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A metapsicologia

freudiana
Prof. Othon Narbal Rabelo de Oliveira
O aparelho psíquico na primeira tópica
Na Primeira Tópica ou Teoria Topográfica, o Aparelho Psíquico é visto como
dividido em três instâncias (classes), sendo elas:

a) o inconsciente (Ics)
b) o pré consciente(Pcs)
c) consciente(Cs)

A expressão “tópica” vem de “topos”, que em grego significa “lugar”, daí a ideia de
que esses sistemas ocupariam um lugar (topos) virtual e funções específicas.
O inconsciente (Ics)
O inconsciente possui uma forma de funcionamento regida por leis próprias, ou
seja, que fogem aos entendimentos da razão do consciente.

É considerada a parte mais arcaica da mente humana, constituída de traços


mnêmicos (lembranças primitivas).

É no inconsciente, como palco das pulsões, onde se desenvolvem as emoções


mais intensas, sendo regido pelo princípio do prazer.

No inconsciente não existe o tempo, espaço, incertezas ou dúvidas, pois não


atende a uma “lógica racional”.
O papel dos sonhos na teoria de Freud
Os sonhos têm o papel fundamental no entendimento do aparelho freudiano,
pois a “comunicação” nos sonhos se daria graças ao processo primário e seus
mecanismos de:

a) condensação: consiste na reunião em um único elemento de vários outros


elementos, que podem pertencer a domínios diferentes (sobredeterminação);
observa-se, por exemplo, nos “chistes”, jogo de palavras semelhantes.

b) deslocamento: os pensamentos mais significativos são substituídos por outros


acessórios de tal modo que seu conteúdo seja “desfocado”.
O papel dos sonhos na teoria de Freud
b) deslocamento:

b1) esta substituição pode se dar pelo procedimento de “representabilidade”, isto


é, o trabalho do sonho transforma os pensamentos em representação visual (uma
defesa de tribunal em “desenhos”);

b2) pela elaboração secundária, convertendo o conteúdo onírico sob a forma de


um cenário coerente e inteligível;

b3) pela a dramatização ou transposição de um pensamento em algo aproximado


a uma peça de teatro.
O pré-consciente (Pcs)
É considerada por Freud uma espécie de “barreira de contato”, pois serve como
uma espécie de filtro para que determinados conteúdos possam (ou não) chegar a
nível consciente.

É nessa instância que a linguagem se estrutura e, dessa forma, é capaz de conter


a ‘representações da palavra”.

O pré-consciente é, assim, a parte que se encontra no meio do caminho entre o


inconsciente e o consciente, que “junta” a informação para que possa chegar ao
consciente.
O consciente (Cs)
O consciente está ligado a tudo aquilo que se encontra disponível a mente de
forma imediata e se diferencia do inconsciente pela forma com o qual é operado
através de seus códigos e leis.

A formação do consciente se daria pela junção “da representação da coisa” e da


“representação da palavra”, ou seja, há o investimento de energia em
determinado objeto e seu escoamento sob a forma de satisfação.

Uma vez que a energia está vinculada a representações, os processos conscientes


primários guiam-se por linhas de raciocínio, juízo de ponderação e pelo
princípio da realidade (ao contrário do inconsciente).
O consciente (Cs)
O consciente é a zona responsável pelo contato com o mundo exterior e por isso
sujeita a noção de realidade de determinado ambiente.

É guiada, assim, pelo princípio de realidade, procurando um comportamento


adaptado à realidade social, uma vez que esta não se rege pelo princípio do
prazer, pelo menos em parte.
O aparelho psíquico na segunda tópica
Diante das limitações da primeira tópica, Freud amplia seu conhecimento das
instâncias psíquicas para incorporar uma visão estrutural do aparelho psíquico.

Abandona, assim, uma compreensão “rígida” a partir de tópicas (lugares) para um


conceito de estrutura, que leve em consideração a interação constante entre
aquelas instâncias para o funcionamento da mente. Tais estruturas são:

a) Id
b) Superego
c) Ego
O ID (inconsciente)
O ID é a porção mais arcaica ou primitiva de nosso psiquismo, não só porque é a
mais “selvagem” como também é a que se desenvolve primeiro.

Seria uma espécie de “reservatório” de impulsos caóticos e irracionais


construtivos e destrutivos e não harmonizados entre si ou com a realidade
exterior.

No id, estariam concentradas as energias psíquicas e as pulsões cujo intuito é a


obtenção do prazer, enquanto as outras instâncias organizariam esta energia da
forma melhor possível.
O ID (inconsciente)
A partir de seus estudos, Freud observou que o recalcamento não é uma censura
consciente sobre as pulsões.

Estaria mais para uma “barreira de regulação” que opera sem que o sujeito saiba,
daí porque as resistências (mal-estar, empobrecimento de associações) do
analisando ao progresso do tratamento não serem completamente intencionais.

Haveria, assim, partes do inconsciente no ego e no superego, de modo que o


inconsciente deixa de ter um estatuto pleno para se tornar parte de cada uma
dessas instâncias.
O ID (inconsciente): “o isso”
Neste novo mapa do psiquismo, destaca-se o “isso” como região mais
identificável ao inconsciente, sendo que o uso de um pronome impessoal, para
Freud, tem o papel de destacar seu caráter de estranhamento ao eu.

O “isso” se diferenciaria do inconsciente por:

a) ter representações inconscientes não só de objetos oriundos dos desejos dos


outros como representações inatas herdadas filogeneticamente pela espécie
humana;
O ID (inconsciente): o “isso”
b) por se apresentar como “grande reservatório” de libido de onde o eu e o
supereu retiram sua energia para alimentar suas ações;

c) por ter uma grande capacidade de perceber as variações pulsionais, qualificada


por Freud de “tensão endopsíquica” que, no consciente, serão traduzidas por
prazer e desprazer.
Características do ID
1) não faz planos e não espera; Salvador Dali - A Persistência da Memória (“o
tempo” do inconsciente)
2) não tem cronologia (passado ou
futuro), é sempre presente;
3) por ser presente, busca uma
satisfação imediata para
impulsos e tensões;
4) não aceita frustrações e não
conhece inibição
Características do ID
6) não tem contato com os limites René Magritte - “O tempo trespassado”

impostos pela realidade;

7) busca satisfação na fantasia;

8) pode ter o mesmo efeito de uma


ação concreta para atingir um
objetivo;

9) é todo inconsciente
O Superego
O Superego é uma modificação ou especialização do Ego que visa a impedir que
os impulsos do id se concretizem da forma como são.

Ele é responsável pela imposição de sanções, normas, padrões e idealizações, e


tem sua formação pela introjeção dos conteúdos que vêm dos pais.

Dizer que o superego é uma especialização do ego significa que, ainda na


infância, o ego amadureceu-se e destinou parte de si para gerar inibições e
proibições, mas não se trata de um órgão específico e sim de amadurecimento
psíquico.
Características do Superego
1) O superego tem partes conscientes, quando se diz que é “proibido matar” e
inconscientes, diante de escolhas que julgamos “naturais”, nunca antes
questionadas
2) Está relacionado ao Complexo de Édipo porque seu mecanismo de
funcionamento desenvolve sobretudo a partir do momento em que a criança
introjeta a lei de proibição do incesto.
3) A importância do Édipo para o desenvolvimento psicossocial é muito grande,
mesmo que, na adolescência, divirja com o que aprendeu na infância, porque
será a primeira experiência que teve com as interdições e os ideais
legitimados.
Objetivos do Superego
a) Inibir (através de punição ou sentimento de culpa) qualquer impulso
contrário às regras e ideais por ele ditados (consciência moral);
b) forçar o ego a se comportar de maneira moral (mesmo que irracional);
c) conduzir o indivíduo à perfeição, seja em gestos ou pensamentos.
Importância do Superego
Entender a existência de um Superego não significa, porém, adotar todas as leis,
crenças e padrões, mas entender a importância das convenções para a vida em
sociedade.

Um superego rígido pode ser a causa de alguns adoecimentos como neuroses,


angústias, ansiedades e possibilitar um espaço para que o sujeito possa construir
uma personalidade menos conflituosa com seus desejos é o objetivo da terapia
analítica.
Ego
O nascimento do ego advém da primeira infância, quando os laços afetivos com
os pais irão proporcionar as experiências necessárias à sua formação.

O ego, assim, está no meio do caminho entre o lado da satisfação individual do


desejo inconsciente (Id) e o lado da satisfação que a vida social pode trazer, desde
que se esteja disposto a seguir certos padrões (superego).

O ego também teria, assim como o supereu, uma “instância mista”, com porções
conscientes e inconscientes.
A função “mediadora” do ego
O ego teria por função primordial servir como uma “ponte” entre o mundo
interno do “isso” e o mundo da realidade exterior, captando, tal como uma
“antena”, as variações da tensão pulsional, ao mesmo tempo em que tenta
adaptá-las às exigências externas;

Pode-se compará-lo, assim, a figura de um personagem tanto ativo como


angustiado, pois, ao mesmo tempo que cumpre tarefas perceptivas e adaptativas,
buscando “civilizar” um dia o “isso”, precisa se defender das exigências pulsionais
do “isso” e do mundo externo.
A função “mediadora” do ego
Como figura passiva e angustiada, o eu sofre as exigências diretas e desmedidas
de descarga pulsional que o levariam a “aniquilação”; indiretas por parte do
supereu, que grita para ele as exigências do “isso”, levando-o a temer pela
“punição”; e as coações do mundo externo por satisfação que, se não realizadas, o
tornam “impotente”.
O princípio da realidade
O princípio da realidade é aquele que introduz a razão, o planejamento e a espera
no comportamento humano, com o objetivo de permitir que os impulsos do ID
possam ser realizar no mundo externo da forma mais eficiente possível.

Assegura-se, dessa maneira, que a satisfação das pulsões seja retardada até o
momento em que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e
um mínimo de consequências negativas.
Primeira e segunda tópicas: uma comparação
A primeira e segunda tópica não são “A metáfora do iceberg”
incompatíveis entre si e não há
registros de que Freud abandonou
uma em detrimento da outra.
Justapondo a primeira e segunda
tópicas numa imagem, como a do
iceberg, temos que uma pequena
parte representa o consciente e a que
se encontra submersa pertence ao
pré-consciente e inconsciente
Primeira e segunda tópicas: uma comparação
Da última imagem, deduz-se que:

1) O id é todo inconsciente, sendo que, posteriormente, Freud irá destacar uma


nova região chamada “isso”, como mais “identificável” com o inconsciente
devido suas porções estarem, também, em outras instâncias;
2) O inconsciente não é completamente Id, pois uma parte do que está
submerso é também ego e superego;
3) O inconsciente engloba o Id por completo e partes do superego e do ego
Conclusão
1º) O id (todo inconsciente) é a nossa parte mais primitiva e selvagem, pois no
começo fomos apenas impulsos e desejos impelidos a uma uma satisfação
imediata, é fonte de energia psíquica, tem uma linguagem própria e é todo
inconsciente.

2º) O ego (parte consciente, parte inconsciente) desenvolve-se como uma parte
do id, a partir do momento em que o sujeito inicia seu processo de subjetivação
como um “eu” (ego), como uma unidade mente-corpo e como distinto das outras
pessoas e coisas e, mais tarde, assumirá a tarefa de mediador entre os impulsos
do id e as interdições e idealizações do superego.
Conclusão
3º) O superego (parte consciente, parte inconsciente) é uma especialização do ego
para os padrões morais e idealizados e desenvolve-se principalmente a partir do
advento do Édipo, quando o sujeito começa a confrontar-se com as interdições e
a idealizar padrões valorizados pelos pais,

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