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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem de Capa: Unsplash
Revisão: Os Autores
EM53
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-4141-1
ISBN Físico 978-65-251-4144-2
DOI 10.24824/978652514144.2
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) André Luis de Carvalho (UFRRJ)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Angelo Aparecido Priori (UEM)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Arnaldo Oliveira Souza Júnior (UFPI)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Carlos Ugo Santander Joo (UFG)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Dagmar Manieri (UFT)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Edison Bariani (FCLAR)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Elizeu de Miranda Corrêa (PUC/SP)
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO�������������������������������������������������������������������������������������������� 9
Leila da Costa Ferreira
Fabiana Barbi Seleguim
CAPÍTULO 1
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CAPÍTULO 2
SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA NA GOVERNANÇA
CLIMÁTICA: os casos de Campinas e Santos – SP�������������������������������������� 25
Fabiana Barbi Seleguim
Marcelo Soeira
Niklas Weins
Jaqueline Nichi
Eduardo Prado Gutiérrez
CAPÍTULO 3
GÊNERO NA GOVERNANÇA CLIMÁTICA:
um olhar sobre o projeto “Pira no Clima”�������������������������������������������������������� 43
Lígia Amoroso Galbiati
CAPÍTULO 4
MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E REPRESENTAÇÕES
LOCAIS: desigualdades de Acesso e Representação na imprensa
de Santos (SP)������������������������������������������������������������������������������������������������ 71
Eduardo Prado Gutiérrez
CAPÍTULO 5
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E GOVERNOS LOCAIS:
o papel da governança multinível e multiatores para um
transporte urbano de baixo carbono��������������������������������������������������������������� 95
Jaqueline Nichi
CAPÍTULO 6
METAMORFOSE DO MUNDO E NOVOS MODELOS DE
NEGÓCIOS DIANTE DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA:
experiências locais no Estado de São Paulo������������������������������������������������ 109
Felipe Barbosa Bertuluci
CAPÍTULO 7
METAMORFOSE DO CAMPO: um estudo de caso
sobre três assentamentos do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra no estado de São Paulo�������������������������������������� 131
José Caio Quadrado Alves
Guilherme Augusto Lemos Fest
CAPÍTULO 8
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CAPÍTULO 9
A METAMORFOSE DOS RISCOS CLIMÁTICOS GLOBAIS
NO CONTEXTO BRASILEIRO: entre uma agenda de “Cidades Unidas”
Cosmopolitas e um Estado-Nação Negacionista������������������������������������������ 179
Niklas Werner Weins
Japan
Canada
Ukraine
France
Australia
Argen�na
Mexico
South Africa
Poland
Thailand
Italy
Iran
-50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550
2.500.000.000
2.000.000.000
1.500.000.000
1.000.000.000
500.000.000
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Ano
o 92º lugar entre 181 países no Índice ND-GAIN 20202. Prevê-se que as
temperaturas extremas, o aumento do nível do mar, bem como os desafios
complexos de diferentes regiões em todo o país que enfrentam escassez signi-
ficativa de água e chuvas fortes, coloquem pressão significativa sobre grupos
vulneráveis, infraestrutura urbana, economia e ecossistemas únicos do país
(WORLD BANK, 2021).
Nesse cenário, o presente capítulo analisa as políticas brasileiras de
mudanças climáticas numa perspectiva multinível e multiatores, buscando
compreender os papeis tanto no nível nacional como no nível local, bem como
o envolvimento dos diversos atores nesse processo.
2 O Índice ND-GAIN11 classifica 181 países usando uma pontuação que calcula a vulnerabilidade de um
país às mudanças climáticas e outros desafios globais, bem como sua prontidão para melhorar a resiliência
(Universidade de Notre Dame, 2022).
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 15
Mecanismos
Política/Lei Estratégias de Estratégias de
Cidade/Estado Ano institucionais para
climática mitigação adaptação
implementação
Comitê Municipal
30% de redução Plano de
Belo Horizonte de Mudanças
Lei nº 10.175 2011 de emissões de adaptação em
(MG) Climáticas e
GEE até 2015 elaboração
Ecoeconomia (2006)
Plano de Fórum Curitiba
Plano de mitigação
Curitiba (PR) Decreto nº 1.186 2009 adaptação em de Mudanças
em elaboração
elaboração Climáticas (2009)
continua...
16
continuação
Mecanismos
Política/Lei Estratégias de Estratégias de
Cidade/Estado Ano institucionais para
climática mitigação adaptação
implementação
Fórum Municipal
Objetivo de reduzir as
Feira de de Mudanças
Lei nº 3.169 2011 emissões de GEE, mas A ser definida
Santana (BA) Climáticas Globais e
sem meta definida
Biodiversidade (2011)
Redução de 15,5% nas Plano de Fórum Fortaleza
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Fortaleza (CE) Lei nº 10.586 2017 emissões de GEE até adaptação em de Mudanças
2020 e 20% até 2030 elaboração Climáticas (2015)
Uso obrigatório
Uso obrigatório de de equipamentos
equipamentos voltados voltados ao
ao uso racional de uso racional de
Manaus (AM) Lei nº 254 2010 energia e água em energia e água Governo municipal
edificações e incentivos em edificações e
fiscais para práticas incentivos fiscais
sustentáveis para práticas
sustentáveis
Plano de conservação
Secretaria Municipal
Palmas (TO) Lei nº 1.182 2003 de áreas verdes e Não definido
de Meio Ambiente
eficiência energética
Metas de redução de Comitê Municipal de
Lei
Porto Alegre emissões de GEE a Plano de Mudanças Climáticas
Complementar 2020
(RS) serem definidas após a Resiliência (2016) e Eficiência
nº 872
execução do inventário Energética (2016)
Comitê Recife de
Sustentabilidade e
Plano de redução de Mudanças Climáticas
emissões de GEE Plano de (Comclima) (2013)
Recife (PE) Lei nº 18.011 2014
com metas por setor Adaptação (2019) Grupo Executivo de
de atividade (2016) Sustentabilidade e
Mudanças Climáticas
(Geclima) (2013)
Metas de redução de Estratégia de Fórum Carioca de
Rio de emissões de GEE: Adaptação Mudanças Climáticas
Lei nº 5.248 2011
Janeiro (RJ) 8% em 2012; 16% em às Mudanças e Desenvolvimento
2016; 20% em 2020 Climáticas (2016) Sustentável (2009)
Comissão Municipal
Plano de Plano de de Adaptação
Santos 2016 Não definido
Adaptação Adaptação (2016) às Mudanças
Climáticas (2015)
Plano de Ação Plano de Ação
Secretaria Executiva
Decreto nº Climática do Climática do
São Paulo (SP) 2021 de Mudanças
60.290 Município de São Município de São
Climáticas (2021)
Paulo 2020-2050 Paulo 2020-2050
continua...
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 17
continuação
Mecanismos
Política/Lei Estratégias de Estratégias de
Cidade/Estado Ano institucionais para
climática mitigação adaptação
implementação
Comitê Local de
Metas de redução de
Plano de Mudanças Climáticas
emissões de GEE a
Sorocaba (SP) Lei nº 11.477 2016 adaptação em e Grupo de Trabalho
serem definidas após a
elaboração sobre Mudanças
execução do inventário
Climáticas (2019)
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização
4ª fase
3ª fase (2013-2018)
Implementação
(2009-2012) da Política
2ª fase
Política
(2003-2008) Climática
1ª fase
Agenda
(1992-2002) Político-
Início das Institucional
discussões
2019 em diante
4ª fase
3ª fase (2013-2018)
Implementação
(2009-2012) da Política
2ª fase
Política
(2003-2008) Climática
1ª fase
Agenda
(1992-2002) Político-
Início das Institucional
discussões
É inegável que nas últimas décadas o Brasil tem tido uma relevância e
protagonismo na área ambiental, incluindo aqui a emergência climática, como
podemos observar nos dados apresentados nos itens anteriores.
Em todos os setores da sociedade houve avanços na internalização da
problemática e podemos dizer aqui que a relação entre política e ciência
contribuiu muito para esse processo. Destaca-se a relevância dos cientistas
brasileiros em diversos postos internacionais e nacionais de formulação e
implementação de políticas climáticas.
Destaca-se ainda a importância da diplomacia brasileira no âmbito inter-
nacional e salienta-se o papel brasileiro na Conferência Rio+20 na proposi-
ção dos ODS-Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, aprovados pela
Assembleia Geral em 2015.
A partir de 2019, entretanto, há grande ceticismo em relação ao aqueci-
mento global e à emergência climática. São tantos os exemplos que confir-
mam o caráter antidemocrático, negacionista e atrasado desse governo que
os impasses são colocados em várias instâncias.
Neste sentido, os resultados da COP26 não são animadores e devemos
pensar nas eleições de 2022, quando estaremos celebrando 50 anos de Esto-
colmo. Neste sentido, há alguns pontos que no caso brasileiro pode-se avan-
çar significativamente.
REFERÊNCIAS
BARBI, F.; REI, F. Federalism and Climate Governance in Brazil. In:
JODOIN, S., SETZER, J. (org.). Climate Change and Federal Governance.
Cambridge University Press. [no prelo].
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ical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment
Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Masson-Delmotte,
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WORLD BANK. Climate Risk Profile: Brazil. The World Bank Group.
2021. Disponível em: https://climateknowledgeportal.worldbank.org/sites/
default/files/2021-07/15915-WB_Brazil%20Country%20Profile-WEB.pdf.
CAPÍTULO 2
SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA
NA GOVERNANÇA CLIMÁTICA:
os casos de Campinas e Santos – SP
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Introdução
número de eventos de ressacas fortes aumentou em 3,3 vezes (76,5% dos 115
eventos registrados) em relação ao número de eventos ocorridos no século
XX (entre 1928 e 1999).
As modelagens climáticas realizadas para o projeto “Metropole” (CHOU
et al., 2019) revelaram que a temperatura em Santos deverá aumentar entre 2
e 4,5º até o final do século XXI, com aumento na frequência de noites quentes
e ondas de calor; para o total anual de precipitação5. No entanto, o modelo
aponta aumento da variabilidade nos climas futuros, com predominância de
anomalias negativas em comparação com o presente, embora com diversos
eventos de chuva acima do normal. Isso traria consequências como aumento
da magnitude de erosão costeira, movimentos de massa, enchentes e inunda-
ções, e aumento do risco de desastres.
O planejamento para adaptação começa com a avaliação das condi-
ções climáticas atuais e históricas, projeções de mudanças climáticas e as
implicações futuras sobre as vulnerabilidades e impactos. Essas informa-
ções constituem a base das políticas de adaptação que podem ser formula-
das como intenções de ação ou ações de adaptação (GAGNON-LEBRUN;
AGRAWALA, 2006; BASC, 2010). Essa foi a trajetória da política climática
do município de Santos.
Santos apresentava esforços, ainda que iniciais, em direção à internaliza-
ção da temática política das mudanças climáticas em sua agenda desde 2010.
As políticas relacionadas à adaptação aos impactos das mudanças climáticas
estavam voltadas, sobretudo, à gestão de desastres, abordando a questão de
forma indireta (BARBI, 2015).
Houve um avanço significativo na abordagem dos efeitos das mudan-
ças climáticas em Santos a partir do desenvolvimento do projeto Metrópole,
em termos de construção de arranjos político-institucionais e planejamento
para ação. O projeto desenvolveu uma modelagem (plataforma COAST,
MARENGO et al., 2017b, 2017c) contendo as projeções de cenários de
5 Projeto Metropole “Uma estrutura integrada para analisar tomada de decisão local e capacidade adaptativa
para mudança ambiental de grande escala: estudos de caso de comunidades no Brasil, Reino Unido e
Estados Unidos”, coordenado por Jose Antonio Marengo Orsini, entre 2013 e 2017: Disponível em: https://
bv.fapesp.br/pt/auxilios/81993/uma-estrutura-integrada-para-analisar-tomada-de-decisao-local-e-capacidade-
-adaptativa-para-mudanca-a/. Acesso em: 24 fev. 2022.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 31
esse tipo de ação possa ser expandido para demais localidades do município
e dos demais integrantes da região metropolitana.
Outras SBN estão sendo planejadas no Plano Municipal da Mata Atlân-
tica (PMMA), que busca identificar as áreas da cidade onde não há mais Mata
Atlântica a fim de que seja recuperada.
Os demais municípios da RMBS apresentam condições geográficas seme-
lhantes em termos de clima e estão interligados por forte interação socioeco-
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básico aprovado.
Dentro das áreas definidas dos parques lineares, há as que são públicas
e as privadas. Para garantir que a inserção de parques no desenvolvimento
de empreendimentos situados em áreas privadas, foi necessário um ajuste no
decreto de aprovação de loteamentos. Esse ajuste na legislação urbanística
do município garante ainda que as áreas reservadas para o parque dentro dos
empreendimentos sejam apropriadas para a implementação dos parques.
Nas oficinas realizadas com a população no contexto da elaboração do
PMV, os moradores indicaram como principais motivos para evitar algumas
áreas verdes no município: (i) falta de estrutura (iluminação, calçadas, bancos
entre outros); (ii) falta de manutenção (poda de árvores, corte de grama, reparo
de estruturas); e (iii) falta de segurança. Essas razões demonstram a importân-
cia da gestão pós-implantação para a fruição das áreas verdes, elemento que
têm sido levados em conta nas ações desenvolvidas. Além de articulação com
outras secretarias para melhorar os cuidados de manutenção das áreas verdes
e o patrulhamento delas, o planejamento tem previsto a inclusão de funciona-
lidades e atrativos aos parques para fomentar seu uso, tendo em vista que sua
ocupação oferece segurança e resiliência frente ao vandalismo que ocorre em
áreas verdes abandonadas ou pouco frequentadas. Esse quadro reflete uma
relação e preocupações da população urbana com relação às áreas verdes que
já foi observada em outras localidades do Brasil e da América Latina e pode
constituir uma barreira à sua implantação.
Também foram realizados estudos de viabilidade a fim de compreender
a vocação de cada trecho do parque linear, permitindo delimitar como será
planejado cada espaço, além da recuperação da área de preservação per-
manente, como ciclovia, horta urbana, centros comunitários, playground,
academia, entre outros.
Além disso, houve um avanço na própria ideia de parque linear no inte-
rior da equipe técnica do município desde o PMV, em 2016. Ampliou-se a
noção de suprir o déficit de verde para um conceito mais amplo de Soluções
baseadas na Natureza (SBN), transcendendo o limite do parque e pensando
no bairro como um todo.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 35
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
ADGER, W. N.; HUQ, S.; BROWN, K. et al. Adaptation to climate change
in the developing world. Progress in Development Studies, v. 3, n. 3, p. 179-
195, 2003.
ALMASSY, D.; PINTER, L.; ROCHA, S.; NAUMANN, S.; DAVIS, M.;
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CARTER, J. G.; CAVAN, G.; CONNELLY, A.; GUY, S.; HANDLEY, J.;
KAZMIERCZAK, A. Climate change and the city: Building capacity for
urban adaptation. Progress in Planning, n. 95, p. 1-66, 2015.
CHOU, S. C.; MARENGO, J. A.; SILVA, A. J.; LYRA, A. A.; TAVARES, P.;
SOUZA, C. R. G.; HARARI, H.; NUNES, L. H.; GRECO, R.; HOSOKAWA,
E. K.; ARAGÃO, L. E. O. C.; ALVES, L. M. Projections of Climate Change
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tos, Brazil: Projections, Impacts and Adaptation Options, p. 59-73, Springer
Nature Switzerland, 2019.
in Santos Coastal Area. In: NUNES et al. (ed.). Climate Change in Santos
Brazil: Projections, Impacts and Adaptation Options. Springer Nature Swit-
zerland, 2019.
HALL, P.; PFEIFFER, U. Urban Future 21: A Global Agenda for Twenty-First
Century Cities. Routledge, 2013.
B. Girma, E.S. Kissel, A.N. Levy, S. MacCracken, P.R. Mastrandrea, and L.L.
White (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and
New York, NY, USA, p. 535-612. 2014.
Introdução
7 Website Women and Gender Constituency. Disponível em: https://womengenderclimate.org. Acesso em: 11
abr. 2022.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 49
intersecções com classe, raça, etnia, idade, além de uma visão paternalista
do Norte sobre o Sul.
Assim, como aponta Ulrich Beck, “o discurso sobre política climática até
agora é um discurso especialista e elitista no qual povos, sociedades, cidadãos,
trabalhadores, eleitores e seus interesses, opiniões e vozes são muito negli-
genciados” (Beck, 2010, p. 254), em especial, vozes de mulheres, que ainda
são minoria em altos cargos políticos e científicos (MacGregor, 2010). Além
disso, instituições científicas e políticas são espaços simbolicamente masculi-
nos, como estudo de Magnusdottir & Kronsell (2015) aponta, ao demonstrar
que apenas uma equidade descritiva não leva necessariamente a impactos
diferenciais no que tange à questões de gênero em políticas climáticas.
Neste sentido, os estudos locais são de grande relevância, pois é a partir
das relações construídas nos territórios que as intersecções dos marcadores
sociais da diferença com as questões climáticas se materializam, possibilitando
a construção de políticas que de fato levem em conta as dinâmicas territoriais,
econômicas, sociais, que vulnerabilizam diferentes grupos populacionais,
incluindo suas especificidades, e considerando sua agência, imaginação polí-
tica e capacidade de mobilização.
Tem como objetivo principal “facilitar, tornar mais direto e mais cotidiano
o contato entre os cidadãos e as diversas instituições do Estado, e possi-
bilitar que estas levem mais em conta os interesses e opiniões daqueles
antes de tomar decisões ou de executá-las” (Borja apud Jacobi, 2000,
p. 31), minimizando os efeitos/limitações da democracia representativa,
via engajamento da sociedade civil na formulação de políticas públicas
e no controle das ações governamentais e da coisa pública (Scardua &
Bursztyn, 2003, p. 294-295).
do município.
Já a partir dos anos 1990 há uma mudança neste perfil, com uma amplia-
ção e diversificação das organizações. As entidades que surgem neste momento
estão mais articuladas às empresas e fundações, neste sentido buscam um
afastamento das ONGs “militantes”, inclusive na nomenclatura, ao se reivin-
dicarem como “Terceiro Setor”.
As novas ONGs do Terceiro Setor não têm perfil ideológico definido, falam
em nome de um pluralismo, defendem as políticas de parcerias entre o
setor público com as entidades privadas sem fins lucrativos e o alargamento
do espaço público não estatal. A maioria delas foi criada nos anos 90 e
não tem movimentos ou associações comunitárias militantes por detrás.
Muitas delas surgiram pela iniciativa de empresários e grupos econômicos
e seu discurso é muito próximo das agências financeiras internacionais;
outras surgiram por iniciativas de personalidades do mundo artístico e
esportivo (Gohn, 2013, p. 247).
Coleta de Redação do
diretrizes Coleta de ações Plano
(reuniões temá�cas
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(formulário)
e diálogos
par�cipa�vos)
racial não foi alcançada nos espaços dos grupos de trabalho, com predomínio
de pessoas brancas. Foi necessário um esforço ativo para trazer mulheres
negras para o processo, através da contratação e pagamento de bolsas para que
gravassem vídeos trazendo suas percepções e olhares sobre como a mudança
climática atravessa suas vidas, atuando também como multiplicadoras em
seus bairros e espaços de vivência (Garcia-Drigo et al., 2020). Os diálogos
que envolveram a juventude também apresentaram maior diversidade racial,
especialmente o Sarau, por ter sido realizado em parceria com um coletivo
jovem de Hip Hop local, Batalha Central (observação pessoal).
Ainda na questão sobre diversidades, a participação de pessoas transgê-
nero foi pouco significativa, com a identificação de apenas uma mulher trans
participante dos processos participativos e mediando uma mesa. Também
houve tentativa de trabalhar com pessoas refugiadas, porém sem sucesso.
Considerações finais
classe e gênero, ainda impedem que diferentes vozes sejam de fato ouvidas
e consideradas na efetivação de uma governança climática que de fato seja
co-produzida com a sociedade civil ampla, e não apenas por especialistas e
burocratas, o que reforça as críticas a um entendimento de governança que
não leve em consideração as relações de poder.
Para além da importância na construção de uma política climática, o
engajamento da população nas ações e no controle social é essencial. Pers-
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REFERÊNCIAS
Almeida, R. L. P. de, Mamed, D. de O., & Nogueira, C. B. C. (2013). O papel
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sion, held in Bonn from 6 to 18 November 2017. Decisions adopted by the
Conference of the Parties. Conference of the Parties. United Nations. https://
unfccc.int/sites/default/files/resource/docs/2017/cop23/eng/11a01.pdf.
Garcia-Drigo, I., Perobelli, N., & Piatto, M. (2020). Gênero em planos muni-
cipais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas: O caso da construção
do plano de Piracicaba, Brasil. Perspectivas IMAFLORA – Clima, 9, 9.
Kuyper, J. W., Linnér, B., & Schroeder, H. (2018). Non‐state actors in hybrid
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Pearson, R. (2019). The rise and rise of gender and development. Em A rad-
ical history of development studies: Individuals, institutions and ideologies
(2. Ed., p. 157-179). Zed Books.
São Paulo. (2022b). Ranking Geral – Somatória das notas dos municípios
paulistas no PMVA – 2008-2020 [Governo do Estado de São Paulo]. Programa
Município Verde Azul. https://smastr16.blob.core.windows.net/municipiover-
deazul/sites/244/2021/09/historico-notas-2008-2020.pdf.
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itics of the Earth. PhaenEx, 11(1), 1-21. https://doi.org/10.22329/p.v11i1.4390.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 69
Vello, B. G., Braga, R., Moraes, N. P. de, & Campos, J. (2021). Risco Socio-
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Introdução
As variáveis que guiam a análise são definidas de modo a capturar qual área
está sendo representada na imagem e os mecanismos representacionais que
estão sendo invocados. Além disso, busca-se identificar a relação dos textos
visuais com a circulação de artefatos e diagramas de visualização do risco a
partir de redes científicas internacionalizadas como o Projeto METROPOLE.
Encontra-se como resultado que no diálogo com as redes de pesquisa-
dores, criam-se novos símbolos e representações do território que fazem a
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como dos grupos que neles residem (VIVARTA, 2010; HELTON, 2021).
Assim como ocorre com populações do Sul Global na cobertura internacional,
as representações jornalísticas e midiáticas dos residentes nas periferias urba-
nas tendem a estar baseadas na imaginação de uma subjetividade específica
que condensa traços de primitivismo e desempoderamento (HALL, 2015). Tal
constatação está em linha com a extensa literatura de estudos culturais que
demonstra que a pauta e o conteúdo na imprensa de referência são construídos
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O contexto santista
Fonte: Souza et al. (2019, p. 103), traduzido e editado pelo autor para incluir a Zona de Morros.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 77
Metodologia
Unidades de Análise
Total de Textos 92
Paisagem Porto
Residentes Cubatão
Fauna Outros
Outros
Cien�fica Internacional
11,9%
18,9%
Paisagem
25,4%
Autoridades
Cubatão
9,3%
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização
8%
2,7%
Guarujá
8%
Oceano
5,3%
Porto 9,3%
57,3%
Zona Sudeste
Zona
Zona
Noroeste Porto Oceano Guarujá Cubatão Outro
Sudeste
e Morros
Efeitos da Mudança 60,47% 14,29% 66,67%
100% 0% 83,33% (5) 0%
Climática (26) (1) (4)
23,26% 14,29%
Paisagem 0% 100% 16,67% (1) 100% 0%
(10) (1)
Adaptação e 71,43% 16,67%
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0% 16,28% (7) 0% 0% 0%
Pesquisa (5) (1)
16,67%
Outro 0% 0% 0% 0% 0% 0%
(1)
Além disso, fotografias são o tipo mais frequente para retratar todas as
áreas, com exceção da Zona Noroeste, onde 71,43% (5 de 7) das imagens
são abstratas, constituídas de desenhos ou mapas. Entre essas últimas, uma
imagem específica (Imagem 2) é predominante na representação da área,
tendo aparecido na Tribuna de Santos pela primeira vez em 30/09/2015, com
o objetivo de funcionar como visualização dos cenários climáticos divulgados
pelos cientistas do METROPOLE na mesma data, destacando abstratamente
as Zonas Noroeste e Sudeste.
restrita a textos com fontes científicas, algo não constatado para qualquer
outra área.
Essas representações diferem da abordagem para a Ponta da Praia, que,
apesar de também ser retratada abstratamente em mapas e diagramas, se
sobrepõe na cobertura a partir de fotografias que contemplam tanto paisagens,
ações de adaptação e danos de décadas de intensificação de ressacas e erosão
costeira. O uso de imagens aéreas expressa o extenso dano das inundações e
a transformação da paisagem (Imagens 3 e 4).
Conclusão
REFERÊNCIAS
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Editio ed. Thousand Oaks: SAGE Publications, 2015. p. 104-108.
Jaqueline Nichi
Introdução
(ANTP, 2020).
O setor de transporte tem apresentado a maior taxa de crescimento médio
de demanda por energia, sendo que somente os automóveis consomem 60% do
total do consumo energético, embora representem somente 25% das viagens
(SEEG, 2018; EPE, 2020, ANTP, 2020). Para minimizar esse efeito poluidor
do uso intensivo de veículos motorizados, estratégias de controle de emissões
devem abranger políticas que promovam modais de baixo carbono, o uso de
combustíveis mais limpos e tecnologias mais eficientes de mobilidade.
A mobilidade urbana sustentável é fundamental para a adaptação e miti-
gação dos riscos climáticos. Como um fenômeno subpolítico que descentraliza
as estruturas do modus operandi da política na modernidade Beck (2011),
compreender a constituição institucional e a necessidade de arranjos de gover-
nança multinível é fundamental. Esta é a proposta da presente análise teóri-
co-crítica, que busca identificar os mecanismos que influenciam a inovação
do sistema sociotécnico de transporte urbano de passageiros na megacidade
de São Paulo a partir de suas dinâmicas institucionais e políticas que afetam
a descarbonização do setor.
orientado para o trânsito são algumas das soluções apontadas que podem
viabilizar a mobilidade sustentável.
Em relação ao setor de transporte no Brasil, a Constituição Federal de
1988 estabeleceu que o sistema de transporte público é serviço essencial e
transferiu sua gestão aos municípios sem mencionar a fonte de recursos para
qualquer ente federado (Vasconcellos; Carvalho; Pereira, 2011). A legislação
esclarece as competências dos três níveis de governo: à União compete esta-
belecer leis e normas de trânsito; aos Estados, licenciar veículos e motoristas
e; aos municípios, ser responsável pela construção e manutenção das vias
públicas, regulamentar o uso, gerir o sistema e fiscalizar o cumprimento da
legislação e normas de trânsito (OCDE, 2014).
Na gestão de arranjos de governança multinível de sistemas sociotéc-
nicos, como é o caso do transporte, é premente harmonizar os interesses de
gestores públicos e de empresas privadas responsáveis por sua operação (Gar-
rison e Levinson, 2014). O entendimento de padrões históricos que desaguam
na constituição desses sistemas é essencial para o planejamento na gestão
pública, enquanto na iniciativa privada, captar a lógica político-administrativa
faz com que as empresas possam entender as estratégias públicas considera-
das, por vezes, contraditórias (Koppenjan, 2005). As relações de poder entre
Estado, empresas e sociedade civil requerem arquitetar alianças transpostas
por conflitos resultantes de assimetrias entre as organizações e atores que as
compõem (Jacobi, 2004).
Logo, compreender lógicas causais das influências dos modelos de gover-
nança adotados pode apoiar inovações de gestão nos sistemas sociotécnicos
constituídos, além de permitir interpretações de padrões políticos, a rede de
atores e instituições e outros aspectos sociais relevantes para definir iniciativas
em mobilidade que impactam diretamente a vida dos cidadãos.
de ônibus.
O modelo de urbanização da cidade de São Paulo foi marcado pela
especulação imobiliária, no qual lotes centrais eram deixados vazios como
investimentos, e os localizados em regiões periféricas eram vendidos para
a população mais pobre. Esse processo levou a um crescimento fragmen-
tado espalhado da cidade (Bacelli apud Barbosa, 2001). Como consequên-
cia, a acessibilidade espacial ainda gera congestionamentos, superlotação do
transporte coletivo e falta de acesso a equipamentos públicos nas periferias,
impulsionando a “exclusão territorial” (Rolnik, 1999), já que a população
mais vulnerável enfrenta viagens longas e desconfortáveis para trabalhar e
acessar os serviços urbanos.
A partir de 1920, o modelo rodoviarista tornou-se o foco das políticas de
desenvolvimento na cidade, privilegiando o transporte individual motorizado.
No início do século 21, o transporte coletivo recebeu grande quantidade de
investimentos públicos, mas grande parte foi gasta em subsídios em vez de
aumentar a capacidade de transporte (Rolnik e Klintonwitz, 2011). Em 2014,
São Paulo teve início a um amplo processo de instalação de ciclovias, mas
não foi uma política pública consistente em toda a cidade.
Desde o início na década de 1950, a indústria automotiva no Brasil
adotou a política de “substituição de importações”, que trouxe fábricas de
multinacionais, em vez de desenvolver tecnologias nacionais. Atualmente, o
setor passa por um momento de crise, simbolizado pela saída da montadora
norte-americana Ford, que estava no país desde 1919. Mas a aposta no setor
continua a guiar ambições políticas, como o pacote bilionário de incentivos
para a indústria automobilística em São Paulo, o IncentivAuto, que prevê
descontos de até 25% no ICMS para empresas que investirem ao menos
R$ 1 bilhão em fábricas e no desenvolvimento de produtos. Outro exemplo
recente é a aprovação, em nível federal, do projeto Rota 2030, que concede
desoneração fiscal à indústria automobilística, com a contrapartida de inves-
timentos em veículos elétricos e autônomos. Mas esse tipo de solução atende
a apenas um problema ambiental, que é a queima de combustíveis fósseis.
Independente da tecnologia, automóveis ocupam espaço, atendem a poucos
e reforça o deslocamento em longas distâncias.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 101
Conclusão
REFERÊNCIAS
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446). Springer, Berlin, Heidelberg.
Introdução
para o contexto do século XXI. Entre os fatores que justificam tal posiciona-
mento, encontram-se: a enorme diversidade biológica, cultural, geográfica e
social que definem a própria constituição e identidade do país (ABRAMOVAY,
2012; GRAMKOW, 2019; VEIGA, 2008); sua grande extensão territorial e
multiplicidade de biomas, ecossistemas e arranjos socioeconômicos regionais
(FERREIRA, 2020; NOBRE et al., 2016; NOBRE; NOBRE, 2019); o papel
histórico de liderança que o país desempenhou na constituição de mecanismos
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tais desafios. É digno de destaque o fato de que todas estas iniciativas prece-
dem o surgimento da pandemia de Covid-19, outra crise global de amplas e
profundas consequências.
No contexto dos esforços de recuperação econômica com relação a esta
última crise socioambiental (Covid-19), destacamos finalmente os principais
resultados recentemente divulgados pelo World Economic Forum acerca de
suas prospecções dos riscos e desafios para a economia global nos próximos
anos e décadas (WORLD ECONOMIC FORUM, 2022). Para a discussão
empreendida no presente capítulo, chamamos a atenção para o dado de que
“eventos climáticos extremos” e “falha nas ações para o clima” figuram entre
os cinco maiores riscos de curto prazo enumerados pelos respondentes do
estudo. Além disso, ao consideramos perspectivas de longo prazo, as cinco
maiores ameaças reconhecidas às sociedades e economias globais são todas
de âmbito ambiental, com severos riscos potenciais associados para o hori-
zonte da próxima década, em temas como eventos extremos, mudanças cli-
máticas e perda de biodiversidade. O relatório destaca ainda que, embora as
preocupações com os processos de degradação ambiental sejam anteriores
ao surgimento da pandemia, a preocupação crescente com falhas no enfren-
tamento às mudanças climáticas (climate action failure) revela falta de fé e
pessimismo na capacidade dos presentes esforços internacionais em lidar com
a emergência e gravidade da questão.
8 Conferir encontro realizado pela Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA – São
Paulo) e a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em 20 de agosto de 2021.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4wqD2eNZdwk. Acesso em: 2 jun. 2022.
122
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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Technology to Unveil the Potential of a Novel Tropical Biodiversity-Based
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Introdução
O que a mudança climática faz para nós, e como ela altera a ordem da
sociedade e a política?’ Propor essa questão nos permite pensar para além
do apocalipse ou da salvação do mundo e focalizar em sua metamorfose
(BECK, 2018, p. 54-55).
10 É importante salientar que nem sempre esse monitoramento será eficiente e, dependendo do grau de
dissuasão dentro da instituição, ela pode vir a falhar e até mesmo se desfazer. Instituições de sucesso são
aquelas que conseguem manter a ação coletiva ao longo do tempo, mantém um bom monitoramento e um
bom nível de enforcement, conforme a definição dada no texto, e são capazes de se adaptar às eventuali-
dades e transformações na realidade onde elas se inserem..
134
Com organizações sociais ele ocorre. Elas devem possuir não apenas
regras de funcionamento mas também mecanismos de modificação dessas
regras e avaliação de resultados e contexto, num sistema de freios e contra-
pesos que pode ou não ser formalizado. Esse processo dialético entre a psique
individual e a configuração das organizações sociais é chamado de “reflexi-
vidade” e se manifesta de diferentes maneiras em diferentes contextos. Ele
é um mecanismo fundamental quando falamos em entender transformações
sociais. O próprio catastrofismo emancipatório, conforme citado anterior-
mente, pode ser um importante fator que, através de um processo reflexivo,
gera transformações na sociedade.
11 Regimes de ação são como gramáticas do mundo social, situações e contextos que compreendem e deman-
dam determinada ordem de ação comum. Boltanski (2012) identificou quatro regimes de ação principais
que operam nas sociedades em situação de modernidade: a) regime de justificação; b) regime de violência,
c) regime cotidiano; e por fim, d) regime de ágape ou amor. É justamente na observação dos regimes de
conflito (justificação e violência) que é possível analisar os processos de transformação do mundo social,
assim como as estratégias utilizadas pelos atores sociais para tal.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 137
12 Cabe ressaltar que no caso dos conflitos em torno das questões agroalimentares, além dos argumentos
ecológicos, as cités cívica e doméstica, assim como a industrial e mercantil são frequentemente mobiliza-
das. O agronegócio promove sua autoridade sobre justificativas de ordem mercantil e industrial, buscando
exaltar sua capacidade produtiva e seus ganhos financeiros. Em contrapartida, os movimentos sociais do
campo mobilizam justificativas de ordem cívica e doméstica, construindo em grande medida sua legitimidade
enquanto luta pelo bem-comum (MORUZZI MARQUES, 2014).
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 139
a formação das nações, em geral, está ligada ao controle político por uma
classe latifundiária, numa economia agroexportadora. A degradação ambiental
do lado sul do continente segue um padrão de desflorestamento e uso intensivo
do solo, devido a grande disponibilidade de terras para as oligarquias regionais
(PAINTER, 1995). Assim, o uso do solo é acompanhado do fenômeno das
fronteiras agrícolas, que deixam em seu rastro terras degradadas e população
sem acesso à terra e à mercê de uma série de problemas sociais. No Brasil
isso é muito claro quando analisamos o controle que os donos de terras (terra
tenentes, senhores de engenho, barões do café e da cana etc.) tinham sobre a
vida social da população camponesa (RIBEIRO, 2015).
Nos anos 1970, com o advento da Revolução Verde, o agronegócio (nome
moderno para a atividade econômica dos latifundiários) consolidou um modo
de produzir que envolve muita tecnologia, pouca mão-de-obra e intenso uso
de defensivos agrícolas, insumos e espécies transgênicas. Longe de mudar os
rumos do antigo modo de desenvolvimento, o agronegócio perpetua e inten-
sifica um padrão de degradação ambiental que é histórico (VEZZALI, 2006).
A demanda por reforma agrária vai na contramão desse processo, como
força política contrária à concentração de terras e poder nas mãos de uma oli-
garquia de herança colonial. No caso do Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra em particular, surgiu como forma de contestação dessa dominação da
política agrária e territorial através dos meios institucionais. Isso pois a forma
de demanda e ocupação da terra segue os critérios que determinam, em lei,
quais terras são passíveis de desapropriação pelo poder público.
Atualmente o agronegócio conta com investimentos estatais, capital
acumulado, alta tecnologia, propaganda na mídia, grande peso na balança
comercial nacional e até mesmo uma bancada própria no congresso nacio-
nal, a Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA). Seria muito difícil para o
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e mesmo outros fazerem frente
a eles utilizando-se do mesmo modo de produção monocultor. Tendo em
vista a gigantesca dependência de insumos químicos externos na agricultura
convencional e a falta de investimento do poder público, cujos recursos são
majoritariamente destinados ao agronegócio (CUBAS, 2017), não é possível
para o pequeno produtor oriundo da reforma agrária competir, em termos
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 141
13 De acordo com o Art. 2 §1º a propriedade que “a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores
que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura
a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de
trabalho entre os que a possuem e a cultivem..”
142
14 Segundo a abordagem cognitiva das políticas públicas (MULLER, 2018), as políticas públicas são constru-
ções sociais para a gestão das sociedades autocentradas. Dessa forma, o referencial informa o papel de
determinado setor na sociedade e que, por sua vez, atribui os cursos de políticas públicas. Por exemplo,
existe uma gigantesca diferença na construção de uma política numa sociedade que compreende o setor
da agricultura como um instrumento de luta contra a fome e insegurança nutricional ou como instrumento
de competitividade de mercado. No primeiro caso pretende-se garantir ao máximo o acesso da população
à alimentação saudável e em boa quantidade; no segundo, busca-se o sucesso de objetivos monetários e
reestruturações, mesmo que isso implique no aprofundamento de problemas ambientais e sociais.
15 Os nomes que constam neste texto são todos pseudônimos, para resguardar a identidade das pes-
soas entrevistadas.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 143
4ª fase
3ª fase (2013-2018)
Implementação
(2009-2012) da Política
2ª fase
Política
(2003-2008) Climática
1ª fase
Agenda
(1992-2002) Político-
Início das Institucional
discussões
Sabe uma coisa que eu tenho medo, cara? Eu tenho medo de uma volta
do PT [no poder] fazer a gente voltar àquele ciclo anterior: Deus é bom e
o diabo não é ruim. Cooptação [do movimento], investimento no agrone-
gócio, investimento no ‘agronegócinho’ para nós. Não que eu queira dizer
que tem que continuar essa ***** que está aí. Mas que tem uma série de
problemas lá tem (Entrevista de João Silva, 26 maio 2022).
17 Os assentados-beneficiários não poderão emprestar, ceder ou transferir o uso do imóvel, mas é permitido o
trabalho cooperado entre assentados nos lotes individuais. Além disso, é vedado aos assentados-beneficiários
arrendar o imóvel ou dar-lhe destinação diversa daquela estipulada. Nos casos de desistência da condição
de assentado, este será indenizado pelas benfeitorias úteis e necessárias por ele implantadas no respectivo
lote, abatendo-se do valor da indenização os créditos por ele obtidos.
146
Por outro lado, existem diversos esforços por parte de uma minoria dos
assentados, organizados em cooperativas ou informalmente, que visam sanar
esses problemas. Produzindo assim, mesmo em condições precárias frente ao
abandono do poder público, provas de autenticidade das justificações ecoló-
gicas que fundamentam os assentamentos em questão. É importante ressaltar
que essas famílias contam também com a intensa colaboração de voluntários,
ONGs, sindicatos, universidades e outras organizações da sociedade civil para
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Fontes: Iha, (2017); Freitas, (2018); Zonetti, (2019); Quadrado Alves. Organização dos autores.
Considerações finais
pela motivação dos próprios atores que atribuem sentido moral às práti-
cas agroflorestais. Não é apenas agricultura, mas o modo justo e correto de
fazer agricultura.
Por fim, ficam algumas questões em aberto: até que ponto as argumen-
tações de ordem ecológica podem influenciar de forma geral no avanço da
política de reforma agrária? Ainda, a produção de provas de veracidade em
assentamentos de reforma agrária é extremamente dependente da possibilidade
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REFERÊNCIAS
AGUIAR, V. J. Proposta do Comuna da Terra no Assentamento Mário
Lago (PDS Fazenda da Barra) em Ribeirão preto/SP. Trabalho de mono-
grafia em geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Unesp, 2011.
Neto Leão
Introdução
Formas-de-viver vernaculares
Ivan Illich dá nova vida à palavra vernáculo, sabendo que seu antigo sig-
nificado traz a semente para o que ele pretende definir. O vernáculo designava
tudo o que era tecido, cultivado, feito em casa, em oposição ao que se buscava
por meio da troca monetária (ILLICH, 1981). Assim, o vernáculo, a partir de
Illich, nomeia uma gama de atividades nascidas de estruturas de reciproci-
dade mútua, inscritas em cada aspecto da existência, que não são orientadas
para o mercado. As atividades vernaculares podem abranger a definição de
atividades de valor de uso, como a confecção de redes de pesca de algodão
ou o cultivo da própria comida, mas também atividades de reprodução, como
namoro, exercícios ou leitura. A abrangência do vernáculo abrange estilos de
pensamento em que a ciência não é definida para as pessoas, mas sim pelas
pessoas, quando o conhecimento não é um recurso escasso, mas um compro-
misso compartilhado de apoiar uns aos outros no embelezamento do entorno
de uma vida comunitária (SAMUEL, 2016).
Giorgio Agamben analisou minuciosamente as regras monásticas dentro
da tradição cristã para dar corpo a uma vida que não está separada de sua
forma. Ao comprometer-se livre e voluntariamente com o cenóbio (lugar
onde se vive em comum), o monge cristão adere a uma regula vitae (regra
de vida) que não se aplica à sua vida, mas produz a sua maneira de viver na
medida em que se produz nele. Foi a fé em Cristo, a pessoa, a palavra feita
carne, que gerou uma regra que se conforma ao Seu modo de viver. Ainda
que a regula fidei (regra de fé) de Tertuliano tenha posteriormente alimentado
as linhas escritas no Credo de Nicéia, a regra não pretendia ser um dogma,
mas expressa o esforço de seguir o Cristo nu (AGAMBEN, 2014, p. 75). São
Francisco de Assis insistia que uma regra de vida é menos a prescrição de algo
e mais o ato de seguir alguém. Assim, uma forma-de-vida não é a imposição
de uma norma ou forma prescrita na vida, mas viver de acordo com essa forma
particular, ou seja, uma vida que, ao ser vivida, toma a forma que busca em
última análise – o que Agamben nomeia a coincidência de vida e forma. O
“última desejo” de Santa Clara encarna a definição de uma forma de vida:
158
como luxo é uma tarefa política para aqueles comprometidos com o equilíbrio
entre ambiente e sociedade. É urgente mudar, por exemplo, o foco político
de reduzir o metano ao nível que o Planeta suporta (a mais nova conquista
da COP26 em Glasgow, 2021) para o esforço em estabelecer limites à pro-
priedade, privado e público, e ao poder das ferramentas, renováveis ou não.
Esta não é uma tarefa fácil e requer uma mudança de paradigma longe
da ingenuidade. Superar o capitalismo é uma luta social desde a Comuna de
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utopia nem uma receita prescrita. São modos de viver que resistiram ao colo-
nialismo e ao capitalismo e ainda podem ser apreciados não apenas em torno
dos inúmeros grupos de povos originários, mas também entre diversos arranjos
sociopolíticos modernos nos cinco continentes. Os lugares e comunidades
onde o desenvolvimento ainda não deteriorou suas formas de convivência e
seu território estão repletos de atividades vernaculares.
Mas e as pessoas que vivem em grandes cidades, vilarejos ou aldeias
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Abordar a noção de limites para ferramentas pode causar uma reação ime-
diata de carranca. As pessoas tendem a confundir tal limitação com uma nova
era de paus e pedras, sobretudo aqueles que viveram apenas sob uma casca
tecnológica. No entanto, o significado de convivialidade tal como cunhado por
Ivan Illich está longe de ser uma proposta ludita e não traz nenhum vestígio
de uma visão idílica do passado. Seguindo os passos de Hugo de São Vítor,
Illich formulou uma análise múltipla em direção à tecnologia crítica, e des-
vendou os divisores de águas sociais que, uma vez atravessados, impactam
tanto a sociedade quanto o meio ambiente.
Há uma relação inseparável e entrelaçada entre sociedade e ambiente. As
ferramentas são constitutivas da sociabilidade e podem extrapolar as fronteiras
ecológicas ou equilibrar a trama dessa tapeçaria. Tomo ferramentas pelo sen-
tido amplo dado por Illich, como utensílios, pás ou peneiras, como máquinas,
tornos ou carros, como fábricas que produzem bens tangíveis, montadoras
ou corrente elétrica, como sistemas produtivos e de serviços que produzem
bens intangíveis ou serviços, conhecimento e escolas ou cuidados de saúde e
hospitais. Em suma, uma ferramenta é todo meio pelo qual as pessoas podem
expressar seus fins (ILLICH, 1973).
A convivialidade é como Illich imaginou sociedades modernas, porém
proporcionais, uma infinidade de arranjos sociais onde as pessoas estão com-
prometidas com a tarefa política de estabelecer limites ao poder das ferra-
mentas e à dependência de alta quantidade de energia. Para Illich, o senso de
proporção reflete fronteiras naturais que separam uma esfera da outra, como
as veias que limitam a circulação do sangue. A convivialidade é o caminho
para [re]conquistar a proporcionalidade, o que cabe e o que não é adequado
para equilibrar a relação ambiente e sociedade.
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 163
Nos anos 1970, quando Illich escreveu Tools for Conviviality (A convi-
vencialidade) e Energy and Equity (Energia e Equidade) como peças panfletá-
rias, a chamada crise energética – que atingiu vários países do mundo – abriu
uma janela para um debate público sobre a dependência de combustíveis
fósseis. Muitos países da Europa Ocidental, ao lado do Japão e dos Estados
Unidos, sofreram racionamento de eletricidade, proibição de voar, dirigir ou
passear de barco nos fins de semana, o cancelamento do Natal e da ilumina-
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ou, como disse Jean Robert, como geradores de sinergia positiva ou negativa
entre autonomia e heteronomia (ROBERT, 2019).
Todo modo de produção industrial, seja ele capitalista, socialista ou
coletivista, sob o pressuposto do homem proprietário e consumidor de escra-
vos, acabou atravessando o segundo divisor de águas e tornou as ferramentas
contraproducentes. Para Illich, as ferramentas industriais não podem deixar de
reverter a relação homem-ferramenta. Desde o sonho de Marx de que todos
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possa ser recuperado. Ambos estão cegos para a degradação social do mono-
pólio radical de ferramentas de alta quantidade de energia, uma vez que estão
presos pela camisa de força das ilusões verdes.
O que aconteceu em Oslo, na Noruega, é paradigmático. As faixas exclu-
sivas de ônibus estão sendo ocupadas por carros elétricos. Se você tem um
carro elétrico em Oslo, pode acessar o privilégio legal de dirigir em uma
faixa de ônibus e acelerar sua viagem (desnecessário dizer que isso ocorre às
custas de diminuir a velocidade de centenas de outras pessoas). Outro grande
benefício de ter um carro elétrico é o desconto nos pedágios, do qual você
está amplamente isento se possuir um. Esta nova regra de transporte é um dos
vários incentivos para as pessoas abandonarem seus carros movidos a com-
bustível fóssil e aderirem ao que o Parlamento norueguês decidiu, como meta
nacional, que todos os carros novos vendidos até 2025 devem ser de emissão
zero (elétrico ou hidrogênio – vamos todos ignoram, por um momento, a
cadeia de produção desses carros e suas enormes emissões de GEE). Em 2019,
em um artigo de Simon Browning, da BBC News, um cidadão norueguês lhe
disse sua razão favorita sobre ter um carro elétrico: “você não precisa fazer
fila, você pode simplesmente contornar a fila. É uma sensação ótima!”.
Devo repetir, para ser enfático, que a sustentabilidade é a nova escassez.
Não só isso, mas é também a nova prestigiosa certificação que abre os cami-
nhos do futuro para os privilegiados por ela. Provavelmente está se tornando
embaraçoso dirigir um carro a diesel em Oslo, deve-se sentir culpado por tal
desumanidade. Em vez de abordar as mudanças climáticas e a deficiência
pessoal devido ao monopólio radical de ferramentas de manipulação – todos
os tipos de carros – o Parlamento norueguês está restringindo uma ferramenta
‘ruim’ dependente de alta quantidade de energia para substituí-la por uma
ferramenta ‘boa’ dependente de alta quantidade de energia ilimitada. Não
estou nem considerando as altas emissões de GEE para a produção de carros
elétricos e toda a questão da dependência de alta quantidade energética, o que
tornaria ridículo o argumento do carro “bom verde”.
Chamo esse fenômeno de travessia de um terceiro limiar socioecológico,
que abordo mais adiante, quando as pessoas não conseguem imaginar uma
solução fora da dependência de ferramentas manipuláveis. O problema central
166
21 A famosa frase foi dita por José Antonio Viera-Gallo, secretário adjunto de Justiça no governo de Salvador
Allende, Chile (1973).
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 167
expor que “a produção pecuária gera mais GEE, medido em CO2e, do que o
setor de transportes” (MARQUES, 2020).
Em segundo lugar, o mesmo relatório da FAO, de 2006, mostrava que
“as pastagens ocupavam 34 milhões de km2, ou 26% de terra seca. Isso é
mais do que a área total da África, 30,2 milhões de km2”. O que é ainda mais
alarmante é que “uma média de 27.600 km2 de florestas são substituídas por
pastagens a cada ano” (MARQUES, 2020). As grandes plantações de soja
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também são responsáveis pelo desmatamento de 6.000 km2 por ano, sendo
que o principal destino de seu cultivo é a alimentação do gado. Assim, a
destruição da floresta amazônica está estritamente relacionada ao consumo
de carne, uma vez que o desmatamento é primeiramente para pastagens e em
segundo lugar para agricultura extensiva de culturas (MEIRELLES, 2005;
2014). De acordo com Jonathan Foley, cerca de 36% das calorias das colheitas
do mundo são fornecidas ao gado (FOLEY, 2014).
Em terceiro lugar, Luiz Marques calculou, com base no conceito de
‘pegada hídrica’ e com base nos dados fornecidos pela Agência Nacional
de Águas (ANA), que “a produção de 1 kg de carne requer o uso de 20.000
litros de água” (MARQUES, 2020). Esse número é bem maior no cálculo
de David Pimentel, no qual ele considera que a agricultura nos Estados Uni-
dos responde por 87% de toda água doce consumida por ano (PIMENTEL,
1997). Se incluirmos a “água usada para forragem e grãos, a quantidade de
água usada aumenta drasticamente, [...] cada quilo de carne bovina consome
100.000 litros de água” (MARQUES, 2020).
A análise minuciosa de Luiz Marques desdobra o que ele chama de
“carnívoro extremo”, a relação indissociável entre mudanças climáticas e uso
da terra (estritamente ligadas ao esgotamento da água). Extensas pastagens
tipificam a travessia do segundo limiar sociaecológico de Illich, que não pode
deixar de levar à degradação ambiental, ou seja, resultado de uma degradação
social de ferramentas e propriedades ilimitadas. É sabido que o agronegócio
é certamente a principal causa do colapso da biodiversidade (GIBBONS;
MORRISSEY; MINEAU, 2014; HALLMANN et al., 2014, 2017). O que
todos não devemos esquecer é que a produção de carne também é inseparável
do regime de propriedade, sobretudo em países devastados pelo colonialismo.
No Brasil, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), 95% da carne bovina vem de pastagens, o que equivale a 1.670.000
km2 de solo concentrado nas mãos de menos de 1% da população brasileira –
cerca de 210 milhões de habitantes. Para nos dar uma perspectiva, 1.670.000
km2 de propriedade privada usada exclusivamente para pecuária (que todos
concordamos ser uma das principais causas das mudanças climáticas), equivale
a 32 Costa Ricas, ou 18 Portugais, ou 10 Uruguais, ou 6 Novas Zelândias, ou
4 Alemanhas e meia, ou aproximadamente 3 Estados do Texas. De acordo
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 169
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Altíssima Pobreza: Regras Monásticas e Forma de
Vida. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014.
HARAWAY, Donna Jeanne. Staying with the Trouble: Making Kin in the
Chthulucene. Durham: Duke University Press Books, 2016.
LEÃO NETO, Edson Pereira de Souza. Ivan Illich: uma aproximação com
sua trajetória-obra (1926-1967). 2017. Dissertação (Mestrado em Ecologia
Aplicada) – Ecologia de Agroecossistemas, Universidade de São Paulo,
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 177
PIMENTEL, David, “Eight Meaty Facts about Animal Food”. Cornell Chro-
nicle, 7/VIII/1997.
ROBERT, Jean. L’età dei Sistemi: Nel pensiero dell’ultimo Illich. Bologna:
Museodei By Hermatena, 2019.
ZEHNER, Ozzie. Green Illusions: The Dirty Secrets of Clean Energy and the
Future of Environmentalism. Lincoln and London: University of Nebraska
Press, 2012.
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CAPÍTULO 9
A METAMORFOSE DOS RISCOS
CLIMÁTICOS GLOBAIS NO
CONTEXTO BRASILEIRO: entre uma
agenda de “Cidades Unidas” Cosmopolitas
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e um Estado-Nação Negacionista
Niklas Werner Weins
Han (2016), este se tornaria uma chave para melhor explicar seu conceito de
catastrofismo emancipatório (BECK, 2015) e a resposta pública e acadêmica
foi considerável, no entanto (ainda) não teve tanto destaque quanto sua teoria
base da sociedade do risco. Com base nesta experiência, vários artigos de
diálogo foram publicados na revista Current Sociology em 2015 (veja por
exemplo VARA, 2015; HAN, 2015). Na sua palestra pública na prefeitura
de Seoul, Beck mencionou a ideia de “Cidades Unidas da Ásia”, com um
apelo enfático à cidade de Seoul para se tornar pioneira na direção de uma
governança cosmopolita do risco (HAN, 2016).
Além do contexto europeu, Ianni (2012, p. 364) afirma que é a partir da
ideia do choque antropológico que a obra de Beck também “alcança a esfera
política” e se mostra relevante a um público leitor além da academia. Com a
descrição do risco generalizado, juntamente com a ausência de garantias de
proteção contra eles, Beck descreve como essas sensações gerais resultam em
uma “perda de fé em especialistas e na ciência” (BAXTER, 2020, p. 305).
Suas contextualizações em volta do elemento estruturante do risco, sobre a
erosão da confiança em instituições e sistemas de experts também nos ajudam
a entender a busca de uma segurança perdida dos tempos de antes e a (impos-
sível) proteção contra os riscos da globalização. Políticos conservadores e da
extrema direita no mundo todo – como Trump, Orban, Duterte e Bolsonaro –
têm respondido a esse sentimento na população com campanhas que prometem
tal segurança por meio do isolamento – na contramão do cosmopolitismo e
uma visão de mundo completamente globalizada pela qual Beck argumentava.
Beck enquadrou, de forma mais esperançosa como “metamorfose”, ou
seja, uma (possibilidade de) transformação positiva (ou pelo menos não nega-
tiva) da forma como nos organizamos globalmente face à emergência climá-
tica. De acordo com os últimos trabalhos do autor, algo muito menos distópico
poderia estar emergindo sem ação política coordenada pelos estados ou por
poderosos grupos de interesse capitalistas. Na última obra antes da sua morte,
A Metamorfose do Mundo: Como a Mudança Climática Está Transformando
Nosso Conceito de Mundo, Beck (2016) revisita suas concepções anteriores
da sociedade de risco e as redimensiona no conceito de metamorfose como
uma oportunidade para a sociedade global. Mais especificamente, graças ao
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 181
mentação e saúde, têm reconhecido cada vez mais o conceito de ação coo-
perativa e multinível. Depois da Rio+20 em 2012, a Força Tarefa Global de
Governos Locais e Regionais, o ICLEI foi uma das principais lideranças e
tem facilitado esforços em reunir redes internacionais de governos locais para
cooperar nos processos políticos globais a partir das cidades (ARIKAN, 2022).
A integração de assuntos ambientais, mesmo tendo reconhecimento for-
mal pelos estados nação representados na ONU pelo menos desde os anos
1990, fica atrasada. Em termos de políticas climáticas, mais e mais esforços
estão sendo realizados. No entanto, temas em volta da biodiversidade muitas
vezes ficam em segundo plano (PUPPIM DE OLIVEIRA, 2014). Enquanto
o Acordo de Paris tem recebido cada vez mais atenção, as discussões sobre
uma Estrutura Global de Biodiversidade pós-2020 têm sido menos consi-
deradas publicamente. As negociações sobre ela começaram no “super ano
para o ambiente” em 2020 e se estendem até a segunda rodada da COP15
da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) em
Kunming, China em 2022.
No entanto, para que o Acordo de Paris e a CDB possam ser alcançadas,
são necessárias ações conjuntas que considerem ambas as metas. Conforme
o relatório conjunto entre o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Cli-
máticas (IPCC) e a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e
Serviços Ecossistêmicos (IPBES) em 2021 “limitar o aquecimento global
para garantir um clima habitável e proteger a biodiversidade são objetivos
que se apoiam mutuamente, e sua realização é essencial para proporcionar
benefícios às pessoas de forma sustentável e equitativa” (PÖRTNER et al.,
2021, p. 14). Já há exemplos abundantes sobre “a criação de infraestrutura
verde em cidades que é cada vez mais utilizada para a adaptação às mudanças
climáticas e a restauração da biodiversidade com co-benefícios de mitigação
climática” (ibid. p. 17).
Com isso, uma multidão de iniciativas que respondem a interesses e
objetivos locais contribuem para as metas globais – que em torno precisam
ser coordenadas ambos local e globalmente entre as cidades. As evidências
empíricas sobre tais iniciativas globais estão organizadas, por exemplo nas
redes “CitiesWithNature” e INTERACT-Bio do ICLEI que contribuem para a
184
a nível nacional inibindo seu acesso e sua inclusão política, os atores nos
níveis local, subnacional e internacional continuaram com seus trabalhos –
ainda quando muito mais dificultoso – e têm conseguido, a partir de redes
(principalmente as urbanas), se manter. Isto, graças às formas variadas de
organização que existem além do Estado-nação westfaliano que já não é (e
talvez nunca foi) a única forma de ação política (LING; PINHEIRO, 2014).
Dentro das estruturas de Estado-nação os atores subnacionais já têm
conquistado um papel jurídico extraordinário pela constituição democrática de
1988 (VISWANATHAN, 2014; MACEDO, 2019). A autonomia e igualdade
dos municípios no Brasil está fortemente inscrita na constituição, garantindo a
determinação e administração dos seus próprios interesses (PIZELLA, 2015).
Reforçando essa base, o Estatuto da Cidade em 2001 estabeleceu fundamenta-
ções jurídico-legais de garantia ao direito a cidades sustentáveis (Lei 10.257).
Não só as cidades como município sede, mas as regiões metropolitanas têm
começado a jogar um papel cada vez mais relevante nessas discussões e na
implementação conjunta de soluções (CASSILHA et al., 2020).
Além delas, muitas cidades brasileiras também têm participado do cres-
cente movimento internacional de respostas subnacionais às mudanças cli-
máticas (BULKELEY; NEWELL, 2010; BARBI; MACEDO, 2019). Isto
tem levado a um redimensionamento das políticas subnacionais que não se
orienta somente em uma estrutura vertical centrada no governo federal, mas
que também se coordena horizontalmente com outras cidades e a nível inter-
nacional. Setzer (2014) afirma que do Estado de São Paulo, funcionários
estaduais têm participado regularmente da delegação brasileira às COPs de
clima e biodiversidade e da UNFCCC (desde 1997) e da CBD (desde 2006)
(SETZER, 2014). Como membro do ICLEI e da Rede de Governos Regionais
para o Desenvolvimento Sustentável (NRG4SD), o Estado também participa
anualmente do Congresso Mundial do ICLEI e das reuniões dos grupos de
trabalho do NRG4SD. Representantes do Estado de São Paulo participam
dessas reuniões como membros da delegação nacional brasileira. No mesmo
local onde os líderes nacionais estão negociando, elas e eles participam e
apresentam experiências em eventos próprios ou paralelos organizados por
ICLEI e NRG4SD (SETZER, 2014).
A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 187
Ainda, por meio de canais como o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima
e Energia, cidades brasileiras como Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Rio
de Janeiro, Sorocaba, Porto Alegre e Curitiba têm se engajado na paradiplo-
macia urbana, se organizando paralelamente às estruturas do Estado-nação.
Nesse cenário, São Paulo, embora tenha desempenhado um papel de liderança
durante a primeira fase de concepção e adoção de respostas climáticas nos
anos 2000 e 2010, de acordo com Mauad e Betsill (2019), não conseguiu
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de andar está mudando sem que consigamos enxergá-lo por causa do nosso
horizonte de referência. Não negando a multidão de efeitos negativos produ-
zidos pelo neoliberalismo e por governos negligentes, a forma emergente de
interações globais em volta da solução de problemas globais traz uma espe-
rança – mesmo que preliminar – que pode ser o começo de uma nova forma
de interação entre humanos e natureza porque a emergência climática desperta
uma consciência mais ampla e global sobre a necessidade de mudança.
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A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA: governança multinível e multiatores no contexto brasileiro 189
REFERÊNCIAS
ARIKAN, Y. Bringing the Urban World to the peace and sustainability track:
The power of G100,000+. City Talk, a blog by ICLEI. Disponível em: https://
talkofthecities.iclei.org/bringing-the-urban-world-to-the-peace-and-sustain-
ability-track-how-to-harness-the-power-of-g100000/.
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LATOUR, B. Down to earth: Politics in the new climatic regime. John Wiley
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SCHMIDT, A. F. J.; TJONG, E.; HASE UETA, M.; WEINS, N. W.; CARMO,
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China and Brazil: COVID-19, Access to Water, and Inequality. In: MON-
TOYA, M.A., KRSTIKJ, A., REHNER, J., LEMUS-DELGADO, D. (ed.).
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249-265. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-030-84134-8_15.
A
Alta quantidade de energia 161, 162, 163, 164, 165, 172
Áreas de reserva 145, 147, 148, 149
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C
Climate change 23, 24, 37, 38, 39, 40, 42, 64, 65, 67, 90, 91, 92, 93, 94, 105,
114, 126, 127, 128, 151, 152, 175, 176, 189, 190, 191
D
Desenvolvimento sustentável 16, 18, 20, 32, 44, 47, 54, 95, 97, 101, 115,
116, 117, 118, 121, 122, 124, 126, 129, 146, 156, 158, 159, 160, 161, 165,
166, 170, 173, 183, 186
E
Elevação do nível do mar 71, 72, 77, 86, 88
Emergência climática 3, 9, 10, 11, 18, 20, 21, 22, 43, 45, 109, 111, 115, 118,
124, 140, 179, 180, 181, 187, 188
G
Gases de efeito estufa 12, 18, 28, 45, 58, 95, 120, 155
Grupos de trabalho 46, 56, 57, 58, 186
I
Implementação de políticas 15, 20, 48, 50, 54, 97, 182
M
Metamorphosis of the world 112, 126, 189, 190
Metas de redução de emissões 15, 16, 17
Modelos de negócios 10, 21, 103, 109, 110, 111, 115, 121, 124
Movimento dos trabalhadores sem terra 10, 131, 140, 142
Mudanças ambientais globais 12, 21, 22, 109, 111, 112, 113, 114, 116, 118,
123, 124
194
Mudanças climáticas 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 23, 25, 26, 27,
28, 29, 30, 31, 32, 36, 37, 38, 41, 43, 44, 46, 52, 55, 58, 60, 61, 64, 65, 66,
67, 69, 71, 72, 73, 74, 78, 87, 88, 90, 91, 93, 94, 95, 97, 99, 103, 105, 107,
111, 112, 113, 114, 115, 116, 119, 120, 121, 127, 138, 155, 164, 165, 166,
167, 168, 169, 173, 179, 181, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 190
N
Editora CRV – Proibida a impressão e/ou comercialização
Novos modelos de negócios 10, 21, 103, 109, 110, 111, 115, 121, 124
O
Organizações da sociedade 10, 12, 15, 28, 44, 113, 148
P
Padrões de produção 22, 110, 111, 113, 116, 124
Participação política 60, 61
Plano de ação climática 16, 31, 41, 93, 100, 119, 127
Plano municipal de mudanças climáticas 52, 58, 60, 66
Poder das ferramentas 158, 160, 162, 163
Poder público 46, 53, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 114, 120, 140, 141, 148
Política de reforma agrária 141, 145, 149, 150
R
Redes internacionalizadas de especialistas 71, 72, 77, 80, 89
Regime de propriedade 147, 156, 158, 160, 161, 167, 168, 169, 170, 171
Riscos das mudanças climáticas 25, 27, 32, 179, 184
S
Soluções baseadas na natureza 10, 26, 27, 28, 34, 41, 42, 120, 192
U
Uso da terra 14, 51, 56, 60, 93, 99, 145, 167, 168, 169, 171
SOBRE OS AUTORES
nas/ UNICAMP.
Contato: leilacf@unicamp.br
Jaqueline Nichi
Bacharel/Licenciada em Sociologia Política (FESP São Paulo). Mestre em Sus-
tentabilidade (EACH-USP). Doutoranda em Ambiente e Sociedade (NEPAM/
IFCH – Unicamp – Campinas).
Contato: jaque.nichi@gmail.com
196
Neto Leão
Pesquisador da UniTierra (Universidad de la Tierra), Oaxaca e membro do
painel Otros Horizontes Políticos, Oaxaca – México. Bacharel em Relações
Internacionais (FACAMP – Campinas). Bacharel em Ciências Econômicas
(FACAMP – Campinas). Mestre em Ciência (Ecologia Aplicada, Esalq –
USP). Doutor em Ambiente e Sociedade (Nepam/UNICAMP).
Contato: netoleao@tutanota.com
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)