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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017


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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017

B821

BrandTrends. -Vol. n0. 13 (2011)- . --Lajeado,RS:/


Observatório de Marcas, 2011-.

Bi-anual
ISSN 2237-8529

1. Comunicação estratégica 2. Branding 3. Marca


4. Marke�ng I. Título

CDU: 659:658

Ficha catalográfica elaborada por Maristela Hilgemann Mendel CRB-10/1459


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Índice
EDITORIAL 04

ARTIGO: DADA JURISPRUDÊNCIA SIECKMANN AO


REGULAMENTO (UE) 2015/2424. EVOLUÇÃO NO
REGISTO DAS MARCAS OLFATIVAS NA UNIÃO EUROPEIA? Evolu
Autor: Eugénio Pereira Lucas 07

ARTIGO: SOUND BRANDING E O SILÊNCIO DAS MARCAS: CONEXÕES


ÍNTIMAS POR MINIMALISMOS SONOROS.
Autor: Ticiano Paludo 18

ARTIGO: A EXPERIÊNCIA TURÍSTICA NO MARKETING DIGITAL


DE HOTÉIS “PÉ-NA-AREIA”: UM ENFOQUE NETNOGRÁFICO
Autoras: Leticia Clementer e Lissa Valéria Fernandes Ferreirar 29

ARTIGO: BRAND AUTHENTICITY: THE MORAL DUTY ON


COMMUNICATING MORAL VALUES Evolu
Autores: Bernardo Meza Guzman e Catarina Lélis 42

ARTIGO: MARCA OU LOCAL? O NOME GEOGRÁFICO


COMO AGREGAÇÃO DE VALOR
Autoras: Patrícia Pereira Peralta e Elaine Vianna 53

ARTIGO: THE IMPACT OF CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY


AND CORPORATE ABILITY ASSOCIATIONS ON CONSUMERS’ BEHAVIOUR
Autoras: Nicole Inácio e Cátia Fernandes Crespo 68

ARTIGO: A TRAJETÓRIA DO DESIGN DE IDENTIDADE


DE MARCA NO BRASIL
Autores: Sandra Ribeiro Cameira e Marcos da Costa Braga 85

ENTREVISTA CONCEDIDA PELO DESIGNER FRANCISCO


PROVIDÊNCIA AO DESIGNER ÁLVARO SOUSA 98

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 102


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EDITORIAL
BrandTrends Journal

Com o presente trabalho, apresentamos o décimo ter- de criar e recriar um mundo melhor.
ceiro volume de BrandTrends Journal, revista científica
digital do Observatório de Marcas, dedicada à temática Os artigos reunidos no presente volume resultam de
Brand(ing) & New Developments to Individual and Col- comunicações apresentadas no IV Congresso Interna-
lective Well-Being. cional em Branding, realizado na Escola Superior de
Em conformidade com o determinado desde o primeiro Tecnologia e Gestão, de Leiria, Portugal, de 28 a 30 de
volume, outubro de 2011, esta é uma revista internacio- setembro do corrente ano, uma coorganização do Poli-
nal, de publicação bianual, peer-refereed, mediada em técnico de Leiria, Portugal, da Universidade Univates
língua portuguesa, inglesa, espanhola e francesa, aberta RS, Brasil, e do Observatório de Marcas.
a colaboradores de todas as partes do mundo interes-
sados na área da Comunicação Estratégica, Business e Em seu artigo “Da jurisprudência Sieckmann ao Regula-
Branding. Esta dimensão internacional delineada para mento (UE) 2015/2424. Evolução no registo das marcas
o presente Journal mantém-se desde a sua gênese. Ao olfativas na União Europeia?”, Eugénio Pereira Lucas
longo destes sete anos e do seu impacto diferentes publi- aborda as evoluções no campo jurídico para dar conta
cações permite-nos mapear a sua área de influência que das demandas atuais das marcas, as quais ultrapassam
vai além da orbe Ibero-americana em que académicos, a sua representação gráfica (sinal visualmente distinti-
investigadores e profissionais se expressam, fazendo da vo). Embora haja uma evolução, na qual se admite “que
BrandTrends Journal um artefato de reconhecido valor as marcas possam ser sinais não visíveis, como aromas
científico com impacto fundamentalmente nesta área ou sons”, segundo o autor, o Tribunal “rejeitou o pedi-
do conhecimento. do de registo de uma marca olfativa argumentando com
A temática do presente volume - New Developments to a dificuldade de representação gráfica, considerando
Individual and Collective Well-Being - não é simples, ainda que a fórmula química não representava o odor e
em termos de delimitação de significado (bem estar in- também não possuía um nível suficiente de inteligibili-
dividual e coletivo como resposta a necessidades físicas, dade, clareza e precisão”. Apesar disso, alguns casos de
psicológicas, políticas, sociais, culturais e ambientais, aprovações recentes indicam inovações no campo que
por exemplo), e a dimensão desse entendimento parece beneficiarão os registros de marcas.
condicionada também por regiões geográficas e respeti-
vas políticas. Não obstante essa complexidade, a escolha Enquanto a maioria se preocupa com os sinais da marca
do tema resultou da urgência de criarmos um espaço (visuais, sonoros, olfativos, táteis, gustativos), Ticiano
de crítica tanto no âmbito das representações como de Paludo desafia os profissionais a refletirem sobre o si-
práticas acomodadas, inscritas em Business & Branding, lêncio das marcas, ou melhor, a promoverem um am-
na sociedade contemporânea. O termo ‘crítica’ é aqui biente agradável ao público, evitando o ruído desneces-
usado na acepção de questionamento, de reflexão so- sário. Em seu texto, “Sound branding e o silêncio das
bre as possibilidades que a investigação/pesquisa traz à marcas: conexões íntimas por minimalismos sonoros”,
superação de concepções tradicionais do conhecimento Paludo apresenta e conceitua os diversos formatos de
nas diferentes disciplinas. Deste modo, espera-se que a peças sonoras – como jingles, spots, entre outros, bem
temática do ‘bem comum individual e coletivo’ seja cada como aborda as principais tendências do sound bran-
vez mais focado em diferentes espectros da sociedade, ding, para finalmente fazer a sua provocação ao pro-
numa relação dialógica entre agentes, organizações e so- fissionais e, ao mesmo tempo, provar a necessidade da
ciedade, no sentido de conjuntamente sermos capazes busca por “conexões íntimas por minimalismos sono-
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ros” para o bem-estar das pessoas. geográficos em marcas, além de não cumprir a função
distintiva das marcas, “pode suscitar uma qualificação
As autoras Leticia Clemente e Lissa Valéria Fernandes dos produtos ou dos serviços identificados por elas, o
Ferreira, em seu artigo “A experiência turística no ma- que vai contra o princípio basilar da proteção à marca
rketing digital de hotéis pé-na-areia: um enfoque net- para a não concessão de termos de cunho enganoso”.
nográfico”, abordam efeito do marketing digital no de-
sempenho de empreendimentos hoteleiros com caráter Nicole Inácio e Cátia Fernandes Crespo, em seu artigo
“pé-na-areia” do Nordeste Brasileiro. Foram seleciona- intitulado “The impact of corporate social responsibility
dos três destinos concorrentes Natal (RN), Ipojuca (PE) and corporate ability associations on consumers’ beha-
e Maceió (AL), três hotéis/resort com 4 ou 5 estrelas por viour”, abordam as questões relativas à Responsabili-
destino e analisado suas postagens no Instagram, de ja- dade social corporativa, às competências corporativas
neiro a maio de 2017. O resultado da pesquisa permite às e às marcas globais. Para as autoras, “A incorporação
autoras inferirem sobre a ferramenta e sobre o compor- de práticas de responsabilidade social na estratégia em-
tamento de marca nas redes sociais como a investigada, presarial está a tornar-se cada vez mais importante, da-
bem como sugerirem melhorias na utilização da mesma da a sua influência fundamental na imagem da marca,
em prol da marca. bem como as consequências exercidas nas perceções e
comportamento dos consumidores”. Entretanto, há a
No artigo “Brand authenticity: the moral duty on com- hipótese de os consumidores não confiarem totalmente
municating moral values”, Catarina Léslie e Bernardo nas ações das marcas globais em virtude destas, histori-
Meza Guzman discutem a autencidade da marca, os camente, terem comportamentos predatórios. Com uma
valores morais e a hermenêutica do cotidiano. Nas so- amostra de 344 inquiridos, os resultados das análises
ciedades pós-modernas, qual é a relação entre bran- evidenciam aspectos positivo às marcas socialmente
ding e valores morais? Com o objetivo de descobrir a responsáveis.
relação entre marcas e auto-identidade em termos de
autenticidade, os autores apresentam as discussões so- O Branding e o Design são áreas inseparáveis, mas esta
bre o conceito de autenticidade das marcas, seguindo união ainda é invisível para muitos profissionais. Com
os desenvolvimentos filosóficos e sociológicos da pós- o intuito de mapear a trajetória e o desenvolvimento
-modernidade, com base na fenomenologia do dia-a-dia do campo do design de identidades de marcas no Bra-
e na hermenêutica. Os resultados apontam que as mar- sil, Sandra Ribeiro Cameira e Marcos da Costa Braga,
cas bem sucedidas são aquelas que comunicam valores em seu artigo “A trajetória do design de identidade de
morais autênticos e podem definir a auto-identidade dos marca no Brasil”, identificam algumas de características
indivíduos em termos de autenticidade, tornando-se, básicas que demarcaram prática do design ao longo do
desta forma, estruturas morais. tempo e mostram como, no Brasil, as mudanças no pro-
cesso de construção de marcas foi ocorrendo, a partir da
Patrícia Pereira Peralta e Elaine Vianna trazem à discus- inclusão do branding.
são os princípios do registro de marca: proteção para o
proprietário da marca, que lhe garante o uso exclusivo Para finalizar esta edição da BrandTrends, Álvaro Souza
da mesma, e proteção para o próprio consumidor, na entrevista o designer Francisco Providência. Iniciando
medida em busca evitar que o mesmo seja enganado. com as perguntas “O que fazem os designers quando
Em seu artigo “Marca ou local? O nome geográfico como desenham marcas? Constroem identidades ou atribuem
agregação de valor”, as autoras investigaram “as ten- identificações?”, ambos refletem sobre a identidade, o
dências de proteção de marcas que contêm as palavras design, a saturação, a marca e, por fim, Providência afir-
‘Amazônia’, ‘Pantanal’, ‘Rio de Janeiro’ e ‘Copacabana’ ma que “Esgotada a perceção retiniana abrem-se outros
nos territórios que recebem anualmente o maior núme- sentidos à comunicação como possíveis canais de mar-
ro de pedidos de registro de marcas segundo a Organi- ca” e que, certamente, a marca voltará para o “seu papel
zação Mundial da Propriedade Intelectual”. Os resulta- primitivo, secreto, manifestando-se discretamente aos
dos desta pesquisa apontam que a utilização dos nomes iniciados que a reconhecem como valor de orientação e
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discernimento na selva, adotando-a como símbolo; não


são os designers que fazem os símbolos: são os recepto-
res que, adotando as marcas, lhes atribuem o papel de
parte visível do desconhecido”.

Uma boa leitura a todos!


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ARTIGO

Da jurisprudência
Sieckmann ao
Regulamento (UE)
2015/2424. Evolução
no registo das marcas
olfativas na
União Europeia?
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Eugénio Pereira Lucas
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ARTIGO

Resumo: Abstract:
A obrigatoriedade de representação gráfica da The obligation to graphically represent the trade-
marca exigida no Regulamento (CE) nº 40/94 mark required by Regulation (EC) Nº 40/94 for
para o registo da marca comunitária impossibi- registration of the Community trademark made
litava a registo de uma marca olfativa na União it impossible to register an olfactory mark in the
Europeia. Com a jurisprudência Sieckmann European Union. In Case C-273/00 the Court of
(Processo C-273/00) o TJUE - Tribunal de Jus- Justice of the European Union accepts that marks
tiça da União Europeia aceita que as marcas pos- may be non-visible signs such as scents or soun-
sam ser sinais não visíveis, como aromas ou sons, ds, but rejected the application for registration of
mas rejeitou o pedido de registo de uma marca an olfactory mark on the ground that it is difficult
olfativa argumentando com a dificuldade de re- to obtain a graphic representation, considering
presentação gráfica, considerando ainda que a also that the chemical formula did not represent
fórmula química não representava o odor e tam- the odor and also did not have a sufficient level of
bém não possuía um nível suficiente de inteligi- intelligibility, clarity and precision. With the re-
bilidade, clareza e precisão. Com a aprovação do cent adoption of the European Parliament’s Re-
recente Regulamento (UE) 2015/2424 do Parla- gulation (EU) 2015/2424, among other innova-
mento Europeu, entre outras inovações, este vem tions, the European Union’s trademark no longer
definir que a marca da União Europeia deixa de needs to be represented graphically, thus making
ter necessidade de ter representação gráfica, pas- it possible to register as a European Union signal
sando assim a ser possível registar como marca capable of being represented in any suitable form
da União Europeia um sinal suscetível de ser re- using a generally available technology, and thus
presentado sob qualquer forma adequada, utili- is no longer necessarily represented by means of
zando uma tecnologia geralmente disponível, e graphics, if they are distinctive and clearly and
assim deixa de necessariamente ser representa- precisely identified (e.g. holograms or digital ma-
da através de meios gráficos, bastando que sejam rks, sounds, colors, movements or tactile), which
distintivos e sejam identificados de forma clara e seems to open the way to the register of olfactory
precisa (ex. hologramas ou marcas digitais, sons, marks.
cores, movimentos ou táteis), o que parece abrir
o caminho ao registo de marcas olfativas. Keywords: European trademark, Sieckmann
case law, olfactory mark.
Palavras-chave: Marca da União Europeia, ju-
risprudência Sieckmann, marca olfativa.
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Resumén: Résumé:
La obligatoriedad de representación gráfica de la L’exigence de la représentation graphique de la
marca exigida en el Reglamento (CE) nº 40/94 marque requise par le règlement (CE) nº 40/94
para el registro de la marca comunitaria impo- pour l’enregistrement d’une marque commu-
sibilitaba el registro de una marca olfativa en nautaire rend impossible d’enregistrer une mar-
la Unión Europea. Con la jurisprudencia Sieck- que olfactive dans l’Union européenne. Avec
mann (Asunto C-273/00) el TJUE - Tribunal de l’affaire Sieckmann (affaire C-273/00) la Cour
Justicia de la Unión Europea acepta que las mar- de Justice de l’Union Européenne a admis que
cas puedan ser signos no visibles, como aromas les marques peuvent être de signes visibles, com-
o sonidos, pero rechazó la solicitud de registro me les odeurs ou des sons, mais a rejeté la de-
de una marca olfativa alegando la dificultad de mande d’enregistrement d’une marque olfactive
representación gráfica, considerando además argumentant la difficulté de représentation gra-
que la fórmula química no representaba el olor y phique, considérant également que la formule
tampoco poseía un nivel suficiente de inteligibi- chimique ne représentait pas l’odeur et n’avait
lidad, claridad y precisión. Con la aprobación del pas non plus un niveau suffisant d’intelligibilité,
reciente Reglamento (UE) 2015/2424 del Parla- de clarté et de précision. Avec l’adoption du
mento Europeo, entre otras innovaciones, éste récent règlement (UE) 2015/2424 du Parlement
viene a definir que la marca de la Unión Europea européen, entre autres innovations, la marque
ya no tiene necesidad de representación gráfica, de l’Union européenne n’a plus besoin d’une re-
por lo que es posible registrar como marca de présentation graphique, devenant ainsi possible
la Unión Europea, ya que es susceptible de ser d’enregistrer en tant que marque l’Union euro-
representado en cualquier forma adecuada, uti- péenne une signe susceptible d’être représenté
lizando una tecnología generalmente disponible, sous toute forme appropriée, en utilisant une te-
y así deja de necesariamente ser representada chnologie couramment disponibles, et être donc
a través de medios gráficos, bastando que sean plus nécessairement représenté par des moyens
distintivos y sean identificados de forma clara y graphiques, juste qu’ils se distinguent et sont
precisa (por ejemplo, hologramas o marcas digi- identifiés de manière claire et précise (ex. des
tales, sonidos, colores, movimientos o táctiles), lo hologrammes ou des empreintes digitales, des
que parece abrir el camino al registro de marcas sons, couleurs, mouvements ou tactile), ce qui
olfativas. semble ouvrir la voie au registre des marques ol-
factives.
Palabras-clave: Marca de la Unión Europea,
jurisprudencia Sieckmann, marca olfativa. Mots-clés: Marque de l’Union européenne, ju-
risprudence Sieckmann, marque olfactive.
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Introdução cia, de decisão de extinção dos direitos do titular


Desde 1958, com a criação da CEE, o facto de ou de anulação e o seu uso só pode ser proibido,
existirem e de se manterem em vigor os direitos para toda a Comunidade2. Assim, o Regulamento
nacionais de propriedade industrial constituíam (CE) nº 40/94 do Conselho, veio permitir através
um importante entrave à livre circulação de mer- de um procedimento único junto do IHMI regis-
cadorias na CEE/UE. tar uma marca que beneficiará de proteção uni-
O primeiro regulamento da CEE sobre a forme e produzirá efeitos em todo o território co-
marca comunitária foi aprovado em dezembro de munitário e que assim vem permitir às empresas
1993 e foi a primeira norma jurídica em matéria identificar os seus produtos e serviços de modo
de propriedade industrial que é regida em exclu- idêntico em todo o território da União Europeia.
sividade por normas comunitárias e que produz O conceito da marca é definido como “Po-
efeitos em todo o território da CEE1. dem constituir marcas comunitárias todos os
O princípio da territorialidade, fundamen- sinais susceptíveis de representação gráfica, no-
tal na existência do direito da marca, passa a ter meadamente palavras, incluindo nomes de pes-
uma abrangência territorial supranacional, coin- soas, desenhos, letras, algarismos, e a forma do
cidente com a o território da CEE e deixa de ter produto ou do seu acondicionamento, desde que
uma base nacional. Desantes Real, a propósito esses sinais sejam adequados para distinguir os
da marca comunitária, considera que estamos na produtos ou serviços de uma empresa dos de ou-
presença da ruptura do antigo princípio da terri- tras empresas”3.
torialidade nacional e na instauração de um novo No Regulamento (CE) nº 40/94 era exigida
princípio da territorialidade de âmbito comuni- a representação gráfica o que era uma limitação
tário (Bercovitz, 1996, p. 227). à evolução da marca comunitária, que assim não
Com o Regulamento (CE) nº 40/94, de 20 se podia adaptar às novas realidades comerciais,
de dezembro de 1993, que criou a marca comu- empresariais, digitais.
nitária foi também criado o Instituto de Harmo- Nos termos do artigo 7º do Regulamento
nização do Mercado Interno - IHMI, sedeado em (CE) nº 40/94 será, designadamente, recusado
Alicante, Espanha, que começou a analisar pedi- o registo de:
dos de marca comunitária em 1 de abril de 1996. - Sinais que não sejam susceptíveis de cons-
De uma forma muito breve apresentamos de tituir marcas comunitárias;
seguida algumas das principais disposições da - Marcas desprovidas de carácter distintivo;
marca comunitária com base no Regulamento - Marcas compostas exclusivamente por sinais
(CE) nº 40/94. ou indicações que possam servir, no comércio,
O IHMI e os institutos nacionais de proprie- para designar a espécie, a qualidade, a quantida-
dade industrial de acordo com um critério de de, o destino, o valor, a proveniência geográfica
complementaridade exerciam as funções de ges- ou a época de fabrico do produto ou da prestação
tão da marca comunitária. Ambos podiam rece- do serviço, ou outras características destes;
ber os pedidos de marcas comunitárias, sendo as - Marcas constituídas por sinais ou indica-
operações de exame, oposição e registo efetuadas ções que se tenham tornado habituais na lingua-
pelo IHMI com o auxílio dos institutos nacionais. gem corrente ou nas práticas comerciais,
A marca comunitária tem um carácter uni- - Marcas contrárias à ordem pública ou aos
tário porque se adquire através de um processo bons costumes,
único de depósito, de exame e de registo que tem - Marcas susceptíveis de enganar o público,
lugar no IHMI e porque produz os mesmos efei- por exemplo sobre a natureza, a qualidade ou a
tos para todo o território da CEE, apenas poden-
2Artigo 1º, Regulamento (CE) nº 40/94 do Conselho, de 20 de de-
do ser registada, transferida, ser objeto de renún-
zembro de 1993.
1Regulamento (CE) nº 40/94 do Conselho, de 20 de dezembro de 3Artigo 4º, Regulamento (CE) nº 40/94 do Conselho, de 20 de de-
1993. zembro de 1993.
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proveniência geográfica dos produtos ou servi- teragir. Como proteger os direitos dos criadores
ços. destas marcas não tradicionais, olfativas, ou tác-
O prazo de validade do registo da marca co- teis são questões em discussão atualmente.
munitária é de 10 anos a contar da data do depó- Estas novas marcas têm um elevado poten-
sito do pedido, podendo ser renovado por iguais cial de crescimento e de valor económico, maior
períodos de 10 anos, sendo que durante cinco possibilidade de estarem associados a criações
anos a contar do respectivo registo, a marca co- inovadoras e se a União Europeia as proteger
munitária deve ser objeto, por parte do titular, legalmente poderão trazer um contributo mui-
de uma utilização efetiva na Comunidade para to significativo para tornar a economia europeia
os produtos e os serviços para os quais estiver mais competitiva.
registada4. No entanto a exigência de representação
O Regulamento (CE) nº 40/94 o IHMI gráfica da marca prevista no Regulamento (CE)
previa assim a possibilidade de registar 6 tipos nº 40/94 impossibilitava, ou dificultava muito,
de marcas: o registo de marcas não tradicionais, nomeada-
O mundo está em mudança permanente e mente de uma marca olfativa.

Jurisprudência Sieckmann
As marcas são apreendidas
pelos sentidos, mas cada senti-
do tem caraterísticas específi-
cas. Distinguem os especialistas
entre os sentidos mais “físicos”
que incluem o tato, a visão e a
audição, que são mais facilmente
compreensíveis e que podem ser
descritos de forma relativamente
objetiva e os sentidos “químicos”
(olfato e paladar) cuja descrição
é mais difícil devido à ausência
de regras precisas para determi-
tem-se vindo a verificar que as empresas já não nar seu conteúdo e essa dificuldade pode levar à
investem só nas marcas tradicionais e, pelo con- impossibilidade de apresentar não só o caráter
trário, há um crescimento muito significativo das distintivo, mas também o próprio sinal. Neste se-
marcas não tradicionais. Na realidade, como re- gundo tipo de marcas a marca olfativa tem uma
fere Lindstrom (2005) “in order to have a viable enorme relevância.
future, brands will have to incorporate a brand A maior parte dos especialistas confirmam
platform that fully integrates the five senses”. repetidamente que, entre os nossos sentidos, o
A indústria procura criar novos produtos para cheiro produz efeitos mais fortes sobre a memó-
apresentar mais bens de consumo com várias ria, superando a visão ou o som. O sistema olfati-
vertentes sensoriais aos clientes que aguardam vo forma-se muito cedo no embrião, fica situado
ansiosamente essas novidades. Assistir a um fil- muito próximo do cérebro, sendo mesmo pelo
me e poder sentir o cheiro das flores, ou de pól- cheiro que inicialmente os bebés reconhecem as
vora, ou visitar um site de uma empresa e sentir o suas mães.
aroma definido por essa empresa são realidades As empresas, bem conscientes desta realida-
já em experiência e que a breve prazo iremos in- de, querem poder beneficiar da vantagem que o
reconhecimento de um odor pode atribuir a um
4Artigos 46º, 47º e 15º, Regulamento (CE) nº 40/94 do Conselho,
de 20 de dezembro de 1993.
produto e para isso necessitam de uma proteção
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legal da marca olfativa. amplos possíveis para descrever a variedade de


Em relação às marcas olfativas na União itens que podem ser considerados como marca
Europeia a obrigação de representação gráfica registada, não incluindo no entanto expressa-
de todas as marcas na legislação anterior a 2015 mente as marcas olfativas, mas reconhecendo
conduzia à constante necessidade de recurso aos que o que o perfume pode funcionar como um
tribunais para decidir as questões em litígio. Não identificador de origem onde não possui função
se proibia expressamente o registo de marcas ol- utilitária. O manual de procedimento de exame
fativas, mas os requisitos formais e materiais exi- de Trademark do USPTO prevê que as marcas
gidos, nomeadamente a exigência de represen- de perfume possam ser registadas, mas a quanti-
tação gráfica, impediam o seu registo. O aroma dade de documentação necessária para estabele-
do perfume não pode ser representado grafica- cer que um perfume funciona como uma marca
mente, porque a fragrância perfume resulta da olfativa é substancial (TMEP § 1202.13 (2002)).
natureza do bem em si. As marcas olfativas registadas nos EUA têm sido
Devido às exigências previstas no Regu- limitadas a aromas comumente conhecidos e fa-
lamento (CE) nº 40/94 do Conselho, por este cilmente identificáveis para a maioria do público
exigir uma representação gráfica da marca, não através da experiência pessoal.
existe na UE o registo de uma marca comunitá- A primeira marca olfativa registada nos EUA
ria olfativa, existem, no entanto, marcas olfativas foi um fio de bordado perfumado com flores de
nacionais registadas em vários Estados-mem- plumeria em 1990, requerido pela empresa da
bros da União Europeia. Califórnia OSEWEZ, havendo 5 aromas regista-
Na Holanda uma empresa dedicada ao fabri- dos em 2003 e 10 aromas registados em 2015 no
co de bolas de ténis registou bolas de ténis com USPTO.
cheiro a relva fresca acabada de cortar. Este pe- O sistema jurídico das marcas dos Estados
dido foi inicialmente recusado pelo examinador Unidos inclui a possibilidade de registar uma
do OHMI, tendo a Câmara de Recurso decidido marca, mesmo que tenha falta de caráter distin-
que “The smell of freshly-cut grass is a distinct tivo, desde que seja capaz de demonstrar o uso
smell which everyone immediately recognizes exclusivo e ininterrupto de um determinado si-
from experience. For many, the scent of fragran- nal durante um período específico (“significado
ce of freshly-cut grass reminds them of spring, or secundário”). A secção 2, alínea f), do “Lanham
summer, manicured lawns or playing fields, or Act” estabelece que “nothing shall prevent the re-
other such pleasant experiences. The Board is sa- gistration of a mark used by the applicant which
tisfied that the description provided for the olfac- has become distinctive of the applicant’s goods
tory mark sought to be registered for tennis balls in commerce”.
is appropriate and complies with the graphical Na União Europeia a exigência da represen-
representation requirement of Article 4 CTMR”5. tação gráfica pretende que esta seja clara, precisa
No Reino Unido a empresa Sumitomo Rub- e inteligível para todos os que quiserem consul-
ber Co conseguiu registar um aroma “fragrância tar esse registo, seja um concorrente, um con-
floral reminiscente de rosas” aplicada a pneus sumidor ou o público em geral. Neste sentido a
(trademark nº2001416) e a empresa Unicorn Terceira Câmara de Recurso do OHMI deliberou
Products conseguiu se registar como uma mar- no processo Orange: “an imperative necessity
ca olfativa de dardos com um cheiro acre “Bitter for conducting the examination and registration
Beer” (cerveja amarga) (trademark nº2000234) procedure, including the search, and is comman-
(Schaal, 2003). ded by the interests of the public and all owners
Nos EUA o “Lanham Act” usa os termos mais of registered rights such as, for example, the
owners of earlier trade mark rights who wish to
5Case R 156/1998-2, Vennootschap onder Firma Senta Aromatic determine the scope of protection of the applica-
Marketing Application, OHIM’s Second Board of Appeal, February
11 1999. (para 14-15.)
tion, and, finally, with regard to possible opposi-
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ARTIGO

tion proceedings”6. tão: os requisitos da representação gráfica, na


Em matéria de registo de uma marca olfativa aceção do artigo 2.° da diretiva, são cumpridos
o processo Ralf Sieckmann v Deutsches Patent quando um odor seja representado: a) mediante
und Markenamt (“Sieckmann”) (Processo C- uma fórmula química; b) mediante uma descri-
273/00), relativo à intenção de registar um aro- ção (a publicar); c) mediante a apresentação de
ma na Alemanha é uma referência nesta matéria. uma amostra, ou d) mediante uma conjugação
O requerente Sieckmann utilizou uma abor- das alternativas de representação acima men-
dagem mais elaborada que as utilizadas anterior- cionadas?” vem o TJUE afirmar “No que res-
mente no pedido de registo de uma marca olfa- peita a um sinal olfativo, se uma fórmula quí-
tiva de “balsâmico-frutado com ligeiras notas de mica, uma descrição através de palavras ou a
canela”, tendo fornecido uma descrição do odor, apresentação de uma amostra de um odor não
a fórmula química e inclusive uma amostra desse são, por si próprias, suscetíveis de cumprir os
odor. O TJUE, numa decisão que se tornou his- requisitos de uma representação gráfica, a sua
tórica, rejeitou o pedido de registo argumentan- conjugação também não é suscetível de cumprir
do com a dificuldade de representação gráfica, esses requisitos, nomeadamente os de clareza e
considerando ainda que a fórmula química não de precisão”.
representava o odor e também não possuía um Em concreto, sobre as três formas de re-
nível suficiente de inteligibilidade, clareza e pre- presentação indicadas por Sieckmann, refere
cisão. o TJUE que fórmula química não é suficiente-
O Tribunal Bundespatentgericht (Alema- mente inteligível, que não representa o odor
nha), para o qual Sieckmann tinha recorrido, de uma substância, mas a substância enquanto
submeteu duas questões ao TJUE. À primeira tal, não sendo também suficientemente clara e
questão “Deve o artigo 2.° da Diretiva 89/104/ precisa. Quanto à descrição de um odor, refere
CEE do Conselho, de 21 de Dezembro de 1988, que, ainda que gráfica, não é suficientemente
que harmoniza as legislações dos Estados-Mem- clara, precisa e objetiva. Quanto à apresentação
bros em matéria de marcas, ser interpretado no de uma amostra de um odor, entende o TJUE
sentido de que o conceito de ‘sinais suscetíveis que não constitui uma representação gráfica na
de representação gráfica’ apenas compreende os aceção do artigo 2.° da diretiva e que além disso,
sinais que possam ser diretamente representa- uma amostra de um odor não é suficientemente
dos na sua forma visível? Ou devem considerar- estável ou duradoura.
-se nele incluídos também os sinais que, ainda Deste processo resultaram sete critérios
que não sejam visualmente percetíveis — por específicos que ficaram conhecidos com os
exemplo, odores ou sons — possam ser indi- “Sieckmann Criteria” que referem que um si-
retamente representados por outros meios?” nal deve ser claro (não ambíguo), preciso (por
o TJUE respondeu, entre muitas outras consi- exemplo, uma cor não pode simplesmente ser
derações que “Nestas condições, há que inter- descrita como “roxo”), autónomo (por exem-
pretar o artigo 2.° da diretiva no sentido de que plo, notas de música), facilmente acessível (por
um sinal que não é, em si mesmo, suscetível de exemplo, a base de dados internacional Panto-
ser visualmente percetível pode constituir uma ne), inteligível, durável (a representação gráfi-
marca, desde que possa ser objeto de represen- ca deve permanecer consistente) e objetivo. Na
tação gráfica. Esta representação gráfica deve verdade, quando se trata de marcas olfativas, a
permitir ao sinal ser representado visualmen- jurisprudência Sieckmann não é contra o seu
te, nomeadamente através de figuras, linhas ou registo per se, afirmando que não é necessário
caracteres, de modo que possa ser identificado que um sinal seja percebido visualmente, des-
com exatidão”.
À segunda questão “Em caso de resposta 6Case R 7/97-3 Orange Personal Communications Service Ltd.
[1998] E.T.M.R., 337, para. 10; compare Turner-Kerr, OHIM-re-
afirmativa à segunda parte da primeira ques- gistration of olfactory mark, note 11 above, p. N20.
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ARTIGO

de que possa ser representado graficamente. dência Sieckmann.


Refere o acórdão Sieckmann, no conside- Regulamento (UE) 2015/2424
rando 63 que “a simples indicação da fórmula O sucesso da marca comunitária e a ne-
química a título de representação gráfica de um cessidade de introduzir novas regras levaram
odor não permite concretizar esta representa- à aprovação do Regulamento (UE) 2015/2424
ção de maneira determinada, em razão de di- do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de
versos fatores que incidem sobre o modo como dezembro de 2015, que altera o Regulamento
essa representação é efetivamente percetível, (CE) n.º 207/2009 do Conselho sobre a marca
como a concentração e a quantidade, a tempe- comunitária e revoga o Regulamento (CE) n.º
ratura ou o suporte do odor”. O TJUE entende 2869/95 da Comissão relativo às taxas a pagar
que a descrição de uma fórmula química não ao Instituto de Harmonização do Mercado In-
é legível ou clara, nem precisa em relação ao terno (marcas, desenhos e modelos) e a Dire-
odor e que o cheiro não estava representado, tiva (UE) 2015/2436 do Parlamento Europeu e
mas apenas a substância. Entende igualmen- do Conselho, de 16 de dezembro de 2015, que
te o TJUE que o depósito de amostras de odor aproxima as legislações dos Estados-membros
não é suficientemente estável ou durável, pois em matéria de marcas.
as propriedades dessas amostras perdem suas O Regulamento (UE) 2015/2424 entrou em
propriedades e sua essência ao longo do tempo. vigor em 23 de março de 2016, sendo que inclui
Esta jurisprudência Sieckmann veio difi- uma série de disposições que só entrarão em vi-
cultar muito o registo de marcas olfativas de- gor em 1 de outubro de 2017, uma vez que tive-
fende Karapapa (2010), sendo mesmo conside- ram de ser complementadas por legislação deri-
rado quase impossível esse registo para alguns vada que consiste no Regulamento de Execução
autores como Bainbridge (2004) ou Vaver (UE) 2017/1431 da Comissão de 18 de maio
(2005). de 2017 Regulamento de execução e no Regu-
Com o Regulamento (UE) 2015/2424 fi- lamento delegado C(2017)3212 C(2017)3212,
cheiros CAD, gravações musicais, vídeos, ou- que revoga os Regulamentos (CE) nº 2868/95
tras formas de representação que não cum- e (CE) nº 216/96.
priam os “Sieckmann Criteria” vão poder ser Com este novo diploma todas as referências
utilizados no registo de uma marca, nomeada- a “comunitário/a” foram alteradas para “União
mente olfativa, sem representação gráfica. Europeia”; a marca comunitária passou a de-
O homem possui dez milhões de rece- signar-se marca da União Europeia; o Instituto
tores olfativos, com capacidade para reconhe- de Harmonização do Mercado Interno – IHMI
cerem mais de dez mil aromas diferentes, atra- passou a denominar-se Instituto da Proprieda-
vés de molécula voláteis que entram no nariz, de Intelectual da União Europeia – EUIPO.
que estimulam uma célula olfativa, que envia Das múltiplas alterações introduzidas pelo
um impulso nervoso para o cérebro e só depois Regulamento (UE) 2015/2424 referimos com
sentimos o odor. Mas depois a idade, o sexo, a grande inovação o facto de a marca deixar de
experiência e muitos outros fatores alteram a ter necessidade de ter representação gráfica da
forma como sentimos o mesmo odor. Assim, mesma. Passa a ser possível registar como mar-
ainda não se conseguiu criar um mecanismo ca da União Europeia um sinal suscetível de ser
que crie uma classificação única de aromas o representado sob qualquer forma adequada,
que dificulta muito a identificação e a descri- utilizando uma tecnologia geralmente disponí-
ção de um aroma. vel, e assim deixa de necessariamente ser repre-
Na ausência de um sistema de classificação sentada através de meios gráficos, bastando que
internacionalmente reconhecido para aromas é sejam distintivos e sejam identificados de forma
impraticável a concessão de uma marca olfati- clara e precisa (ex. hologramas ou marcas digi-
vas sem esta cumprir os critérios da jurispru- tais, sons, cores, movimentos ou táteis).
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De acordo com o nº 1 do artigo 3º do Regu- uma classificação geral de cores reconhecida


lamento de Execução (UE) 2017/1431 “A marca (por exemplo, um código Pantone). Também
deve ser representada sob qualquer forma ade- será possível arquivar marcas multimédia por
quada utilizando uma tecnologia geralmente meio de um arquivo “mp4” sem uma descrição
disponível, desde que possa ser reproduzida no e as marcas de som podem ser arquivadas com
registo de uma forma clara, precisa, autónoma, um arquivo “jpg” ou “mp3” sem descrição adi-
facilmente acessível, inteligível, duradoura e cional.
objetiva, de modo a que as autoridades compe- No parágrafo nº 1 alíneas a) a j) do artigo 3º
tentes e o público determinem de maneira cla- do Regulamento de Execução (UE) 2017/1431
ra e precisa o objeto da proteção assegurada ao encontramos uma lista dos tipos mais popula-
seu titular”. Continua sem resposta saber como res de marcas, a sua representação, a indica-
e com que forma os aromas serão apresentados ção se é necessária uma descrição e o formato
na EUIPO e se esta validará esse tipo de apre- aceite. O site da EUIPO apresenta uma tabela
sentação como suficientes para efetuar o registo resumo com os dados necessários para efetuar
de uma marca olfativa. o registo de uma marca da União Europeia, on-
Com as novas regras as marcas figurati- de não se encontra referência à marca olfativa e
vas, as marcas de forma e as marcas de posi- aos seus requisitos para registo, o que confirma
ção podem ser registadas enviando um arquivo as dificuldades que irão surgir na apresentação
“jpg” sem necessidade de descrição. As marcas dos primeiros pedidos de marcas olfativas.
de cores, que consistem em uma única cor ou Na transição do Regulamento (CE) nº 40/94
uma combinação de cores, agora podem ser re- para o Regulamento (UE) 2015/2424 verifica-
presentadas por meio de um arquivo “jpg” sem mos um aumento de seis para treze nos tipos de
uma descrição, embora seja obrigatório incluir marcas identificadas pela EUIPO, mas a marca
uma indicação da(s) cor(es) por referência a olfativa continua sem fazer parte desta lista.
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Considerações finais exigir com a entrega do pedido de registo. Não é


Com a aprovação do recente Regulamento assim, ainda garantido o registo de marcas olfa-
(UE) 2015/2424 do Parlamento Europeu, entre tivas na União Europeia.
outras inovações, este vem definir que a mar- Para muitas marcas não tradicionais (ex.
ca da União Europeia deixa de ter necessidade movimento, multimédia, holográfica) passou a
de ter representação gráfica, passando assim a ser possível o seu registo, em face à não obriga-
ser possível registar como marca da União Eu- toriedade de representação gráfica, bastando por
ropeia um sinal suscetível de ser representado exemplo um ficheiro “mp4”. No caso da marca
sob qualquer forma adequada, utilizando uma olfativa, com a tecnologia actualmente existente,
tecnologia geralmente disponível, e assim deixa é difícil cumprir os requisitos do Regulamento
de necessariamente ser representada através de 2015/2424, mas com os desenvolvimentos tec-
meios gráficos, bastando que sejam distintivos e nológicos futuros será possível o registo de mar-
sejam identificados de forma clara e precisa (ex. cas olfactivas.
hologramas ou marcas digitais, sons, cores, mo- A questão de como uma marca olfativa pode
vimentos ou táteis), o que parece abrir o caminho ser representada de forma clara, precisa, autóno-
ao registo de marcas olfativas. ma, facilmente acessível, inteligível, duradoura e
Assim, a principal exigência resultante da ju- objetiva, ainda não foi resolvida. Sem representa-
risprudência Sieckmann (representação gráfica ção gráfica ou captação e descrição técnico-cien-
da marca) é agora desnecessária e cumprindo-se tífica do aroma, as marcas olfativas enfrentam o
os requisitos previstos neste acórdão (um sinal obstáculo adicional de falta de objetividade, pois
deve ser claro (não ambíguo), preciso (por exem- a perceção de aroma é individual e depende da
plo, uma cor não pode simplesmente ser descrita capacidade sensorial do destinatário. O registo
como “roxo”), autónomo (por exemplo, notas de de uma marca olfativa dependerá principalmen-
música), facilmente acessível (por exemplo, a ba- te do desenvolvimento técnico de dispositivos
se de dados internacional Pantone), inteligível, acessíveis que possam capturar e reproduzir aro-
durável (a representação gráfica deve permane- mas de tal forma que permaneçam inalterados
cer consistente) e objetivo) será possível registar no tempo e ainda que fiquem acessíveis através
uma marca olfativa na União Europeia. do registo da EUIPO.
Mas no parágrafo nº 1, alíneas a) a j) do artigo
3º do Regulamento de Execução (UE) 2017/1431 Referências
encontramos uma lista de tipos de marcas (No- AHUJA, V.K. (2010). Non-traditional trade marks:
minativa, Figurativa, Tridimensional, Posição, new dimension of trade marks law. E.I.P.R., 32(11),
Padrão, Cor (única), Cores (combinação), Sono- 575-581.
ra, Movimento, Multimédia e Holográfica) e não ASCENSÃO, J. O., (2000). Marca Comunitária e
aí há referência às marcas olfativas. Este Regula- Marca Nacional. Revista da Faculdade de Direito
mento de Execução veio alargar os tipos de mar- da Universidade de Lisboa, XLI (2), 563-594.
cas disponíveis para registo, mas não incluiu a
marca olfativa, o que vai dificultar o seu registo, BAINBRIDGE, D. I. (2004). Smell, sound, colour
que não está padronizado como os restantes ti- and shape trade marks: an unhappy flirtation?.
pos de marcas identificadas neste Regulamento Journal of Business Law, 2, 219-246.
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olfativas, a partir de 1 de outubro de 2017, mas
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ainda não são conhecidos os requisitos que vai
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ARTIGO

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-e-scripta/articles/trademarks-registration-smell- em Integração Europeia), pela Faculdade de Direito da Universi-
dade de Coimbra e Doutor em Direito, na área de especialização
-EU.htm em Ciências Jurídico-Comparatísticas (Direito Comunitário) pela
mesma Faculdade, em 2006. Foi Diretor do INDEA. É Professor
SILVA, P.S. (2011). Direito Industrial – Noções Coordenador da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Insti-
Fundamentais, Coimbra: Coimbra Editora. tuto Politécnico de Leiria, desde 2012, e coordena a licenciatura em
Administração Pública na ESTG-IPL.
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Sound branding e o
silêncio das marcas:
Conexões íntimas por
minimalismos sonoros.

1
Ticiano Paludo
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Resumo: Resumén:
O presente artigo aborda o campo do sound El presente artículo aborda el campo del sound
branding, área destinada à utilização do som branding, área destinada a la utilización del so-
como elemento integrante do processo de bran- nido como elemento integrante del proceso de
ding das marcas. A partir da explanação sobre branding de las marcas. A partir de la explicación
diferentes tipos de peças sonoras publicitárias, sobre diferentes tipos de piezas sonoras publici-
o texto discute como tornar-se relevante e fazer- tarias, el texto discute cómo llegar a ser relevante
-se escutar em um mundo cada vez mais ruidoso, y hacerse escuchar en un mundo cada vez más
mediante a exploração do silêncio e da filtragem ruidoso, mediante la exploración del silencio y
do som como diferenciais. A busca pela leveza do del filtrado del sonido como diferenciales. La
som é apontada como saída a um mundo carre- búsqueda por la ligereza del sonido es apuntada
gado de estímulos e carente de conexões verda- como salida a un mundo cargado de estímulos y
deiras e significados marcantes. carente de conexiones verdaderas y significados
marcantes.
Palavras-chave: sound branding; silêncio; áu-
dio publicitário Palabras-clave: sound branding, silencio, pu-
blicidad de audio

Abstract:
This article approaches the sound branding field, Résumé:
an area dedicated to studying the use of sound Cet article traite du domaine du sound branding,
as an integral element of the branding process. un espace dédié à l’utilisation du son en tant que
From explanation on different types of sound partie intégrante du processus de marque. À par-
pieces used in advertising, the text explains how tir de l’explication de différents types de pièces
to become relevant, and be heard in an increa- sonores publicitaires, le texte explique comment
singly noisy world, through the exploration of devenir pertinent et se faire entendre dans un
silence and sound filtering as differentials. The monde de plus en plus bruyant, en explorant le
search for the lightness of sound is pointed out silence et en filtrant le son comme des différen-
as an exit to a world full of stimuli and lacking in ces. La quête de la légèreté du son est présentée
real connections and relevant meanings. comme un moyen de sortir d’un monde chargé
de stimuli et dépourvu de véritables connexions
Keywords: sound branding, silence, audio ad- et de significations frappantes.
vertising audio
Mots-clés: sound branding, silence, publicité
audio
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Introdução melodia (as notas que ancoram o texto, execu-


Muito tem se escrito e pesquisado sobre tadas de forma horizontal, linear e sequencial,
sound branding (também conhecido como au- através do canto); e uma harmonia (conjunto
dio branding, sonic branding ou acoustic bran- de progressões verticais de notas musicais, cha-
ding), área do conhecimento destinada a dar madas de acordes, que ancoram a melodia e dão
conta de todas as manifestações sonoras utiliza- sustentação à obra musical). Toda a canção cria-
das com finalidade publicitária e na gestão das da, a priori, com finalidade publicitária (isto é,
marcas. No meio universitário, o tema é frequen- funcional) é chamada de jingle. Dentro do meio
temente abordado pela disciplina de áudio publi- do áudio publicitário existe uma área que tem
citário. Nela, é comum adotar-se uma categori- crescido consideravelmente nos últimos anos
zação (PALUDO, 2009) utilizada por produtores denominada de music branding (equivalente à
musicais que visa diferenciar as peças musicais utilização específica de canções artísticas ou tri-
compostas com finalidade publicitária daquelas lhas musicais compostas, e não apenas jingles,
que acabam exercendo esse papel por uma apro- associadas à gestão de marcas). As empresas des-
priação subsequente. O áudio publicitário é tam- ses setor trabalham, principalmente, montando
bém comumente chamado de áudio funcional. playlists para que seus clientes utilizem-nos em
Ele recebe essa classificação pois, obrigatoria- seus pontos de venda, como se tais empresas fos-
mente, tem um papel a cumprir: o de vender al- sem uma espécie de Brand DJs ou curadores de
go. Nesse campo, todo som é uma negociação. O som. Levando-se em conta que o branding é um
áudio publicitário pode ser utilizado, tanto para campo da publicidade que se ocupa de todos os
vender um produto, quanto para propagar uma esforços de comunicação e marketing nessessá-
ideia. Em oposição, a outra faceta é denominada rios para a criação, gerenciamento e manutenção
áudio artístico. Ainda que o áudio artístico seja de uma marca, Guerra (2013, p. 45) aponta que
um produto obviamente vendável (intérprete e no campo do music branding
compositor podem vender a sua obra gravada,
ou sua partitura editada, através de acordos de (...) a música tem o poder de provocar associações.
Como uma ponte mágica, longa o bastante para
licenciamento musical), a sua gênese tem como conectar territórios bem distintos entre si, a mú-
propósito uma criação declaradamente artística. sica é capaz de construir e dar sentido aos mais
Ainda assim, mediante permissão e acordos co- diversos tipos de laços, mesmo aqueles tidos como
impossíveis ou improváveis, (...) laços que criam e
merciais, uma composição artística poderá aca-
reforçam associações entre consumidores e mar-
bar sendo utilizada como elemento publicitário cas, numa relação de troca que gera valor verda-
(ou propaganda), a posteriori. deiro para ambas as partes.
Já que a publicidade tem no seu bojo a obri-
gação de vender, e a arte musical, embora tam- Esse poder de conexão vem de longa data.
bém deva vender (uma vez que o artista profissio- Castanheira e Coelho (2012) rememoram a im-
nal é aquele que vive da sua arte, diferentemente portância que os sinos desempenhavam na Idade
de a arte ser um passatempo), tem uma pressão Média, como signos sonoros associados ao com-
aparentemente menor nesse sentido, ela pode portamento humano, seja para sinalizar o culto
ser vista como mais livre em relação ao fazer pu- litúrgico, como o chamada a uma reunião emer-
blicitário. Dentre os produtos pertencentes ao gencial, ou anúncio de algum momento de peri-
universo do áudio publicitário, um dos mais co- go para a comunidade. Buscando um referencial
nhecidos é o jingle (PALUDO, 2009). Para com- no passado, percebe-se que isso ocorria porque
preender o jingle, primeiro se faz necessário re- desde os tempos primitivos o homem aprende-
tomar o conceito referente à canção (PALUDO, ra a utilizar a audição como instrumento de lo-
2017). Uma canção é uma composição autoral calização e sobrevivência, fugindo de eventuais
musical que possui os seguintes elementos fun- predadores e encontrando caças potenciais para
dadores: uma letra (o texto a ser cantado); uma sua alimentação. Nesse sentido, o som funciona
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como sinal de alerta. Assim, pode-se notar que pela utilização de duas ou mais linhas melódi-
a Igreja Católica contribuiu para a utilização do cas, de igual importância. O contraste musical é
som como ferramenta publicitária no badalar de obtido pela combinação de sons e pela oposição
seus sinos litúrgicos, mesmo que naquele perío- de diferentes padrões sonoros.
do a publicidade ainda não fosse sistematizada, Uma das utilizações musicais mais popula-
denominada e reconhecida como é hoje. res dentro da publicidade diz respeito aos jingles.
Sobre a questão da audição, Bennett (1998) Os jingles contemporâneos seguem a estrutura
afirma que todo o som ouvido é causado por al- básica da música pop, ou seja, melodias polifô-
guma coisa que vibra. As vibrações são levadas nicas de fácil compreensão, letras simples, re-
através do ar na forma de ondas sonoras que se frão marcante (muitas vezes o próprio nome do
espalham simultaneamente por todas as dire- anunciante ocupa essa posição, atuando como
ções. Essas vibrações são captadas pelo ouvido um hook publicitário) e repetição (uma vez que
humano, fazendo vibrar os tímpanos. As vibra- a repetição de mensagens constrói os mitos e as
ções são transformadas em impulsos nervosos marcas, nesse caso, a mitologia da marca, ou seja,
que são transmitidas ao cérebro, que as identifica sua ambiência de sedução representada em letra
como tipos diferentes de sons. Os sons musicais e música). Os ganchos (em inglês, hooks) musi-
são compostos de três elementos básicos: altu- cais são formados por uma combinação de letra,
ra (em que medida se revelam os sons graves e melodia e ritmo contagiantes, de fácil assimila-
agudos), volume ou intensidade (em que medida ção e memorização. O estilo musical adotado de-
se revelam os sons fortes e fracos) e timbre (a penderá de uma série de fatores, como conceito
qualidade ou coloração dos sons). da comunicação, público alvo e tipo de produto/
Para Med (1996), a música é a arte de com- serviço/conceito anunciado. Sergl (2010, p. 221)
binar os sons simultânea e sucessivamente, com afirma que
ordem, equilíbrio e proporção, dentro do tempo
(tanto no que diz respeito à duração da uma pe- (…) ao analisarmos o jingle, precisamos ter em men-
te que a propaganda lida com elementos do tempo e
ça, quando ao andamento da sua pulsação). As do espaço na medida e m que reúne passado, presen-
principais partes que constituem a música são: a te e futuro. O passado fixado na memória, o presente
melodia (conjunto de sons dispostos em ordem implícito na observação e o futuro na imaginação.
sucessiva); a harmonia (conjunto de sons dispos-
tos em ordem simultânea); o contraponto (con- Se o ápice da música popular é o refrão, isto
junto de melodias dispostas em ordem simultâ- é, um trecho curto que se repete e que, normal-
nea); e ritmo (ordem e proporção em que estão mente, contém a ideia central da canção ou sua
dispostos os sons que constituem a melodia e a temática evidenciada, Serlg (2010, p. 229) lem-
harmonia). Esses elementos ficam, em parte, ou bra que “o jingle criativo, de real musicalidade,
em totalidade, emaranhados dentro da textura leva o nome do produto a ser repetido incons-
sonora da criação musical. cientemente, na medida em que todos cantam a
Segundo Bennet (1998), a textura sonora é melodia que se fixa na memória”. Essa repetição,
entendida, em composição musical, como uma enquanto forma de prazer e aprendizado já era
trama formada pelos fios de um tecido sonoro. As percebida por Aristóteles, quando ele relatava
texturas monofônicas são simples, constituídas que a tendência para a imitação era instintiva no
de uma única linha melódica, sem harmonia de homem desde a infância. Como afirma Aristóte-
suporte. Como exemplo desse tipo de composi- les (2003 [335 a.C.], p. 30), o homem “(…) distin-
ção, tem-se o contochão dos primeiros tempos da gue-se de todos os outros seres, por sua aptidão
Igreja cristã, as danças e canções medievais, e boa muito desenvolvida para a imitação. Pela imita-
parte da música produzida pela cultura oriental, ção adquire seus primeiros conhecimentos, por
como a chinesa, indiana, japonesa e dos países ela todos experimentam o prazer”. Deste modo,
árabes. As texturas polifônicas caracterizam-se o jingle convida o ouvinte a entoar repetidamen-
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te o mantra de sua mensagem publicitária, seja elementos básicos podem coexistir, existir par-
mental ou verbalmente, mimetizando e assimi- cialmente, ou existir de modo isolado, dentro de
lando tal mensagem. Seja no viés artístico, ou no um fonograma.
funcional, ouvir diz respeito a estímulos sonoros, Dispondo da paleta base de opções (voz, ru-
simples sinais. O ato de escutar é mais complexo, ído, trilha musical e silêncio), figuram os spots,
refere-se à produção de sentido. O jingle deve se peças radiofônicas comerciais que contém, no
fazer ouvir e escutar. mínimo, locução, podendo ser acrescidos dos
Piratininga (1994) afirma que a civilização demais elementos citados. Os spots são constitu-
industrial se desenvolveu à medida em que todas ídos de uma narrativa curta, normalmente com
as formas da atividade criadora foram gradativa- duração de trinta segundos, e encadeamento ló-
mente subordinadas à racionalidade instrumen- gico, com início, meio e fim facilmente detectá-
tal e à necessidade de acumulação de capital. A veis. Esse tipo de narrativa sonora vai desde um
criatividade artística foi, progressivamente, co- simples áudio informativo que destaca as funcio-
locada a serviço do consumo. Os impulsos mais nalidades, benefícios e diferenciais do produto/
elementares do homem, gerados pela necessida- serviço anunciado, até uma representação de fa-
de de se auto-identificar e de se situar no uni- tos cotidianos narrados em forma de estória, co-
verso, sempre foram forças motrizes do processo mo, por exemplo, um casal conversando em uma
criativo. Tendo em mente que o ser humano é um praia sobre onde vão passar as próximas férias.
ser cada vez mais imerso em um universo simbó- Os ruídos, também chamados de efeitos sonoros,
lico, o fazer artístico tem a capacidade de emol- as trilhas musicais e a intenção de interpretação
durar em simulacros de realidade um conjunto dos locutores temperam a mensagem publicitá-
de emoções e sentimentos. Simulacros, pois a ria auditiva. O spot é um primo próximo das ra-
obra de arte sempre é uma aproximação selecio- dionovelas, gênero que ficou muito popular na
nada de aspectos da realidade que busca espe- primeira metade do século XX (daí que os spots,
lhar e transmitir leituras sobre essa realidade. Se muitas vezes, além de anunciar algo, contam uma
a arte reveste de valores simbólicos os objetos do trama por meio de diálogos de personagens). As-
mundo, o mesmo fazem a publicidade e a pro- sim, é possível conduzir o ouvinte durante a au-
paganda, com os produtos, serviços e conceitos dição para cenários específicos nos quais os tem-
que ajudam a construir e fazer reverberar. Ainda peros sonoros se encarregam de fornecer códigos
que arte seja arte, e publicidade seja publicidade, que permitam a ele sintonizar-se com a mensa-
em um mundo cada vez mais plural, sua relação gem no tempo e no espaço. Spots e jingles são as
simbiótica é pertinente e necessária. peças mais conhecidas e utilizadas no meio pu-
Além dos jingles, outras peças fazem parte blicitário, mas veremos que as alternativas não
do repertório do áudio publicitário. Para com- se esgotam nessas duas modalidades.
preendê-las, precisamos definir o que se entende Independente de utilizar-se spots ou jingles,
por fonograma. Os fonogramas (entendidos co- o desafio do áudio publicitário é trabalhar com
mo qualquer tipo de sons convertidos em áudio), o som de forma comprimida, condensada em
sejam eles publicitários, ou não, são compostos fonograma, que evoque o espírito das marcas,
por quatro elementos básicos: voz (que pode informe, seduza, e provoque um movimento em
cantar ou existir em forma de locução), a trilha direção à venda. Trata-se de um micro-universo
músical (músicas ou melodias de qualquer espé- que representa um macro-universo. Diariamente
cie), os ruídos (que podem ser naturais, como a somos bombardeados por todo o tipo de estímu-
captação de um som do cotidiano, como o som los (sinais) sonoros, voluntários e involuntários,
do vento, ou o bater de uma porta, ou um som e nessa ciranda sônica, se fazer escutar torná-se
sintetizado, como o ruído característico do sabre uma tarefa que exige estratégia e competência.
de luz do personagem Darth Vader, do filme Star Izquierdo (2011, p. 11 – grifo do autor) descreve
Wars, de George Lucas) e o silêncio. Esses quatro esse ambiente:
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Os físicos chamam de ruído ao conjunto de todas as musicais ambiente, ar-condicionado, escadas ro-
informações, entre os quais é difícil distinguir as que
lantes, corredores, caminhar das pessoas, nível e
realmente nos interessam, aquilo que os físicos cha-
mam de sinais. No meio da balbúrdia generalizada tom de conversa dos vendedores e dos consumi-
queremos ouvir a voz que nos chama; no meio da dores, etc.
multidão de cartazes coloridos precisamos distin- A discussão do positivismo ou negativismo
guir a placa com o nome da rua. A voz e a placa são os
sinais. O resto é ruído. O ruído é causado pela supe- do ruído não é recente, e divide musicólogos, co-
rexposição de tantos sinais, que fica difícil distinguir municadores sociais e artistas. Reconhecido por
uns dos outros. O ruído nos atordoa e nos confunde. seus brilhantes trabalhos envolvendo música e
ruídos, o compositor e pesquisador John Cage
Embora sejamos frequentemente desaten- (2017 [1991]) encara a audição musical como um
tos, os ouvidos não são feitos para ouvir, mas discurso no qual o artista fala para sua audiência
para escutar. A escuta é uma habilidade ativa. sobre seus sentimentos, suas ideias, e suas re-
Enquanto ouvir é passivo, a escuta é algo que de- lações com o mundo. Já, a audição de uma pai-
ve ser trabalhado. Trata-se de uma relação com sagem sonora urbana é percebida por ele como
o som. O problema da escuta é que muito do que uma efusão pura e simples de som, oscilando en-
ouvimos é ruído (aqui no sentido de interferên- tre grave e agudo, entre baixo e alto. Nesse plano,
cia, ou ausência de sentido e interesse), que nos não distingue-se onde o som começa ou termina,
rodeia o tempo todo. Como explana Maffesoli nem tem-se um tempo ou espaço claramente de-
(2010, p. 59), “só tem sentido (significação) aqui- finidos. Diferente dos ruídos cotidianos, as obras
lo que tem um sentido (finalidade)”. A poluição musicais podem ser mais facilmente localizadas
sonora excessiva, por exemplo, causa danos à no tempo e no espaço, assim como deve ocorrer
saúde, justamente por promover uma sobrecarga com o som para publicidade. Cage afirma que “as
de lixo sonoro. pessoas acreditam que ouvir seja mais algo que
Schafer (2001) chama à toda gama de sons escutar, e por isso falam de uma compreensão
que nos rodeiam de paisagem sonora (também interior, ou sobre o significado dos sons”. Mas
conhecida por soundscape). Tal paisagem é com- para ele, a beleza dos sons, independente de se-
preendida pelo autor como qualquer campo de rem uma música ou um conjunto disforme de ru-
estudo acústico. Pode referir-se a uma composi- ídos, está centrada na ideia de que cada som or-
ção musical, a um programa de rádio, ou mesmo ganizado, ou um conjunto de sons desordenados,
a um ambiente. Diferente da paisagem visual, sejam fascinantes pelo simples fato de existirem,
que é enquadrada pelo nosso olhar de forma sele- sem a necessidade de se atribuir-lhes um signi-
tiva, a paisagem sonora nos invade, independen- ficado particular. Nessa proposta, cabe deixar-se
te do nosso interesse. Como diz Schafer (2001, levar pelo som, em uma experiência estética des-
p. 24), “uma paisagem sonora consiste de even- compromissada. Porém, o mesmo não pode ser
tos ouvidos e não em objetos vistos”. A paisagem dito do áudio publicitário, no qual a organização
sonora publicitária não se restringe aos jingles e seleção adequada dos sons garante a eficácia, a
e aos spots, mas engloba as trilhas sonoras dos aderência e o entendimento da mensagem.
comerciais em vídeo (que incluem diálogos, ru- Wisnik (1989) diz que a natureza oferece dois
ídos e trilhas musicais), as U.R.As (Unidades de grandes modos de experiência de onda sonora:
Resposta Audível, muito utilizadas, por exemplo, frequências regulares, e frequências irregulares.
nos estacionamentos de shoppings para indicar As regulares apresentam sons constantes e está-
ao ouvinte instruções do tipo “retire seu ticket”, veis, como aqueles que produzem o som afinado,
ou “obrigado e volte sempre”), ao anúncio de com altura definida. Já as irregulares caracteri-
vendedores ambulantes que bradam suas ofertas zam-se por sons inconstantes e instáveis, como
a plenos pulmões e, sobretudo, ao som ambiente barulhos, manchas, rabiscos sonoros e ruídos.
nos pontos de venda, que incluem toda a sorte Fazendo uma analogia ao corpo humano, o autor
de elementos geradores de som, como trilhas sugere que a batida do coração corresponde a um
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som regular, enquanto um espirro, similar a um desenvolvendo direção à mais complexa polifonia e
trovão, tende à descontinuidade ruidosa. Para em direção à maior variedade de timbres ou de colo-
Wisnik (1989, p. 27), o ruído pode ser entendi- ridos instrumentais, buscando as mais complicadas
sucessões de acordes dissonantes e preparando va-
do como “uma mancha em que não distinguimos gamente a criação do ruído musical.
frequência constante, uma oscilação que nos soa
desordenada”. Ao elaborar-se uma composição Russolo aponta que os antepassados do sé-
musical, o compositor equilibra as ondas sono- culo XVIII não estariam prontos a compreen-
ras, como se ele se opusesse a todos os ruídos der e aceitar tal grau de dissonância, mas que
desordenados, encadeando-os de forma harmo- o homem do século XX estava gradualmente se
niosa, conferindo um sentimento de organização acostumando a um mundo mais ruidoso e, por-
e segurança. As dissonâncias “organizadas” tam- tanto, encararia com mais naturalidade tal tipo
bém fazem parte do mundo, podendo represen- de pensamento musical. Encarar o ruído como
tar um novo nível na criação musical. som positivo, significava expandir o leque de
No início do século XX, Russolo (2009 [1913]) emoções acústicas, provar novos sabores sono-
vislumbrava o surgimento de um novo caminho ros, e estar exposto a novos estímulos auditivos.
de possibilidades sonoras, aquele no qual os ru- Se compositores como Ludwig van Beethoven e
ídos seriam domesticados e inseridos nas com- Richard Wagner já haviam provocado os ouvin-
posições musicais. Para ele, se a vida antiga era tes com suas complexas e perturbadoras obras,
composta de silêncio, a era brindada com uma agora os limites precisavam avançar, e o ruído
vasta gama de oportunidades a serem explora- se mostrava como uma saída perspicaz para sa-
das. A expansão das ruidosas máquinas daque- tisfazer ouvidos que desejavam ser conquistados
le período (marcado pela Revolução Industrial) com novas estratégias estimulantes. Russolo es-
representava, não só uma inovação tecnológica, tava certo em reivindicar a busca por novos so-
mas uma latente e possível ressignificação do ru- noridades, o que de fato ocorreu décadas depois,
ído como integrante do corpus sonoro universal. com a música concreta e com a atual música ele-
Como aponta o autor (2009, p. 52), trônica. O que ele não previra foi que a poluição
sonora tomaria de assalto as ruas e os lares do
a arte musical buscou e obteve principalmente a
pureza, a limpidez e a doçura do som, em seguida século XXI, e que o ruído que ele tanto queria
combinou sons diversos, preocupando-se no entan- significar, quando utilizado em excesso, causaria
to com acariciar os ouvidos com suaves harmonias. mais desconforto do que admiração.
Hoje a arte musical, complicando-se cada vez mais,
busca as combinações de sons mais dissonantes, Além de todas as peças publicitárias de áudio
mais estranhos e mais ásperos para os ouvidos. referenciadas até aqui, outro tipo marcante me-
Aproximamo-nos assim sempre mais do som-ruído. rece destaque. No século XIX, o já citado Wag-
ner contribuiu, involuntariamente, para o flores-
Russolo entendia que a música produzida cimento do áudio publicitário nos séculos XX e
com instrumentos tradicionais já não causava XXI, que serviu-se de um artifício narrativo uti-
impacto ou estranhamento. A utilização de fontes lizado e propagado por ele em suas óperas, apro-
alternativas de material sonoro, no caso, o som priado e ressignificado no futuro. Trata-se do
das máquinas, poderia representar uma inovação leitmotiv (ou motivo condutor), técnica na qual
consistente e uma libertação das amarras às quais uma melodia ou passagem musical é apresenta-
a criação estava submetida. À medida em que as da, de forma repetida, como signo que evoca a
composições polifônicas foram se tornando mais presença de um personagem, uma cena ou de-
elaboradas e complexas, a utilização de dissonân- terminada sensação. Embora essa herança possa
cias sonoras já antevia que o ruído seria um ponto ser percebida em diversas aplicações publicitá-
de fuga capaz de, novamente, sensibilizar a audi- rias sonoras, sua mais expressiva reencarnação
ência. De acordo com Russolo (2009, p. 52), encontra-se nos logotipos sonoros (também
para exercitar a nossa sensibilidade, a música foi se
chamados, em inglês, de sonic logos ou audio
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logos), peças de curtíssima duração que evocam som das marcas, pouco se discute sobre o poder
uma marca de forma ultra-sintética. Os logotipos de comunicação do silêncio. Por isso, indo, em
sonoros podem ser compostos por uma melodia certo sentido, contra Russolo, e querendo reto-
curta, um acorde (ou pequena progressão musi- mar o mundo menos poluído sonoramente, este
cal), um ruído característico, ou alguma expres- artigo levanta essa questão: O silêncio das marcas
são da voz humana (locução, ou qualquer outro não seria tão importante quanto o som das mar-
tipo de manifestação vocal). Desde que seja curto cas? Wisnik (1989) relata que não há som sem
(entre um e sete segundos, aproximadamente), pausa. O som é composto de presença e ausência,
pode servir-se de mais de um elemento constru- e, consequentemente, permeado de silêncio. Há
tor, como, por exemplo, um ruído acrescido de sempre som dentro do silêncio: mesmo que es-
uma locução, ou uma melodia acrescida de um tivéssemos fechados em uma cabine à prova de
ruído. Alguns dos mais reconhecidos mundial- som, ouviríamos os sons produzidos por nosso
mente são o da Motorola1 e o da Intel2. No Brasil, corpo, o som grave da nossa pulsação sanguínea,
o chamado “plim plim”3 da Rede Globo de TV e o agudo do nosso sistema nervoso. Portanto,
marcou gerações, pontuando o início e o término silêncio não é ausência total de som, mas uma
dos intervalos comerciais durante a exibição dos filtragem controlada do som.
programas da emissora. Cage (2017) comenta que a experiência so-
Escolher qual som deve ser associado a uma nora que ele prefere é o silêncio, e que hoje, em
marca, e qual tipo de peça será mais eficiente quase todo o mundo, o som do silêncio é o som
nesse esforço de representação, requer atenção e do trânsito de automóveis. Portanto, o silêncio
um cuidado criterioso. Como visto, a representa- de Cage não é o mesmo que esse artigo defende.
ção de ideias e sentimentos por meio da música Treasure (2010) encara o silêncio como algo be-
e do ruído, e a domesticação do som, desafiam, lo. Segundo o autor, “os Elizabetanos descreviam
igualmente, compositores e publicitários. Seja a linguagem como o enfeite do silêncio”. Paine
no recorte do áudio funcional, ou do áudio artís- (2017 [2012]) ressalta que “o silêncio é algo que
tico, todos querem significar algo relevante para precisamos cultivar para entendermos a nós
suas audiências. Caso contrário, correm o risco mesmos e aos outros”. A barulheira do mundo
de não significar, pouco significar, e de serem atual existe, pois as pessoas estão ansiosas pa-
engolidos e eclipsados dentro da paisagem so- ra serem ouvidas, embora mais ouvidas do que
nora dos ouvintes, soterrados em uma entropia escutadas. Falar mais alto é clamar por atenção
inaudível. Minsky e Fahey (2017) defendem que em meio a um caos sonoro. Um dos componentes
o audio branding vai muito além de um jingle ou que torna possível a escuta é, justamente, o silên-
um som específico: trata-se de um sistema sono- cio. A autora questiona se estamos nos permitin-
ro baseado na essência, visão, valores, promessas do o silêncio. Quantas pessoas entram em seus
e personalidade. Assim como ocorrem com ou- carros, ou em suas casas, e ligam o rádio, a TV,
tras formas de expressão da marca, como o logo ou a internet para ver vídeos ou ouvir música,
e o slogan, os sons escolhidos para representá-la quase que automaticamente, em um moto per-
também são adaptáveis às interfaces nas quais a pétuo de som? Mesmo em aplicativos de mensa-
marca venha a se expressar. Trata-se da paisa- gens instantâneas, nos quais a fala e substituída
gem sonora da marca. pelo texto digitado, sons são emitidos para avisar
Embora muito se pesquise e estude sobre que a mensagem foi enviada e recebida. Trata-se
de um comportamento instintivo e inconsciente
1Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=IoY_JTbwr- pela busca constante de estímulos sonoros ou au-
RU> Acesso em 20/06/2017. diovisuais que não permitem um esvaziamento
2Disponível em <https://www.youtube.com/ salutar. Quantos saem ao ar livre, em atividades
watch?v=OHjKDdXCR3I> Acesso em 20/06/2017.
como caminhar em um parque, e colocam seus
3Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=-
-jYz8HZL7yU> Acesso em 20/06/2017.
fones de ouvido, desconectando-se do ambiente,
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imersos em suas bolhas sonoras? A autora re- uma força motriz de crescimento e reencontro
comenda: “Se retornar a sua casa após o traba- com a essência do ser:
lho, e ela estiver vazia e silenciosa, mantenha o
silêncio”. Pessoas que sabem ouvir, mas, acima Essa doença, qualquer que tenha sido sua natureza,
provoca em Goya uma grande mudança. A surdez é
de tudo, querem escutar, provavelmente se sen- para ele uma enfermidade menos dramática do que
tem confortáveis com o silêncio. Em um diálogo, para esse contemporâneo ao qual as pessoas gos-
quem só ouve, tende, em muitos casos, a ficar tam de compará-lo, Beethoven; no entanto, o efeito
é igualmente decisivo. A noite auditiva na qual ele
preocupado não com o que é dito, mas com o que
está mergulhado vai obrigá-lo a abrir mais os olhos.
será dito a seguir, e absorve pouco, ou quase na- Sua maneira de pintar, mas também de se condu-
da, do que o interlocutor está dizendo, pois não zir, torna-se diferente. A perda de contato com o
escuta, e está mais interessado em sua próxima mundo exterior e a impossibilidade de comunicar-
-se oralmente, que reforçam sua solidão, aguçam
fala do que na fala do outro. Esse traço é muito seu sentido de visão e ao mesmo tempo incitam-no
comum, na atualidade, e os diálogos se parecem a focalizar-se antes de tudo em seu interior, a explo-
com competições para ver quem fala mais, como rar sua própria imaginação. (...) Pode-se afirmar (...)
que aquilo que fez a desgraça de Goya produziu a
se o que o interlocutor diz fosse um obstáculo à felicidade dos incontáveis espectadores de suas ima-
sua expressão, e não um momento de diálogo, gens, pois é a partir desse momento que o ambicioso
mas a interrupção de um monólogo débil. pintor de talento se torna um gênio.
Como visto anteriormente, a entropia sono-
ra a que somos submetidos diariamente provoca Precisamos retomar a invaginação do senti-
um stress nas pessoas, e igualmente, nas marcas. do, termo que Maffesoli (2010) utiliza para de-
O silêncio remete à paz, à limpeza, a uma sala signar um retorno à natureza essencial das coi-
vazia, a um ponto de partida, a um quadro a ser sas. Esse encontro com o Eu carece de espaço,
pintado, a um livro a ser escrito, a uma música a de silêncio, de leveza. Como percebe Lipovetsky
ser composta, a um campo de possibilidades. O (2016, p. 14), “as agendas estão saturadas, a vida
silêncio parece algo aterrorizante em uma socie- é complicada, a depressão faz estragos, os pro-
dade que só quer falar. Tal fato pode-se percebido blemas se multiplicam, tudo estressa. Trocamos
na narrativa ficcional de Kundera (1983, p. 63): o sonho da revolução e da liberação total pelo
sonho da leveza”. No campo do sound branding,
Havia um detalhe horrível no princípio do sonho: tanto a academia (pesquisadores), como o mer-
todas as mulheres tinham de cantar! Não somente cado (clientes e sound designers) estão sempre
seus corpos eram idênticos, igualmente desvaloriza- perseguindo o som das marcas, esquecendo-se
dos, simples mecanismos sonoros e sem alma, mas
as mulheres ainda se alegravam com isso! (...) Fica- de refletir sobre o silêncio das marcas. O silên-
vam felizes por terem se livrado do fardo da alma – cio das marcas proposto aqui diz respeito a uma
essa ilusão da diferença, esse orgulho ridículo – e de outra forma de se pensar o sound branding, um
serem todas semelhantes. Tereza cantava com elas,
mas sem alegria. Cantava porque temia que, se não
ponto de partida diferente, uma reflexão inicial
o fizesse, as outras mulheres a matariam. profunda sobre a utilização moderada e crite-
riosa do som como mais um elemento da gestão
Pensamento semelhante aparece na fala de das marcas. Como apontado, o som precisa ser
Todorov (2014, p. 21), que relata uma entropia domesticado, moldado e reconfigurado para que
indigesta utilizando a pintura como elemento sua funcionalidade e poder simbólico de repre-
ilustrativo: “O pintor quer significar tantas coi- sentação e evocação contribua efetivamente para
sas que o quadro se torna ilegível”. A partir de as marcas. Talvez muitas marcas, de fato, não ne-
seus estudos sobre o pintor espanhol Francisco cessitem de mais som, mas de menos som, ou de
de Goya, Todorov (2014, pp. 38-39), comparan- uma higienização do som. Em vez de querer colo-
do-o ao compositor alemão Ludwig van Beetho- car som e música em tudo, quem sabe o processo
ven, revela como o silêncio permanente, trágico de seja, acima de tudo, um ato de subtração,
e indesejado em um primeiro momento, pode ser e não de adição, uma subtração multiplicadora.
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Em vez de, por exemplo, buscar-se a criação de dele em conjunto com os demais elementos do
uma playlist para um ponto de venda, talvez um som. Em respiros de tomada de fôlego, ser cons-
isolamento acústico que deixe do lado de fora os tante em um mundo inconstante pode se tornar
ruídos negativos da paisagem sonora torne esse uma tarefa mais exitosa. Afinal, a vida é um jogo
ambiente mais confortável e acolhedor. Determi- de busca de significação e ressignificação, uma
nado hotel à beira mar em uma praia mais reser- negociação em moto perpétuo na existência hu-
vada e paradisíaca, talvez já possua sua paisagem mana, e embora o homem tenha se esquecido ou
sonora naturalmente estabelecida e adequada, negado, em seu mundo atual super-estimulado e
composta pelo som das ondas e dos pássaros, barulhento, há muito o que significar na beleza
dispensando interferências adicionais, e o pro- do silêncio.
fissional de sound branding vai, não criar algo
novo, mas confirmar e atestar que o som como
está, já constrói a mitologia da marca, o que não Referências
dispensa o seu serviço, como quando vamos a um ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Martin
médico fazer um check-up de saúde, e ele con- Claret, (2003 [335 a.C]).
firma por meio de seus exames e conhecimen- BENNET, R. Elementos básicos de música. Rio de
tos que estamos bem, informação que nos anima Janeiro: Zahar, 1998.
e fornece energia para seguirmos em frente. O
mesmo pensamento de filtro crítico vale para CAGE. J. Sobre o som (2017 [1991]). Dis-
spots, jingles ou logotipos sonoros. Escutando ponível em <https://www.youtube.com/
as peças veiculadas na mídia, é comum perceber watch?v=klpCX9xoHY4> Acesso em 20/05/2017.
a poluição sonora da qual são compostas e con- CASTANHEIRA, J. C. S.; COELHO, J. A. Dos sinos
taminadas, uma miscelânea de toda a sorte de ao iPod: sons, espaços e identidades nas novas es-
estímulos sônicos mal planejados que tornam-se tratégias das marcas. Revista Comunicação, Midia
desestimulantes e negativamente saturados. e Consumo, v.9, n.1, p. 219-239. São Paulo: ESPM,
O mesmo cuidado com os excessos vale pa- 2012.
ra as expressões das marcas (textuais ou visuais)
IZQUIERDO, I. Silêncio, por favor! São Leopoldo:
em diferentes suportes e plataformas, em outros
Editora Unisinos, 2011.
campos além do sound branding. Muitas marcas
querem opinar sobre tudo, estar presentes em to- KUNDERA, M. A insustentável leveza do ser. Rio
do o tipo de mídias sociais e de massa, quando, de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
na verdade, deveriam saber mais escutar seus LIPOVETSKY, J. Da leveza. Barueri: Manole, 2016.
públicos, calar-se diante de fatos que não são
estritamente ligados à sua natureza e que sinto- MAFFESOLI, M. Saturação. São Paulo: Iluminu-
nizem com sua invaginação, pois não emitir per- ras, 2010.
manentemente opinião sobre tudo e todos, ou MED, B. Teoria da música. Brasília: Musimed,
deixar de ser inconvenientemente ubíquo, não 1996.
são sinônimos de omissão, são reflexos de bom
MINSKY, L.; FAHEY, C. Audio branding: Using
senso, planejamento e adequação. Trata-se, aqui,
sound to build your brand. London: Kogan Page,
do silêncio da mensagem, ou do silêncio da expo-
2017.
sição desnecessária.
Em meio a devastadora miríade de estímulos PAINE, G. The sound of silence. TEDx San Anto-
sonoros voluntários e involuntários que cercam nio (2017 [2012]). Disponível em <https://www.
a humanidade contemporânea, buscar-se um youtube.com/watch?v=Y1g1A1i7XJM> Acesso em
minimalismo salutar que respeite espaços e res- 25/05/2017.
piros pode representar uma chance maior de se PALUDO, T. Áudio publicitário = arte? Revista Ba-
fazer escutar a partir do silêncio, ou da utilização ckstage, Ed. 176, p. 40-42. Rio de Janeiro: HShel-
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

don, 2009.
PALUDO, T. Da mitologia ancestral à mitologia
musical: Reflexos do espetacular e do hiper-espe-
tacular em videoclipes de David Bowie, Kiss e Lady
Gaga. (Tese de doutorado). Faculdade de Comuni-
cação Social da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.
PIRATININGA, L. C. Publicidade: Arte ou artifí-
cio? São Paulo: T. A. Queiroz, 1994.
RUSSOLO, L. A arte dos ruídos: Manifesto futuris-
ta. In: MENEZES, , F. (Org). Música eletroacústica.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
(2009 [1913]).
SCHAFER, M. A afinação do mundo. São Paulo:
Editora UNESP, 2001.
SERGL, M. J. A voz nas peças publicitárias. In:
FERRARETO, L. A.; KLÖKCNER, L. (org). E o
rádio? Novos horizontes midiáticos. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2010.
TODOROV, T. Goya à sombra das luzes. São Paulo:
Companhia das Letras, 2014.
TREASURE, J. Shh! Sound heatl in 8 steps.
TedGlobal (2010). Disponível em <https://www.
ted.com/talks/julian_treasure_shh_sound_heal-
th_in_8_steps> Acesso em 30/05/2017.
WISNIK, J. M. O som e o sentido: Uma outra his-
tória da música. São Paulo: Companhia das Letras,
1989.

1Graduado pela PUCRS/FAMECOS (1998) em Comunicação Social


- Habilitação em Publicidade e Propaganda. Mestre em Comuni-
cação Social pela PUCRS/FAMECOS (2010) e Doutor em Comu-
nicação Social pela PUCRS (2017). Site oficial: http://www.ticia-
nopaludo.com
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ARTIGO

A Experiência
turística no
marketing digital de
hotéis pé-na-areia:
um enfoque
netnográfico

Leticia Clementer1
Lissa Valéria Fernandes Ferreirar2
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ARTIGO

Resumo: Abstract:
A seguinte pesquisa traz uma abordagem acerca The following research approaches the effect of
do efeito do marketing digital no desempenho digital marketing on the performance of hotel
de empreendimentos hoteleiros com caráter developments with “foot-on-the-sand” charac-
“pé-na-areia” do Nordeste Brasileiro, e busca teristics of the Brazilian Northeast, and looks
possíveis soluções de melhoria. Trata-se de um for possible improvement solutions. It is a des-
estudo descritivo-exploratório através de uma criptive-exploratory study through a qualitative
abordagem qualitativa. A metodologia utilizada approach. The methodology used is the Netno-
é a Netnografia, realizada através de observações graphy, done through observations in virtual
em ambientes virtuais, onde estes empreendi- environments, where these ventures relate to
mentos relacionem-se com possíveis clientes, ao possible clients, while there is an interpretation
mesmo tempo em que há uma interpretação de of data. Its purpose is to demonstrate the func-
dados. Tem-se por finalidade demonstrar a fun- tionality of the Netnography as an important tool
cionalidade desta como importante ferramenta for hosting services management studies, show
para estudos de gestão de serviços de hospeda- the relevance of the experience as a consumer
gem, mostrar a relevância da experiência como need and identify the “foot-on-the-sand” as a
necessidade do consumidor e identificar o “pé-na marketing strategy. The methodological tool of
areia” como estratégia de marketing. O instru- Netnography had effective functionality towards
mento metodológico da Netnografia teve fun- the research, bringing a wider vision about the
cionalidade eficaz diante da pesquisa, trazendo sample researched for analysis. It can be con-
uma ampla visão sobre a amostra pesquisada cluded that the “foot-on-the-sand” aspect was
para análise. Pode-se concluir que o aspecto “pé seen as an effective differential in the marketing
na areia” foi visto como diferencial efetivo no of these companies, especially when the interac-
marketing desses empreendimentos, principal- tion of customers with the product and services
mente quando evidencia a interação dos clientes rendered is evident. However, sun and sea hotels
com o produto e serviços prestados. No entanto, in Northeast Brazil need to work on the image
os hotéis de sol e mar do nordeste brasileiro pre- and identity of their brands more efficiently and
cisam trabalhar a imagem e identidade de suas effectively on the Instagram social network.
marcas de forma mais eficiente e eficaz na rede
social Instagram. Keywords: Brand, tourism experience; Hos-
pitality; Foot on the sand; Instagram.
Palavras-chave: Marcas; experiência turística;
Hotelaria; Pé na areia; Instagram.
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ARTIGO

Resumén: Résumé:
La siguiente investigación trae un enfoque acer- La recherche suivante apporte une approche sur
ca del efecto del marketing digital en el desem- l’effet du marketing digital sur la performance
peño de emprendimientos hoteleros con carácter des développements hôteliers avec le caractè-
“pies-en-la-arena” del Nordeste Brasileño, y bus- re du Nord-Est brésilien, et cherche des solu-
ca posibles soluciones de mejora. Se trata de un tions d’amélioration possibles. C’est une étude
estudio descriptivo-exploratorio a través de un descriptive-exploratoire à travers une approche
enfoque cualitativo. La metodología utilizada es qualitative. La méthodologie utilisée est la Ne-
la Netnografía realizada a través de observacio- tnographie réalisée à travers des observations
nes en ambientes virtuales, donde estos empren- dans des environnements virtuels, où ces entre-
dimientos se relacionen con posibles clientes, al prises se rapportent à des clients potentiels, alors
mismo tiempo que hay una interpretación de qu’il existe une interprétation des données. Son
datos. Se tiene por finalidad demostrar la fun- but est d’en démontrer la fonctionnalité en tant
cionalidad de ésta como importante herramienta qu’outil important pour héberger des études de
para estudios de gestión de servicios de hospeda- gestion de services, de montrer la pertinence de
je, mostrar la relevancia de la experiencia como l’expérience en tant que besoin du consomma-
necesidad del consumidor e identificar el “pies- teur et d’identifier le «pied dans le sable» comme
-en-la-arena” como estrategia de marketing. El stratégie de marketing. L’outil méthodologique
instrumento metodológico de la Netnografía de Netnographie avait une fonctionnalité efficace
tuvo funcionalidad eficaz ante la investigación, en amont de la recherche, apportant une vision
trayendo una amplia visión sobre la muestra in- large de l’échantillon recherché pour l’analyse.
vestigada para análisis. Se puede concluir que On peut conclure que l’aspect «pied dans le sa-
el aspecto “pie en la arena” fue visto como dife- ble» a été perçu comme un différentiel efficace
rencial efectivo en el marketing de esos empren- dans la commercialisation de ces projets, surtout
dimientos, principalmente cuando evidencia la lorsqu’il montre l’interaction des clients avec le
interacción de los clientes con el producto y ser- produit et les services fournis. Cependant, les
vicios prestados. Sin embargo, los hoteles de sol y hôtels de soleil et de mer du nord-est du Brésil
mar del nordeste brasileño necesitan trabajar la doivent travailler plus efficacement sur l’image
imagen e identidad de sus marcas de forma más et l’identité de leurs marques sur le réseau social
eficiente y eficaz en la red social Instagram. Instagram.

Palabras-clave: Marca, experiencia turística; Mots-clés: Marque, expérience touristique;


Hostelería; Pie en la arena; Instagram Hospitalité; Pied dans le sable; Instagram.
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Introdução de, através de mídias sociais, os empreendimen-


No cenário contemporâneo global, pode-se tos atingem intensivamente seus consumidores.
perceber uma constante mudança no compor- Nesse contexto, busca-se observar o desem-
tamento do consumidor em turismo, que não se penho dos gestores de empreendimentos hote-
contenta apenas com o contato superficial, mas, leiros ‘pé-na-areia’ de selecionados destinos do
sim, com uma experiência substancial que atinja Nordeste Brasileiro, com o intuito de aprimorar
seus sentidos e consciência social. Muitos estu- futuramente essas estratégias sobre o consumi-
diosos do marketing buscam trabalhar além des- dor. O aspecto ‘pé-na-areia’, a qual se refere esse
sa nova tendência, a experiência turística, como trabalho, se identifica nos hotéis que tem pas-
maneira de atingir as necessidades desses clien- sagem direta para o mar, não sendo necessário,
tes e manter a vantagem competitiva. assim, que o turista precise atravessar ruas e/ou
A competitividade apresentada no recente calçadões. Dessa maneira, o hotel é margeado
Relatório de Viagens e Turismo do World Econo- pela paisagem litorânea local que dá ao consumi-
mic Forum (2017), ressalta que apesar de o Brasil dor uma maior imersão na experiência do turis-
ocupar o primeiro lugar em Recursos Naturais, mo de sol e mar. Vê-se nesses hotéis um intenso
no que se refere à Priorização para o Turismo co- potencial experiencial a atender a demanda que
loca-se em 121ª posição. No tocante a eficiência busca imergir no segmento de sol praia. Em vista
em Marketing e Branding para atração de consu- disso, a hipótese central da pesquisa é: os hotéis
midores turísticos encontra-se na 106ª posição de sol e mar do Nordeste do Brasil trabalham a
dos 136 países participantes do principal estudo imagem e identidade de suas marcas, através da
de competitividade turística em nível mundial. rede social Instagram de forma eficiente e eficaz?
Ainda no cenário global, das 100 marcas O trabalho tem como objetivo principal ana-
mais valorizadas pela INTERBRAND (2017) não lisar a prática do turismo de experiência através
consta nenhuma marca do segmento turístico. do marketing digital utilizados pelos hotéis ‘pé
Sabe-se que o Brasil se apresenta no mercado na areia’ em três destinos concorrentes do Nor-
nacional e internacional pelo segmento do Turis- deste do Brasil. Isto será realizado através de um
ta de Sol e Praia. Segundo a pesquisa do Perfil da estudo netnográfico na rede social Instagram de
Demanda Turística Internacional (FIPE/Mtur), cada empreendimento.
em 2015, 69,4% dos turistas internacionais fo- De acordo com o ambiente da pesquisa, utili-
ram motivados a viajar para o Brasil por causa zou-se uma metodologia que fosse capaz de atin-
desse segmento. Já sobre o consumidor nacional, gir estas mídias de forma mais ampla, a netno-
de acordo com as pesquisas de 2009 sobre Hábi- grafia. Esta vem sendo cada vez mais difundida
tos de Consumo do Turismo do Brasileiro (FIPE/ em pesquisas acadêmicas, visto que o ambiente
MTur), há um favoritismo por roteiros de praias. virtual é palco de interações mais eficazes entre
Os dados constam que mais de 65% dos clientes empreendimentos e consumidores do turismo.
preferiram os roteiros com as praias brasileiras. Optou-se pela abordagem qualitativa de concep-
Em vista disso, nota-se a importância desse seg- ção crítica em pesquisa bibliográfica e análise de
mento como destaque para o desenvolvimento mídias sociais acerca do marketing digital explo-
do turismo no país. rado pelos hotéis selecionados.
Para o Ministério do Turismo (2008), o que Na esfera acadêmica, o estudo intenciona-
há em comum no perfil do turista de sol e praia -se a promover e incentivar reflexões que pos-
são suas motivações que envolvem “o desejo de sam ajudar a aprofundar-se os temas abordados.
descanso, práticas esportivas, diversão, novas Na esfera econômica, poderá ser útil, visto que
experiências e busca de vivências”. Todas estas é capaz de fornecer ideias para que os empre-
experiências podem ser encontradas em hotéis e endimentos ofertem produtos e serviços que se
resorts de altas categorias e devem estar transpa- adequem aos desejos do seu público-alvo. Isso
rentes essencialmente no marketing digital on- acaba por agregar valor a estes, aumentando sua
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

competitividade e atração. tornando assim o produto com um diferencial, se


O assunto abordado tem o intuito de buscar não, não passará de uma matéria-prima.
tendências eficazes na exploração do marketing, Este acontecimento singular se baseia prin-
em que se trabalha a relação do empreendimen- cipalmente na fuga do dia a dia. Para Turner
to turístico com o consumidor, resultando assim (1986, apud PEZZI e VIANNA, 2015, p.167), “a
na promoção dos destinos Natal, Ipojuca e Ma- experiência é uma forma de suspensão das rela-
ceió. Dessa maneira, fortifica-se o vínculo com o ções cotidianas, a interrupção de papéis, em que
cliente e intensifica o interesse da demanda que o sujeito sofre um estranhamento em relação ao
busca fugir da rotina em destinos paisagísticos. que lhe é familiar”. Ou seja, a experiência é enfa-
Nesse contexto, o aumento quantitativo do flu- tizada quando se há uma quebra de rotina onde
xo de turistas que venham a ter uma experiência o turista se encontra vivenciando uma cultura
memorável a partir da melhoria qualitativa dos diferenciada da habitual diária.
seus produtos e serviços, poderá trazer benefí- Sobre a experiência, Pezzi e Vianna (2015,
cios para o desenvolvimento do turismo no des- p.168) enfatizam ainda que é um agente trans-
tino receptor. formador e formativo, que se inicia com choques
de dor ou prazer vivido por um sujeito que, em
A Experiência Turística seguida, busca dar sentido àquilo que percebeu e
Ao passar dos anos, o consumidor de turis- que fez dessa experiência, não apenas mera, mas
mo começou a mudar sua expectativa ao plane- “uma” experiência, na tentativa de unir passado
jar uma viagem. Este já não se satisfaz com a e presente.
banalidade que era costumeiramente apresen- A partir disto percebe-se que a experiência
tada nas antigas formas de turismo, como o tu- não acontece se não houver um choque cultural.
rismo de massa, em que a essência se mantinha Ela reflete interiormente no turista resultando
apenas nas coisas externas, não contando com a num “eu” passado, relacionando com o “eu” pre-
participação efetiva do mesmo no ambiente. Ou sente, refletindo-se assim no “eu” pós-viagem. A
seja, o turista de possui o desejo de se integrar expectativa é que haja uma renovação na volta
ao lugar, vivenciando uma experiência em que ao lar, junto com uma sensação de bem-estar e o
ele torna-se incluso no cenário de sua viagem desenvolvimento de novas perspectivas. Pezzi e
através de momentos marcantes. Vianna (2015) chegam a afirmar que se o turista
O consumidor de turismo passa a se impor- não volta renovado, então o episódio turístico foi
tar em buscar algo que fuja do seu cotidiano, em vão.
onde seja capaz de interiorizar os lugares visi- Diante disso, alguns autores afirmam que
tados através de emoções marcantes. Segundo a experiência não se remete apenas ao período
Panosso Netto (2010, p.15), “começa a se definir exato da viagem, mas desde a “pré-experiência”
um novo perfil de turismo, no qual o prazer de que acontece antes de viajar se estendendo até
viajar está intimamente associado às experiên- ao retorno à casa. A partir de estudos sobre os
cias ímpares que serão vivenciadas durante a ritos de passagem de uma viagem, Pezzi e Vian-
viagem, em uma perspectiva individual e per- na encontraram um padrão de fases e monta-
sonalizada”. ram um esquema (figura 1) que relaciona a ex-
Na obra Economia de Experiência, Pine II e periência ao turismo.
Gilmore (1999) mostra que as empresas come-
çam a oferecer experiências formando um cená-
rio com seus produtos e serviços, capazes de reali-
zar acontecimentos marcantes para seus clientes
através de um enfoque emocional. De acordo
com os autores, é preciso despertar o interesse
Figura 01: Rio de Passagem Aplicado ao Turismo
dos clientes através da vivência de experiências, Fonte: Pezzi e Vianna (2015)
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Como pode-se observar na figura 01, de dagem, bem como à qualidade do ambiente no
acordo com Pezzi e Vianna (2015), a experi- qual o empreendimento hoteleiro está insta-
ência se baseia essencialmente em três fases. lado. Desta forma, quanto mais adequadas as
A primeira (A) é a ruptura do cotidiano, a pré- condições de implantação do edifício na pai-
-viagem, quando o turista está no planejamen- sagem urbana e quanto mais satisfatórias as
to da viagem e numa atmosfera de expectativa condições das instalações e dos serviços, para
e ansiedade. A segunda fase (B) é a liminar o hóspede, maiores serão os valores comercial
que acontece durante a viagem, fora do lar. e simbólico da hospedagem.
Nesta, o viajante se depara com uma cultura Entende-se que quanto maior a variedade
que difere do seu cotidiano e há uma ressigni- e qualidade em serviços, melhor será a expe-
ficação do ser diante de seu passado. Já a úl- riência proporcionada ao turista resultando
tima fase (C) se baseia no retorno ao lar, onde num maior valor comercial ao empreendimen-
a experiência continua através da lembrança to. Spolon (2009) identifica que a união da
que é repassada aos amigos e conhecidos. paisagem urbana à estrutura hoteleira acaba
por trazer uma simbologia a mais. Além disso,
Meios de hospedagem e hotelaria Augé (1995, apud Barbosa et al, 2011) afirma
Os meios de hospedagem são fundamen- que em serviços de hospitalidade são vários os
tais na prática do turismo visto que todos pre- aspectos que contribuem para criação de uma
cisam de um apoio físico no lugar visitado com atmosfera que provoque reações no turista in-
serviços de acomodação, onde possam reali- cluindo o lugar, a arquitetura e o cenário. Em
zar suas necessidades básicas como descanso, vista disso, unir um espaço hoteleiro a uma
alimentação e higiene. Com o passar do tem- paisagem que represente às características
po, foram sendo criadas variadas estruturas primordiais de um destino acaba por incre-
de alojamento para o turista desde albergues, mentar a identidade do lugar como cenário,
onde quartos são divididos por pessoas des- intensificando a experiência do cliente.
conhecidas entre si, campings, até hotéis de Em complementação a isso, segundo Lyn-
grande luxo em que o cliente consegue o en- ch (1988, apud Duarte e Cohen, 2004) o de-
tretenimento completo sem nem mesmo pre- senvolvimento dos aspectos estruturadores
cisar sair da propriedade. da percepção do espaço estão vinculados, em
Essas variações acabaram por resultar em primeiro lugar, ao sentido da visão, responsá-
distintas tipologias ou classificações de hos- vel pelo primeiro impacto criador de significa-
pedagem, criadas para orientar o turista em dos do ambiente. Sendo assim, um espaço que
sua escolha de hospedagem. harmoniza com um cenário agradável resulta
Dentre essas tipologias foram se atrelan- numa primeira impressão positiva ao turista.
do cada vez mais serviços de hospitalidade, Nos hotéis ‘pé na areia’ pode-se ter a pre-
garantindo maior conforto e entretenimento sença desses aspectos já que todos estão inter-
para o consumidor. Em vista disso, além da ligados a paisagens litorâneas, estas podendo
classificação que diferencia uns meios de hos- ser visualizadas das mais diversas partes dos
pedagens de os outros, também foram criadas empreendimentos.
categorias. Essas categorias são guiadas por Por ser localizado diante de um cenário
requisitos mínimos (de infraestrutura, servi- paisagístico traz um maior valor agregado à
ços e sustentabilidade) que devem ser apre- experiência hoteleira que conta como vanta-
sentados por um empreendimento para que gem competitiva, o que deve ser evidenciado
este seja identificado como tais. no marketing desses empreendimentos. Nes-
Para Spolon (2009, p.9), o valor comercial te trabalho, entende-se por hotel ‘pé-na-areia’
da hospedagem está intrinsecamente ligado aqueles que possuem acesso direto à praia,
ao valor emocional da experiência da hospe- sem a passagem de orla ou rodovia.
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Estratégias de Marketing Digital e Netno- ração social mediada pela tecnologia através da
grafia antropologia. Sendo assim, utiliza de premissas
Sabe-se que o mundo contemporâneo vive básicas da etnografia.
o efeito da era da informação onde essa se tor- Freitas e Leão (2012) discorrem que a etno-
na medida de valor quando em posse. Isto faz grafia é concebida como um método de pesqui-
ainda mais importante o estudo sobre a comu- sa e análise de dados, que se utiliza da descrição
nicação efetiva, principalmente quando se trata densa, significando que o pesquisador conceberá
de um mercado cada vez mais competitivo. Com as culturas como teias de significados, frutos da
o intuito de aprofundar conhecimentos acerca vida em sociedade dos indivíduos, guiadas por
dessa comunicação, Kotler (2005) define Ma- seus conjuntos de valores, os quais serão alvo da
rketing como a ciência e a arte de explorar, criar interpretação do pesquisador, sendo estes con-
e proporcionar valor para satisfazer as neces- juntos, mesmo antes, produto das interpretações
sidades dos clientes de um mercado-alvo com de sua sociedade.
rentabilidade. O Marketing identifica necessi- Sendo assim, a netnografia se baseia no es-
dades e desejos insatisfeitos. Ele define, mede e tudo aprofundado dessas culturas manifestas
quantifica o tamanho do mercado identificado e no ciberespaço, através de uma pesquisa quali-
seu potencial de lucro. Identifica com precisão tativa com densas descrições interpretativas. O
quais os segmentos a empresa tem capacidade diferencial desta metodologia é que o pesquisa-
de servir melhor, além de projetar e promover dor não fica visível diante do ambiente, tornan-
os produtos e serviços adequados. do assim as relações culturais mais interativas
Dessa maneira, tem-se o marketing como e espontâneas, visto que não há o intimismo da
ferramenta fundamental para conhecer o com- entrevista. Além disso, é um meio de se observar
portamento do consumidor e adequar o produto um conjunto de relações mais com mais profun-
para satisfazer as necessidades deste, obtendo- didade. Braga (2001) afirma que o neologismo
-se assim uma maior qualidade. A partir deste, “netnografia” (nethnography = net + ethnogra-
é possível criar uma relação capaz de trazer a phy) foi originalmente cunhado por um grupo de
fidelização dos clientes o que, consequentemen- pesquisadores/as norte americanos/as, Bishop,
te, agrega valor à marca, e abre caminho para Star, Neumann, Ignacio, Sandusky & Schatz, em
novos consumidores em potencial. 1995, para descrever um desafio metodológico:
Na esfera turística a preocupação acerca preservar os detalhes ricos da observação em
do marketing digital é imprescindível visto que campo etnográfico usando o meio eletrônico pa-
os turistas utilizam cada vez mais ferramentas ra “seguir os atores”. (Braga, 2001, p. 05).
online durante todas as etapas da viagem como A Netnografia se caracteriza como de grande
uma forma prática que beneficia a experiência. facilidade para o pesquisador. Com ela não se faz
Assim sendo, as comunidades online estão sen- necessário deixar o comodidade do seu escritó-
do cada vez mais alvo de estudos de marquetei- rio. Rutter e Smith (2002) enfatizam que não há
ros por possuir uma visão abrangente da relação complexas permissões de acesso para negociar e
do empreendimento com a demanda, facilitan- os dados de campo podem ser facilmente grava-
do a criação de novas estratégias de marketing. dos e salvos para análise posterior, e ainda con-
Em vista disso, foi criada uma das mais seguisse uma grande quantidade de informação
novas metodologias de pesquisas aplicadas é sem grandes esforços e custos, coletados de uma
a Netnografia, ou, como também é conhecida, forma bem mais ágil. Kozinets (1998, p. 04) com-
etnografia online. Com a globalização e a inser- plementa que a técnica é uma descrição escrita
ção cada vez maior das pessoas no ciberespaço, resultante do trabalho de campo que estuda as
foi preciso uma adaptação de pesquisa capaz de culturas e comunidades online emergentes, me-
abranger novos conhecimentos. Esta metodolo- diadas por computador, ou comunicações basea-
gia tem como intuito principal analisar a inte- das na Internet, onde tanto o trabalho de campo
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

como a descrição textual são metodologicamente rentes no Nordeste, Natal (RN), Ipojuca (PE) e
conduzidas pelas tradições e técnicas da antro- Maceió (AL), onde foi visto como diferenciais a
pologia. presença de grandes hotéis ‘pé-na-areia’. Foram
Diante do avanço das tecnologias, faz-se escolhidos 3 hotéis/resorts por destino, cada
necessário essa adaptação ao meio virtual que um com categoria de 4 ou 5 estrelas com o cará-
vem resultando em pesquisas importantes em ter ‘pé-na-areia’ onde predomina as paisagens
diferentes áreas. É importante ressaltar que a litorâneas existentes que trazem a identidade
interpretação feita nesta metodologia é realiza- do lugar.
da juntamente com a coleta de dados. Foram analisadas todas as fotos postadas de
Janeiro a Maio de 2017 na rede social Instagram
Metodologia de cada hotel. Isso resultou num total de 1.235
A seguinte pesquisa trata-se de um estudo fotos postadas desde o primeiro dia do ano. A
descritivo-exploratório de abordagem qualitati- partir disso, foram observados padrões utiliza-
vo elaborada através do método da Netnografia. dos como critérios de análise para em seguida
Esta se baseia principalmente em duas partes: buscar relações. Em seguida, foi analisado o
coleta e interpretação de dados. Além disso, foi aspecto ‘pé-na-areia’ e como este é utilizado
utilizado uma pesquisa bibliográfica de artigos, diante dessas mídias. Por último, foi feita uma
livros e internet. O diferencial desta coleta é o análise geral de cada estabelecimento sobre ca-
ambiente em que acontece: o ciberespaço. Re- racterísticas encontradas na sua rede Instagram
alizou-se uma análise feita a partir de mídias e a interpretação destas como busca de uma me-
sociais de hotéis com tipologia pé-na-areia do lhor relação com o cliente.
Nordeste Brasileiro, levando em consideração Para que fosse possível alcançar os objeti-
o marketing utilizado por estes e o reflexo no vos do estudo, utilizou-se a técnica de Análise
consumo. Este recurso possibilita um maior de Conteúdo. Bardin (2002, p.95) divide esta
levantamento de dados, buscando um melhor análise em três fases: a) a préanálise; b) a ex-
resultado. ploração do material; e c) o tratamento dos re-
A técnica utilizada foi escolhida justamente sultados: a inferência e a interpretação. Primei-
pelo foco do trabalho estar presente no marke- ramente, foi feita a seleção dos hotéis a serem
ting digital destes empreendimentos, o que não estudados a partir da visualização de suas redes
seria possível sendo feita através de outras me- sociais, ao mesmo tempo identificando-se pa-
todologias. Assim, o espaço estudado são as co- drões nos estilos de publicação encontrados a
munidades onlines onde acontece a relação da serem levados para análise. A partir disso, foi
empresa com o consumidor, buscando analisar feita a contagem das fotografias e padrões en-
o que está sendo utilizado e o que pode ser me- contrados para construção de dados enquanto
lhorado em vista disto. explorava-se o Instagram de cada hotel. Por fim,
Porpino e Ferreira (2013) identificaram a houve a análise dos dados gerados e a interpre-
cidade de Porto de Galinhas, no município de tação destes, tanto visualizando cada Instagram
Ipojuca, e a cidade de Maceió como concorren- individualmente como comparando-se uns aos
tes diretos da cidade de Natal, visto que estes outros. No entanto, o estudo feito acerca do ma-
possuem características semelhantes que in- rketing digital destes hotéis considerou todas
citam desejos aos turistas paulistanos. Vê-se as informações fornecidas, focando nos fatores
ainda que Porto tem a vantagem de uma boa pertinentes ao problema da pesquisa.
atuação na promoção do destino enquanto Ma-
ceió reaparece no mercado com a construção de Resultados e discussões
novos hotéis. Os hotéis e resorts selecionados foram o
Em vista disso, a definição da amostra deste Serhs Natal Grand Hotel, Ocean Palace Resort,
estudo foi feita a partir dos três destinos concor- eSuites Vila do Mar Natal, Prodigy Marupiara,
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Summerville Resort, Nannai Resort e Spa, Ja- blicidades, paisagens, infraestrutura, serviços
tiuca Hotel, Salinas Maceió All Inclusive Resort e fotos de turistas. Os gráficos que apresentam
e Pratagy Beach Resort. O quadro 01 apresenta estes critérios foram feitos pela porcentagem
estes empreendimentos e seus respectivos no- da presença destes sobre o total de publica-
mes no Instagram, como também o número de ções feitas por cada hotel separadamente. As
publicações postadas no ano de 2017 e o núme- publicidades encontradas geralmente eram de
ro de seguidores até o dia da análise. programações dos hotéis como por atividades
de lazer e eventos internos,
como também promoções
de Day Use e finais de se-
mana e sorteios. Também
havia a presença de anún-
cios de datas comemorati-
vas e em alguns utilizava-
-se comentários de clientes
acerca do empreendimento
como forma de propagan-
da. O gráfico 01 apresenta
as porcentagens de imagens
Quadro 01: Apresentação dos hotéis pé-na-areia de publicidade encontradas
Fonte: Dados da Pesquisa (2017) em cada Instagram.
Diante disto, pode-se perceber o hotel Sa-
linas de Maceió como sendo o possuidor de
maior número de seguidores, seguido do Nan-
nai e do Pratagy, nenhum destes localizados
em Natal. O Prodigy Marupiara com menor
número, seguido do Jatiuca e do Vila do Mar.
Pode-se notar que o marketing dos hotéis do
destino Natal estão em desvantagem visto que
a soma de seguidores dos três hotéis (47,3mil) Gráfico 01: Publicidades nas publicações
é ultrapassada pelos Nannai e Salinas isolada- Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

mente. Na representação dessa imagem, nota-se que


Já na quantidade de publicações postadas dois hotéis, Salinas e Pratagy, já extinguiram a pu-
a partir do primeiro dia do ano, nota-se que blicidade de suas postagens, o que acaba por deixar
os hotéis Ocean, Vila do Mar e Nannai são os a rede social com uma visão mais limpa. Já o Vila
que possuem maior frequência em postagens do Mar, hotel com maior frequência de postagens,
neste ano. Dividindo o valor de imagens pela também intensifica a publicação de publicidades
quantidade de meses (5), podese verificar que em sua rede. As paisagens dispostas nas imagens
esses hotéis tem uma média de postagem de eram essencialmente cenários naturais unindo-se
236, 326 e 488 por mês, respectivamente. O às estruturas hoteleiras. Estas exaltavam principal-
que torna uma carga muito grande de informa- mente a presença do oceano, mas também abran-
ção para o consumidor. gem a vegetação litorânea de coqueiros, alguns
Quanto ao conteúdo existente nas publi- poucos animais, fotos embaixo d’água e ainda o
cações, identificou-se cinco padrões encontra- pôr-do-sol.
dos nas mídias sociais Instagram resultando, O gráfico 02 ressalta os percentuais de fo-
assim, em cinco critérios a serem coletados tos de paisagens externas encontradas em cada
quantitativamente para análise. São estes: pu- rede social.
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
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Gráfico 02: Publicações de paisagens. Gráfico 04: Fotos de turistas nas publicações.
Fonte: Dados da Pesquisa (2017) Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Vê-se que os dois hotéis que não postam publi- Além do Jatiuca não dedicar suas publicações
cidades, Salinas e Pratagy, são exatamente os que a serviços, também não dedica a fotos com turistas,
investem nas fotos de paisagens. Pode-se deduzir o que torna sua página mais monótona com maior
que há uma estratégia de atrair a demanda incitan- foco em imagens da área de lazer. Já o Pratagy, que
do o desejo por imagens que toquem o emocional observou-se investir em fotos com paisagens, tam-
do que pela promoção. O critério de serviços (gráfi- bém se interessa por imagens com presença huma-
co 03) abarca os diferenciais de hotéis de categoria na, o que acaba deixando o espaço mais afetivo aos
4 e 5 estrelas como serviço de Spa, salão de bele- olhos do consumidor. Estas imagens muitas vezes
za, atividades de recreação e lazer com animador, retratam melhor a experiência que o cliente terá no
eventos culturais, programações de eventos, shows hotel.
culturais, entre outros. Também se entendeu como No critério de infraestrutura (gráfico 05), en-
serviço as imagens que salientavam a gastronomia controu-se o foco em fotos da área de lazer como
do empreendimento. também de diferenciados ambientes internos do
hotel como: restaurante, sala de estar, suítes, sa-
la de jogos, lounges, spa, salão de eventos, entre
outros. Alguns hotéis exploravam bastante os am-
bientes mais internos enquanto outros só eviden-
ciavam a área de lazer unindo-se ao cenário paisa-

Gráfico 03: Publicações de serviços prestados.


Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Diante deste gráfico, percebe-se que o


Jatiuca é o que evita postar imagens e vídeos
que evidenciem os serviços especiais presta-
dos pelo estabelecimento. Já o Prodigy investe
Gráfico 05: Imagens com infraestrutura do hotel
nesse critério, envolvendo o consumidor com Fonte: Dados da Pesquisa (2017)
a apresentação de interação dos clientes e o
entretenimento proposto pelo hotel. Nas fotos gístico Neste, gráfico, verifica-se que o Pratagy é o
com turistas (gráfico 04), percebe-se que havia hotel que menos posta foto da Estrutura existente,
uma mistura de fotos de criação própria dos consequentemente focando em paisagens mais
turistas com outras mais elaboradas, prova- externas do empreendimento. Em contrapartida,
velmente sendo propositalmente tiradas para quatro dos empreendimentos dedicam cerca de
divulgação do empreendimento, tendo um tom metade de suas postagens para a infraestrutura do
mais artificial. Nesse critério, as fotos analisa- hotel, o que é relevante para o consumidor que de-
das continham turistas sorrindo/posando pa- seja ter uma visão sobre o espaço e equipamento
ra a câmera ou também partes do corpo como oferecido
mãos, pés e joelhos. As fotos tratadas como característica de ‘pé-
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

-na-areia’ foram avaliadas quando havia a evi- Para finalizar a análise, fez-se um quadro
dência da proximidade do hotel para o mar, prin- geral (quadro 03) sobre os aspectos mais encon-
cipalmente ao demonstrar a passagem direta, o trados em cada Instagram pesquisado, interpre-
que era mais perceptível em fotos aéreas. Estas tando-se assim seus diferenciais.
se baseavam na maioria das vezes em imagens Nestes aspectos diferenciais, é importante
da área de lazer do empreendimento com o ce- ressaltar a presença de imagens de colaborado-
nário litorâneo ao fundo. O gráfico 06 apresenta res e sua valorização em algumas redes, princi-
a quantidade de fotos com este aspecto encon- palmente no Serhs. Outra característica inovado-
tradas em cada Instagram sobre o valor total das ra foi perceptível no Instagram do Nannai onde
publicações analisadas: a publicidade é voltada para exaltar comentários
de clientes sobre o hotel.
Diante de uma visão geral sobre as mídias
sociais pesquisadas, pode-se perceber que a pre-
sença intensiva de publicidades, como também
vídeos e fotos de ação torna o ambiente virtual
com muita informação o que acaba por cansar o
usuário. São casos destes o Instagram do Vila do
Mar e Prodigy.
Redes sociais limpas, mas com pouca infor-
Gráfico 06: Caracterís�cas “pé na areia” nas publicações mação, e com predominância de imagens mais
Fonte: Dados da Pesquisa (2017) leves e abrangentes de paisagens, acabam por
Em vista disso, percebe-se que um quarto entediar e tornar monótono a visão geral da mí-
de todas as ima- dia, apesar de
gens publica- ser preferível
das pelos nove a informação
hotéis no ano demais. São
de 2017 está exemplos des-
voltado essen- tes o Jatiuca e
cialmente para Salinas. Nota-
fotografias que -se que essa
representem o tendência de
aspecto ‘pé-na- imagens com
-areia’, exaltan- mais paisa-
do que o turista gens e turistas
terá uma pas- interagindo es-
sagem direta à tão presentes
praia. Um nú- nos hotéis com
mero conside- mais seguido-
rado que deixa res. O modelo
ser notável a de Instagram
presença desse mais agradá-
critério como vel encontrado
um dos focos foi o do Hotel
da estratégia de Pratagy em
marketing des- Maceió onde
ses empreendi- se pode perce-
Quadro 03: Visão geral do Instagram de cada hotel
mentos. Fonte: Dados da Pesquisa (2017) ber uma har-
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

monia de imagens com e sem presença humana, gem, e buscar não repetir fotografia. Sobre os ho-
como também de ambientes internos e paisagens téis de Ipojuca, sugere-se que o Prodigy diminua
externas. Dessa maneira, a mídia social tem um um pouco o foco em fotos dos serviços internos
equilíbrio de informações consistentes que man- e publicidade, e equilibre com fotos com menos
tem o consumidor interessado em se manter co- elementos, preferencialmente evidenciando a
nectado. paisagem. Isso vai tornar seu Instagram mais
limpo e agradável aos seus seguidores. Quanto
Conclusões ao Summerville, indica-se voltar-se um pouco
Diante da análise do Instagram dos hotéis para a infraestrutura alternativa à área de pisci-
dos três destinos, pode-se perceber que há uma nas e praia. O Nannai tem uma ótima qualidade
variedade de aspectos retratados nas imagens em fotos e uma ótima estratégia em trocar as pu-
publicadas com um foco principal sobre a união blicidades por comentários dos clientes. A este,
do cenário litorâneo com a estrutura hoteleira. aconselha-se apenas controlar um pouco a fre-
Isso se deve por ser o diferencial de cada hotel quência de postagens.
‘pé-na-areia’, devendo assim ser impulsionado Quantos aos empreendimentos de Maceió,
para atrair a demanda que busca curtir o seg- propõe-se ao Jatiuca realçar o contato do hotel
mento do sol e praia, que não irá precisar sair com o mar e desenvolver imagens que mostrem
das instalações do empreendimento para isso. a interação dos turistas com os serviços presta-
Nas fotografias, a harmonia desse cenário dos. O Salinas de Maceió poderia mostrar um
com a presença de elementos humanos apresen- pouco mais da infraestrutura interna do hotel. O
ta da melhor forma ao consumidor a experiência Instagram do Pratagy foi percebido como o me-
encontrada no hotel. Isto é uma tendência a ser lhor exemplo estudado, tendo uma visão limpa
seguida que pode ser mais eficaz do que a sobre- e amistosa com um bom equilíbrio nos aspectos
carga de publicidades nas redes sociais. Uma me- que ressaltam a experiência que o consumidor
lhor divulgação de experiência prestada no em- procura.
preendimento acaba por fortalecer a identidade Conclui-se que a metodologia da Netnogra-
empresarial e refletir no fortalecimento relacio- fia é capaz de dar uma visão abrangente sobre
nal com o cliente. Sendo assim, o ‘pé-na-areia’ o marketing digital de empreendimentos, sendo
deve continuar sendo utilizado como atrativo uma ferramenta essencial no estudo do compor-
destes lugares como forma de atrair o turista que tamento do consumidor e da gestão de qualidade
deseja ter uma melhor experiência do segmento de serviços. Além de ser uma ferramenta prá-
sol e praia. tica e capaz de gerar informações abundantes
A partir da análise feita, indica-se algumas para uma reflexão maior. Também evidencia-se
melhorias para que as redes sociais Instagram a grande utilidade que o marketing digital tem
dos hotéis possuam maior êxito no seu marke- para facilitar o alcance aos consumidores possi-
ting digital. O Serhs tem um bom equilíbrio de bilitando assim uma melhor desenvolvimento da
elementos de imagens, apenas sugere-se prestar relação com estes.
mais atenção no destaque da experiência pé-na- Apesar dos bons resultados obtidos na pes-
-areia. O Ocean Palace possui uma boa qualida- quisa, notabiliza-se ainda ter uma dimensão
de e compensação de aspectos em suas fotos, só muito pequena, o que poderia trazer mais con-
deixando a desejar na sobrecarga de conteúdo ao fiabilidade em informação e melhor análise se
consumidor, o que deveria ser evitado. O hotel fosse estudada uma amostra maior, como o perí-
Vila do Mar também poderia diminuir o ritmo de odo de um ano inteiro, e a análise de outras redes
postagens, principalmente evitando poluir muito sociais destes hotéis. Também seria interessante
a rede com publicidade, o que cansa ainda mais uma pesquisa de campo diretamente aos consu-
o cliente. Em vez disso, desenvolver os outros midores usuários desta rede social, investigando
aspectos, principalmente na exaltação da paisa- a visão deles sobre os aspectos estudados, o que
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

complementaria o estudo de forma mais enrique- PEZZI, Eduardo; VIANNA, Silvio. A Experiência
cedora. No entanto, fica evidenciado a necessida- Turística e o Turismo de Experiência: Um estudo
de de estudos de branding nos hotéis do nordes- sobre as dimensões da experiência memorável. Tu-
te brasileiro para uma maior eficiência e eficácia rismo em Análise. Vol. 26, N.1, 2015.
na utilização das mídias sociais com o objetivo de
PEZZIi, Eduardo. Turismo e experiência: um estu-
aumentar o valor de marca nos hotéis.
do sobre as dimensões da experiência memorável
Para novas pesquisas indica-se relacionar
em Gramado-RS. 2013. 200 f. Dissertação (Mes-
o conteúdo gerado pelo empreendimento com
trado) – Universidade de Caxias do Sul. Caxias do
o conteúdo gerado pelo consumidor, ou mesmo
Sul, 2013.
uma pesquisa da visão do cliente sobre a rede
social, afim de analisar o impacto na demanda PINE II, Joseph B; GILMORE, James H. The Ex-
com mais consistência. Também sugere-se pes- perience Economy: Work Is Theatre & Every Bu-
quisas em outras mídias sociais destes hotéis pé- siness a Stage. Boston: Harvard Business School
-na-areia, relacionando as maiores utilidades de Press, 1999.
cada uma. PORPINO, Gustavo; FERREIRA, Lissa. Posiciona-
mento estratégico de destinos: uma análise através
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) www.ufrn.br
de Classificação de Meio de Hospedagem. Dispo- 2Doutora em Administração de empresas pela Universidade
nível em: <http://www.classificacao.turismo.gov. de Barcelona- Espanha. Professora Associada da Universi-
br/MTUR-classificacao/mtursite/>. Acesso em 15 dade Federal do Rio Grande do Norte. Membro permanente
do Programa de pós-graduação (PPGTUR) www.ufrn.br/cc-
de Maio de 2017. sa/ppgtur. Membro Grupo de Pesquisa Marcas e Marketing .
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) www.
PANOSSO NETTO, Alexandre; GAETA, Cecília. ufrn.br. E-mail: lissaferreira.iadb@yahoo.es. Lattes: http://
Turismo de experiência. São Paulo: Senac, 2010. lattes.cnpq.br/8015374156967844
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ARTIGO

Brand authenticity:
the moral duty on
communicating
moral values

Bernardo Meza Guzman1


Catarina Lélis2
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Abstract: Resumén:
This paper is part of an ongoing research regar- Esta ponencia es parte de una investigación en
ding the relationship between branding and mo- torno a la relación entre marcas comerciales y
ral values, focusing on Western postmodern so- valores morales, en las sociedades occidentales
cieties. The aim of this research is to find out the postmodernas. Su objetivo es encontrar la relaci-
relationship between branding and self-identity ón entre las marcas y la construcción de la iden-
in terms of authenticity, which is relevant no- tidad del yo, en términos de autenticidad, en me-
wadays amid a brand authenticity emergence. dio de una tendencia que resalta la autenticidad
Following philosophical and sociological post- de marca. Esta investigación usará fenomenolo-
modern developments, this research concentra- gía y hermenéutica de la cotidianidad y analizará
ted mainly on everydayness phenomenology and un anuncio publicitario, haciendo uso de semi-
hermeneutic. An advertisement analysis has be- ótica, para identificar valores relacionados con
en done using semiotics. The results suggest that el ideal moral de la autenticidad. Los resultados
branding, by communicating authentic moral sugieren que las marcas comerciales configuran
values, can give shape to individuals’ self-identi- la identidad del yo de los individuos, en términos
ty in terms of authenticity and successful brands de autenticidad y que las marcas exitosas se con-
become moral frameworks. vierten en marcos morales.

Keywords: brand authenticity, moral values, Palabras-clave: autenticidad de marca, valo-


everydayness hermeneutic. res morales, hermenéutica de la cotidianidad.

Résumé:
Resumo: Ce discours prend part à une recherche autour
Este artigo integra uma investigação em curso de la relation entre les marques commerciales
sobre a relação entre branding e valores morais, et les valeurs morales des sociétés occidentales
focando-se nas sociedades ocidentais pós-mo- postmodernes. Le but de cette recherche est de
dernas. Tem como objetivo descobrir a relação trouver la relation qui existe entre les marques
entre marcas e auto-identidade em termos de commerciales et la construction de l’identité
autenticidade, tema atual dada a preponderan- de soi, comprise comme authenticité au mi-
te discussão sobre o conceito de autenticidade lieu d’une tendance qui souligne l’authenticité
das marcas. Seguindo os desenvolvimentos filo- d’une marque. On utilisera la phénoménologie
sóficos e sociológicos da pós-modernidade, este et l’herméneutique de la quotidienneté. Ainsi on
artigo centra-se na fenomenologia do dia-a-dia analysera une publicité à partir de la sémiotique
e na hermenêutica. Os resultados da análise se- pour pouvoir identifier les valeurs liées à l’idéal
miótica feita a um caso publicitário sugerem que moral de l’authenticité. Les résultats suggèrent
as marcas bem sucedidas, ao comunicar valores que les marques configurent « l’identité intégral
morais autênticos, podem definir a auto-identi- de soi » des individus, et que les marque devien-
dade dos indivíduos em termos de autenticidade, nent des encadrements moraux.
tornando-se, assim, estruturas morais.
Mots-clés: authenticité d’une marque, valeurs
Palavras-chave: autenticidade da marca, va- morales, herméneutique de la quotidienneté.
lores morais, hermenêutica do quotidiano
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Introduction understand brands and their messages.


Philosophers like Martin Heidegger held In the postmodern era, “we have a different
that modern philosophy had reduced the science epistemology to help us understand the world;
of the being to a science of a thing by overusing the absolutism and universality of modernity
the mathematical, scientific method. For Hei- have dissipated and become dispersed” (Stokes,
degger, the question about the being cannot be 2013, p. 22). Individuals have started to seek in-
addressed as a question about a thing (what is the side their communities to look for the elements
being?). Instead, philosophy should deconstruct that constitute their identities and give sense to
all the metaphysical tradition and ask, directly, their lives. In this context, our research question
about the meaning of being (what does it mean to is: How do brands help the construction of self-
be?) (Heidegger 2013). And philosophers should -identity in terms of authenticity? It will try to
look for an answer in the place where human demonstrate that branded advertising uses, te-
beings interact most of the time with the being: aches and reinforces the values of authenticity
everyday life. and that way becomes one of the sources of self-
Ludwig Wittgenstein had a similar aim: he -identity construction.
proposed understand the world through the uses
of language and the understanding of the beliefs 1. Methodology
that underlie everyday social practices. To live The general approach of this research will be
everyday life, human beings should presuppose framed by the multi-realism and soft-relativism
the truth of their beliefs and act accordingly. For of Heidegger and Wittgenstein ontology and
both, Heidegger and Wittgenstein, it is possi- epistemology. The concepts of self-identity and
ble to find more meaning of our existence in the authenticity will be defined and analysed using
simplicity and familiarity of everyday life than Charles Taylor moral epistemology, and both
in a strictly theoretical, epistemological appro- neo-pragmatism and postmodern theories; the
ach. This is the base of the phenomenology of concept of advertising will be interpreted by using
everydayness (Guignon, 1990). postmodern and poststructuralist frameworks.
For this approach, knowledge is a matter of The methods to be used are Dreyfus’ Everyday-
understanding social practices: “Counting on ness Hermeneutic for a contextualisation, and
the shared agreement in our practices, we can do Social Semiotics and Barthean Semiology to per-
anything we want to do: understand the world, form the analysis of a TV advertisement, hence
understand each other, have language, have fa- suggesting the pertinence of our results.
mily, have science, etc.” (Dreyfus, 1991, p. 156).
In other words, knowledge means understanding 2. How does the Human Being learn to un-
and communicating the sense of social practices. derstand the world?
Knowledge is a matter of how the human being When learning how to understand the world,
learns to understand the world, and how he com- the human being, due to its dialogical nature,
municates this understanding. shares horizons of meaning with others: “thin-
This knowledge has a hermeneutical ba- gs take on importance against a background of
sis: what Hubert Dreyfus calls hermeneutic of intelligibility. Let us call this a horizon” (Taylor,
everydayness: “what counts as real for a culture 2003, p. 37). These horizons fulfil and are fulfil-
depends upon the interpretation in its practices” led by moral frameworks. According to Taylor,
(Dreyfus, 1991, p. 262). Reality understanding human beings need to interact with three axis re-
and its communication depend on the way the garding the way the self reaches and learns moral
human being interprets his interaction with his values. The first axis refers to the ideas and belie-
peers. This research suggests that there are simi- fs that support the mutual respect among human
larities between the way human beings learn to beings; the second one to the ideas and beliefs
understand the world and the way they learn to that are the primary source of sense in our life, or
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value horizons; the third refers to the ideal of hu- through art, where the creator/artist, puts the
man dignity: “our sense of ourselves as comman- observer in contact with meaningful concepts
ding (attitudinal) respect” (Taylor, 2001, p. 15). for their common culture and tradition, dis-
Due to the modern aim of developing a scien- playing his artwork; through advertising, which
tific method to rule life and to the fact that moral is a type of communication that was born with
frameworks belong to a world completely alien to modern societies, in which economy and econo-
science, one of the main features of postmodern mical transactions have had a central weight in
societies is the apparently lack of framework, the the community lives.
lack of sense, a permanent quest for sense and Although there are many ways to define ad-
meanings. However, by analysing the human vertising, it is possible to say that advertising is
being interaction with his peers, and considering an audio-visual technique that makes known and
Taylor’s three axis, it seems possible to find out a promotes a company, a brand, its values, a ser-
moral ideal that gives sense to the way the “self” vice, a product, etc.. Its aim is for the selected
interacts with other selves. It is the realisation audience to choose the promoted item (whatever
that each human being has the right to choose it is) among others, in a very competitive market.
the way of life that he desires. Since its modern beginning in the 19th century
Therefore, any analysis will be done based on until actual days, advertising has developed di-
the modern ideal that “each of us has an original fferent channels to communicate its contents
way of being human […] I am called upon to live and to reach its audiences (printed, mass media,
my life in this way and not in imitation of anyone social media, etc.).
else’s” (Taylor, 2003, pp. 28-29). According to
Taylor, the ideal of authenticity is a moral one: 3. How do Human Beings learn to unders-
being true to oneself. This “means being true to tand brands?
my own originality, and that is something only By defining self-identity in terms of authen-
I can articulate and discover. In articulating it, ticity, human beings understand the way they are
I am also defining myself” (Taylor 2003, p. 29). interacting. Therefore, companies, through their
Understanding this ideal means to analyse the brands, to be meaningful to people’s lives, should
way the self-identity is constructed, and in what fulfil the moral ideal of authenticity. That is why,
ways individuals learn and acquire moral values. since few years ago, brand authenticity percep-
If it were to answer, “how do human bein- tion has been gradually incorporated in the cur-
gs learn to understand the world?” grounded rent spectrum of brand management.
on Taylor’s thinking, the response would be by Marty Neumeier brilliantly highlights:
making clear the reason that underlies their hori-
zons of value and moral frameworks: everything A recent study of the S&P 500 showed that the mo-
netary value of intangible assets had increased from
that matters to the significant others (Taylor, 17 to 80 percent over a 30-year period. The largest
2003, p. 33). The significant others are family, of these companies’ assets were brands. What has
friends, school, university, community, etc., with driven the increase is an improved ability to connect
emotionally with customers through qualities such
whom every human being shares meanings and as immediacy, personalisation, self-identity, and
forms of life: tradition, language, culture, reli- empowerment (Neumeier, 2016, pp. 25-27).
gion, ideals, goals, science, etc..
The next question would then be “How do Companies have realised that to get a pro-
human beings communicate this understanding fitable brand perception with consumers, they
of the world?” Mainly via education, a traditional should connect at the onto-epistemological level
way of communication in which an experienced of personalisation and self-identity.
and expert teacher instructs the most inexpe- Accordingly, a successful brand should be
rienced about the way we have settled the world something present in consumers’ everyday life at
in terms of history, community and tradition, its most personal level: “A brand is a customers’
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ARTIGO

gut feeling about a product, service, or company. The process starts when a brand is set up
[…] A successful brand can become a touchsto- after recognising moral frameworks (1). After a
ne in a customer’s life – a vivid symbol of what’s process of interpreting value horizons (2), ac-
useful, delightful, and even magical” (Neumeier, cording to the moral frameworks, the brand,
2016, p. 27). If Taylor is right, and based on that through advertising, transmits moral values (3)
“I can define my identity only against the back- and constructs and defines self-identity (4). The
ground of things that matter” (Taylor, 2003, p. process starts again, but, this time, the moral
40), then brands should place themselves at the frameworks and brand are interpreted (5) ac-
level of things that matter. cording to the values that have already defined
Moreover, as “…branding […] is a fundamen- self-identities. This reinterpretation drives a
tal manifestation of the human condition” (Olins, new interpretation of value horizons (6). This
2014, p. 189), it is possible to say that the branding last step allows the brand to transmit, throu-
process will follow the structure of the hermeneu- gh advertising, a new set of moral values (7),
tical circle of human knowledge. In their interac- which are going to be the base of self-identities
tion with others, the human being realises that (8). In a spiral logic, the process continues, ad
there is a reason that underlies everyday social eternam, adding meaningful values to the moral
practices, which follows a moral ideal. Individuals frameworks.
behave according to the values of this ideal and, There are several examples of reinterpreta-
at the same time, reinterpret the content of the tion of values that could be listed, such as in-
moral ideal according to the needs they find out corporating new members to a target audience
in everyday interactions with others. This cycle (for instance, targeting a gay audience in a tra-
never stops. ditional straight market or incorporating a fe-
In the same way, the
branding hermeneutical
circle (Figure 1) is a pro-
cess of setting up a brand:
after understanding the
reason that underlies so-
cial practices of a commu-
nity (or target audience)
the brand is setting up by
getting the moral values of
the community. The brand
interacts with its audien-
ce in several ways. One of
them is advertising, whi-
ch is one of its strongest
tools of communication,
providing brands with two
iterative reinterpretation
moments: firstly, accor-
ding to needs and opinions
of its target audience, the
brand reinterprets itself,
and then it reinterprets
the moral ideals that give
sense to its context. Figure 01. Branding hermeneu�cal circle. Its design was based on the Harvard’s loyalty loop design (Chrissy, 2014)
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male audience to traditional male ones) or adap- origin, American values, which are in permanent
ting products to factual needs (facing the real and change. Also, the success of the brand has spread
current problem of excessive sugar consumption, the values worldwide, influencing and therefore
companies develop sub-brands targeting specifi- reinterpreting other cultural realities.
cally audiences that cannot consume sugar). In The communication strategy by means of
this process, advertising has a key role in the com- advertising should consider all the features of
munication of moral values that are at the source brand identity that depend on its cultural context
of self-identity. Therefore, it is possible to say that and communicate these meanings, but also teach
advertising starts to show itself as a constitutive and reinterpret them. Advertising, then, plays a
element of self-identity as it puts in contact hu- central role in communicating brand messages,
man beings with the values that really matter in following the iterative process of the brand her-
their specific contexts. meneutic circle.
For instance, when using Kapferer’s brand
identity prism (2008) to analyse Coca Cola’s 4. Measuring the Values of Authenticity
brand identity dimensions (physique, personality, In line with all the content developed, it will
relationship, culture, self-image, reflection), most be stated that the moral ideal of authenticity is
of them could be reinterpreted (Figure 2). Let us the moral ideal extended in many Western post-
focus on its personality and culture: Happiness modern societies, which content could be redu-
(since Coca Cola is defined as a Happy brand) has ced to: 1) I have the right to choose the way of life
varied according to time and culture, therefore, its that I consider best suit my needs and current
content will always depend on the context where situation; 2) I can expect respect to my moral de-
Coca Cola wants to develop the brand. The same cisions as much as I should respect others’ moral
will clearly happen with Coca Cola culture, which decisions; 3) I must look for self-fulfilment in life
is always depending of the cultural context: in its by being truth to myself, and 4) The mixture of

Figure 2. Coca Cola analysis through Kapferer’s brand prism


Source: Brand Manager Guide website
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the three previous ideals should give me the cri- moral ideal. A meaningful ideal for everyday life.
teria to decide what is worthy of being lived. In Morhart, Malär, Guevremont, Girardin and
other words, give me the criteria to establish a Grohmann (2014) have developed an interes-
hierarchy of values. ting framework for researching brand authen-
Authenticity, explained this way, is the main ticity and also a scale for measuring the percei-
source of self-identity. Human beings should in- ved brand authenticity. They also suggest the
teract among moral frameworks because these ways perceived brand authenticity could affect
are the places where people will find the moral brand attachment and state that there is a clo-
distinctions and hierarchy that will be of much se relationship between brand authenticity and
use in everyday decisions. This interaction is self-authenticity. According to them, there are
quite relevant because humans “incorporate a four dimensions for taking into account when
crucial set of qualitative distinctions. To think, measuring perceived brand authenticity (PBA):
feel, judge within such a framework is to function continuity, credibility, integrity and symbolism.
with the sense that some action, or mode of life, They define PBA as “the extent to which consu-
or mode of feeling is incomparably higher than mers perceive a brand to be faithful toward itself
the others which are more readily available to us” (continuity), true to its consumers (credibility),
(Taylor, 2001, p. 19). motivated by caring and responsibility (inte-
What are then the values related with the grity), and able to support consumers in being
moral ideal of authenticity? Or, in other words, true to themselves (symbolism)” (Morhart, et al.,
what does it mean to be authentic? By an inferen- 2014, p. 8). Interestingly, these four dimensions
ce exercise, it is possible to break down the moral fit the definition and analysis of the moral ideal of
ideal of authenticity in some of their basic cons- authenticity already put forward and, therefore,
titutive values. Authenticity implies Originality the PBA model is quite useful for this research
and Uniqueness in the moral choice. Everyone (Figure 3).
has an original and unique way to choose an iden-
tity that fits his way of life. Authenticity implies
to interact with others’ moral options in a res-
pectful way. Respect, Openness and Inclusive-
ness are three more of its values. Moreover, one
of the most important dimensions of authenticity
is to be true to oneself. Hence, Honesty is another
of its main values, as well. As a consistent moral
ideal, authenticity requires of Loyalty to the cho-
sen moral way.

5. Brand Authenticity
During the last years, there is a tendency to-
wards putting an emphasis on Brand Authenti-
city (Rabe, 2016), which has been criticised due
to the vague use that the word authenticity has
itself (Olins, 2014; Silk, 2016). Wally Olins shows Figure 3. Adver�sing porosity graphic
this kind of criticism when he says that: “I am
getting a bit bored of reading about whether the The PBA model analyses the way the consu-
Mini is authentically British” (Olins, 2014, p. 10). mers perceive a brand. It is a measure of the way
Authenticity is exposed to this kind of criticism the brand communicates its values and links its
when is related to heritage or origin. However, promise with the consumers’ cultural and moral
in this paper, authenticity has been analysed as a background. To understand this and finish this
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research, a semiological analysis of one of the la- the one presented to me as photographed or dra-
test Coca Cola’s TV ads will be performed. wn — it is image-clothing. The second is the same
garment but described, transformed into langua-
6. Brands communicating moral values ge; […] the first structure is plastic, the second
The analysis of the TV advertising “The Po- verbal” (Barthes, 1990, p. 3).
ol Boy” (Figure 4) will focus on the storytelling, We would argue that the last shot of the ad-
message and values communicated. The main to- vertisement (Figure 5) condenses the history in-
ol will be Roland Barthes’ semiology, to find out side it and combines it with the written message:
what are the mythologies underlying the narrati- “Taste the feeling”. Despite not being a fashion
ve of the ad. The analysis will be focused on what ad, it is possible to find similarities between
Barthes called the signification of the advertising, image and its anchorage: the same garment but
which is the sign at the level of the myth (Barthes, transformed into language. The difference with
1991), but a visual social semiotics analysis will fashion is that Coca Cola is not selling clothing.
also be performed, grounded on van Leeuwen’s Moreover, it is not selling just a bottle of a soft
multimodality framework (2005). drink. It is selling an experience, a feeling (using
several meaningful symbols for it).

Figure 4. An ini�al frame from Coca Cola’s TV ad, The Pool Boy
Source: www.campaignlive.co.uk
Figure 5. The closing frame from Coca Cola’s TV ad, The Pool Boy
According to Barthes, mythology is a meta- Source: www.campaignlive.co.uk
language that implies two communication sys- In this narrative process, there is a clear main
tems, being the first at the language level, whe- character, the pool boy. On analysing the initial scre-
re it is possible to find a signifier (meaning), a enshot and considering that: “the actor is the par-
signified (concept) and a sign (sign). The second ticipant from which the vector emanates, or which
constitutes the myth, and its elements are the itself, in whole or in part, forms the vector” (Kress,
signifier (the form: the whole first system), the 2006, p. 63), it is easy to realise that the vectors, whi-
signified (concept) and the sign (signification) ch will be the origin and dynamic forces of the story,
(Barthes, 1991, p. 113). emanate from him: pointing, on the one hand, to the
This advertisement is a very complex pictu- upstairs window, from where another character will
re but the analysis performed highlights only the appear and, on the other hand, to the ground floor
features relevant for the main topic of research: where the third character will play its role. There is a
communication of moral values. In the selected high modality in the whole picture.
case, the analysis focused on two aspects. On the The story inside the advertisement is quite fun:
one hand, it follows a narrative scheme: there a pool boy is cleaning the pool of an upper middle-
is a story inside the ad. On the other hand, the -class family. Next to the pool, inside the house, two
advertisement finishes by following a pattern siblings contemplate the pool boy doing his job, but,
of image and text. Very similar to what Barthes at the same time, they are disarmed by his charm
analysed and depicted in the fashion world: “I and are delighted with his contemplation. The inte-
open a fashion magazine: I see that two different resting thing is that these two characters are sister
garments are being dealt with here. The first is and brother, and both fancy the pool boy. The story
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

reaches a peak when they realise that the pool boy is advertisement shows a brand delivering a message
exhausted due to the hot weather, and they start a of freshness (to refresh the world); a brand that ins-
fight for being the first to give him a refreshing Coca pires moments of optimism and happiness (such as
Cola. the whole story can) and a brand that creates value
The story continues among funny scenes indu- and makes a difference (including the gay audien-
ced by the siblings fighting. However, all comes to ce or considering the oldest generations in the con-
its end when the siblings finally reach the pool just cerns and disputes of the youngest ones). The strong
to find out that their mother has anticipated them erotic language is also a feature of it.
by bringing a refreshing Coca Cola to their object On the other hand, by doing so, the brand is
of desire. The advertisement finishes with the main communicating moral values: Openness, when the
character drinking the Coca Cola, next to the mother advertisement is openly clear about the aim of the
(again, with the vector originating from him, now siblings or the sexuality of the gay brother. Inclu-
with the arm in a drinking position, and pointing wi- siveness, when the brand is including traditional
th the elbow to the mother, who was the unexpected target audiences, which were hidden in during the
main character of the fighting story between brother past (like the gay audience, or the audience of midd-
and sister) and facing brother and sister. The final le age people). Honesty, when showing an honest,
shot is the appearing of Coca Cola logo over the sce- genuine, friendly dispute between brothers. Origi-
ne and a written message: “Taste the feeling”. nality and Uniqueness, delivering a story that, even
In a briefly semiotic approach, there are two le- being similar to others, it has its original, creative
vels of approach. In the first level, there is a written and unique features. Respect, when treating equally
message: “Coca Cola. Taste the feeling” (sign); there different and diverse audiences. The most relevant
is a story, the one about the pool boy. The presence of feature of the advertisement is that the final messa-
Coca Cola in the advertisement makes a difference. ge is clear: Coca Cola represents all these values and
It is possible to understand that Coca Cola is more sharing them is fun.
than a drink, it is a feeling (concept). So, the meaning Coca Cola is not just targeting an audience that
(signifier) at the first level could be: sharing a Coca holds this kind of values. It is, through promoting
Cola with others can be an adventure, full of feelin- its company’s values and transmitting values of au-
gs. At the second level, the analysis becomes more thenticity, becoming a source of moral values. It is
interesting, the meaning (signifier) is given by the becoming a school of values. In terms of research,
whole first system: sharing a Coca Cola with others it is becoming a value horizon for its target society.
could be an adventure, full of feelings. The concept: Being fun or having fun means be bold to accept
Coca Cola is more than a drink, it is a feeling. So, yourself, being true to yourself and set your goals
the question is, what is the signification (sign) of this accordingly. If the advertising watcher just focused,
advertisement? for instance, in the story of the gay brother, he/she
This advertisement could suit the context of would perfectly fit the former process. The most in-
many of the postmodern Western societies, as the teresting aspect is that the gay brother story is natu-
United States, other American countries and Eu- rally inserted in the whole one and it is accepted as a
rope. There are clearly three sensible subject mat- genuine and necessary part of the whole. There is no
ters (which does not mean that there are not some element that could push the observer to think that
more subject matters) in the advertisement: 1) the this story was out of place.
presence of the gay brother; 2) the fight between the As it can be seen, the first level of semiotic analy-
gay brother and his sister, and 3) the presence of the sis of its content shows a really funny story that en-
mother as third contestant in the fight for reaching gages with the audience and promotes Coca Cola in
the gorgeous pool boy. All of them charged full of the most open, friendly and erotic appealing context.
symbolism. But, it is deepening into the second level of analysis
On the one hand, the advertising is transmitting that it is possible to realise that the advertisement
that Coca Cola is a brand that fulfils its promise. The is not just promoting a product or a brand or even
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ARTIGO

communicating meaningful creative ideas to the corroborate the presented results. Future work will
consumers. The advertising is transmitting moral include a quantitative research, amplifying the ad-
values that give meaning to the audience everyday li- vertising analysis of four brands in the Food and
ves, values that also make a difference in these lives. Beverage industry in the United Kingdom. Also, the
It could be said, however, that the economic research will be fulfilled with qualitative analysis, in-
power of Coca Cola would be enough to guarantee terviewing some of the main agencies that currently
their leader position in the market. And, of course, work or had worked with the selected brands.
that is very true. However, why should such a po- As it has been seen, talking about authenticity
werful brand set up its ads in such a moral way? And at the level of a moral ideal, bring the reflection and
now, moral means highlighting some values among research to an epistemological level, which is the le-
others. This research would dare to say that it is be- vel where human beings develop and set up the way
cause that it is what the target society is asking for, they understand the world. It is good to position the
as depicted in the hermeneutical branding circle (Fi- reflection at this level because it helps the researcher
gure 1). to find out what is the reason beneath some sort of
The Perception of Brand Authenticity research, phenomena like trends or fashions. Moreover, it is a
which was quoted above, “also suggests that PBA in- perfect way to develop branding systems that allow
creases emotional brand attachment and word-of- to connect brands with their target audiences at the
-mouth, and that it drives brand choice likelihood level of their more basic interests, where identities
through self-congruence for consumers high in are in process of elaboration and interpretation.
self-authenticity” (Morhart, et al., 2014). The more One of the next steps of this research is to de-
authentic the brand is (in terms of the moral ideal velop an epistemological branding system. It is also
of authenticity), the most likely it will have a huge necessary to start to test this system in the develop-
engagement among audiences, high in authenticity. ment of new brands. It will be also worth of trying to
If the orientation of this research is right, this test it with some authentic brands that are already
could mean that a brand high in PBA has become deep inside their market segments. In other words,
a moral framework for its target community. So, all the systems of an epistemological branding pro-
advertising will be the medium of communicating cess should be tested against real brands to polish
or teaching moral values and, therefore, a tool for this process and introduce it in the market.
constructing self-identity in terms of authenticity,
by reinforcing the meaning of values of authenticity Conclusions
present in everyday life. Coca Cola is just an example Authenticity has to do with fulfilling the life
of it. being truthful to oneself. Building up self-identity,
in terms of authenticity, means being true to one-
7. Limitations and Future Work self according to the values that the contextual va-
This research was the basis of a Master’s disser- lue horizons and moral frameworks establish. The
tation project, which, at the same time, will be the base of these value horizons and moral frameworks
foundation for a PhD project. All the elements depic- is everyday interaction among human beings. The
ted and analysed here will be, therefore, developed understanding of this interaction allows human
in more detail and profundity. The present paper beings to identify themselves with their social practi-
has been fulfilled mainly with literature review and ces, through an interpretation process, which allows
qualitative analysis. The choice of Coca Cola as an human beings to permanently actualise their social
example was because this brand is considered one practices.
of the most authentic brands in the market (Rabe, Companies should create brands according to
2016, p. 5). the values shared by the target audiences they aim
Nevertheless, an in-depth semiotic analysis to at reaching. In Postmodern western societies, com-
the whole advertisement would have brought in- panies mastering the values of authenticity will de-
teresting insights, which, as we anticipate, would velop an authentic brand, connecting and fitting the
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ARTIGO

personal values of authenticity. By doing this, their Come. London: Thames and Hudson, 2014.
brands will become part of the culture of their tar-
OLINS, Wally. The Brand Book. London: Thames
get audiences. Advertising, when used by authentic
and Hudson, 2010.
brands, is a tool to communicate and teach moral
values. Therefore, the success of authentic branding RABE, Bec. 5 must-see infographics on the value
will bring economic success, but at the same time, it of brand authenticity. Available in: <https://www.
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Management: Creating and Sustaining Brand
1Director at CREEKSON TRADE LIMITED CREEKSON TRADE
Equity Long Term. London and Philadelphia: Ko- LIMITED University of West London, London, Greater London,
gan Page Publishers, 2008. United Kingdom
2Senior Lecturer in Branding and Innovation. Catarina Lelis began her profes-
KRESS, Gunther & VAN LEEUWEN, Theo. Rea- sional experience back in 1997 as a graphic and software interface designer. She
ding Images: The grammar of visual design, New is a certified coacher/trainer since 2003, acting in domains such as design, cre-
ativity, branding, illustration and publishing technologies, having collaborated
York and London: Routledge, 2006. with several companies regarding their continuous learning policies. In 2006,
she co-founded both a publishing start-up and the Portuguese Association for
MORHART, Felicitas; MALÄR, Lucia; GUEVRE- Innovation and Creativity in Organisations. She was the creative director and
content manager of the first Portuguese mass distribution magazine specialised
MONT, Amélie; GIRANDIN, Florent & GRO- in innovation issues. She started her teaching experience in 2007. Her research
and entrepreneurial ideas were recognised and funded by FCT, the Portuguese
HMANN, Bianca. Brand Authenticity: An In- national funding agency for science, research and technology. In 2012, she won
tegrative Framework and Measurement Scale. the first edition of IdeaPuzzle Prize, which aims to award the best Portuguese
PhD research design created with IdeaPuzzle® software. Catarina lead the Our-
Journal of Consumer Psychology, doi: 10.1016/j. Brand® project, from mid 2013 to early 2015. OurBrand® was an entrepreneu-
rial project, which main goal was the design, development and deployment of a
jcps.2014.11.006, 2014. technological/digital solution for the creation of participatory brand centres. Wi-
th this project, she won a national entrepreneurship contest, which prize took her
NEUMEIER, Marty. The brand flip. San Francisco: into a one week immersion program in Silicon Valley, and her team was selected
for the semi-finals of MIT-Portugal Innovation & Entrepreneurship Initiative
New Riders, 2016. Building Global Innovators Venture Competition. Her research interests include
Participatory Brand Design, Brand-Oriented Ecologies, Dynamic/Flexible Bran-
OLINS, Wally. Brand New: The Shape of Brands to ds, Creative Skills Development, Visual-Digital Literacy, Technology-Mediated
Communication and User Experience.
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ARTIGO

Marca ou local?
O nome geográfico
como agregação
de valor

Patrícia Pereira Peralta1


Elaine Vianna2
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ARTIGO

Resumo: Resumén:
A proteção legal das marcas é a condição necessá- La protección jurídica de las marcas es la condi-
ria para que os seus proprietários tenham direito ción necesaria para que sus propietarios tengan
ao seu uso exclusivo. Embora a circulação de pro- derecho a su uso exclusivo. A pesar de que la cir-
dutos e serviços se dê em escala internacional, culación de bienes y servicios para llevar a esca-
essa proteção deve ser feita em cada território la internacional, esta protección debe hacerse en
onde exista a inserção da marca no mercado. Es- cada territorio donde se encuentra la inclusión
te trabalho investigou as tendências de proteção de la marca en el mercado. Este estudio investigó
de marcas que contêm as palavras “Amazônia”, las tendencias de protección de marcas que con-
“Pantanal”, “Rio de Janeiro” e “Copacabana” nos tienen las palabras “Amazonas”, “Pantanal”, “Río
territórios que recebem anualmente o maior nú- de Janeiro” y “Copacabana” en los territorios que
mero de pedidos de registro de marcas segundo reciben anualmente el mayor número de solicitu-
a Organização Mundial da Propriedade Intelec- des de registro de marcas en la Organización de la
tual. Foi possível constatar que a nacionalidade Propiedad Intelectual. Se encontró que la nacio-
dos titulares varia, foram identificados os setores nalidad de los titulares de los rangos se identifi-
que utilizam essas marcas e as possíveis motiva- caron sectores que utilizan estas marcas y las po-
ções e implicações desse uso. sibles motivaciones y consecuencias de este uso.

Palavras-chave: marcas; proteção legal; ten- Palabras-clave: marca; protección legal; tene-
dências. dencias.

Abstract: Résumé:
The legal protection of trademarks is the neces- La protection juridique des marques est la condi-
sary condition for their owners to be entitled to tion nécessaire à leurs propriétaires ont droit à leur
their exclusive use. Although the circulation of usage exclusif. Bien que la circulation des biens et
products and services takes place on an interna- services à prendre à l’échelle internationale, cette
tional scale, such protection must be provided in protection doit être faite dans chaque territoire où
each territory where the mark is placed on the il est l’inclusion de la marque sur le marché. Cette
market. This work investigated the tendencies of étude a examiné les tendances de la protection de la
protection of trademarks that contain the words marque contenant les mots “Amazon”, “Pantanal”,
“Amazônia”, “Pantanal”, “Rio de Janeiro” and “Rio de Janeiro” et “Copacabana” dans les territoi-
“Copacabana” in territories that annually recei- res que chaque année reçoivent le plus grand nom-
ve the largest number of trademark applications bre de demandes d’enregistrement des marques
according to the World Intellectual Property de l’Organisation mondiale de la propriété intellec-
Organization. It was possible to verify that the tuelle intellectuelle. Il a été constaté que la nationa-
nationality of the holders varies, identify the sec- lité des détenteurs varie, les secteurs qui utilisent
tors that use these marks and the possible moti- ces balises et les motivations possibles et les impli-
vations and implications of this use. cations de cette utilisation ont été identifiés.

Keywords: trademarks; legal protection; trends. Mots-clés: marques; protection juridique; ten-
dances.
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ARTIGO

Introduction minologia e o desenvolvimento de campanhas de


Sinais que agregam valor, na atualidade, marketing para vincular a mesma a certos pro-
significam alavancas para as empresas em suas dutos ou serviços apenas o primeiro passo, pois
inciativas de conquistarem consumidores. Tais há que se ter um direito ao uso exclusivo desse
sinais, comumente denominados marcas, pos- sinal de forma a evitar concorrências não leais de
sibilitaram o surgimento de destacadas áreas de outros empresários. Para garantir esse uso exclu-
gestão e de marketing, dentro das empresas, que sivo, faz-se necessário a proteção da designação
desenvolvem, com estratégias bem delineadas, geográfica como marca através de oficinas gover-
sentidos diferenciados às marcas que passam a namentais que as analisam e registram como um
comunicar aos consumidores valores de vida, in- tipo de propriedade intelectual. A propriedade
do muito além de suas funções mercadológicas. intelectual, em função da capacidade que a mes-
A literatura referente à gestão estratégica ma confere aos agentes de explorarem uma in-
das marcas vem crescendo. Autores do campo do venção ou determinados segmentos de mercado
marketing como Kotler (2006), Keller e Machado com exclusividade, através das marcas, está se
(2006), Kapferer (2003 e 2004), Aaker (1998 e tornando um elemento corriqueiro nas estraté-
2007), Semprini (2006), vêm dedicando-se, com gias de gestão das empresas. Portanto, por meio
maior especificidade, à construção de instrumen- da propriedade intelectual obtém-se o direito ao
tos de gestão e valoração de marcas. Quando ela- uso exclusivo de determinados sinais como mar-
boradas ainda pelos gestores de marcas dentro ca e, diversas vezes, tais sinais são constituídos
das empresas, as marcas recebem determinados por nomes geográficos detentores de certa noto-
significados que serão congregados por meio de riedade e reconhecimento.
sua missão. Todavia, ao serem inicialmente inse- Este artigo tem como objetivo apresentar o
ridas no mercado, as mesmas precisam de boas cenário atual de registro de nomes geográficos
campanhas de gestão, que incluem estratégias do território brasileiro que possuem certa noto-
de distribuição e comunicação, campanhas estas riedade como marca em oficinais de propriedade
que possibilitam às marcas iniciarem a constru- intelectual de outros países e apontar algumas
ção de um diálogo e a transmissão de seus valores das consequências resultantes de tais registros
para os consumidores3. que afetam tanto o direito ao uso corriqueiro des-
Ao elaborarem novas marcas para serem in- ses sinais pela sociedade, bem como a gestão e as
seridas no mercado, profissionais de branding práticas comerciais atreladas aos mesmos.
e gestores preferem apropriar-se de um sinal já Visando a atingir o objetivo disposto, o arti-
existente ou criar sinais que se aproximem do go consta de metodologia de cunho exploratório,
produto ou segmento no qual os empresários vão amparada em revisão bibliográfica e no uso da
atuar. Ao se apropriarem de sinais já existentes, ferramenta TM View, base de dados internacio-
numa tentativa de inserção rápida no mercado, nal que congrega diversos bancos de dados de
determinadas empresas preferem termos que já marcas dos mais importantes oficinas de pro-
possuem sentidos com valores agregados. Assim priedade intelectual do mundo. A importância
ocorre com os nomes geográficos quando estes dessa ferramenta ainda não foi devidamente
já possuem certa notoriedade em função de uma reconhecida. Por meio dela, os profissionais de
produção específica local ou por serem consagra- branding e as empresas podem conseguir re-
dos destinos turísticos. alizar pesquisas que permitam que os mesmos
Destaca-se, todavia, ser a escolha de tal ter- optem por marcas que poderão ser protegidas
3Fernandez-Nóvoa (1978) aponta que só quando inserida no mer- de forma mais eficiente, evitando gastos desne-
cado, exercendo as funções para as quais a marca é destinada e en- cessários com o emprego de sinais que não terão
trando em contato com os consumidores que, efetivamente, a marca
passa a existir. Antes disso, poderíamos concluir, a partir do disposto
êxito. Além disso, por meio de tal ferramenta,
pelo autor, que a marca carece de sentido. Por seu turno, e endossan- torna-se possível acompanhar o movimento dos
do o disposto pelo citado autor, Corroza (1993) dispõe que as marcas
nascem vazias.
concorrentes através de seus segmentos de atua-
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ARTIGO

ção de forma a aferir suas estratégias comerciais. ferência das equipes de marketing e de branding
Dispostos o objetivo e metodologia, este arti- o uso de tais sinais em função das economias que
go fará uma breve abordagem do campo da ges- os mesmos proporcionam por já direcionarem a
tão de marca e do uso da designação geográfica mente do consumidor para as informações que in-
como ferramenta de destaque da estratégia de teressam ser comunicadas sobre o bem (produto
gestão, bem como das possibilidades existentes ou serviço) que a empresa introduz no mercado.
de proteção desse nome geográfico como marca Para além desses sinais de cunho mais des-
de produto ou serviço para, ao final dessas expo- critivo em relação ao produto ou segmento, há,
sições, apresentar os dados encontrados e traçar na atualidade, um crescente interesse em trans-
as conclusões. formar em uma marca localidades que possuem
atrativos desenvolvidos ao longo de sua existên-
1 . Nome de lugar como possibilidade de cia, tornando-se destinos preferenciais ao turis-
marca mo e, por isso, desenvolvendo um conjunto de
Marca, segundo o American Marketing As- serviços que movimentam a economia da locali-
sociation “é um, nome, expressão, indício, sím- dade. Esse novo comportamento, que transfor-
bolo, desenho, ou a combinação destas coisas ma cidades e localidades em ambientes que pas-
com o intuito de identificar bens ou serviços de sam a concorrer entre si como possíveis destinos
uma empresa ou grupo de empresas e diferen- turísticos, fez surgir o que alguns autores deno-
ciá-los dos da concorrência.” (KOTLER, 2006). minam como marketing territorial.
Percebe-se, por meio desta definição, comumen- Deste modo, o marketing territorial afirma-
te aceita, que qualquer sinal pode vir a constituir -se como um processo de gestão territorial, de
uma marca. Além disso, por meio da definição, descentralização de poder e busca de desenvolvi-
entende-se ter a marca um propósito, qual seja, mento local, sendo um integrador das vantagens
identificar e diferenciar produtos e serviços dos competitivas do lugar numa óptica de desenvol-
demais concorrentes no mercado. Esse papel vimento sócio econômico e territorial (KOTLER
comumente atribuído à marca possibilita que et al, 1999; CIDRAIS, 1998 apud FERNANDES e
a mesma facilite a vida dos consumidores, tor- GAMA, s/d).
nando o processo de escolha dos produtos de sua O marketing territorial reforça os nomes
preferência mais rápido e fácil. Exatamente por geográficos de alguns lugares que passam por
exercer esse papel, evitando que o consumidor si só a possuir um valor atrativo, funcionando
seja levado a erro nos processos de escolha das como verdadeiras marcas. Esses nomes geográ-
mercadorias de sua preferência, foi que a marca ficos, quando bem geridos por gestores locais,
acabou por receber algum tipo de proteção jurí- potencializam o interesse de turistas em poder
dica. usufruir de belezas naturais e/ou produções de
Retomando a definição, a marca pode ser cunho humano (produtos em si, festas, cultura
constituída por qualquer sinal. Há certa tendên- popular local, música etc.) que funcionam como
cia, segundo Al Ries e Jacques Trout (2009), para estratégias locais de agregação de valor.
a escolha de sinais que remetam o consumidor a Ao funcionarem como marcas, nomes geo-
qualidades ou atributos do produto, ou mesmo gráficos passam a gozar dos mesmos atributos
ao próprio produto ou segmento de atuação do presentes nas grandes marcas de empresas. As-
empresário4. Pode-se mesmo dizer ser uma pre- sim como Kapferer coloca que “algumas marcas
4“Por muitos anos ainda, os advogados de registro de marcas usarão
são muito mais que produtos, são redes de infor-
Lite como exemplo do perigo de se utilizar uma palavra descritiva mação e influência” (KAPFERER, 2004, p.110),
como marca registrada (os advogados adoram nomes inventados, também se pode pensar nos nomes geográfi-
como Kodak e Xerox). Escolher um nome é como dirigir um carro
de corrida. Para vencer, você tem de correr riscos. Tem de escolher
cos que, por auferirem notoriedade, adentram
nomes que sejam quase, mas não inteiramente, genéricos. Se, uma o imaginário não só dos seus residentes, como
vez ou outra, você se desviar do caminho e entrar em território gené-
rico, paciência (AL RIES e TROUT, 2009, p. 84). Grifo das autoras.
também daqueles interessados em conhecer as
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ARTIGO

especificidades locais. Os nomes geográficos, com seus valores dife-


A importância exercida atualmente por no- renciais, obtidos por meio das especificidades da
mes de certas localidades tornou alguns destes região a qual nomeiam, podem ser apropriados
merecedores de proteção via propriedade intelec- dentro desse universo de um market space, no
tual. Desde tempos antigos, lugares tornaram-se qual o que interessa são as informações, o simbo-
famosos pelos produtos extraídos dos mesmos lismo e mesmo o imaginário que transmitem. Ou
ou neles produzidos. Desde a Antiguidade5 fala- seja, tais nomes, que passam a ter um valor em
-se de um azeite ou vinho específico proveniente si, se forem apropriados como marca, quase que
de determinado lugar. Expressões como indica- automaticamente, transferem os atributos locais
ção de proveniência, procedência e denominação que carregam para os bens (produtos e serviços)
geográficas passaram a ser elementos corriquei- aos quais virão a distinguir num mercado global.
ros no tráfico comercial e puderam garantir não Ainda acompanhando Kapferer:
apenas informação sobre a origem de determina-
A marca é um sistema vivo composto de 3 elementos:
do produto, como vieram a possibilitar a agrega- um multissinal (nome, identidade gráfica, símbolo),
ção de valor para o mesmo. Assim, foi surgindo o associado a um (ou mais) produto(s)/serviço(s),
interesse em proteger os nomes geográficos que ao(s) qual (quais) é associada uma promessa de qua-
lidade, segurança e pertinência a um universo. A glo-
foram se tornando famosos, inicialmente, por
balização em seu sentido estrito (homogeneização
conta de alguma atividade produtiva local. do marketing) pode, portanto, referir-se não apenas
Diante de um mercado globalizado, compos- a um desses elementos mas a dois ou a três (a versão
to, principalmente, por produtos muito homo- mais subordinante). (KAPFERER, 2004, p.14).

gêneos, no qual as estratégias de diferenciação


tornam-se cada vez mais difíceis, exigindo uma Como “multissinal”, nomes geográficos utili-
complexidade de ações por parte dos agentes zados como marca carregam consigo a pertinên-
econômicos, utilizar determinados nomes que já cia a um universo, conforme exposto pelo citado
possuem certa fama ou notoriedade parecer ser, autor, e para o caso deste artigo, um universo
num primeiro momento, uma estratégia eficaz. permeado pelo sentido de pertencimento a uma
Diante da complexidade de um comércio em ní- localidade que se tornou reconhecida por seus
vel global, no qual os sinais transitam de forma atributos locais que passam a ser transferidos pa-
quase autônoma, vinculados normalmente a con- ra um sinal protegido como marca por um único
cepções, ideias e a um imaginário coletivo, não se empresário, fato que pode, inclusive, promover
deve deixar de observar as palavras de Kapferer informações de cunho enganoso ao consumidor.
sobre a sua diferenciação entre market space e Importante destacar ser a marca protegida
market place. Para o citado autor: exatamente com o intuito de evitar o engano do
consumidor, conforme apontado na introdução.
A distinção entre market space e market place é Em muitas legislações de propriedade intelec-
fundamental. O market space remete à idéia de um
espaço de concorrência agora totalmente aberto e
tual, os nomes geográficos não podem ser ele-
indivisível, no nível da circulação dos sinais e infor- mentos constitutivos de marcas registradas por
mações ou comunicações. As marcas devem assimi- alguns motivos elencados no próximo tópico,
lar que agora estão em concorrência nesse campo mas também por não poderem causar engano em
aberto de sinais e símbolos mundiais. Market place
lembra que a prestação de serviço material, tangível, referência à proveniência de produtos e/ ou ser-
permanece sujeita às obrigações das regulamenta- viços. Como brevemente apontado aqui, a marca
ções nacionais, das culturas locais, da distribuição. é um sinal carregado de sentido, que atua hoje
(KAPFERER, 2004, p. 104).
preenchendo o imaginário da atual sociedade
de consumo. Desta forma, permitir a apropria-
5Vide Zozzoli que coloca serem as lâmpadas romanas FORTIS, pro-
ção exclusiva de nomes geográficos por meio do
duzidas na planície da Lombardia “eram pelo volume de suas expor-
tações as mais vendidas”... “as marcas FORTIS eram dignificadas; direito à marca sem maiores problematizações,
além do nome, continham a usual coroa de flores e o desenho de uma tendo em vista o valor agregado que tais nomes
folha de palmeira” (ZOZZOLI, 1994).
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carregam consigo e transmitem ao consumidor, de busca do consumidor pelo bem desejado, o


torna-se um questionamento relevante. que parece relacionar-se com o disposto por
Gonçalves que aponta que a “marca tornou-
2. A impossibilidade de proteção do nome -se uma exigência cada vez maior à medida
geográfico como marca que a economia se caracterizava por uma pro-
A definição da AMA, trazida no tópico an- dução relativamente homogênea e estereoti-
terior para marca, não destoa daquela encon- pada do produto”. Segundo este autor, foi a
trada entre autores do campo da proteção ju- uniformidade derivada da produção em série
rídica desse sinal 6. Apenas acrescenta-se ser que tornou indispensável a proteção de sinais
a marca uma espécie pertencente à categoria de diferenciação (GONÇALVES, 1999, p. 25).
geral de sinais distintivos do comércio, onde Já Ascensão (2001) dispõe que a proteção da
se enquadram, também, outros sinais utiliza- marca tem sua base no interesse público, ten-
dos no mercado por agentes em busca de di- do em vista que, ao proteger um sinal como
ferenciação, como são os casos das indicações marca, evita-se a concessão de sinais engano-
geográficas, denominações de origem 7, nomes sos ao consumidor. Gonçalves, por seu turno,
comerciais, títulos de estabelecimento etc. ainda acrescenta que:
As marcas, enquanto uma espécie de bem
A necessidade de legislação no domínio das marcas
imaterial protegido por direitos de proprie- corresponde a interesses decorrentes do funciona-
dade intelectual, só passam a existir de for- mento de uma economia estruturalmente alterada
ma eficaz quando inseridas no mercado pa- após a revolução francesa e a revolução industrial.
Os novos princípios da liberdade de iniciativa e de
ra identificar e diferenciar dados produtos
concorrência, saídos da revolução francesa, e as pro-
ou serviços para os consumidores, conforme fundas transformações tecnológicas resultantes da
apontado por Fernandez-Nóvoa (1978). É por revolução industrial, com o aparecimento da produ-
exercerem uma função na atividade mercado- ção mecanizada e em série, tornaram indispensável
a tutela de meios de distinção dos produtos. (GON-
lógica, que se justifica a proteção que as mes- ÇALVES, 1999, p.25).
mas recebem. Para Ramello (2006), a marca
passa a ser aceita pela teoria econômica como A relevância da marca nos processos de
um elemento importante no mercado e mere- diferenciação das empresas foi brevemen-
cedor de proteção, na medida em que a mesma te destacada no tópico anterior. Todavia, o
diminui a assimetria de informação e o tempo protagonismo da marca nas práticas empre-
6Apenas para apreciação acerca do conceito de marca, apresentam- sariais da atualidade não é relevante apenas
-se algumas definições de diferentes autores: “Marca é, antes de mais,
um sinal, ou seja, uma realidade percpetível aos sentidos(…) Marca
para os seus gestores. A marca significa, para
pode assim ser definida, em termos gerais, como o sinal adequado a sociedade como um todo, um sinal que es-
a distinguir os produtos e serviços de um dado empresário em face
dos produtos e serviços dos demais. Ou, por outras palavras, o sinal
tabelece uma fidelização com seu público alvo
destinado a individualizar produtos ou mercadorias, ou serviços e a e, por estabelecer uma relação de confiança,
permitir a sua diferenciação de outras da mesma espécie” (OLAVO, na qual a mácula do engano deve ser evitada,
2005); “..o sinal pelo qual o produto ou serviço é conhecido e distin-
guido no mercado consumidor ou dentre os usuários...” (SOARES, a proteção a tal sinal tornou-se cada vez mais
1981); “todo sinal distintivo aposto facultativamente aos produtos e imperante. Não apenas isso, em função de
artigos das indústrias em geral para identificá-los e diferenciá-los de
outros idênticos ou semelhantes (...) (CERQUEIRA, 1982). uma globalização cada vez mais intensa, com
7Olavo, ao comparar indicações geográficas com denominações de o aumento significativo das trocas comerciais,
origem, permite entender o que sejam tais figuras: “Mas essa relação há diversas tentativas, algumas frutíferas, de
é mais forte no caso das denominações de origem do que no caso
das simples indicações geográficas, pois, ao passo que nestas basta
harmonização e aumento da proteção à marca
que a reputação, determinadas qualidades ou outra características conferida pelos diversos países.
do produto possam ser atribuídas à sua origem geográfica, nas de-
nominações de origem é indispensável que as qualidades ou caracte-
Destaca-se serem tais iniciativas de har-
rísticas do produto se devam, essencial ou exclusivamente, ao meio monização da proteção necessárias, pois o
geográfico de que é originário” (Olavo, 2005, p. 27). Como será visto direito à marca é territorial 8, ou seja, cada
a seguir, a noção de indicação de origem e denominação geográfica
tornam-se relevantes para a matéria discutida neste artigo. país possui certa liberdade, dentro do cenário
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mundial, para estabelecer sua própria legisla- Os nomes geográficos, objeto deste artigo, pos-
ção de proteção à marca. As tentativas de har- suem uma situação não muito uniforme. Nos Es-
monização das legislações em âmbito internacio- tados Unidos e nos países que compõem a União
nal lograram em alguns pontos positivos, como o Europeia, nomes geográficos só podem ser protegi-
de garantir a proteção às marcas de forma abran- dos como marca quando alcançam um significado
gente, mas, infelizmente, não em garantir trata- secundário, ou seja, deixam de designar o nome do
mento uniforme para todo o sinal que pleiteie a lugar para indicar determinada série de produtos
condição de marca registrada. ou a prestação de determinado serviço, fenôme-
Tendo como base dois tratados internacio- no denominado como secondary meaning9. Em
nais em matéria de propriedade intelectual, a outros países, entretanto, designações geográficas
Convenção da União de Paris e o Acordo sobre os são tratadas como um sinal de cunho arbitrário,
aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual podendo constituir marca.
relacionados ao Comércio, os países desenharam A vedação existente em algumas legislações
seu sistema de proteção às marcas. Apesar de ba- para a não concessão de nomes geográficos como
silares e estruturantes, os dois tratados citados marca deve-se a alguns motivos. O primeiro deles
deixam margem para que os países estabeleçam é o de preservar tal sinal livre de óbices – como
o que pode ou não ser protegido como marca. ocorre com o direito de uso exclusivo conferido pe-
Um sinal para ser marca deverá adequar-se à lo direito à marca – de forma a todos os agentes
legislação de cada país no qual seu titular decidir daquela localidade poderem utilizar tal sinal para
protegê-lo. Determinados sinais podem recair indicarem serem seus produtos ou serviços prove-
naquilo que a literatura denomina proibições nientes da localidade na qual estão estabelecidos.
absolutas e relativas. Por proibições absolutas, Outro motivo que pode ser indicado é o de evitar
Gonçalves (2003) aponta serem aquelas que di- que sejam concedidos sinais enganosos como mar-
zem respeito ao interesse público ou ao interesse ca quando o requerente de um sinal composto por
de grupos homogêneos, como os concorrentes, nome geográfico não seja da localidade designada
ou seja, sinais que não podem ser concedidos pelo sinal. Gonçalves (2003) assim descreve o tra-
a uma única pessoa, pois afetariam ou os inte- tamento dado à matéria em Portugal, país partíci-
resses da sociedade ou o interesse dos demais pe da União Europeia, apontando serem os nomes
concorrentes. As proibições relativas, ainda se- geográficos, entendidos aqui como nomes de lugar
gundo o autor citado, dizem respeito a interesses ou localidades, como sinais descritivos. Como tal, o
de particulares e, por isso, impedem o registro requerimento de tais designações como marca po-
de determinados sinais apenas quando os mes- de ser analisado a partir de diferentes e complexas
mos não sejam do próprio requerente ou quando, situações, sendo conveniente delimitar o âmbito
não sendo do próprio requerente, não venham da questão. Desta forma, aponta o autor algumas
acompanhados de autorização de seus titulares situações e o entendimento tomado em cada uma:
(GONÇALVES, 2003). As proibições absolutas
(...) a) – se o nome geográfico constituir uma denomi-
e relativas têm um tratamento muito similar nação genérica do produto. (...) a proibição resultaria já
entre os países que aderiram aos tratados cita- do que se observou a propósito do sinal genérico; b) –
dos. Entretanto, sempre existem diferenças que se o nome geográfico usado de forma séria não traduzir
na realidade a proveniência dos produtos assinalados.
manifestam a não uniformização das tratativas. (...) [está-se] perante uma falsa indicação de proveni-
Sendo assim, sinais que em um determinado país ência (...); c) – se o nome geográfico for usado com um
podem constituir marca, em outros só o poderão significado não geográfico, de uma forma manifesta-
em algumas situações especiais. mente fantasiosa de tal modo que resulte evidente que
9“Por secondary meaning quer-se aludir ao particular fenómeno de
8“O princípio da territorialidade inerente ao direito de propriedade
conversão de um sinal originariamente privado de capacidade dis-
industrial, em geral, deriva do princípio maior da territorialidade tintiva num sinal distintivo de produtos ou serviços, reconhecido co-
das leis, segundo o qual as leis de determinado estado são aplicáveis mo tal, no tráfico económico, através do seu significado secundário,
única e exclusivamente no território daquele estado” (Gusmão apud por consequência do uso e de mutações semânticas ou simbólicas.”
Moro, 2003, p. 64). (GONÇALVES, 2003, p. 98).
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não há, nem pode haver, qualquer conexão relevante clusiva de produtos. (GONÇALVES, 2003, p. 79).
entre a denominação geográfica e a origem do produto
a que a marca se refere. (...) [esta] deve ser considerada
válida; d) – se o nome geográfico se reportar exclusiva- As reflexões tomadas pelo autor na obra cita-
mente a um domínio geográfico pertencente ao titular da são as mesmas que ele já vinha trabalhando em
da marca. (...) não se coloca o problema da salvaguarda sua tese de doutorado sobre a função distintiva da
do princípio da livre utilização subjacente a toda a pro-
marca, publicada em 1999 (GONÇALVES, 1999).
blemática das denominações geográficas descritivas;
(...) (GONÇALVES, 2003, p. 76-77). Percebe-se, portanto, que seu pensamento foi
mantido em relação ao tratamento dado à proteção
Há, ainda, um último caso apontado pelo cita- como marca dos nomes geográficos, o que revela a
do autor (GONÇALVES, 2003, p. 77-78), no qual se constância dada ao entendimento sobre a proteção
busca preservar dados sinais que, em função da no- de tais sinais.
toriedade, não podem vir a ser marcas registradas. Às tratativas e conclusões de Gonçalves, so-
Tal situação, para Gonçalves, se dá quando o nome mam-se os posicionamentos de Fernandez-Nóvoa,
geográfico, revelando-se também como indicação para o qual as indicações e nomes geográficos são
de qualidade, fizer parte de uma marca coletiva, de frequentemente empregados no tráfico econômi-
uma denominação de origem ou de uma indicação co, pois os mesmos são fáceis de apreender. Além
geográfica. Para o autor: disso, para este último autor, os nomes geográficos
apoiam-se, muitas vezes, em percepções e fatores
Nestas circunstâncias uma marca individual não pode, já desenvolvidos nas mentes dos consumidores
a título exclusivo, constituir-se, apenas, pela denomi- (FERNANDEZ-NÓVOA, 2004, p.191), o que repre-
nação geográfica que faça parte já de uma marca co-
lectiva, nem pode invadir a reserva de titularidade de senta um diferencial a priori para os empresários
uma denominação de origem ou indicação geográfica. que se utilizam de tais sinais. Ou seja, aquele que
(GONÇALVES, 2003, p. 78). faz uso de um nome geográfico como marca deseja
aproveitar-se dos significados já presentes no no-
A indicação geográfica e a denominação de me geográfico, diminuindo seus gastos em marke-
origem, assim como a marca coletiva, são também ting na construção de sentidos próprios para a sua
bens tutelados pelo direito de propriedade intelec- marca.
tual. Sendo assim, as mesmas não podem tornar-se Para além desse aproveitamento de um imagi-
partes constituintes de marcas de terceiros. Gon- nário previamente construído em torno do nome
çalves ainda aponta, acompanhando o pensamento geográfico, o autor espanhol acrescenta que os no-
de Almeida (1999), ser a “denominação de origem mes geográficos, em Espanha, podem ser objeto de
regulada como um bem de propriedade industrial proteção de marcas coletivas e marcas de garantia,
autônomo, conferindo um direito (...) aos respec- sendo, portanto, muito problemático que uma de-
tivos titulares(...) e caracterizada como um sinal signação geográfica possa ser registrada como mar-
distintivo típico de qualidade de certos produtos ca de um único empresário particular, o que não
oriundos de determinada localidade(...).” (GON- ocorre no caso das marcas coletivas e de garantia
ÇALVES, 2003, p. 78). que preveem diferenças em relação à titularidade,
Concluindo sua reflexão sobre a possibilidade proporcionando o uso da marca por mais de uma
de utilização exclusiva de um sinal geográfico como pessoa (FERNANDEZ-NÓVOA, 2004). Desta for-
marca, Gonçalves ainda acrescenta: ma, para Fernandez-Nóvoa, tal sinal, requerido co-
A questão das marcas geográficas descritivas só surge,
mo marca e constituído por nome geográfico, não
assim, com autonomia, quando um concorrente, de deverá poder contar com uma proteção via direito
forma séria, exclusiva e verdadeira, pretender adoptar de marcas quando para um único empresário, por-
um nome geográfico como marca individual (não pro-
que tal designação deve permanecer livre e à dis-
tegido como marca colectiva, denominação de origem
ou indicação geográfica) transformando, desse modo, posição de todos os empresários que estejam loca-
uma indicação genérica de proveniência, e eventual- lizados na localidade correspondente ao nome em
mente de qualidade, numa indicação específica e ex- questão (FERNANDEZ-NÓVOA, 2004, p. 192).
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Pelo exposto a partir da obra dos dois autores, tuídos, tendo em vista certa harmonização inter-
conclui-se ser o registro de designação geográfica nacional existente, que faz com que o sistema de
como marca em nome de um titular particular si- proteção da marca preveja dadas proibições quase
tuação não desejável, tendo em vista o poder de sempre respeitadas quando se trata da designação
exclusão que o direito de marca garante. Não se do produto.
pode deixar de destacar ser a proteção à marca Com o nome geográfico, o tratamento já tem
considerada como um direito de propriedade. Co- certa variação o que provoca a possibilidade de
mo tal, a concessão dessa propriedade permite a registro de designações geográficas em certos pa-
determinado empresário impedir que um concor- íses, enquanto em outros não. Exatamente por
rente seu utilize esse termo no mercado quando isso, nomes geográficos registrados como marca
exista uma relação concorrencial. Assim, a con- podem se tornar barreiras de entradas para em-
cessão de um termo geográfico como marca per- presários provenientes das localidades detento-
mitirá apenas àquele que o detém o uso em dado ras de tais nomes. Assim, tais nomes geográficos
segmento, vedando, inclusive, o uso por terceiros deixam de ser indicações de proveniência para se
que desejem apenas indicar a verdadeira origem tornarem marcas, fato a ser demonstrado e pro-
do produto. blematizado no próximo tópico.
Por sua vez, a proteção como marca de termo
geográfico para um particular que não é da locali- 3. Amazônia, Pantanal, Rio de Janeiro e
dade designada pelo nome geográfico pode levar Copacabana: de destinos turísticos a mar-
o consumidor a pensar que tal produto ou servi- cas.
ço provém dessa localidade cujo termo compõe Quando pensamos em: AMAZÔNIA, PANTA-
a marca. Como visto, a marca é protegida tendo NAL, RIO DE JANEIRO e COPACABANA o que
como um dos objetivos dessa proteção evitar o en- vem à mente? Se a resposta estiver relacionada
gano por parte do consumidor. Portanto, a con- a merecidas férias, o ideal seria fazer uma enque-
cessão de termo enganoso é contrária à gênese do te entre amigos, conhecidos, familiares, alunos
sistema de proteção das marcas. e colegas de trabalho sobre as suas preferências
Além de todo o exposto, relevante torna-se pessoais e justificá-las. No entanto, o objetivo do
apontar como a marca pode servir de barreira de presente artigo foi o de oferecer um estudo sobre
entrada em alguns mercados. Para tanto, a con- as tendências da utilização dessas expressões em
cessão de termos de cunho descritivo, como o marcas depositadas para vias de proteção fora
nome do produto – e mesmo de termos geográ- do Brasil. Para tanto, foi utilizada a ferramenta
ficos – pode impedir que empresários acessem os de busca TMView. Através desta, realizou-se um
mercados em função de encontrarem tais termos levantamento para traçar as tendências de utili-
registrados como marca, impedindo-os de usar zação das palavras acima dispostas, a fim de esta-
esses termos para nomear os produtos que ven- belecer os tipos de marcas que as utilizam, o perfil
dem ou a procedência dos mesmos. dos seus depositantes e quais produtos ou servi-
No caso dos nomes de produtos, há exemplos ços elas visam a identificar.
nos quais foram registrados como marca os ter- Após escolher os nomes de locais brasileiros
mos rapadura, açaí e cupuaçu para designar os que seriam utilizados como palavras-chave na pes-
próprios produtos em países estrangeiros, como quisa, foi necessário estabelecer os critérios para a
Alemanha e Japão. Para os citados exemplos, os busca na TMView. Para tanto, os dados disponibi-
empresários brasileiros produtores dos citados lizados pela Organização Mundial da Propriedade
produtos não puderam colocar sua produção nes- Intelectual – OMPI foram o ponto de partida. No
ses mercados, denominando os produtos por sua relatório publicado em 2015, intitulado “World
designação usual, ou seja, rapadura, açaí e cupua- Intellectual Poperty Indicators – Economics &
çu, pois tais designações eram marcas de terceiros. Statistics Series10, estão listados os países que mais
Com certo esforço, tais registros foram desconsti- 10Disponível em: www.wipo.int/ipstats.
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receberam designações via Protocolo de Madri no das as palavras-chave pesquisadas, ela foi a penúl-
ano de 201411. Os dez primeiros colocados nesse tima colocada, ficando apenas atrás da Austrália,
foram o ponto de partida para as buscas, já que o que possui apenas um registro contendo a palavra
interesse da pesquisa era o de levantar os nomes Copacabana. Já a China, por sua vez, apresentou
geográficos protegidos como marcas em certos pa- seis designações, no total, com os termos geográfi-
íses ou mesmo regiões, como é o caso da EUIPO12. cos elencados por esta pesquisa, sendo quatro para
Os países levantados foram os seguintes: China, marcas compostas pelo termo AMAZÔNIA e duas
EUIPO, USA, Rússia, Japão, Suíça, Austrália, re- para o termo COPACABANA.
pública da Coreia, Turquia e México. É possível observar ainda na figura 01 que os
O Protocolo de Madrid é o sistema Internacio- Estados Unidos da América são os líderes com pre-
nal de registro de marcas que, conjuntamente com dominância do termo AMAZÔNIA, seguido por
o Acordo de Madri, possibilita a facilitação do de- COPACABANA, na composição de marcas requeri-
pósito internacional de marcas. Segundo a Organi- das nesse país pelos titulares que atuam no mesmo.
zação Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI, No entanto, cabe observar, também, que nos EUA,
o Sistema de Madri possibilita a proteção da marca o uso da palavra PANTANAL como requerimento
em um grande número de países (ou regiões), des- de proteção via marca foi pouco expressivo.
de que sejam designados pelo proprietário da mar- O campo “trade mark status” da TMview re-
ca a receberem tal proteção13. Vale destacar que o fere-se à situação em que o pedido de registro se
Brasil não é participante desse Sistema. encontra no território designado, com as seguintes
O primeiro levantamento consistiu na utiliza- possibilidades:
ção das palavras-chave no campo “marca” e foram 1) Pedido (Filed) – processo aguardando deci-
selecionados os dez locais como territórios desig- são definitiva;
nados (designated territories). O resultado encon- 2) Registro (Registered)– marca no período de
trado está disposto por meio da figura 1 a seguir: vigência da proteção;
3) Extinto (Expired) – registro não prorrogado;
4) Arquivado ( Ended) – processo finalizado,
sem que tenha sido obtido o registro.14
Sendo assim, foram feitas buscas no sentido
de identificar as situações das marcas encontradas
nos locais pesquisados e o resultado desta busca es-
tá representado por meio da figura 02:

Figura 01: A distribuição das palavras chave por países designados.


Fonte: elaboração própria a par�r da TMView.

Embora a China tenha sido líder na contagem


geral promovida pala OMPI, quando foram coloca-
11O Protocolo de Madri é um sistema internacional de depósito de mar-
cas que possibilita aos países que aderiram ao mesmo, por meio de um
único depósito no qual designam outras localidades de interesse para a
proteção à sua marca, facilitarem e otimizarem o processo de proteção Figura 02: Distribuição das marcas por status nos países designados
dos sinais em questão. Para a melhor compreensão do Protocolo de Ma- Fonte: elaboração própria a par�r da TMView
dri, indica-se a leitura do trabalho de Aranha (2004). 14Para melhor compreensão dos termos empregados na construção do
12EUIPO é a sigla em inglês para European Union Intellectual Propper- presente trabalho, observe-se que quando houver referência a “depósi-
to” de pedido, o texto está apresentando a entrada do processo de pedido
ty Office, órgão responsável pelo registro das marcas vigentes nos áises
de registro de marca no INPI. Faz-se também necessária a observação
da União Europeia. Para maiores informações: https://euipo.europa.eu
à distinção entre “requerente” e “titular”, onde o primeiro é aquele cuja
13Para informações mais detalhadas, recomenda-se acessar: http:// marca não possui o status de registro, enquanto o titular é considerado
www.wipo.int/treaties/en/registration/madrid_protocol/ aquele que já é proprietário de uma marca devidamente registrada.
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Dos dados presentes na figura 02, podem-se sibilidade está ligada à origem dos titulares das
inferir algumas informações que valem ser des- marcas que podem ser residentes ou originários
tacas. Há um grande número de pedidos de mar- da própria região e que, no contexto do mercado
cas arquivados, ou seja, os mesmo não lograram internacional de produtos, tenham o mercado
constituir-se registros. As causas para esta situ- norte americano como destino de seus produtos.
ação são diversas e incluem desde o desinteresse
dos requerentes em continuar o processo de pro-
teção do sinal como marca, indo até aos óbices
legais constituídos pelas proibições relativas e
absolutas comentadas ao longo deste artigo.
A segunda situação mais encontrada aponta
para a existência de um número significativo de
registros de marcas para os termos de interesse
desta pesquisa. Também há de se apontar algu-
mas inferências a respeito desse dado. O número
significativo de registros compostos por nomes
geográficos pode impossibilitar a inserção de Figura 03 – U�lização das palavras-chave e distribuição por status das
marcas nos EUA
produtos e serviços brasileiros nos territórios nos Fonte: elaboração própria com a u�lização da TMView
quais os termos estão protegidos como marca.
Como dito, a marca pode constituir uma barreira Por outro lado, a palavra COPACABANA es-
de entrada aos agentes econômicos que desejem tá associada ao lazer, ao clima tropical e às praias
apenas informar a verdadeira procedência dos cariocas, além de ter sido tema e cenário de pro-
seus produtos por meio dos nomes geográficos dutos culturais brasileiros e estrangeiros. O ima-
do qual os produtos provém. ginário contido na expressão, portanto, tende a
Seguindo com a disposição de dados deste ser transferido para a marca quando tal termo é
trabalho, para que fosse possível fazer uma aná- requisitado como passível de proteção por esse
lise qualitativa preliminar, os três locais que mais instituto.
receberam designações foram analisados sepa- Outro fato que merece destaque ao observar
radamente. Tais locais são: Estados Unidos da os dados norte americanos, refere-se ao grande
América, o EUIPO e o Japão. Curiosamente, os percentual de pedidos de registros arquivados,
três pertencem a continentes diferentes. tanto nos dois principais grupos de marcas, quan-
to nos demais, chegando ao ponto de no grupo
3.1 Tendências observadas nos Estados composto pelo termo PANTANAL, apenas haver
Unidos da América pedidos de registro de marcas nessa situação. Es-
Como é possível verificar na figura 3, as mar- se dado pode ser destacado como tema relevante
cas com o elemento AMAZÔNIA predominam para futuras pesquisas.
sobre aquelas compostas pelos demais termos Na figura 04, estão apresentados alguns exem-
geográficos. Após o termo AMAZÔNIA, desta- plos retirados das 28 marcas registradas dentro dos
cam-se os pedidos de marcas nos quais, consta critérios estabelecidos e tendo os Estados Unidos
a expressão COPACABANA na sua constituição. como território designado. Observe-se que há titu-
Diversas podem ser as razões para esse fato. Va- lares americanos, brasileiros e europeus no grupo.
le supor que elementos culturais advindos com Outro fato relevante é a presença de um persona-
os valores subjetivos que o termo AMAZÔNIA gem em referência à Carmem Miranda na marca
contém, tais como sustentabilidade, beleza e reivindicada para identificar serviços relacionados
exotismo, tenham influenciado a sua escolha, no ao lazer.
entanto, para isso, seria necessária uma explo- A marca Guaraná Amazônia faz referência
ração mais aprofundada dos dados. Outra pos- a elementos tropicais como o fruto do guaraná e
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os tons de verde comumente encontrados no am- 3.2 Tendências observadas no EUIPO


biente amazônico, por sua riqueza de flora. Esses Como o Escritório Europeu é o responsável
elementos podem induzir os consumidores a crer pelas marcas utilizadas em toda a Comunidade
que estarão consumindo um produto originário Europeia, há que se ter atenção à grande diver-
da Região Norte do Brasil e, no entanto, o titular é sidade cultural e mercadológica, o que pode ser
uma empresa espanhola. mais um caminho aberto a futuras pesquisas.
Outro elemento que merece destaque na figu- Na figura 05, está destacado o predomínio
ra 4 é a marca “Copacabana Brazilian Wax & SPA” do status “marcas registradas sobre” os outros
e a sua sugerida relação com os serviços a identi- status, o que não ocorreu nos Estados Unidos
ficar. É conhecido internacionalmente o cuidado (figura 03). Outro ponto relevante é a existência
dos brasileiros com a beleza e o bem estar, o que de registros extintos nos grupos da AMAZÔNIA e
reflete em hábitos culturais específicos nesse seg- de COPACABANA, o que significa que as marcas
mento. Sendo assim, os elementos “Copacabana” cumpriram todo o ciclo no sistema de proprie-
e “Brazilian”, presentes na marca, têm a função de dade industrial, ou seja: depósito, seguido pelo
comunicar características dos serviços oferecidos registro e, por fim, extinção. Para que tal infor-
pelo estabelecimento identificado por ela. mação seja observada, é necessário o mínimo de
Na marca “Amazônia Viva”, não foi empregado dez anos entre o início e o fim do ciclo, já que esse
um grande esforço criativo na sua apresentação vi- é o período da vigência do registro da marca, ha-
sual, o que pode significar que a força da expressão vendo a possibilidade de prorrogação enquanto
verbal já contém todos os elementos diferenciado- o seu titular desejar. Faz sentido imaginar que a
res suficientes para que atue como marca. No en- AMAZÔNIA e COPACABANA compõem o imagi-
tanto, por estar em idioma português, pode sugerir nário simbólico há mais tempo e de forma mais
que se destine aos brasileiros que residam naquele abrangente do que os demais termos geográficos.
país, como forma de manter vínculos com a sua ori- Como nos dados extraídos do caso norte ameri-
gem. Esse é outro aspecto que merece ser estuda- cano, o termo AMAZÔNIA predominou.
do futuramente, já que muitos brasileiros residem
especialmente na Europa e nos Estados Unidos da
América, ocasionando o crescimento de um merca-
do consumidor com demandas próprias.

Figura 05: U�lização das palavras-chave e distribuição por status das


marcas no EUIPO
Fonte: elaboração própria com a u�lização da TMView

15Aqui reside a possibilidade da realização de um estudo investigue


as marcas nos grupos de palavras-chave que estejam registradas si-
multaneamente nos três territórios aqui estudados.
16Cabe aqui observar ser a proteção à marca restrita ao segmento de
atuação do titular. Sendo assim, no ato do depósito, o requerente da
marca deve indicar quais classes de produtos e/ou serviços o mesmo
visa a apor sua marca. Para efetuar essa ação, o requerente conta com
a Classificação Internacional de Nice para produtos e serviços a partir
Figura 04: Exemplos de marcas registradas nos Estados Unidos dentro da qual aponta os produtos e serviços do seu interesse a partir da sua
dos critérios da pesquisa. área de atuação. Tal classificação é utilizada em âmbito internacional
Fonte: elaboração própria a par�r da TMView. para facilitar os depósitos de marcas.
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A marca “Guaraná Amazônia”15 presente no cidades procedimentais ou legais, no entanto, por


grupo dos Estados Unidos também está regis- outro lado, pode representar a tendência de que
trada no EUIPO, nas classes de Nice 29 (carnes, não haja atualmente interesse em proteger naque-
pescado, frutas e legumes em conserva leite, pro- le país marcas com as palavras-chave pesquisadas
dutos lácteos), 32 ( bebidas não alcoólicas, sucos) compostas pelos termos geográficos.
e 35 (serviços de publicidade, comércio, escritó- Outro aspecto que diferencia o Japão dos de-
rio, exportação e importação)16. No segmento mais territórios apresentados anteriormente é a
dos alimentos, fica clara a intenção de associar liderança do grupo composto pelo termo PANTA-
os produtos à origem Amazônica, com suas es- NAL, logo seguido do termo AMAZÔNIA.
pecificidades e diversidade da fauna e da flora. Ressalte-se a grande presença de pedidos de
Sobre os exemplos de marcas registradas registro de marcas arquivados, chegando ao ponto
no EUIPO, que são compostas pelo termo AMA- de no grupo do RIO DE JANEIRO, somente haver
ZÔNIA, verificou-se um conjunto de sinais de pedidos que não chegaram ao status de registro.
composição mais rica em relação ao emprego de No grupo composto pelo termo COPACABANA,
cores e elementos de referência tropical, como os registros extintos são os mais numerosos, caso
pode ser aferido por meio da figura 06 a seguir: único em todo o trabalho.
A figura 08 apresenta alguns exemplos de
marcas registradas no Japão no grupo composto
pelo termo PANTANAL que tem maior predomí-
nio nesse país. Destaca-se que os resultados en-
contrados revelam que esse grupo composto pelo
termo PANTANAL pertence a um mesmo titular
japonês. Todas as quatro marcas encontradas de-
monstram a tendência em proteger sinais a serem
apostos sobre produtos pertencentes aos setores
de moda ou de jogos e esporte.

Figura 06 – Exemplos de marcas registradas no EUIPO para o grupo da


AMAZÔNIA
Fonte: elaboração própria a par�r da TMView.

3.3. Tendências observadas no Japão


O caso do Japão possui algumas singularida-
des que merecem atenção. Como é possível verifi-
car na figura 07, não há nos grupos das palavras-
-chave, alguma marca que se encontre à espera de
decisão. Esse fato pode estar associado a especifi-

Figura 08 – Exemplos de marcas no Japão no grupo PANTANAL


Fonte: Elaboração própria a par�r de dados da TMView.

4. Conclusões
Toda pesquisa que tenha como objeto as mar-
cas registradas somente é viável com o acesso às
Figura 7:U�lização das palavras-chave e distribuição por status das informações contidas nos bancos de dados dos
marcas no Japão
Fonte: elaboração própria com a u�lização da TMView escritórios nacionais ou regionais de proprieda-
66
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

de industrial. No entanto, são poucas as ferra- valores a ele associados sejam mais ligados a um
mentas disponíveis para que isso seja realizado estilo de vida do que propriamente a uma origem
por pesquisadores que não integrem o corpo de geográfica de produtos.
funcionários desses escritórios. A ferramenta Portanto, a discussão sobre a utilização de
TMView é inovadora por congregar informações nomes geográficos em marcas pode sim suscitar
dos escritórios que enviam os dados referentes uma qualificação dos produtos ou dos serviços
aos requerimentos de marcas em seus territórios. identificados por elas, o que vai contra o prin-
A ferramenta utilizada, para fins desta pesquisa cípio basilar da proteção à marca para a não
de caráter preliminar aqui realizada, foi eficiente. concessão de termos de cunho enganoso. Além
No entanto, existem muitos pontos a serem apro- disso, pode problematizar o quanto termos geo-
fundados sobre a utilização de nomes geográficos gráficos, carregados de sentido primário, podem
na composição de marcas de produtos ou de ser- exercer de forma eficiente a função distintiva das
viços. Para esses casos, supõe-se que seja neces- marcas. Estas ponderações abrem caminho para
sário acessar informações sobre os titulares ou novas incursões no âmbito do universo de pes-
sobre os mercados a que as marcas se destinam quisa sobre a gestão e a proteção da marca
em outros bancos de dados.
A metodologia aqui aplicada de utilização
Referências
de palavras-chave para se chegarem aos dados
AAKER, David A. Marcas. Brand Equity. Geren-
desejados foi no momento a mais indicada, no
ciando o valor da marca. Campinas: Elsevier, 1998.
entanto, as marcas figurativas e tridimensionais
demandam a utilização de outras metodologias _ _ _ _ _. Construindo marcas fortes. São Paulo:
para seus estudos, um desafio de pesquisa, entre Bookman, 2007.
outros aqui identificados. ALMEIDA, Alberto Francisco Ribeiro de. Denomi-
Como o artigo tratou da possibilidade de nação de origem e marca. Coimbra: Coimbra Ed,
proteger como marca o nome geográfico, pode- 1999.
-se observar uma tendência a apropriar-se de
alguns valores subjetivos usualmente associados ARANHA, José Graça. Protocolo de Madri. Rio de
aos termos AMAZÔNIA, PANTANAL, RIO DE Janeiro: Lumen Juris, 2004.
JANEIRO e COPACABANA. Todavia, em outros ASCENSÃO, José de Oliveira. “Direito intelectual,
achados aqui realizados, esses mesmos termos exclusivo e liberdade”. Revista Esmafe. Escola de
geográficos sofreram uma ressignificação, dei- Magistratura Federal da 5ª Região, Recife, n.3, p.
xando de ser apenas um local geográfico, pas- 125-145, mar. 2002. Disponível em: Http://bdjur.
sando a incorporar referências culturais extra stj.jus.br/dspace/handle/2011/27320>. Acesso em
geográficas. Esse fenômeno foi mais facilmente 11 fev. 2010.
observado no grupo composto pelo termo CO-
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da proprie-
PACABANA, pela forte carga cultural que tal ter-
dade Industrial. São Paulo: Revista dos Tribunais,
minologia carrega, sendo tal termo dissociado de
1982.
uma possível origem de produtos.
AMAZÔNIA e PANTANAL ainda possuem CORROZA, Hermenegildo Baylos. Tratado de De-
um forte caráter geográfico associado ao seu cli- recho Industrial. Propiedad Industrial. Propiedad
ma e diversidade de fauna e flora, empregando Intelectutal. Derecho de la Competencia Económi-
qualidades específicas aos produtos identifica- co. Disciplina de la Competencia Desleal. Madrid:
dos por marcas que os contenham na sua com- Civitas, 1993.
posição. FERNANDES, Ricardo e GAMA, Rui. “As cidades e
Quanto ao RIO DE JANEIRO, por ser o me- territórios do conhecimento na óptica do desenvol-
nos representativo como resultado para esta pes- vimento e do marketing territorial”. In.: Actas do V
quisa, de maneira geral, pode-se concluir que os Colóquio da Associação Portuguesa de Desenvolvi-
67
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

mento Regional (APDR): “Recursos, Ordenamen- lha por sua mente. São Paulo: M Books, 2009.
to, Desenvolvimento”. APDR e Escola Superior de
SEMPRINI, Andrea. A marca pós-moderna. O po-
Tecnologia de Viseu, 2006. Disponível em: https://
der e a fragilidade da marca na sociedade contem-
estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/12405/1/
porânea. São Paulo: Estação das Letras, 2006.
Fernandes%26Gama_APDR_2006.pdf. Acessado
em 18/09/2016. SOARES, José Carlos Tinoco. Comentários ao có-
digo da propriedade industrial. São Paulo: Resenha
FERNANDEZ-NOVOA, Carlos. Tratado Sobre De-
Universitária, 1981.
recho de Marcas. 2ª ed. Madrid. Marcial Pons Edi-
ciones Jurídicas y Sociales S.A., 2004. ZOZZOLI, Jean-Charles Jacques. Da mise em scè-
ne da identidade e personalidade da marca: um es-
_ _ _ _ _. “Las funciones de la marca”. In.: Actas
tudo exploratório do fenômeno marca, para uma
de derecho industrial. Madrid: Montecorvo, 1978.
contribuição a seu conhecimento. (tese de Mestra-
GONÇALVES, Luís M. Couto. Direito de marcas. do) Instituto de Multimeios/Unicamp: Campinas,
Coimbra: Almedina, 2003. 1994.
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Almedina, 1999.
KAPFERER, Jean –Noël. Marcas capital da empre-
sa. Porto Alegre: Bookman, 2003.
_ _ _ _ _. O que vai mudar as marcas. Porto Ale-
gre: Bookman, 2004.
_ _ _ _ _. Marcas à prova de prática: aprendendo
com os erros. Porto Alegre: Bookman, 2004.
KELLER, Kevin Lane e MACHADO, Marcos. Ges-
tão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2006. 1Pós-doutora em Estudos Culturais pelo Programa Avançado de Cul-

KOTLER, Philip e KELLER, Kevin Lane. Adminis- tura Contemporânea - UFRJ. Doutora em Artes Visuais pela UFRJ
e Mestre em História da Arte pela UFRJ, a pesquisadora tem tra-
tração de marketing. São Paulo: Pearson Prentice balhado com áreas afetas à propriedade intelectual (marcas, dese-
Hall, 2006. nhos industriais e indicações geográficas) e ao patrimônio imaterial.
Iniciou seu contato com a propriedade industrial através da divisão
MORO, Maitê Cecília Fabbri. Direito de Marcas. de desenhos industriais do Instituto Nacional da Propriedade Indus-
trial, ainda como celetista. Já concursada, começou a trabalhar com a
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. área de marcas no mesmo Instituto. Desde 2007, está atuando como
professora permanente do Mestrado Profissional do INPI, coorde-
OLAVO, Carlos. Propriedade industrial: sinais dis- nando as disciplinas de Proteção e Gestão de Marcas e Proteção do
tintivos do comércio e concorrência desleal. Coim- Patrimônio Imaterial. Além disso, a pesquisadora vem orientando
trabalhos nos campos de marcas, indicações geográficas e desenho
bra: Almedina, 2005. industrial. Como professora colaboradora do Mestrado Profissional
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico - IPHAN, vem coor-
RAMELLO, Giovani. “What’s in a sign? Trademark denando e ministrando, em conjunto com a professora Carla Belas,
law and economic theory. In.: Journal of economic a disciplina Patrimônio e Propriedade Intelectual.
2Doutora e Mestre em Propriedade Intelectual, Inovação e
surveys. Vol.20, nº4. Blackwell Publishing, 2006.
Desenvolvimento com pesquisa na área de marcas de pro-
_ _ _ _ _ e SILVA, Francesco. “Appropriating dutos e de serviços e Graduada em Comunicação Social pe-
la ECO-UFRJ. Atuação entre 2002 e outubro de 2010 como
signs and meaning: the elusive economics of trade- Examinadora de Marcas no Instituto Nacional da Propriedade
mark”. Industrial and corporate change. Vol.15, nº Industrial- INPI, onde exerceu o cargo de Chefe do Observató-
rio de Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual-OBTEC
6, pp. 937-963, Oxford University Press on Behalf de 2010 a 2014, divisão integrante da Diretoria de Cooperação
of Associazione, 2006. para o Desenvolvimento- DICOD. Em março de 2014, retor-
nou à Diretoria de Marcas. Atua como palestrante e professora
RIES, Al e TROUT, Jack. Posicionamento. A bata- em atividades relacionadas à disseminação de conhecimentos
sobre Propriedade Intelectual.
68
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017

ARTIGO

The impact of
corporate social
responsibility and
corporate ability
associations on
consumers’ behaviour

Nicole Inácio1
Cátia Fernandes Crespo2
69
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Resumo: Abstract:
A incorporação de práticas de responsabilidade The incorporation of corporate social responsibi-
social na estratégia empresarial está a tornar-se lity policies in the business strategy is becoming
cada vez mais importante, dada a sua influên- more important, since it exerts a fundamental
cia fundamental na imagem da marca, bem co- influence in global brand images and has impli-
mo as consequências exercidas nas perceções e cations in the consumers’ brands perceptions
comportamento dos consumidores. Contudo, as and behaviour. However, global brands corpora-
ações de responsabilidade social das marcas glo- te social responsibility practices are many times
bais são frequentemente percebidas como sendo perceived as self-interested, with global brands
desenvolvidas para proveito próprio, sendo as being accused of having a predatory behaviour.
marcas globais conotadas com a prática de um The purpose of this research is to analyse con-
comportamento predatório. O objetivo da pre- sumers’ perceptions towards global brands’ cor-
sente investigação consiste em analisar as perce- porate social responsibility actions as well as the
ções dos consumidores relativas às ações de res- consequences exerted on consumer behaviour.
ponsabilidade social desenvolvidas por marcas Based on a sample of 344 respondents, the hy-
globais e as respetivas consequências exercidas potheses were tested with structural equation
no comportamento dos consumidores. Com ba- modelling in the SmartPLS 2.0 software. Results
se numa amostra de 344 inquiridos, as hipóteses show that both corporate social responsibility
foram testadas utilizando modelos de equações associations and corporate ability associations
estruturais no software SmartPLS 2.0. Os resul- build stronger consumer-company identifica-
tados evidenciam que as perceções dos consumi- tion and stimulate consumers’ social responsible
dores relativas à responsabilidade social corpo- purchase intention. Additionally, corporate abi-
rativa e às competências corporativas reforçam lity associations are positively related with con-
a identificação do consumidor com a marca e sumers’ brand loyalty.
estimulam uma intenção de compra socialmente
responsável. Adicionalmente, as perceções rela- Keywords: Corporate Social Responsibility
tivas às competências corporativas influenciam (CSR), Corporate Ability, global brands.
positivamente a lealdade à marca.

Palavras-chave: Responsabilidade social cor-


porativa, competências corporativas, marcas
globais.
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Resumén: Résumé:
La incorporación de prácticas de responsabilidad LL’intégration des politiques de responsabilité so-
social en la estrategia empresarial se está volvien- ciale des entreprises dans la stratégie d’entreprise
do cada vez más importante, dada su influencia devient de plus en plus importante, car elle exerce
fundamental en la imagen de la marca, así como une influence fondamentale sur les images de mar-
las consecuencias ejercidas en las percepciones y que globale et a des implications dans les percep-
comportamiento de los consumidores. Sin em- tions des consommateurs à l’égard des marques et
bargo, las acciones de responsabilidad social de le comportement du consommateur. Cependant,
las marcas globales son a menudo percibidas co- les actions de responsabilité sociale des marques
mo desarrolladas para provecho propio, siendo globales sont souvent perçues comme étant dévelo-
las marcas globales connotadas con la práctica ppées pour leur propre bénéfice et les marques glo-
de un comportamiento predatorio. El objetivo bales étant accusées d’avoir un comportement pré-
de la presente investigación consiste en analizar dateur. L’objectif de cette recherche est d’analyser
las percepciones de los consumidores relativas a les perceptions des consommateurs à l’égard des
las acciones de responsabilidad social desarrolla- actions de responsabilité sociale des marques glo-
das por marcas globales y las respetadas conse- bales ainsi que les conséquences sur le comporte-
cuencias ejercidas en el comportamiento de los ment des consommateurs. Basé sur un échantillon
consumidores. Con base en una muestra de 344 de 344 répondants, les hypothèses ont été testées
encuestados, las hipótesis se probaron utilizando avec modélisation d’équations structurelles dans le
modelos de ecuaciones estructurales en el softwa- logiciel SmartPLS 2.0. Les résultats prouvent que
re SmartPLS 2.0. Los resultados evidencian que les associations de responsabilité sociale des entre-
las percepciones de los consumidores relativos a prises et les associations de capacité d’entreprise
la responsabilidad social corporativa ya las com- renforcent l’identification des consommateurs
petencias corporativas refuerzan la identificación avec la marque et stimuler une intention d’achat
del consumidor con la marca y estimulan una in- socialement responsable. En outre, les perceptions
tención de compra socialmente responsable. Adi- concernant les compétences de l’entreprise in-
cionalmente, las percepciones relativas a las com- fluencent positivement la fidélité à la marque.
petencias corporativas influencian positivamente
la lealtad a la marca. Mots-clés: responsabilité sociale des entrepri-
ses, capacité d’entreprise, marques globales.
Palabras-clave: responsabilidad social corpora-
tiva, competencias corporativas, marcas globales.
71
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Introduction initiatives coming from well-known multinatio-


Global brands are many times accused of ha- nals can call society’s attention to some grave
ving a predatory behaviour, and these negative issues – environmental, health, educational, la-
symbolic meanings may damage the brand due bour, among others – and influence citizens to
to the social expectations citizens are starting to behave in a responsible way. Moreover, it is in-
hold concerning multinationals’ behaviours. Ho- creasingly significant that multinationals behave
wever, building up a corporate social responsibi- ethically, and incorporate those policies not only
lity (CSR) reputation is difficult for global bran- in their business strategy but also in their marke-
ds; they have to build local CSR reputations while ting communication.
also demonstrating global social responsibility. In an increasingly globalized world, mul-
In addition those CSR practices are many times tinationals need to be aware of the impact they
perceived as self-interested, which might reduce have in society. CSR has been growing for global
its impact on increasing brand equity (TORRES, brands because of global competitiveness and
BIJMOLT, TRIBÓ, and VERHOEF, 2012). challenges they face. The logic of CSR for mul-
Regarding this context, the notion of CSR tinationals is also derived from the protests, de-
has become a topic of systematic discussion in monstrations, boycotts and many other negative
the last decades. According to Falck and Heblich actions some citizens have been approaching to-
(2007), CSR is understood as a voluntary corpo- ward global brands (ISMAIL, 2009).
rate commitment that helps to establish social Globalization, together with the new social
trends and institutional demands. Also, CSR mi- media and information technologies, amplify the
ght be seen as revealing the values, the character negative impact of some released news about the
and the identity of the company (CRUZ, 2013). brand. As Arrigo (2009) points out, information
Bhattacharya and Sen (2003) argue that CSR technology and always-on communications ac-
humanizes the brand, encouraging consumers celerate the shifting of social consciousness. Mo-
to not only like, respect or admire the company, reover, in today’s “news hungry environment”,
but to identify with it. antiglobalization activists use the Internet to
The inclusion of CSR policies in business bring to the surface the obscure acts carried out
strategy is now becoming more and more im- by giant corporations (WERTHER and CHAND-
portant, since it exerts an important influence in LER, 2005).
global brand images and, consequently, has im- The need for social legitimacy comes from
plications in the way consumers perceive brands the assumption that all organizations are embe-
and might have a preponderant factor in their dded in a wider environment. Therefore, society
purchase decision. expects corporations to be responsible citizens.
The lack of studies on the impact of these The rapidly evolution of global markets and
CSR actions on global brand equity dimensions ever-changing social attitudes are reshaping the
and on consumer’s perception is a reality that has competitive landscape, forcing brand managers
to be changed. Since global brands are the most to concern about CSR when they consider their
exposed to the risks of negative associations and strategy (ARRIGO, 2009).
since they serve so diverse and different inter- Hence, CSR has become a discussed theme
national markets, in what extent may the con- on academic, institutional and managerial level.
sumers’ perceptions of CSR initiatives influence There has been evidence that consumers may ac-
important dimensions such as consumer’s brand tually feel distaste towards a brand that evokes
loyalty and consumer-company identification? negative symbolic meanings (ROMANI, GRAP-
We consider the study of CSR important on PI, and DALLI, 2012), so CSR may not only be a
an international level, since global brands are good thing for society and the environment but
taking an important part in our daily life and es- also for the brand and the company itself. Cus-
pecially in the way they influence society. Social tomer satisfaction may now reside in the evalua-
72
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

tion of the brand CSR initiatives contributing to study we hope to be contributing on both mana-
its market value and CSR actions, and combined gerial and academic levels by demonstrating how
with strong corporate abilities, will generate po- CSR initiatives may actually have a positive in-
sitive attributions and consumer-company iden- fluence on brand’s assets – brand loyalty, consu-
tification, generating purchase intention beha- mer-company identification, purchase intention,
viour. By humanizing brands, CSR may provide and corporate ability associations.
great profitable advantages for the companies
(BHATTACHARYA and SEN, 2004). 1. Conceptual framework and hypotheses
By developing CSR strategies and demons- The conceptual model developed aims to
trating a social and environmental commitment analyse how CSR actions performed by global
to customers and other stakeholders, companies brands influence consumer’s social responsible
can achieve greater strategic consistency, incre- purchase intention, brand loyalty and consumer-
ase organizations commitment, lower transac- -company identification phenomena among the
tions costs, attract high-qualified personnel and Portuguese consumers. The proposed model in-
improve customer-related outcomes (MAIG- tends to analyse how CSR actions influence con-
NAN, 2001). Moreover, given the widespread sumers’ perceptions and which action do consu-
prevalence of CSR in today’s marketplace, to be mers pertain towards these brands.
effective CSR strategies need to have in account
their market, their competitors and their target 1.1. The influence of CSR associations on
(CRUZ, 2013). brand loyalty
The recent focus on CSR on a corporate le- According to Chieng and Lee (2011) the study
vel has become more and more globalized sin- of brand equity in a customer-based perspective
ce it has been questioned if it can be a potential has to involve four dimensions, including brand
source of brand equity (BLUMENTHAL and awareness, brand associations, perceived quality
BERGSTROM, 2003). Consumers expect fir- and brand loyalty. These four dimensions are re-
ms to be involved in social initiatives and may lated with how consumers perceive brands. The
reward them for their efforts through purchase creation of brand loyalty is significant since loyal
behaviour (BECKER-OLSEN, CUDMORE, and customers encourage others to become users and
HILL, 2006). eventually loyal to the brand (SCHULTZ and
However, it is still uncertain in which way BLOCK, 2013).
CSR actions may bring advantages for global Several studies have demonstrated that CSR
brands through its influence on consumers’ per- associations generate loyalty behaviour in con-
ceptions. Therefore, this study aims to demons- sumers regardless of the price of the products
trate that CSR actions may bring benefits for or services. This loyalty behaviour makes con-
global brands by improving brand loyalty, social sumers more willing to accept eventual lapses
responsible purchase intention and consumer- from the brand. Because CSR domain reveals
-company identification. By engaging in CSR ini- the values, the character and the identity of the
tiatives, global brands are not only contributing company, it creates a bridge linking the brand’s
to a better society and environment, but are also image with consumers’ emotional domain, whi-
developing a strategy that can bring to them im- ch comes to brand loyalty and brand advocacy
portant advantages in a world where competition (BHATTACHARYA and SEN, 2004; DU, BHAT-
is always growing. TACHARYA, and SEN, 2007).
Since it is still unclear how consumers per- Therefore, it is argued that despite not
ceive CSR actions and the literature lacks an exa- bringing immediate profits for the brand, CSR
mination of purchase intention related to CSR actions, by building CSR associations in consu-
(ÖBERSEDER, SCHLEGELMILCH, MURPHY, mers’ minds, may bring significant advantages by
and GRUBER, 2013; OLIVER, 1999), with this increasing brand loyalty and making consumers
73
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

more satisfied, due to the good reputation asso- actions can clearly contribute to consumers’ self-
ciated with its name. CSR practices experienced -esteem, by enhancing CSR associations in their
by various stakeholders may help to reduce tran- corporate image. Complying with companies en-
saction costs because of the good reputation that gaged in good deeds may be a way for consumers
is associate to its name (WALSH and BARTIKO- to feel better about themselves. Recent research
WSKI, 2013), as well as to increase customer sa- suggested that CSR actions increase consumer-
tisfaction and loyalty toward the firm as Werther -company identification precisely because it
and Chandler (2005) point out. involves self-image congruence to that of the
So, it is important for firms to maintain their organization. The degree of overlap between a
corporate image, by enhancing CSR associations, customer’s self-image ad the company indicates
which can be done through brand sustainabili- the strength of identification (DUTTON et al.,
ty. One form of brand sustainability is the conti- 1994). CSR may generate active support from
nuous virtuous cycle of satisfied customers who customers as shown by Sen and Bhattacharya
advocate the brand to others. (2001), that suggested that CSR has a positive
If CSR actions generate positive corporate effect on consumers’ evaluation of the company,
associations in consumers’ minds and these po- in part mediated by consumer-company identi-
sitive associations are positively related to the fication. Also, a study conducted by Lee and Qu
construction of brand loyalty, then CSR actions (2010), in which they analyzed how consumers
overtaken by a global brand may improve con- reponded to CSR initiaves, shows a strong posi-
sumers’ brand loyalty through the generation of tive influence of CSR actions on consumer-com-
CSR associations. Then, we propose that: pany Identification.
H1: Positive CSR associations contribute to Hence, we propose that CSR actions have
consumers higher levels of brand loyalty. a positive influence in creating consumer-com-
pany identification by creating CSR associations,
1.2. The influence of CSR associations on since consumers’ look for brands that stand for
consumer-company identification values that are somewhat related with the image
CSR strategies undertaken by brands seem they have of themselves:
more human to the consumers’ eyes, serving as H2: CRS associations build stronger consu-
an excellent marketing tool to build quality and mer-company identification.
long relationships with consumers, and genera-
ting CSR associations. It is important that citi- 1.3. The influence of CSR associations on
zens perceive the brand as being aware of its glo- purchase intention behaviour
bal impacts and that it is concerned about it. This Dodd and Supa (2011) define purchase in-
humanizing technique has been related with the tention as the likelihood of a consumer to intend
consumer-company identification phenomena to purchase a product. The concept is related wi-
(BHATTACHARYA and SEN, 2003, 2004). th the power of attitude based on cognitive and
According with Bhattacharya and Sen affective domains. Consumers’ affective attitude
(2004), consumer-company identification is dri- plays an important role in their cognitive-affec-
ven by individual’s needs for self-definition and tive purchase intention formation (BIAN and
social identity that prompts them to develop a FORSYTHE, 2012). Purchase intention beha-
sense of attachment with selected brands. Nowa- viour is based on the assumption that individu-
days marketers are making great efforts to build als are rational and make systematic use of the
strong and meaningful relationships with their information available to them (BIAN and FOR-
customers, so people would become psycholo- SYTHE, 2012; DODD and SUPA, 2011). Thus,
gically and emotionally attached to a brand and consumers’ attitudes have influence in their
care about the organization. behaviours and this explains why CSR programs
Therefore, an organization engaged in CSR may have an impact on consumers’ purchase in-
74
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tention. Becker-Olsen et al. (2006) highlight that influence of brand awareness on consumer purcha-
consumers expect firms to be involved in social se intention, have also found out a positive relation
initiatives and they may reward them for their between purchase intention and brand loyalty.
efforts through purchase behaviour. Therefore, we have reason to believe that hi-
Other studies showed that CSR actions in- gher levels of consumers’ social responsible pur-
fluence consumer’s buying decision indirectly by chase intention are positively related to brand
influencing their perception about the company loyalty, and we propose the following hypothesis:
through CSR associations, which may have an im- H4: Consumers’ social responsible purchase
pact on the product evaluation and thus on their intention is positively related to brand loyalty.
product choice (BROWN and DACIN, 1997; SEN
and BHATTACHARYA, 2001). However, other 1.5. The influence of consumer-company
scholars found a strong influence of CSR actions identification on brand loyalty
with purchase intention and that CSR initiatives For global companies, brand loyalty is based
provides companies with the chance of getting on taste, fashion, consumer whim and, most im-
customer loyalty, word-of-mouth and trust (LEE portant, individual perception. In their study about
and QU, 2010; MCDONALD and RUNDLE- consumer-company identification, Bhattacharya
-THIELE, 2008; YOON, GÜRHAN-CANLI, and and Sen (2003) suggest that identity similarity is
SCHWARZ, 2006). the main cause to this identification. Consumers
Therefore, having in mind the creation of po- are motivated to maintain a stable and consistent
sitive corporate associations in consumers’ min- sense of self, so they will be not only more willing
ds by CSR actions, CSR associations may have a to buy products or services from brands that stand
positive influence on purchase intention. for the same causes but also will be more eager to
H3: CSR associations are positively related reamin loyal to that brand. Therefore, we propose
to consumers’ social responsible purchase inten- that consumer-company identification phenome-
tion. na will have a postive influence on brand loyalty.
We propose:
1.4. The influence of social responsible pur- H5: Consumer-company identification is posi-
chase intention on brand loyalty tively related to brand loyalty.
Aaker (1996) assumes that brand loyalty is a
core dimension of brand equity since it represents 1.6. The influence of consumer-company
a barrier to entry, a basis for price premium, time identification on social responsible purcha-
to respond to competitors and a bulwark against se intention behaviour
deleterious price completion. Bhattacharya and Sen (2004) argue that
Brand loyalty is important to build higher levels consumer-company identification is driven by
of brand equity since it means that consumers will individual’s needs for self-definition and social
not consider other brands when they buy a specific identity that prompts them to develop a sense of
product or service (BALDINGER and RUBINSON, attachment with selected brands. Consumer-com-
1996). In Oliver’s (1999) definition brand loyalty is pany identification may be described as a sort of
described as a “deeply held commitment to rebuy emotional link established with the brand.
or repatronize a preferred product/service con- Nowadays marketers are making great efforts
sistently in the future, thereby causing repetitive to build strong and meaningful relationships with
same-brand or same brand-set purchasing”. Hen- their customers, so people would become psycho-
ce, brand loyalty represents a repurchase commit- logically and emotionally attached to a brand and
ment. Aaker (1991) also mentions that consumers care about the organization. The creation of this
must have positive feelings to a brand and they will meaningful relationship has many positive conse-
produce purchase intention. quences, such as company promotion, creation of
Chi, Yeah and Yang (2009), while studying the brand loyalty and resilience to negative informa-
75
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

tion (BHATTACHARYA and SEN, 2003). Consu- brand.


mer-company identification leads to more custo- Hence it is important for firms to maintain
mers, more engagement and consequently, more their corporate image, which can be done through
purchases. Hence, we propose that: brand sustainability. One form of brand sustaina-
H6: Consumer-company identification is posi- bility is the continuous virtuous cycle of satisfied
tively related to social responsible purchase inten- customers who advocate the brand to others. The
tion. creation of brand loyalty is significant since loyal
customers encourage others to become users and
1.7. The influence of corporate ability asso- eventually loyal to the brand (SCHULTZ and BLO-
ciations on brand loyalty CK, 2013). Positive corporate ability associations
Consumers’ cognitive associations for a com- generate satisfied customers who will buy and
pany can be both a strategic asset and a source of rebuy products or services from a specific brand,
sustainable competitive advantage. Brown and creating preferences and making customers loyal.
Dacin (1997) include on corporate ability the ex- Therefore, we propose that:
pertise of the employees, the superiority of R&D H7: Positive CA associations contribute to con-
investments, the technological innovation, indus- sumers’ higher levels of brand loyalty.
try leadership and so on. According to the authors,
corporate ability associations influence product 1.8. The influence of corporate ability asso-
evaluations. Consumers might learn corporate ciations on consumer-company identifica-
ability associations from prior experiences with a tion
company, word-of-mouth communication, or me- Consumer-company identification is driven
dia reports. Perceived product sophistication is an by individual’s needs for self-definition and so-
important product attribute that might be positi- cial identity that prompts them to develop a sense
vely influenced by corporate ability associations, of attachment with selected brands. Consumer-
defining the degree to which a product exhibits the -company identification may be described as a
latest technological advances. Therefore, corpora- sort of emotional link established with the brand
te ability associations influence product responses through the creation of strong and meaningful
through their influence on product attribute per- relationships with their customers (BHATTA-
ceptions (BROWN and DACCIN, 1997). CHARYA and SEN, 2003, 2004).
As a result, positive corporate ability associa- Corporate images could influence the extent
tions will generate positive consumers’ perceptions of member identification with the organization.
about a brand, which might develop brand loyalty, Company identification is connected to the cor-
an attitude that describes preferences. It is a basis porate image that the customers create of them.
for price premium and to create sustainable com- In this way, an organization’s image could in-
petitive advantage which can be used as a barrier fluence the extent of member identification with
for other brands to enter in the market. This is why the organization (BROWN and DACIN, 1997).
brand loyalty is seen as a core feature in brand equi- Corporate ability associations contribute to
ty (AAKER, 1996). the creation of the corporate image. It is con-
As Brown and Dacin (1997) argue, corporate nected with the expertise of the employees, su-
associations are a source of sustainable competitive periority of R&D investments, technological in-
advantage. Schultz and Block (2013) suggest that novation, industry leadership, etc. (BROWN and
one form of brand sustainability is the continuous DACIN, 1997).
virtuous cycle of satisfied customers who advocate A brand that is perceived as a label for quali-
the brand to others. Positive corporate ability as- ty products, in the edge of technology and inno-
sociations will contribute to generate brand loyalty vation, may therefore engage customers through
in these satisfied customers, who will encourage these values, contributing to its self-definition
others to become users and eventually loyal to the as persons who care about innovation, who love
76
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

technology and self-define themselves as digital sociations


or tech consumers. Hence, we believe that cor- In their study, Brown and Dacin (1997) de-
porate ability associations may generate consu- fine corporate ability associations by comparing
mer-company identification. Therefore, having them with CSR associations. CSR is defined as the
in mind the positive relation between positive company’s status and activities regarding their
corporate ability associations and the creation of societal obligations, including activities that are
consumer-company identification, we propose relevant to several stakeholders, both communi-
that: ty and employees. The authors found that cor-
H8: Positive corporate ability associations porate ability associations influence product eva-
contribute to higher levels of consumer-company luations through product attribute perceptions
identification. and CSR associations only reveal this influence
through primarily corporate evaluations.
1.9. The influence of corporate ability asso- This happens because CSR does not offer
ciations on social responsible purchase intention insight about the products or the services’ attri-
behaviour butes. Therefore, the results of their study sho-
Corporate ability associations involve the wn that while negative CSR associations do not
skills or physical features attributed to the brand, represent harm on product evaluations, they do
such as technological innovation, design, indus- help to improve them when they are positive.
try leadership, expertise of the employees, and If positive CSR associations might support
many others. These features positively improve the creation of positive product evaluations ac-
the image of a brand, enabling corporate asso- cording to Brown and Dacin (1997), we believe
ciations to be formed in consumers’ minds re- that by enhancing CSR associations, companies
garding the products or the services of a specific are helping their products or services to be posi-
brand (BROWN and DACIN, 1997). tively perceived, enhancing also corporate ability
Positive corporate ability associations will associations. Hence, considering the relationship
perform a role of competitive advantage and it that seems to exist between these two variables,
may work as the determinant to choose betwe- we propose that:
en a brand and the other. Therefore, it may in- H10: Positive CSR Associations are related
fluence purchase intention behaviour, providing to positive corporate ability associations.
reasons for the consumer to choose that brand
rather than the other. Since innovation might be Consequently, the following diagram pre-
seen in different perspectives – as technological sents the theoretical framework proposed which
innovation, innovation in design or in marketing is composed by the ten previous hypotheses.
processes, we believe that by investing in social
causes, global brands are also showing social
and marketing innovation to its customers, mo-
tivating social responsible purchase behaviour.
Hence, considering the possible existence of a
relation between positive corporate ability asso-
ciations and purchase intention behaviour, we
propose that:
H9. Positive corporate ability associations
contribute to higher levels of social responsible
purchase intention behaviour.

1.10. The influence of positive CSR asso-


ciations on positive corporate ability as- Figure 1. Conceptual model
77
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

2. Method measures of the theoretical model (ARMS-


2.1.Sample and data collection TRONG and OVERTON, 1977). No significant
The data was collected through an online differences between early and late respondents
survey addressed to Portuguese consumers. We were found. Common method bias was analy-
used a five-point Likert Scale (from 1- strongly sed through the application of an exploratory
disagree to 5 – strongly agree) to facilitate the factorial analysis (PODSAKOFF and ORGAN,
comprehension of the respondents and to fur- 1986). The results of the performed exploratory
ther facilitate the data analysis. The survey also factorial analysis do not indicate the presence
included one question where it was requested of a unique factor that explains the majority of
to write down a global brand of which the res- the results’ variance. The analysis resulted in 12
pondent liked and was a frequent consumer. factors with eigenvalues above 1, with the first
It was made a pre-test of the survey before its factor explaining around 20% of the variance.
official launching, aiming to identify possible These data allow us to conclude that the data do
adjustments to the survey. During the pre-test, not have common method bias.
the survey was answered by six respondents.
We tested the comprehension of the questions 2.2.Measures
and answers, and overall survey pertinence. To evaluate the impact of CSR actions in
The pre-test provided us with the opportuni- brand loyalty, social responsible purchase in-
ty to improve the survey. In the first version, tention and consumer-company identification,
the survey asked respondents to write down a the study was developed based on the variables
socially responsible brand. Respondents poin- presented on the next table.
ted out that they took
too long thinking of
a brand that engaged
in CSR actions, so we
decided to replace the
question by asking for
a brand they liked and
then if they consider it
a socially responsible
brand. The survey was
launched on Februa-
ry 2014 and collected
344 valid answers.
We observe that
58% of our respon-
dents are female and
42% are male, de-
monstrating a relative
balance between gen-
Table 1. Measures
ders. Most of the res-
pondents is concentrated in 18 -30 age groups, 3. Analysis and results
being the age group 31-40 the second most re- 3.1. Data analysis
presented. To test for non-response bias, early The statistical analysis of this study was perfor-
and late respondents (defined as the first 75% med with Structural Equations Modelling (SEM)
and last 25% to return questionnaires, respec- through Partial Least Squares (PLS) software, by
tively) were compared on all key constructs SmartPLS 2.0 M3. To start the analysis of the ade-
78
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

quacy of the model it was


performed an individual
evaluation of the items.
This is made through
the observation of sim-
ple correlations between
the measurements and
its constructs (latent va-
riables). Investigators
accept items with loa-
dings equal or superior
to 0.7 (BAGOZZI and
YI, 1988), which indicate
that exists more varian-
ce shared between the
construct and its measu-
rements than the error
variance. All the items
indicated in Table 2 have
loadings that exceed the
limit of 0.7, which indica-
tes that they are reliable
(BARCLAY, HIGGINS,
and THOMPSON, 1995).
The values in Table 2
show that all Alpha Cron- Table 1. Measures
bach values are above the
desirable values: 0.60/0.70, demonstrating that the mended value (0.70) (AAKER and BAGOZZI,
scales are reliable and the used measures have con- 1980; BAGOZZI and YI, 1988). Also, the AVE
tent validity (CHURCHILL, 1979; HAIR et al., 2009; in each construct is superior to the reference
MALHOTRA et al., 2012). The reliability of the cons- value of 0.5, which means that at least 50% of
tructs may be tested using Cronbach Alpha, which the variance is explained by the latent variable
evaluates the feasibility through the consistency of (FORNELL and LARCKER, 1981). Table 3 sho-
each construct (CRONBACH, 1951); the composite ws that the AVE value of each construct is above
reliability, which evaluates the internal consistency the minimum limit of 0.5, being the lowest value
of all indicators of the latent variables (AAKER and of 0.5636, which indicates convergent validity in
BAGOZZI, 1980); and, at last, the average variance the constructs (CHIN, 1998).
extracted (AVE) which re-
presents the extent to whi-
ch the group of the items
variances is explained by
the latent variable (FOR-
NELL and LARCKER,
1981).
The composite relia-
bility for each construct
is superior to the recom- Table 3. Descrip�ve sta�s�cs and correla�on matrix
79
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

Discriminant validity is performed to com- sis 2 is supported by the results as shown by


plement the convergent validity. The discrimi- the following values: (β)=0.531; p>0.001, t-
nant validity compares in which way the items -value=12.212. Therefore, the results demons-
used to measure a construct differ from the trate evidence that positive CSR associations
items used to measure the other constructs wi- build stronger consumer-company identifica-
thin the same model. To evaluate discriminant tion phenomena. The results demonstrate that
validity was implemented a procedure used positive CSR associations positively influence
by Fornell and Larcker (1981). The matrix of the consumers’ social responsible purchase
correlation shows the correlations between the Intention, supporting Hypothesis 3 with the
different constructs and it includes in the main following values: (β)=0.185; p<0.05, t-value
diagonal, the AVE values’ square roots, which =2.215. The study also demonstrates that so-
should be higher than the elements outside the cial responsible purchase intention positively
influences the de-
velopment of brand
loyalty towards glo-
bal brands, suppor-
ting Hypothesis 4
with the following
values: (β)=0.092;
p< 0.05, t-va-
lue=1.700.
Consu-
mer-company iden-
tification is posi-
tively related to
consumers’ brand
Table 4. Hypotheses tes�ng results loyalty, as shown
with the following
diagonal in the correspondent lines and colu- values: (β)=0.337; p<0.001, t-value=5.337.
mns (FORNELL and LARCKER, 1981; SHOOK, Therefore, Hypothesis 5 is also supported by the
KETCHEN JR, HULT, and KACMAR, 2004). results. The results also show that consumer-
Since in PLS there isn’t a measure that -company identification is positively related to
summarizes the quality of the adjustment of social responsible purchase intention, suppor-
the models, it is recommended an evaluation ting Hypothesis 6 with the following values:
of the structural model through the use of R2, (β)=0.286; p< 0.001, t-value =3.668. Moreo-
the level of explained variance of each endoge- ver, positive corporate ability associations are
nous variable, that should be superior to 10% positively related to consumers’ higher levels
(FALK and MILLER, 1992). As we may observe of brand loyalty, supporting Hypothesis 7, with
in Table 4, this condition is verified for each the following values: (β)=0.259; p< 0.001, t-
endogenous variable. -value =4.899. Hypothesis 8 is also supported
As shown on Table 4, Hypothesis 1 is not by the results, demonstrating a positive link
supported by the results as shown by the follo- between corporate ability associations and
wing values: (β)=0.082; p<0.01, t-value=0.994. consumer-company identification, as shown
Therefore, the results do not demonstrate evi- by the following values: (β)=0.278; p<0.001,
dence that positive CSR associations are posi- t-value=6.041. The results support Hypothesis
tively related to higher levels of brand loyalty 9, demonstrating a positive relation between
of consumers toward global brands. Hypothe- corporate ability associations and social res-
80
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

ponsible purchase intention behaviour from important since they prove that CSR actions
consumers toward global brands, as shown by can induce “material” benefits for global bran-
the following values: (β)=0.121; p<0.05, t-va- ds, such as purchase intention, which might
lue=1.950. Finally, positive CSR associations be translated into future profits. CSR actions,
are positively related to positive corporate abi- by generating CSR associations, may act like
lity associations, supporting Hypothesis 10, a competitive advantage essential to select a
with the following values: (β)=0.464; p<0.001, brand. These findings are in conformity with
t-value=10.725. previous studies.
Agreeing to the literature, we also found
Conclusions, implications and future that consumer-company identification pheno-
research menon positively influences social responsible
Findings purchase intention behaviour. By being iden-
The investigation aimed to analyse how tified with the brand, consumers will desire to
corporate social responsibility actions over- own its products or services as a way of self-
taken by global brands may influence consu- -definition or self-identification. Therefore,
mers’ relationships with the brand, focused if brands work on their CSR performances,
on Portuguese consumers. Findings show that communicating them and carefully analyse if
positive CSR associations in consumers’ minds there’s a target market for it, they might collect
aren’t related to the creation of brand loyalty significant advantages.
among them. These findings are contrary to Corporate ability associations also con-
the results found in other studies, which have tribute for brand loyalty according to the re-
shown that if a brand connects with its cus- sults, which confirms the results obtained in
tomers through an emotional link created by previous studies (BROWN and DACIN, 1997;
CSR actions – humanizing the brand – then SCHULTZ and BLOCK, 2013). Since we found
this will create brand loyalty (BHATTACHA- that consumer-company identification has a
RYA and SEN, 2004; DU et al., 2007). On the positive influence on consumers’ brand loyal-
other hand, results have shown that positive ty, and corporate ability associations generate
CSR associations are positively related with consumer-company identification phenome-
the development of consumer-company iden- na, we find these results quite logic, allowing
tification phenomena among the Portuguese us to conclude that the respondents are easi-
consumers. These results demonstrate that ly identified with a brand that demonstrates
despite consumers recognize themselves in great corporate ability performance regarding
brands oriented to CSR actions, they may not innovation, technology, industry leadership
necessarily be loyal to them. This fact might be and so on. In addition, the results also showed
related to several facts, such as: economic le- that positive corporate ability associations in-
vel of the consumers, since usually CSR brands fluence positively social responsible purchase
are more expensive; with the fact that despite intention, which also agrees with results found
being identified with the brand, they don’t ha- in previous studies (e.g. BHATTACHARYA and
ve access to sufficient information about their SEN, 2004) and complements our results about
CSR actions to create a loyal link with it; and the positive influences among those variables.
still, they may find other characteristics of the If there’s a positive link between consu-
brand they choose to buy, that weight more in mer-company identification and brand loyal-
the formation of loyalty than CSR associations. ty, and if results show that CSR associations
Alternatively, results have demonstrated generate consumer-company phenomena, we
that positive CSR associations positively in- may question why CSR associations didn’t go
fluence consumers’ social responsible purcha- positive for brand loyalty creation. CSR asso-
se intention behaviour. These findings are very ciations evidence to exert an indirect effect
81
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

on brand loyalty through the mediator varia- positive corporate ability associations rather
ble consumer-company identification. A pos- than brands with positive CSR associations.
sible explanation can be because Portuguese
consumers aren’t still aware of CSR actions Implications
overtaken by global brands, which demons- CSR has been increasingly one major topic
trates a need to invest more in communication of discussion among academics, but has also
strategies that inform consumers of those ac- been in the spotlight regarding global brand
tions. On the other hand, another possible ex- strategies. However, the lack of studies about
planation might be that global brands need to the true benefits deriving from CSR actions
adapt their CSR strategy to the specific needs performed by the companies is a fact. Mo-
or expectations of Portuguese consumers. This reover, in Portugal, CSR isn’t yet a much-dis-
is a question that may be answered on further cussed topic and the results of this study may
investigation, with great importance in both open some doors to start studying Portuguese
academic and managerial worlds – if there are consumers’ perceptions regarding these initia-
still few studies regarding Portuguese consu- tives. The current study intends to contribute
mers’ perceptions in CSR actions performed by to the literature in the field by highlighting the
brands, it can be also an excellent way to find main consequences of CSR and corporate abili-
out how global brands need to adapt their CSR ty associations on consumers’ perceptions and
strategies according to different markets. behaviours.
Our investigation confirmed the existence Our findings confirm that CSR may bring
of a positive relation between CSR associations benefits for global brands, by promoting brand
and corporate ability associations. We highli- loyalty in consumers and social responsible
ght that Brown and Dacin (1997) found CSR purchase intention. Results confirm that CSR
having no direct influence on products evalu- actions create positive associations in consu-
ations. However, the authors found that the mers’ causing consumer-company identifi-
existence of CSR may indirectly have a posi- cation, social responsible purchase intention
tive influence on product evaluations, enhan- and enhance corporate ability associations,
cing corporate ability associations. Therefore, demonstrating how CSR may act as a compe-
these findings agree with the literature and are titive advantage that allows to distinguish a
exemplar of the advantages that CSR initiatives brand from the competition. Therefore, mana-
may bring to global brands. By enhancing con- gers in global brands should consider CSR as
sumers associations about the brand’s exper- a necessary part of its investment, not only for
tise, innovation, quality of products/services, the good of society, but also to harvest benefits
CSR takes an important part as a complemen- of the brand. However, we also found brand
tary strategy, helping brands to communicate loyalty not having a significant link with CSR
a sustainable strategy to their customers. Mo- associations, which might be related to the fact
reover, CSR actions may be seen by consumers that CSR actions included on global brands are
has an innovation itself, since it attracts better not consistent and well communicated. There-
employees and better conditions that help to fore, global brand managers should carefully
improve the company’s functioning. choose their CSR strategies and the ways of
Our study has confirmed that CSR has be- promoting it.
nefits for global brands, increasing consumer- Brands need to include in their commu-
-company identification, social responsible nication strategy the CSR initiatives in which
purchase intention behaviour and also enhan- they are engaged so that consumers’ will be
cing corporate ability associations. We also informed about them and about their bene-
conclude that Portuguese consumers are more fits. This way brands may contribute to the
likely to develop loyalty regarding brands with general welfare and, at the same time, harves-
82
BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ARTIGO

ting benefits for themselves. Corporate abili- Dohme. Journal of Marketing, 14, 396–402. 1977.
ty associations seem to have a greater positi-
ARNOLD, M. J., and REYNOLDS, K. E. Hedonic
ve influence on Portuguese consumers. These
shopping motivations. Journal of Retailing, 79,
findings also confirm results from previous
77–95. 2003.
studies, demonstrating that CSR efforts can-
not act alone to build a brand image. However, ARRIGO, E. Market-Driven Management, Global
our results also confirm that CSR may act as a Competition and Corporate Responsibility. Emer-
complementary strategy enhancing corporate ging Issues in Management, 1, 54–70. 2009.
ability associations. Therefore, by demonstra- BAGOZZI, R. P., and Yi, Y. On the Evaluation of
ting commitment to social and environmental Structural Equation Models. Journal of the Acade-
causes, global brands are getting to consumers my of Marketing Science, 16, 74–94. 1988.
also through corporate ability associations.
BALDINGER, A. L., and RUBINSON, J. Brand
Limitations and directions for future loyalty: The link between attitude and behaviour.
research Journal of Advertising Research, 36, 22–34. 1996.
Our conceptual model was statistically BARCLAY, D., HIGGINS, C., and THOMPSON, R.
validated and it provided evidence that CSR The Partial Least Squares (PLS). Approach to cau-
exerts positive influences in brand associa- sal modeling: personal computer adoption and use
tions. However, we detect several limitations as an illustration. Technology Studies, 2, 285–309.
that could improve this study. A sample with 1995.
more respondents and a longitudinal study will
BECKER-OLSEN, K., CUDMORE, A., and HILL,
provide more accurate results. Currently, the
R. The impact of perceived corporate social res-
influence of CSR on brand associations isn’t
ponsibility on consumer behaviour. Journal of Bu-
a frequently studied topic. Therefore, there is
siness Research, 59(1), 46–53. 2006.
still a lot of investigation to do regarding this
theme. Consequently, there is the need of mo- BHATTACHARYA, C. B., and SEN, S. Consumer-
re accurate scales to measure how consumers -Company Identification: a Framework for Un-
perceive CSR initiatives. Cross-cultural studies derstanding Consumers’ Relationships with Com-
are also a path of investigation that should be panies. Journal of Marketing, 67, 76–88. 2003.
followed up to determine in which extent glo- BHATTACHARYA, C. B., and SEN, S. at Doing
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1School of Technology and Management, Polytechnic Institute of


Leiria
2School of Technology and Management, CIGS, Polytechnic
Institute of Leiria
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017

ARTIGO

A trajetória do
design de identidade
de marca no Brasil

Sandra Ribeiro Cameira1


Marcos da Costa Braga2
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ARTIGO

Resumo: Resumén:
Os primeiros projetos de design de sistemas de Los primeros proyectos de diseño de sistemas de
identidade visual começaram a ser realizados identidad visual comenzaron a realizarse en Brasil a
no Brasil a partir de meados da década de 1960. partir de mediados de la década de 1960. Este cam-
Esse campo da atividade profissional desenvol- po de la actividad profesional se desarrolló en el país
veu-se no País ao longo das décadas seguintes e a lo largo de las décadas siguientes y pasó por una
passou por uma evolução significativa, tanto do evolución significativa tanto desde el punto de vista
ponto de vista metodológico quanto mercadoló- metodológico como mercadológico, a partir de la dé-
gico. A partir da década de 1990, quando os escri- cada de 1990, cuando las oficinas de diseño respon-
tórios de design responsáveis pelos projetos de sables por los proyectos de construcción de identida-
construção de identidades de marca passaram a des de marca pasaron a entregar también la creación
entregar também a criação da estratégia de bran- de la estrategia de branding más allá de la identidad
ding além da identidade visual. Este artigo tem visual. Este artículo tiene como objetivo mapear la
como objetivo mapear a trajetória e o desenvol- trayectoria y el desarrollo del campo del diseño de
vimento do campo do design de identidades de identidades de marcas en Brasil, identificando algu-
marcas no Brasil, identificando algumas de suas nas de sus características básicas que, a lo largo del
características básicas as quais, ao longo do tem- tiempo, demarcaron esta práctica profesional y que
po, demarcaram esta prática profissional e que demuestran, en líneas generales, cómo ocurrieron
demonstram, em linhas gerais, como ocorreram en Brasil los cambios en el proceso de construcción
no Brasil as mudanças no processo de construção de marcas a partir de la inclusión del branding.
de marcas a partir da inclusão do branding.
Palabras-clave: marcas, identidad visual, branding,
Palavras-chave: marcas, identidade visual, design
branding, design
Résumé:
Abstract: Les premiers projets de conception de systèmes
Design projects of brand identity systems began d’identité visuelle ont commencé à être réalisés au
to be conducted in Brazil in the mid-1960s. Over Brésil depuis le milieu des années 1960. Ce domai-
the following decades, this area of professional ne d’activité professionnelle s’est développée dans
activity developed in the country and, since the le pays au cours des décennies suivantes et a subi
1990s, underwent a significant evolution, both une évolution significative, en ce qui concerne la
from methodological and market perspectives, méthode et aussi le marché, dès années 1990, lors-
when design offices responsible for creating que les bureaux de design responsables par la cons-
brand identities started to deliver branding stra- truction des identités de marque ont commencé à
tegies beyond visual identity. This article aims to offrir également la création de la stratégie de bran-
map the paths and the development of the field ding, en plus de l’identité visuelle. Cet article vise à
of brand identity design in Brazil, by identifying cartographier la trajectoire et le développement du
some of the basic characteristics of the design of domaine de design des identités de marque au Bré-
visual identities that, over the time, defined the sil, en identifiant certaines de ses caractéristiques
development of this professional practice, and fondamentales qui, au fil du temps, ont délimité
which demonstrate, in general terms, how in cette pratique professionnelle et qui démontrent,
Brazil, the shifts in the process of brand building en général, comment les changements dans le pro-
occurred from the inclusion of branding. cessus de construction d’image de marque ont eu
lieu au Brésil depuis l’inclusion de branding.
Keywords: brands, visual identity, branding, de-
sign Mots-clés: marque, identité visuelle, branding,
design
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ARTIGO

Introdução Cil (STOLARSKI, 2006) e de Maurício Nogueira


O presente artigo apresenta parte da pes- Lima com a programação visual para a 1ª Feira
quisa e das conclusões da dissertação de mestra- Internacional da Indústria Têxtil (Fenit), em São
do3 defendida em 2013, na Universidade de São Paulo, além da marca gráfica e linha de emba-
Paulo, Brasil. Os métodos utilizados foram: re- lagens criada por Ligia Pape para a indústria de
visão bibliográfica, análise de documentos de biscoitos Piraquê, do Rio de Janeiro (figura 02).
época e realização de entrevistas baseadas em
métodos qualitativos (POUPART, 2012).
O trabalho se caracteriza por uma pes-
quisa exploratória e qualitativa (POUPART,
2012), norteado por uma abordagem histórica Figura 01: Marcas gráficas projetadas
por Willys de Castro / Fonte: STOLARSKI,
baseada nas noções de micro história descritas 2006.
por Barros (2007), a saber: foco em objetos de
estudos bem específicos para apresentar novas
realidades, com delimitação temática distintiva
e exploração das fontes primárias utilizando o
recurso da narrativa.

O nascimento do design de marcas no Brasil


A área do design de identidade visual come-
çou a ganhar força no Brasil no final dos anos
1950 e no início da década de 1960, quando se in-
tensificaram, no País, os processos de urbaniza-
Figura 02: Marca Gráfica e
ção e industrialização e se expandiram os meios Embalagens dos biscoitos
de comunicação de massa. Piraquê desenhadas pela
ar�sta Ligia Pape no final da
Na mesma época, a arte concreta ganhou década de 1950.
projeção, com destaque para a atuação dos artis- Também na década de 1950, o ensino do de-
tas paulistas do Grupo Ruptura, que abandonou sign no Brasil deu seu primeiro passo: em 1951,
todos os tipos de representação figurativa, pro- foi criado o curso de desenho industrial do Insti-
pondo a abstração geométrica relacionada à re- tuto de Arte Contemporânea do Museu de Arte de
produtibilidade da arte e ao desenho industrial. São Paulo (IAC/Masp), em São Paulo, inspirado
Vários artistas desse movimento transpuseram a na Bauhaus e no curso de Moholy-Nagy, em Chi-
fronteira das artes plásticas e atuaram também cago. Os alunos egressos do curso do IAC, foram
criando projetos de identidade visual para em- pioneiros em criar marcas para empresas brasi-
presas e embalagens para produtos de consumo. leiras atuando, inicialmente, sem a metodologia
Este pode ter sido o embrião que deu origem a projetual do campo do design. Posteriormente,
uma atividade profissional que seria sistemati- consagraram-se importantes designers brasilei-
zada alguns anos depois como especialidade no ros, a saber: Alexandre Wollner, Ludovico Marti-
campo do design gráfico: o design de identidades no, e Emilie Chamie, dentre outros. Após o fim do
visuais. curso no IAC/Masp, em 1954, Alexandre Wollner
Como exemplos emblemáticos de trabalhos recebeu de Geraldo de Barros a oportunidade de
realizados pelos artistas concretos, podemos des- estudo na mais importante escola de design da
tacar as criações de Willys de Castro (figura 01) Europa. Em janeiro de 1955, iniciou os estudos
para a Mobília Contemporânea e para a Tintas na Escola Superior da Forma da cidade de Ulm,
Alemanha.
3Cameira, Sandra Ribeiro (2013). O branding e a metodologia de
sistemas de identidade visual. Programa de Pós-graduação da Fa-
No cenário internacional, nos anos de 1950
culdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. a 1960, os Estados Unidos, já recuperados do
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ARTIGO

período pós-guerra, viviam uma era de forte ex- Em 1959, Wollner e Geraldo de Barros dei-
pansão industrial, com o surgimento de grandes xaram a sociedade. Wollner montou um novo es-
conglomerados corporativos. O êxodo de vários critório, o DICV Designo, em São Paulo, e Ruben
professores da Bauhaus e de outros artistas gráfi- Martins seguiu com o forminform desenvolvendo
cos modernistas europeus para o país favoreceu o projetos com personalidade própria, menos orto-
rápido desenvolvimento do campo do design grá- doxa, influenciada por elementos da cultura bra-
fico norte-americano, com o início de diferentes sileira, mas combinando com referências ao rigor
cursos de formação profissional. Em meados dos geométrico da arte concreta. Assim, seu processo
anos 1950, os Estados Unidos já contavam com criativo era mais lúdico e informal do que o dos
designers e escritórios estruturados, atuando em demais designers pioneiros. A historiadora Ethel
projetos de identidade visual corporativa, como Leon (2009) destaca um comentário de João Car-
Paul Rand, Chermayeff & Geismar e Lippincott & los Cauduro – que também trabalhou no formin-
Margulies. form – sobre o diferencial do trabalho de Ruben
Os anos 1960 no Brasil foram uma época de Martins:
desenvolvimento da indústria – em especial a au-
Certamente ele foi influenciado pela Escola de Ulm,
tomobilística e a de eletrodomésticos. Foi também diz, mas seu desenho é mais macio, orgânico, sem
quando se iniciou o movimento de formação das a rigidez dos seguidores intransigentes da esco-
primeiras empresas especializadas em design. Em la alemã. Isso aparece bem nas cores, nas formas
curvas. Ruben não era um copiador, ele tinha a vi-
1958, foi fundado o forminform4– reconhecido co-
são antropofágica de assimilar técnicas dos países
mo o primeiro escritório unicamente dedicado ao industrializados, mas trazendo tudo isso para a nos-
design no Brasil –, por Alexandre Wollner e Ge- sa cultura. (LEON. 2009, p.173)
raldo de Barros. O artista plástico e desenhista de
móveis Ruben Martins tornou-se sócio em segui- Dentre os principais projetos de Ruben Mar-
da. No forminform, Wollner desenvolveu o que é tins, destacam-se, respectivamente: o projeto de
considerado por alguns designers como o primeiro marca e embalagem para a Casa Almeida e a mar-
sistema de identidade visual no Brasil e um dos ca gráfica da empresa Bozzano de produtos de hi-
mais representativos trabalhos da escola raciona- giene pessoal, que ilustram a linguagem gráfica do
lista vigente na época: o projeto para a Sardinhas artista (figura 04).
Coqueiro, que incluía a criação de uma nova marca
gráfica, uma nova linha de embalagens e uma lin-
guagem visual para a comunicação publicitária. A
marca e as embalagens permaneceram em uso no
mercado – e sem alterações – por mais de quarenta
anos, comprovando uma das características desta
linha racionalista que era a longevidade visual, fora
de modismos gráficos (figura 03).
Figura 04: Marca gráfica e embalagem para Casa Almeida, e marca gráfica
Bozzano, ambas projetadas por Ruben Mar�ns / Fonte: arquivo Ruben
Mar�ns de Fernanda Mar�ns.

Um dos mais importantes escritórios de de-


sign brasileiros, fundado em 1964 pelos arquite-
tos João Carlos Cauduro e Ludovico Martino, foi
o Cauduro/Martino Arquitetos Associados, que,
desde o início, tinha como principal caracterís-
Figura 03: Embalagens e marca gráfica para Sardinhas Coqueiro / Fonte: tica sua multidisciplinaridade. Seus projetos,
Alexandre Wollner.
frequentemente, reuniam arquitetura, comuni-
4“A letra inicial do nome em minúscula é proposital, herança da nova
cação visual e o desenho de produto, oferecendo
tipografia construtivista”. (LEON, 2009, p.23)
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aos clientes uma solução completa e integrada. O Após a conclusão do projeto de identidade
designer brasileiro Celso Longo Júnior defendeu visual propriamente dito, João Carlos Cauduro
uma dissertação de mestrado sobre a metodolo- e Ludovico Martino continuaram trabalhando
gia do “design total” do escritório Cauduro/Mar- para as empresas do Grupo Villares por mais de
tino, e nela declarou: uma década. Em entrevista, realizada em 2012,
João Carlos Cauduro afirmou que, naquela épo-
A postura sistêmica e multidisciplinar do escritório,
por eles denominada “Design Total”, contempla- ca, ele e Ludovico “já faziam branding” para a
va não apenas a criação da identidade visual, mas Villares, uma vez que, junto com a presidência
cuidava também das demais manifestações visuais da empresa, acompanhavam por um longo pe-
da empresa, como sinalização interna e externa e
ríodo, a gestão da marca com uma visão total:
projeto de estandes, para que todos estes elementos
estivessem em constante sintonia com a identidade desde a criação do primeiro programa de iden-
visual. O escritório chegou a assessorar a diretoria tidade visual até a implantação do setor interno
da Villares, em 1978, na montagem de um departa- de comunicação, que supria as demandas diá-
mento interno de comunicação, exclusivamente de-
dicado a cuidar da identidade visual da corporação e rias de comunicação da empresa respeitando as
a gerenciar os parâmetros descritos em suas normas diretrizes estabelecidas para a marca. Segundo
(LONGO JUNIOR, 2007, p.42). Cauduro, o conceito da metodologia do “design
total” de seu escritório surgiu a partir da experi-
O programa de identidade visual da Villares, ência com a Villares. Sobre essa experiência do
desenvolvido pelo Cauduro/Martino em 1967, Cauduro/Martino com a Villares, Longo Júnior
foi pioneiro com essas características e projetou (2007) completa:
o nome do escritório por seu caráter inovador,
antecipando a prática de gestão dos pontos de Hoje é sabido que construir uma imagem corpora-
tiva consistente não acontece da noite para o dia. O
contato da marca por um escritório de design, escritório pôde vivenciar isso na prática, na medida
que surgiria décadas depois no Brasil. em que trabalhou mais de dez anos – desde o con-
Segundo Cameira (2016), a identidade visual curso, em 1967, até o estabelecimento das “Normas
Villares”, em 1978 – debruçado sobre seu programa,
das indústrias Villares foi projetada em 1967, desenhando, avaliando e reestruturando cada uma
quando o escritório Cauduro/Martino venceu de suas etapas. (LONGO JÚNIOR, 2007, p.39)
um concurso fechado com vistas à criação de uma
família de marcas para cada uma das empresas Com o passar dos anos e a chegada de no-
existentes que constituíam o grupo Villares e vos diretores associados, o Cauduro/Martino
também para empresas futuras. Foram convida- consolidou de forma mais estratégica o seu po-
dos a participar desta concorrência o designer sicionamento, voltado para captação de grandes
paulistano Alexandre Wollner e o escritório Cau- clientes de identidade corporativa e gestão de
duro/Martino (figura 05). marcas. Nos anos 2000, estabeleceu uma par-
ceria estratégica com a consultoria de branding
norte-americana Lippincott, para realização de
projetos de construção de marcas. Nesta época,
os escritórios de design brasileiros começavam a
se capacitar de diferentes formas para elabora-
rem a estratégia de branding juntamente com o
projeto de identidade visual.
Outro importante nome da geração pionei-
ra de designers brasileiros é o de Aloísio Maga-
lhães. A principal característica das marcas que
Figura 05: Família de marcas projetadas pela Cauduro/Mar�no para as ele projetava era a síntese formal, que originava
empresas do grupo Villares (CAMEIRA, 2016).
signos visuais claros, impactantes e de fácil me-
morização. Apesar de seus projetos se apoiarem
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ARTIGO

nos métodos ligados às escolas suíça e alemã, divulgar e conscientizar os governantes e empre-
Aloísio buscava, sempre que possível, embutir os sários brasileiros sobre a importância do campo
valores culturais brasileiros em sua obra. O de- profissional do design, impulsionando o reco-
signer projetou diversas identidades visuais para nhecimento e a regulamentação da profissão5.
empresas estatais brasileiras. Em 1964, venceu o A atuação dos designers pioneiros, a funda-
concurso para a criação do símbolo do IV Cen- ção das escolas de design, e da ABDI – contri-
tenário da fundação da cidade do Rio de Janei- buíram para a institucionalização do campo pro-
ro, certamente uma iniciativa pioneira de “place fissional do desenho industrial no Brasil a partir
branding”. Na época, este símbolo tornou-se um dos anos 1960. Um dos principais propósitos da
dos sinais gráficos mais utilizados, copiados e Associação era impulsionar o processo de cons-
bem quistos da população, que o reproduzia es- cientização sobre a profissão do desenho indus-
pontaneamente por toda a cidade (figura 06). trial. Para isto, criou diversos eventos, premia-
ções e, também, editou informativos e periódicos
que fomentaram a conscientização e reflexão so-
bre o Design.
A primeira geração de escritórios dedicados
ao campo do design era filiada à ABDI. A Asso-
ciação, por meio das suas ações, auxiliou a di-
vulgação dos trabalhos desenvolvidos por seus
sócios que em boa parte era de trabalhos gráfi-
cos. Apesar de a ABDI, de certa forma, ter focado
seus esforços em estimular o design de produto,
em geral os projetos de destaque dos escritórios
filiados eram de marcas gráficas e de sistemas
de identidades visuais. Esta situação, em parte,
Figura 06: Acima, o símbolo criado por Aloísio Magalhães para os 400 deve-se à divulgação internacional dos books de
anos da cidade do Rio de Janeiro e, abaixo, as versões espontaneamente
criadas pela população (Fonte: imagens re�radas de web sites). identidade visual de grandes empresas multina-
cionais – como o da IBM, feito por Paul Rand – e
A profissionalização do design de identi- também pelo crescimento de empresas nacionais
dade visual no Brasil privadas e estatais no final dos anos 1960 e na dé-
Desde o início da década de 1960, até o final cada de 1970. Estimuladas pela ação dos desig-
da década de 1970, vários cursos superiores de ners locais, as companhias brasileiras quiseram
Desenho Industrial foram criados no Brasil, in- seguir o exemplo das estrangeiras.
fluenciados principalmente pelo pioneirismo da Em 1977, com o campo da identidade visual
ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial em franca consolidação, a ABDI promoveu no
– fundada em dezembro de 1962. Todos esses Museu de Arte de São Paulo, o MASP, o seminá-
cursos tiveram seu conteúdo programático ins- rio “Panorama da Identidade Visual”, cujo obje-
pirados pelo funcionalismo alemão da Escola de tivo era informar e conscientizar o empresariado
Ulm e no design gráfico da escola internacional brasileiro sobre a importância da identidade vi-
suíça, cujas premissas se ancoravam na funcio- sual no processo de administração empresarial.
nalidade, simplicidade formal e no rigor técnico. O evento reuniu 34 trabalhos expostos, de reno-
Ainda influenciada pela industrialização e mados escritórios e designers das principais ca-
urbanização crescentes no Brasil, em 1963, foi pitais brasileiras.
criada a primeira associação profissional de De- Na sessão de abertura, o conferencista José
senho Industrial, a ABDI – Associação Brasileira Carlos Fonseca Ferreira ressaltou a importância
de Desenhistas Industriais – instituída por pio-
5“O estatuto da ABDI definia a associação como sem fins econômicos
neiros do design, cujos principais objetivos eram e de caráter cultural” (BRAGA, 2016, p.89).
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da identidade visual como elemento funda- Vale ressaltar que, naquela época, já se es-
mental para a imagem corporativa da empresa clarecia os conceitos muito defendidos atual-
e deixou claro os diferentes papéis desempe- mente pelos profissionais de branding, sobre
nhados pelas áreas de produção e gestão em- a importância dos stakeholders6 na formação
presarial nas quais a identidade visual deve se da imagem empresarial, e se destacava que a
apoiar – os departamentos financeiro, de ma- imagem corporativa era o somatório de todas
rketing e de recursos humanos. Afirmou, ainda, as impressões que a empresa criava na men-
que os programas de identidade visual devem te dos diversos indivíduos que compunham os
ser desenvolvidos por profissionais especia- seus diversos públicos.
lizados, de forma ampla e abrangente, envol-
A imagem corporativa é representada por todos
vendo diversos pontos de contato da empresa: os sentimentos somados que foram criados por
materiais institucionais, formulários, equipa- uma empresa, através dos seus produtos, de suas
mentos, edifícios, embalagens, propaganda atitudes, de suas negociações comerciais e de seu
relacionamento com os indivíduos nas áreas em
etc. E reforçou, principalmente, que esta ação
que opera, das aparências de suas instalações fí-
deve ter o envolvimento, o apoio e o compro- sicas, ou até mesmo pela simples maneira como é
metimento de todos os colaboradores da em- atendido um telefonema na empresa. (FERREIRA,
presa contratante – da alta administração aos in ABDI/Masp, 1977).

gerentes, supervisores e demais funcionários.


Foi destacada, ainda, a importância de se in- Rezende examinou, ainda, todo o processo
vestir em nova identidade visual sempre que compreendido por um programa de identida-
uma empresa precisar revelar uma alteração de visual em suas etapas básicas: a definição
significativa em sua imagem corporativa, co- de sua política, o projeto do código visual, a
mo nos seguintes processos: fusão com outras implantação, manutenção e atualização da
empresas, alteração da composição societária identidade visual. Discursou, ainda, sobre o
ou, ainda, modificação no posicionamento e desenvolvimento histórico da atividade de
na maneira de ser da empresa. Segundo ele, a identidade visual no mundo e detalhou sua me-
maior atenção para os assuntos de opinião pú- todologia para cada fase, explicando detalhes
blica, identidade visual e imagem corporativa, sobre a organização do designer, a proposta de
refletiam as novas funções e responsabilidades trabalho e a elaboração do Plano Diretor. Apre-
corporativa que caracterizavam a época. sentou didaticamente estes elementos e sua
Marco Antonio Amaral Rezende, na épo- importância em todo o processo, do projeto à
ca associado do Cauduro/Martino, ministrou sua normatização e implantação. E concluiu
neste Seminário uma palestra cujo tema era afirmando que identidade visual é um trabalho
“Metodologia”. Além de apresentar definições interdisciplinar, que exige um “design total”, e
e conceitos sobre identidade visual, ele comen- que a equipe do designer precisa dominar as
tou sobre o despertar da consciência em rela- mais diversas áreas de atividades do projeto,
ção à necessidade de se implantar um sistema da gráfica à arquitetura.
de mensagens visuais nas empresas. Ao final da década de 1970, o campo de
identidade visual no Brasil, tinha evoluído e
O ano de 1960 ser considerado como ano-chave. É se consolidado tanto pela prática profissional
quando começa, nos Estados Unidos, a implanta-
ção dos clássicos programas de Identidade Visu-
como pelos clientes, que contratavam, com
al da IBM e da Westinghouse. Eles marcam uma frequência, profissionais de design para desen-
significativa transformação. O que então vinha volverem seus projetos de identidade visual em
sendo tratado como questão de gosto, ou de como diferentes escalas de profundidade, extensão e
se dizia “house style”, como algo que se decidia
de forma espontânea e assistemática, subjetiva, complexidade.
transforma-se em um ponto chave na estratégia 6“Pessoas ou empresas interessadas em uma empresa ou marca, en-
administrativa das empresas, mesmo daquelas de tre elas acionistas, empregados, parceiros, fornecedores, clientes e
pequeno porte. (Rezende, 1977) membros da comunidade” (NEUMEIER, 2008).
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Alguns anos depois havia vários escritórios do pela marcas, quando o consumo tornou-se
especializados em projetos de construção de um fato dominante na sociedade. E a quarta
identidade visual estruturados pelas grandes se estabeleceu favorecida pela conjuntura eco-
capitais do País. Percebia-se, com clareza, que nômica pós-recessão: as marcas passaram a
o mercado se tornara mais maduro, exigente e investir maciçamente em comunicação para se
ciente da necessidade de se projetar e implan- fazerem presentes no cotidiano de seus con-
tar um sistema integrado de identidade visual sumidores e precisaram assumir um discurso
para as empresas. Marco Rezende constatou carregado de atributos cognitivos e simbólicos,
esta nova realidade em artigo publicado na re- a fim de propor um universo de significados a
vista Marketing Paulista (1979): todos os seus públicos de interesse.
Neste cenário, o branding – que já vinha
O profissional e seu cliente descobriram que um
símbolo ou um logotipo não bastam para bem sendo praticado em empresas há algumas dé-
identificar uma organização, evento ou produ- cadas7 – ganhou força como tendência em comu-
to. Para se atingir este objetivo, bem afirmando nicação decorrente da evolução do marketing.
a imagem e a personalidade da empresa, faz-se
As consultorias de design fortemente estabe-
necessário um processo de projeto, execução e
implantação de uma linguagem visual integrada, lecidas nos Estados Unidos e Europa, como
coerente e original. Não basta “aplicar” a marca ao Lippincott & Margulies e Wolff Olins, respec-
papel de carta, ao envelope e ao cartão de visita; tivamente, reforçavam seu discurso em prol
é preciso definir todas as características visuais e
materiais do sistema de formulários da empresa. da gestão estratégica das marcas associada a
E isto deve ser feito não levando em conta somen- conceitos como identidade corporativa, ima-
te objetivos estéticos, mas procurando considerar gem de marca, evidenciando a visão de que a
toda a problemática da empresa em todas as suas
manifestações. (REZENDE, 1979, p.26).
integração entre o branding e o design é fun-
damental para geração de valor às marcas das
A evolução no processo de construção e corporações. Wally Olins (1989), reforça este
gestão das marcas pensamento já no título de seu livro: “Corpo-
Grandes transformações ocorreram em to- rate Identity: Making Business Strategy Visible
do o mundo na transição entre os séculos XX e through Design”.
XXI. A globalização, o fácil acesso à tecnologia Sobre este entendimento de Olins, Camei-
e a internet revolucionaram a forma como as ra (2016) escreveu:
pessoas interagem entre si e fazem suas esco- Segundo Wally Olins (1989), cada organização é
lhas ao longo da vida. única e a sua identidade deve surgir de suas raízes,
A respeito desse contexto contemporâneo, de sua personalidade, de suas forcas e fraquezas.
Ela deve ser visível, palpável e abrangente. O autor
o semiólogo Andrea Semprini (2006) discor- define como manifestações da identidade tudo o
reu sobre a evolução histórica das marcas des- que de visível e palpável a organização faz: das ins-
de o período pós-guerras, e demonstrou que talações da empresa aos materiais de comunicação
da corporação e sua propaganda. E afirma que tais
este desenvolvimento foi um processo associa- manifestações devem ser uma afirmação da iden-
do a diferentes contextos – econômico, social tidade. Devem ter qualidade e caráter consisten-
e político – de épocas distintas. O autor iden- tes, que reflitam precisa e honestamente toda a
tificou, esquematicamente, quatro evoluções organização e os seus objetivos. Nesse contexto se
insere o design, já que tudo isso é palpável, visível
fundamentais pelas quais as marcas passaram: e projetado. Portanto, o design é um componente
primeiramente, houve a democratização dos significativo na complexidade da identidade. (CA-
instrumentos e meios de comunicação e a di- MEIRA, 2006, p.43)
versificação dos suportes, técnicas e dos modos
de contato com os consumidores. Depois, as 7“O uso do branding como ferramenta de gestão não é recente. A
marcas ampliaram a sua área de atuação para Procter & Gamble é reconhecida por ter sido a primeira empresa a
criar, em 1931, times de gerenciamento de marcas, que tinham como
além da esfera do consumo. A terceira evolução principal função coordenar o programa de marketing dos produtos
foi o novo papel de identidade cultural assumi- de forma integrada à venda e à fabricação”. (CAMEIRA, 2016, p.51)
93
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ARTIGO

Figura 07: Capa e matéria da Revista Sense publicada pela Lippinco� & Margulies em 1994. (Fonte: www.lippinco�.com/
magazines acesso em 30/06/2017)

A designer e consultora de gestão de marcas do público consumidor, clientes ou usuários.


Alina Wheeler (2008) explica que o processo de Já o campo de Marketing aplicado à gestão
identidade de marca é definido por cinco fases: de marca atua na prospecção, organização e aná-
condução da pesquisa, classificação da estraté- lise dos sinais emitidos pelo mercado, especial-
gia, design da identidade, criação de pontos de mente com relação às expressões da marca. [...]
contato e gestão de ativos. Segundo a autora, este O gestor de marca atua por meio de “processos
é um processo rigoroso que demanda uma com- empresariais”, buscando conhecer e responder
binação de investigação, pensamento estratégi- às demandas do público ou dos clientes e intera-
co, excelência em design e habilidade no geren- gir de modo eficaz no seu processo de apreensão
ciamento de projetos. Wheeler afirmou, ainda, e construção mental da imagem de marca.
que independentemente da natureza do cliente
e da complexidade do compromisso, o processo O designer é focado, prioritariamente, nos elemen-
tos expressivos ou tangíveis, visando suas possibili-
é sempre o mesmo, o que muda é a profundida- dades simbólicas. [...] O campo de atuação do gestor
de com que cada fase é conduzida, a extensão do não é perfeitamente coincidente com o do designer,
tempo, os recursos que são atribuídos e o tama- porque os elementos de expressão da marca são mais
diversificados e mais amplos do que os elementos
nho da equipe em ambos os lados: da empresa
expressivos projetados e controlados pela ação do
especializada em identidade e do cliente. designer”. (GOMES FILHO, 2008. Online).
Sob a ótica da administração de empresas,
o professor Antonio Gomes Filho (2008) defen- O branding no design brasileiro
de que os estudos de marca envolvem diferentes No Brasil, o legado deixado pelos designers
áreas do conhecimento que percebem esse objeto da geração pioneira – em especial Alexandre
sob diversos ângulos. O autor destaca que é ne- Wollner, Cauduro/Martino e Aloísio Magalhães
cessário se pensar em uma abordagem integra- – influenciou todas as gerações de designers que
dora entre as áreas de marketing e design, que surgiram posteriormente. E os projetos de iden-
apresentam perfis bastante diferentes. Para ele tidade visual assinados pelos designers da gera-
o design aplicado a marcas atua nas formas ex- ção pioneira, acima mencionados, ainda podem
pressivas da organização, do produto ou do ser- ser considerados referências relevantes quando
viço. E explica o papel de cada profissional – o o assunto é identidade visual. No entanto, o ce-
designer e o gestor de marketing nesse processo: nário contemporâneo exigiu que os designers
O designer atua na relação entre os “proces- adquirissem um novo olhar para a atividade
sos tecnológicos” aplicados e as percepções e usos de construção de marcas. O designer brasileiro
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ARTIGO

Chico Homem de Melo (2011), em seu destacado mandado pela globalização, o crescimento do mer-
cado como um todo (mais produtos e marcas dis-
livro8 sobre a história do design gráfico no Bra-
putando a atenção dos consumidores), o aumento
sil, demarcou a época em que o termo branding do consumo e a tecnologia acessível exigiam uma
começou a se integrar ao campo do design no nova postura das empresas em relação à gestão de
Brasil: seu patrimônio e, principalmente, de suas marcas.
(CAMEIRA, 2016, p. 169)
No final dos anos 1990 começa a circular o termo
branding. A ideia de “gerir marcas” em vez de “pro- Ao perceberem a necessidade de se atualizar
jetar sistemas de identidade visual” ganharia corpo
e se consolidaria na primeira década do século XXI.
na metodologia de construção de identidades de
O branding pode ser entendido como a expansão do marca, os designers brasileiros buscaram esta
conceito original modernista de construção de iden- capacitação por diferentes meios a fim de incor-
tidades; sob esse ponto de vista, essa atividade passa
porarem os conhecimentos de branding à meto-
a ser o “projeto de sistemas de identidade”, aborda-
dos agora em sua totalidade, e não apenas em sua dologia do design. Cada escritório associou seus
dimensão visual. (MELO, 2011, p.614) próprios métodos, resultantes de sua experiên-
cia acumulada, aos novos conhecimentos sobre
Segundo Cameira (2016), o branding foi branding obtidos posteriormente. Aqueles de
introduzido como uma prática efetiva nos prin- maior porte contrataram novas equipes multi-
cipais escritórios de design brasileiros especia- disciplinares com profissionais especializados
lizados, a partir de meados da década de 1990 em planejamento e administração para somarem
e se consolidou nos anos 2000. A autora desta- seus conhecimentos aos projetos desde a fase da
ca um fato que causou grande indignação entre criação da estratégia até a da gestão da marca.
os designers brasileiros que atuavam no campo Na prática, houve um aumento de escopo
da identidade visual e que pode ter provocado, com a inclusão de novas etapas na metodologia
naquela época, o despertar desses profissionais em comparação ao método anteriormente ado-
para a necessidade de repensarem o trabalho tado. A figura 08 apresenta, em linhas gerais,
de criação de marcas desenvolvido por eles até as metodologias defendidas por Marco Antonio
então: a entrega dos projetos de redesenho das Rezende (1979) e Alina Wheeler (2008) sobre
identidades de marca de duas grandes empresas a construção de identidades de marca. Se am-
brasileiras – a companhia aérea Varig e o ban- bas forem comparadas, é possível observar que
co Bradesco – a um escritório de design norte- na mais recente – que inclui a estratégia de –, o
-americano, o Landor Associates. Na ocasião, projeto passa a considerar uma etapa de estraté-
o motivo pelo qual suas empresas haviam sido gia, mais subjetiva, que inclui desenvolvimento
preteridas para assumir tais projetos foi muito da plataforma de posicionamento da marca e,
questionado, principalmente porque veio a pú- ainda, uma nova etapa de gestão dos ativos que
blico o conhecimento de que os valores pagos à prevê a construção de sinergia ao redor da marca
consultoria norte-americana eram exponencial- e o desenvolvimento da sua estratégia de lança-
mente mais elevados do que os habitualmente mento.
cobrados no Brasil em projetos de identidade
visual corporativa. E conclui:

O episódio contribuiu para alertar os principais pro-


fissionais de design brasileiros de que era urgente
uma mudança de atitude na oferta dos serviços de
construção de identidades de marca, pois a globa-
lização e a tecnologia eliminavam as fronteiras e
encurtavam os caminhos para que as empresas ti-
vessem acesso aos mais modernos métodos e serviço
sem todo o mundo. O cenário contemporâneo, co-
Figura 8: Compara�vo diacrônico das metodologias de construção de
marca defendidos por Rezende (1979) e Wheeler (2008).
8Linha do Tempo do Design Gráfico Brasileiro. Ed. Cosac Naify. Fonte: os autores
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ARTIGO

Do ponto de vista mercadológico, essa nova a consolidação dos mais importantes escritórios
oferta de serviço, com escopo ampliado, aumen- brasileiros de design gráfico da época, já que es-
tou o tempo de realização do trabalho e o número ta foi a atividade principal exercida pela geração
de profissionais especializados envolvidos. Por ser pioneira.
bem mais estratégica, tornou-se uma atividade Ao longo da trajetória do design no Brasil, a
mais valorizada pelo mercado, e tais fatores, con- identidade visual tornou-se uma das mais produ-
sequentemente, elevaram exponencialmente os tivas e tradicionais áreas de atuação para os pro-
honorários praticados, tornando-se um diferen- fissionais brasileiros. Com o passar das décadas,
cial competitivo do escritório, não somente por esse tipo de projeto expandiu seus horizontes a
sua visibilidade de mercado, mas também pela médias e pequenas empresas privadas, institui-
própria estabilidade do negócio. ções culturais e produtos de campos variados. E,
Na mesma época em que a nova prática come- nesse processo, a estrutura de trabalho e os méto-
çou a se instalar no ramo do design, as ferramen- dos de projeto sofreram mudanças decorrentes do
tas de tecnologia tornaram-se mais acessíveis a processo de globalização comunicacional e econô-
todos os profissionais do segmento: dos pequenos mica ocorrido nos anos 1990.
escritórios aos profissionais que atuavam como A maioria dos autores que dissertam sobre
freelancers e até estudantes. A tecnologia mais metodologia de construção de marca concorda,
acessível praticamente nivelou a infraestrutura de em essência, que esta é composta por etapas que
trabalho de todos os profissionais do mercado, e o se iniciam em um processo investigativo para co-
trabalho de branding passou a ser um importante nhecimento e análise da problemática, o desen-
fator de diferenciação, destacando a importância volvimento da solução em si e a sua implantação.
dos escritórios habilitados a oferecer a especiali- Wheeler (2008) evidencia um maior aprofunda-
dade em todo o contexto do mercado brasileiro de mento na etapa inicial do trabalho – definição de
design. posicionamento e estratégia da marca – e também
A partir da década de 2000, os principais es- na etapa final do processo de construção da mar-
critórios de design brasileiros especializados em ca, que é a gestão deste ativo, ou o branding pro-
construção de marca, firmaram a inclusão da es- priamente dito. Essa diferença endossa a noção
tratégia de branding em seus projetos. E alguns de que o branding é uma nova atividade que se
deles continuam evoluindo atualmente para am- insere na metodologia do trabalho de construção
pliarem sua oferta, integrando o branding e o de- de identidades de marca (e não mais identidades
sign estratégico à comunicação das marcas. São as visuais) desenvolvido pelos designers.
conhecidas agências de “Branding 360” ou agên- É incontestável afirmar que a inclusão do
cias “Full Service”. A designer Ana Couto – pio- branding nos escritórios de design – no mundo e
neira pelo trabalho de branding no Brasil – jus- no Brasil – ocasionou uma “evolução” no projeto
tificou à revista Meio & Mensagem, o movimento de marcas, dentro das finalidades que o mercado
de transformação da sua consultoria de branding demanda. Essa mudança ampliou a perspectiva
e design em uma agência Full Service: “ela espera da própria atividade de construção de marca e
entregar a seus clientes o que chama de terceira abriu oportunidades de negócios mais complexos
onda do branding. Marcas que, com propósito e financeiramente rentáveis para os designers. O
definido, têm relevância e conseguem contribuir designer brasileiro João de Souza Leite (2003)
efetivamente para a vida das pessoas, provocando declarou:
engajamento”.
Décadas atrás, a noção de design corporativo lida-
va com uma visão abrangente do negócio: envolvia
Considerações finais grandes sistemas, a racionalização de processos e a
As décadas de 1960 e 1970 foram vitais para garantia de unidade formal nas manifestações visu-
a criação e o amadurecimento do campo da iden- ais da empresa. [...] O designer assumia o papel de
um grande coordenador desses aspectos dos proble-
tidade visual no Brasil e, consequentemente, para
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ARTIGO

mas de design. Hoje, diferentemente, cabe ao desig- encontrar as soluções adequadas para marcas de
ner a interpretação de dados de outras naturezas,
bens, produtos e serviços. Um novo cenário que
cabe a ele integrar uma equipe em igual condição de
manifestação, lateralmente aos gestores de marke- reforça a contribuição que o design pode dar à
ting, aos gestores financeiros, entre tantos outros, e sociedade, ao conceber e administrar marcas que
saber relacionar as questões de design à gestão da possam gerar valor e melhorar o cotidiano dos in-
empresa, sob o ponto de vista da criação de signifi-
cados concretos e simbólicos, dos termos financeiro divíduos.
e de risco, da economia, da inserção da empresa no
mercado, etc. Saber analisar e influir num plano de
negócio passa a ser o novo patamar do design. Saber Referências
que existe uma dimensão financeira e de risco, por
envolver o comportamento das pessoas (Leite, 2003,
Associação Brasileira de Desenho Industrial. 1977
p.33). Panorama da identidade visual. Seminário Panora-
ma da Identidade Visual, ADBI/Masp, São Paulo.
Esta nova forma de atuação reposiciona o CAMEIRA, Sandra. Branding+Design: a estratégia
papel do designer no processo de construção e na construção de identidades de marca. São Paulo,
gestão da marca, conferindo a ele uma autoridade Senac São Paulo, 2016.
que vai além da autoridade de autor do projeto, e
o transforma em um possível parceiro de trabalho CAMEIRA, Sandra Ribeiro 2013. O branding e a
para os gestores de marketing. metodologia de sistemas de identidade visual. Dis-
Sobre esta interação entre o design e o bran- sertação (mestrado em Design e Arquitetura). Pro-
ding nas organizações, Gomes Filho (2008) defen- grama de Pós-graduação da Faculdade de Arqui-
de que “nessa visão estratégica do tema, designers tetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
e gestores, no contexto de branding necessitam 2013.
trabalhar de forma integrada, auxiliando o forta- LEON, Ethel. Memórias do Design Brasileiro. Edi-
lecimento da marca”, e classificou a participação tora Senac SP, São Paulo, 2009.
do campo do design em quatro estágios:
MELO, Chico Homem de / Ramos, Elaine (org). Li-
1. No primeiro estágio, a empresa não faz nenhum nha do Tempo do Design Gráfico Brasileiro. Cosac
uso de design e, nesse caso, a estética e a funciona- Naify, São Paulo, 2011.
lidade no desenvolvimento do produto ou serviço
cabe a outras áreas; NEUMEIER, Marty. The Brand Gap. Porto Alegre:
2. No segundo estágio, o design é identificado com Bookman, 2010.
estilo, sendo adotado na fase de acabamento ou na
inserção de detalhes gráficos no produto; OLINS, Wally. Corporate Identity: Making Bu-
3. No terceiro estágio, o design é visto como processo siness Strategy Visible through Design. Londres:
e inserido no método de trabalho integrado desde os
Thames & Hudson, 1989.
estágios iniciais do processo, juntamente com as ou-
tras áreas envolvidas, não sendo introduzido apenas POUPART, Jean. A Pesquisa Qualitativa – Enfo-
no estágio mais avançado do projeto;
4. No quarto estágio, o design é tratado como estra- ques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis,
tégia, por exemplo, ao ser usado como ferramenta de Editora Vozes, Coleção Sociologia, 2012.
apoio à inovação no ambiente de trabalho e consi-
derado como elemento-chave no processo de desen- SEMPRINI, Andrea. A marca pós-moderna: poder
volvimento de produtos e serviços da organização”. e fragilidade da marca na sociedade contemporâ-
(GOMES FILHO, 2008. Online). nea. Tradução de Elisabeth Leone. São Paulo: Es-
tação das Letras, 2006.
A problemática da identidade visual se am-
pliou em direção à da identidade corporativa e STOLARSKI, André. Alexandre Wollner e a forma-
posteriormente à da gestão da marca – ou bran- ção do design moderno no Brasil.1a reimpressão.
ding. Diante dessa nova realidade, caberá ao de- São Paulo, Cosac Naify, 2008 .
signer a responsabilidade de ser capaz de pensar STOLARSKI, André. A identidade visual toma cor-
e agir de forma estratégica e multidisciplinar, para po. In: Melo, Francisco Homem. O design gráfico
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brasileiro, anos 60. São Paulo: Cosac Naify, (2006). www.google.com.br (acesso em 29/6/2017)
WHEELER, Alina. Design de identidade de mar- www.lippincott.com (acesso em 29/6/2017)
ca: um guia completo para a criação, construção e
www.meioemensagem.com.br (acesso em
manutenção de marcas fortes. Porto Alegre: Book-
30/6/2017)
man, (2008).
www.wolffolins.com (acesso em 29/6/2017)
Artigo de Revista Científica:
BARROS, José D’ Assunção. Sobre a feitura da mi-
cro história. Revista OPSIS, vol. 7, nº 9, p. 167-185.
(2007).
GOMES FILHO, Antonio C; Silva, Luciano da;
Souza, Richard Perassi Luiz de. Marca, Símbolo
entre Design e Branding. Artigo publicado no V
CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Ad-
ministração (2008).
LEITE, João de Souza. Símbolos e Logotipos: os
valores que verdadeiramente importam. Revista
da ADG – Associação dos Designers Gráficos, nº
27, São Paulo. (2003).
REZENDE, Marco Antonio Amaral. Identidade vi-
sual: conceitos e práticas. Revista Marketing Pau-
lista, n. 65, (1979). 1Mestre em Design e Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Ur-
banismo da Universidade de São Paulo. Bacharel em Comunicação
Capítulo de Livro: Visual pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992). Desde
2002 atua como sócia titular do escritório ID Design Planejamento
CAMEIRA, Sandra Ribeiro. História e conceitos da e Projeto Gráfico. Possui experiência na área de Desenho Industrial,
identidade visual nas décadas de 1960 e 1970. In com ênfase em Design Gráfico. É docente no curso de publicidade e
propaganda no Centro Universitário Senac/SP e também no curso de
Braga, Marcos da Costa & Moreira, Ricardo Santos pós-graduação da Business School/São Paulo. Atua principalmente
(orgs.). Histórias do design no Brasil. São Paulo: nos seguintes campos: Identidade Visual e Comunicação Corpora-
tiva. É autora do livro Branding+Design: a estratégia na criação de
Annablume, (2012). identidades de marca.
Documento eletrônico: 2Possui graduação em Desenho Industrial pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1985), mestrado em Artes Visuais
BRAGA, Marcos da Costa. (2016) ABDI e APDINS- pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998) e doutora-
do em História pela Universidade Federal Fluminense (2005).
-RJ. 2ª edição. São Paulo: Blucher. (edição on line: Atualmente é professor do Departamento de História da Ar-
http://openaccess.blucher.com.br/article-details/ quitetura e Estética do Projeto - AUH da FAUUSP. É membro
do corpo editorial do periódico científico Estudos em Design e
introduo-19730) membro do Conselho Editorial da Revista Arcos da ESDI. Foi
coordenador do curso de Design da Unicarioca e da Faculdade
Tese: de Desenho Industrial Silva e Sousa. É autor de vários artigos
sobre história do design no Brasil e do livro ABDI e APDINS
LONGO JUNIOR, Celso Carlos. Design Total: Cau- RJ: História das Associações Pioneiras de Design do Brasil,
duro Martino,1967-1977. Dissertação (mestrado publicado pela editora Blucher, que obteve o 2o lugar na cate-
goria Trabalhos Escritos Publicados no 25º Prêmio Design do
em Design e Arquitetura). Programa de Pós-gra- Museu da Casa Brasileira. É um dos coordenadores da coleção
duação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de livros “Pensando o Design” publicada pela mesma editora.
Organizou o livro O Papel Social do Design Gráfico publica-
da Universidade de São Paulo, (2007).
do pela Editora SENAC-SP. Tem experiência em Desenho de
Produto e Programação Visual, atuando principalmente nos
Web site seguintes temas: desenho industrial, ensino, programação
visual, comunicação visual e história do design no Brasil. É
www.blucher.com.br (acesso em 30/6/2017) membro do grupo de pesquisa “História, Teoria e Linguagens
do Design” e do Laboratório de Fundamentos da arquitetura
http://convibra.org (acesso em 02/7/2017) e do urbanismo- LABFAU, ambos da FAU USP.
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ENTREVISTA

Entrevista concedida
pelo designer
Francisco Providência
ao designer
Álvaro Sousa
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ENTREVISTA

O que fazem os designers quando de- Mas a influência, sendo uma forma de
senham marcas? Constroem identidades domínio do outro, não pode ser conside-
ou atribuem identificações? rada como uma manifestação de tirania?
Na identidade (contrariamente à identifica- “Influenciar” quer dizer, pela origem etimo-
ção), não há uma atribuição de referentes, mas lógica, dirigir o outro para a sua própria condi-
a sua interpretação preexistente. A identificação ção de ser (fluir para dentro), contribuindo para
visual deverá, pois, adotar os sinais da identida- a sua autorrealização e não tanto para uma con-
de, influenciados pelo lugar. Nos estereótipos taminação que lhe seja externa. De certo modo
herdados (e para além do bem e do mal), há um haverá na influência algo de semelhante ao plá-
sentido histórico, uma imanência que constituirá gio. A semelhança entre duas peças de autores
a sua diferença. A diferença dos lugares é o seu diferentes poderá não caracterizar um crime de
domínio de ser, contributo e oportunidade à va- contrafação, mas a imitação resultante de um
lorização do outro. Será por isso que cada lugar sentimento de pertença; isto é, poderá não ma-
é tão importante. nifestar o roubo da forma alheia para benefício
próprio, mas o desejo de perfeita identificação
Mas a repetição dos estereótipos ins- com ela e nisso uma manifestação de identidade,
talados nos lugares não condiciona o pro- ou de homenagem (juramento de fidelidade).
gresso da comunidade? Não inibe a possi-
bilidade crítica do novo? Mas o que é a identidade? a identidade
Toda a cultura se reporta a um território, não se funda em conceitos e imagens... en-
produzindo um sentimento de pertença a um fim em signos, reconhecidos no interior
certo lugar; mesmo quando se trata de comuni- de uma determinada comunidade?
dades nómadas (o lugar de realização não tem Sabemos que a identidade não é senão um
que ser físico, pode ser linguístico, religioso ou repetir-se a si próprio de um conjunto de pro-
imaginário). O território é uma apropriação do posições (verdadeiras ou falsas), ou estereótipos
espaço pela identidade herdada ou imaginada. que suportam a consciência da diferença (por al-
teridade).
Então a identidade é apenas uma fic- Não se trata de uma atribuição sobre a exis-
ção? Um lugar imaginado? tência, mas da revelação da própria existência,
Os lugares de identidade, são lugares de assim se devendo considerar interpretação da
construção contínua (de ideias), de transforma- imanência onde parecia haver atribuição de re-
ção, a partir da memória (ou de reconstrução da presentação.
própria memória). Como advertia Rentes de Car- A construção da identidade territorial não é
valho, opondo-se ao “cosmopolitismo” (que é a um processo de atribuição de símbolos, mas, pe-
qualidade de quem não pertence a lugar algum) lo contrário, a interpretação da própria revelação
ele, enquanto emigrante, tinha um lugar para do lugar. Por isso o designer, enquanto novo rei-
regressar, uma terra de origem, uma casa a que -de-armas (o rei-de-armas era o técnico que
voltar. Não queria ser cosmopolita (como insistia cuidava da atribuição simbólica dos brasões à
a jornalista que o entrevistava). aristocracia, durante a monarquia), será a quem
cabe desenhar a identificação do lugar, mas co-
Mas o que é então a identidade dos lu- mo ele, não atribuindo uma identidade ao lugar,
gares? mas interpretando a identidade de cada lugar.
A identidade dos lugares é uma construção
coletiva diacrónica, estratificada em estereótipos Como relacionar o design (nomeada-
que implicam aspetos éticos e estéticos da terri- mente de identidades) com a investigação
torialidade. Digamos que são domínios de influ- científica? Trata-se de investigação? De
ência. produção de conhecimento novo?
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
ENTREVISTA

A justificação para a integração do ensino e Notas biográficas


investigação em design na instituição universi- Francisco Providência1 (1961-), Designer
tária, decorrerá da perceção das suas manifes- de Comunicação pela FBAUP, lecionou Design e
tações como atos de inovação (criação de novos Desenho na FBAUP e FAUP (1985-1997) e cola-
domínios de conhecimento). Se são reconhecida- bora com a Universidade de Aveiro desde 1997,
mente inovadoras quando integram novas tec- onde contribuiu para a estruturação da formação
nologias, também serão inovadoras sempre que em Design. Defendeu Doutoramento em Obra e
respondem a um novo programa ou construam dirige o Programa Doutoral em Design conjunto
artisticamente uma nova proposta de forma, ou das Universidades do Porto e Aveiro. Designer
um novo significado. em atelier próprio desde 1985, tem-se dedicado à
Refletindo sobre o que é, de onde vem ou co- transferência do Design nas empresas e à Museo-
mo se processa a inovação em Design, identifi- grafia, domínios transversais de interdisciplina-
co três processos criativos: radical, polinizado e ridade. Investigador cofundador da Unidade de
incremental. Se na criação radical é o ambiente Investigação em design, media e cultura (ID+).
de origem que determina a genuinidade da for- Cofundador da editora Sátira design (1996),
ma; na criação polinizada é o cruzamento entre consultor do Centro Português de Design (1998)
diferentes radicais que gera o novo por miscige- e de diversas organizações, releva o impacto do
nação; e na criação incremental é o próprio pro- design na economia. Representa Portugal no
grama, criticamente interpretado, que implicará Comité Assessor da Bienal Ibero Americana de
uma inovação evolutiva da forma. Design (BID) desde 2007, e pertence ao board e
conselho consultivo da Porto International De-
Estamos cada vez mais saturados de sign Biennale 2017.
ícones, bombardeados por marcas e de- É autor de marcas como Tróia Resort, SMP
pendentes dos fantasmas que nos perse- grupo Onyria, Portway handling Portugal, Uni-
guem. Não terá chegado o fim do tempo versidade de Aveiro, Universidade do Minho,
das marcas? Hotel DD, Peso da Régua e das marcas territo-
As marcas visuais traduzem formas de exis- riais da Comunidade Intermunicipal do Cávado,
tência, traduzem comportamentos, gerando Municípios de Stª Maria da Feira, São João da
expectativas junto daqueles que as recebem. Madeira, Aveiro, Ílhavo e Coimbra.
Esgotada a perceção retiniana abrem-se outros É consultor de design dos vinhos Niepoort,
sentidos à comunicação como possíveis canais de Quinta de Lemos, Grupo Celso de Lemos, colabo-
marca. O som apresenta um elevado potencial, ra com a Efanor, Fundação Belmiro de Azevedo e
mas também há experiências com o olfato ou a Larus design, mobiliário urbano.
perceção áptica do ambiente. Foi distinguido com os Prémios Nacionais de
Na inversão aos sistemas imersivos totali- Design (1999) e o prémio Red Dot Internacional
tários e, admitindo uma maior intimidade entre (2008).
recetor e emissor, julgo que a marca poderá vol-
tar a adquirir o seu papel primitivo, secreto, ma- Álvaro Sousa2 (1966-) Designer de Comu-
nifestando-se discretamente aos iniciados que a nicação formado pela ESAD, Matosinhos, é Dou-
reconhecem como valor de orientação e discer- torado em Design pela Universidade de Aveiro
nimento na selva, adotando-a como símbolo; (2011). Especializou-se, dentro da área do design
não são os designers que fazem os símbolos: são de comunicação, em branding, design estratégi-
os recetores que, adotando as marcas, lhes atri- co, cartazes e tipografia. Atualmente é vice-dire-
buem o papel de parte visível do desconhecido. tor do mestrado em Design e docente na Univer-
sidade de Aveiro, onde leciona desde 1998. Entre
Obrigado outros trabalhos destacam-se a implementação
da atual marca da UA, a marca da Câmara Muni-
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ENTREVISTA

cipal de Santa Maria da Feira e a marca do Teatro


Aveirense. Foi consultor sénior do Centro Portu-
guês de Design entre 2002 e 2012.
Em 2017 desenvolveu um projeto de pós-doc.
na UFRN, Brasil, subordinado ao tema Tipogra-
fia e marcas vernaculares do nordeste brasileiro:
levantamento e mapeamento para a valorização
do património gráfico do Rio Grande do Norte.
Desenvolve trabalho de investigação no ID+
Instituto de Investigação em Design, Media e
Cultura, sendo também colaborador no LEXUS
– Laboratório de pesquisa Ergodesign e Intera-
ção Humano-Computador, UFRN, Brasil, e no
INET-MD Instituto de Etnomusicologia – Cen-
tro de Estudos em Música e Dança, onde coorde-
na a identidade da Unidade.
Participou como investigador em vários pro-
jetos científicos multidisciplinares, tanto de âm-
bito nacional como internacional, dos quais se
destacam os projetos nacionais Cides.pt – Centro
de Interpretação do Design Português, Mensaja-
zz e Frederico de Freitas e a música na cultura
portuguesa do séc. XX; e internacionais (Eras-
mus +) SFC – Strategy for Change (com univer-
sidades da Escócia, Suécia, Irlanda e Holanda)
e SEASIN – Southeast Asian Social Innovation
Network (com universidades da Escócia, Espa- 1Francisco Providência – com formação inicial em Design de
nha, Malásia, Myanmar, Tailândia e Camboja). Comunicação, lecionou Design e Desenho na Faculdade de Arquite-
tura da Universidade do Porto, tendo ingressado no corpo docente
da Universidade de Aveiro, onde colaborou na estruturação da for-
mação em Design. Tendo defendido Doutoramento em Obra, dirige
o terceiro ciclo na Universidade de Aveiro. Com prática profissional
de projeto (em atelier próprio) desde 1985, tem-se dedicado à trans-
ferência do Design nas empresas e à Museografia, como domínio
síntese e transversal de interdisciplinaridade, hoje mais próximo de
uma função criativa dirigida à inovação social. É investigador cofun-
dador da Unidade de Investigação ID+ que, entendendo a poética
em design como um ethos localmente contaminado, considera a sua
manifestação necessária à diversidade cultural e condição para a saú-
de do sistema global.
2Alvaro Sousa- Doutor em Design (Departamento de Co-
municação e Arte da Universidade de Aveiro). Mestre em Arte
Multimédia (Faculdade de Belas-Artes da Universidade do
Porto / Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto).
Licenciatura em Design de Comunicação (ESAD – Escola Su-
perior de Artes e Design, Matosinhos).
Pós-graduação em Design de Produto Industrial – sector Têx-
til (Instituto para o Desenvolvimento Tecnológico do Instituto
Politécnico do Porto em colaboração com a ESAD – Escola
Superior de Artes e Design, Matosinhos). Licenciatura em
Ensino de Educação Visual (Escola Superior de Educação do
Porto, Instituto Politécnico do Porto). Vice-Diretor do Mes-
trado em Design da Universidade de Aveiro. Professor Auxi-
liar no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade
de Aveiro.
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BrandTrends Journal OUTUBRO/2017
NORMAS

NORMAS DE PUBLICAÇÃO
da Revista BRANDTRENDS
A revista digital BrandTrends aceita a submissão de traba- trabalhos. É do(s) autor(es) a inteira responsabilidade pelo
lhos como artigos, resenhas, entrevistas que sejam inéditos, conteúdo do material enviado, inclusive a revisão gramati-
isto é, que não tenham sido publicados em journals, revistas cal e adequação às normas de publicação. Os autores serão
científicas ou livros nacionais ou internacionais. sempre contactados após envio do resultado dos pareceres.

1. Os trabalhos devem ser enviados por e-mail, em três ar- 5. Com a publicação do trabalho, os direitos de autor são au-
quivos, com páginas numeradas, digitados em programa tomaticamente cedidos à revista BrandTrends. Os autores
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úsculas, seguido do nome. Esta informação deve ser seguida kreutz@hotmail.com.
da afiliação por extenso. Em arquivo à parte deve vir o nome
do(a) autor(a), o título do trabalho e o programa utilizado, 6. Os artigos deverão ter a seguinte estrutura:
bem como um título em português, espanhol ou francês (con- 6.1 Elementos pré-textuais:
forme língua usada no trabalho) e um em inglês, além do en- a. Título e subtítulo: na primeira linha, centralizados, em ne-
dereço completo, com telefone, e-mail do(s) autor(es), bem grito, fonte Times New Roman, corpo 12, somente primeira
como informação da área em que se insere o trabalho. Nos letra em maiúscula em ambos.
dois trabalhos sem identificação de autor, inclusive as auto- b. O nome do autor: duas linhas abaixo do título, alinhado
-referências ao longo do texto deverão ser substituídas por à direita.
“xxxx”. O original deve ser mantido em arquivo do destinador c. Resumo: três linhas abaixo do nome do autor. Colocar a pa-
para eventuais modificações propostas pelos pareceristas. lavra RESUMO em caixa alta, seguida de dois pontos. Redigir
o texto em parágrafo único, espaço simples, justificado, de no
2. Os trabalhos poderão ser escritos em português, espanhol, máximo sete linhas. O resumo deve, obrigatoriamente, con-
inglês ou francês. Os artigos deverão ter, no mínimo, quinze ter os seguintes elementos: área em que se insere o estudo,
páginas e, no máximo, vinte páginas, ou de 25 ou 30 mil to- objeto de estudo, objectivo do estudo, metodologia adotada,
ques, com espaços. Ocasionalmente pode ultrapassar o limi- síntese dos resultados. Fonte: Times New Roman, corpo 10,
te, desde que previamente aceito pela Comissão Editorial; as para todo o resumo.
resenhas (de livros com até dois anos de publicação) deverão As versões em português (RESUMO), em inglês (ABS-
ter entre três e cinco páginas, ou de 8 a 16 mil toques, com TRACT), em espanhol (RESUMEN) e em Francês (RÉSU-
espaço. MÉ) devem seguir imediatamente a versão na língua original,
obedecendo as normas da versão original.
3. Configuração de página: papel A4, com adentramento de d. Três palavras-chave (keywords, palabras-clave e mots-
parágrafo, espaço simples entre linhas, 6 pt depois de cada -clés), duas linhas abaixo do resumo. Colocar o termo “Pa-
parágrafo, margens esquerda e superior de 3,0 cm, direita e lavras-chave”, em caixa baixa, primeira letra em maiúscula
inferior de 2,0 cm. e o restante em caixa baixa, separada das demais por ponto
e vírgula. Fonte: Times New Roman, corpo 10. Lembramos
4. Cabe à Comissão Editorial sugerir ao(s) autor(es) modi- que as palavras-chave são de extrema importância no pro-
ficações de estrutura ou de conteúdo, bem como rejeitar os cesso de indexação do artigo em bases de dados nacionais e
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NORMAS

internacionais. Portanto, a escolha adequada é fundamental. ginal e, além disso, deve-se enviar em arquivo separado as
imagens no formato jpg ou gif, com alta definição (200 dpi).
6.2 Elementos textuais: Caso os arquivos ultrapassem o limite de tamanho permitido
a. Fonte: Times New Roman, corpo 12, alinhamento justifica- pelo seu provedor de email, os mesmos podem ser enviados
do ao longo de todo o texto. por www.sendspace.com ou o aplicativo de download online
b. Espaçamento: simples entre linhas, 6 pt após cada pará- que preferir. No artigo, as referências devem ser organizadas
grafos, duplo entre partes do texto (tabelas, ilustrações, cita- alfabeticamente.
ções em destaque, etc.); parágrafos com adentramento.
c. Citações: no corpo do texto, serão de até três linhas, entre EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS
aspas duplas. Fonte: Times New Roman, corpo 12. Maiores Livro:
do que três linhas seguem em destaque, na seguinte forma- ATKIN, Douglas. O Culto das Marcas. Lisboa: Tinta-Da-China,
tação: fonte Times New Roman corpo 10, em espaço simples, 2008.
com recuo de 2,5 cm à direita e à esquerda para toda a cita- CHEVALIER, Michel, MAZZALOVO, Gérald. Pró Logo – Marcas
ção e 6 pt depois de cada parágrafo. As referências deverão como fator de progresso. São Paulo: Panda Books, 2007.
ser indicadas entre parênteses, como no exemplo: (SOARES, SIM-SIM, Inês et al. A língua materna na Educação Básica:
2006, p. 1-3). Competências Nucleares e Níveis de Desempenho. Lisboa: Mi-
d. Notas de rodapé: devem ser colocadas na mesma página, nistério da Educação - Departamento da Educação Básica, 1997.
fonte Times New Roman, corpo 10. Alinhamento justificado, HALLIDAY, M. A. K. and MARTIN, J. R. (eds.). Readings in Sys-
sem espaçamento entre notas, espaço simples dentro da nota. temic Linguistics. London: Batsford Academic, 1981.
e. Títulos e subtítulos das secções: em numeração árabe, sem
recuo de parágrafo, em negrito, com maiúscula somente para Capítulo de livro:
a primeira palavra da seção. Usar o sistema “número segui- ATKINSON, P. and HAMMERSLEY, M. Etnography and parti-
do de ponto final”. Exemplo: 1.1. A construção dos sentidos. cipant observation. In NORMAN K. DENZIN and YVONNA S.
Não numerar Introdução, Conclusão, Referências e elemen- LINCOLN (eds.). Handbook of Qualitative Research. Thousand
tos pós-textuais. Oak, CA: Sage, 1994, pp.248-261.
f. Elementos ilustrativos: tabelas, figuras, fotos. devem ser in-
seridas no texto, logo após serem citadas, contendo a devida Artigo de revista científica:
explicação na parte inferior da mesma, numeradas sequen- Rethinking rationality: locating thinking in gender. Revista Ve-
cialmente. redas, Juiz de Fora, v. 10, n.1 e n.2, p. 123-128, jan./dez. 2006.

6.3 Elementos pós-textuais: Teses:


a. Referências: seguir normas atuais da ABNT, espaçamento YOUNG, Lynne Weiss. Language as Behaviour, Language as
simples, alinhamento justificado, sem espaçamento entre as Code: A Study of Academic English. Catholic University of Leu-
referências (vide exemplos a seguir). ven Ph.D. thesis, 1987.
b. Observação: ensaios, traduções e resenhas seguirão, na
medida do possível, as normas dos artigos. Documentos electrônicos:
BELLATO, M.A.; FONTANA, D.C. El nino e a agricultura da
6.4 Imagens região Sul do Brasil. Disponível em:<http://www.mac.usp.br/
Deve-se manter as imagens em baixa resolução no texto ori- nino2.> Acesso em: 6 Abril 2001.
ginal e, além disso, enviar um arquivo separado com as ima-
gens em alta resolução. CD-ROM:
As imagens devem ser enviadas separadamente, no formato KOOGAN, A.; HOUASSIS, A (ed.) Enciclopédia e dicionário di-
jpg ou gif, com o tamanho de 200 dpi. Caso os arquivos ultra- gital 98. Direção geral de André Koogan Breikman. São Paulo:
passem o limite de tamanho permitido pelo seu provedor de Delta: Estadão, 1998. 5 CD-ROM. Produzida por Videolar Mul-
email, os mesmos podem ser enviados por www.sendspace. timídia.
com ou o aplicativo de download online que preferir.
Deve-se manter as imagens em baixa resolução no texto ori-
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