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PECULATO
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85.2 TIPICIDADE
85.2.1.1 Conduta
O agente, que não é proprietário do objeto material do crime, com a conduta, passa
a agir como se lhe pertencesse, exercendo em relação a ele direitos que só o proprietário
pode. O agente, estando na posse ou apenas detendo-o, passa, em dado momento, a sentir-
se o dono dele, agindo como tal.
A conduta será comissiva quando o agente doa, vende, empresta, consome, esconde
o objeto material. Será omissiva quando instado a devolvê-lo, recusa-se a fazê-lo, atitude
esta própria de quem é dono.
Dinheiro é a moeda metálica e o papel-moeda com curso legal no país. Pode ser
também a moeda estrangeira.
função que ele exerce. O bem particular pode ter sido apreendido ou depositado,
emprestado, locado, enfim, pode estar sob o poder da administração pública.
A coisa deve encontrar-se na posse do agente em virtude do cargo que ele ocupa na
estrutura administrativa do ente público ao qual está vinculado. O termo cargo, contido na
norma, alcança, por força da norma do art. 327, o emprego e a função pública exercidos em
autarquias e entidades paraestatais e a relação de trabalho entre o agente e a empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada.
Não há peculato se o agente apenas usa a coisa, salvo quando se tratar de dinheiro
público ou outra coisa fungível, porque o uso destes constitui desvio de sua finalidade. A
utilização, em proveito próprio ou alheio, de máquinas, veículos e equipamentos deve, a
meu ver, ser entendida como peculato-desvio, uma vez que seu emprego em atividades
privadas constitui inequívoca destinação diversa da que tem; todavia, não é esse o
entendimento predominante na doutrina.
85.2.2 Peculato-furto
Manda o § 1º do art. 312 que seja aplicada a mesma pena de reclusão de dois a doze
anos e multa,
“se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o
subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio,
valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário”.
85.2.2.1 Conduta
São duas as condutas incriminadas. Subtrair a coisa ou concorrer para que ela seja
subtraída. É o mesmo verbo empregado no tipo de furto, do art. 155. Subtrair significa tirar
a coisa do poder de quem a detém.
O tipo somente se realiza quando a subtração é feita pelo agente, ou com o concurso
deste, que deve ter facilidade para executá-la. Se a subtração é feita sem que o agente se
prevaleça da qualidade de funcionário, valendo-se da facilidade para realizá-la, não haverá
peculato-furto, mas um crime de furto, pois nesse caso a qualidade de funcionário em nada
terá contribuído para a subtração.
do terceiro que a subtrai com seu auxílio. Não é necessário que haja posse tranqüila da
coisa, nem que se realize o proveito decorrente da subtração. Basta que a coisa entre na
posse do agente ou do terceiro.
A tentativa é perfeitamente possível como ocorre no furto, desde que haja início de
execução interrompida por circunstâncias alheias à vontade do agente ou do executor da
subtração. Este responderá, igualmente, por peculato-furto, desde que tenha consciência
de que seu concorrente é funcionário público.
85.2.3.1 Conduta
Possível sua realização por qualquer forma, omissiva ou comissiva, desde que com
negligência, imprudência ou imperícia.
Para tanto, é indispensável que o agente tenha a posse ou detenção da coisa que
será objeto do peculato de outrem e, por descuido, colabora para que ocorra a subtração, o
desvio ou sua apropriação. Não deseja que ocorra e às vezes nem prevê mas, por
negligência, realiza ou deixa de realizar um comportamento que auxilia a apropriação,
desvio ou subtração da coisa que estava sob seu poder.
Não basta que a coisa que esteja na posse do agente seja apropriada, desviada ou
subtraída, devendo restar demonstrado que seu comportamento insere-se no processo
causal, influindo para a realização do crime do outro. Em outras palavras, a conduta do
agente do peculato culposo deve efetivamente ter contribuído para a realização do crime do
outro. Haverá peculato culposo quando o agente não adota as cautelas necessárias para a
guarda de coisa alheia valiosa que esteja sob sua custódia e que vem a ser subtraída ou
apropriada por funcionário recém-chegado na repartição.