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ADULTERAÇÃO DE SINAL
IDENTIFICADOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR

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83.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

No art. 311 do Código Penal está o tipo legal de crime: “adulterar ou remarcar
número de chassi ou qualquer identificador de veículo automotor, de seu componente ou
equipamento”. A pena é reclusão, de três a seis anos, e multa.

O bem jurídico protegido é a fé pública, em relação aos elementos identificadores de


veículos automotores.

Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sendo funcionário público no exercício de função


pública ou em razão dela, sofrerá aumento de pena.

Sujeito passivo é o Estado e também o particular que venha ser lesado.

83.2 TIPICIDADE

O caput do artigo descreve o tipo fundamental.

No § 1º há uma causa de aumento de pena e no § 2º é descrita a contribuição de


funcionário público para o licenciamento ou registro de veículo remarcado ou adulterado.

83.2.1 Forma típica do caput

83.2.1.1 Conduta e elementos do tipo

Os verbos representativos das ações contidas no caput são adulterar ou remarcar.


Adulterar é o mesmo que alterar, falsificar, contrafazer, transformar, acrescendo ou
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

suprimindo. Remarcar é marcar outra vez, tornar a marcar alterando.

O objeto material sobre o qual recai a conduta é o veículo automotor. O Código de


Trânsito define, no Anexo I, veículo automotor:

“Todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios e que
serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração
viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre
trilhos (ônibus elétrico).”

No chassi – estrutura que suporta a carroçaria – dos veículos automotores é


obrigatória a existência de um número que contém, necessariamente, o ano de sua
fabricação, nele incorporado de modo perene durante sua fabricação. Esse número pode
constar também de uma placa metálica incorporada ou moldada no material do chassi ou
monobloco do veículo.

Sinal identificador do veículo é o conjunto de placas, dianteira e traseira, lacradas


na estrutura do veículo.

A conduta pode recair também sobre sinais identificadores de componentes ou


equipamentos dos veículos automotores.

Componente do veículo é uma parte essencial do veículo. Os sinais identificadores


serão gravados, de forma indelével, destrutível quando de sua remoção, na coluna da porta
dianteira lateral direita, no compartimento do motor, num dos pára-brisas e em um dos
vidros traseiros e em dois vidros de cada lado do veículo.

Equipamentos do veículo são as coisas acrescidas para permitir seu trânsito


regular em condições de segurança. São, por exemplo, os pára-choques, espelhos,
limpadores de pára-brisa, lanternas, buzinas etc. Contendo um equipamento sinal
identificador, sua adulteração ou remarcação configurará o tipo.

O tipo, como se pode concluir, está em branco, devendo ser complementado pelas
normas legais e regulamentares do trânsito (Lei nº 9.503/97, Decreto nº 2.327/97 e
Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito).

Cuida-se de crime doloso. O agente, consciente da conduta, age com vontade livre
de adulterar ou remarcar o número do chassi ou sinal identificador do veículo, do
equipamento ou do componente, sabendo que altera sua essência. A norma não exige
esteja o agente imbuído de qualquer outro fim especial.
Adulteração de Sinal Identificador de Veículo Automotor - 3

83.2.1.2 Consumação e tentativa

Consuma-se no momento em que o número ou sinal é adulterado ou remarcado. A


tentativa é possível, quando o agente, iniciando o procedimento de alteração ou
remarcação, não consegue concluí-lo por circunstâncias alheias a sua vontade.

83.2.1.3 Aumento de pena

Quando o agente da adulteração ou remarcação é funcionário público que age no


exercício de sua função ou em razão dela, a pena será aumentada de um terço. É necessária
uma das duas condições: estar no exercício de função pública ou realizar a conduta em
razão de sua qualidade de funcionário público.

83.2.2 Contribuição para licenciamento ou registro

Dispõe o § 2º do art. 311: “incorre nas mesmas penas o funcionário público que
contribui para o licenciamento ou registro de veículo remarcado ou adulterado,
fornecendo indevidamente material ou informação oficial”.

83.2.2.1 Conduta e elementos do tipo

Crime próprio, só o funcionário público pode cometê-lo.

A conduta incriminada é fornecer material ou informação oficial acerca de um


veículo cujo chassi tenha sido remarcado ou adulterado ou que teve adulterado ou
remarcado um sinal identificador próprio ou de um seu componente ou equipamento.

Fornecer é entregar, prover, proporcionar, dar. Material é a coisa indispensável


para a obtenção do licenciamento ou do registro, como placas, selos, carimbo etc.
Informação oficial é a certidão, declaração, ou seja, o documento público que
contém informação necessária para o registro ou licenciamento do veículo.

A informação ou o material fornecido deve ser condição para o licenciamento ou o


registro do veículo, consistindo, portanto, a conduta numa efetiva contribuição para a
ocorrência desse fim.
4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

No tipo há o elemento normativo: indevidamente. Em outras palavras, só há conduta


típica quando o funcionário público atua ilicitamente, sem estar autorizado, contrariando,
assim, a norma legal ou regulamentar que o impede de fornecer a informação ou a coisa
indispensável para o licenciamento ou registro do veículo. É possível que veículos que
tiveram número ou sinal identificador adulterados ou modificados possam obter licença ou
registro, o que acontece, também, em virtude de determinação judicial. Assim, só se ajusta
ao típico a conduta feita indevidamente.

É necessário que o funcionário público atue dolosamente, que saiba, portanto, que
o veículo a que se refere o material ou informação que fornece, teve, efetivamente, o
número do chassi ou o sinal identificador adulterado ou remarcado.

O dolo deve abranger também o elemento normativo, a ilicitude da conduta,


contido na fórmula indevidamente.

83.2.2.2 Consumação e tentativa

Consuma-se o crime no momento em que o veículo é licenciado ou registrado, com


a prévia contribuição do agente.

Haverá tentativa quando ele, iniciando os atos executórios, não chega a fornecer
efetivamente a informação ou o material, bem assim quando, apesar de fornecê-lo, não é o
veículo licenciado ou registrado por circunstâncias alheias a sua vontade.

83.2.2.3 Aumento de pena

Quando age no exercício de sua função ou em razão dela, a pena será aumentada de
um terço. É necessária uma das duas condições: estar no exercício de função pública ou
realizar a conduta em razão de sua qualidade de funcionário público. Se o funcionário
fornece o material ou a informação fora do exercício da função pública e não em razão dela
receberá a pena do § 2º.

83.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.

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