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4. Poder-se-ia perguntar se nas ciências humanas existem paradigmas como nas ciências
naturais. Prima facie não parecem existir, visto que nas ciências humanas não há
consensos teórico-metodológicos que se estendam a todos os pesquisadores. No entanto,
num certo sentido (amplo) dá-se algo parecido a um paradigma, na medida em que existe
em cada uma delas certa maneira comum de pensar e investigar, menos visível entre
disciplinas “próximas”, como a sociologia e a antropologia, porém talvez identificável
quando tomamos extremos de um possível “leque” disciplinar (entre psicologia e
história, v.gr.). Em todo caso, seja que os paradigmas não existam ou que existam em
forma muito difusa nas ciências humanas, isso permite levantar uma questão: a
inexistência (ou quase) de paradigmas, torna mais fácil ou mais difícil a
interdisciplinaridade? Por um lado, poder-se-ia pensar que a facilita (ao não haver
condicionamentos prévios fortes a superar). Por outro, que a dificulta, na medida em
que um trabalho inter-disciplinar suponha o hábito do trabalho disciplinar.
7. Se a interdisciplinaridade parece difícil de definir, creio que ela não é tão difícil de
acontecer quando se trata de um objetivo prático. Projetos de arquitetos, engenheiros
e médicos envolvem amiúde uma combinação de perspectivas profissionais cuja função
e integração vêm sugeridas (se não ditadas) pela meta a alcançar. Contudo, a
interdisciplinaridade no campo teórico não parece impossível de acontecer. Penso em
questões da minha área, a Filosofia da Ciência, que vêm exigindo a colaboração do
filósofo, o historiador, o sociólogo e o psicólogo da ciência (como p. ex., a determinação
da racionalidade da ciência).
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Penso em casos como o da emergência da moderna ciência natural de base matemática. A ciência natural
medieval, aristotélica, era basicamente qualitativa, e não se admitia na época que a matemática (endereçada
a investigar objetos ideais) tivesse na física qualquer papel. Pode entender-se a ciência física moderna como
produto de um trabalho interdisciplinar resultante da insatisfação com a maneira tradicional de pesquisar, e
da percepção da conveniência de combinar certos traços da física tradicional com a matemática.