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CÂMARA DOS DEPUTADOS

LIDERANÇA DO PARTIDO POPULAR SOCIALISTA – PPS

ESTUDO

A DEFESA NA COMUNIDADE EUROPÉIA, NA FRANÇA E A


ALIANÇA ESTRATÉGICA BRASIL/FRANÇA
10/03/2009.
Sumário:

1 – Defesa na Comunidade
Européia.......................................................................................01

2- Política de Defesa na
França.............................................................................................05

3 – Aliança Estratégica
Brasil/França......................................................................................06
3.1. Considerações
preliminares.......................................................................................06
3.2. Parcerias estratégicas entre os dois
países.................................................................06

1- Defesa na Comunidade Européia

Depois que a Europa acolheu o processo de desconstrução do sistema


de blocos e depois de concluído o período histórico da Guerra Fria, a reflexão
sobre segurança e defesa surgiu como uma das prioridades da União
Européia.

Durante cerca de quarenta anos, a chamada ameaça soviética


constituiu, para a Europa Ocidental, um fator aglutinador de países, gerando
com isso a NATO1, cujo papel na estabilidade do Continente foi determinante
para a criação da Comunidade Européia.

A Unidade Européia tem como um de seus pilares a política externa e a


segurança comum. O Tratado da União Européia, que entrou em vigor em
novembro de 1993, definiu como um dos objetivos principais da União, a

1
NATO – a Organização do Tratado do Atlântico Norte ( OTAN ou NATO), por vezes chamada de Aliança Atlântica, é uma
organização internacional de colaboração militar estabelecida em 1949 em suporte do Tratado do Atlântico Norte, assinado
em Washington a 4 de abril de 1949, no contexto da Guerra Fria, com o objetivo de constituir uma frente oposta ao bloco
socialista.

1
execução de uma política externa e de segurança comum que incluisse a
definição, a longo prazo, de uma política de defesa comum.

As grandes questões que se colocariam em matéria de segurança e


defesa, na perspectiva da revisão do Tratado diziam respeito,
fundamentalmente, às relações UE/UEO e UEO/NATO.

A cooperação política européia nasceu em julho de 1971 quando os


Ministros dos Negócios Estrangeiros, respondendo a uma solicitação dos
Chefes de Estado e de Governo, propuseram o desenvolvimento da
cooperação no domínio da política externa.

As principais etapas do desenvolvimento da Cooperação Política


Européia foram:

1. Relatório Davignon – outubro de 1970- foi o texto fundador da


cooperação, onde foram definidos os mecanismos e a estrutura que
seria montada nas reuniões;

2. Cimeira de Paris – dezembro de 1974 – atribuiu ao Estado-membro as


relações com os outros países. A Cimeira de Paris instituiu o Conselho
Europeu que designa as reuniões periódicas dos Chefes de Estado ou
de Governo dos Estados-Membros da União Europeia. O seu papel é
dar à União Europeia o impulso necessário ao seu desenvolvimento e
definir as orientações políticas gerais (artigo 4.º do Tratado da União
Europeia). Não exerce qualquer função legislativa e não é uma
instituição.

3. Relatório de Londres – outubro de 1981 – instituiu a “ Troika”


associando à Presidência o trabalho que viria a ser desenvolvido pelos
diplomatas.

4. A Declaração de Petersberg, de 19 de junho de 1992, constituiu-se


num elemento primordial do desenvolvimento da União Européia. Ela serviu
de base para se fazer uma distinção, entre as chamadas missões, instituída
no art. 5º, relativas à defesa da integridade territorial dos Estados, que
continuariam a ser da responsabilidade da Aliança Atlântica, e as missões
que ocorram fora da área, que seriam de competência da UEO. Com isso
ficaria definida as competências da NATO e da UEO. Também foram
definidos os diferentes tipos de missões militares que podem ser realizadas
pela UEO :
1) missões de carácter humanitário ou de evacuação de cidadãos; 2)
missões de manutenção da paz; 3) missões executadas por forças de
combate para a gestão de crises, incluindo operações de restabelecimento
da paz. Estas Missões "de Petersberg" foram inseridas pelo Tratado de
Amesterdão no Tratado da UE.

2
A Estratégia de Segurança da Europa de 2003 destacou as maiores
ameaças com que se confronta a União Européia - que são o terrorismo,a
proliferação de armas de destruição maciça, os conflitos regionais, os
Estados falhados e a criminalidade organizada- e identifica objetivos
estratégicos que serviram de base para sub-estratégias.

Muitos dos compromissos definidos na Estratégia ainda se encontram


válidos, mas outros devem ser adaptados, sendo destacada a relação entre a
União Européia e a Rússia; compromisso da UE com a África; o
aprovisionamento energético, as alterações climáticas e a ciberguerra.

O documento do Parlamento Europeu – Projecto de Relatório –


2008/2202 (INI) sinaliza que a Estratégia de Segurança seja revista todos os
cinco anos no início de cada nova legislatura da União Européia, exigindo
que seja elaborado um “ Livro Branco” sobre segurança e defesa européia
para garantir a aplicação eficiente da estratégia de segurança.

A política externa e de segurança comum na União Européia tem, tal


como o Tratado que a instituiu, oito anos de vida. Foi alvo de análises críticas
e de sugestões reformistas, constituindo um dos principais temas da revisão
do Tratado de Maastricht.

A maioria das críticas apresentadas sobre o funcionamento sobre a


Política Externa e de Segurança Comum – PESC, apresenta-se em duas
linhas:

a) a primeira sustenta que os novos mecanismos introduzidos em Maastricht


e Amsterdão não estão ainda suficientemente rodados;

b) a segunda, marcadamente mais renovadora, considera que a PESC é


enferma de deficiências estruturais e/ou da ausência de vontade política dos
Estados-membros. Entretanto, apesar das críticas, a maioria dos
especialistas reconhece que a PESC trouxe mais melhorias à cooperação
política européia do que os sistemas anteriores.

A afirmação progressiva de uma capacidade européia eficaz na área da


segurança e da defesa tem sido uma constante no debate político dos
últimos anos. Isso é facilmente compreensível uma vez que o
aprofundamento da União Européia correspondeu ao desenvolvimento das
responsabilidades no nível internacional e da vontade de ser criado um
espaço de paz e de estabilildade.

Duas vertentes estão avançando: 1) a definição, no seio da UE de uma


política comum de segurança e defesa que permita a execução, de
operações de gestão de crises; 2) e a ligação institucional direta da UE à

3
Aliança Atlântica, facultando dessa forma aos europeus o acesso aos meios
militares.

A construção de capacidades da Europa na área de segurança são


definidos no estudo do Parlamento Europeu- Projecto de Relatório, elaborado
pela Comissão dos Assuntos Externos:

1. A UE precisa de meios que lhe permitam aplicar as suas políticas –


aumento da capacidade civil e militar para reforçar a política europeia
de segurança e defesa e fazer cumprir as suas responsabilidades com
o mundo;

2. A UE deverá cumprir o objetivo global de Helsínquia: esforçar-se por


colocar permanentemente à disposição da UE um contingente de
60.000 militares; reafirmando a sua proposta de que o Eurocorps
deverá ser o núcleo dessa força;

3. Os Estados-Membros da UE gastam no seu conjunto mais de 200


milhões de euros por ano com defesa, a preocupação hoje está na falta
de eficiência e coordenação nestes gastos. A UE exorta a um maior
esforço visando eliminar a duplicação desnecessária de gastos entre os
Estados-Membros;

4. A Comissão de Assuntos Externos recomenda que a UE concentre os


seus esforços em capacidades comuns que possam ser utilizadas tanto
para fins de segurança como de defesa, exigindo que seja estruturada
uma norma técnica comum para as telecomunicações protegidas;

Trata também da necessidade de novas estruturas:

1. Criação de um Conselho de Ministros de Defesa, a fim de dar maior


coerência às diversas políticas nacionais de defesa, reforçando assim
os respectivos contributos nacionais para a política européia de
segurança e defesa;

2. Apoia a criação de um mercado europeu de defesa e segurança e


sugere novas iniciativas para alcançar este objetivo;

3. Aumento do financiamento comunitário para a investigação em


segurança e a promoção de programas conjuntos de investigação;

4. Considera que o sistema de defesa contra mísseis, dos Estados Unidos,


tem implicações importantes para a Europa, dado que os subsistemas
baseados na República Checa e na Polônia também poderiam ser
utilizados para proteger uma parte da Europa. ( A NATO decidiu em
Bucareste acrescentar elementos complementares a esta proteção);

4
5. Considera importante reforçar a Academia Européia de Segurança e
Defesa, dotando a entidade de estrutura permanente que contribua
mais para o desenvolvimento de uma cultura especificamente
européia de segurança nas elites políticas e militares;

6. Atenção redobrada com a formação e normas comuns para o pessoal


que participa em operações civis e militares, programas de
intercâmbio e a abertura dos exércitos aos cidadãos de outros Estados-
Membros.

Finalmente, no dia 14 de janeiro, o Parlamento Europeu aprovou, por


larga maioria, uma nova diretiva sobre defesa e segurança, destinada a
aumentar a abertura e a competitividade do mercado, e a reduzir os
obstáculos à livre circulação de equipamentos de defesa e segurança. De
acordo com o eurodeputado alemão Alexander Lambsdorf – Grupo da Aliança
dos Democratas e Liberais pela Europa – autor do relatório aprovado em
plenário, “ o objetivo é garantir o acesso dos Estados-Membros ao melhor
equipamento disponível no mercado, independentemente de o mesmo ter
sido produzido por uma empresa da União Européia e, por outro lado, o
dinheiro dos contribuintes será gasto de uma forma mais eficaz, graças à
abertura da concorrência na União Européia”.

Entre os objetivos da nova legislação incluem-se:

1. criação de um enquadramento jurídico comum europeu, que permita


aos Estados-Membros aplicar a legislação comunitária, sem
comprometer os seus interesses em matéria de segurança;

2. salvaguarda dos interesses de segurança dos Estados-Membros;

3. desenvolvimento da Política Externa e de Segurança Comum;

4. reforço da coesão européia;

5. preservação do caráter da União enquanto “ potência civil”;

2- Política de Defesa na França

O Código de Defesa francês, no artigo 1111-1 diz que o papel da Defesa


Nacional é de assegurar a integridade do território, a segurança dos franceses, assim
como garantir o respeito das alianças, tratados e acordos internacionais.

Na França a defesa nacional ( que está constituída pela defesa civil – que
participa de missões de prevenção, investigação, de formação e de ajuda e pela defesa

5
econômica – caraterizada por atos e iniciativas tomadas pela potência pública, com fins
de proteger por um lado a economia e as empresas de ataques de qualquer natureza)
se constitui num instrumento de soberania nacional e de credibilidade internacional; é
importante a participação do país na Política Européia de Segurança e de Defesa
( PESD); na Aliança Atlântica.

É o Presidente da República que garante a integridade do território ( art. 5º da


CF), sendo ele o Chefe das Forças Armadas ( art. 15 da CF). Ele dispõe do poder de
utilizar em caso de necessidade a força nuclear. O Primeiro Ministro é responsável pela
defesa nacional ( art. 21 da CF); o Ministro da Defesa é o responsável da organização
e mobilização do exército misto, anunciado em 1996 e que entrou em ação desde 31
de dezembro de 2002.

Desde 2002 a área da defesa tem tido como objetivo alcançar 2,5% do PIB,
especialmente através da Lei de Programação Militar que prevê alocar 14 480 milhões
de euros para menter e melhorar a capacidade de ação mediante a renovação de
equipamentos.

3. Aliança Estratégica Brasil/França

3.1. Considerações Preliminares

 Em 15 de julho de 2005, o Brasil assinou em Paris um Acordo de Cooperação em


Tecnologias Avançadas com a França;
 Em 5 de janeiro de 2007, o Presidente Lula, promulgou, através do Decreto nº
6.011, o Acordo de Cooperação na Área de Aeronáutica Militar entre o Governo do
Brasil e o Governo Francês, também celebrado em Paris em julho de 2005.
 Seis meses depois, em 19 de junho de 2007, os Ministros da Defesa, Waldir Pires e
da França, Hervé Morin, assinaram em Paris uma declaração de intenção entre os
dois Países, em matéria de Defesa;
 O documento, assinado também na presença do Comandante da Aeronáutica do
Brasil, Juniti Saito, previa reciprocidade de direitos e deveres entre os dois países,
além de ações conjuntas de treinamento em cursos teóricos e práticos, estágios,
eventos culturais e cooperação nas áreas de ciência e tecnologia.
3.2 – Parceria Estratégica entre os dois países

Os Acordos acima especificados teriam como objetivo a parceria estratégica


entre Brasil e França, intensificando a relação bilateral na área de Defesa. A intenção
em 2007 era de finalizar a negociação do Acordo de Cooperação de Defesa e o
Estatuto das Forças Armadas dos dois países, intensificando desta forma o diálogo
sobre temas de interesse comum em matéria de altas tecnologias.

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Uma das cooperações mais importantes seria a construção do Submarino
Nuclear Brasileiro – SNBR, no Estado do Rio de Janeiro, contrato este que foi
formalizado em 23 de dezembro de 2008.

No início de 2008, foi assinado entre Lula e Sarkozy o Acordo de Cooperação


Militar, denominado Status of Force Agreement. Após a assinatura os dois presidentes
tiveram quatro encontros para consolidar a aliança estratégica, quando deflagraram os
grupos de trabalho bilaterais para definirem novos programas em diferentes áreas de
interesse.

O carro-chefe da Aliança Estratégica envolve quatro submarinos de propulsão


convencional (diesel-elétricos) SBR, um submarino nuclear SNB, cinquenta
helicópteros EC-725, o Programa Soldado do Futuro dentre outras ações.

Segundo informações veiculadas na publicação francesa Mer et Marine, o


contrato firmado entre o Brasil e a França foi vivamente elogiado. Diz a matéria: “Cerca
de 7 bilhões de euros, este é o montante do gigantesco contrato de armamento naval
concluído pela França e o Brasil”. Ainda segundo a publicação francesa, parte do
primeiro submarino será feita em Cherbourg na França, onde está situado o estaleiro
DCNS. O primeiro submarino entrará em serviço em 2016.

Para administrar este contrato, a DCNS e a Odebrecht vão criar uma sociedade
comum, encarregada da gestão da obra dos submarinos convencionais.

Referências Bibliográficas

La defensa em Europa: Francia: un fuerte compromiso, Les études de la


Documentacion française, la Documentación francesa, n. 5218/2005.

El concepto francés de defensa. Disponivel em <http://www.diplomatie.gouv.fr>.


Acesso em 10 mar. 2009.

La organización de la defensa nacional. Disponível em


<http://www.diplomatie.gouv.fr>. Acesso em 10 mar. 2009.

WOGAU, karl von. Parlamento Europeu. Projecto de relatório sobre estratégia


Europeia de Segurança e a PESD ( 2008/2202(INI)). Parlamento Europeu. 5.11.2008.

Elaine Faria
Liderança do PPS

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