instruções, e que o efeito não é puramente corporal, mas envolve
uma conotação implícita do movimento que pode ser variável
conforme a situação.

A associação inconsciente entre linguagem corporal e cog-


nição é bem exemplificada no conhecido estudo sobre efeitos
do priming de Bargh et al. (1996), em que se mediu o tempo de
locomoção de sujeitos para saírem do estabelecimento acadêmico
após o fim do suposto experimento, uma tarefa de formar frases a
partir de certas palavras, cujo real interesse era expor um grupo a
palavras neutras e o outro a palavras relacionadas ao estereótipo
de “idoso” (“velho”, “rugas”, “esquecido”, entre outras, deli-
beradamente excluindo aquelas relacionadas à lentidão). Ter o
estereótipo em mente fez com que as pessoas andassem mais
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 53

devagar. Inversamente, em Mussweiler (2006), a indução disfar-


çada de engajamento em movimentos estereotípicos levou à maior
acessibilidade cognitiva de estereótipos correspondentes, como
foi concluído pela observação de efeitos na tendenciosidade das
inferências e percepções sociais em outras tarefas.

Sensações corporais
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Pesquisando os efeitos de diferentes condições corporais


induzidas e transitórias ou duradouras na percepção visual, em
quatro experimentos Bhalla e Proffitt (1999) encontraram rela-
ções entre percepção da inclinação de colinas (sem qualquer
intencionalidade quanto a performar a ação de subi-las), e o ato
de carregar ou não uma mochila pesada, o estado antes ou após
uma corrida longa e exaustiva, o nível de preparo físico maior
ou menor, e a velhice. Proffitt et al. (2003) revelaram a influên-
cia do peso nas costas também em relação à percepção espacial
de distância.

A sugestão conclusiva foi de que o próprio potencial ener-


gético ou de ação pode influenciar a percepção do ambiente, em
continuidade com a abordagem ecológica da percepção proposta
por J. J. Gibson. Em adição, Riener et al. (2011) encontraram
efeitos de variações no humor e na motivação para a mesma tarefa
de estimativa de inclinação, e Schnall et al. (2008) encontraram
variações significativas de acordo com o suporte social perce-
bido, fosse estando acompanhado por um amigo versus sozinho,
fosse imaginando alguém querido ou neutro ou de quem não
se gostasse.

Tomando o experimento de estar com ou sem a mochila


pesada como referência para uma metáfora, é como se variáveis
psicológicas de afeto, motivação e cognição social pudessem
fazer diferença no “fardo” ou “peso nas costas”, analogia que
fazem Zheng et al. (2015), ao pesquisar e encontrar efeitos do
perdão nas tais estimativas de inclinação, e até na altura do salto
54

que os participantes são capazes de dar num suposto teste de apti-


dão física. Outros pesquisadores exploraram a relação entre peso
literal e metafórico. Kouchaki et al. (2014) demonstraram que a
sensação factual do peso nas costas esteve relacionada com um
maior sentimento de culpa experimentado a partir de estímulos
associados a esse sentimento.
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Jostmann et al. (2009) descobriram que segurar uma pran-


cheta pesada em vez de leve surte efeitos cognitivos em relação ao
conteúdo representado no papel em mãos, como estimar maiores
valores para moedas estrangeiras, atribuir maior importância a
determinado assunto, e mobilizar maior esforço cognitivo sobre
aquilo. E Schneider et al. (2011) realizaram o inverso, dando um
livro aos participantes para estimarem seu peso, e para alguns o
estímulo cognitivo de se tratar de um livro muito importante, o
que resultou em estimarem maior peso do mesmo objeto.

Há muitos outros exemplos deste tipo de pesquisa que inves-


tiga atributos físicos e suas metáforas psicológicas. Uma revisão
abrangente foi feita por Landau et al. (2010) em A Metaphor-
-enriched Social Cognition, em que retomam e levam adiante The
Metaphor: A Psychological Inquiry de Solomon Asch (1961).
Ambas obras têm bastante interlocução com o que se pretende
aqui, mas escapam ao presente foco de experiências exclusiva-
mente no próprio corpo ou relativas a ele, como retratado, por
exemplo, por Lee e Schwarz (2011). Esses autores revisaram
um conjunto de pesquisas sobre sensações de asseio, limpeza ou
higiene, incluindo o ato de lavar as mãos, e suas relações com
mais do que a remoção de contaminantes físicos, mas também
resíduos do passado como culpas por transgressões morais feitas,
incertezas sobre decisões tomadas, crenças de azar ou sorte após
resultados em jogos de aposta, memórias românticas negativas,
entre outras.

Outros tipos de sensação corporal parecem permear ines-


peradamente a cognição social. Williams e Bargh (2008) deram
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 55

copos de bebida fria ou quente aos participantes de seu expe-


rimento e pediram que avaliassem traços de personalidade de
uma mesma pessoa hipotética, obtendo variações significativas
sobre aspectos relativos a “calorosidade” do outro. Inversamente,
Zhong e Leonardelli (2008) reportaram que indivíduos instruí-
dos a recordarem experiências de rejeição social versus suporte
social, em seguida estimaram em média uma mesma temperatura
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ambiente como 5ºC mais fria ou quente, respectivamente.

A respeito de autopercepção e motivação, Hung e Labroo


(2011) realizaram uma série de experimentos envolvendo a con-
tração (versus relaxamento) de diferentes músculos das mãos,
braços e pernas, e efeitos na autopercepção de força, que por
sua vez esteve diretamente correlacionada ao autocontrole em
diversas situações nas quais era preciso suportar um desconforto
momentâneo em prol de ganhos futuros.

Curiosamente, a busca por investigações sobre respiração e


cognição incorporada resultou em apenas um artigo pertinente, de
Varga e Heck (2017). Isto é surpreendente dado à respiração se
tratar de uma atividade indubitavelmente corporal, relativamente
bem pesquisada, com conhecidas relações bidirecionais com esta-
dos fisiológicos e subjetivos, inclusive aplicações clínicas, por
exemplo como técnica para o mindfulness desde os anos 80 por
Jon Kabat-Zinn. Dentre os experimentos analisados, abordam-se
correlações com alguns processos de percepção, atenção, memó-
ria operativa, autopercepção e autorregulação emocional, apa-
rentemente ocasionados por dinâmicas neuronais da respiração,
mais do que relacionados com a função respiratória primária de
troca gasosa e oxigenação do organismo, que também poderia
ser investigada.
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CAPÍTULO 7
ENTENDIMENTOS DA
COGNIÇÃO INCORPORADA
Já em 1936, em La naissance de l’intelligence chez l’enfant,
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Jean Piaget teorizava o desenvolvimento cognitivo como uma


sucessão de estágios sequenciais, dentre os quais o estágio sensó-
rio-motor é o primeiro e mais básico, a partir do qual constroem-
-se os demais até culminarem no pensamento operacional formal.
Entretanto, o foco de Piaget era no desenvolvimento cognitivo, na
abstração das regras do raciocínio lógico, quesito em que a fase
sensório-motora era ultrapassada (Castañon, 2006, p. 222-224).
Um autor da cognição incorporada, o linguista George Lakoff
(2006), igualmente destaca as experiências sensório-motoras
primárias da infância, mas como base para a semântica e a for-
mação de conceitos, portanto para conteúdos cognitivos em vez
de processos. Nesse quesito, as bases experienciais não seriam
ultrapassadas, seguiriam sempre implicadas de alguma forma
mesmo em conceitualizações abstratas, por seu papel constitutivo
destas últimas.

As experiências corporais dos primeiros anos de vida, de


movimentação no espaço, interações físicas e sensorialidade,
forneceriam a base experiencial concreta para algumas centenas
de “metáforas conceituais primárias”, numa associação inicial-
mente formada por co-ocorrências experienciais repetitivas, como
ser segurado no colo e a sensação térmica de calor, origem da
relação metafórica entre afetuosidade e temperatura, que leva a
descrever pessoas como mais calorosas ou frias sem que de fato
haja referência à sua temperatura.

Os dados empíricos apresentados na seção anterior


seriam explicados por metáforas conceituais subjacentes. Por
exemplo, positividade e negatividade seriam metaforicamente
58

conceitualizadas primeiro a partir de uma escala espacial ver-


tical, e por isso posturas mais eretas e movimentos ascenden-
tes implicariam maior acessibilidade de memórias positivas, e
vice-versa. Outras metáforas explicativas de experimentos aqui
relatados são entre moralidade e limpeza, importância e peso,
entre outras. Os primeiros elementos são conceitualizados a partir
de aspectos dos segundos, e guardariam esta conexão com as
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experiências concretas, de modo que manipulações nas condições


físicas correspondentes podem influenciar significativamente o
processamento conceitual mais abstrato, assim como estímulos
cognitivos abstratos podem afetar a motricidade e percepção sen-
sorial implicadas.

Posteriormente Lakoff e Jerome Feldman associaram a teo-


ria de metáforas conceituais a modelos computacionais neurais,
passando a chamá-la de teoria neural do pensamento e linguagem
(Feldman & Narayanan, 2004; Lakoff, 2012), em que o pensa-
mento é entendido como um processo físico executado pelo cére-
bro, cujos significados são dados pelas formas como os circuitos
neurais são conectados ao corpo e envolvidos na experiência
corporal de interação com o mundo, conforme bem ilustra o título
do artigo The Brain’s Concepts: the role of the sensory-motor
systems in conceptual knowledge (Gallese & Lakoff, 2005).

A partir das pesquisas viabilizadas pelo desenvolvimento da


tecnologia e metodologia da Neurociência, especialmente o ima-
geamento cerebral, descobriu-se que durante atividades cognitivas
variadas ativam-se circuitos neurais tipicamente relacionados a
fenômenos sensoriais e motores, mesmo que estes não estejam
ocorrendo. Uma hipótese evolucionista é que ao longo da história
evolutiva as funções cognitivas superiores teriam se desenvolvido
sobre as sensório-motoras mais básicas, reaproveitando circuitos
e regiões cerebrais preexistentes. Assim, áreas sensório-motoras
do cérebro teriam suas funções primárias acrescidas de funções
secundárias, cognitivas, o que passou a ser chamado de reutili-
zação neural (Anderson, 2010).
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 59

Desde então, diferentes publicações sobre a cognição incor-


porada apresentam extensos dados neurocientíficos, de mapea-
mento e imagem cerebral, que indicam não só o envolvimento
de circuitos relativos à motricidade e à sensorialidade (extra e
intracorporal) em representações mentais de objetos concretos,
mas também a aparente raridade de que representações, mesmo
de conceitos abstratos, não envolvam tais ativações (Wilson &
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Foglia, 2017, cap. 5.2).

Na interpretação de Barsalou (2008), uma das mais influen-


tes, e que melhor operacionaliza sua formulação da cognição
incorporada para testagens, a compreensão da linguagem e as
representações mentais se constituem da integração de simulações
no cérebro, de motricidade e sensorialidade (exteroceptivas e
interoceptivas), relacionadas a percepções, estados intracorporais
e afetivos, e interações concretas com objetos, pessoas, situações
e eventos e contextos relativos aos conceitos e conteúdos cog-
nitivos em questão.

Niedenthal (2007), pesquisadora dedicada ao estudo das


emoções e da empatia a partir da teoria de Barsalou, sintetiza
bem o mecanismo com um exemplo: em uma percepção de um
acontecimento são ativadas populações de neurônios das dife-
rentes modalidades sensoriais. Através do mecanismo seletivo
da atenção, são determinados os aspectos mais importantes da
experiência a serem armazenados na memória e fica estabelecido
um padrão de interconexão entre tais circuitos neurais de sistemas
diferentes, específico à percepção ou experiência em questão.
Posteriormente, ao recordar um aspecto de tal acontecimento, por
exemplo a imagem de uma cena ou objeto, o que acontece é uma
simulação parcial da percepção visual original, através da ativa-
ção do mesmo padrão de neurônios da visão. É parcial na medida
em que não chega a constituir nenhuma alucinação visual, apenas
uma imagem mental. Adicionalmente, através das interconexões
estabelecidas na experiência original, por um mecanismo de efeito
cascata são ativados os outros sistemas neurais originalmente
60

envolvidos, relativos às outras modalidades sensoriais, a estados


corporais internos e ações, caracterizando uma tendência natural
do cérebro à reconstituição de padrões.

Vale lembrar que tais simulações podem limitar-se às ati-


vações neurais sem qualquer manifestação ou conscientização,
podem levar a manifestações parciais, como traços de ativação
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muscular, prévios a um movimento que não chega a se manifes-


tar, ou podem até causar manifestações mais completas, como o
processo motor ou muscular de mímica facial que ocorre durante
uma interação social empática. Apesar de uma simulação não
manifesta ser notavelmente desincorporada do corpo subjetivo,
a ativação de simulações puramente cerebrais já seria suficiente
preditiva de predisposições a interferências cognitivo-corporais.
Efeitos facilitadores ou inibidores seriam causados entre estados
corporais iguais ou contrários aos das simulações recrutadas nas
atividades cognitivas em questão.

Assim Barsalou explica inúmeros resultados de pesquisas


empíricas, em que intervenções corporais provocaram efeitos
em atividades cognitivas e vice-versa. Exemplificando, em inte-
rações sociais, a capacidade de decodificar sinais recebidos do
outro estaria relacionada à ocorrência interna de uma simula-
ção, muscular em muitos casos, do comportamento observado.
O reconhecimento de sinais, por exemplo, de alegria, envolve
uma discreta ativação dos músculos faciais usados para sorrir. O
bloqueio dessa ativação (por exemplo, através de uma atividade
como morder, mastigar ou segurar algo com os lábios) prejudica
a velocidade de interpretação de tais estímulos e causa uma ava-
liação de menor intensidade no que eles representam. A capaci-
dade de experimentar, de algum modo, em si o que se observa
externamente estaria ainda associada à empatia. Essa explicação
do processo de ressonância entre indivíduos é endossada pelas
pesquisas sobre neurônios-espelho.

Considerando a bidirecionalidade dessa interação cogni-


tivo-corporal, os efeitos de priming são explicados ao assumir
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 61

que a exposição a um conceito, ainda que subliminarmente,


causa uma resposta cerebral de simulação ou “re-experiências”
de sensações, percepções e processos motores relativos a expe-
riências prévias correspondentes ao conceito em questão, o que
então influencia os posteriores comportamentos, formações de
impressões, e outros processos. Assim entende-se de uma forma
mais consistente porque, por exemplo, no experimento de John
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Bargh e colegas, pessoas se locomoveram mais lentamente após


receberem primings referentes à terceira idade.

Qualquer processamento de informação, formação de con-


ceito, compreensão da linguagem e utilização de conhecimento,
seja evocando uma memória, interagindo socialmente, fazendo
uma inferência ou planos para o futuro, seria realizado mediante
simulações parciais em sistemas sensoriais, somato-sensoriais e
motores, como se o indivíduo se aproximasse de estar na pró-
pria situação, estado emocional ou com o próprio objeto de pen-
samento. Conceitos mais abstratos seriam constituídos a partir
de integrações entre simulações de situações pontuais e ações
contextualizadas típicas, além de estados corporais internos rela-
cionados. Por exemplo, conceitos abstratos como “liberdade”,
“justiça” ou “beleza” seriam concebidos a partir daquilo que já
se experimentou, percebeu e sentiu. A integração de múltiplas
simulações ocasionaria a perda da especificidade e ganho da
generalidade comum aos conceitos abstratos.

Os teóricos da cognição incorporada em geral se posicionam


contra o que consideram a concepção clássica do Cognitivismo:
cognição é processamento simbólico abstrato, situado entre
os inputs sensoriais e os outputs comportamentais, ocorrendo
separadamente desses últimos. Em vez disso, esta perspectiva
pressupõe uma unidade entre mente e cérebro, e a partir deste,
o envolvimento de todo o corpo na construção e utilização do
conhecimento, de modo que sensação, cognição e ação seriam
muito mais permeáveis e integradas. Os símbolos processados
não seriam abstratos, seriam ancorados em sensações (do mundo
62

externo e de estados internos) e ações, tornando explícito o enrai-


zamento da cognição no corpo.

Entretanto, apesar dos dados empíricos surpreendentes


sobre interações cognitivo-corporais factuais, e da ativação dos
tais sistemas neurais na cognição já ser fato estabelecido e bem-
-aceito, um exame crítico revela como permanece a dúvida sobre
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seu significado, função, extensão e relevância para a experiên-


cia subjetiva. Tais posicionamentos teóricos sobre a cognição
incorporada não decorrem diretamente dos achados experimen-
tais, mas de postulados arbitrários, materialistas e radicalmente
empiristas, a partir dos quais os dados são então interpretados.
Como aponta Weiskopf (2007), os circuitos relativos à sensoria-
lidade e à motricidade não são os únicos a se ativarem durante as
atividades cognitivas e representacionais. Poderia ser o caso de
a participação dos sistemas sensório-motores cerebrais não ser
constituinte da cognição e das representações mentais, apenas
acompanhá-las (Mahon, 2015), ou ser constituinte parcial, não
exclusivo e não necessariamente presente em todas as represen-
tações (Goldman, 2012).

Dessa última possibilidade surge a sugestão de gradações


da cognição incorporada, feita por alguns autores, conforme a
revisão de Dove (2016). Neste artigo, Dove concorda que o sig-
nificado das palavras inicialmente é dado por simulações sen-
sório-motoras dos fatos concretos a que se aprende que elas se
referem. Mas, por outro lado, a linguagem torna-se um novo
sistema representacional simbólico em si. Com esse sistema, é
possível realizar múltiplas combinações indiretas entre simula-
ções sensório-motoras, e assim obter novas representações, estas
também recombináveis, viabilizando a representação de conceitos
mais e mais abstratos que repousem cada vez menos diretamente
em simulações sensório-motoras.

Já Mahon e Caramazza (2008) apontam uma confusão entre


os conceitos de “conceito” e “representação”, e argumentam a
favor da consideração de conceitos enquanto símbolos totalmente
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 63

abstratos, cujas representações podem ser variáveis, enriquecidas


e contextualizadas com ativações dos sistemas sensório-motores.
Conceitos referentes a objetos, propriedades ou ações concretas
comumente serão representados através de informações sensó-
rio-motoras específicas, mas para um conceito abstrato como
“beleza”, por exemplo, não há um correspondente imediato no
mundo, e pode haver referentes muito distintos, como paisa-
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gens, pessoas, criações artísticas variadas e ideias. Ao conceito


genérico de beleza é dada flexibilidade e especificidade pelas
representações sensório-motoras que o contextualizam. Assim,
os autores destacam como conceitos interagem com informações
sensório-motoras, podendo ser reconhecidos e expressos através
delas, assim como estruturas sintáticas são expressas com o uso
de elementos semânticos e abstraídas a partir deles.

Por fim, a proposta integradora de mente e corpo analisada


até aqui, aparentemente holística, talvez se baseie num redu-
cionismo materialista, uma vez que há certa indiferença entre
ativação neural e atividade cognitiva que Barsalou explicita ao
afirmar que, por exemplo, o cérebro (não a pessoa) representa
conceitos abstratos (2008, p. 634), e também Lakoff com “thought
is physical” (2012, p. 773). Também a corporalidade realmente
considerada acaba não sendo exatamente a do corpo vivido ou
subjetivo. É a dimensão orgânica, objetiva e impessoal da ati-
vação de certos circuitos neurais. Por um lado, são circuitos
originalmente relacionados ao corpo vivido, e inclusive apenas
demarcáveis através de pesquisas com experiências corporais
concretas. Por outro lado, considerando a possibilidade das ati-
vações neurais ocorrerem na ausência dos eventos qualitativos
originários, decorre que percepções, sensações e ações factuais
deixam de ser centrais.

É preciso cautela, pois a transposição do domínio biológico


para o psicológico não é trivial. A confusão começa ao se omitir
a diferença, por exemplo, entre as pessoas possuírem recorda-
ções e o cérebro possuir recordações, mesmo que se considere
o armazenamento delas no cérebro. Não se pode afirmar que
64

neurônios recordem ou simulem qualquer coisa, pois não é pos-


sível afirmar que eles sequer saibam que estão simulando, nem
o que estão simulando. Relembrando Hacker e Bennett (2003
apud Schaal, 2005), o mais adequado seria que atributos psico-
lógicos não fossem referidos ao cérebro, apenas a seres huma-
nos como um todo. Tampouco pode ser dito que o cérebro tem
sensorialidade ou motricidade, apenas as pessoas, e por sua vez
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o envolvimento dos correspondentes cerebrais desses atributos


com a cognição, que também é propriedade de pessoas e não de
cérebros, ocorre de modo inconsciente e automático.

Todas essas ressalvas são questões em aberto, situadas entre


a Ciência e a Filosofia, importantes para uma compreensão con-
ceitual que se aproxime da verdade, mas ainda distantes do inte-
resse mais pragmático. O interesse em mapear, por exemplo,
quais circuitos se ativam na compreensão da linguagem e a partir
daí discutir gradações de incorporação de conceitos depende de
esclarecimentos sobre as condições em que isso se torna relevante
para o comportamento e a experiência subjetiva. Pouco se discute
em que situações as interações cognitivo-corporais manifestas
são produzidas ou prováveis, com que intensidade, e de acordo
com que variáveis e mecanismos. Esse seria o estudo de outro
tipo de gradações, com maior potencial de aplicação, a que o
próximo capítulo é dedicado, com evidentes limitações por conta
do conhecimento atualmente disponível.

Resguardando o direito à dúvida interpretativa sobre o


conceito de cognição incorporada mas assumindo uma posição
necessária para orientar a análise dos fenômenos de interação
cognitivo-corporal manifesta, uma interpretação hipotética e alter-
nativa, não reducionista, para o entendimento das reutilizações
neurais é corresponderem a memórias implícitas, corporais e não
verbais, de sensações e ações. Trata-se de uma conjectura teórica
que, em si, não se presta à comprovação ou refutação empíricas,
justamente devido à persistência do mistério acerca da tradu-
ção entre processos biológicos e psicológicos. Ela dialoga com
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 65

o conceito de inconsciente cognitivo de Kihlstrom (1987), que


descreve mecanismos e estruturas cognitivas de processamento
de informação a que não se tem acesso subjetivo, e de conhe-
cimento tácito de Polanyi (2010/1966), segundo o qual mesmo
proposições ou ações simples têm seu sentido e execução dados
por muito mais conhecimento do que se pode expressar com
palavras, como de elementos contextuais, afetivos e corporais,
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que permanecem tácitos. A justificativa para tal proposta fica


condicionada a seu valor explicativo, simplicidade e clareza,
verificados adiante.
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CAPÍTULO 8
FUNCIONAMENTOS DA
COGNIÇÃO INCORPORADA
A compreensão da cognição incorporada proposta no fim do
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capítulo anterior pode ser aplicada à contribuição de Körner e


colegas (2015) no artigo Routes to Embodiment, em que buscam
organizar o conhecimento sobre os efeitos observáveis já pes-
quisados da interação cognitivo-corporal, integrando trabalhos
de outros teóricos e sugerindo diferentes mecanismos bidirecio-
nais capazes de operar em conjunto e critérios experimentais
para discriminá-los.

Conforme a proposta de Barsalou (2008) já discutida, per-


cepção e memória são constituídas ou, pelo menos, acompanha-
das de simulações de “re-experiências” e interações concernentes
ao conteúdo cognitivo em questão. Isto é, representações mentais
de objetos, pessoas, situações, eventos, conceitos, ou o que quer
que seja, estariam associadas a memórias implícitas de sensa-
ções e ações, memórias estas originadas de experiências pessoais
como percepções sensoriais, interações físicas e estados corporais
vivenciados em relação àquilo que se evoca na mente. Natural-
mente, esse tipo de associação comportaria maior variabilidade
individual, conforme as habilidades, hábitos e experiências pré-
vias de cada indivíduo.

As memórias sensório-motoras implícitas ativadas em uma


atividade cognitiva podem favorecer disposições correspondentes
para perceber, sentir e agir. Das disposições sensório-motoras
geradas poderiam decorrer não só tendências na percepção do
mundo externo como também, dependendo do contexto, manifes-
tações corporais de fato, como adoção de posturas, gesticulação,
expressões faciais, retesamento ou relaxamentos musculares, e
sensações corporais. Por exemplo, na empatia, a apreensão do
68

estado do interlocutor seria acompanhada de memórias corporais


implícitas, correspondentes ao que se percebe no outro, chegando
a ocasionar reverberações em si, na forma de sensações internas
e até mímica facial, sincronia postural e gestual.

No caso de uma atividade cognitiva e outra motora serem


realizadas simultaneamente, ambas podem ser facilitadas ou difi-
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cultadas conforme as consonâncias e dissonâncias estabelecidas


entre o processo corporal presente e a memória sensório-motora
implícita suscitada pelo processo cognitivo em questão. É o caso
do experimento de Wells e Petty (1980), em que movimentos de
“sim” ou “não” com a cabeça afetaram os índices de concordância
e discordância com mensagens transmitidas simultaneamente,
assim como o movimento foi acelerado ou desacelerado de acordo
com o conteúdo mais ou menos agradável da transmissão.

Conteúdos cognitivos e memórias sensório-motoras tam-


bém podem ser associados indiretamente, como pela linguagem,
por exemplo, às correspondências de afetividade com calor e
de peso com importância. Este tipo de associação, chamada de
metáfora conceitual pelos principais autores que a pesquisam
(Lakoff, 2006), tem menor flexibilidade e variabilidade entre indi-
víduos, é mais culturalmente determinado. Influências cogniti-
vo-corporais são causadas pela acessibilidade a certos conceitos
ser aumentada a partir de ações e sensações relacionadas a ele,
assim como na acessibilidade a sensações e ações ser aumentada
a partir de conceitos em processamento mental.

Assim, memórias implícitas mediariam influências cogniti-


vo-corporais bidirecionalmente, isto é, não só da cognição para
o corpo, também estados e atividades corporais presentes pro-
duzem, por exemplo, maiores acessibilidades a certos conteúdos
cognitivos e disposições a estados subjetivos, por semelhança
com as memórias sensório-motoras associadas a eles. Seria o
caso da estimativa de inclinação de uma colina ser afetada tanto
pelo preparo físico, quanto pelo estado atual de energia ou pelo
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 69

porte de um peso extra (Bhalla & Proffitt, 1999) ou da adoção de


expressão facial de tristeza impactar negativamente avaliações
humorísticas (Strack e colegas, 1988).

Isto ocorre também através de outro tipo de correspondên-


cia, como entre as emoções básicas e as expressões faciais. Esta
se origina majoritariamente de predisposições inatas e comuns
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aos seres humanos, em que atividades e estados corporais estão


naturalmente associados a humores, motivações, estados de cons-
ciência e atenção, e outros determinantes de vieses cognitivos
e estilo de processamento, enfim, estados subjetivos gerais. A
principal contribuição a respeito talvez seja a teoria dos mar-
cadores somáticos, de Antonio Damasio (1996 apud Reimann
et al., 2012), que esquematiza como não só atividades motoras,
mas também estados fisiológicos captados pela sensorialidade
interoceptiva seriam reciprocamente relacionados a emoções, que
por sua vez têm um papel crucial na cognição para avaliações,
escolhas, julgamentos e decisões.

Alterações de humor podem provocar estados corporais


específicos e correspondentes, e a bidirecionalidade se verifica,
por exemplo, na pesquisa sobre uso de botox nos músculos usados
para a expressão facial de tristeza surtir um efeito antidepressivo
(Wollmer et al., 2012). Esta forma de relação cognitivo-corporal
produz um amplo espectro de efeitos, bem ilustrado pelas pes-
quisas relatando o movimento de extensão e flexão dos braços
com efeitos em julgamentos, em tipos de atenção e de raciocínio,
e em tempos de resposta. Conforme Chen e Bargh (1999), tais
movimentos parecem estar diretamente relacionados a estados
motivacionais para aproximação ou afastamento, uma alteração
de estado global capaz de mediar efeitos em diversas atividades
cognitivas. Neumann e Strack (2000) apontam que atividades
corporais não necessariamente induzem estados subjetivos dire-
tamente, mas disposições, cuja manifestação pode ser variável e
depende de contexto, oportunidade e relevância da informação
em processamento.
70

Em suma, experiências pessoais de sensações e interações


corporais originariam memórias sensório-motoras implícitas,
diretamente associadas a conteúdos cognitivos como representa-
ções mentais de objetos, pessoas, situações, eventos, conceitos, ou
o que quer que seja, com que se tenha tido vivências. Tal associa-
ção também poderia ser indireta, por convenções culturais e asso-
ciações semânticas entre uma experiência corporal e um conteúdo
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cognitivo. E por fim, também estados subjetivos, como estados


de humor ou de motivação aproximativa ou evitativa, teriam suas
associações com registros de estados corporais correspondentes.

Todos os tipos de associação cognitivo-corporal aqui rela-


tados são bidirecionais, isto é, de influência mútua entre cogni-
ção e corporalidade. Além disso, são automáticos, não requerem
intencionalidade e podem ocorrer inconscientemente. Entretanto,
não são incontroláveis e inflexíveis, devem ser afetáveis pela
conscientização de estados corporais, inferências sobre eles e
significados atribuídos aos processos motores, além de diferen-
temente ativos conforme circunstâncias, metas pessoais numa
situação, informações disponíveis, entre outras variáveis, ainda
insuficientemente conhecidas. As gradações de manifestações cor-
porais causadas pelas ativações de memórias corporais implícitas
poderia ser articulada, ainda, com a possibilidade de desenvolver
a consciência corporal, que é trazer parcelas da interocepção e
da propriocepção (automáticas, involuntárias e inconscientes) à
consciência e perceber o fluxo de sensações e impulsos motores
no decorrer de qualquer atividade mental e interação social.
CAPÍTULO 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclusivamente, apesar das pesquisas empíricas revelarem
fenômenos antes não contemplados, os processos cognitivos de,
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por exemplo, percepção, memória, atenção, raciocínio, julga-


mento, tomada de decisão e consciência não são explicados de
maneira alternativa pelas teorias da cognição incorporada, cujo
foco é nas interações de tais processos, essencialmente mantidos,
com a corporalidade considerada. Considerando a abordagem
ao estudo da cognição que a divide em conteúdos, processos e
estados (Krüger, 2018), observa-se que nenhuma dessas intera-
ções cognitivo-corporais se dá diretamente com os processos
cognitivos, mas sim com conteúdos e também com estados. Daí
é que decorrem os efeitos da cognição no corpo, e do corpo na
cognição, como vieses, facilitações ou dificultações, de acordo
com as consonâncias ou dissonâncias estabelecidas entre ativi-
dades e sensações corporais com diferentes conteúdos cognitivos
e estados subjetivos.

Logo, não parece justificado tratar a cognição incorporada


como um tipo especial ou diferenciado de cognição. Além de
haver o problema da atual falta de clareza quanto à extensão e
limites dessa interatividade mente-corpo, a necessidade desse
conceito é questionável pelo mesmo motivo que não se utiliza
termos como “cognição emocionada” e “cognição motivada”
para descrever ou enfatizar as interdependências da cognição
com estes outros aspectos da subjetividade.

Mas a consideração empiricamente fundamentada das


influências mútuas entre sensação, cognição e ação revela exten-
são e profundidade antes desconhecidas sobre essa interação.
Assim, justifica-se tratar “Cognição Incorporada” como uma
área temática de pesquisa com muitas possibilidades para futura
72

exploração e aplicação que, a partir da base previamente estabe-


lecida na Psicologia Cognitiva, contribui na direção de melhor
contemplar a complexidade da natureza humana em que múltiplos
fatores coexistem e interagem.

A inovação principal é a respeito da informação a ser men-


talmente processada, as representações mentais, incluindo nelas
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a participação de informações sensório-motoras de forma incons-


ciente e automática, geralmente inacessível, mas em constante
interação potencial com a experiência subjetiva, corporal inclu-
sive. Ainda há muito a ser melhor compreendido sobre essas
interações cognitivo-corporais manifestas. Pouco se sabe sobre
as situações em que elas são produzidas ou prováveis, com que
intensidade, e de acordo com que variáveis e mecanismos. Este
seria o estudo com maior potencial de aplicação, por exemplo, em
saúde, educação, artes, esportes, políticas, ambientes de trabalho,
técnicas de ensino e psicoterapia (ver Gjelsvik et al., 2018). Esta
exploração não foi um objetivo enfatizado aqui, mas a contri-
buição presente para uma fundamentação básica e cuidadosa é
acompanhada pela crença de que, em muitos casos, ela precede,
ou, pelo menos, favorece o desenvolvimento de aplicações res-
ponsáveis e bem-sucedidas.

Até o momento, as pesquisas têm sido mais básicas do que


aplicadas, e generalistas, pouco atentando à variabilidade indivi-
dual nos efeitos observados e possíveis correlações com variáveis
intrapessoais, tais como experiências vividas, motivações, metas,
personalidade, sensibilidade e consciência corporal, condições e
habilidades físicas, valores e crenças relacionadas ao corpo, trau-
mas e doenças, desenvolvimento psicomotor e cognitivo, tensões
cronificadas, dentre outras. Além disto, o escopo de pesquisas
é um recorte específico dentro das relações mais gerais entre
mente e corpo: interações pontuais entre a cognição e processos
sensoriais e motores. Nada foi investigado, por exemplo, sobre
crenças duradouras e padrões corporais como tensões crônicas,
entre outros. Também não são contempladas interações entre a
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 73

cognição e outros aspectos ou processos corporais como regula-


ção hormonal, imunidade, digestão, entre outros. Estas constata-
ções são feitas com o intuito construtivo de apontar um potencial
inexplorado para estudos futuros.

Por outro lado, as pesquisas realizadas em realidade não se


limitam à cognição como processamento de informação, envol-
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vendo também afetividade e motivação, ainda mais notadamente


incorporadas. Estas dimensões da vida subjetiva são contabi-
lizadas sobretudo na acepção mais ampla de cognição como
produção de sentido, em que a corporalidade não costuma ser
considerada. Porém, ao evidenciar como experiências corporais
estão implicadas não só em emoções, humores e motivações mas
também em representações mentais e na linguagem, se enriquece
o entendimento sobre a produção de sentido, pois se aproxima o
sentido, enquanto sinônimo de significado, do sentido, enquanto
aquilo que se sente.
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ÍNDICE REMISSIVO
A
Afetividade 20, 35, 38, 39, 68, 73
Afetivo 50
Afeto 38, 51, 53
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Atenção 19, 33, 37, 46, 52, 59, 69, 71


Autoconsciência 43, 44
Autopercepção 19, 46, 55

C
Categorização 19, 26, 33, 46
Cérebro 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 32, 36, 39, 40, 42, 43, 44, 45,
58, 59, 60, 61, 63, 64, 83
Cognição 3, 19, 20, 21, 22, 29, 30, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39,
42, 45, 46, 47, 52, 53, 54, 57, 59, 61, 62, 64, 67, 68, 69, 70, 71,
72, 73, 77, 78, 79
Cognição incorporada 3, 19, 20, 21, 22, 42, 45, 46, 57, 59, 61,
62, 64, 67, 71, 78
Cognição social 30, 53, 54, 77, 79
Cognitivismo 19, 21, 22, 24, 29, 38, 45, 61, 75, 76
Cognitivo-corporal 19, 20, 45, 46, 60, 62, 64, 67, 68, 69, 70,
71, 72
Consciência 23, 24, 26, 29, 30, 33, 35, 37, 39, 42, 43, 44, 69,
70, 71, 72
Corpo 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46,
47, 48, 54, 58, 60, 61, 62, 63, 68, 71, 72, 78
Corporalidade 22, 39, 45, 63, 70, 71, 73

E
Emoção 19, 20, 37, 39, 44, 46, 48, 59, 69, 73, 80
86

Empatia 19, 46, 48, 59, 60, 67


Esforço 19, 43, 46, 48, 50, 54
Estados subjetivos 19, 37, 46, 68, 69, 70, 71
Experimentos 19, 31, 45, 46, 51, 53, 55, 58
Expressões faciais 19, 43, 46, 48, 50, 67, 69
Exterocepção 42, 43
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G
Gesto 19, 44, 46, 50, 51, 52

I
Inconsciente 37, 38, 44, 47, 52, 64, 65, 72
Inferências 19, 33, 46, 53, 70
Interocepção 43, 44, 70

J
Julgamento 19, 33, 46, 71

K
Krüger 5, 23, 30, 37, 71, 79

L
Linguagem 19, 31, 32, 33, 46, 52, 58, 59, 61, 62, 64, 68, 73

M
Matéria 23, 24, 25, 39
Materialismo 25, 26, 41, 45
Memória 19, 30, 33, 36, 38, 46, 50, 54, 58, 59, 61, 64, 67, 68,
70, 71
Mental 20, 22, 24, 25, 26, 27, 32, 33, 35, 36, 38, 43, 59, 68, 70
Mente 19, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 32, 33, 35, 36, 37, 39,
40, 41, 42, 43, 44, 45, 52, 61, 63, 67, 71, 72, 78
INTRODUÇÃO À COGNIÇÃO INCORPORADA 87

Motivação 19, 20, 35, 38, 39, 46, 53, 55, 69, 70, 72, 73, 80
Motricidade 20, 43, 45, 58, 59, 62, 64
Movimento 19, 24, 29, 32, 39, 43, 44, 45, 46, 50, 51, 52, 53,
58, 60, 68, 69

P
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Percepção 19, 24, 30, 33, 36, 38, 42, 46, 48, 53, 55, 58, 59, 67,
71
Percepção social 19, 46, 48
Posturas 19, 43, 46, 49, 50, 58, 67
Processamento de informação 36, 52, 61, 65, 73
Propriocepção 43, 70
Psicologia cognitiva 22, 29, 30, 31, 32, 33, 37, 39, 72, 77, 78,
82

R
Reducionismo 22, 25, 26, 30, 37, 63
Reducionista 25, 41, 45, 64
Representações mentais 20, 21, 35, 37, 59, 62, 67, 70, 72, 73
Reutilização neural 58

S
Sensação 19, 41, 42, 44, 45, 46, 49, 53, 54, 57, 61, 63, 64, 67,
68, 70, 71
Sensorialidade 20, 36, 43, 45, 57, 59, 62, 64, 69
Sensório-motor 57, 58, 62, 63, 67, 68, 70, 72
Simulação 32, 50, 59, 60, 61, 62, 67

T
Tomada de decisão 19, 33, 46, 71
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização

SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 14 x 21 cm
Mancha: 10 X 17 cm
Tipologia: Times New Roman 11,5/12/16/18
Arial 7,5/8/9
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)

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