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MATERNAGEM E AS POLÍTICAS DO DESEJO: A ARQUITETURA COMO

CORPO

Celia Regina da Silva1


Soraya Nór2

Resumo: É comum a concepção, a gestação, o parto e o puerpério serem em alguma medida vividos
como um “fim do mundo” e demandarem uma elaboração profunda da subjetividade da mãe em
nascimento. Baseando-me nas ideias de insurreição e criação de Suely Rolnik, que aborda o paradoxo
entre as experiências de mundo dadas pelas formas e pelas forças que, díspares e indissociáveis,
geram tensão e desconforto, convocando o desejo para trazer equilíbrio. Este desejo, se logra escapar
da captura do sistema capitalista pelo consumo ou por formas de viver prontas são capazes de
engendrar novos mundos capazes de afirmar a vida. Tomarei aqui meu processo de mãe-artista-
arquiteta-pesquisadora. Venho falar do virtual como existente em potência, o que poderá vir a ser:
não se trata de imagens fotográficas nem vídeos e pode ser simbolizado pela toca do caranguejo.
Basicamente, trabalho com mães recentes o entrelaçamento entre corpo, casa e natureza, a partir do
qual é possível construir um abrigo provisório para trocar a carapaça. Venho falar da mulher recém-
nascida. Daquela que concebeu(-se); gestou(-se); pariu(-se); amamentou(-se) ancorada no território
do corpo, da casa, na natureza. Venho falar da mãe na micropolítica não reativa. Daquela que se
(re)inventa. Da que consegue abrir mão das formas prontas e se sustentar pelo tempo necessário neste
campo instabilidade onde nascem as coisas, e deste lugar, dá nascimento a si mesma.
Palavras-chave: Casa. Corpo. Mãe. Arquitetura

Meu trabalho como arquiteta propõe alinhar, no tempo e no espaço, a relação dos elementos
da natureza, a casa e o corpo a partir da criação de um ambiente onde as novas palavras possam surgir
e uma nova trama possa se reconfigurar. As perguntas que o norteiam são: que fios me vinculam
com a terra? Que fios me vinculam com a água? Com o fogo, o ar, o som, a luz? Que tramas posso
tecer com esses fios? O que pode sustentar o que foi tecido? Para que as respostas se apresentem para
além do já conhecido é preciso ativar o corpo, tirá-lo de seu estado trivial e acionar suas forças, seus
afetos, o que é feito usando rebozo, canto, poesia, respiração consciente, alterações na luz,
concentração em partes do corpo ou escrita.
Chamo essa prática de Preparando o Ninho e ela nasceu do meu conceber-gestar-parir-
amamentar-maternar, quando acessei outras vias de conhecimento além da intelectual, ampliei minha
noção de corpo habitando os 5 corpos descritos pelo yoga, sentindo os 7 centros de energia, tendo
meu corpo habitado por um bebê, passando por um aborto, um parto e uma cesária. Amamentando.

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Doutoranda do Programa de Pós Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina
PosArq/UFSC, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. email celiarq@gmail.com. Bolsista Capes.
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Professora do Programa de Pós Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina
PosArq/UFSC, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. email soraya.nor@ufsc.br
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 12 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X
Entendendo a língua de quem ainda não falava minha língua. Neste processo, pude sentir o mundo
da pele pra dentro fez possível perceber que as qualidades dos elementos que me constituíam eram
os mesmos que formavam o mundo, a natureza. E a casa.
Preparando o Ninho se apresenta como uma resposta à desterrritoralização trazida pela
maternagem; nasce do embate do corpo mole crescido que não pode mais ser comportado pela casca
que ficou apertada, sufocante. Como acontece com o caranguejo, é preciso romper a casa-corpo antiga
que já não abriga, mas aprisiona. Muda é esse processo de perceber o corpo maior que a casca, a
necessidade de trocar de casca, os movimentos para abrir mão do que já não serve até ter a pele fina
exposta, para que ele possa ir calcificando a partir de substâncias do próprio corpo. Esse tempo e esse
espaço (abrigo, toca) foram sustentados nessa relação entre os elementos da natureza que estão no
corpo e na casa. Como arquiteta me coloco como uma toca, guardiã desse tempo-espaço onde se pode
esperar o novo brotar e tomar corpo. Ou como diz Suely Rolnik (2018), para que possam nascer as
palavras: ela lembra que os guaranis chamam a garganta de "ninho das palavras-alma”, porque eles
sabem que embriões de palavras emergem da fecundação do ar do tempo em nossos corpos:

Eles sabem que há um tempo próprio para sua germinação e que, para que esta vingue, o
ninho tem que ser cuidado. Estar à altura desse tempo e desse cuidado para dizer o mais
precisamente possível o que sufoca e produz um nó na garganta e, sobretudo, o que está
aflorando diante disso para que a vida recobre um equilíbrio…(ROLNIK, 2018, p.27)

Guardar esse tempo é fundamental para que o desejo oriente para a criação do que a vida está
pedindo, para que se opere a micropolítica, que é a política do desejo. As palavras nascidas de Maiara
Knihs (2020) explicam:

quando se dá leite a palavra seca um pouco. (…) quando se dá leite o corpo deixa de caber
na casca, sair da antiga carapaça é trabalho árduo, quase nascimento. é urgente criar espaço
para esse novo corpo mole…vou esperando crescer a nova casca. vou construindo com partes
do meu próprio corpo o osso novo. vou encontrando palavras calcárias para engrossar a
minha pele. pele permanente que se sabe temporária. pele dura que carrega algum saber de
moleira.(KNIHS, 2020)

Não parece possível explicar esse processo de forma linear, por relações de causa e efeito. O
que não precisa ser um problema, pois como diz a arquiteta Lina Bo Bardi “o tempo linear é uma
invenção do ocidente, o tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante,
podem ser escolhidos pontos e inventadas soluções, sem começo nem fim” (BO BARDI, 1993,
p.327).
Esse escolher pontos e inventar soluções sugerido por Lina por ter relação com o conceito de
natalidade de Hannah Arendt (2008, p. 190), que derivou a sua idéia de natalidade da doutrina de
Santo Agostinho, segundo a qual “o homem foi criado para que houvesse um novo começo”, que não

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se confundia com o começo do mundo. Segundo a autora, o novo começo é inerente à ação, ou seja,
à possibilidade de cada indivíduo, por meio de sua ação – entendida no sentido de revelação da
identidade e de interação com iguais –, iniciar algo novo. A ação encerra em si a capacidade do ser
humano de optar por um novo começo, de se opor a um determinado estado de coisas e dar início a
uma nova história, de trazer ao mundo algo profundamente novo. Nesse sentido, a vida humana se
desenrola por meio de uma série de nascimentos: ”É com palavras e atos que nos inserimos no mundo
humano; e esta inserção é como um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato
original e singular do nosso aparecimento físico original. ”. (ARENDT, 2008, p. 189)
Mas a casa, assim como a carapaça do caranguejo, pode tanto ser abrigo e expressão do corpo
quanto prisão. E em Hannah Arendt (2008) isso fica expresso pela relação que é dada ao
domésticoque toma o privado como privação:

…viver uma vida inteiramente privada significa, acima de tudo, ser destituído
de coisas essenciais à vida verdadeiramente humana: ser privado da realidade
que advém do fato de ser visto e ouvido por outros, privado de uma relação
“objetiva” com eles decorrente do fato de ligar-se e separar-se deles mediante
um mundo comum de coisas, e privado da possiblidade de realizar algo mais
permanente que a própria vida. A privação da privatividade reside na ausência
de outros; para estes o homem privado não se dá a conhecer, e portanto, é
como se não existisse. O que quer que ele faça permanece sem importância
ou consequência para os outros, e o que tem importância para ele é desprovido
de interesse para os outros. (ARENDT, 2008, p. 68)

Para a autora, a vita activa é composta por três atividades: ação, labor e trabalho, onde a ação
é relacionada à esfera pública e dela depende a condição humana da natalidade, enquanto o labor e o
trabalho estão relacionados à esfera privada, como no pensamento grego.
Neste contexto, como pensar em políticas do desejo quando o assunto é casa e maternagem se
na base do pensamento ocidental está uma construção que polariza a esfera pública e a esfera privada,
colocando as mulheres (e os escravos) como seres pré-políticos por um lado, por exercerem o labor
e o trabalho, e também por serem incapazes de agir por serem consideradas incapazes de discursar,
uma vez que não há discurso sem outros, dos quais ela era privada.
A política ficava circunscrita à esfera pública, o local em que a verdadeira liberdade se
expressava e os sujeitos revelavam a sua identidade a seus pares. A identidade se dá no desempenho
da ação, a única das atividades humanas que se dá diretamente entre os homens, sem a mediação de
qualquer elemento da natureza. Ela é o que caracteriza o homem, o que o distingue dos demais
animais e, por isso, a sua superioridade em relação ao trabalho e à fabricação. “Só a ação é
prerrogativa exclusiva do homem; nem um animal nem um deus é capaz de ação, e só a ação depende
inteiramente da constante presença de outros” (ARENDT, 2008, p. 31).
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Nesse sentido, diferente do labor e do trabalho, a ação é uma atividade humana que não pode
ser desenvolvida solitariamente, em isolamento; ao contrário, “estar isolado é estar privado da
capacidade de agir” (ARENDT, 2008, p. 201). Dado o caráter interacional da ação, ela se encontra
estreitamente ligada à fala, ao discurso, à comunicação, embora com esta não se confunda.
Sendo certo que o propósito da ação é a auto-expressão, ou seja, a revelação do agente para
aqueles com quem ele interage, pode-se dizer que o resultado da ação é a política, entendida, no
pensamento arendtiano, como a interação dos homens, livres e iguais, no espaço público. Desse
modo, assim como a esfera privada era o lócus em que se desenrolava a atividade do trabalho, a esfera
pública se caracterizava como sendo o espaço da ação e da fala, do diálogo.
Neste contexto, entender a capacidade de agir a todos os seres humanos só é possível quando
reconhecemos a atividade do discurso também pertencente às mulheres. E "agir, no sentido mais geral
do termo, significa tomar iniciativa, iniciar (como o indica a palavra grega archein, “começar”, “ser
o primeiro” e, em alguns casos, governar) (ARENDT, 2008, p. 190). Tomo assim a semelhança da
palavra arquitetura (arché: início, origem + tecton: construção) neste sentido de construir um novo
começo, abrigar um novo nascimento, não só no território físico mas também no território existencial,
pela vinculação com o território do corpo, da casa e da natureza pelos elementos, como forma de
insurreição micropolítica, dando corpo a uma política do desejo.
Como diz Ludmila Brandão, a casa “tem sido sempre tratada como o dentro, o privado, o
encerrado. O fora da casa é o “mundo”, é da ordem do público, é o próprio fora.”(BRANDÃO, 2002,
p.34). Habitar a casa, o corpo e a natureza pelos elementos que os compõem escancara o rizoma
formado entre eles, ao mesmo tempo em que rompe com a noção de isolamento da casa, pois ”a casa
pensada como dentro parece não vazar, é casa onírica, como se o mundo não se instalasse nela, ou
ela não estivesse no mundo. Como se não fizesse rizoma com o mundo".(BRANDÃO, 2002, p.35)
Para Hannah Arendt, aparece, no mundo moderno, uma terceira esfera – a sociedade –,
híbrida, “na qual os interesses privados assumem importância pública” (ARENDT, 2008, p. 44).
Opera, também, na era moderna, uma inversão entre as atividades humanas, e o trabalho se sobrepõe
à ação. Essa quebra da hierarquia das atividades tal como arranjada na antiguidade conduz ao
encolhimento da esfera pública como espaço da política, e a sua submissão ao econômico.
Se Arendt aponta a valorização do trabalho em detrimento à ação na modernidade, o que
poderia implicar numa valorização da mulher que estava confinada na esfera que se destinava ao
trabalho, Silvia Federici (2017) conta, em seu Calibã e a Bruxa, como na modernidade o trabalho
feminino foi transformado em recurso natural e depois, em amor, confinando de outra forma a mulher
num lugar de menor valor. Segundo Federici (2017, p.53) na sociedade medieval, as relações

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coletivas prevaleciam sobre as familiares e a maioria das tarefas realizadas pelas servas (lavar, fiar,
fazer a colheita e cuidar dos animais nos campos comunais) era realizada em cooperação com outras
mulheres, nos damos conta de que a divisão sexual do trabalho, longe de ser uma fonte de isolamento,
constituía uma fonte de poder e de proteção para as mulheres. Parir e cuidar das crianças foi durante
toda Idade Média uma atividade compartilhada coletivamente pelas mulheres, especialmente as mais
pobres.
Conforme Federici (2017), a dissociação entre corpo e natureza juntamente com o
estabelecimento da casa e do trabalho feminino como lugar de opressão foi feita pelo
desencantamento do mundo pela ciência moderna. A caça às bruxas promoveu a eliminação da
mulher e da magia, não apenas nas formas, mas principalmente das forças. Sendo assim, a captura se
deu não apenas no plano macropolítico, das formas, mas também no plano micropolítico, das forças,
de como o mundo nos atravessa. Assim, juntamente com as representações sociais da mulher e da
magia e suas consequências, foi capturada a maneira como o nosso corpo entra em contato com o
mundo; foi sequestrada nossa capacidade de nos permitir engravidar do mundo; foi cafetinada nossa
habilidade de criação e nossa disposição de permanecer no desconforto até que germine outro mundo
que acolha o desejo. E abortamos assim, novas possibilidades de mundo.
Rolnik (2018) coloca que o modo de operação da insurreição micropolítica é por afirmação
da vida em sua essência germinativa. Para desertar das relações de poder e não ceder ao abuso da
pulsão, precisamos fazer a travessia do trauma que tal abuso provoca e que prepara o terreno para o
sequestro de sua potência. É esse trauma o que nos faz permanecer enredados na cena das relações
de poder, mesmo que nos insurjamos contra elas macropoliticamente.
Federici (2019) fala da destruição de laços de sociabilidade entre mulheres acompanhando a
mudança no significado da palavra gossip que, de amiga, ou comadre se transformou em fofoca."Na
Inglaterra do início da era moderna, “gos-sip” se referia às companhias no momento do parto, não
se limitando à parteira. (…)denotando os laços a unir as mulheres na sociedade inglesa pré-moderna.
(2019, p.4) A conversa entre mulheres e a fala da mulheres passou a ser desqualificada a priori, ou
mesmo punida e impedida, como pelo instrumento de tortura criado como catigo para as mulheres
das classes baixas chamado “gossip bridle”: "com uma estrutura dessas travando a cabeça e a boca,
as acusadas podiam ser conduzidas pela cidade em uma humilhação pública (…) que demonstrava o
que elas poderiam esperar caso não se mantivessem subservientes". Grada Kilomba (2020, p. 35)
aponta o mesmo artifício conhecido como a máscara de Anastácia, comumente usado em pessoas
escravizadas no Brasil impedindo-lhes a fala.

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Mais uma vez temos a captura da fala da mulher, e o impedimento de que encontre
interlocução, por isolamento ou por desqualificação. Sobre isto, Cixous (1976) orienta as mulheres a
acessar o inconciente, esse lugar onde os reprimidos conseguem sobreviver, pela retomada do corpo,
escrever a partir do corpo:

é escrevendo, por e para as mulheres, e aceitando o desafio da fala que tem


sido governado pelo falo, que as mulheres confirmarão as mulheres em um
local diferente daquele que é reservado dentro e pelo simbólico, isto é, em um
lugar que não seja o silêncio. (CIXOUS, 1976, p. 881)

Suely Rolnik (2018) salienta a importância de fazer a travessia do trauma que nos
despotencializa, nos paralisa e nos faz prisioneiros daquela cena ad eternum. Para isto, é necessário
desertar da cena e desmanchar o personagem da cena é o trabalho micropolítico.
Arrisco-me a pensar numa poética do espaço a partir do feminino e a propor habitar a casa em
sua potência. Identificando os fios que podem nos potencializar e nos conectar com a terra, o fogo, o
ar, a água, a luz, o som em nossos corpos, na casa e na natureza podemos perceber que a casa mora
em nós assim como moramos na casa, e que a natureza não é algo fora. Poder vivenciar isto é uma
forma de restaurar a magia que tentaram queimar no corpo das bruxas, é restaurar um corpo que sente,
um corpo vivo. Também é igualmente necessário identificar os fios que nos aprisionam há milênios,
impedem ou desqualificam nossa fala, nosso trabalho, nossa forma de nos vincular, de ser e estar no
mundo.
E com todos esses fios, compor e recompor novas trama conectadas com a vida, não como
Penélope que tece e retece esperando Ulisses, na Odesseia de Homero. Mas podendo contar uma
nova história, como faz Mônica de Aquino (2018, p. 24): "é a si que Penélope espera".

Referências

AQUINO, Mônica de. Fundo Falso. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2018.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
BO BARDI, Lina. In: FERRAZ, Marcelo Carvalho (Org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina
Bo e P. M. Bardi, 1993.
BRANDÃO, Ludmila de Lima. A Casa Subjetiva: matérias, afectos e espaços domésticos. São Paulo:
Perspectiva, 2002.
CIXOUS, Hélène. The Laugh of the Medusa. Signs, Vol. 1, No. 4. Published by: The University of
Chicago Press Stable URL: https://www.jstor.org/stable/ 3173239 . 1976.
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FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante.,
2017.
FEDERICI, Silvia. A História Oculta da Fofoca: mulheres, caça às bruxas e resistência ao
patriarcado. Boitempo. 2019
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro:
Cobogó, 2019.
KNIHS, Mayara. Ninharia. Florianópolis: Caseira, 2020.
ROLNIK, Suely. Esferas da Insurreição: notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: N-1, 2018.

Maternity and Desire Policies: architecture as a body

Abstract: It is common for conception, pregnancy, childbirth and the puerperium to be lived to some
extent as an “end of the world” and demand a profound elaboration of the subjectivity of the mother
at birth. Suely Rolnik's ideas of insurrection and creation take the paradox between world experiences
given by the forms and forces that, disparate and inseparable, generate tension and discomfort,
summoning the desire to bring balance. This desire, if it manages to escape the capture of the capitalist
system through consumption or ready-made ways of living, is capable of creating new worlds capable
of affirming life. I will take here my mother-artist-architect-researcher process. I come to speak of
the virtual as existing in power, which could be: it is not about photographic images or videos and
can be symbolized by the crab's burrow. Basically, I work with recent mothers to intertwine body,
home and nature, from which it is possible to build a temporary shelter to change the carapace. I come
to talk about the newborn woman. The one who conceived (himself); gestated (up); calved; suckled
anchored in the territory of the body, the home, in nature. I come to talk about the mother in non-
reactive micropolitics. The one that (re) invents. The one that manages to give up the ready forms
and sustain itself for the necessary time in this instability field where things are born, and from this
place, it gives birth to itself.

Keywords: home; body; mother; architecture;

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