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ISSNI41J·mx TelllueIlPsicllogiadaSBP·2DBD,YollnI 2,143·154

Interação entre sistemas eprocessos de memória em humanos'


l\1ariaCristinaMagila
Universidade de São Puula

Gilberto Fernando Xavier


Uni~'ersidadeFederal de São Paulo

Resullll
A idéia de que a memória n~o é uma entidade unitária, mas que SI: compõe de múltiplos sistemas
independentes, porém interati\'os, parece atualmcnte consensual. Na primeira panc do presente tmbalho são
revistas evidências da literatura a favor da distinç~o cntre os sislemas de memória decunaduraç~o e de longa
duraç~o, por um lado, e a subdiúslo adicional entre os sistemas de memória de longa duraç~o, por OUlrn. A
evoluç~odoconceitodememória de curta duração. que resultou na idéiadc memória operacional. por sua vez
também composta de multiplos sistemas, é discutida. bem como n pa~1 dos níveis de processamento !lO
funcionamento mnêmico. Na segunda parte, do apresentados os principais modelos de organiL3ç~o dos
sistemas de memória humana
P~lmn·ch~H: memória, habilidades, hábitos, neuropsicologia

lnleraclian belween memory systems and memory processes in humans


Abtrlltt
It seems a cOI1scnsus nowadays Ihal memory is not a single entily bUI comprchends multiple inde~rKlem bUI
inlcractivc brainsy5lems. The first pan nfthis won. hascxamined c\ idence, fa~oring lhe distinclion !>etwec:n
short_tenn and long-Ienn mcmory systems, on one hand, and further subdivisions ofthe last, on lhe olher. The
elaboration ofthc concepl ofshon-tcrm memor)'. which ied to lhe idea ofworking mcmory, composed ilSclf
ofmulliple sys!cms, has also becn discussed, as wel1 as lhe role oflevels ofmoemic processing. The sccond
part has presented lhe major Ihenric> conceming the organization ofhuman memory
II,wtf4S:memory;skil1s:habils;neuropsychology

Memória pode ser definida como "a capad- sua quase tota lidade é de caráter exclusivamente
dade de alterar o comportamento cm função de taxonômico. O modo pelo qual as informações
experi ências anteriores" (Xavier, 1993. p. 62). A transitam entre os sistemas tem sido sistema-
noçãodequeamemóriaéconstiluidaporsistemasde ticamente negligenciado, ai nda que esta análise
curta e de longa duração, cada qual com subdivisões pareça extremamente relevante. Assim, um dos
adi cionais, é amplamente apoiada por diferentes avanços possíveis e desejáveis na compreensão dos
(ontes de evidências envolvendo sujeitos nonuais e fenômenos mnêmicos seria investigar os limites e as
pacientes amnésicos. Diversas propostas de inter-relações enlre os seus sistemas e processos,
classi ficação desses sistemas são conhecidas; porém, confornle apontado por Xavier.

I. Pane da Dissertação de Meslrado apresentada ao Núcleo de Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia


da Universidade de São Paulo
Endereço para correspondência: Universidade Federal de São Paulo - UNIFESPIEPM, Dep;lnamento de Psicobiologia,
Edificiode Ciências Biomédicas. Rua Botucalu, 862, I· andar. - CEI' 04023-062. sao Paulo - SI'. Fone (11) 274-3685 I
{I 1)9904-4731_ e-mail: mcmagila@medscape.com
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Adrielly Faustino de Amorim Piazza - adriellyamorim@live.com


M. t. Matib I ,. I. XIIi.

P~cientes amnésicos, cm decorrência de estudos subseqUentes nos quais se verifieou a


lesões em regiões circunscritas do sistema nervoso, preservação seletiva de certas modalidades de
muitas vezes, exibem detenninadas capacidades de aprendizagem frente a seu quadro geral de amnésia:
memória preser.... adas (Squire, I982a). Admite-se, atra .... és da prática, ele podia aprimorar habilidades
nesses casos, que a amnésia revele uma divisão motoras,taiscomodesenharemespelho,semque,no
natural entre os sistemas de memória que funcionam entanto, ti .... esse a recordação dos episódios
concomitante e adequadamente cm sltieitos nonnais, específicos de treino nem se soubesse possuidor da
mas que são diferencialmente afetados na doença. capacidade (Milner, citada por Squire, 1992).
Estas dissociações vêm permitindo: (I) inferir sobre Estc tipo de constatação empírica, entre
a organização da memória nonnal (Cohen, 1984; outros, inaugurou o desenvolvimento conceituai
Cohen e Eiehenbaum, 1994; Squire, 1982a) e (2) sobre as dissociações entre a memória de curta
identificar os diferentes sistemas de memória duração e a de longa duração, por um lado e sobre as
dissociaçõcs cntre os sistemas particulares da
memória de longa duração, por outro.
Sistemas eprocessos de memória
Tulving (citado por Sehactcr e Tulving, 1994)
preconiza quc múltiplos sistemas de memória
'.hmória de curta duraçâo
implicam em: (I) diferentes funções cognitivas e O modelo moda! deAtkinson c ShifTrin (1971)
comportamentais. c diferentes tipos de infomações c propõe a nisténcia de um registro sensorial. que
conhecimentos por eles processados; (2) diferentes consistiria no primeiro estágio da percepção da
leiseprincipiosregendosuasoperações;(3)diferentcs informação,eumaestocagemdecurtaduração,cuja
estruturas e mecanismos neurais; (4) diferenças na função seria manter a informação disponível por
aparição onto e filogenética; e (5) diferenças no tempo limitado. Por fim. uma eslocagem de longa
formato das informações representadas. Processos de duração, alimentada pelos conteüdos transferidos
memória, por outro lado, referem-se às opernções pela instância anterior. De acordo com este modelo, a
específicas subjacentes ao desempenho mnêmico manutenção das infonnações na memória de curta
(SchaetereTulving, 1994) duração, bem como sua estocagem na de longa
Embora seja di fiei 1 precisar o inicio dos duração, são possi .... eis graças aos processos de
debates sobre a e)[istência de múltiplos sistemas de controle tais como o ensaio verbal e as estratégias de
memória humana, roi a partir da década de 50 que codificação. A transferência de conteúdos entre os
essaidéiapassouaserdefendidamaisenfatieamente. sistemas não é entendida, portanto, como uma
Scoville e Milner (1957), por exemplo, desc(e .... cram operação passiva, mas sim determinada pelas
o famoso paciente HM, amnésico em decorrência de atitudes intcncionais do individuo.
uma neurocirurgia para controle de crises cpilépticas Três tipos de evidência ravorecem a hipótese
na qual foram retirados, bilateralmente, dois lerços dequeasmemóriasdeeurtaedelongaduraçlloscjam
anteriores do hipocampo, giro parahipocampal, sistcmasindcpendcntes·
córtex entorrinal e amígdala. Os autores relataram ESludos neuropsicológicos - Os pacientes
uma densa amnésia anterógrada e uma amnésia amnésicos possuem mcmória dc curta dumção,
retrógrada temporalmente gmduada; porém. suas mensurada através da extensão (span) dc dígitos,
funções intelectuais e lmgüisticas estavam prescr normal (Baddcley e Warrington, 1970; Warrington,
vadas, assim como sua memória imediata. Além 1971 l. A cxemplo do que acontecia com o paciente
disso, o paciente era incapaz de adquirir novos HM, são capazes de reter dados por um curto período
conhecimentos relativos a acontedmentos poste- de tempo e, desde que a quantidade de informações
riores a cirurgia, mas conservava lembT3nças não exceda a capacidade desse sistema(Mil1er, 1956)
remotas de sua infância ede fatos ocorridos até dois e nem sua at<.."Oção seja desviada, conseguem ensaiar o
anos antes da operação. O mesmo HM foi objeto de material e mantê-lo acessivel por alguns minutos

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(Scoville e Milner, 1957). Entretanto, após um inter- duração,ponanto, mais susceptiveis a interferências
valo de tempo são incapazes de recuperar as e que as por~ões iniciais da lista não sofram alteração
informações que lembraram com facilidade logo por sua subordinação à estocagem de longa duração,
depois da apresentação. menos vulnerável (Craik, 1970, 1971).
lnversamente,ospacientescomlesõesparieto- Natureza da codificaçao mnêmica - A
temporais inferiores ou perisilvianas no hemisrériu retenção ordenada na memória de curta duração é
esquerdo podem formar memórias verbais dura- maisdificilparaasletraseaspalavTllsdcsonoridade
douras, não obstante tenham intenso prejuizo de semelhante que para material fonologicamente
memória auditiva verbal imediata (Basso, Spinnler, dessemclhante. H em relação à r~tenção de longa
Vallar e Zanobio, 1982; Shallice e Warrington, 1970; duração, este efeito desaparece, mas palavras
Vallar e Baddeley, 1984; Warrington e Shallice, semanticamente relacionadas são pior evocadas que
1969). Note-se que este padrão de desempenho é aquelas semanticamente distintas, fato não obser-
exatamente o OpoSIO do que oeorre na amnésia vado na lembrança imediata. Assim, o sistema de
elássiea, rcvelandouma dupla dissociação. curta duração parece operar em tennos fonológicos
Dissociações simples, ou seja, a observação de ou acusticos, distinguindo.se do sistema de longa
que um dado pacicntetem níveis de desempenho duração que opera em bases semânticas (Baddeley,
desiguais em tarefas quaisquer "I" e '"2", não 1992a;Conrad,1964).
permitem a inferência de que as duas se refiram a Dadas essas evidências, parece in~onlestável
sistemas de processamento distintos - as tarefas que a memória de curta duração e a memória de longa
podem sef discrepantes apenas quanto ao nível de duração sejam independentes. No entanto, embora
dificuldade. Entretanto, a situação de dupla bastante difundido, ao assumir que o estabe-
dissociação, quando um paciente "A'" desempenha lecimento de lembranças dl.lradol.lras depende
uma tarefa "I" significativamente melhor que um necessariamente da mediação dd estucagem imediata,
paciente "B", enquanto que o quadro oposto ocorre o modelo modal nao explica como os pacientes com
em relação a uma tarefa "2", favorece, definiti- lesões no hemisfério esquerdo podem formar
vamente, a hipótese da independência entre as recordações pennanentes não obstante tenham
funções (Shal1ice, 1988). Este tipo de constatação é intenso prejuizo de memória de curta duração (Bassoe
crucial para a elaboração de inferências funcionais cols., 1982; Warrington e Shalliec, 1969).
em neuropsicologia e parece ser o argumento mais
contundente na defesa da existência de multiplos
sistemas de memória.
Curva de posirJo serial - Certas tarefas de Memtiria operacional (Hwolking memory", em inglês)
memória também revelam a existência paralela de Como alternativa ao modelo modal, Baddeley
dois sistemas, um mais lábil, de capacidade e duração e Hitch (~itados por Baddcley, 1986) propuseram um
limitadas e outro mais resistente, estável e de
novo paradigma denominado memória operacional,
capacidade ampla (I'eterson e !'eterson, 1959). Em
segundo O qual a memória de curta dura~ão não
provas de evocação livre de listas de palavras, por
funcionaria como uma porta de entrada para o
exemplo, os ultimos e os primeiros itens são usual-
estabelecimento de recordações permanentes. A
mente melhor evocados que os intermediários,
memória operacional equivale a um sistema para a
imediatamente após a apresentação (efeito de
manutenção temporária e a manipulação de infor-
recênciaedeprimazia,respectivamente),resultando
maçõ~snecessáriasaodesempenhodellma5ériede
em uma curva de posição serial característica em
forma de "U". Todavia, quando a resposta é funções cognitivas, inclusive a aprendizagem
postergada por alguns segundos, o efeito de rcçência (Baddeley, I 992a, 1992b, 1986). Diferencia-se da
desaparC\:e, pennaneeendo inalterado o desempenho memória de curta duração por privilegiar a utilidade
rclativoaorestantedalista(GlanzereCunitz, 1966). da informação e n~o o simples d~correr do tempo,
Entende-se que na evocação livre apenas as como fator detenninante na manutenção 011 descart~
ultimas palavras estcjam sob cstocagem de curta dos conteúdos.

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10 1I.C.lI.agilll'.F.lrrill

A fim de se testar a hipótese da memória Eventualmente. porém, estes esquemas podem ser
operacional, foi desenvolvida a metodologia da tarefa incompatíveis, gerando penurbações no compor-
dupla. Considcrando quc a mcmória de curta duração lamento global, o que pode ser evitado por um
tem capacidade limitada e que pode ser mensurada processo automático de resolução de conflitos que
através da capacidade de extensão (span) verbal. seleciona os esquemas adequados de acordo com as
primeiramente introduz-se a chamada "tarcfa prioridades e o contexto.
secwldária", que consiste na apresentação de uma Adicionalmente, existiria um controlador
série de dígitos a serem retidos através de repetição superior, o sistema de atenção supervisor, consciente
continua; a seguir, uma ''tarefa primária" (en~olvendo e voluntário, que seria acionado em circunstâncias
compreensão, julgamemo ou aprendizagem) é cspecificas: (I) frente a tarefas mais complexas que
desenvolvida até o comando para a evocação da série exigem planejamento ou tomada de decisão; (2) cm
de dígitos. A suposição básica era a de que a tarefa situaçõcs nas quais uma forte tendência ou resposta é
secundária promoveria o desvio ou divisão da atençao envolvida e nas quais estes pnx;~,sos automáticos
e sobrecarregaria a memória operacional, resultando sejam inadequados; (3) quando scqüências de atos
cm prejuizo na tarefa primária. As funções novos ou pouco estabelecidos sejam necessárias; ou
investigadas sob estas condiçõcs revelaram-se, no (4) em pr~sença de situação perigosa. Dcste modo, o
entanto, apenas minimamente afetadas: o tempo controle dos esquemas que constituem o compor-
necessário ao des.:mpenho da tarefa primária é tamento é exercido tanto automaticamente, com
direlamente proporcional ao numero de digitos solicitação de atenção mínima, como alravés do
concorrentes, mas a proporção de erros pcnnanece conlrole voluntário do sistema supervisor, quando a
constante, independentemente da quantidade de atenção é indispensável
distratores. Esses resultados indicam a existência de A competência deste sistema é avaliada através
outra instância geradora de recursos que não uma da execução simultânea de duas tarefas, cada qual
memória operacional imica e levando á subdivisão do relativa a wn dos módulos subordinados. Ncste caso, a
sistema. O aprimoramento da noção inicial de diminuição da rapidcz em relação ao desempenho
memória operacional resultou em um modelo isolado. decorrente da divisão da atenção entrc as duas
multi-composto (Baddeley, 1996). compreendendo atividades, indica sobrecarga do executivo centra!.
um executivo central, ou sistema de controle de Conclui-se, port:lJ1to, que o sislenla de controle de
atenção, servido ]Xlr dois sistemas subordinados, atenção possui capacidade limitada que, uma vez
denominados alça fonológica e alça vísuo-espacial. ultmpa.o;sada, loma inviável o cumprimento de tarefas
Sistema de controle de atenção - Principal concorrentes a contento, ou seja, com a mesma rapidez
componente da teoria, tem como funções o raeio- que se executadas isoladamente. Mais além, a própria
cínio, a tomada de decisões, o planejamento de noção de atenção- ou a mobilização da capacidade de
estratégias e o controle do compoI1amento por meio processamento para o que é considerado relevante -
da integração das informações dos sistemas implica que os sistemas de proecssamento de
subordinados. Sua opera~ão se assemelha ao modelo infonnaçãotêm capacidade restrita. CasoestesrccUISOs
de Nonnan e Shallice (citados IX'r Shallice, 1988) fossem ilimitados, o direcionamento scletivo de
sobre o controle da ação pela atenção e seu funeio- atcnção para um ou outro aspecto do meio não seria
namento é estreitamente relacionado as porções
dorsolaterais mediais dos lobos frontais Alça fonológica - Responsável pela manu·
(Baddeley,1986; Coweye Green, 1996; Fuster, 1984; tenção de material verbal, funciona através de código
retrides, Alivisatos, Evans c Meyer, 1993; Pctrides, fonológico. É uma estocagem de capacidade restrita.
Alivisatos, Meyer e Evans, 1993; Roland. 1984). cujo traço mnêmieo decai entre 1-2 segundos se não
Shallice (1988) propõc que a maioria das reativado através de ensaio articulatório, também
ações sejam gcradas e controladas por esquemas ou conhecido como repetição subvocal (Badde1ey,
conjuntos de esquemas de disparo automático. 1986).

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1I..w:lisleaas',..HIIS

A alça fonológica comporta em si dois anos para se completar, pelo que se pode depreender
sistemaseomplementares, um destinadoà estocagem dos casos de amnésia retrógrada temporalmente
fonológica passiva, outro relativo aos processos de graduada. Para efeito de dcserição, a nomenclatura a
ensaio aniculatórios (Baddeley, Lewis e Vallar, ser adomda no presentc artigo basear-se-á na utili-
1994; Della Sala e Logie, 1993). Entende-seque as zadanos estudos envolvendo pacientes amnésicos.
entradas auditivas atinjam diretamente a estocagem Diversas síndromes amnésicas são discri-
fonológica passiva, na qual são mantidas através do mináveis em funçãodaetiologiaeda intensidade dos
ensaio articulatório. Já as entradas verbais de sintomas. Dois dos principais tipos, classificados
apresentação visual se dão primeiramente pelo segundo os sítios de lesão neural, são as assim
ensaio aniculatório, ocasião em que são trans- chamadas amnésia temporal medial. da qual soma o
formadas em código fonológico e podem ganhar paciente HM (Scovillc c Milncr, 1957)c a amnésia
acesso à estocagern fonológica. Revisõcs sobre o diencefalica, cujo exemplocaracteristicoéopaciente
assunto indicam que os pacientes com dificuldades NA (Kaushall,Zetin e Squire, 1981). NA foi vilimade
seletivas na memória auditiva verbal de cuna uma lesão cerebral perfurante atingindo os núcleos
duração têm um prejuízo especifico na estocagem talâmicos dorsomediais, ventrais anteriores e ventrais
fonológica passiva, enquanto que sua capacidade de laterais, tracto mamilo-talâmico e núcleos mamilares
aniculaçãosubvocalpareceintaeta(p.ex.,Baddcley, (Squiree Moore, 1979; Squire, Amaral, Zola-Morgan,
1986; Della Sala eLogie, 1993). Kritchevsky e Press, 1989). Como seqüclas do
Alça visuo-espacial - Considera-se que seja acidente, este pacienle apresentava uma amnésia
análoga à alça fonológica por também manter anterógrada marcante, especialmente em relação a
informações que JXldem ser alÍvamente ensaiadas, material verbal; preservação da capacidade de adqui-
porém de natureza vísuo-espacial (Baddcley, 1986; rir novas habilidades motoras, pcrceptuo-motoras e
Fanner, Berman e Fletcher, 1986). Scu conceito cognitivas; ligeira dificuldade na evocação de
deriva de estudos sobre o papel das imagens na mcmórias anteriores ao acidente e preservação da
memória verbal, bastante utilizados em técnicas memória imediata e das demais funções cognitivas
mnemónicas: o expediente de codificar itt:ns a serem (Cohen c Squire, 1981; Kaushall e cols., 1981).
lembrados em termos visuais e associá-los a Cada uma destas síndromes possui um padrão
determinadas localizações em uma cena tem efeito próprio de dificuldades mnêmicas: de acordo com
facilitador na evocação do material e. supostamente, determinados autores, na primeira, o problcma se
depende da operação desta instância da memória encontra no processo de consolidação da memória,
operacional (Badde1ey, 1986). enquanto que na segunda as dificuldades estão na
codificação inicial das infornlaçõ<:s, com capacidade
preservada de retenção dos dados que são even-
Memóriadelongadulação tualmenteadquiridos(Squire,1982a-veradiante).
Ilá controvérsias sobre a taxa de esquecimento das
o limite temporal entre as memórias de cuna e
informações, com alguns estudos mostrando que são
longa duração parece impreciso e de difícil
mais elevadas na amnésia temporal (Huppert e
estabelecimento. Nos estudos de curva de posição
serial a expressão "memória de longa duração" Piercy, 1978, 1979; Squire, 1992), outros revelando
esquecimento equivalente nos dois grupos (McKee e
refere-se ao material do início da lista de estimulos,
Squire, 1992) e ainda relatos dc pior retenção de
apresentado segundos ou minulos antes da evocação.
dados naamnésia diencefaJica(Leng e Parkin, 1989).
Por oulro lado, em t:stuuos t:nvolvt:ndo pacientt:s
A amnêsia retrógrada é considerada equivalente
amnésicos ela refere-se a material cuja consolidação
em ambos os casos (Squirc. Haist e Shimamura, 1989),
ocorreu dcfinitivamente; tal processo pode demorar
ainda que as lesões diencefálicas sejam mais

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M. [, MaliLI e &. I. lmer
'"
c:spc\:ificamente relacionadas 11 dificuldades na dific!J!dades dos pacientes amnésicos são atribuídas à
ordenação temporal de eventos (Grafl:Radford, Tranel, sua incapacidade de processamento os níveis mais
Van Hoesen e Brandt, 1990; 1992). Não obstante estas profundos (Cennack e Real e, 1978)
diferenças, ambos os tipos de amnésia possuem como Parece razoãvel supor que só faz senlido
característica comum a occrrência de deficiências de arquivar duradouramente as informações que
memória de longa duração apenas sob condições de adquiram significado profundo, ou seja, que sejam
aprendizagem e avaliação envolvendo dctcnninados relacionadas li outros dados, que sejam investidas de
tipos de conhecimento, ao mesmo tempo que a relevfincia e que sejam manipuladas enfim, que se
capacidade para adquirir outros tipos de conhecimento concatenem coerentemente ao corpo de dados
está intacta(vcradiantc). constituído pcla.~ experiências prévias do sistema
Níveis de processamento e/ou difcremes Alternativamente, as dissociações observadas
!iislemm'? - Esta dissociação de desempenho cm na amnésia podem serinterprellldas como evidências
tarefas que requerem a memória de longa duração li favor da distinção entre os sistemas de memória,
pode ser interpretada de dua~ maneiras. A prlllleira, cada qual com atributos absolutam ente particulares e
ligada à tradição da psicologia cognitiva, propõe a capacidade de funcionamento independente dos
existência de um sistema nmêmico unitário: as disso- outros. Esta hipótese, por sinal a mais aceita, defende
ciações experimentalmente observadas decorreriam a cxistência de ao mcnos dois sistemas di5lintos, que,
apenas do tipo ou do nível de processamento das para deito de simplificação, s.:rão aqui proviso-
infonnações (quando semelhantes na codificação c no riamente denominados de declarativo e, em
momento de teste, o desempenho seria adequado; oposição, não-declarativo, conforme proposto por
quando diferentes, levariam a falhas de memória). Squire e Zola-Morgan (1988, 1991) (ver adiante)
Segundo seus defensores, as evidências experimentais Entre os argumentos arrolados para favorecer esta
nào justificam ahaodonar a idéia da existência de interpretação, estão:
apenas um sistema, cuja opera~ão basear-s.:-ia em um Acessu (jus cunleúdm' - Os termos '"memória
único conjUIllO de princípios e leis. As dissociações declarativa"' c "mcmória não-declarativa'" refe-
observadas resultariam de métodos de aquisição c rem-se à acessibilidllde consciente aos conteúdos
testagem parliculares (p.ex., Craik e Lockhart. 1972; mnêmicos. A memória declarativa indica um sistema
Craike Tulving, 1975; Greene Shanks, 1993;Jaeoby, de conhecimento no qual as informações armaze-
1983; Moseoviteh, Wineour c McLaehlan, 1986; nadas são explicitamente acessíveis em fonna de
Rocdigcr, 1990; Rocdiger, Rajaram e Srinivas, 1990). fatos e dados e podem ,ercon>cienlt:Illente evocadas
Como exemplo desta posição, Craik e Lockhart Em oposição, o termo memória não-declarativa
(1972) enfatizam processos perceptuais e de atenção abrange lIS operações, as habilidades t: os vieses no
em detrimento de estruturas ou sistemas mnêmicos. desempenho, frutos de aprendizagem, que não
I'ara esses autores, memória primaria refere-se à podem ser explicitamente aeessados (Squire, 1987)
manutenção das iofonnaçõcs em um dado nível de Seja qu.al for a nomenclatura utilizada por diversos
pw~cssamcnlo, portanlo disponível para proces-
autores para indicar estas duas classes de fenômenos
samentos adieiooais, sem que isto implique neees-
(ver adiante), é incontestável que possuem dife-
s.a~31m:nte em estoc~gem pl:rmanente. Faz-se uma
renças no fonnato da infomlaç~o representada, ou
distinção entre os aspectos sensoriais dos estímulos,
seja, os conteúdos da memória decl~rativa são
quc levariam a urna codificação superficial e aqueles
representações simbólicas de experiências passadas,
relacionados às suas propriedades semânticas, que
que os produtos da memória não-decla-
permitiriam níveis de processamento mais profundos -
expressam-se sob a forma de desempenhos
conseqüentementt:, maior pen;istênáa na memória e
componamcntaLs.
maior probabilidade de evocação posterior (Craik e
Tulving, 1975). Memória, assim, .: vista cumo um SislemllS neurai.\ - A formação hipocampal é
processo contínuo único, abrangendo dcsdc a analise implicada na memória declarativa desde os primeiros
sensorial até operações semântico-associativas. As estudos envolvendo a resseeç~o de eSlnlluras tem-

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IHlW:sisttlllllllllCtUlS 111

porais como tratamento de epilepsia incontrolável (Aggleton e Shaw, 1996), o que indicaria uma
(Milncr, 1958; Penficld c Mathicson, 1974; Penfield dificuldade de recuperação de informações que
e Milner, 1957; Scoville, 1954: Scoville e Milncr, tcriam sido efetivamente adquiridas. No entanto, este
1957). Dentre os pacientes descritos na publicação beneficio não é desproporcional ao obtido eom
que discutia o caso HM, aquele cuja remoção sujeitos normais (Tulving e Pearlstone, 1966),
limitou-se bilateralmente ao lobo temporal rostral, à indicando que pistas e provas de reconhecimento
amígdala e ao uneus não apresentou quaisquer el ieiam melhor desempenho cm qualquer indivíduo e
dificuldades pós-operatórias de memória (Scovil1t: e não apenas no grupo particular dos amncsieos (Haist,
Milner, 1957). Existem, mesmo, indicaçõcs de que a Shimamura e Squire, 1992; Shimamura e Squire,
simples desconexão hipocampal causada por danos 1988).
ao fómix, sua principal via eferente, cause uma A hipótese de deficiência no processo de
síndrome amnéstica semclhante à deeorrcnte de consolidação já era levantada por Scovillc e Milner
lesões no hipocampo, ainda que este permaneça (1957) em relação ao caso 11M. A favor desta idéia
imacto (Hodges e Carpenter, 1991) estão os dados relativos à amnésia retrógrada
Neste sentido, o dado mais conclusivo a favor temporalmente graduada de pacientes que sofreram
do envolvimento hipocampal na memória decla- danos hipocampais. O fato de que na amnésia as
rativa écertamente o relato de Zola-Morgan, Squire e memórias imediata e remota permancçam preser-
Amaral (1986) a respeito do paciente RB. Trata-se de vadas sugere que os sistemas nela danificados não
um senhor que desenvolveu distúrbios mnêmicos em sejam sítios de estocagem definitiva das infor-
conseqüência de isquemia cerebral c que foi mações, mas sint que apenas participem como
estudado neuropsicologicamentc em seus cinco anos intermediários neste processo. A tbrmação hipo-
de sobrevida com resultados dcmonstrando severa campal funcionaria como uma estação entre a
amnésia amerógrada verbal e não-verbal, memória aquisição das informações e o estabelecimento das
retrógrada praticamente non1la1 e demais funções memórias de longa duração. dada a sua capacidade
cognitivas preservadas, a exemplo do quc ocorre nas de mudanças plásticas rápida.~ rcpreSt::ntadas, por
síndromes amnésicas chissicas. Mais interessante, o exemplo, pela potenciação de longa duração
paciente era capaz de desempenhar, normalmente, (Alvarez e Squire 1994; Squire e Alvarez, 1995). A
tarefas dependentes da memória não-declarativa. Os manutençllo de dados recém-adquiridos dependeria
exames neuropatológicos após sua morte revelaram de seu funcionamento normal por um período de
uma lesão bilateral circunscrita ao campo CA I do tempo que pode variar de segundos a anos
hipocampo e outros danos cerebrais mínimos que (MeClclland, McNaughton e O'Reilly, 1995 ;
foram considerados irrelevamcs para o problema de Rcmpel-Clower e cols., 1996; Squire, 1987; Squire e
nlelllÓria. Este relato e outros easos semelhantes Zola-Morgan, 1996), passando então gradual e
(p.ex., Cummings, Tomiyasu, Read c Senson, 1984; lentamente ao domínio do ncocórtcx. na medida em
Rempel-Clower, Zola-Morgan, Squire e Amaral, que as reiteradas "atívaçõcs" proporeionadas pelo
1996) apresentam-se como forte argumento a favor hipocampo tornem estas eonexões corticais
do envolvimento hipocampal no estabelecimento de suficientemente reforçadas a ponto de se tomarem
novas memórias declarativas, que são Ião mais eventualmente independentes.
profundamente afetadas quanto mais extensa a les~o, Estes dados vêm de encontro à tcse de Ribot
conforme já ressaltado por Scoville e Milner ( 1957). (citado por Squire, 51ater e Chace, 1975), segundo a
Todavia, apenas cstedado deixa inexplicada a qual a susceptibilidade de uma memória à perda é
natureza da amncsia antcrógrada nestes casos, qne inversamente proporcional a sua idade. As memórias
tanlo pode se dever a dificuldades de evocação como de longa duração seriam estocadas de modo
de estocagem. A favor da prímeira hipótese está o distribuído nas mesmas areas associativas do
efeito facilitatório no desempenho destes pacientes neocórtex que são especializadas no processamento e
obtido por meio do emprego de pistas e avaliações análise de tipos específieos de informações a serem
através de múltipla escolha ou reconhecimento armazenadas (Alvarez e Squire, 1994; Paller, 1997;

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,,, 1.t. . . . . ~.I.lrIitr

Squire e Alvarez, 1995). A lembrança integral de um envolvendo técnicas deneuro-imagem descobriu-se


único objcto ou evento seria representada por uma que a resolução deste tipo de tarefas está associada a
rede ncural que envolveria diferentes regiões do um aumento do fluxo sangüincQ no cerebelo, no
sistema nervOSQ, ativada pela 3ção hipocampal, no sistema fronto-estriatal, nos gânglios da base e no
caso de lembranças recentes, ou pelo disparo córtex associativo frontal (p.ex., Salmon e Butters,
independente de um dos elos da cadeia no neocórtex, 1995; Squire, 1987; Yamadori, Yoshida, Mori e
quando mais solidamente estabelecida. Em situação Yamashita, 1996).
de dano no sistema hipocampal, este estabelecimento Incompatibilidade fllncionol - Sherry e
duradouro das informações torna-se inviável, Schacter (1987) defendem a existência dc múltiplos
gerando a perda dos dados adquiridos imediatamente sistemas de memória a partir de uma perspectiva
antes da lesão e, conseqüentemente, a amnésia evolutiva. De acordo com os autores, novos sistemas
retrógrada, de memória surgem quando as propriedades dos
A síndrome de KorsakotT é unanimemente sistemas já existentes. que foram lapidadas pelas
apontada como o principal excl1Jplo de amnésia exigências do meio e pela seleção natural, silo
diencefálica. Todavia, uma vez que nestes casos os incompatíveis com a soluçao de novos problemas
problemas de memória se associam a outras As tarefas de detectar variâncias e de dctectar
alterações neuropsicológicas, tais como sinais de invariãncias entre episódios s1l0 incompativeis,
disfunção frontal (Squire, 1982a, 1982b), a podendo apenas ser desempenhadas por sistemas
caracterização da amnésia diencefálica que se segue distintos, um deles capaz de extrair as características
seconcentraránaquelespacientesemqueasindrome invariantes de diversos episódios e de descanar os
amnésica seja um sintoma isolado. Neste sentido, o dctalhes irrelevantes de cada um e o outro capaz de
caso mais notável é o já mencionado paciente NA preservar os detalhes contextuais unicos de cada
(Cohen e Squire, 1981). A análisedesteedeoutros experiência.
relatos de lesões diencefálicas (Dusoir, Kapur, Assim, de acordo com estes autores, a
Byrnes, McKinstry e Hoare, 1990; Speedie e incompatibilidade funcional estaria na base da
Heilman , 1982) levou à constatação de que as distinção cntre o chamado sistema I, ou não-de<:la-
estruturas nervosas envolvidas nos problemas de rativo, que sustenta aprendizagens graduais ou
memória são os núcleos talâmicos, especialmente o incrementais, e envolvido na aquisiçãodc hábitos c
dorso-medial, corpos mamilares e trato habilidades e é talhado para a detecç1l0 de inva-
mamilo-talâmico (Squire, 1987; Squire, Amaral e riâncias entre episódios, e o chamadosistcma II, ou
Press, 1990). declarativo, no qual a aprendizagem ocorre após
Os prejuízos de memória antcrógmda nas apenasurnepisódiodccnsaio,afcitoàprcservaç1l0de
amnésias temporal e dicneefálica se revelam apenas detalhes contextuais que são as marcas singulares das
quando processamentos declarativos são envolvidos. experiências e que gera memórias de cadter
Paralelamente, estes sujeitos exibem bom desem- cpisódico-rcprcscntacional(ShenyeSchaetcr, 1987).
penho em tarefas cuja execução prescinde da Ontogenese - Os adultos possuem poucas
integridade do sistema declarativo (Cohen, 1984; memórias declarativas relativas a experiências
Gabrieli, Milberg, Keane e Cork.in, 1990). Adicio- datadas anteriormente a seus 5 ou 6 anos e
nalmente, embora seu desempenho seja equivalente praticamente nenhuma lembrança anterior aos 2 ou 3
ao de individuos normais, os pacientes n~o se anos. Estes limitcs da chamada amnésia infanti! nilo
recordam conscientemente das situações dcapren- são uniformes, mas determinados pela natureza das
dizagem. Conclui-se que este tipo de memória recordações - há cenos tipos de acontecimentos mais
não-declarativa. preservada tanto na amnésia memoráveis que outros, ponanto mais facilmente
temporal como na diencefálica, independe das evocáveis na vida adulta ainda que tenham ocorrido
estruturas afetadas nestes casos, estando relacionada muito precoccmente, o que parece scr dcterminado,
à ativaç1l0 dos sistemas de processamento envol vidas entre outras coisas, pelo tom emocional dos
na aquisição dessas habilidades. Atraves de estudos acontecimentos (Usher e Neisser, 1993).

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'"
Uma das principais questões acerca deste REFERENCIAS BIBlIOGRi llCAS
fenômeno da amnésia infantil diz respeito II sua
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cagem na ocasião ou se detenninada por dificuldades
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parecem favorecer a primeira possibilidade. havendo Atvarez,P.cSquire.L.R.(1994).Memoryconsolidation
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fortes indicios de que o desenvolvimento da memória
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Mais além, há evidências de que a memória Baddetey. A. D. (I 992a). Is workingrncrnory working?
declarativa possa se desenvolver, ao menos parcial- Quarterly Joarnal ai Experimental Psychology.
mente, a partir de experiências de aprendizagem 44A.I-31.
ni'lo-declarativas, tais como a fluência pcn;cptual. Baddeley,A. D. (1992b) Workingmemory.Science.1JJ,
Drummey c Newcombe (1995) constataram que 556-559
crianças de três anos conseguem identificar figuras às Badcteley, A. D. (1996). The fractionation of ,,-,orkmg
quais foram expostas três meses antes mediante memor)". I'rocudlllKJ of lhe New York Academy of
aprescolaçãode fragmentos dos estimulos, ainda que ScietrcexUSA, 93, 1346S-13472.
não sejam capazes de identificá-los em teste de Baddetcy,A. D.; uwis, V. c Vallar,G. (1994). Exploring
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o reconhecimento são vinculados na idade adulta, mas Experimemol Psych%ID'. J6A, 223-252.
não nas crianças, as autoras concluem que o Baddelcy, A. D. e Warrington, E. K. (1970). Amnesia
desenvolvimento da memória dedarativa relacionado and the distinction belween tong and short-Ierm
à idade pode se dever :i conscientização de que a memory. Jourrwl of Verbal Learning ond Verbal
pré-ativação perceptual é um indicador de expe- Behavior. 9, 176-189
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Parece haver consenso em relação à noção de Cennack, L. S. e Reale. L. (1978). Depth ofprocessingand
que memória não é uma entidade única, mas relenlion ofwords by alcohotic Korr.akoffpalients.
compreende conjuntos de habilidades mediadas por Journal of Experimental Psychalogy: Human
módulos independentes, porém cooperativos do LCrJr",nga"dMcmory.4.16S-174.
sistema nervoso. Se por um lado há diver gências em Cohen, N. J. (1984). Preserved Icaming capacily in
relação à quantidade de módulos, bem como à amnesia: Evidence for muttiplc memory syslems. Em
natureza da informação por eles processada, o que L.R . Squirc C N. BUllcrs (orgs.), The "curaps)'-
resulta em substancial quantidade de investigação chology ofmemury(pp.83-I02). New York: Guitford
experimental sobre o tema, por outro. pouca atenção Press
vem sendo destinada aos mecanismos d ~ interação Cohen, N. J. e Eichcnbaum, II. (1994). Memory, amuesia
entre esses módulos. Enfatiza-se, assim, a neces- and lhe hippocampal.ry.•lem. Cambridge: MIT Press
sidade conceituai de investigaçõcs direcionadas ao Cohc:n,N.J.eSquire. L. (1981). Retrogradcamnemand
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