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Conteúdo P2 Fenômenos I  Identificação e escolha objetal como processos independentes (mas que podem ser

interativos): há uma relação narcísica que é relacionada às relações objetais, que passa
Segunda tópica
pela relação com os outros (me sinto de tal maneira com tal pessoa). O ‘’eu’’ captura
Temos o Ego (inconsciente, cons. e pcs.), o Superego (inc., consc., e pcs.) e o Id (inconsciente). elementos externos para se identificar, como corte de cabelo, perfil do Instagram.
Inconsciente aqui será tratado no sentido dinâmico, tratando o inconsciente descritivo como
O ‘’eu’’ para Lacan é sentido como sintoma, e nós vamos para a clínica para retirar um pouco
pré-consciente.
desse ‘’eu’’ que pesa e não dá espaço para desejos etc.
Supereu é em parte autônomo do ego, que age segundo suas próprias intenções e é
independente do ego para obtenção de sua energia. Esse supereu representa, em geral, as  Supereu a identificação com a autoridade/lei/metáfora (imposição dos limites do
exigências da moralidade. gozo): é o que Freud afirma de ‘introjeção paterna’, ou seja, significa estabelecer um
limite (você não pode fazer isso, para ser aquilo) para o gozo, e isso se relaciona com a
Id é alheio ao ego, sendo a parte obscura e inacessível da nossa personalidade. Está aberto às
estruturação do desejo. Ou seja, o supereu limita o desejo, mas também o ordena. Nós
influências externas, por isso é repleto de energias. É governado pelo princípio de prazer.
não nascemos com esses limites, mas os construímos nas relações com os outros
Ego é a parte do id que se modificou pela proximidade com o contato externo. É governado (‘introjeção paterna’, como uma figura patriarcal que estabelece o que pode e não
pelo princípio de realidade. pode).
 A influência dos pais governa a criança, concedendo provas de amor e ameaçando com PS: introjeção é um mecanismo psíquico inconsciente pelo qual o indivíduo incorpora
castigos. Quando a coerção externa é internalizada, o supereu assume o lugar dos pais qualidades dos objetos do mundo exterior.
e observa, dirige e ameaça o ego (a parte do amor não foi mantida). Ou seja, tem
Isso se relaciona também com a castração, pois ao estabelecer limites, eu torno o objeto de
relação com o complexo de Édipo
desejo parcial. A castração é um efeito da lei, sentida simbolicamente como limite.
Identificação
Dentro de Superego: o ideal de ‘’eu’’ (mecanismo do superego para avaliar o ego, ‘’como eu
Identificação é assemelhar um ego a outro ego, em consequência do que o primeiro ego se acho que eu deveria ser’’) avalia eu ideal (a maneira como me percebo- quando eu me coloco
comporta como o segundo em determinados aspectos, imita-o e assimila-o dentro de si. Esse
como objeto). Esse ideal de eu é construído numa relação com o outro, como por exemplo o
processo (identificar= ser igual) não é o mesmo que escolha objetal (possuir algo)
falo do caso Dora.
 Id (isso) é uma parte do inconsciente (existe Id, parte do superego, parte do ego e
recalcados). O Id significa a presença da pulsão no aparelho psíquico, na segunda  Eu ideal: imaginário do corpo, atitude anti-fragmentária ligada ao narcisismo primário
tópica (o inconsciente avança pelo corpo, se enraizando). Ou seja, o Id é a maneira  Ideal de eu: veículo superegoico pelo qual o ‘eu’ é avaliado, estimulado, exigindo ou
como o inconsciente mergulha no corpo ou dele brota. maltratando (raízes eróticas do sentimento de inferioridade ou de caráter vicariante -
 Na primeira tópica ela era um estado limítrofe entre orgânico (sua origem) e o dos sintomas -prazer em maltratar o eu, pois até ele não revida)
psíquico, mas não entra no aparelho
 Por exemplo, quando estamos com uma infecção bacteriana não sentimos a Quando o ideal de eu é mais alto que o eu ideal, pode gerar muitas vezes um sentimento de
presença da bactéria, o que sentimos são os sintomas (febre, dor etc.). O culpa. Por exemplo, um homem que salvou 1/3 da população judia do holocausto se culpando
 Mesmo acontece com os fenômenos psíquicos na segunda tópica, porque o Id por não ter salvo mais.
(espaço das pulsões) entra nesse aparelho. Quando temos fenômenos
 Posterior afastamento do supereu da identificação (introjeção da função): primeiro me
‘’psicossomáticos’’, como quando tenho ansiedade e isso faz minha gastrite
piorar (fenômenos inconscientes do Id). Nos fenômenos da sexualidade, a identifico com os limites impostos por questões específicas (um outro específico), em
pulsão vem do corpo, se constitui no aparelho psíquico e recobre o corpo outro momento me afasto dessa identificação do outro, me apegando apenas à função
novamente (aqui entra os fenômenos psicossomáticos). dessa identificação (até esqueço aonde aprendi, se torna a minha realidade) e se torna
 O Id vai sendo exposto ao contato e à percepção, e esse contato forma uma introjeção.
‘’crosta’’, que é o Ego. O ego é essa formação a partir do Id, é o que assimilou o  O superego vai trabalhar com ideal de eu que eu aprendi com o outro, por isso o
outro de forma fragmentada. Nessa fragmentação, algumas identificações são superego é um veículo de tradição e dos julgamentos de valores, além de estar sempre
desejadas e algumas são impostas (não gostava desse apelido, mas me
com um pé em outro tempo (com o pé no passado por exemplo porque a introjeção
chamaram tanto assim que precipitou)
vem de outros). Eu tenho valores éticos estéticos e morais que tem relação com o
 O ego como um conjunto de precipitados (aquilo que decanta, que cristaliza) de
grupo social ao qual estou inserido, mas isso não significa que meu superego esteja
identificações, que tem base no complexo de édipo
inserido nesse tempo (desse grupo social), esse superego pode me cobrar coisas que
não estão nesse tempo. Isso é um balanço entre o ego e o superego, que pode ser Por exemplo, numa situação de estresse sentir fome, as traduções são muito malfeitas, pois
consciente, mas em sua maior parte ocorre inconscientemente. não temos objetos naturais, mas sim inscrições do somático no psíquico (é pulsional). Isso
 Maneiras e questionamentos a respeito de como entender a realidade: é uma questão também é corporeidade, pois o corpo tanto é origem quanto ponto de retorno da pulsão, por
superegoica. Quando tentamos entender o mundo de hoje com os critérios de algo isso falamos de sexualidade
anterior, vemos que há uma falta de adesão, uma perda de sentido.
 Repleto de intensidades, porém, sem ordenação coletiva: assim como acontece com bebês
 Caso Amilcar Lobo: um médico fazendo formação psicanalítica, que contribuiu
na fase de autoerotismo, pois não tem a formação do ‘’eu’’ ainda, ou seja, pode sentir um
ativamente com a ditatura militar nos locais de tortura. Ele trabalhava no sentido de
gozo desorganizado.
manter a vítima viva, para saber até onde a tortura podia ir. Numa reunião de
psicanálise, uma mulher levantou e disse que ele havia a torturada, e não aceitaria Quando alguém fuma, o ego até pode ter afirmações como ‘’fumar faz mal à saúde, você vai
ficar ali na presença dele. Ele foi expulso, pois não há psicanálise fora de situação morrer cedo etc.’’, mas o id não liga para isso, pois se faz diminuir a tensão em relação ao
política e social. aparelho psíquico, então o id goza.
 Relação democrática: relação entre ética do desejo (psicanálise) e liberdade individual
 O id não leva em consideração as formas de realidade externa para ter gozo, seguindo o
(governos). Por isso a psicanálise não conseguiu entrar em algumas regiões como
princípio de prazer.
Oriente Médio, pois o governo não parte de uma ideia de liberdade individual, mas sim
 Não obedece à lógica do pensamento do pensamento racional, sobretudo, à lei da
de opressão.
contradição: o que há é conciliação de impulsos. O analisando se contradiz o tempo
 Âmbito de sintoma social: negação de algo, da história de algo, mas ainda assim me
inteiro, pois há partes do id na transferência.
reconhecer nisso. Como por exemplo em museus, em obras artísticas.
 ID não tem negação, tempo, espaço ou morte

 Dois fatores decisivos na formação do supereu: Há 3 formas de entender essa morte: não há morte para o desejo insconsciente (o id não se
1. Um fato biológico: a dependência prolongada (será que existem outros animais extingue enquanto pressão, aquilo que é objeto de prazer sempre pressiona para ter mais
que precisam se submeter por mais de 10 anos aos pais, responsáveis?) gozo); aquilo que um dia foi objeto de prazer ainda é objeto de prazer hoje; e também, não há
2. Um fato psicológico: o Complexo de Édipo (ser dependente vai me exigir construir inscrição da morte (caso da mulher que liga para os pais toda semana para saber se precisam
uma gramática sobre quem eu sou e quem é o outro a quem endereço. Quem eu de algo, sendo que eles já faleceram)
sou e a quem me endereço: como me constituo no outro)
 O id não coincide com o recalcado. O id é anterior às experiências de recalque, e isso é
essencial, pois explica que não sofremos apenas de coisas vividas na realidade (se o id
Características do Isso (ID)
fosse recalcado, sofreríamos apenas de coisas já vividas)

 Parte inacessível da personalidade (O ID é vivido. Eu vou viver experiência em que o ID é Nós sofremos de nossas fantasias também quanto sofremos de atos. Independe se uma pessoa
reconhecido). O ID responde a parcela da pulsão de desejo que não é comandado pela realmente sofreu abuso ou não, mas sim como ela se sente diante disso.
consciência.
Características do Eu/Ego
 Modificações do âmbito da corporeidade. O ponto do inconsciente que mergulha na
corporeidade (aberto ao corpo. Sinto raiva de uma pessoa, sinto no corpo, mas é algo  O ego pode tornar-se objeto para se observar, analisar, criticar etc.
inconsciente). O id também pode sentir prazer do próprio corpo, pois ele está aberto para  O Ego vem da transformadora da percepção/ contato com a realidade externa, ou seja, é a
o corpo. parte do id modificada
 Abordagem negativa em contraste com o ego e através de analogias: justamente por não  O ego é o id transformado pela presença do outro, por isso o ‘’eu’’ tem caráter de
poder delimitar esse ID, usamos analogias, como ‘caldeirão fervilhante das pulsões’’. O alteridade (caráter dialético: a presença do outro em mim)
máximo que chegamos ao ID é uma aproximação assintótica de definição, ou seja, só  Função de representar a realidade para o id: ego vai representar o mundo para que o id
chegamos perto da definição, assim como função assintótica só chega perto do ponto x possa gozá-lo (ego assume lugar de outro para o id)
sem tocá-lo.
O id diz ‘‘eu quero’’, ai o ego fala ‘’eu tenho o contato, eu posso ligar’’, então o id fala ‘’ao
 Aqui usamos a ontologia negativa: usado por ID, mas também a pulsão é assim (minha
mesmo tempo que gozo dessa experiência de ligar, também gozo de você ser ridículo ao fazer
completude eu não entendo, mas sei que sou incompleto)
isso’’. O id é meio burrinho ele não sabe quando algo é grande ou não, mas ele percebe
 Aberto em sua extremidade a influencias somáticas e que nele encontram expressão
quando o ego infla. Então, surge superego e coloca medo de ‘’e se não der tempo? ’’. No fim, o
psíquica: o id está aberto àquilo que vem do corpo, mas o transforma de forma psíquica
ego tira suas forças do id (esse id é um grande burguês que quer investir no ego e ganhar o Perdas de relações objetais – sabemos que perdemos algo, mas não sabemos a extensão
lucro) da perda
o A perda também implica em uma perda egoica (de eu) – algo que eu não sei muito bem o
 Teste de realidade: estou mesmo vivendo isso ou não? Ou então até que ponto meu ‘’eu’’ que é quebrou em mim/ alguma coisa da realidade não faz mais sentido
é real nisso? o Não conseguir elaborar o luto: presença da ausência. Analise: aprender a matar o morto,
 Controle do movimento/motilidade/atividade de pensamento: eu vou se eu quero, ou transitoriedade, encontrar um lugar para ela
seja, o ego vai se o ego quiser o Experiências de pulsão de vida ficam bloqueadas e retornam para o eu
o Não tem perda da autoestima
Tem dois fenômenos que contradizem: passagem ao ato (vai do inconsciente ao movimento) e
o Trabalho do luto consiste em retirar as conexões de libido com o objeto, mas após a
atuação (transforma a situação vivida em cena, ou seja, eu represento uma outra pessoa por
consumação do trabalho do luto, o Eu fica livre novamente para ter outros objetos
exemplo)
Experiência de depressão: ‘’eu já fui algo que hoje não sou mais’’, uma perda que se torna uma
 Princípio de realidade e tentativa de controle das pulsões
perda do eu
 O ego responde a 3 tirânicos: mundo externo, supereu e id (relação como a de um
cavaleiro e o seu cavalo). O ego não tira força de si mesmo, ele monta seu cavalo e diz o Geralmente disparada por uma experiência de perda ou uma experiência transformativa
‘’vamos sair pro campo’’. o Quem eu era antes e o que eu me tornei depois
o Vou me instrospectar dos movimentos de experiência do mundo para mim mesmo
o O foco é a reparação do eu, o foco está em uma forma de ser
Observação: impulsos do id só podem ser reconhecidos como do passado e perder sua o Eu posso ter uma experiência depressiva em um luto
o Teste de realidade contra o eu
importância e ser destituído de intensidade de energia quando se foram analisados numa
o Sintoma de inibição da pulsão
terapia (trazidos à consciência)
Experiência de melancolia: ‘’não sou nada, nem nunca fui nada’’
O ego é pressionado por 3 senhores, e quando é obrigado a admitir sua fraqueza, ele irrompe
em ansiedade. A terapia tem por objetivo fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do Há três pressupostos da melancolia: perda do objeto, ambivalência e regressão da libido para o
superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira a poder Eu. Não depende necessariamente de um fato, pode ser desencadeado
assenhorear-se de novas partes do id. Onde estava o id, ali estará o ego.
o Perda do contato com a realidade, perda da capacidade de amar, inibição de toda
atividade e diminuição da autoestima (ele descreve sua situação psicológica)
o O mundo não é marcado por uma perda, O Eu que é
Luto, melancolia e depressão o O eu se torna vazio – auto envilecimento : tornar-se vio que leva a experiências de auto
 Em ambos os casos temos um movimento narcísico, um movimento dos eventos que flagelo e auto comiseração (ofensas a si mesmo) e automartírio (satisfação de tendências
ocorreram para o eu, e os dois tem movimento de falta sádicas e de ódio)
Linhas de clivagem: se atiramos ao chão um cristal, ele se parte, mas não em pedaços ao o O que chega mais perto da verdade sobre a relação humana – mas isso torna morte no
acaso. Ele se desfaz, segundo linhas de clivagem, em fragmentos cujos limites, embora eu, e por isso não há uma necessidade de mais. O objeto de seu gozo é a morte
fossem invisíveis, estavam predeterminados pela estrutura do cristal. experiência que abala o Estrutural: neurose narcísica. Não tem como mudar a estrutura, mas dá para amarrar
a relação com a realidade, há uma linha predeterminada que quebra segundo uma linha de experiências de vida
clivagem – não sabemos o que vai servir para uma linha de clivagem, por isso não há como  Algo no ‘’Eu’’ precisa morrer para que alguma coisa viva - nem a morte implica em término
proteger as pessoas  Em todo atendimento em algum momento a pulsão de morte vai ser ouvida, voltada para o
eu
 O melancólico carece da vergonha diante dos outros, na verdade há uma insistente
Experiências de luto: reação à perda de uma pessoa amada ou uma abstração que ocupa seu comunicabilidade que acha satisfação no desnudamento de si próprio. Não se envergonham
lugar; ‘’eu já tive algo e perdi tudo’’ nem se escondem, pois tudo de desabotador que falam de si mesmos se refere, no fundo, a
Vou me recolher do mundo e retornar para mim mesmo, assim o mundo começa a perder outra pessoa.
sentido, já que uma parcela importante das experiências com o mundo é projetiva.  A perda do objeto se torna a perda do Eu, que se identifica como abandonado (há uma
regressão da escolha objetal ao narcisismo). Para que isso ocorra deve existir de um lado uma
o As coisas não fazem sentido pois aquilo que não é projetado vai causar experiências de forte fixação no objeto amoroso (ambivalência leva a continuar se entregando para ele) e de
falta
outro uma pequena resistência do investimento objetal (este se torna a identificação). O
adoecimento na melancolia reside na predominância do tipo narcisista de escolha de objeto
 O complexo da melancolia se comporta como uma ferida aberta, de todos os lados atrai
energias de investimento até esvaziar o Eu
 Uma peculiaridade seria o fato de algumas melancolias se transformarem em maia, um
estado com sintoma opostos ao da mania
 Sua estrutura está no Ics., a única coisa que chega à consciência é o conflito entre uma parte
do Eu e a instância crítica (regressiva)

Texto sobre a transitoriedade

 O que adianta apreciar as flores das cerejeiras que daqui a alguns dias estarão mortas
 A beleza da flor de cerejeira é o seu caráter de transitoriedade
o Permitir viver experiências no âmbito da morte
 O melancólico se reconhece numa experiência de morte, mas seu discurso é o que te mantem
vivo – o autoflagelo é o que o mantem vivo. Nesse movimento de autodestruição, o
melancólico também se encontra em uma razão narcísica
 Relação de desprezo com o outro (quem tenta viver faz menos sentido que a vida)

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