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Muito da ciência neural de hoje está ligado à ciência neural cognitiva, uma junção de
neurofisiologia, anatomia, biologia do desenvolvimento, biologia celular e molecular e
psicologia cognitiva – uma fusão que deu origem a uma nova ciência da mente. Até
duas décadas atrás, o estudo das funções mentais superiores era abordado de duas
maneiras complementares: pela observação psicológica e pela fisiologia experimental
invasiva. Na primeira metade do século XX, para evitar conceitos e hipóteses não
comprováveis, a psicologia passou a se preocupar de modo minucioso com
comportamentos definidos estritamente em termos de estímulos e respostas possíveis de
serem observados. Behavioristas ortodoxos consideravam improdutivo lidar com a
consciência, sentimento, atenção ou mesmo motivação (KANDEL et al, 2003, p. 1177).
[...] três ideias estão em foco. Primeiro, a de que há diversas formas de aprendizado e
memória, cada qual com suas próprias e distintas propriedades cognitivas, mediadas por
sistemas encefálicos específicos. Segundo, a de que a memória pode ser dividida em
processos separados: codificação, armazenamento, consolidação e evocação. Por fim, a
de que imperfeições e erros na evocação são dicas da natureza e da função do
aprendizado e da memória (KENDAL, 2003, p. 1257)
A memória pode ser classificada conforme duas dimensões: (1) o curso temporal do
armazenamento e (2) a natureza da informação armazenada. É considerado inicialmente
o curso temporal (KENDAL, 2003, p. 1257).
[memória explicita] A memória episódica é utilizada para recordar que se viu ontem as
primeiras flores da primavera, ou que se ouviu a “Sonata ao Luar”, de Beethoven vários
meses atrás. A memória semântica é utilizada para se apreender o significado de novas
palavras ou conceitos. O lobo temporal medial desempenha um papel crítico em ambos
os tipos de memória, episódica e semântica (KENDAL et al, 2003, p. 1261).
[processamento da memória explícita]
A codificação é o processo pelo qual novas informações são observadas e conectadas
com informações preexistentes na memória. A intensidade desse processo é
criticamente importante para determinar quão bem o material apreendido será lembrada
[...] KENDAL et al, 2003, p. 1261)
O armazenamento refere-se aos mecanismos e sítios neurais que permitam a retenção da
memória ao longo do tempo. Umas das características notáveis do armazenamento de
longa duração é que ele parece ter uma capacidade quase ilimitada; não existe limite
conhecido para a quantidade de informação possível de ser armazenada a longo prazo.
Em contraste, o armazenamento na memória de trabalho é muito limitado; psicólogos
acreditam que a memória de trabalho em seres humanos possa reter apenas poucos
fragmentos de informação em um dado momento. (KENDAL et al, 2003, p. 1261).
A consolidação é o processo que faz a informação ainda lábil e armazenada
temporariamente ficar mais estável. [....] a consolidação envolve a expressão de genes e
a síntese proteica que produzem alterações estruturais nas sinapses (KENDAL et al,
2003, p. 1261)
[...] a evocação é o processo pelo qual a informação armazenada é evocada. Envolve
trazer novamente à mente diferentes tipos de informação, armazenados em diferentes
lugares no encéfalo. A evocação da memória é bastante semelhante à percepção na
medida em que se trata de um processo construtivo e, portanto, está sujeita a distorções,
da mesma forma que a percepção está sujeita a ilusões. (KENDAL et al, 2003, p. 1261)
PURVES, Dale et al. Neurociências. [Neuroscience]. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2010
Aprendizado é o nome dado ao processo pelo qual uma nova informação é adquirida
pelo sistema nervoso e pode ser observado por meio de mudanças no comportamento.
Memória é o nome dado ao
mecanismo de codificação, armazenamento e evocação dessa informação. Igualmente
fascinante (e importante) é a capacidade – normal – que temos de esquecer informações.
(PURVES et al, 2010, p. 791).
Uma forma tradicional de classificar a memória leva em conta a sua duração. Por essa
classificação, haveria uma memória de curto prazo, ou de curta duração, encarregada de
armazenar acontecimentos recentes, e uma memória de longo prazo, ou de longa duração,
responsável pelo registro de nossas lembranças permanentes, Hoje, o avanço das pesquisas no
campo da psicologia cognitiva e das neurociências permitiu traçar um quadro bem mais
complexo, resultando no aparecimento de outras classificações que explicam melhor o
funcionamento de nossa memória. (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 51)
Já sabemos que uma informação relevante, para se tornar consciente, tem que ultrapassar
inicialmente o filtro da atenção. Admite-se que a primeira impressão em nossa consciência se
faz por meio de uma memória sensorial, ou memória imediata, que tem a duração de alguns
segundos e corresponde apenas à ativação dos sistemas sensoriais relacionados a ela. Se a
informação for considerada relevante, poderá ser mantida; do contrário, será descartada.
(COSENZA; GUERRA, 2011, p. 52)
É bom deixar claro que não existe um “centro" responsável pela memória operacional, cujo
funcionamento é, na verdade, distribuído por vários circuitos ou sistemas cerebrais. O córtex
da região pré-frontal coordena e integra ações desenvolvidas em várias áreas corticais e
subcorticais, da mesma forma, não existem homúnculos, ainda que sob a forma de neurônio
que cuidam de nossas atividades mentais. Os neurônios, como sabemos, exercem suas funções
conduzindo a informação, sob a forma de atividade elétrica, ao Longo de seus prolongamentos
e repassando-a para outras células com a ajuda de neurotransmissores
(COSENZA; GUERRA, 2011, p. 56-57)
Embora muitas vezes se observe certa euforia em relação às contribuições das neurociências
para a educação, é importante esclarecer que elas não propõem uma nova pedagogia nem
prometem soluções definitivas para as dificuldades da aprendizagem. Podem, contudo,
colaborar para fundamentar práticas pedagógicas que já se realizam com sucesso e sugerir
idéias para intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que respeitam a forma
como o cérebro funciona tendem a ser as mais eficientes. Os avanços das neurociências
possibilitam uma abordagem mais científica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada
na compreensão dos processos cognitivos envolvidos. Devemos ser cautelosos, ainda que
otimistas em relação às contribuições recíprocas entre neurociências e educação.
(COSENZA; GUERRA, 2011, p. 142-143)
0 trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente quando ele conhece o
funcionamento cerebral. Conhecer a organização e as funções do cérebro, os períodos
receptivos, os mecanismos da linguagem, da atenção e da memória, as relações entre
cognição, emoção, motivação e desempenho, as dificuldades de aprendizagem e as
intervenções a elas relacionadas contribui para o cotidiano do educador na escola, junto ao
aprendiz e à sua família. Mas saber como o cérebro aprende não é suficiente para a realização
da “mágica do ensinar e aprender", assim como o conhecimento dos princípios biológicos
básicos não é suficiente para que o médico exerça uma boa medicina. (COSENZA; GUERRA,
2011, p. 143)
Afirma-se que o progresso do conhecimento neste milênio só será possível a partir de uma
perspectiva transdisciplinar. Por meio dessa perspectiva, as diversas áreas do conhecimento
utilizarão seus pressupostos para avançar em direção a um conhecimento novo. Nesse
enfoque, acreditamos que a educação poderia se beneficiar dos conhecimentos
neurocientíficos para a abordagem das dificuldades escolares e suas intervenções corretivas.
Isso permitiria explorar as potencialidades do sistema nervoso de forma criativa e autônoma e
ainda sugerir intervenções significativas para a melhoria do aprendizado escolar e da qualidade
de vida. (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 145)