Você está na página 1de 2

Safra:

A criatividade é compreendida por ele como a habilidade de criar o mundo.


Toda a questão da constituição do self e da subjetividade centra-se no uso da imagem,
da forma sensorial, que apresenta o estilo de ser do indivíduo, em gesto criador do
outro e do mundo.
Crie o mundo: somente o que você cria é que possui significado para você. A seguir,
vem: ‘O mundo está sob seu controle.’ A partir dessa experiência de onipotência
inicial, o bebê está apto a começar a experimentar a frustração, e mesmo chegar,
certo dia, ao outro extremo da onipotência.
Exemplo do menino com ecolalia: a presença do terapeuta devolvendo a melodia fez
reconhecê-lo como ser e como presença singular no mundo. A sonoridade era a
maneira peculiar deste garoto de criar o objeto subjetivo. Era na sonoridade que ele
tinha possibilidade de se constituir. Repetir o perfil sonoro que ele emitia era ecoar a
singularidade de sua existência. Ecoar a sua sonoridade era possibilitar que o paciente
encontrasse ou reencontrasse a sua criatividade primária, era o estabelecimento do
objeto subjetivo que daria ao paciente a condição de encontrar o gesto criador, o
suporte para surgimento de uma vida pulsional pessoal. Tenho observado que cada
pessoa constitui o seu self e a sua maneira de ser, por meio de determinada forma
sensorial que ganhou predominância no mundo do bebê que ele foi.

FUNÇÃO DE ESPELHO
Função exercida inicialmente pela mãe.
O reconhecimento do outro possibilita a sua própria existência enquanto ser.
É o ato do terapeuta devolver ao paciente o que ele traz de si mesmo. Essa
experiência de caráter estético traz ao paciente uma experiencia de satisfação, de
encanto, de alegria ou de beleza.
O reflexo especular (Winnicott,1967) fornecido pelo outro abre a possibilidade de o
paciente encontrar a si mesmo e, ao mesmo tempo, ao outro.
A experiência de encanto anuncia o emolduramento de aspectos fundamentais do self
do paciente, que aguardavam a possibilidade de vir-a-ser.
O encontro com qualidades estéticas abre inúmeras possibilidades de
desenvolvimento para a criança, iniciando também o surgimento de formas que
apresentarão o estilo de ser do indivíduo, elementos que estamos denominando
símbolos de self.
No encontro humano, em que a experiência estética inaugura a possibilidade de existir
como ser frente a um outro, dando ao indivíduo em uma capacidade de articulação de
símbolos de self, constituindo o seu existir em seu estilo singular de ser.
Ao longo do desenvolvimento do indivíduo há um processo contínuo de criação
destes símbolos de self. Mãe e pai fornecem à criança, com suas presenças vivas, um
campo simbólico, um repertório simbólico e, após, os símbolos do self vão ser
encontrados no campo cultural. Inicia-se um movimento simbolizante.
Ao ser possível o acontecimento do processo de criação de símbolos do self em uma
relação intersubjetiva, há o aparecimento da experiência estética. No jogo de
especularidade, a partir do momento em que o indivíduo é reconhecido pelo outro, o
mundo pode ser criado e pode vir a ser conhecido com satisfação.

Após um processamento satisfatório11 da identificação projetiva, o conteúdo que antes era


insuportável para o psiquismo do indivíduo torna-se disponível para reintrojeção, tendo sido
modificado pelas capacidades mentais e continentes do objeto que o recebeu. A relação que
fortalece o ego e os seus recursos psíquicos, promovendo as sensações de segurança e bem-
estar no contato com o mundo externo, é em si mesma terapêutica.

--------------------------

Função especular é experiência de reconhecimento de si no outro. É a possibilidade


de existir frente ao outro, dando ao paciente a capacidade de criação articulação de
símbolos do self. A partir desse reconhecimento, para o paciente, o mundo pode ser
criado, constituindo também o seu existir em seu estilo singular de ser.

________________-

CHAUI

Para aquelas que utilizam a teoria winnicottiana isto surge no discurso como a mãe
suficientemente boa que acolhe, sustenta, oferece condições para que o paciente, em um
ambiente favorável, se desenvolva. Não é esperada do at uma intervenção interpretativa,
mas esperase que ele seja capaz de “escutar” aquele que geralmente ninguém escuta.
Natureza afetiva do vínculo, que é e deve ser estabelecido pelos ats. Esse vínculo, na
época das comunidades terapêuticas, era visto como o que propiciaria um ambiente
acolhedor e, portanto, terapêutico ao paciente. Na fala de nossas entrevistadas o vínculo
surge como o elemento que propicia um “encontro transformador”. Assim, permanece a
idéia de que é a afetividade que permitirá a criação de um “ambiente terapêutico” ou de
um “encontro transformador”.
Entretanto, essas redes, de maneira geral, não são coisa dada, elas precisam ser
construídas e entendemos que seja papel do at ajudar nessa construção. É pela criação
dos projetos de vida elaborados com os pacientes, projetos estes que, por sua vez,
surgem da escuta atenta dos desejos, que o at irá contribuir para a formação das redes.
O at busca a criação de vínculos entre o paciente e seu entorno. Ou seja, para nós a
construção de redes é a construção de vínculos, construção de relações que, como
vimos, é o que dá ao sujeito identidade, sentimento de pertença, sentido para a vida.

Você também pode gostar