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Capítulo 1 - Neurologia básica para Neuropsicólogos

Capítulo 1 - Neurologia básica para


Neuropsicólogos

Prezados alunos,

Começamos nosso curso com uma boa notícia! O grande número de inscrições vem
demonstrar a demanda por esse profissional no mercado de trabalho. Textos teóricos sobre
reabilitação neuropsicológica, em português, já são encontrados em grande número na
literatura e muitos estão disponíveis na internet, sem nenhum custo. No entanto, o segredo
da prática clínica não é revelado em nenhum desses artigos. Espero que nesse curso,
possamos estudar os princípios e teorias da reabilitação, mas também desenvolver material
próprio para a atuação na prática clínica, no dia a dia do consultório. Só pode trabalhar com
reabilitação neuropsicológica quem conhece profundamente o cérebro e suas áreas, bem
como o papel de cada área no desempenho das funções cognitivas. A reabilitação tem
princípios teóricos muito bem estudados e não é uma ciência empírica. Nesse primeiro
módulo, vamos uniformizar os conhecimentos básicos sobre o cérebro, suas áreas, as
funções especializadas da córtex cerebral, conhecer as principais doenças que afetam o
cérebro, bem como as mais indicadas para os programas de reabilitação. Para aqueles já
iniciados na área, vamos aprender de modo interativo, através de jogos (Brain Games)
desenvolvidos por um brilhante neurologista, também apaixonado por tecnologia: Dr.
Humberto Crivelari, infelizmente não mais entre nós. Os Brain Games, além de divertidos,
são auto avaliativos, pois o computador vai sinalizar quando você errar e aplaudi-lo quando
você acertar. Vamos estudar exaustivamente as áreas e suas funções porque facilitará muito
o aprendizado dos próximos módulos.

Mãos a obra e dedos no teclado porque teremos uma proveitosa e recompensadora


jornada!

Flávia

Reabilitação Neuropsicológica
Prof.: Flávia Pinheiro Machado - CRP/04 13427
Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia
Capítulo 1 - Neurologia básica para Neuropsicólogos

Índice

1. Introdução a Neuroanatomia
2. A Arquitetura Externa do Cérebro
3. O que é o TDAH
4. O que é epilepsia?
5. Esclerose Múltipla
6. Alzheimer
7. Conceitos Anatômicos Básicos em Neuropsicologia
8. Conceitos anatômicos básicos
9. Dominância Cerebral - Especializações hemisféricas
10. Texto Complementar: Alterações Cognitivas e esclerose múltipla
11. Brain Games: Áreas de Brodmann Sequenciais
12. Brain Games: Áreas de Brodmann
13. Brain Games: Linguagem
14. Brain Games: Fissuras e Sulcos
15. Brain Games: Giros Cerebrais
16. Brain Games: Partes do Neurônio
17. Sugestões de livros complementares para o módulo 1
18. Vídeo Complementar 1: Entrevista com Ricardo Nitrini
19. Vídeo Complementar 2: TDAH - Entrevista com Dr. Paulo Mattos
20. Recapitulando - Capítulo 1

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Capítulo 1 - Neurologia básica para Neuropsicólogos

1. Introdução a Neuroanatomia
Vídeo: https://youtu.be/-GrhLn9sLTo
Slides: em anexo

2. A Arquitetura Externa do
Cérebro
Silvia Helena Cardoso, PhD

O Cérebro
Os processos biológicos pelos quais nos movemos, pensamos, percebemos, aprendemos,
lembramos, etc., são reflexões das funções cerebrais.

O cérebro é modificado e alargado na porção anterior do sistema nervoso central. Ele é


circundado por 3 membranas protetoras (meninges) e ajustado dentro da cavidade craniana.

O cérebro é feito de neurônios (ou células nervosas) e células gliais. As células nervosas
comandam a motricidade, a sensibilidade e a consciência; as células gliais sustentam e
mantém vivos os neurônios. Ele integra informação sensorial e dirige respostas motoras.

Nós dedicaremos um artigo especial e mais detalhado sobre as estruturas componentes do


cérebro e suas funções correspondentes.

Veja:

1. Hemisférios Cerebrais
2. Planos de Visualização do Cérebro
3. Córtex cerebral e Suas Camadas
4. Divisão do Córtex Cerebral em Lobos
5. Funções especializadas do córtex cerebral

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1. Hemisférios Cerebrais

hemisférios cerebrais direito e esquerdo

Através de uma proeminente ranhura chamada fissura longitudinal, o cérebro é dividido em


duas metades chamadas hemisférios. Na base desta fissura encontra-se um espesso feixe de
fibras nervosas, chamado corpo caloso, o qual fornece um elo de comunicação entre os
hemisférios. O hemisfério esquerdo controla a metade direita do corpo e vice-versa, em
razão de um cruzamento de fibras nervosas no bulbo.

Ainda que os hemisférios direito e esquerdo pareçam ser uma imagem em espelho um do
outro, existe uma importante distinção funcional entre eles. Na maioria das pessoas, por
exemplo, as áreas que controlam a fala estão localizadas no hemisfério esquerdo, enquanto
áreas que governam percepções espaciais residem no hemisfério direito.

O sulco central e sulco lateral dividem cada hemisfério cerebral em quatro secções
chamadas lobos (veja Divisão do Córtex Cerebral em Lobos). O sulco central, também
chamado fissura de Rolando, separa também a área cortical motora, a qual é anterior à
fissura).

Começando do topo do hemisfério, as regiões superiores das áreas motoras e sensoriais


controlam as partes inferiores do corpo.

Dominância Cerebral

Este termo refere-se ao fato de que um dos hemisférios cerebrais é o "dominante" em


certas funções. A diferença é predominantemente percebida na linguagem e habilidades
manuais. Ainda que exista uma variabilidade de indivíduo para indivíduo, a linguagem é
essencialmente representada no hemisfério esquerdo, enquanto as habilidades não verbais
tendem a ser representadas no hemisfério direito.

Área de Broca e área de Wernick (veja abaixo estas áreas e suas funções) referem-se a
regiões no hemisfério esquerdo que exercem a função da linguagem.

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2. Planos de Visualização do Cérebro

Imagens reconstruídas a partir de seções anatômicas de ressonância magnética da base de dados Visible
Human, por meio do programa de reconstrução 3Viewnix, Núcleo de informática Biomédica, Unicamp

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3. Córtex Cerebral e Suas Camadas

Camadas de fibras nervosas do córtex


I. Camada molecular
II. Camada granular externa
III. Camada piramidal externa
IV. Camada granular interna
V. Camada piramidal interna
VI. Camada fusiforme

O cérebro do homem, cortado em uma fatia, apresenta uma camada externa de cor cinzenta
(formada em sua maior parte por corpos celulares), chamada córtex cerebral. O córtex cobre
inteiramente os dois hemisférios.

Um corte em profundidade no cérebro mostra que a superfície cinzenta tem uma espessura
que varia de 1 a 4 mm. A maior parte é composta por células nervosas (neurônios) que
recebem impulsos dos pontos mais distantes do corpo e os retransmitem ao destino certo.
Mas o cérebro desempenha funções altamente diversificadas e, por isso mesmo, as células
que os constituem, também são especializadas. Tipos diferentes de neurônios são
distribuídos através de diferentes camadas no córtex dispostos de tal forma a caracterizar as
várias áreas dos hemisférios, cada qual com sua função.

As camadas específicas são constituídas por agrupamentos de neurônios de vários tipos,


entre eles, as células piramidais, com sua forma característica.

Pequenas, médias, grandes e gigantes, as células piramidais constituem, a maior parte da


terceira e quinta camadas. Outros tipos de células, similares às células granulares, existem
em todas as camadas, mas em maior quantidade na terceira e quarta camadas. O terceiro
aspecto típico de neurônios do córtex são as células fusiformes, que são características da
sexta camada.

Estas células não estão sozinhas no córtex; os prolongamentos celulares estabelecem


conexões e se com vários grupos de fibras que passam por toda a região. Algumas fibras
chegam e partem do córtex, trazendo ou levando impulsos nervosos. Outras fibras
"tangenciais" estão dispostas em paralelo à superfície cerebral e são responsáveis por

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conectar áreas do córtex. Estas fibras são distribuídas através de toda a espessura do córtex,
mas elas são agrupadas em certas áreas.

Fibras de várias procedências, em cadeia, chegam ao córtex e se ramificam como os galhos


de uma árvore. Estabelecem contato com diferentes células corticais, por meio de diversas
sinapses (ligações entre neurônios). Assim, todos os impulsos nervosos que aí chegam, são
difundidos, em fases sucessivas, pelas várias camadas.

4. Divisão do Córtex Cerebral em Lobos


O córtex cerebral é dividido em:

Lobos cerebrais. Vista medial (esq.); vista lateral (dir.)

Lobo frontal (localizado a partir do sulco central para a frente) - Responsável pela
elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e
emoção.

Lobo Parietal (localizado a partir do sulco central para trás ) - Responsável pela sensação de
dor, tato, gustação, temperatura, pressão. Estimulação de certas regiões deste lobo em
pacientes conscientes, produzem sensações gustativas. Também está relacionado com a
lógica matemática.

Lobo temporal (abaixo da fissura lateral) - É relacionado primariamente com o sentido de


audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. Tumor
ou acidente afetando esta região provoca deficiência de audição ou surdez. Esta área
também exibe um papel no processamento da memória e emoção.

Lobo Occipital (se forma na linha imaginária do final do lobo temporal e parietal) -
Responsável pelo processamento da informação visual. Danos nesta área promove cegueira
total ou parcial.

Lobo Límbico (ao redor da junção do hemisfério cerebral e tronco encefálico) - Está
envolvido com aspectos do comportamento emocional e sexual e com o processamento da
memória.

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5. Funções Especializadas do Córtex Cerebral


No córtex cerebral podem ser distinguidas diversas áreas, com limites e funções
relativamente definidos. A diferença entre elas reside na espessura e composição das
camadas celulares e na quantidade de fibras nervosas que chegam ou partem de cada uma.

Embora o sistema nervoso seja um todo único, determinadas áreas cerebrais estão mais
diretamente ligadas a certas funções. Assim, podem ser distinguidas a área motora principal,
a área sensitiva principal, centros encarregados da visão, audição, tato, olfato, gustação e
assim por diante.

Áreas corticais e suas funções . Áreas de associação: são conectadas com várias áreas
sensoriais e motoras por fibras de associação.

Area Cortical Função


Cortex Motor Primário (giro pré- Iniciação do comportamento motor
central) (em vermelho)
Córtex Somatosensorial Primário Recebe informação tátil do corpo
(em azul escuro) (tato, vibração, temperatura, dor)
Córtex Prefrontal (em pink) Planejamento, emoção, julgamento
Córtex de Associação Motor (área Coordenação do movimento
pré-motora) (em verde) complexo
Centro da Fala (Área de Broca) (em Produção da fala e articulação
preto)
Córtex Aditivo (em marrom) Detecção da intensidade do som
Área de Associação Auditiva (em Processamento complexo da
azul claro) informação auditiva e memória
Área de Associação Somestésica Processamento da informação
(em amarelo) multisensorial
Área de Associação Visual (em Processamento complexo da
laranja) informação visual, percepção do
movimento

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Córtex Visual (em verde musgo) Detecção de estímulo visual


simples
Área de Wernicke (em verde limão) Compreensão da linguagem

As áreas de associação são importantes na manutenção de atividades mais elevadas no


homem, ainda que não seja possível localizar qualquer faculdade mental específica ou fração
da experiência consciente. Afasias ou defeitos na fala resultantes de lesões corticais ilustram
a significância das áreas de associação. Em indivíduos destros elas são produzidas por lesões
no hemisfério esquerdo (o hemisfério dominante).

Fonte: Revista Cérebro e Mente


(http://www.cerebromente.org.br/n01/arquitet/arquitetura.htm)

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3. O que é o TDAH

O que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno
neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente acompanha
o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e
impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês,
também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.

Existe mesmo o TDAH?


Ele é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela
lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola.

Não existe controvérsia sobre a existência do


TDAH?
Não, nenhuma. Existe inclusive um Consenso Internacional publicado pelos mais renomados
médicos e psicólogos de todo o mundo a este respeito. Consenso é uma publicação científica
realizada após extensos debates entre pesquisadores de todo o mundo, incluindo aqueles
que não pertencem a um mesmo grupo ou instituição e não compartilham necessariamente
as mesmas ideias sobre todos os aspectos de um transtorno.

Por que algumas pessoas insistem que o


TDAH não existe?
Pelas mais variadas razões, desde inocência e falta de formação científica até mesmo má-fé.

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Alguns chegam a afirmar que “o TDAH não existe”, é uma “invenção” médica ou da indústria
farmacêutica, para terem lucros com o tratamento.

No primeiro caso se incluem todos aqueles profissionais que nunca publicaram qualquer
pesquisa demonstrando o que eles afirmam categoricamente e não fazem parte de nenhum
grupo científico. Quando questionados, falam em “experiência pessoal” ou então relatam
casos que somente eles conhecem porque nunca foram publicados em revistas
especializadas. Muitos escrevem livros ou têm sítios na Internet, mas nunca apresentaram
seus “resultados” em congressos ou publicaram em revistas científicas, para que os demais
possam julgar a veracidade do que dizem.

Os segundos são aqueles que pretendem “vender” alguma forma de tratamento diferente
daquilo que é atualmente preconizado, alegando que somente eles podem tratar de modo
correto.

Tanto os primeiros quanto os segundos afirmam que o tratamento do TDAH com


medicamentos causa consequências terríveis. Quando a literatura científica é pesquisada,
nada daquilo que eles afirmam é encontrado em qualquer pesquisa em qualquer país do
mundo. Esta é a principal característica destes indivíduos: apesar de terem uma “aparência”
de cientistas ou pesquisadores, jamais publicaram nada que comprovasse o que dizem.

Veja um texto a este respeito e a resposta dos Professores Luís Rohde e Paulo Mattos:

Why I Believe that Attention Deficit Disorder is a Myth


(www.tdah.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=221&Itemid=14
7&lang=br)

Porque desinformação, falta de raciocínio científico e ingenuidade constituem uma mistura


perigosa
(http://tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah/item/222.html)

O TDAH é comum?
Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços
especializados. Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo
em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o
indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.

Quais são os sintomas de TDAH?


O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas:

1) Desatenção

2) Hiperatividade-impulsividade

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O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com


demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas como "avoadas", "vivendo no
mundo da lua" e geralmente "estabanadas" e com "bicho carpinteiro" ou “ligados por um
motor” (isto é, não param quietas por muito tempo). Os meninos tendem a ter mais
sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos.
Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento,
como por exemplo, dificuldades com regras e limites.

Em adultos, ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem


como com a memória (são muito esquecidos). São inquietos (parece que só relaxam
dormindo), vivem mudando de uma coisa para outra e também são impulsivos ("colocam os
carros na frente dos bois"). Eles têm dificuldade em avaliar seu próprio comportamento e
quanto isto afeta os demais à sua volta. São frequentemente considerados “egoístas”. Eles
têm uma grande frequência de outros problemas associados, tais como o uso de drogas e
álcool, ansiedade e depressão.

Quais são as causas do TDAH?


Já existem inúmeros estudos em todo o mundo - inclusive no Brasil - demonstrando que a
prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno não
é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade, etc.), o modo como
os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos.

Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as
suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas
no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição
do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela
capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento.

O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de


substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e
noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios).

Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos neurotransmissores da
região frontal e suas conexões.

A) Hereditariedade:

Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição
ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a partir de observações de
que nas famílias de portadores de TDAH a presença de parentes também afetados com
TDAH era mais frequente do que nas famílias que não tinham crianças com TDAH. A
prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais
do que na população em geral (isto é chamado de recorrência familial).

Porém, como em qualquer transtorno do comportamento, a maior ocorrência dentro da

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família pode ser devido a influências ambientais, como se a criança aprendesse a se


comportar de um modo "desatento" ou "hiperativo" simplesmente por ver seus pais se
comportando desta maneira, o que excluiria o papel de genes. Foi preciso, então, comprovar
que a recorrência familial era de fato devida a uma predisposição genética, e não somente
ao ambiente. Outros tipos de estudos genéticos foram fundamentais para se ter certeza da
participação de genes: os estudos com gêmeos e com adotados. Nos estudos com adotados
comparam-se pais biológicos e pais adotivos de crianças afetadas, verificando se há
diferença na presença do TDAH entre os dois grupos de pais. Eles mostraram que os pais
biológicos têm 3 vezes mais TDAH que os pais adotivos.
Os estudos com gêmeos comparam gêmeos univitelinos e gêmeos fraternos (bivitelinos),
quanto a diferentes aspectos do TDAH (presença ou não, tipo, gravidade etc...). Sabendo-se
que os gêmeos univitelinos têm 100% de semelhança genética, ao contrário dos fraternos
(50% de semelhança genética), se os univitelinos se parecem mais nos sintomas de TDAH do
que os fraternos, a única explicação é a participação de componentes genéticos (os pais são
iguais, o ambiente é o mesmo, a dieta, etc.). Quanto mais parecidos, ou seja, quanto mais
concordam em relação àquelas características, maior é a influência genética para a doença.
Realmente, os estudos de gêmeos com TDAH mostraram que os univitelinos são muito mais
parecidos (também se diz "concordantes") do que os fraternos, chegando a ter 70% de
concordância, o que evidencia uma importante participação de genes na origem do TDAH.

A partir dos dados destes estudos, o próximo passo na pesquisa genética do TDAH foi
começar a procurar que genes poderiam ser estes. É importante salientar que no TDAH,
como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca
devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética.
O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e
não um único gene (como é a regra para várias de nossas características físicas, também).
Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único "gene do TDAH". Além
disto, genes podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns
pacientes de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se ainda
as influências ambientais. Também existe maior incidência de depressão, transtorno bipolar
(antigamente denominado Psicose Maníaco-Depressiva) e abuso de álcool e drogas nos
familiares de portadores de TDAH.

B) Substâncias ingeridas na gravidez:

Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez podem
causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal
orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com
problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos
somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação
de causa e efeito.

C) Sofrimento fetal:

Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram
causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos com TDAH. A relação de
causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuidadas e assim possam estar

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mais predispostas a problemas na gravidez e no parto. Ou seja, a carga genética que ela
própria tem (e que passa ao filho) é que estaria influenciando a maior presença de
problemas no parto.

D) Exposição a chumbo:

Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas
semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer
exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode
ser facilmente identificado pela história clínica.

E) Problemas Familiares:

Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de discórdia conjugal, baixa
instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento familiar caótico e
famílias com nível socioeconômico mais baixo) poderiam ser a causa do TDAH nas crianças.
Estudos recentes têm refutado esta ideia. As dificuldades familiares podem ser mais
consequência do que causa do TDAH (na criança e mesmo nos pais).

Problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo.

F) Outras Causas

Outros fatores já foram aventados e posteriormente abandonados como causa de TDAH:

1. corante amarelo
2. aspartame
3. luz artificial
4. deficiência hormonal (principalmente da tireoide)
5. deficiências vitamínicas na dieta.

Todas estas possíveis causas foram investigadas cientificamente e foram desacreditadas.

Fonte: ABDA - Associação Brasileira do Déficit de Atenção


(https://tdah.org.br/)

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4. O que é epilepsia?

Definição
É uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido
causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos,
uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou
espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois
hemisférios cerebrais, generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas mais ou
menos evidentes de epilepsia, não significando que o problema tenha menos importância se
a crise for menos aparente.

Sintomas
Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se "desligada" por alguns instantes,
podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em crises parciais simples, o paciente
experimenta sensações estranhas, como distorções de percepção ou movimentos
descontrolados de uma parte do corpo. Ele pode sentir um medo repentino, um desconforto
no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise
será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa
pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Tranquilize-a e leve-a para casa se achar
necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando
com o corpo rígido; depois, as extremidades do corpo tremem e contraem-se. Existem,
ainda, vários outros tipos de crises. Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a
pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.

Causas
Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos sofridos na
cabeça, recentemente ou não. Traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas,
tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o aparecimento da epilepsia.

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Diagnóstico
Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são ferramentas que auxiliam no
diagnóstico. O histórico clínico do paciente, porém, é muito importante, já que exames
normais não excluem a possibilidade de a pessoa ser epiléptica. Se o paciente não se lembra
das crises, a pessoa que as presencia torna-se uma testemunha útil na investigação do tipo
de epilepsia em questão e, consequentemente, na busca do tratamento adequado.

Cura
Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode ser considerada
curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o quanto antes, a fim de receber o
tratamento adequado. Foi-se o tempo que epilepsia era sinônimo de Gardenal, apesar de tal
medicação ainda ser utilizada em certos pacientes. As drogas antiepilépticas são eficazes na
maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm sido diminuídos. Muitas pessoas que têm
epilepsia levam vida normal, inclusive destacando-se na sua carreira profissional.

Outros Tratamentos
Existe uma dieta especial, hipercalórica, rica em lipídios, que é utilizada geralmente em
crianças e deve ser muito bem orientada por um profissional competente. Em determinados
casos, a cirurgia é uma alternativa.

Recomendações
Não ingerir bebidas alcoólicas, não passar noites em claro, ter uma dieta balanceada, evitar
uma vida estressada demais.

Crises
Se a crise durar menos de 5 minutos e você souber que a pessoa é epiléptica, não é
necessário chamar um médico. Acomode-a, afrouxe suas roupas (gravatas, botões
apertados), coloque um travesseiro sob sua cabeça e espere o episódio passar. Mulheres
grávidas e diabéticos merecem maiores cuidados. Depois da crise, lembre-se que a pessoa
pode ficar confusa: acalme-a ou leve-a para casa.

Fonte: LBE - Liga Brasileira de Epilepsia (http://www.epilepsia.org.br/site/epilepsia.php)

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5. Esclerose Múltipla

O que é?
A Esclerose Múltipla é uma das doenças mais comuns em adultos jovens que compromete o
SNC (Sistema Nervoso Central) constituído por cérebro, cerebelo, tronco encefálico e
medula espinhal. De causa ainda desconhecida, foi descrita, inicialmente, em 1868, pelo
neurologista francês Jean Martin Charcot, que a denominou "Esclerose em Placas",
descrevendo áreas circunscritas endurecidas que encontrou (em autópsia) disseminada pelo
SNC de pacientes. É caracterizada também como doença desmielinizante, pois lesa a mielina,
prejudicando a neurotransmissão. A mielina é um complexo de camadas lipoproteicas que
envolvem e isolam as fibras nervosas (axônios), permitindo que os nervos transmitam seus
impulsos rapidamente, ajudando na condução das mensagens que controlam todas as
atividades conscientes e inconscientes do organismo.

Na Esclerose Múltipla, a perda de mielina (desmielinização) leva a interferência na


transmissão dos impulsos e isto produz os diversos sintomas da doença. É importante
atentarmos que a mielina esta presente em todo sistema nervoso central, por isto qualquer
região do mesmo pode ser acometida e o tipo de sintoma esta diretamente relacionada.

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Capítulo 1 - Neurologia básica para Neuropsicólogos

Os axônios sofrem danos variáveis, em consequência do processo inflamatório, o que


culmina com o decorrer do tempo com acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos
de inflamação, desmielinização, evoluem para resolução com formação de cicatriz. Esta não
apresenta a mesma função do tecido original (é a placa, esclerose significa cicatriz), mas é a
forma que o organismo lança mão para curar a inflamação, só que com isto perdemos
função tecidual (“a cicatriz como testemunha”) que aparecem em diferentes momentos e
zonas do sistema nervoso central.

Os pacientes podem se recuperar clinicamente total ou parcialmente dos ataques individuais


de desmielinização, produzindo-se o curso clássico da doença, ou seja, surtos e remissões.

Os dados obtidos em pesquisas realizadas e atualmente disponíveis podem oferecer o


diagnóstico clínico e laboratorial, mas ainda em alguns casos podem ser insuficientes para
definir de imediato se a pessoa é ou não portadora de esclerose múltipla, uma vez que os
sintomas se assemelham a outros tipos de doenças neurológicas. Nestes casos a
confirmação diagnostica pode levar mais tempo.

Apesar de não existir a cura ate o momento para a Esclerose Múltipla, muito pode ser feito
para ajudar as pessoas portadoras de Esclerose Múltipla a serem independentes e a terem
uma vida confortável e produtiva.

Denomina-se ESCLEROSE e Denomina-se


MÚLTIPLA:
•Áreas do cérebro cerebelo, tronco encefálico e da medula espinhal são afetadas pela
inflamação e posterior aparecimento de cicatrizes (escleroses).

• Os sintomas podem ser leves, moderados ou intensos e surgem e de maneira imprevisível.

Fonte: ABEM - Associação Brasileira de Esclerose Múltipla

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6. Alzheimer
Disponível no link: http://www.alz.org/brain_portuguese/01.asp

7. Conceitos Anatômicos Básicos


em Neuropsicologia
Anexo em PDF

8. Conceitos anatômicos básicos


Slide: em anexo
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xO2zCym_pHQ

09. Dominância Cerebral -


Especializações hemisféricas
Anexo em PDF

10. Texto Complementar:


Alterações Cognitivas e esclerose
múltipla
Anexo em PDF

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11. Brain Games: Áreas de


Brodmann Sequenciais
Arquivo em anexo

12. Brain Games: Áreas de


Brodmann
Arquivo em anexo

13. Brain Games: Linguagem


Arquivo em anexo

14. Brain Games: Fissuras e


Sulcos
Arquivo em anexo

15. Brain Games: Giros Cerebrais


Arquivo em anexo

16. Brain Games: Partes do


Neurônio
Arquivo em anexo

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17. Sugestões de livros


complementares para o módulo 1
Neurociências- Desvendando o sistema nervoso
central- Bear, Connors

Fundamentos da Neurociência e do
comportamento- Eric Kandel

Neurologia Básica- Ângelo Machado

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18. Vídeo Complementar 1:


Entrevista com Ricardo Nitrini
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=1TeveZY60ek&feature=related
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=9b4myLL0DFs&feature=related
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=hKWC_2FODkc&feature=related
Parte 4: http://www.youtube.com/watch?v=adSSL72DBac&feature=related

19. Vídeo Complementar 2: TDAH


- Entrevista com Dr. Paulo
Mattos
https://www.youtube.com/watch?v=Ylqh_3UVtzM

20. Recapitulando – Capítulo 1


Arquivo em anexo

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