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APRENDENDO UM ESPORTE: O PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES

Vernon Furtado (Ph.D) CAPÍTULO

Objetivo do Capítulo
Apresentar um dos mais importantes processos de memória, responsável pela
organização e direção, à guarda (armazenamento), dos elementos de um
conteúdo/evento sendo aprendido. Assim fomentar o entendimento do, leitor
estudante, sobre como os processos dinâmicos de memória funcionam e, como os
mesmos podem se tornar mais efetivos em termos de melhorar a aprendizagem e
a performance motriz de um indivíduo, em fase de aprendizagem e/ou
performance deste.

8.1. Introdução
O homem é naturalmente um ser processador dos estímulos emanados do seu
organismo como um todo e/ou de outros originados do seu relacionamento com o
mundo exterior. Williams James, um dos mais representativos historiadores e
estudiosos da percepção humana explica em seu livro “ . . . . . . (198 . .) que se não
fosse a sua capacidade de processar o seu ambiente de vida, o homem jamais
evoluiria já que jamais poderia concluir um objetivo, nem mesmo planejá-lo. Viver
seria apenas um habitar no mundo. Nada mais.
Na verdade, viver, mesmo em situações sociais simples, requer, do ser
humano, (e de outros animais) uma constante vigília sobre o seu corpo, seu ambiente
de relação e destes, na sistêmica rede de interação que se faz necessária a uma
adequada condução da vida. Isto significa dizer que na sua vida de relação o ser
humano encontra-se permanentemente em interação com o mundo ao seu redor e,
muitas das vezes, com outras partes mais distantes deste.
Não fosse a dotação que todo ser possui para mentalmente processar esta
interação, certamente os desencontros entre as suas funções orgânicas e as ações
derivadas destas funções provocariam sistemáticos desastres na sua relação com o
seu meio ambiente.
Processar informações é uma das mais nobres tarefas mentais que realizamos
durante todo o nosso tempo desperto, provavelmente não existindo nada do nosso
comportamento motor voluntário que não dependa do nosso organismo processador.
Desde o abrir dos olhos após um período de sono, até o dormir após um dia de
atividades comuns e/ou especiais que todos nós costumamos ter.
Portanto, não seria diferente a situação de um indivíduo ter que processar
informações quando submetido a condição de aprender em qualquer domínio da sua
vida de relação, como, por exemplo, em situações de aprendizagem e/ou performance
desportiva.
O processar de informações, uma tarefa sistêmica do organismo neural,
procede através de uma série de interações entre uma grande quantidade de
estruturas do sistema nervoso (SN) que resulta em eventos mentais os quais, em
parte, estruturam e regulam o nosso comportamento social. O nosso cérebro, neste
contexto, pode ser concebido como sendo um constructo e a nossa mente, um
produto dele. O cérebro, portanto, é a entidade executora do processamento, e a
mente o produto por ele processado. Assim sendo, o sistemático e/ou o esporádico do
aprendizado desportivo pode ser entendido como uma estruturação em memória,
resultante de experiências de processamento de estímulos de origens ambientais e
internas ao corpo que são, de alguma forma, integrados (percebidos) pela nossa
mente, e sobre os quais a mesma deduz e produz respostas interativas (ou não) em
relação ao ambiente circundante.
Por exemplo, em uma situação, como a abaixo, em que o jogador poderia (1)
passar a bola, (2) driblar alguns adversários (3) atrasar a mesma para um
companheiro, (4) fazer um lançamento longo, (5) chutar para o gol e (6) varias
alternativas o jogador precisa decidir sobre a melhor jogada e, quase sempre, em
frações de segundos. A opção escolhida, qualquer que seja ela, debandará uma serie
de sucessivos processamentos, haja em vista, que o ambiente, dentro também de
limite de tempo, estará em constante mudança de cenário. Para organizar a resposta
considerada mais adequada, o jogador terá que, alem de percebera posição do seu
corpo, da bola, dos adversários, dos seus companheiros de equipe, do juiz, dos
possíveis gritos dos colegas, adversários e, talvez, da torcida, preparar a resposta e
executá-la da melhor maneira possível (logicamente ha de se convir que, o sucesso
de um individuo, em qualquer tipo de esporte, requer, do mesmo, respostas
executadas da melhor forma possível e, que as mesmas pudessem estar, o mais
próximo possível, da melhor solução). Para tanto, ou seja, diante de tantas
dificuldades e problemas, para ter correspondência efetiva, o seu organismo
processador devera ser eficiente em todas as etapas do processamento do estimulo,
na seleção da melhor resposta e na programação dos parâmetros necessários ‘a sua
execução.

Figura 8.1. A figura mostra os vários tipos de estímulos que o jogador precisa processar
e integra-los de forma adequada e, em função da resposta a ser executada
correspondentemente a situação do jogo.

Inserir Figura 8.1 + ou - aqui.

Rebuscando-se a literatura que versa sobre este tema, pode-se verificar que a
noção de que comportamento motor do ser humano, seja em situação de
aprendizagem e ou performance, e dimensionado através de processos mentais
efetivados entre a detecção de um estímulo e início de uma ação, foi proposta há
mais de um século atrás por Donders (1869), um reconhecido fisiologista holandês.
No entanto, foram Henry e Rogers (1960) que tornaram clássica esta noção. Ou seja,
a explicação de como a memória humana operacionaliza estímulos e respostas
oriundas do meio-ambiente ou de eventos internos. Esta conceituação teve como
base uma teorização que se tornou famosa, principalmente devido à relação que estes
autores verificaram existir entre a competência daqueles processos e a capacidade
funcional da nossa memória.
Conhecida, até a presente data, pela denominação de “Teoria dos Tambores
(Memory Drum Theory) esta abordagem baseava-se na existência de um mecanismo
neurológico hipotético, no qual a memória humana representa a fonte referencial para
programas de configurações simples e/ou complexas, planejados por um indivíduo em
resposta à demanda decorrente do seu ambiente. De acordo com a teoria, a
competência na execução de uma tarefa motora seria determinada por uma série de
variáveis associadas ao processo de aprendizagem, dentre as quais a prática e a
experiência dos processos mentais seriam as mais destacáveis entre todas as outras
nela referidas. Em estudos realizados posteriormente por Henrry (1980) e Klapp
(1980) esta noção teórica foi amplamente ratificada e se mantêm, até hoje, como
marco referencial para outras teorias mais completas e, também, mais complexas.
As deduções dos autores acima mencionados, como também a de outros
estudiosos nesta área foram posteriormente organizadas em uma marcante teoria
denominada “Teoria do Processamento de Informações do Ser Humano” a qual
recebeu conformações de vários autores.

8.2. A TEORIA DO PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES DO SER HUMANO


Theios (1975) há aproximadamente três décadas, propôs uma versão teórica
do processamento mental humano que assimila muito das postulações contidas nos
trabalhos dos seus antecessores. Como Donders, Theios enfatiza que a forma através
da qual o ser humano responde às variações do meio ambiente, é decorrente de
reações neurológicas processadas pelo sistema nervoso central (SNC), representando
este, o núcleo orgânico processador dos estímulos que contactamos através dos
diversos pontos sensoriais do nosso corpo como ilustrado na Figura 8.2.1.

Vernon V(EU MESMO) Tentar colocar na figura 8.2.1, um desenho incluindo um olho,
ouvido, boca, pele de um braço, articulações de um braço, muscle spindle de um
músculo etc... e substituir a letra E daquela figura – Figura 8.2.1 abaixo).

Este processamento, como tem sido amplamente demonstrado, requer tempo,


sendo este tempo, possivelmente diferente durante as várias fases deste e, além
disso, dependente da afinidade da pessoa com o estímulo e a resposta
correspondentemente processada.
Ainda em aparente concordância com a teoria dos tambores, Theios sugere
que tal afinidade tem relação direta com a posição do evento a ser processado, em
uma escala hierárquica dimensionada pela memória. Ou seja, eventos processados
com freqüência ocupam as posições do “topo” da escala, enquanto que outros menos
freqüentemente processados, se situam a partir da “base” desta escala hipotética.
Nesta perspectiva, tempos mais baixos de processamento estariam vinculados à
vivências localizadas no topo (mais assiduidade e recenticidade de processamento
destas vivências), enquanto que o inverso seria verdadeiro, para vivências situados
mais próximos à base da escala. Esta noção que estabelece relações de competência
entre freqüência de processamento e montante de retenção, foi, amplamente
estudada por alguns autores, dentre os quais Craik e Lockhard (1972), foram talvez
os que mais se destacaram. Em um capítulo adiante este assunto será retomado em
bases mais específicas.

Figura 8.2.1. O sistema processador (SNC) representado em forma interligada os vários


órgãos dos sentidos.

AUDITIVOS
 Olhos Organismo
TÁTEIS
 Ouvidos Processador
Es
VISUAIS  Proprioceptores
 Outros (SNC)
OUTROS . . .

A figura 8.2.1 (acima) representa uma esquematização dos aspectos básicos


de um modelo de processamento mental, do ser humano, justificado por vários
estudiosos nesta área específica das ciências biológicas. (Exemplo.,Theios, 1975.,
Marteniuk,1976 e Schmidt, 1988). Observe que essa figura é um modelo simples de
processamento e não de aprendizagem e/ou performance, como alguns leitores
poderiam pensar. No momento em que um modelo de aprendizagem e, outro, de
performance, forem apresentados, tornar-se-á fácil, para o leitor, destacar as
diferenças entre eles.
Embora seja um fato concreto que, alguns teóricos tenham expressado
pequenas diferenças conceituais com relação ‘a teoria de processamento mental, na
maior parte, as suas concepções em muito se assemelham.
Uma concordância, quase unânime é a de que no evento de processamento
mental, este se efetiva através de três fases distintas, denominadas “estágios de
processamento”. As denominações foram feitas em virtude da função desenvolvida
por cada um dos estágios no processamento total. Tais estágios são: 1) Percepção, 2)
Seleção de resposta (um estágio de decisão) e, 3) Programação de resposta. Para os
objetivos deste capítulo, um evento de processamento representa a percepção de um
estímulo (E) específico e a resposta (R) ocorrida em função dele.
Na ordem de ocorrência dos estágios, o primeiro através dos quais o estímulo
tramita é o da percepção (EP). E todo evento perceptivo decorre da integração do
estímulo, através de outros sub-estágios denominados detecção, comparação e
reconhecimento (Figura 8.2.2).

Figura 8.2.2. Apresenta os sub-estágios da percepção, lendo-se a seta Es como


estímulos, no circulo central, as fases de detecção, comparação e reconhecimento e, no retângulo acima, a palavra
percepção que define o reconhecimento final do estimulo.

PERCEPÇÃO

Reconhecimento

Comparação

Detecção
Es

Em se tratando de um procedimento de resposta para um estímulo (Ex. Erguer


o braço, piscar os olhos, contração do rosto ou outra ação), as informações
resultantes da análise perceptiva prosseguem na ordem do processamento, fluindo a
seguir para o estágio de decisão, ou seleção de resposta (SR) e depois para o de
programação de resposta (PR). Esta organização da resposta desejada é então
enviada à musculatura prevista para a execução do movimento. Estes estágios de
processamento são interligados ao sistema de memória, sendo este a base referencial
da operacionalização dos vários mecanismos que compõe o sistema processador como
um todo. Isto significa dizer que os estímulos percebidos pelo nosso sistema nervoso
são armazenados através de alguns mecanismos em memória (estes mecanismos
serão estudados em um capitulo especifico ao tema).
A esquemática da Figura 8.2.2. pode, portanto, ser tecnicamente ampliada de
forma a exemplificar os estágios de processamento associativamente a uma condição
do armazenamento acima mencionado (Figura 8.2.3).

Figura 8.2.3. Um modelo do processamento de informações com os estágios


interligados ao aparato sensorial. sistema de memória e feedback da resposta para os órgãos
sensoriais. As setas largas (à esquerda) representam estímulos adentrando o organismo

Memória

ÓRGÃOS (Decisão) Programação


Percepção Seleção de de resposta
SENSORIAI resposta
S

Detecção

R
Comparação

Reconhecimento

FEEDBACK

Nota de rodapé (1a): É preciso atentar para o detalhe de que a noção sobre as formas
seqüencial e paralela, acima citadas, deve ser associada apenas à ordem do processamento dos
estágios e não ao estilo de processamento do estímulo am cada estágio.

A função da memória no processamento mental é primordial para o evento da


percepção e/ou da percepção ação. Por exemplo, o ato de “entender”, a natureza de
um estímulo, ocorre, naturalmente, através de uma análise comparativa que o
sistema perceptivo efetiva, entre o estímulo detectado, e os conteúdos de memória
que possam ser associados a ele próprio (estímulo). Em contra partida, o resultado
desta percepção de alguma forma se acopla ao sistema de memória, somando-se ao
conteúdo até então existente. Esta soma de informações seria a base de uma
esquematização perceptiva, bem estudada por Schimidt (1975) em sua Teoria dos
Esquemas. Este processo de armazenamento de percepções pode ser associado
também aos outros estágios de processamento, como, oportunamente, veremos.
Antes de passarmos à categorização dos estágios de processamento
(complementando o que foi dito a respeito do estágio de percepção), convém ser
mostrado, antes, uma análise generalizada sobre o modelo operacional daqueles
estágios, ou seja, a forma mais predominante do processamento mental do ser
humano, ou seja, a forma de processamento paralelo (Figura 8.2.4).

Figura 8.2.4. Exemplos de processamento serial (4a) e paralelo (4b). No exemplo


de processamento paralelo, o estágio 1 (Percepção) é processado em paralelo com o estágio 2
(Decisão). Assim sendo, um tempo considerável é economizado no processamento total. No
exemplo 4a, o processamento serial demanda mais tempo para que uma resposta seja
processada. Em faixas etárias mais avançadas da criança (e logicamente o adulto), o modelo
paralelo é normalmente o mais utilizado. Observe que a letra E representa um evento de
estimulo e a letra R, a resposta processada.

Órgãos
E dos
1 2 3
(4a) sentidos

Esquema
4a R

Órgãos
E dos 1 2 3
sentidos

Esquema 2
(4b) 4bE R

A questão de como os estágios de processamento mental funcionam, tem, ao


longo do tempo, motivado pesquisadores a formularem um número expressivo de
outras questões e postulações a ela associadas.
Para vários autores, incluindo Donders (1908), a operacionalização de um
estímulo da sua detecção, até o início de uma resposta selecionada, pode ocorrer em
um formato serial (seqüencial) ou em paralelo (simultâneo). Por exemplo,
considerando-se a ordem dos estágios 1, 2 e 3 apresentados na Figura 8.2.4 (acima),
a representação 4a corresponde ao tipo do processamento serial enquanto que a
derivação 4b, ao formato paralelo de processamento mental.
Observa-se que no formato em série (serial), o “material” do estímulo é
processado em cada estágio seqüencialmente. No paralelo, os estágios 1 e 2 são
processados ao mesmo tempo. Um outro tipo de processamento paralelo, que pode
ser exemplificado, é o que corresponde à forma de processamento prévio, de todos os
estágios, permitindo, ao individuo processador, uma grande economia de tempo na
iniciação da ação. Processamento antecipado è, como se sabe, uma modalidade
quase sempre utilizada por goleiros de futebol diante de uma situação de ter que
evitar o gol em uma cobrança de pênalti por um jogador adversário.
Embora, na Figura 8.2.4 os estágios escolhidos para modalidade paralela de
processamento tenham sido os 1 e 2, logicamente, as junções na modalidade paralela
poderiam ser outras, tais como junções 2 e 3 ou 1 e 3. Em qualquer seqüência, a
noção prevalece.
O ponto de maior importância em termos da comparação de eficiência
quantitativa entre os dois modelos de processamento acima expostos reside no fator
tempo. Como veremos no capítulo seguinte, várias pesquisas têm mostrado, em
elegantes detalhes, a economia em tempo de processamento que uma pessoa pode
realizar quando de uso da forma paralela de processamento em comparação ao serial.
E mesmo que saibamos que nem sempre a velocidade de processamento é o fator
determinante do sucesso alcançado na execução de uma tarefa, em situações
especiais, incluindo muitas daquelas relacionadas ao nosso dia-a-dia, esse fator de
competência processual pode significativamente definir em favor de uma melhor
performance da tarefa. Em outras palavras, embora o principal objetivo do estudo do
processamento mental humano possa estar relacionado à identificação da velocidade
com a qual este processa informações (quantidade de processamento), um outro de
fundamental importância para tal estudo seria a questão da qualidade através da qual
o evento de E-R ‘e processado.

8.3. Quantidade e qualidade de processamento


Quantidade e qualidade de processamento mental são condições análogas e
fundamentais a pratica desportiva de uma forma geral. Quantidade como se pode
prever, e um estado de processamento mental interligado a dimensões de tempo,
enquanto que, o fator qualidade, esta associado a eficiência da operacionalidade do
sistema, independentemente de tempo. A qualidade com a qual uma pessoa processa
informações, em qualquer dos estágios teorizados, depende grandemente do tipo de
organização e elaboração efetivadas com estímulos e respostas anteriormente
processados. Isto é, das ações exercidas e das experiências observadas através da
vivência daquelas ações. Esse tipo de raciocínio que se referencia à qualidade de
processamento de um indivíduo destaca grande ênfase ao sistema perceptivo como
um todo e atribui um importante papel ao meio ambiente como condutor potencial do
desenvolvimento da habilidade com a qual um indivíduo processa e internaliza
eventos de E-R. Em todo e qualquer evento motriz, a qualidade e a quantidade do seu
processamento certamente pode influenciar o seu resultado. Por isso, os aspectos
teóricos e práticos relacionados aquelas duas categorias de processamento devem ser
analisados, pelo profissional investido no ensino e treinamento esportivo.
Feitas as considerações em respeito a natureza do processamento mental em
si, passamos a apresentação dos estágios em que um evento de E-R tramita, antes do
inicio da ação elaborada no processamento. Para facilitar a compreensão do leitor em
referencia ao tempo, que cada estagio requer, convem lembrar aqui que, mesmo se
considerando o tempo total de processamento de um estimulo, este tempo e tão
curto que se torna difícil imagina-lo em uma tarefa mental.
Normalmente o tempo total de um evento de processamento mental e medido,
como veremos mais adiante, através de uma experimentação laboratorial denominada
pesquisa de tempo de reação motora (quando associada a processamento de tarefas
motrizes). Outras formais experimentais existem, todavia, a tomada do tempo de
reação e bastante simples, pratica e bastante informativa. O resultado médio de uma
serie de testes realizado por uma pessoa, pode ser associado a uma indicação da
fenomenal capacidade do ser humano interagir com o seu meio ambiente num
processo que define, em grande parte, o seu desenvolvimento e a forma do seu
comportamento como um todo. Como tudo o que acontece no nosso universo, uma
serie de variáveis interferem (positiva ou negativamente), com a capacidade individual
de processamento. Juntamente com a apresentação da natureza de cada estagio de
processamento, algumas variáveis intervenientes serão também apontadas.

8.4. Os Estágios de Processamento de Informações (EPI) e Variáveis


Intervenientes.

Como pode ser observado na Figura 8.4, o modelo humano teorizado por
Theios (1975) inclui três estágios através dos quais eventos de E-R são
operacionalizados. O primeiro estágio – Percepção – constitui a “ponte” entre o meio
ambiente e o organismo propriamente dito. O segundo – Estágio de decisão – é o
lócus do processo de selecionar os termos da operacionalização das informações
advindas do estágio de percepção. Por exemplo, a escolha da parte do corpo que irá
interagir na resposta a ser efetivada em relação ao estímulo. Após a tomada de
decisão dimensionada pelos mecanismos ligados à escolha da resposta pertinente, a
seqüência do processamento é dirigida então à estruturação dos parâmetros da
resposta para que a mesma possa ser implementada sob a forma de ação
estereotipada. Esta estruturação é realizada pelos mecanismos responsáveis pela
Programação da Resposta, mecanismos próprios do terceiro estágio. Passemos então
a uma discussão mais detalhada de cada uma destes estágios de processamento,
sendo o primeiro deles, o da percepção de um estímulo que contacta um organismo
sensorial.
8.4.1. ESTÁGIO DE PERCEPÇÃO

Tão logo que um estímulo ambiental contacta um receptor do corpo este é


imediatamente transformado em um código biológico apropriado (Schmidt, 1988),
enviado diretamente para o cérebro. Acionado por vários mecanismos neurais este
estímulo passa então por outros tantos níveis de integração até ser apropriadamente
percebido (Não convém se pensar que o fato de um estimulo não ter correspondência
em memória signifique um não reconhecimento. Tudo indica ser correto se assumir a
posição de que todo e qualquer estimulo processado e reconhecido, mesmo sem uma
respectiva correspondência de associação. Em ultimo caso, este reconhecimento
passara a representar uma referencia para futuros estímulos que possam ser, a ele,
associados).
Figura 8.4.1. Estágios de processamento mental no fluxo do estímulo ambiental. Na série,
o primeiro estágio, o da percepção é o primeiro em processamento após a entrada do estímulo.

ESTÍMULOS
MEMORIA

SELEÇÃO PROGRAMAÇÃO
ÓRGÃOS DE DE
PERCEPÇÃO
SENSORIAI RESPOSTA RESPOSTA
S
A percepção de um estímulo envolve, como também já mencionado, uma série
de processos internos os quais têm sido descritos como (a) detecção, (b) comparação,
e (c) reconhecimento, Estes processos são versáteis em termos de operacionalidade,
sendo esta versatilidade extremamente necessária ao bom funcionamento do
conjunto sistêmico do processamento.
Imaginemos, por exemplo, você presente a uma festa na qual se agrupa a
outras pessoas e que, enquanto conversa com alguns membros do grupo, se mantém
ainda atento à chegada de um amigo particular, delicia alguns saborosos “drinks” e
aguarda um sorteio de um carro BMW que poderá ser seu. Questione-se agora, como
se comportaria o seu sistema de processamento, se diante de um meio ambiente tão
diverso, alguns limitadores do fluxo de estímulo para o seu organismo não existissem?
Talvez até viesse a não ter a chance de ganhar o carro, não é mesmo? Felizmente,
para não dar chance ao azar, o nosso organismo possui certas capacidades como, por
exemplo, a de ser “seletivo” em termos de um estímulo que possa nos interessar mais
do que outros sem, contudo, “desprezar” os outros que adentraram o canal
processador (que muitas vezes são também extremamente importantes). Isto é,
embora na situação acima você pudesse responder aos outros estímulos contactando
o seu organismo, seria também capaz de estar “ligado” ao anúncio do número que
premiaria o tão desejado automóvel. Na realidade, isto é, a todo o momento de nossa
vida desperta, o nosso organismo permanece se defrontando com um verdadeiro
“bombardeio” de estímulos dos quais apenas alguns são processados, e uma maioria
rejeitada em favorecimento de lei da mais valia. Esta rejeição a estímulos de uma
forma em geral, pode ocorrer sob duas modalidades. Por bloqueio espontâneo, ou por
limitação natural.
Para uma ilustração da primeira modalidade tomemos, novamente, por exemplo,
o estímulo da festa na qual uma BMW seria sorteada. No momento da divulgação do
número sorteado você direcionaria toda a sua atenção para o referido anúncio
(auditivamente) e “bloquearia” (para não processar em primeira instância) os eventos
visuais que pudessem distraí-lo do foco do seu interesse. No segundo caso a perda de
informações estaria relacionada a limitações dos vários mecanismos vinculados ao
processo perceptivo, ou seja, aos vários sub-estágios do evento de perceber. Para
que possamos entender estas limitações, se faz necessária à apresentação de cada
um destes sub-estágios de processamento.

8.4.1.1. Sub-estágios de Percepção 1: Detecção de um estímulo.


A detecção de um estímulo se refere aos efeitos do contato destes com um
receptor sensorial específico. Tais efeitos, tecnicamente falando, seriam as atividades
do receptor sensorial participativo na transmissão aferente do contato para o Sistema
Nervoso Central (SNC). Vale a pena observar aqui, que este evento de detecção não
inclui a decodificação do estímulo, e por isso, não envolve qualquer análise por parte
dos centros nervosos superiores. Isto quer dizer, constantemente, que detecção é
apenas a sensação transmitida ao cérebro via fibras aferentes (passando antes por
várias estruturas medulares e sub-corticais) não constituindo, portanto, um evento de
relação cognitiva, mas sim de ordem mecano-fisiológica.
Os receptores intermediadores da interação entre o meio físico e o corpo podem
ser classificados como (a) exteroceptores e (b) proprioceptores. Estes, diferentemente
dos ínteroceptores (receptores associados aos nossos órgãos internos, tipo fígado e
rins) cujas informações que transmitem não são relacionadas a qualquer aspecto dos
nossos movimentos, constituem a base de referência para a organização, controle e
aprendizado hábil-motor em um sentido amplo bem, como, para o aprendizado
intelectual sobre a natureza do mundo e das relações destes com a nossa própria
natureza.
Talvez a forma mais adequada para se estudar o processo de detecção de
estímulos acima apresentado seja através da Teoria de Detecção de Sinais (Ex.,
Swets, 1964). Básico para o entendimento desta teoria é o conhecimento da relação
entre o nível de ativação neural do indivíduo que processa informação e, os efeitos
que as informações que adentram o seu sistema processador, produz sobre o estado
desta ativação.
A ativação neural neste caso representa um estado de atividade nervosa que
varia em um contínuo de baixa a alta intensidade e de indivíduo para indivíduo, ou
seja, um conceito relacionado ao estado psicológico do organismo resultante da
excitação fomentada, tanto por algumas estruturas neurais, quanto por condições
subjetivas da mente (ex., estado ativação da formação reticulada do tronco encefálico
no desencadeamento de tensão e atenção concentrada).
Uma das mais conhecidas referências sobre esta relação é a postulação
identificada como lei de Yerkes e Dotson (1908) e mais tarde ratificada nos trabalhos
de outros vários autores (ex., Bacon, S.J. 1974 e Duffy, 1962). Esta noção associa aos
vários níveis possíveis de execução de uma tarefa, vários possíveis níveis de ativação
neural que o executante pode experimentar. Como pode ser observado na figura
8.2.6, o nível ótimo de execução de uma tarefa é proporcionalmente associado ao
ponto intermediário entre o nível mais alto e o mais baixo de ativação neural. Níveis
de ativação que fiquem abaixo ou acima da posição “ótima” (média) são previstos
resultarem em performance baixa (direção às extremidades direita ou esquerda) ou
alta (direção do centro da curva).

Figura. 8.2.6. Derivada do trabalho de Yerkes e Dotson a figura abaixo demonstra


que entre as extremidades representativas do nível alto (AA) e o baixo (BA) de ativação neural
(arousal), existe um ponto que determina o melhor estado de ativação (nível moderado) para um
melhor resultado na performance de uma habilidade motora. Na parte abaixo do ‘ U ‘ invertido, o
‘U’ normal, representa a condição de que níveis de arousal, muito baixo (BA), muito alto (MA) e
médio, pode ter também relações negativas com a competência hábil-motora de um individuo.
Na dispersão BA AA, o efeito do nível de arousal em performance e positivo. Algo
aproximado a uma pontuação entre 1 e 10. Na performance negativa, a pontuação e negativa,
ou seja, -1 a -10. O primeiro valor negativo caracterizando uma performance equivocada, pior do
que uma performance positiva ruim. O altamente negativo, -10, significando uma condição
extremamente pior do que a positiva ruim.

MP
PERFORMANCE

+
AA
BA

MB MA
_

PP

É importante observar, ainda com referência à figura acima, que apesar do fato
do nível de ativação neural variar em figura aproximada à probabilidade normal,
quando este for observado especificamente em um indivíduo e durante um período de
tempo significativo, a função da curva mostrada na mencionada figura (na forma do U
invertido), deverá representar o estado de ativação, do mesmo, em decorrência do
ruído neural mensurado em seu canal processador e (b) o ponto em que o maior nível
de performance coincide com o melhor nível (nível médio e ótimo) de ativação neural.
Ainda, de acordo com a teoria em pauta, o julgamento da presença ou não de
um estímulo, ocorre pela discriminação que o indivíduo estabelece entre o seu estado
interno de ativação (promovido pelo ruído originado da ativação interna), somado à
informação advinda do estímulo.
Normalmente quando o resultado desta discriminação representa uma
conscientização de que o montante de ativação, agora interna, é deflagrado pelo fluxo
da informação ambiental, o indivíduo tenderá a decidir que um estímulo se faz
presente. Por outro lado, se o seu entendimento for de que o seu estado de atividade
interna é decorrente da atividade neural isoladamente, a sua tendência será de decidir
pela não existência de um estímulo afeito o seu organismo (Marteniuk, 1976).
O nível de sensibilidade de um indivíduo para decidir, de forma correta, sobre a
existência ou não de um estímulo (afeito ao organismo) é determinado por duas
características principais – (1) correspondência em sensibilidade sensorial e (2) nível
de tendência agregada ao seu julgamento. No primeiro caso, a consideração mais
geral é de que este tipo de sensibilidade é geneticamente determinado, ou seja, a
habilidade que algumas pessoas herdam, a mais, do que outras na captação de
estímulos ambientais. No segundo caso (ou seja, no que se refere à quantidade de
tendência que o indivíduo superpõe no seu julgamento), a noção mais aceita é a de
que o quantitativo de tendência é proporcional a uma série de variáveis
psicofisiológicas tais como motivação, experiências específicas e, incentivos. Para
Magill (1993) e, outros vários autores, a habilidade para detectar estímulos pode ser
treinada, não só em termos da precisão na detecção, como também na rapidez da sua
efetivação. Esta posição de Maguill e, sem duvida, facilmente justificável já que hoje
em dia o treinamento destinado ao aumento da sensibilidade sensorial para a
detecção de sinais específicos, consta da programação elaborada para treinamento
em vários esportes (ex., atletismo e natação).
Os dois fatores da competência para detectar sinais, discutidos acima, podem
ser bem interpretados no caso da saída em uma prova de 100 metros, em natação.
Em conformidade com a Teoria do U invertido, um nadador que possua uma baixa
correspondência em sensibilidade sensorial e que esteja, no momento da prova, em
um estado de alta ansiedade, a sua probabilidade de ‘ queimar a saída’ e muito alta.
Por outro lado, um outro nadador possuidor de uma condição elevada em
correspondência sensorial e, mantenha um estado moderado de ativação cortical
(arousal), no ato da saída da prova, tendera a executar a saída muito bem,
considerando-se que o seu estado físico esteja adequado à referida prova.
A noção acima também se aplica a outras situações desportivas, tais como a
cobrança de um pênalti, em futebol ou futsal, a situação do goleiro neste tipo de
cobrança, o bloqueio na rede em um jogo de voleibol, dentre muitas outras.
Derivando-se, pois, das várias postulações incluídas na Teoria da Detecção de
Sinal, e pelas postulações apresentadas por Marteniuk (1976), as seguintes
conclusões emergem como indicativos a aplicação pratica do conteúdo nela incluídos:

a) A habilidade de detecção varia entre indivíduos, sendo ainda determinada por


fatores de ordem genética e psicofisiológica.
Aplicação: Sabendo-se que esta habilidade tem dependências de ordem
genética e psicofisiológica, e que, condições genéticas são difíceis de se
verificar, estimular as variantes psicofisiológicas interativas com a capacidade
de detecção de sinal e uma alternativa tecnicamente conveniente. Assim
sendo, a visão desenvolvimentista que deve permear a práxis do profissional
de ensino esportivo sugere a necessidade de se incentivar todo e qualquer
aprendiz, a prática de exercícios mentais (prática mental), exercícios de
controle emocional (controle da motivação, regulação de níveis de atenção,
treinamento de respostas rápidas para estímulos de variadas naturezas),
exercícios que requeiram a antecipação de ocorrência de eventos,
treinamento de memória, além de outros. Estes exercícios, quando praticados
em idades tenras, tendem a promover a educabilidade funcional de vários
mecanismos e processos mentais que tem importância fundamental ao bom
desempenho e desenvolvimento hábil-motor do praticante de qualquer
esporte. Quando bem desenvolvidos, estes mecanismos, certamente ajudam
um individuo a obter sucesso na tarefa de detecção de sinais.

b) O ato de decidir sobre a presença ou não de um estímulo afeto ao organismo


é baseado na discriminação que o indivíduo estabelece entre a sua atividade
neural interna isoladamente (sem a participação da cota de ativação referente
ao estímulo) e a atividade neural resultante do ruído isolado (ruído gerado
pela ativação interna), somado à ativação resultante da informação
introduzida (advinda do meio ambiente).
Aplicação: O conhecimento acima divulgado pode ajudar ao técnico/professor
de esportes a entender sobre a natureza bio-psicologica do seu aprendiz ou
atleta. Para isto, o mesmo precisa entender, também, como proceder, em
relação às informações expressas no item abaixo.

c) A capacidade individual de detecção de um sinal ambiental pode ser


representada pela diferença entre as médias de duas curvas normais plotadas
em referência à freqüência da ativação neural interna (variando de nível baixo
para nível alto) e montante de atividade neural (variando de nível alto para
baixo), conforme mostra a figura 8.2.6 cuja configuração está baseada na lei
de Yerkes e Dotson (Já comentada).
Aplicação: Para que o instrutor/professor possa determinar a capacidade
individual de, detecção de um sinal por seus aprendizes/atletas, este devera
proceder (continuar aqui com uma consulta junto ao Rogério para uma
possível equação de nível mais próprio a cada individuo).
d) Um julgamento perceptivo (sobre a existência ou não de informação/estimulo,
afeta, ao organismo) é realizado sempre em presença de “ruído”.
Aplicação: A informação acima possui um conteúdo indicativo da necessidade
que todo individuo, mormente os desportistas, de educar o organismo para a
competência de poder filtrar ou selecionar um estimulo, de interesse, em
presença de outros estímulos ambientais (que não interessam a ele).
Normalmente a detecção de sinais, em um jogo de basquetebol, por
exemplo, os passos de um adversário, atrás de você, podem prover
informações muito importantes para o bom desenvolvimento da sua
performance no jogo. Estes passos, normalmente, ocorrem junto com outros
vários ruídos (estímulos) que podem ser o barulho da bola, da torcida, de
outros passos a sua frente e a movimentação do juiz (dentre outros). A sua
capacidade de detecção dos passos do adversário atrás de você pode,
determinar, a utilidade deste estimulo para o seu sucesso em uma jogada que
você pretende executar. Se a sua capacidade de filtragem for muito boa,
provavelmente as informações poderão ser proveitosas.
e) Um estímulo que adentra o canal de processamento perceptivo causa um
aumento constante (dependendo da constancia do estimulo) na atividade
neural interna. Este aumento pode ser medido através de uma equação
bastante simples, representando um valor resultante da subtração do
montante de atividade neural interna, medida antes de um estimulo que
adentre o canal processador neural, subtraída da medida de ativação
realizada apos a entrada do citado estimulo.
Após o processo de detecção, o sub-estágio de processamento perceptivo
seguinte é o da comparação do estímulo com os conteúdos de memória. A demanda
de trabalho cognitivo neste estágio em particular não e muito grande e, dependente,
essencialmente, da natureza do conteúdo existente na memória “escaneada”. Na
existência de um conhecimento de base bem elaborado e amplo em conceituações, a
tarefa da comparação se toma mais fácil e, freqüentemente, mais rápida de
realização. Ao contrário, quando o conteúdo de memória, possível de ser associado ao
estímulo em análise, carece de uma boa organização e de amplitude conceitual, o
processo de comparação é prolongado e, em muitas das vezes, de resultado
insatisfatório. Em ambos os casos, todavia, o processo de comparação é executado e
demanda um considerável período de tempo no processamento total. Este sub-estágio
do processamento perceptivo será analisado a seguir.

8.4.5. Sub-estágio 2 da percepção: Comparação do estímulo


O processo de comparação do estímulo, assim como o de detecção,
anteriormente apresentado, não se realiza através de elaborações cognitivas
complexas. Na verdade, a tarefa que um indivíduo precisa executar nas instâncias de
detecção e comparação primárias de um estímulo a ele apresentado, é simplesmente
a de quantificar a sua intensidade e/ou forma, em relação a uma informação padrão
presente. Isto é, proceder uma discriminação sensorial entre os dois estímulos
apresentados à mesma fonte sensorial.
Relacionando-se a forma da ocorrência do processo de comparação, Magill
(1993) explica que a individualidade biológica é uma das determinantes da efetividade
com a qual o indivíduo operacionaliza a tarefa de comparar estímulos. Tal
individualidade pode ser expressa em termos da sensibilidade sensório-perceptiva,
explicitando que quanto mais sensível for o indivíduo, mais capaz será de definir sobre
as diferenças entre as informações nele (estimulo) presentes.
Desse modo o que se pode conceber em termos do processo de comparação é
que além da capacidade de um indivíduo de definir diferenças entre informações, se
faz necessária, também, a capacidade deste de definir os detalhes das informações
captadas pelos órgãos sensoriais. Esta habilidade do sistema é sem dúvida um fator
condicionante da habilidade na execução do processo de comparação.
Seguindo a tarefa, após a realização no sub-estágio de comparação, o
processamento continua e, agora, com o sistema processador realizando o julgamento
absoluto, isto é, o reconhecimento do estímulo.

Sub-estágio 3 da percepção: Reconhecimento do estímulo ou julgamento absoluto

Muitos dos estudiosos nesta área tendem a denominar o estágio de percepção


como estágio de identificação do estímulo. Isto se deve principalmente ao fato de ser,
a operação perceptiva que se efetiva neste estágio, dirigida principalmente aquela
identificação. Entretanto, o termo percepção é muito mais inclusivo em termos de
caracterizar as várias análises cognitivas decorrentes do processo de identificação,
bem como a estruturação perceptiva que estas análises proporcionam ao sistema. Em
outras palavras, não se deve conceber que o estágio de percepção se resuma apenas
a um processo de identificação, mas também atribuir ao mesmo, um importante papel
na formação dos esquemas de memória que servem de referência futura às análises
dos vários tipos de estímulo que os nossos sentidos alcançam no dia-a-dia da nossa
vida social. A exuberância do trabalho cognitivo que se desenvolve no estágio de
percepção de um estímulo, fica bem caracterizada ao se efetivar a descrição do
processo de julgamento absoluto, ora em pauta. Como Magill (1993), bem define:

“- Os julgamentos absolutos são similares aos julgamentos comparativos na medida em que


ambos envolvem comparações de um estímulo padrão com um de teste ou com outro
estímulo de comparação. Contudo, o julgamento absoluto é diferente à medida que na
realização do julgamento, o associativo padrão não está presente fisicamente, e sim em
memória do indivíduo que estabeleça o julgamento.” (pág. VER PÁGINA DO mAGILL).

Normalmente a performance de um julgamento pode resultar em discriminação


de ordem convergente ou divergente. Convergente quando a operação resulta em
uma correspondência do estímulo com qualquer elemento armazenado em memória
e, divergente, quando uma tal identificação não ocorre.
Conforme expõe Marteniuk (1976), convergência da comparação pode ser
dimensionada pelos seguintes itens:
a) O estímulo é identificável com um elemento ou vários elementos dos conteúdos
de memória.
b) Os elementos ou elemento de melhor associação são de fácil identificação,
facilitando o tempo de identificação.
c) Dentre os possíveis associativos em memória, o que melhor se adeqúe à
natureza do estímulo é o de mais fácil caracterização.

Por outro lado, os elementos que definem a ocorrência da divergência


comparativa podem ser relacionados a:
a) Realização de associações impróprias e
b) Variedade de associativos não bem definidos.
Convergências ou divergências de comparação são, portanto, determinadas por
conhecimento (ou ignorância) específico(a) sobre o estímulo propriamente dito, ou
por níveis de familiaridade que, o indivíduo que compara, tem com a principal
resposta par (e/ou aproximadamente associadas) em memória. Conhecimento
especifico, parece ser, por conseguinte, um fator que pode, significativamente,
influenciar, positivamente, a performance de um individuo na tarefa de diante de uma
multiplicidade de estímulos que a ele/ela se apresentam, definir detalhes que o (a)
auxiliem a estruturar as bases da resposta mais conveniente ao evento mental em
desenvolvimento.
Na interpretação de Ellis (1982) existem três categorias distintas de decisões
embutidas no sub-estagio de reconhecimento, traduzindo-o para uma condição de
percepção. A primeira se refere ao processo de constatar se o estímulo é ou não
conhecido. No segundo momento, a decisão se caracteriza por definir se cada
estimulo possui uma única resposta correspondente. Esta categoria e referida como
tarefa mental de definição. A terceira categoria, ou terceira decisão, corresponde ao
julgamento que o cérebro promove em função de analisar, o estimulo através de uma
escala multifatorial, para que sejam determinados (1) o nível de complexidade, (2)
valores afetivos, bem como (3) outras condições inerentes ao estimulo. O
reconhecimento de padrões constitui um aspecto essencial do processo perceptivo.
Quando relacionado a aspectos de motricidade, podemos associar esta função
de reconhecimento de padrões, a competência de um individuo em realizar a
detecção de gestos, sinais e/ou outros detalhes que possam fornecer, a ele, “dicas”
em relação a movimentos que possa vir a criar em resposta aos que possam lhes ser
dirigidos.
Um judoka, por exemplo, que possua uma alta competência para efetivar o
reconhecimento de padrões durante uma luta, poderá, em função de algumas dicas
que o seu adversário deixa transparecer na preparação de movimentos de ataque,
prever, um golpe resposta com mais possibilidade de sucesso do que quando não
possa fazer a previsão.
Assim sendo, diferentemente dos dois primeiros sub-estágios da percepção,
cujas funções principais são, em essência, associadas a tarefas de registro do
estímulo, a categoria de reconhecimento de padrões se caracteriza pelas altas
análises cognitivas que são realizadas na ação de detalhar e conceituar as
informações que o estímulo contém. Tais análises são apontadas na figura 8.2.7 (a
seguir).
Figura 8.2.7. Detalhes esquemáticos das varias categorias de analises que ocorrem
no desenvolvimento da percepção de um estimulo. Considerar o circulo ovoloide tracejado como
indicativo de ocorrências de altas analises cognitivas, feitas em relação ao estimulo sendo
processado. O símbolo C1 corresponde a constatação da presença (ou não) do estimulo; o C2, a
consulta sobre a existência de uma ou mais respostas para o estimulo. O C3, corresponde a
identificação da existência de uma analise multi-fatorial que investiga a natureza do estimulo. Um
estado de percepção e o resultado da interação entre os resultados dos subestagios de
detecção, comparação e reconhecimento. Os dois primeiros subestagios da percepção
demandam analises cognitivas simples. Mas o de reconhecimento procede através de analises
bem mais complexas do que nos dois primeiros sub-estagios.

PERCEPÇÃO

C1 C2 C3

Reconhecimento

Comparação

Detecção

A primeira se refere Es
ao processo de constatar se o estímulo é ou não
conhecido. No segundo momento, a decisão se caracteriza por definir se cada
estimulo (no caso do processamento de mais de um estimulo) possui, uma única
resposta correspondente. Esta categoria e referida como tarefa mental de definição. A
terceira categoria, ou terceira decisão, corresponde ao julgamento que o cérebro
promove em função de analisar, o estimulo, através de uma escala multi-fatorial para
que sejam determinados (1) o nível de complexidade, (2) valores afetivos, bem como
(3) outras condições inerentes ao estimulo. O reconhecimento de padrões constitui
um aspecto essencial do processo perceptivo.
Provavelmente é na fase do reconhecimento que o indivíduo pode determinar a
intensidade qualitativa com a qual uma informação pode ser armazenada, isto é,
variando progressivamente as associações múltiplas da informação sendo processada
com o material de pertinência associativa presentes em memória. Neste processo, o
trabalho bem elaborado do professor que interage na prática docente de ensino é
fundamental. Promover múltiplas situações de reconhecimento nas quais o aluno seja
exposto à prática de decisões em eventos sensório-perceptivos, será sempre de
grande valia ao seu desenvolvimento perceptivo-motor como um todo.
Na prática nem todos os estímulos alcançados pelos nossos sentidos são
processados. Na verdade, embora o potencial humano de alcançar os múltiplos
estímulos presentes ao seu redor seja grande, um número muito reduzido destes
podem ser processados. Esta limitação explica a necessidade da existência da
discutida seletividade que o nosso sistema processador precisa ter para ser eficiente.
É preciso se enfatizar aqui que esta seletividade é principalmente ligada a um estágio
de memória denominado “memória sensorial”. Em outras palavras, muito mais que
ter capacidade para receber estímulos, a necessidade premente no momento dos
contatos sensoriais com as buscas em memória, é a capacidade de ser seletivo.
Ellis (1982) ressalta um modelo de processamento de informações no qual a
limitação do organismo para manter, em registro sensorial, estímulos captados pelos
sistemas fica bem clara e, além disto, resume, de uma forma bem simples, todo o
processo perceptivo. Na figura a seguir, um modelo aproximado da conceituação de
Ellis é apresentado (Figura 8.2.8).

FIGURA 8.2.8. Modelo de processamento de informações (representado pelas setas) em


concomitância com os tipos de armazenamentos (memorização) em memórias.

E
CAPACIDADES ASSOCIADAS
S
T
Í MEMÓRIA  Entrada de itens = grande
ESTÍMULOS
M SENSORIAL  Manutenção de itens = pequena
U  Seletividade = variada
L
 Treinamento = possível
O
S
MEMÓRIA DE
CURTA
DURAÇÃO
ESTOCAGEM
TEMPORÁRIA

MEMÓRIA --------
MEMÓRIA DE
SENSORIAL PROCESSO LONGO
DE PRAZO
RETROAÇÃO
Resultados de pesquisas, utilizando a lógica metodológica descrita acima, têm
revelado uma série de variáveis que diretamente influenciam cada um dos estágios de
processamento. Com relação ao estágio da percepção estas pesquisas mostram que
as variáveis que são principalmente afetas ao estímulo e, que influenciam o seu
processamento neste estágio, são: (1) Nível de definição do conteúdo do estímulo ou
clareza e (2) a intensidade destes (Theios, 1975., Schmidt,1975., Clark, 1982a).
Na variedade de estudos realizados com o propósito de mensurar a quantidade
de efeitos de uma ou outra destas variáveis, sobre o tempo de reação motora (TRM)
de uma pessoa, a forma metodológica normalmente utilizada manipula a
apresentação de um estímulo em versões de qualidade do foco (clareza e/ou não
clareza), ou intensidade (intenso e/ou levemente constituído) manipulada sobre a
intensidade ou não de um som, cor, luz e ou outro evento significativo. De uma forma
em geral, este tempo tem se mostrado significativamente menor (processamento
mais rápido) quando níveis elevados de intensidade e ou clareza de um estímulo são
mais bem definidos e/ou intensos do que outros. E o fato de estímulos mais
claramente definidos e/ou intensos serem mais rapidamente processados deve-se, em
grande parte, à facilidade da sua codificação, um processo de transformação do seu
aspecto físico em um código biológico próprio para armazenamento (ou comparação)
em memória.
Um dos grandes debates existentes na literatura mais antiga, nesta área, refere-
se à questão de se os efeitos destas variáveis se limitam ao estágio de percepção, já
que alguns autores defendem a noção de que tais efeitos são subseqüentes aos
outros (veja Sternberg, 1969). Pesquisas posteriores, todavia, deixaram mais clara a
condição de interatividade, das referidas variáveis, com o sub-estágio de identificação
no estágio de percepção, sendo, esta interatividade, um fenômeno exclusivamente
pertinente a este sub-estágio.

8.3. ESTÁGIO DE SELEÇÃO DE RESPOSTA (DECISÃO)


Conforme mostrado na Figura 8.2.1 (.2 e 3), o segundo estágio de
processamento mental através do qual o estímulo procede é o de seleção de resposta.
Neste estágio o processante decide a forma de interação que irá efetivar (se assim
pretender) em termos do estímulo. Por, exemplo, imagine um evento de aprendizado
no qual o professor solicita que um aprendiz segure uma bola que será arremessada
para ele. Observe que o professor não especifica a forma nem tampouco o tipo de
bola. Assim, para atender a instrução do professor, o aprendiz se coloca à espera do
evento. Tão logo a bola “aparece”, ele inicia o processamento, primeiro percebendo a
natureza da bola (pesada, grande, enviada com pouca força, de cor amarela etc...) e
depois, baseando-se naquelas pressupostas verdades, o mesmo “decide usar as duas
mãos para pegar a bola (Já que a bola foi percebida como sendo pesada e grande o
melhor mesmo seria usar as duas mãos. . .). Normalmente a operacionalização do
estímulo no estágio de seleção de resposta ocorre em função do que a percepção
envolvida traduz para o indivíduo que operacionaliza a seleção. Pode acontecer que as
informações que chegam, a este estagio, não sejam reais, condicionando, a seleção
de resposta, a uma possibilidade de erro de seleção.

Figura 8.3.1. Estágios de processamento mental no fluxo do estímulo ambiental. Na série,


o segundo estágio, de Seleção de Resposta (sombreado) recebe as informações do estágio de
percepção, já reconhecidas e, daí, deverá selecionar, com base em experiências passadas, a(s)
resposta(s) que mais se enquadra(dam) ao estímulo(s) processado(s).

ESTÍMULOS

MEMORIA

SELEÇÃO PROGRAMAÇÃO
ÓRGÃOS DE DE
PERCEPÇÃO
SENSORIAI RESPOSTA RESPOSTA
S

Pesquisas, em um grande montante, revelam que este estágio de


processamento é proporcionalmente afetado por fatores tais como prática com o
evento de processamento, quantidade de possíveis respostas para o estímulo, relação
espacial entre o evento de E-R, dentre outras que se relacionam com a
compatibilidade entre E-R (Ver Silva Vernon, 1984).
Tendo em mente a noção de que o tempo através do qual um indivíduo
seleciona uma resposta para um determinado estímulo pode ser (e normalmente isto
ocorre) pelas variáveis acima citadas (e por muitas outras como veremos mais à
frente), qual seria a razão desta ocorrência? Hick um pesquisador voltado para o
estudo dos processos mentais de aprendizagem do ser humano, explicou, há anos
atrás que, quando pouco vivenciadas por um indivíduo todas aquelas variáveis,
podem aumentar o nível de incerteza do mesmo em tarefas de escolha de resposta
para um estímulo qualquer. Posteriormente, Hyman (1953), promoveu significativo
suporte para a noção proposta por Hick (1952), noção esta que se tornou conhecida
como Lei de Hick.
Traduzindo-se os conhecidos efeitos daquelas variantes sobre o estágio de
seleção de resposta, para um exemplo prático, imaginemos uma situação na qual um
jogador de futebol tenha que passar a bola após a ter recebido de um colega de time.
Certamente o inicio do passe ocorrerá mais rapidamente se próximo a ele (marcando-
o) estiver somente um jogador adversário, do que em presença próxima de mais de
um deles. Isto porque, um maior número de adversários ao seu redor cria uma
situação psicológica de incerteza sendo esta, maior do que quando apenas um

jogador adversário se encontre em relação ao companheiro de time para o qual o


jogador de pose da bola pretende (re) passá-la.

Figura 8.3.2 (a, b, c). Mostra níveis de incompatibilidade para selecionar uma resposta (para
onde passar?) diante de uma incompatibilidade simples (apenas um adversário), uma mais
complexa (dois adversários) e outra bastante complexa (três ou mais dversários).

(a) (b) (c)


Nota para o desenhista:
Na figura a, desenhar um jogador com a
bola um pouco mais próxima do pé,
somente um adversário à sua frente, e um
colega (camisa amarela), como o de
costa, um pouco mais para a lateral
(esquerda). Na b, dificulte colocando dois
adversários e na c, coloque 4 adversários.
O resto, parecidamente a figura a.

Da mesma forma, o processamento no estágio de seleção de resposta seria


mais rápido se a situação de jogo já tivesse sido varias vezes vivenciada, mesmo que
de forma aproximada (Já que um evento qualquer de E-R, ou situação de jogo jamais
se repete em forma exata).
Em termos de análise quanto à operacionalização deste estagio, em função da
idade, tendências desenvolvimentistas de fato existem. Crianças de faixa etária baixa
se mostram menos rápidas do que crianças mais velhas em testes de reação motora,
sendo que esta tendência prossegue até a idade adulta jovem e, em muitos casos,
persiste até os anos 50 e 60. Daí em diante, um declínio muito acentuado, crítico, dos
anos 70 em diante, e esperado. Se bem que a idade cronológica possa representar
um confiável marcador das tendências acima expostas, na verdade, o conhecimento
de base (adquirido através da pratica com eventos de E-R) pode ser também
considerado um fator estimulador ‘a boa performance em testes de tempo de
processamento seletivo motor (Silva Vernon, 2000). Como pode ser deduzido através
da observação da Figura 8.4.5, após a seleção da resposta associada ao estimulo
sendo processado, o evento de processamento total prossegue, agora, com o trabalho
neural ocorrendo no estagio de Programação da mesma.

8.4. ESTAGIO DE PROGRAMAÇÃO DE RESPOSTA


No estagio de programação da resposta selecionada, o trabalho neural se
efetiva em termos da definição dos parâmetros que ira compor o movimento a ser
exposto na resposta selecionada. Observando-se a Figura 8.4.1 pode-se verificar que
um fluxo de informações sobre a resposta escolhida tramita para o estagio de
programação, sendo que estas informações estão associadas a conteúdos de
memória, como em todos os outros estágios já estudados.

Figura 8.4.1. Estágios de processamento mental no fluxo do estímulo ambiental. Na série,


o terfceiro estágio, de Programação de Resposta (sombreado) recebe as informações do estágio de
Selecao e, daí, deverá definir, com base em experiências passadas (memória), os parâmetros do
movimento representativo da resposta selecionada.

ESTÍMULOS
MEMORIA

SELEÇÃO PROGRAMAÇÃO
ÓRGÃOS DE DE
PERCEPÇÃO
SENSORIAI RESPOSTA RESPOSTA
S

Provavelmente, como já demonstrara Henry e Rogers (1960), a variável mais


robusta em termos de fazer delongar o tempo de programação neste estagio é, a
complexidade do movimento necessário ao atendimento da devida resposta. Em um
estudo que se tornou clássico, estes autores demonstraram que controlando-se
(mantendo as dificuldades em percepção e seleção de resposta iguais) e criando-se
dificuldade na tarefa a ser executada, o tempo de reação aumenta (piora ate um
certo ponto) a mediada em que a dificuldade e aumentada. Pesquisas posteriores
comprovaram e deram suporte aos achados daqueles autores (Henry, 1980, Clark,
1982, e Silva Vernon, 2000, entre outros).

Como se pode facilmente concluir do que foi acima exposto, os processos


mentais associados ao processamento de informações têm uma estreita relação com
prática e experiência. Ou seja, quanto mais aqueles processos mentais forem
exercitados, com mais rapidez o individuo tendera a iniciar respostas para estímulos
ambientais com maior rapidez. Esta noção pode ser comprovada através de
experimentos tomando como referência o fator tempo de reação motora. Antes de
apresentação desta linha de pesquisa, passemos a uma breve discussão sobre este
importante componente da condição hábil-motora do ser humano.

O tempo de reação tem sido descrito na literatura em aprendizagem motora


como sendo o período decorrido entre a apresentação de um estimulo e uma
conseqüente resposta para este. Quando a resposta e dependente de uma ação
motriz de qualquer natureza, o fenômeno e, normalmente, denominado por tempo de
reação motora (TRM). Como tem sido, amplamente mostrado, este tempo reflete o
trabalho neural efetivado pelas estruturas nervosas responsáveis pelo processamento
perceptivo do estimulo, seletivo e de programação motora da resposta a ele
correspondente. De uma certa forma, um teste de tempo de reação motora testa,
alem da rapidez do evento mental, também a integridade daquelas estruturas. Isto
porque, em todas as formas de lesão cerebral normalmente representadas por
comportamentos patológicos, o tempo de resposta do individuo portador da lesão
tende a ser significativamente maior do que antes da ocorrência da lesão, bem como
todo individuo neuralmente lesionado tende a revelar tempos de reação
significativamente mais lentos do que seus pares não lesionados (Kosinski, 2003).

Como poderia ser esperado, o tempo de reação motora de um individuo pode


ser também influenciado por outras variáveis que não as acima apontadas. Dentre
elas, as mais importantes para os objetivos do presente livro estão listadas no quadro
8.1, organizado em termos das tendências mostradas na literatura na área.

Quadro 8.1. Revisão dos fatores intervenientes no tempo de reação motora do ser humano,
com as respectivas tendências de velocidade de processamento.

Fator Tendências Pesquisadores

Nível de ativação cortical, associado Tempo de reação e mais rápido em Welford, 1980 e Etnyre e

a condição de atenção (Arousal) níveis intermediários de arousal Kinugasa, 2002.

Gênero Homens tendem a serem mais rápidos do Welford, 1980 e Engel,

que mulheres em todos os tipos de testes 1972.

Fadiga Fadiga aumenta o tempo de resposta Welford, 1980 e Kroll,

1973.
Fome Dentro de certos limites, não influencia o Gutierrez e associados,

tempo de reação motora 2001.

Personalidade Introversão se relaciona com TRM mais Brebner, 1980 e Nettelbeck

rápidos (dentro de certos limites). 1973.

Exercício Indivíduos que se exercitam tendem a Welford, 1980; Collardeau

revelar tempo de reação mais baixo e associados, 2001;

do que outros que não se exercitam Sjoberg, 1975.

Inteligência Inteligência se correlaciona com maior Schweitzer, 2001 e Deary,

rapidez em tempo de resposta 2001.

Logicamente, Alguns outros fatores podem também influenciar o tempo de


reação de um individuo, seja qual for o seu gênero, tipo físico e ou procedência
biológica. Todavia, o conhecimento sobre os fatores acima apontados pode ser
bastante oportuno para o profissional que interage com aprendizes/atletas envolvidos
em qualquer modalidade de esporte.

8.5. APLICACAO DOS CONCEITOS E TEORIZACÕES ASSOCIADAS A NATUREZA DO


PROCESSAMENTO DE INFORMACÕES DO SER HUMANO.
Considerando-se, pois, o que foi amplamente discutido acima, o fato de ser, o
processo de aquisição hábil-motora de um indivíduo, em grande parte, dependente da
efetiva funcionalidade do seu sistema processador de informações, um entendimento
detalhado sobre a natureza estrutural e funcional deste sistema é certamente
condição princípua e naturalmente implícita nos requisitos sobre o quais profissionais
de Educação Física e áreas afins devem orientar a sua práxis. Embora não se possa
ignorar, o fato, de que muitos estudantes tendem a considerar enfadonha a leitura de
um capítulo bastante teórico, como este, para se ensinar qualquer modalidade
esportiva e, tornar efetiva, a pratica do jogo em si, este conhecimento se torna
extremamente necessário.
Além disto, saber como os processos mentais funcionam e sobre as sua
naturezas distintas e interligadas pode orientar o professor, instrutor e outros
profissionais para o uso adequado de técnicas e formas metodológicas de ensino que
sejam mais úteis e efetivas para uma intervenção técnica/pedagógica. Por exemplo,
após saber avaliar a eficiência ou deficiências de um particular estagio de
processamento, o mesmo poderá formular um processo de instrução que possa
mediar as dificuldades do estagio e, assim melhorar a condição de processamento
daquele estagio, providencia que certamente influenciara o processamento total do
evento e, conseqüentemente, melhorar as funções motrizes do aprendiz/atleta de
uma forma em geral.
Como base de um ensino e treino, próprios à uma aplicação metodológica
efetiva, deve o professor ter em conta as seguintes diretrizes:

O treinamento do processamento de informações e respostas, próprio ao


efetivo desenvolvimento de uma boa performance, em qualquer modalidade de
esporte, principalmente nos de natureza coletiva, deve primar por exercícios que
desenvolvam a velocidade e qualidade daqueles processamentos. Exercícios que
requerem respostas rápidas, para estímulos súbitos, tendem a beneficiar o
desenvolvimento da velocidade de processamento mental e, outros que requeiram, o
oportunismo do aprendiz, para, mais apropriadamente, utilizar uma determinada
resposta, são mais efetivos para o desenvolvimento da qualidade do processamento.

Assim, os exercícios abaixo, praticados em grande variedade de situações e,


sempre exigindo, do aprendiz/atleta, o máximo de rapidez de resposta são, todos,
muito adequados para o desenvolvimento da habilidade de processamento mental dos
mesmos.

a) Antecipação para possíveis estímulos e, possíveis respostas. Deve-se


iniciar com um estímulo, para uma resposta e, progressivamente
aumentar a quantidade de E-R par.

b) Treino de resposta não específica para um estímulo específico (ex.,


toque na perna, resposta imediata do olho e vice versa). Específico
para específico (ex., toque no braço para um movimento o mais
rápido possível do braço e vice-versa).

c) Selecionar respostas para estímulos possíveis, e utilizá-las, em ordem


da melhor resposta para o mais específico estímulo (e vice-versa).
Um exemplo próprio para ser treinado em relação ao jogo de
basquetebol seria: Um aprendiz/atleta de posse da bola, de costa
para (dois, três, quatro . . .) supostos adversários, ouviria os passos
destes (guardaria em memória a natureza dos passos) e, diante do
reconhecimento deles (passos), passaria a bola para um companheiro
em resposta 1, ou para outro,em resposta 2 e, assim por diante, de
acordo, com o reconhecimento dos passos. Passos que não tivessem
sido ouvidos antes, não demandaria resposta.

Logicamente que, os exemplos acima, são poucos, diante da imensa variedade


que pode ser treinada com o objetivo de desenvolvimento da capacidade de um
aprendiz/atleta para processar eventos de E-R com rapidez e qualidade.

REFERÊNCIAS

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