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Formação Plena em Gestalt-Terapia – Turma 2023

Disciplina: Teoria do Contato II – Fronteiras e Funções de Contato


Professor: Célia Cristina
Assistente de Turma: Elizandra M. Martins
Aluno: Waleska Rosa Pomagerski
Data da Entrega: 12/01/2024

“Como você identifica o Sistema Self na sua prática clínica ou na sua vida pessoal?”

O Self, na Gestalt-Terapia, não é entendido como uma estrutura fixa, ele é um sistema
que está no contato, existindo sempre que houver uma fronteira. O self não é da pessoa, ele
ocorre na fronteira de contato; ele é o próprio contato, a fronteira em funcionamento. Sendo
assim, como nós, o self está em constante atualização; modificando-se a cada novo ciclo.
Então, antes de identifica-lo na vida pessoal ou na prática clínica, creio que seja importante
discorrer sobre ele.
No tempo cronológico ocorrem as dinâmicas do self (pré contato, contato, contato
final e pós contato). E cada uma solicitará, no espaço, uma das funções do self (ID, Ego e
Personalidade) que é “como eu percebo” o que está acontecendo. A função Personalidade é
atualizada a cada nova experiência vivida. Na função ID não há diferenciação, nenhuma
necessidade emergente. Quando a necessidade/figura começa a surgir, a função Ego se faz
presente. Sendo nessa fronteira que ocorre o contato. Vale ressaltar, que quando uma dessas
funções está “ativa”, as demais não desaparecem, elas dão sustentação a ela. Então, a cada
vivência presente, nosso horizonte de passado e o horizonte de futuro estão também presentes.
As dinâmicas do Self são o ciclo de contato propriamente dito. No pré-contato o self
está “adormecido”, havendo pouca atividade, pois não há evento na fronteira; tanto o
organismo, quanto o meio estão disponíveis para serem capturados. No contato o self está
ativo, tendo sido capturado por uma necessidade, algo se tornou figura e o organismo busca
no meio as alternativas para a realização da sua necessidade. O contato final é o momento no
qual o self está na sua maior expansão, é uma experiência intrínseca de união entre figura e
fundo. Já no pós contato, a experiência vivida é assimilada, sendo o fundo de vividos
atualizado.
O Self também tem suas próprias funções de contato: Confluência, Introjeção,
Projeção, Retroflexão, Egotismo e, novamente, Confluência. A confluência não ocorre na
fronteira, sendo uma dissolução momentânea desta. Ocorre no pré-contato, quando a função
ID está “ativa”. Nesse momento, organismo e meio estão em equilíbrio, e o próprio organismo
é figura. Self se encontra relaxado. Quando, na clínica, a pessoa sabe o que está sentindo, ela
está em confluência, segundo Rubine, pois nenhuma figura emerge. Na introjeção há uma
interação entre organismo e meio. O self é invadido pelo mundo exterior. Através dos
introjetos as pessoas adquirem os códigos sociais, crenças valores... Ocorre no pré-contato, na
passagem da função ID para a função Ego. Na projeção a pessoa utiliza o meio para verificar
as possibilidades. A figura é mais delineada. O self está em seu vigor. Ocorre no contato, na
função Ego. Na retroflexão a pessoa se volta a si, verificando a melhor forma de ir para o
meio para que ocorra um reajuste no campo em busca do equilíbrio. No egotismo, que é a
aproximação do contato final, ocorre a hipertrofia da função Ego, que vai se encaminhando
para a função Personalidade. Entendo o egotismo como a ação no meio. Ao retornar à
confluência, no pós-contato, o self novamente volta ao relaxamento, e o que foi assimilado
pode tornar-se parte do fundo de vividos para futuras experiências.
Todo esse “processo” ocorre de maneira fluida, no funcionamento saudável. No
trabalho terapêutico o objetivo consiste em resgatar a fluidez e a awareness em seu processo.
Então saber identificar o funcionamento do self e seus momentos é importante para o trabalho
na clínica, para auxiliarmos nossos clientes a retomarem a fluidez no contato, percebendo suas
necessidades e suas possibilidades.
Em uma das primeiras sessões com uma criança de 9 anos, que chamarei de F, ele
informou que não sabia o que queria fazer, e poucos minutos depois começou a andar pelo
consultório verificando os jogos, após alguns minutos escolheu um dos jogos e me perguntou
se jogaria com ele. Jogamos e conversamos sobre a experiência do jogo. Na próxima sessão,
ao entrar na sala, F. informou que desejaria escolher outro jogo.
Ao tentar identificar o funcionamento do sistema self nessa vivência, pelo meu
entendimento, quando F. não sabia o que queria fazer, ele estava em confluência, na função
ID, o self estava “adormecido”. Alguma figura começou a se delinear, alguma necessidade
começou a surgir, começando a entrar na função Ego. F. foi verificar no ambiente as
possibilidades (projeção), os jogos, estando o self mais ativo, na função Ego. Na retroflexão,
ocorreu o preparar-se para agir no meio. No egotismo, ele veio para o meio questionando se
eu jogaria com ele. Após essa experiência ter ocorrido, foi possível que F. a assimilasse, e ela
fizesse parte dos seus fundos de vividos.
Identificar o funcionamento saudável do self é importante, para conseguir entender as
interrupções de contato que ocorrem, onde a interrupção acontece, para que possamos auxiliar
nossos clientes a retomarem a fluidez desse ciclo.

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