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O processo de aprender um esporte: O neurônio que aprende

CAPÍTULO
5

O bjetivo do capítulo

Promover conhecimentos que possam permitir, ao estudante leitor, a compreensão


sobre o aprendizado de habilidades esportivas a partir de uma perspectiva
neurofisiológica, evidenciando-se, para tanto, a forma de ocorrência da consolidação
de conteúdos desta aprendizagem, em nível neuronal. A questão que deverá ser
respondida através da leitura do capítulo é: Considerando-se ser, o aprendizado, de
uma habilidade esportiva, uma posse neurônios específicos, como este aprendizado
Aneles
visão neural da aprendizagem
se instala?

Entender a aprendizagem de movimentos esportivos como um processo


decorrente da pratica e da experiência, internalizada em neurônios que compõem os
sistemas, mecanismos e processos mentais é, uma condição indispensável para o
profissional de ensino nesta área.
Concordando com Hebb, o pensamento orientador deste livro e,
conseqüentemente, do presente capítulo, é o de que qualquer teoria dirigida à explicação
sobre a aprendizagem humana deve estar respaldada por conhecimentos oriundos da
pesquisa que focaliza as funções daqueles mecanismos e processos mentais que através
de combinações neuroquímicas, estruturam, operacionalizam e controlam o movimento
humano. Ou seja, uma integração neuroquímica que o nosso cérebro promove em
situações de aprendizagem de qualquer natureza. Em outras palavras, toda e qualquer
teoria nesta linha precisa levar em conta que o aprendizado que se reflete através do
comportamento humano é sempre uma decorrência de decodificações (e codificações)

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estabelecidas internamente em unidades fundamentais do sistema nervoso (SN)
denominadas neurônios.
As evidências que definem o fato, de ser, a aprendizagem humana, um
resultado de combinações neuroquímicas são fortíssimas e amplamente demonstradas
em áreas de abrangência da neurociência. As bases fundamentais desta noção teórica se
estabeleceram através de inferências e provas laboratoriais de pesquisas enfocando a
circuitaria neural e bioquímica do aprendizado, cognição e memorização animal (inclusive
a do homem), tendo-se, estas provas, acumuladas em torno de explicações sobre
processos e mecanismos neurais revelados como implícitos na plasticidade do nosso
cérebro. Destacando-se, nelas, estão dois dos principais circuitos responsáveis pela
consolidação de aprendizagem hábil-motora nos neurônios das memórias declarativa e
de procedimentos; 1) O que se tem definido por potenciação de longo termo, abreviado
por LTP e, 2) um outro que se caracteriza em forma de depressão de longo temo, ou
LTD. Lembrando-se aqui que a memória declarativa, no ser humano é caracterizada pela
sua relação com o armazenamento de fatos e eventos, enquanto que a de
procedimentos, a hábitos e outros tipos de conteúdos nela automatizados.

Como veremos mais adiante e, em


No aprendizado de esportes, a memória
declarativa guarda as experiências do corpo e do consideráveis detalhes, o local de residência
seu desenvolvimento no espaço. Esta experiência
das codificações representativas da nossa
abrange espacialidade, temporalidade, timing,
eventos de antecipação, parâmetros de memória declarativa é o nosso córtex neonatal
movimento . . .
(neocortex), codificações estas, que são me -

diadas por outras várias estruturas cerebrais. Mais especificamente, alguns


autores e pesquisadores têm mostrado (Ex., Bear e Connors, 2003) ser a região do
nosso córtex temporal médio (também de alguns outros animais), associada a várias
estruturas diencefálicas (incluindo o hipocampo), o local de residência e
operacionalização deste tipo de memória. E a memória de procedimento, aonde se situa?
Graças a avanços significativos na pesquisa molecular realizada sobre a circuitaria
cerebelar, hoje se sabe, ser o cerebelo, o local de armazenamento de eventos a ela
associados. De uma certa forma, o conhecimento sobre o local de residência da

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memória de procedimentos, foi desenvolvido a partir da descoberta do fenômeno
neuroquímico (já referido acima) denominado depressão de longo termo (LTD).

A memória de procedimentos, se Mostrar os dois tipos de armazenamento, ou seja,


caracteriza como uma estrutura de
armazenamento de conteúdos de o declarativo e o de procedimento, seria uma
aprendizagem relacionados a hábitos e
outros eventos nela automatizados (ex., forma adequada de se prosseguir a leitura do
o andar de bicicleta, sem a consideração
da lógica de como andar. Isto é, conhecimento inerente a este capítulo. Todavia,
somente a relação do pedalar, manter o
guidão de acordo com a estrada, etc... por questão de objetividade, a composição, deste

Livro, foi assumida sob a noção de que a apresentação do formato de consolidação


desenvolvido sob uma condição de LTD (mostrado a seguir), contribuirá também para o
entendimento de como, ambos os tipos de aprendizagem neural, ocorrem. Ou seja,
como os neurônios de procedimentos e declarativos aprendem sobre movimentos. Estas
formas de aprendizagens estão sendo definidas aqui, como aprendizagem neural.
Aprendizagem neural (No cerebelo).
A aprendizagem neural, como o termo sugere, acontece nos neurônios específicos
a cada especialidade cerebral (mais apropriadamente, nas sinapses), sendo este, um
resultado de múltiplas combinações neuroquímicas, ocorridas entre neurônios de
diversas categorias. Sendo, portanto, o neurônio, a Cinderela do processo de aprender,
cabe aqui, uma breve apresentação desta unidade básica do sistema nervoso.

O neurônio
O nosso sistema nervoso é composto por vários bilhões (aproximadamente 100
bilhões!) de neurônios que ao longo do nosso desenvolvimento orgânico se organizam (e
se reorganizam) em correspondência a diretrizes maturacionistas e influências
ambientais. Esta correspondência pode ser entendida como uma busca pelo equilíbrio
funcional que o organismo humano precisa empreender, no desempenho de suas
funções de adaptação e interação com as variações do mundo.

Nestes minúsculos corpos, quase imperceptíveis a olho nu, se encerra a grande


variedade de conhecimentos que acumulamos no curso de nossas vidas. Se fossemos
relacionar a natureza destes conhecimentos, tendo sob perspectiva a noção das

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inteligências múltiplas (Gardner, ) poderíamos dizer que tais conhecimentos são de
ordens artística, ecológica, sinestésica, lógico-matemática, inter e intra pessoal, . . . . e
emocional (Golleman). Isto porque, ao se definir a existência destas inteligências, se
estabelece, também, o pressuposto da existência de memórias a elas associadas.
Conseqüentemente, se conhecimentos são consolidados em neurônios, estes encerram
todos estes tipos de conhecimentos e, talvez, em centros neuronais específicos, cada um
denominado de acordo com o tipo de conhecimento armazenado (exemplo, a memória
emocional guarda conhecimentos de eventos e vivências emocionais).

Figura 2.2. Mostragem de algumas das divisões de um neurônio piramidal (córtex).

1. Núcleo
2. Mitocôndrias
3. dendritos
4. Corpos de Nissl
5. Soma (corpo celular)
6. Nucléolos
7. Aparelho de Golgi
8. Tubos micros
9. Axônio
10. Retículo endoplasmático

 1. Núcleo – Organela (coberta por uma membrana) que contém o material genético
(cromossomos) que define o desenvolvimento da célula incluindo a capacidade de síntese de
proteínas necessárias à manutenção e vida celular.

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 2. Mitocôndrias – Compõem um sistema de produção de energia para “alimentar” a atividade
celular.

 3. Dendritos – Receptores fundamentais de informações entre neurônios

 4. Corpos de Nissl – Ribossomos utilizados na síntese de proteínas compatíveis ao neurônio em


função.

 5. Soma – Propriamente, o corpo revestido e configurado do neurônio.

 6. Nucléolo - Produz ribossomos, organismos utilizados na tradução da informação genética para


formas de proteínas.

 7. Aparelho de Golgi – Estrutura caracterizada por uma formação em “foles” ou pregas, tem a
função de armazenar (empacotando) proteínas e peptídios no terminal das visículas sinápticas.

 8. Tubos micros, também denominados microfilamentos - Sistema que inclui o


transporte interno de material neural (dentro do neurônio) que pode ser utilizado como suporte
estrutural da célula.

 9. Axônio – Via de transporte do impulso nervoso (informações) de um neurônio para outro.

 10 - Retículo endoplasmático – Tubos que transportam material neural para o interior do


citoplasma. Os retículos endoplasmáticos que utilizam ribossomos são denominados retículos
endoplasmáticos grossos e, os que não os utilizam, chamam-se retículos endoplasmáticos lisos.

Desde os experimentos de Ramon e Cajal (Século XIX), as divisões principais de


um neurônio se tornaram conhecidas e definidas sob os termos de (1) corpo celular, (2)
dentritos, (3) axônio e (4) terminações pré e pós sinápticas. Logicamente, esta divisão é,
sobremaneira simplista, uma vez que, em verdade, são muitas as partes que compõem
um neurônio, haja vista a relação, ainda bastante simplificada, mostrada acima. Quando,
através da ajuda de um microscópio eletrônico, de grande potencial, um neurônio nos é
mostrado, a sua grandiosidade e múltiplas divisões podem, nos deixar, deveras
perplexos! Apesar de sua alarmante pequenez é, através de suas múltiplas divisões (e
subdivisões) que o neurônio pode encerrar, além de toda uma estória da vida de um ser,
também a sua potencialidade para viver.
Estudos subseqüentes aos de Cajal e seus contemporâneos foram,
gradativamente, mostrando ser nas terminações pré-sinápticas e/ou nas pós-sinápses
entre neurônios que eventos de aprendizagem ocorrem (Ver Bear e Connors, 2002). Isto
é, os tipos de aprendizagem neural, nominados declarativos e de procedimentos são

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decorrentes de mudanças plásticas nas pré-sinápses e pós-sinápses dos neurônios que
compõem tanto o sistema armazenador de aprendizagem declarativa, quanto o de
aprendizagem de procedimento.

Figura 2.3. Mostragens sinápticas de um neurônio piramidal (córtex).

Aqui colocar a mostragem de uma siápse


entre neurônios

Considerando-se que a aprendizagem ocorre nas sinapses neurais, e


especificamente relacionada a cada modalidade do comportamento humano, como ela
(aprendizagem) se instala nos neurônios? Quais são os mecanismos desta instalacão?
Tendo-se em mente que o cerebelo é a residência de parte deste aprendizado, estes
mecanismos serão visualizados em consonância a esta estrutura. Para facilitar a
compreensão sobre a natureza e composição dos mesmos, é conveniente se fazer, aqui,
uma breve revisão da anatomia cerebelar, mas somente em relação as vias e neurônios
intra e extracerebelar envolvidos no processo de consolidação de aprendizagem motora.

Figura 2.4. Anatomia dos componentes do processo de consolidação de aprendizagem


motora (cerebelo). Destaque para as células de Purkinje, residentes no cerebelo e que aprende sobre
atos motores vivenciados pelo corpo, e as de Mossy e trepadeiras que fornecem informações (sobre
como um movimento foi planejado a de Mossy )) e,( como este esta se desenvolvendo, a Trepadeira)
à célula de Purkinje.

VERNON COLOCAR A QUI A FIGURA DO CEREBELO (ADAPTADA DE BEARS


OU OUTRO – ANATOMIA)

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A princípio convém se enfatizar aqui o fato de que a célula de Purkinje, a célula do
cerebelo que aprende, nasce no núcleo cerebelar e tem como principal (se não única)
responsabilidade aprender e transmitir informações sobre eventos de motricidade que o
nosso corpo experimenta em referência a si mesmo, ou em integração com o meio
ambiente. Para aprender, esta célula depende de duas informações: (1) uma emergente
do tronco encefálico (informação inerente ao plano motor efetivado pelo neocórtex) que
se propaga até o córtex cerebelar, inicialmente através dos axônios das células de Mossy
que adentram os dendritos das células granulares cujos axônios se desdobram em forma
de “T”, constituindo-se como fibras paralelas. A outra (2), uma informação permanente
sobre o “desenvolvimento da ação motriz” emergente do plano motor que tem origem
em uma pequeníssima estrutura do tronco encefálico baixo denominada oliva. Esta
estrutura é pensada ser a responsável pela integração inicial de estímulos
proprioceptivos que informam as dimensões do movimento do corpo no espaço e flui, até
o córtex cerebelar, através dos axônios da célula trepadeira (Figura 2.4).
A chegada das informações, mediadas pelas células de Mossy e a Trepadeira ao
cerebelo, ocorre, a princípio, por intermédio das pré-sinápses dos axônios destas duas
células sobre os dendritos da célula de Purkinje, despolarizando-a. As pós-sinápses
conseqüentes, produzem as modificações tanto nas componências químicas intracélular
da célula de Purkinje quanto nas pós-sinápses da mesma. As mudanças estão bem
descritas na explicação contida na Figura 2.6. Faz-se importante notar que para ocorrer
consolidação do evento sendo aprendido, se faz necessário que as pré-sinápses daquelas
fibras (Fibras em T ou paralelas e trepadeiras) ocorram ao mesmo tempo. Informações
destas células que ocorrem em tempo não simultâneo, não produzem consolidação em
referência a(s) células de Purkinje contactada(s).
Seria então, muito limitante para o processo de consolidação de eventos de
aprendizagem na célula de Purkinge, o fato de que, ali, muitos dos “acasalamentos”
entre pré e pós-sinapses pudessem não se efetivar ao mesmo tempo? Provavelmente
não. A plasticidade do sistema de aprendizagem de procedimentos (bem como o
declarativo) é magnânima a ponto de que apesar dos milhares destes ciclos serem

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concluídos como conjugações “fora de tempo”, milhares delas estarão sendo
apropriadamente conectadas “em tempo”. Isto é, se, por motivos normais, alguns
milhares de sinapses não se efetivarem em tempo de integração, outros milhares
deverão estar, sem dúvida, se integrando.
O fenômeno do LTD de acordo com as explicações acima pode ser interpretado
como um reflexo da integração dos substratos neuroquímicos no interior da célula de
Purkinge. Os substratos neuroquímicos, como visto, são oriundos das vesículas sinápticas
da fibra paralela (ou fibra em T a partir da célula granular que dá continuidade a
comunicação originária da célula de Mossy) e da fibra trepadeira (originárias das células
que compõem a estrutura do tronco encefálico denominada Oliva) evento este que faz
ocorrer a memorização de dados trazidos por estas fibras. Convém se entender que
também fazem parte do fenômeno da LTD, os neurotransmissores (e vários tipos de
proteína) internos da própria célula de Purkinge. Ainda como explicado acima, qualquer
evento de cognição se define através de combinações neuroquímicas, em um processo
denominado consolidação.
Neste instante pergunta-se ao leitor, se ao mentalizar a sua própria imagem
abotoando uma blusa (ato de execução quase diária na vida de qualquer um de nós)
poderia pensar que uma tarefa deste tipo, tanto em processo de aprendizagem quanto
em condição de performance é um resultado de combinações neuroquímicas? Ou seja,
neurônios trocando informações através de sínteses sinápticas? Teria pensado, em um
outro exemplo, que ao abraçar uma pessoa querida, os seus braços fariam apenas
contato (com o corpo da referida pessoa) e o cérebro, através de combinações
neuroquímicas é que sentiria o carinho? Talvez você nunca tenha pensado nisto desta
forma, não é? Pois é, na próxima vez que você estiver ensinado conteúdos hábil-motrizes
para um indivíduo, lembre-se que estes conteúdos de alguma forma se instalam, em
neurônios de estruturas cerebrais, através de combinações da neuroquímicas
procedentes entre eles.
Considerando-se o que foi explicado em termos da aprendizagem de
procedimentos, poderíamos agora conclusivamente conceber ser o cerebelo o local de
aprendizagem motora e, também, de armazenamento (memorização) desta

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aprendizagem específica? A resposta seria que, em grande parte, sim, e em outra parte,
não. A aprendizagem motora, ou seja, o desenvolvimento de habilidades motoras ocorre
em função de armazenamentos da mecânica inerente a cada habilidade e, de
armazenamentos de conteúdos lógicos inerentes à objetividade que ela possa conter. A
efetivação de um ato motor, conseqüentemente, decorre de uma integração entre as
memórias de procedimento e declarativa, conjugadas em seu propósito. Estas
memorizações têm base creditada em forma de “esquemas”, configurações plásticas que
modulam a ação (Ver a Teoria do Esquema, Schmidt, 1975, no capítulo 1). Entendendo-
se que um esquema motor compreende a conjugação de um grupo de neurônios
(provavelmente milhares de neurônios) que aprenderam sobre uma determinada classe
de movimentos, para subsidiar, por exemplo, um evento de arremesso de uma bola à
uma cesta de basquetebol, o arremessador certamente se basearia em um esquema
composto por conhecimentos declarativos e de procedimentos como mostrado na Figura
2.6.
Logicamente, para que o arremesso, implícito no exemplo acima, possa se
desenvolver de forma adequada, se faz necessário que o esquema motor, para ele
utilizado, seja bom e, as adaptações a ele feitas, se integrem, de forma precisa, às
demandas do momento. Esta dependência estará, como não poderia deixar de ser, afeta
ao conteúdo das vivências anteriormente armazenadas nos dois tipos de memórias já
referidos.
Depressão de longo-termo (LTD) e a sua função na aprendizagem de
procedimentos.
Voltando a noção já apresentada, dois tipos de informações (1) as relativas ao
plano motor (oriundas de um conjunto de estruturas do tronco encefálico) e (2) outras
relacionadas ao desenvolvimento do plano, sob forma de movimento (informações
oriundas de uma estrutura nervosa chamada Oliva) são necessárias para a ocorrência de
um evento de aprendizagem motriz. Procedendo-se o registro encefalográfico destas
duas informações simultaneamente, Masao e Ito (Ver Bear e associados, 2002)
demonstraram que a célula de Purkinge baixava a sua atividade (depressão). Ao
contrário, quando a medição era feita em função das duas informações, mas, não

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simultaneamente, a atividade desta célula aumentava ou permanecia inalterada (Ver
Figura 2.4).
Na Figura 2.4. Na relação R(A), o registro da célula de Purkinge não se altera ou aumenta
em potência pelo fato da estimulação elétrica nas fibras trepadeiras e paralelas (fibra T) ocorrer em
diferentes tempos. Na relação R(B), ocorre a depressão pelo fato daquelas fibras estarem sendo
eletrificadas simultaneamente. Adaptada de Bear e associados, 2002.

R (A) R (B)

VERNON DESENHAR AQUI A FIGURA LTD (acima) DO BEAR (EM FORMA


ADAPTADA).

Conforme explicado, por vários autores, a depressão da ativação da célula de


Purkinje reflete o período da efetivação da consolidação da informação, oriunda de um
ou mais neurônios (no caso, a célula de Mossy e a trepadeira), em um outro neurônio
(no caso a célula de Purkinje no cerebelo). Este momento de consolidação está mostrado
Figura 1 (d)
Figura 1 (a)
no circuito de aprendizagem cerebelar (aprendizagem de procedimento), mais
especificamente, na célula de Purkinje (a célula que aprende, no cerebelo). Observar que
a condição se desenvolve em conjunção com as fibras trepadeiras e paralelas, neuritos
das células responsáveis pelas informações que devem compor qualquer evento de
aprendizado motriz.
Figura 1 © Figura 1 (b)
Vernon: Colocar a Figura 2.5 aqui. Proceder da seguinte forma:

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Figura 2.5. a,b,c,d. Mostrando as várias etapas de um evento de aprendizagem sendo consolidado no
cerebelo. a) Início de um potencial de ação pré-sináptico nos núcleos das células trepadeira e paralela, que
fazem fluir neurotransmissores através dos seus correspondentes axônios, findando na efetivação de uma
pré-sinápse sobre dentritos da célula de Purkinje que despolariza. b) O potencial (pré) de ação faz abrir os
canais de Ca2 e Na(s)+ correspondentes no dendrito da célula de Purkinje. Como conseqüência, o nível
intracelular de Ca2 e Na(s)+ naquela célula aumenta. c) Da mesma forma, o potencial de ação da despolarizada
célula paralela faz fluir a ativação dos receptores glutamatérgicos pós-sinápticos no dendrito da célula de
Purkinje em função do glutamato emitido através do terminal pré-sináptico da fibra paralela. O resultado da
pós-sinápse desencadeadora da abertura do portal receptor metabotrópico do glutamato é a ativação da
proteína Kinase-c (por efeito da acoplagem proteína G - - componente intra-celular, à enzima fosfolipase-C
e, como conseqüência, a enzima fosfolipase-C faz produzir uma molécula denominada segundo mensageiro

que ou diácido-acetil-glicerol que finalmente resulta em um núcleo molecular conhecido como Proteína
Kinase-C.

Vernon colocar a Figura acima dividida do seguinte modo (colocando as partes nos espaços mais acima
ainda):

1. Desenho da figura 24.15 do Bear que mostra, ao lado do grande quadro, a figura
da célula trepadeira com as sinapses da fibra paralela e trepadeira. Para ficar
adaptada, alongue os axônios das duas fibras e mostre (em setinhas) o correr do
neurotransmissor por dentro das fibras até chegar a pré-sinapse (esta e a parte
a). Depois pegue um aumento somente da parte sináptica relativa a fibra
trepadeira e mostre também a despolarização neste lado (esta é a parte (b) ).
Idem para a sinápse da fibra paralela (esta será a parte (c). Finalmente , junte as
partes b + c formando o quadro d. Atenção: Proceda de forma que o desenho
geral da Figura 1 fique mais ou menos como abaixo.

De acordo com a Figura 2.5 (acima), o aprendizado de um evento por uma célula
(sobre forma de memorização/consolidação) decorre da combinação de várias proteínas
(neurotransmissores) emergentes de outras células que são hermetizadas juntamente
com outras proteínas internas da célula que aprende. Vejamos a racionalidade desta
aprendizagem neural, mas antes lembrando que as aprendizagens que ocorrem no
cerebelo são de natureza mecânica, ou seja, a feitura do ato motor desprovido da

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“racionalidade” sobre a sua devida aplicação em ações objetivas. Assim sendo, seria este
tipo de aprendizagem eficiente em ambientes abertos à contra-ação? Isto é, ambientes
típicos de jogos coletivos? Logicamente que não. Um jogo como o voleibol, por exemplo,
requer altas demandas cognitivas tais como em um momento que o jogador precisa
empreender um levantamento na rede, situação em que uma série de análises cognitivas
(melhor altura, direção, longe do bloqueio adversário...) deverá ser utilizada em benefício
do sucesso na ação. Estas análises (cognitivas), compostas pelo córtex cerebral, são
dependentes da memória declarativa em consonância com a de procedimentos. A
memória declarativa, diferentemente da de procedimentos, reside, como até então se
sabe, no lóbulo temporal médio do neocórtex e partes aprofundadas deste (várias
estruturas diencefálicas). A Figura abaixo (Figura 2.7), realça as varias estruturas
nervosas que compõem, em parte, o sistema de memória declarativa.

Figura 2.7. Partes do sistema de memória declarativa, incluindo o lóbulo temporal médio
e, estruturas diencefalicas componentes deste sistema.

VERNON COLOCAR A FIGURA AQUI CONFORME O SEU PENSAMENTO DE AGORA.

Na ocorrência da execução de uma tarefa motriz, o nosso organismo processador


precisa compor conteúdos de ambas memórias. Quanto mais nova (menos praticada) for
a tarefa a ser executada (uma noção bastante antiga na área aprendizagem motora diz
que, principalmente em jogos coletivos, toda tarefa executada por um aprendiz/atleta
durante um jogo, ou prática, será sempre nova), mais dependente destas memórias a
mesma será.
Imaginando-se uma tarefa do tipo a mostrada na Figura 2.6, é fácil perceber a
composição daquelas duas memórias, pelo sistema processador, no evento de
arremessar uma bola típica do jogo de basquetebol, à cesta.

Figura 2.6. Pressuposta composição dos conteúdos de memória declarativa aos da


memória de procedimentos, vista em um arremesso de uma bola de basquete à cesta. Observar que a
memória declarativa está associada a conteúdos lógicos e a de procedimentos, a sistematicidade do
evento.

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Jogar um
pouco mais Bola
alto devido ao
peso da bola . .
.

cesta
MD Rosto
do
MP arrem
essad
or

Mesma braços
distância,
mesma bola, pescoço
arremesso com
força

Observando-se a Figura (2.6), em detalhes, pode-se, verificar, que os dois tipos


de memórias têm, diferentes funções na estruturação da ação, embora, o envolvimento
de ambas tenha um objetivo comum. O de colocar a bola dentro da cesta.
Deve-se observar que para o evento da, mencionada composição, resolver um
problema motor (como a tarefa na figura 2.6, por exemplo) necessário se faz que as
referidas memórias tenham os conteúdos relacionados à ação desejada (arremesso da
bola de basquete à cesta). Quanto mais elaborados possam estar, estes conteúdos,
maior probabilidade de sucesso o arremessador terá no cumprimento da tarefa (o termo
“elaboração” está sendo utilizado aqui para expressar a qualidade e quantidade do
armazenamento específico a cada memória).
Pontos fundamentais para uma análise sobre como se ensinar habilidades
desportivas com a perspectiva da elaboração acima mensionada, são: (1) qualidade no
processamento da habilidade sob ensino, (2) quantidade de repetições adequadas e (3)
trabalhar o tempo de armazenamento dos conteúdos que compõem as duas memórias.
Qualidade sendo referida em termos de como o conhecimento de base, a ser aproveitado
para o ensino do desporto em pauta, foi construído nas memórias declarativas e de
procedimentos. Melhor sempre será, se este conhecimento for rico em variações e

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“contornos”, amplo e possível de facilitar a criatividade em novas situações. O fator
quantidade implica em se saber o número e variedade de repetições desenvolvidas em
“torno” da tarefa em aprendizagem.
Logicamente que práticas recentes. com um determinado evento. dispõe, o
mesmo, à situação mais própria para uso pelo indivíduo processador, do que eventos
pouco utilizados e/ou vivenciados em períodos distantes. Mas de qualquer forma, a
prática anteriormente vivenciada por aprendiz, certamente deverá contribuir como forma
de economia no prosseguimento de um aprendizado específico (em muitos casos,
inclusive eventos de aprendizagem relacionada). Ou seja, memórias passadas ajudando
a um aprendizado presente que poderá ajudar aprendizados futuros. Assim sendo, vale
a pena a concepção de que um aprendizado adequado é aquele que contém informações
que podem promover grande economia ao aprendizado de eventos subseqüentes, quer
seja ele de relação específica, ou não.
Como pode ser interpretado a partir do conteúdo deste presente capítulo,
conhecer sobre como a aprendizagem hábil-motora se concretiza em termos neurais
pode, em muito, ajudar a tarefa do professor de desportos em geral. Outro fator
importante é o de saber como aplicar, este conhecimento discutido sobre memória, à
prática de ensino propriamente dita. No capítulo seguinte este tema será abordado de
forma que aquele profissional possa entender algumas aplicações pedagógicas que
podem positivamente influenciar a aquisição hábil-motora da criança através de treinos
específicos à memorização.

Resposta à questão do capítulo:

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Considerando-se ser, a aprendizagem hábil-motora, uma posse do cérebro através de
seus neurônios, como esta aprendizagem neles se instala?

A instalação de conhecimentos, de qualquer tipo, ocorre em neurônios, através de


conjugações entre eles. Estas conjugações nada mais são do que combinações de
neurotransmissores fluindo através de sinápses (pré e pós sinapses).A questão acima foi
respondida, mais especificamente, na Figura 2.5, conforme o No caso da aprendizagem
hábil-motora, ocorre em neurônios específicos, dos que compõem os sistemas
declarativo e de procedimento da memória humana. Como visto na Figura 2.5, as
componências mecânicas das nossas habilidades motoras se instalam em neurônios
cerebelares. As intelectuais (estratégias, provavelmente no córtex temporal médio do
cérebro humano.
Para tornar mais clara a resposta acima, aconselha-se o leitor a voltar à Figura
2.5.

A teoria aplicada

REFERÊNCIA
Bear, M.F., Connors, B.W., e Paradiso, M.A. (2002). Neurociências: Desvendqando o
Sistema Nervoso. Porto Alegre: Artmed.

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Hebb, D. O. (1949). The Organization of Behavior: A Neuropsychological Theory. New
York: Wiley.

Massao e Ito

Gardner

Golleman, D. (2001). Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.

Implicações prática em referência ao conteúdo deste capítulo:

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