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O Diálogo com o Barro: o Encontro com o Criativo

Regina Fiorezzi Chiesa


e-mail: rchiesa@uol.com.br

O contato com a energia da terra desperta a sensibilidade, alivia as


tensões e satisfaz os mais profundos e primitivos instintos humanos da
natureza criativa. É um material vivo que nos coloca em contato com a
natureza e os quatros elementos: terra, água, ar e fogo, despertando a
consciência para a natureza e possibilitando o reconhecimento da nossa
natureza interna (CHIESA; FABIETTI, 1999).
O Homem faz parte da natureza e por várias circunstâncias acaba se
afastando dela e também de si mesmo. Trabalhar o barro é a oportunidade de
resgatar o contato com a natureza, é um re-encontro e um re-conhecimento de
si. (CHIESA, 2004).
O Barro é terra, água, ar e fogo. Ao tocar no barro, o processo começa,
e a terra fria é experimentada aguçando as sensações e aí podemos voltar no
tempo acessando nossas raízes, nossas memórias. Trabalhar o elemento terra
no barro é poder entrar em contato com a nossa terra interna que nos dá
sustentação. É poder enraizar para achar o eixo, o equilíbrio e assim, obter
nutrição e acolhimento. Para Chevalier e Geerbrant (1996) a terra é símbolo da
origem da vida, que sustenta, nutre e acolhe e também é símbolo ligado às
raízes.
A água que contém no barro é responsável pela maleabilidade e
flexibilidade no processo da modelagem.Trabalhar o elemento água no barro é
poder entrar em contato com a nossa água interna, com o movimento, com as
emoções, que à medida que vamos modelando-a, vamos colocando a energia
em movimento. É a fluidez da água que ajuda dar forma às sensações,
sentimentos e pensamentos. Segundo Chevalier e Geerbrant (1996) a água é
símbolo de expansão, fluidez, purificação e fonte de vida e também objeto da
fantasia que acolhe as emoções, a sensibilidade e a intuição.
O elemento ar entra para secar a peça modelada. E é no processo de
secagem que a forma modelada muda de cor, se estrutura buscando uma
solidez interna. É um processo lento e intenso. Trabalhar o ar no barro é se
dar conta do ar que respiramos, do nosso potencial criativo, do poder de
criação que ao comunicar liberta. Quando estamos inspirados ficamos mais
perto do nosso ser criativo. Chevalier e Geerbrant (1996) nos diz que o ar é o
símbolo de liberdade, de criação e de comunicação.
A peça modelada está pronta para ser comunicada e colocada no forno
alquímico é então o momento do elemento fogo entrar em ação para
transformar o barro em cerâmica. Trabalhar o elemento fogo no barro é se
conscientizar que a matéria mudou. Há uma mudança interna significativa.
Para Gouvêa (1989) levar uma peça ao forno é não saber com precisão
absoluta qual será a reação da matéria. “Esse é um momento de grande
emoção, de pura emoção. É o momento do fogo da emoção e no homem, só
há vida onde há emoção” (p.73). No forno tudo pode acontecer inclusive, a
peça explodir (GOUVÊA, 1989). O fogo é símbolo purificador, regenerador e
transformador, o fogo ilumina, mas também pode destruir (CHEVALIER E
GEERBRANT, 1996).
Vivenciar os quatro elementos da natureza no barro é possibilitar o
encontro com o criativo desde o momento de tocar, de sentir a massa, de
dialogar com ela até dar forma às sensações experimentadas, às emoções
escondidas e às imagens em ação (CHIESA, 2004).
É no contato com a massa fria, escura que entramos no espaço silêncio
do barro para “dar forma à verdade interior, libertando o ser das amarras do
mundo imaginário restrito. A energia em movimento amplia consciência e
resgata a vocação da alma” (CHIESA, 2004, p.105)
O diálogo dos quatro elementos no barro faz a energia fluir abrindo-se à
fonte energética da natureza. Para que haja uma conexão com o ritmo da
natureza é preciso deixar a energia em movimento, em ritmo de criação para
expandir a consciência, uma consciência ecológica que sustenta o emocional,
que liberta e transforma a matéria.
O homem pensa porque tem mãos” (Bachelard,1985, p.XIV)

“O espírito faz a mão, a mão faz o espírito. O gesto que não cria, o gesto
sem amanhã provoca e define o estado de consciência. O gesto que cria
exerce uma ação contínua sobre a vida interior. A mão arranca o tato de sua
passividade receptiva, ela o organiza para a experiência e para a ação. Ela
ensina o homem a se apropriar da extensão, do peso, da densidade, do corpo.
Criando um universo original, deixa em todo ele a sua marca. Mede forças com
a matéria, que transforma, e com a forma, que transfigura. Educadora do
homem, ela o multiplica no espaço e no tempo”(Focillon, 1983, p.156).
Todo o corpo está nas mãos e através delas entramos em contato com o
material inconsciente da psique transformando em produções e expressões.
As mãos conseguem dar forma às imagens. Imagens muitas vezes
fortes que são dificéis de serem verbalizadas.
O encontro mãos com o barro – emoção solidez - forma - energia que
flui.
A sensibilidade que um objeto feito à mão nos transmite poderá ser
aprofundada indo muito além da questão estética e funcional. Ele tem alma. Da
natureza secreta do barro percebe-se também um revelar e esconder. A
concretude do barro desperta a psique de quem o manuseia e algo do próprio
existencial do indivíduo acaba por revelar-se sem que agrida o seu silêncio,
sem expor sua alma, seus medos. A revelação se dá no processo, o brilho
cresce ao aproximar-se do centro da alma e só verão “aqueles que tiverem
olhos para ver.” (Gouvêa, 1990)
A sensibilidade que um objeto feito à mão nos transmite poderá ser
aprofundada indo muito além da questão estética e funcional. Ele tem alma. Da
natureza secreta do barro percebe-se também um revelar e esconder. A
concretude do barro desperta a psique de quem o manuseia e algo do próprio
existencial do indivíduo acaba por revelar-se sem que agrida o seu silêncio,
sem expor sua alma, seus medos. A revelação se dá no processo, o brilho
cresce ao aproximar-se do centro da alma e só verão “aqueles que tiverem
olhos para ver.” (Gouvêa, 1990)
A sensibilidade que um objeto feito à mão nos transmite poderá ser
aprofundada indo muito além da questão estética e funcional. Ele tem alma. Da
natureza secreta do barro percebe-se também um revelar e esconder. A
concretude do barro desperta a psique de quem o manuseia e algo do próprio
existencial do indivíduo acaba por revelar-se sem que agrida o seu silêncio,
sem expor sua alma, seus medos. A revelação se dá no processo, o brilho
cresce ao aproximar-se do centro da alma e só verão “aqueles que tiverem
olhos para ver.” (Gouvêa, 1990)
Tocar, sentir, amassar, bater, beliscar, apertar o barro, é o momento que
nos permite entrar em contato com ele, dialogando e ordenando as idéias.
Costuma ser uma oportunidade para novas descobertas, além de ser uma
atividade prazerosa que amplia possibilidades criativas.
Você pode se relacionar, entregar-se, redescobrir-se, sentir e
transformar, modelando as sensações, os sentimentos, os pensamentos e as
esperanças.
Trabalhar o barro de forma criativa pode ser um caminho para a
revelação das potencialidades, onde cada indivíduo tem a oportunidade de se
apropriar dos seus conhecimentos. “Quando essa porta se abre, o colorido do
mundo se modifica e, ao entrarmos em contato com esta realidade,
descobrimos o caminho da cura de nós mesmos e do mundo” (Ferretti, 1994,
p.13).
Zaluar (1997, p.8) compartilha a explicação de um ceramista do Vale do
Jequitinhonha, Minas Gerais, Ulisses Pereira Chaves que diz: “O lugar onde
trabalho é um santuário, aqui acontece um milagre, um mistério, as peças vão
nascendo, tem aqui coisas invisíveis, uma espécie de respiração que existe”. A
autora completa que, nas peças de Ulisses, há um misto de homem racional
com o instinto animal e que, ele diz que tira a energia das estrelas e da terra.
Para ele criar é puxar oxigênio, é andar com os pés na terra tirando energia
para fazer as peças enquanto conversa com as aves, com as plantas, com a
natureza, com as montanhas e com a lua cheia. Ele diz ainda que só faz aquilo
que vê, ou seja, “[...] as peças estão invisíveis na sua frente, só faz passar para
o barro” (p.12).
O trabalho com o barro (argila) convida para um diálogo interno que
quando realmente toca, traz o que há de mais precioso: a verdade do ser.
O Contato

O contato direto com o barro promove várias sensações. Percebo que à


medida que a pessoa vai manipulando a massa e experenciando as
sensações, algo acontece com a sua energia, como se, aos poucos, a pessoa
fosse tanto relaxando como ficando excitada. Dependendo do momento de
cada pessoa, de sua história pessoal e de sua necessidade, ela pode relaxar
ou ativar a energia. Segundo Kagin e Lusebrink (1978) e Lusebrink (1992), o
indivíduo pode perceber o seu potencial energético quando em contato com as
sensações.
Para Païn e Jarreau (1996) a primeira experiência com a argila é rica em
ensinamentos trazendo à tona as experiências emocionais e para Gouvêa
(1989) “a criação interna se encontra, então, no devenir ardente dos ecos
vindos do barro e se materializa no objeto criado” (p.58).
Sensações, sentimentos e imagens aparecem quanto mais profundo for
o contato. Depois do estímulo sensorial, vem o momento de dar a forma e o
resultado da experiência vivida começa a se definir. A percepção visual da
forma faz com que a pessoa tenha a possibilidade de elaborar aquilo que
apenas sentia no contato com o barro.
A imaginação criativa será a força ordenadora, coordenadora,
baseando-se na necessidade interior do artista de realizar este conteúdo
expressivo e de comunicá-lo do modo mais direto, sem perder sua riqueza
e densidade” (OSTROWER, 1995 p.36).
O silêncio interno é quebrado (Robbins,1996).

A metamorfose

Esse é um trabalho bem dirigido que tem como intenção aflorar a


criatividade, fazendo um mergulho nas origens. Nesse mergulho interno, as
emoções que aparecem podem ser elaboradas e transformadas.
Segundo Gouvêa (1989) quanto mais primitivo for esse encontro, mais
rapidamente conteúdos internos emergem tornando-se conscientes. E, nesse
mundo desconhecido de barro e homem, que se fundem, “[...] traz à tona uma
nova vida, uma nova imagem, uma eterna imagem. Esse encontro é arte. É
criação” (p.30).
Para fazer o encontro com o criativo é importante transitar pelas
polaridades, perceber a luz na escuridão da terra que, segundo Gouvêa (1989),
a noite mais escura é quando a lua se aproxima do sol, ou seja, na fase da lua
nova e não da lua cheia, sendo assim, o autor completa que “[...] é no ventre
do barro que o sol e lua se unem num silêncio criativo” (p.63).
As explosões energéticas buscam uma nova orientação
(Robbins,1996).

O processo

O objetivo é poder fazer um reconhecimento de si, estando atento a


cada etapa. Segundo Allessandrini (2000), um convite para o indivíduo poder
se reconhecer tanto no contexto social quanto cultural.
A intenção dessa observação pode gerar uma participação mais ativa e
mais consciente na vida.
Sabetti (1991) descreve a energia igual matéria, mas também, igual
forma, força, consciência, curvatura espaço/tempo e totalidade. Para chegar a
essa conclusão, o autor baseou-se no conceito essencial de energia de que
tudo é inteiro por natureza, que todas as formas e processos quando
manifestados integram-se em uma unidade organizada que perde a sua
totalidade, se for dividida. Segundo o autor, esse conceito de energia é
apropriado para descrever como funciona a totalidade no mundo da física, e
dessa forma, na vida cotidiana de todos nós, porque a energia está em toda
parte e não é possível separar-se dela.“A matéria é uma expressão de energia
que foi trazida à forma pela influência intensa de um campo” (p.111).
Dentre as várias manifestações da energia, Sabetti (1991), destaca as
emoções. O autor explica que as emoções são processos energéticos, pois, no
pico da expressão da emoção ocorre uma descarga de energia igual ao
orgasmo no ato sexual, sendo assim, as emoções ajudam a descarregar o
excesso de energia acumulada em um determinado período, tendo uma função
homeostática que integra corpo e mente. “Emoções são ondas expressivas de
energia que têm um significado distinto para nós em termos do entendimento
de nós mesmos e de nossos caminhos” (p.160). Para o autor, as pessoas
desconectadas de suas emoções estão, na verdade, desconectadas de si
mesmas, separadas da totalidade, sem um eixo claro no processo de
desenvolvimento.
As sensações experimentadas no diálogo com o barro ampliam a
percepção, ajudando as pessoas a se conscientizarem mais do seu processo
individual tendo a oportunidade de se tornarem artistas da própria vida,
vivendo-a de forma mais criativa.
Fiamenghi (2001), define a emoção como uma mediadora que serve de
ponte entre o organismo e o ambiente. Destaca duas funções importantes com
relação à emoção: uma é avaliar os estímulos internos e externos para o
organismo e preparar reações comportamentais como respostas a esses
estímulos, e a outra é a de facilitar a aprendizagem.
No ato de modelar, o corpo também está presente nas mãos. Conforme
a mão arranca o tato de sua passividade, as emoções emergem mobilizando
uma ação carregada de sentidos. É nesse momento que emoção e cognição
interagem, quando se pode concretizar uma imagem interna de modo
significativo e algo é aprendido.
Allessandrini (2000, p. 256) complementa que a alegria da constatação
integra corpo e mente, afeto e cognição, em um movimento sensível e mental,
criador de um sentido maior. É extraordinário como se pode observar a
interdependência presente na energética afetiva que nutre a ação cognitiva
(portanto, mental), com simplicidade e pertinência.
É com a sensação de alegria e satisfação que tocamos no nível criativo.
Uma sensação de plenitude, de muita energia, de maior consciência de si e de
presença amorosa para celebrar a vida.
Capra (2002) aponta para um conceito mais ampliado de cognição,
identificando-a com o processo do viver, ou seja, cognição envolve todo o
processo da vida. Para a ciência, segundo o autor, é uma idéia nova, mas ao
mesmo tempo é uma das mais profundas e arcaicas da humanidade; na
opinião do autor, é a primeira teoria científica que supera a cisão cartesiana
entre mente e matéria, colocando as duas como complementares do fenômeno
da vida, processo e estrutura. “A começar com a célula mais simples, a mente
e a matéria, o processo e a estrutura, acham-se inseparavelmente unidos”
(p.53).
A energia começa a fluir e o ritmo fica mais acelerado quando as
formas comunicam suas necessidades (Robbins,1996).

O mundo

A intenção é entrar no mundo, sair dele, ir fundo para descobri-lo e senti-


lo. Poder expandir e retrair o mundo fazendo movimentos de abrir e fechar.
O objetivo é dialogar com esse mundo interno a partir das sensações,
dos sentimentos e das imagens que possam aflorar. É o momento de
apropriação do potencial criativo, de incorporar a experiência, de conhecê-la
por dentro, em um lugar onde forma e conteúdo se completam (Ostrower,
1995). A forma inspirada ou imaginada traz à tona conteúdos que, à medida
que vão interagindo, provocam transformações. Conforme, Allessandrini
(2000), algo significativo acontece, o sujeito de posse da sua forma pode
dominar os conteúdos transformando-os em um significado (conteúdo)
significante (forma).
Allessandrini (2000) aponta que o dinamismo dialético permeia a
evolução, sendo assim, o novo apresenta contornos inusitados e vibrantes
onde “[...] afetivo e cognitivo expressam o ‘conluio’ psíquico criador de idéias e
novas articulações” (p.262).
Gouvêa (1989) aponta para momentos de maior beleza, em que o barro
vai se tornando um companheiro de viagem, inaugurando, avançando e
aproximando o contato com o criativo. Momentos de presença, de concretude e
de criação acontecem. Ciclos abrem e fecham e vão da terra para a água, da
água para o ar, do ar para o fogo e do fogo retornam para a terra. Uma espiral
dialética circula permitindo que uma nova ação instale-se.
Para Ostrower (1998), o ser humano tem constantemente a capacidade
de criar contextos de forma espontânea, sem muitas vezes dar-se conta disso.
No entanto, essa é a base dos processos de percepção, que por sua vez,
constituem a base de todos os processos criativos. Assim, os contextos servem
de referência para que possamos compreender aquilo que é percebido.
Portanto, perceber é entender, é atuar de forma ativa. Para a autora, a
criatividade é inerente ao ser humano, um potencial que precisa ser realizado,
ou melhor, uma necessidade existencial. O homem não só pode criar como
precisar criar, ou seja, dar forma às coisas para depois entendê-las.
Criar, formar, dar uma forma às coisas não depende necessariamente
da capacidade de verbalizar ou conceituar. Depende, sim, de um senso interior
de forma, de equilíbrio e justeza das formas, enfim, depende da sensibilidade
conscientizada, ordenada, significadora do ser humano. De suas profundezas
afluem a intuição e um sentimento de empatia com a matéria, a qual, ao ser
transformada, vai sendo formada (OSTROWER, 1998, p.266).
Ostrower (1998), aponta que as emoções e reflexões são conteúdos
expressivos, portanto subjetivos, que para poderem comunicar precisam ser
objetivados, ou seja, configurados, elaborados e estruturados de forma que
possam ser traduzidos para uma linguagem acessível. O que a autora comenta
acima nada mais é “o como funciona” o processo criativo. Um processo
concreto que cria formas a partir de expressões internas que, compreendidas
intuitivamente, passam a ter um sentido maior promovendo um novo
conhecimento, ampliando a consciência. Essas formas expressivas
comunicam-se através de uma verdade interior com as suas tensões, vibrações
que comovem pela autenticidade que Ostrower (1998) chamou de beleza
essencial.
Há um aumento na excitação e a energia precisa ser canalizada
para que os impulsos possam ser sustentados (Robbins,1996).

Parte e todo

Essa técnica consiste em fazer rolinhos ou cobrinhas com a argila.


Depois vem a etapa da junção dos rolinhos para que uma nova forma possa
surgir.
A intenção é que cada rolinho represente um aspecto interno da
pessoa. A cada novo rolinho que o participante vai juntando permite emergir
uma forma que traz, em si, sua totalidade.
O objetivo é poder ter essa percepção de totalidade. Rhyne (2000), em
seu trabalho de arte e gestalt-terapia, usa essa abordagem para explicar a
habilidade de perceber configurações totais, “[...] como uma totalidade das
muitas partes que, juntas, formam a realidade que você é” (p. 44). A integração
das partes dá uma noção de todo, que Ostrower (1998) completa como uma
experiência que pode trazer uma síntese de uma nova ordem com novas
qualidades que ampliam a percepção: “Assim, em nosso perceber formam-se
continuadamente partes e totalidades e novas partes e novas totalidades”
(p.77).
Rhyne (1996) entende que, em arte, as formas emergem da experiência
criativa individual e também que o artista sabe que a relação das partes no
todo, em qualquer forma, cria um algo significativo. Para a autora, a noção de
parte e do todo não existe separadamente, porque pressupõe uma inter-
relação entre a forma do objeto e o processo de quem a percebe, chegando,
assim, às totalidades que mudam à medida que novos relacionamentos são
estabelecidos. É um processo contínuo que acontece na maneira de se
compreender as coisas. Quando há coerência entre parte e todo, há lógica
interna.
Para Ostrower (1998), o mais importante quando se quer falar de beleza
essencial é poder estar diante de ordenações carregadas de significados, ou
seja, diante da beleza de uma verdade. Uma beleza onde se encontra a
verdade repleta de significados. Pode-se criar esse tipo de beleza por se ter
permitido explorar as suas potencialidades. Essa beleza sentida através da
forma traz o que cada um de nós tem de melhor. A verdade da beleza penetra
no coração, o que torna possível contemplar a criatividade humana, assim
como a grandeza de seu espírito.
O homem cria a todo instante para poder entender as coisas, mas, nem
sempre se dá conta de quão extraordinário é esse momento. Segundo
Ostrower (1998), o verdadeiro momento criativo toca a sensibilidade, a
imaginação e a inteligência. Com a percepção mais aguçada, mais conteúdos
significativos são gerados e, assim, o horizonte interno é ampliado,
transformado e cada um pode crescer na vida consolidando a sua identidade.
Ostrower (1998) - formas expressivas comunicam-se através de uma
verdade interior – beleza essencial – beleza onde se encontra a verdade
repleta de significados que permite explorar as potencialidades.
A excitação anterior toma forma, há uma desaceleração para poder
estabilizar e ancorar o indivíduo (Robbins,1996).
A Construção

O objetivo do trabalho é permitir construir e estruturar o que foi


aprendido. Essa técnica promove a idéia de construção observada por Païn e
Jarreau (1996). Cada um tem a oportunidade de se tornar mais consciente de
seu processo no contato com suas sensações e seus sentimentos, trabalhando
a sua presença e o estar no mundo com uma consciência criadora, como nos
aponta Allessandrini (2000) quando acrescenta que, viver de forma criativa é
deixar emergir o que temos de melhor.
A intenção desse exercício é estruturar, criar um eixo a partir de uma
base que o sustente.
Aumento do poder da expressão favorecendo a fluidez e a presença
da pessoa (Robbins,1996).

Conclusão

Para explicar o caminho da energia, no diálogo com o barro, desde o


momento da liberação da emoção até a comunicação e a elaboração, trago
Robbins (1996), que fez um estudo sobre o ciclo de mudanças, seu ritmo e sua
integração. Em sua pesquisa, constatou que o processo de mudanças poderia
ser concebido em seis estágios distintos: sonhar, criar, comunicar, inspirar,
solidificar e realizar. Cada um desses estágios explora o potencial criativo e
energético à medida que as emoções são expressas.
O objetivo do autor é estimular a consciência do ciclo de mudanças em
si sugerindo uma forma de integração em suas fases, no intuito de que cada
pessoa encontre uma vida mais plena e mais completa.
O autor dá ênfase à dinâmica da energia do ciclo rítmico. Explica que a
base de mudança do ciclo depende do movimento de energia no nosso corpo.
O movimento da energia configura cada fase que contribui para o todo, o ciclo
rítmico de mudanças.
Quando vivemos plenamente, uma quantidade crescente de energia
move-se através dessas fases psicofísicas, cada uma por seu turno, até que se
atinja um clímax. Então, não mais podendo ser contida, a energia é liberada.
Da pausa que se segue, um novo Ciclo Rítmico se inicia. (ROBBINS, 1996,
p.29).
A fase dos sonhos como também a do contato, há um baixo nível de
energia, tudo acontece dentro. A energia será ativada a partir do sonho ou do
contato com o barro e aí o silêncio interno será quebrado.
A fase criativa e a da metamorfose são marcadas pelas
transformações e explosões energéticas que buscam uma nova orientação.
A fase do comunicador e também a do processo, a energia começa a
fluir pelo estímulo que o corpo recebe para comunicar-se com o ambiente. O
ritmo fica mais acelerado quando as formas comunicam as suas necessidades.
A fase do inspirador e a do mundo, onde a energia acumulada acaba
por incendiar em energia real. Há um aumento na excitação, na esperança e
na quebra de barreiras. No entanto, essa energia precisa ser canalizada para
que os impulsos possam ser sustentados.
É na fase do solidificador, de parte e todo, que a excitação anterior vai
tomar forma. Há uma desaceleração para poder estabilizar e ancorar o
indivíduo.
Para finalizar vem a fase do realizador e a da construção, em que fica
nítido um aumento do poder da expressão por todo o corpo, favorecendo a
fluidez dos movimentos, além da presença da pessoa realizada. (ROBBINS,
1996)
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