Você está na página 1de 3

Joaquim Durão

Mestre Internacional de Xadrez


PORTUGAL

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA EQUIPA MASCULINA DE


XADREZ À OLIMPÍADA DE DRESDEN – 2008

A participação da nossa equipa masculina decorreu com a melhor


harmonia e camaradagem. Jogadores e capitão sempre tiveram o melhor
entendimento, sem defeitos passíveis de uma influência menos produtiva no
desempenho.

A constituição da equipa, encontro a encontro, era por regra combinada


conjuntamente à noite, depois do jantar, mas com a condicionante de ter em
atenção algum imprevisto (má disposição, doença) até à entrega da formação a
apresentar – o que ocorria na manhã do próprio encontro. À noite já se sabia a
equipa a defrontar e os jogadores poderiam conjecturar acerca dos adversários,
mas obviamente, sem certeza absoluta.

Somente quanto à última jornada surgiu um problema, que se sanou


facilmente: Galego e Dâmaso pediam para não jogar – o primeiro porque não
se sentia bem; o segundo porque (pareceu-me, o que é subjectivo) porque se
encontrava “em baixo”, algo cansado e com alguns resultados adversos. Galego
efectivamente, foi medicado por sofrer de desarranjos intestinais, dias antes.
Só neste momento é que me parecia que tinha de tomar uma decisão de
autoridade, passível de não agradar a uma das partes. Mas felizmente, tudo se
resolveu bem, disse a ambos (que como se sabe são bastante amigos e até
compartiam o mesmo quarto) – «Vocês ponham-se de acordo e até
determinada hora (que fixei), telefonem-me a dizer quem joga». Chamei a
atenção para o facto de Galego não andar a sentir-se bem, mas que tivera dois
dias sem jogar (um de folga e outro de descanso geral da competição), pelo
que se não fosse por uma razão forte, seria ele a jogar. Mas entendam-se e
digam-me. E ambos acabaram por decidir, sem quebra da harmonia exemplar
que sempre reinou em equipa. O telefonema chegou muito a tempo e jogou o
Dâmaso.

***

Os resultados da equipa, globalmente, foram muito bons, excedendo a


“esperança técnica”: por média de “Elo” Portugal era a 61ª e concluiu na 55ª
posição, com 6 vitórias, 5 derrotas, 0 empates, tendo os resultados sido
contados por “match-point” e não individualmente.

Nações teórico/tecnicamente superiores, à frente das quais nos


classificámos: Macedónia, Austrália, Islândia, Argentina e México;

Nações teórico/tecnicamente inferiores que nos ultrapassaram: nenhuma.

1
Joaquim Durão
Mestre Internacional de Xadrez
PORTUGAL

***

Extra-tabuleiro há no âmbito da comitiva, infelizmente, factos a lamentar.

1. Logo no dia da chegada, durante o jantar, que decorreu em diversas


mesas de 3/4 lugares próximas, começaram a conversar, com compostura, do
propalado caso da ausência do António Fernandes, na selecção. Na mesa
contígua estava a Sra. Maria Armanda Côdea Plácido, que assim que se
apercebeu do que se discutia, se levantou e dirigiu aos interlocutores, com ar
autoritário e rebarbativo, de dedo em riste: «Como chefe desta comitiva não
autorizo que se fale desse assunto» – o que deixou estupefactos os
circunstantes, que não se eximiram a comentários diversos, sendo o mais
expressivo, do jogador/a X, do género «Era melhor que aqui houvesse censura!,
eu falo do que quiser e me apetecer e ninguém tem nada com isso!»; de outra
fonte: «Ela tem é medo que se comece a falar dela na selecção», do jogador/a
Y. E houve outros, com fins idênticos e de revolta.

2. No dia seguinte, de manhã, havia a importante reunião dos capitães


de equipa com a equipa técnico-desportiva da organização, em que se
esclarecem normas a observar durante as partidas, mas também se procede a
correcções sobre a composição e ordem das equipas. É habitual.

Sem havermos ainda saído do hotel, desconhecendo completamente a


cidade e a situação da Rathaus (Câmara Municipal), se longe, se perto, como é
que se ia para lá, etc.

Já estávamos para sair quando a Sra. Maria Armanda, nos disse que
tinha que ir ao quarto buscar um casaco e demoraria uns 4 minutos. Passou-se
mais de um quarto de hora e uma vez que já estávamos bastante atrasados,
decidi partir, juntamente com a minha mulher que frequentemente me tem
acompanhado em Olimpíadas e outras competições, bem como com o
presidente da Federação da Guatemala que pedira para nos acompanhar, pois
também não sabia nada da cidade. Salvou-me de chegar atrasado um
particular em viatura, a quem perguntei onde era a Rathaus e se ofereceu para
lá nos levar. Chegámos com ligeiro atraso, mas a tempo de assistirmos a toda
a reunião, com sala repleta. Sentámo-nos numas cadeiras à frente e uns 25
minutos mais tarde chega a Sra. Maria Armanda, aproxima-se e diz-me
agrestemente: «Obrigada por ter esperado, como vêem cheguei a horas, só
não apanhei foi a 1ª fila… » e afastou-se. Nem deu tempo a que falasse, mas o
GM espanhol Juan Bellón, capitão da equipa sueca, que estava atrás de nós
soltou o comentário: «Quién es esta señora?, hay que tener cara!» que em
português exacto significa «… há que ter “lata”!».

Algo mais tarde, já no átrio do hotel, estava a Sra. Maria Armanda com
as quatro jogadoras e ocorreu uma cena, que não presenciei, mas que
confirmei depois ser exacta. As jogadoras corroboraram o que a minha mulher
me contou – o que, diga-se de passagem, me bastava para confiar na
veracidade. A minha mulher quis explicar à Sra. Maria Armanda o desencontro
e recebeu como resposta: «Você aqui não é ninguém, vá à merda!» e quer que
lhe diga em inglês: “fuck you!”». Esta situação da representante da Federação

2
Joaquim Durão
Mestre Internacional de Xadrez
PORTUGAL

foi presenciada pelas quatro nossas jovens jogadoras, uma das quais anda
pelos 18 anos.

Ao tomar conhecimento deste lindo exemplo de civilidade da Chefe da


Comitiva, representante da Federação e por inerência do nosso próprio País,
cortei imediatamente relações com essa senhora.

Outro facto que poderia acarretar graves consequências para a equipa


portuguesa – nem sei o que ocorreria, conhecedor como sou das severas
represálias que os alemães aplicam às faltas de civilidade – ocorreu no dia em
que o jogador Z não jogou e cedeu o seu cartão identificador ao Sr. Rex Blalock
(que como se sabe acompanhava a Sra. Maria Armanda) não só para entrar
sem passar pela bilheteira, mas que também se deu ao descaro de circular na
área restrita fechada de jogo – donde os jogadores que acabavam as partidas
até deviam sair, sendo permitida a entrada livre somente aos directores de
competição, árbitros, capitães de equipa, jogadores ainda em acção e
detentores de cartão VIP.

À noite censurei o jogador Z em causa, expliquei-lhe as razões, e alertei


o resto da equipa para evitarem faltas desse género e suas imprevisíveis
consequências.

Desportivamente considerando, portanto, a representação foi positiva e


coroada com uma norma de MI para Ruben Pereira.

O Chefe da Equipa Masculina,

Joaquim Durão

1 de Dezembro de 2008

Em tempo: O Presidente da União Europeia de Xadrez, Boris Kutin,


perguntou-me se Portugal poderia organizar determinado
torneio de jovens. Remeti-o para [a Chefe da Federação].

Você também pode gostar