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Alvaro de Campos
Tudo àquilo que chamo de arte, se justifica pela poesia que ela contém.
Se não tiver poesia, não é cinema, não é teatro, não é dança, não é pintura...
A obra verdadeira é sempre nova, não cansa, pq traz em si mesma e apesar de si mesma, algo
que não lhe pertence. E nem pertence ao seu autor.
Vem de outro lugar... de uma instância mais alta e através da única via possível, que é a via da
beleza.
Em arte quando falamos de beleza, não é de boniteza, mas de forma... ARTE É FORMA
Não é do bonito que nós estamos falamos. A forma, a beleza, revela o ser das coisas.
Um ser que é inapreensível. Não damos conta de pegar o ser de uma rosa, de uma paisagem,
de um rosto, de um rio... Mas quando a Arte faz isso ela apreende essa coisa mais alta que está
atrás das coisas. Ela nos remete à beleza suprema.
Arte vai para o centro da pessoa, aquilo que nós chamamos OS SENTIMENTOS, nossos afetos.
Aquilo que nos constitui felizes ou infelizes.
NÃO É O QUE NÓS SABEMOS, MAS O QUE NÓS SENTIMOS.
ELA NÃO É UM PENSAMENTO FILOSÓFICO SOMENTE, ELA EXPRESSA AQUILO QUE NÓS
SENTIMOS, AQUILO QUE É HUMANO.
Não, não...Não é o que está sendo dito, mas como está sendo dito. Não é a coisa, mas como
ela se mostra através da mão do criador.
Portanto ela parte de uma EXPERIÊNCIA , a experiência criativa, que não é uma realidade não
tangível. É a dimensão do profundo em nós, a dimensão que permite o ser humano
compreender que pertence a uma totalidade.
Arte não mostra a aparência, mas nos induz à intimidade, a alma das coisas, a nossa própria
intimidade, por isso que ela nos move, no comove. Por que mexe não em nossos
pensamentos, mas em nossos afetos, naquilo que nós sentimos. E me oferece, toda obra me
oferece um espelho. Ela faz com que eu me reconheça nela, naquilo que eu estou vendo.
Diante de um poema, de um livro, de um quadro, de uma música... meu Deus como esse autor
pôde tocar nisso?
Todos nós padecemos de uma angústia. A angústia do tempo, da finitude. Nós temos essa
estreita sensação de que começamos e acabamos. Nós passamos.
E a obra de Arte não sofre esse desgaste, ela está fora do tempo. A obra segura o tempo pra
mim, suspende as nossas aparências.
ARTE NOS DÁ UNIDADE, SÍNTESE. Nós vivemos de maneira fragmentada: hora do café, do
trabalho, de dormir, de ir passear, de ler, de tomar banho, de comer. São fragmentos de
tempo. E nós queremos uma coisa eterna, uma unidade, que dure, que perdure.
A arte me dá um eixo de significação, nos devolve nossa unidade fragmentada. A arte consola,
conforta. É pão espiritual. Há uma fome em nós que nada pode saciar, somos famintos de
TRANSCENDÊNCIA. Algo que me diga
Você é mais que seu corpo, que as contas a pagar, mais do que suas necessidades básicas,
você é mais do que essa coisa quantitativa... de tal peso, tal cor, tal textura... Você é aquilo que
está presente no seu desejo, nos seus sentimentos, na sua alma.
Eu então falo: mas que bom que tem isso. Que coisa boa que tem isso...
A ARTE NASCE DAÍ E PRODUZ A PARTIR DAÍ. (Daquilo que está no fundo de cada pessoa, dos
nossos desejos, daquilo que temos como sentido que me move no mundo).
É a BELEZA QUE SE ESCONDE NAS COISAS E QUE SE REVELA. Se revela como? Pela força
movedora e comovedora que faz com que abramos os olhos para a maravilha da criação, da
maravilha da experiência humana que nos apresenta.
Nenhum!
Ela não tem um papel. Ela não é didática, ela não é catequética, não é filosófica. ELA É
EXPRESSÃO PURA.
A transcendência, segundo Boff (2009, p.14) nos indica que somos “[...] seres de
abertura em todas as direções. Somos um nó de relação conosco mesmo, com os outros,
com a sociedade, com a natureza, com o universo e com Deus. ” Portanto, a
transcendência ultrapassa os conceitos de religiosidade, ela liga-se à ontologia do ser
que está para além das corporeidades ou materialidade da existência humana, não
importando qualquer vinculação religiosa.
Sobre a Transcendência, Freire (1967) também nos diz que não é apenas um
dado de nossa qualidade ‘espiritual’. Mas uma capacidade ontológica de consciência do
ser inacabado que somos e cuja plenitude se acha na ligação com seu criador. Essa
ligação nunca é de dominação ou domesticação, mas sempre de libertação. Por isso, a
religião deverá sempre promover a religação com àquilo que supostamente pensamos
estar desligados. Jamais deve ser um instrumento de alienação.
Como nos diz a poetiza Adélia Prado, numa conferência no programa “Sempre
um Papo” da TV Câmara, no dia 06 de agosto de 2008,
E é a força da arte que faz com que abramos nossos olhos para a maravilha da
Criação, a maravilha da experiência humana que nos aguarda. E por causa
dessa qualidade eterna, dessa imponderabilidade, eu vejo que, para a
humanização, a arte está no mesmo caminho da mística ou da fé religiosa:
ambas experiências são independentes da razão: são experiências; a beleza é
uma experiência e não um discurso. Como quando um dia, num caminho
habitual, você se espanta com algo – uma casa, uma obra, uma coisa – que já
tinha visto muitas vezes – “Que beleza! Eu nunca tinha enxergado isso desse
jeito! ”-, aí você pode dar graças: você está tendo uma experiência poética,
que é ao mesmo tempo, religiosa: no sentido que liga você a um centro de
significação e de sentido. Minha insistência no cotidiano é porque a gente só
tem ele: é muito difícil a pessoa se dar conta de que todos nós temos o
cotidiano, que é absolutamente ordinário (ele não é extra-ordinário).
O belo, a arte, a estética, a ética são, por assim dizer, caminhos para uma
educação da sensibilidade, da espiritualidade que a tudo re-liga e desperta nossa
natureza ancestral. Assim sendo, o coração, a mente, a emoção, a razão analítica são
racionalidades de um mesmo ser integral Eco-Relacional, não importando, assim, um
lugar específico, um dia especial, um momento singular para a epifania do Belo que em
nós se revela.
No cotidiano mais prosaico, mais simples, nas situações mais corriqueiras da
vida podemos acessar essa condição de nossa natureza humano-divina. “Em nós tudo é
sagrado, desde a ação mais comum de comer ou caminhar até o ato mais elevado de
amor ao Criador” (Neto, 2000, p.28). Desta maneira, comendo, bebendo, abraçando,
correndo, nadando, brigando, lutando, sofrendo, amando ou numa relação sexual,
estamos imersos numa totalidade.
A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas, ela significa a
mais profunda exteriorização, a divina manifestação desse mais além que polariza a esperança
da alma. O Artista verdadeiro é sempre um médium das belezas eternas, e o papel do artista
foi sempre fazer vibrar as cordas dos sentidos e sentimentos.
LEON DENIR NO LIVRO ESPIRITISMO NA ARTE NOS PROPÕE HAVER UMA RELAÇÃO ENTRE ARTE
E DIVINDADE, DIZENDO QUE O ESPÍRITO ETERNO POSSUI DE AMPLIAR SUA PERCEPÇÃO DE
BELEZA EM SEU PROCESSO DE EVOLUÇÃO ESPIRITUAL.
DIZ ELE: