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SUMÁRIO
Capitulo I pp.1-4

Capitulo II VIAGEM DE HANOVER A HAMBURGO pp.4-6

Capitulo III pp.6-7

Capitulo IV CHEGADA A BORDO DO NAVIO “WILHELMINE” pp.7-9

Capitulo V pp.9-10

Capitulo VI O CORPO DE OFFICIAES E OS SOLDADOS pp.10-3

Capitulo VII SCHÄFFER, ORADOR E LEGISLADOR pp.13-4

Capitulo VIII ANTEGOSO DA VIDA MARITIMA pp.14-6

Capitulo IX VIAGEM DE MAR pp.16-9

Capitulo X CHEGADA AO RIO DE JANEIRO pp.19-20

Capitulo XI O CASAL DOS IMPERANTES BRASILEIROS pp.20-2

Capitulo XII O CORPO ALLEMÃO NO BRASIL pp.22-8

Capitulo XIII EWALD COMMANDANTE DO BATALHÃO pp.28-9

Capitulo XIV A FORTALEZA DA PRAIA VERMELHA pp.29-34

Capitulo XV O JURAMENTO DE BANDEIRA pp.34-5

Capitulo XVI O ANNIVERSARIO DE DOM PEDRO pp.35-8

Capitulo XVII S. CHRISTOVAM pp.38-41

Capitulo XVIII VOLTA AO BATALHÃO pp.41-3

Capitulo XIX O ASSALTO CONTRA O POSTO DA CARIOCA pp.43-5

Capitulo XX GUILHERME COTTER COMMANDANTE DO BATALHÃO pp.45-7

Capitulo XI FESTAS DE EGREJA E PROCISSÕES pp.47-9

Capitulo XXII A PRISÃO pp.49-51

Capitulo XXIII pp.51-4

Capitulo XXIV MORTE DA PRIMEIRA IMPERATRIZ DO BRASIL CAROLINA

LEOPOLDINA, ARCHIDUQUEZA DA AUSTRIA pp.54-6

Capitulo XXV OS IRLANDESES pp.56-8

Capitulo XXVI A REVOLTA pp.58-76

Capitulo XXVI O BOM PASTOR pp.76-8

Capitulo XXVII A EXECUÇÃO pp.78-81

Capitulo XXVIII EFFEITOS SALUTARES DA REVOLTA pp.81-2

Capitulo XXIX A DESPEDIDA pp.82-3

Capitulo XXX ACONTECIMENTOS POLITICOS.

ABDICAÇÃO DE D. PEDRO I IMPERADOR DO BRASIL pp.83-105

O RIO DE JANEIRO pp.107-25

DESTINO FINAL DOS MILITARES ALLEMÃES pp.127-33

1 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
OBSERVAÇÕES e CITAÇÕES DO TEXTO ORIGINAL –

-------------- Prefá. --------------

Engajado para o exército brasileiro em 1824 – narrativa abrange o período de 1825 a 1829, e não a 1834, como se interfere do título.

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Quadros Alternados de: VIAGENS TERRESTRES E MARITIMAS, AVENTURAS ACONTECIMENTOS POLITICOS, DESCRIPÇÃO DE USOS E
COSTUMES DE POVOS DURANTE UMA VIAGEM AO BRASIL E UMA PERMANENCIA DE DEZ ANNOS NESTE PAIZ DOS ANNOS DE 1825 A
1834 CONTENDO EGUALMENTE INFORMAÇÕES SOBRE A SORTE DOS ALLEMÃES PARA ALLI EMIGRADOS, POR EDUARDO THEODORO
BÖSCHE.

Hamburgo, 1836. – Hoffmann e Lampe, editores.

-------------- Cap. I --------------

Brasil independente / necessidade de homens para cultivar a terra / Alemanha e Suíça como deposito de soldados para o mundo / agentes
responsáveis pelo aliciamento alterando a verdade e fornecendo as informações mais exageradamente – G. A. Schäffer / homens na
Alemanha a emigrar / condições sociais favorecem a emigração / eldorado americano / “bravura ociosa á disposição do Governo brasileiro”.

-------------- Cap. II --------------

Com 17 anos em dezembro de 1824 partiu para Hamburgo, acompanhado de um amigo, para imigrar ao Brasil. Carta do Brasil escrita por
outro alemão informando as péssimas condições de vida no lugar.

-------------- Cap. III --------------

Encontro com Schäffer em Hamburgo para tratar da viagem. Soldo no exército brasileiro era duas vezes superior ao do inglês. Ele e colega
de viagem foram alistados como cadetes de cavalaria. Serviço de três anos.

-------------- Cap. IV --------------

Na embarcação com mais 100 homens. “corja, cujo trapos não escondiam sufficientemente a nudez, dente de modos grosseiros e de uma
brutalidade animal” (7). “O conhecimento de tal corja me estava reservado. Era composta de criminosos (...) que Schäffer escolhera para
cidadãos de sua nova pátria (...) é impossível descrever o sentimento que de mim se apossou, quando me encontrei no meio de taes
bandos” (8).

-------------- Cap. V --------------

Cotidiano na embarcação. Navio Wilhelmine.

-------------- Cap. VI --------------

Oficiais na embarcação. Destaca-se o “major e cavalleiro Von Ewald, commandante” (10). Descrição analítica dos oficiais superiores. “o
restante compunham-se dos elementos mais heterogêneos da população alleman. Eram cerca de cincoenta famílias de colonos, na maior
parte do Hesse-Darmstadt, seiscentos e cincoenta soldados e cento e sessenta criminosos de Mecklemburgo” (13).

-------------- Cap. VII --------------

Presença de Schäffer na viagem. Seus discursos sobre “mentiras e de invencionices, de dom Pedro, que elle cognominava o Grande, do
Brasil, terra da liberdade e da felicidade, onde o leite e o mel corriam em abundancia, das minas de ouro e de diamantes..” (14).

2 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
-------------- Cap. VIII --------------

Preparação para viagem marítima. “O inverno durante o anno de 1825 não foi propriamente rigoroso, Houve navegação pelo Elba durante
todo o mez de Fevereiro. Foram todavia freqüentes as tempestades de chuva e de neve..” (15).

-------------- Cap. IX --------------

Viagem marítima. “em começo de Fevereiro, suspendeu-se ancora (...) O tempo ruim que tinhamos tido acompanhou-se no mar
hespanhol, onde a tempestade durou oito dias (...) Exerce uma influencia deprimente sobre o moral assistir a uma tormenta perigosa em
companhia de muitos homens, e sobretudo de mulheres. As lamentações e gritos da maior parte, que enxergam perigos reaes ou
imaginários, provocam um profundo abatimento de espírito” (16). Festa chamada Neptuno na ilha da Madeira. Comportamento dos outros
passageiros, levando “excessos”. Festa acabou em “grossa pancadaria, como soe acontecer em quase todas as festas populares allemans”
(17). Relato sobre os excessos no navio Germania, onde “houve (...) um verdadeiro assassinato comettido pelas auctoridades de bordo, as
quaes fuzilaram oito pessoas, tendo sómente condemnado á morte sete innocentes” (18).

-------------- Cap. X --------------

Rio de Janeiro. “14 de abril de 1825 desenharam-se ao longe os contornos das costas brasileiras (...) no dia 22 de Abril antes de levantar do
sol entramos no porto do Rio de Janeiro (...) A´direita, ao longo do mar, em frente ao Rio, estende-se a pequena cidade de Praia Grande,
com suas pitorescas casas (19) Ancorámos ás oito horas da manhã, em frente ao Arsenal marítimo, perto da Ilha das Cobras (...) Foram
immediatamente assediados de perguntas por cem curiosos, que indagavam acerca da vida no Brasil. Estas perguntas podiam ser
dispensadas: o seu aspecto doentio e miseravel, os seus olhares sombrios e vacillantes diziam a tristeza e o desespero e provavam de modo
cabal que a sua sorte não era invejável” (20).

-------------- Cap. XI --------------

Monsenhor Miranda. “Era considerado por todos como o amigo e o protector dos emigrados allmeães. Verificou-se mais tarde que á sua
conducta dectavam moveis inconfessaveis, e que aduladores indignos lhe haviam dado uma aureola, que não merecia absolutamente (...)
Dom Pedro e sua esposa (...) vieram logo a bordo” (20). “O estado sanitario do navio fôra dos melhores durante a viagem; a alimentação
abundante e boa. Tinham pois todos os homens uma apparencia de saúde e fôrça. Poucos somente haviam morrido durante a travessia.
Duas crianças nasceram no mar e não podiam pois pretender a nenhuma pátria” (21).

-------------- Cap. XII --------------

Cotidiano no batalhão – Escolha dos soldados e dos colonos, os primeiro foram enviados ao mosteiro dos Beneditinos – quartel do
segundo Batalhão de granadeiros alemães – enquanto que os segundo forma para a Armação, esperar o envio para a colônia de S. Leopoldo
(22-23). “Existiam para os estrangeiros, em geral, unicamente duas armas em que podiam colher louros, granadeiros e caçadores (...) e não
obstante ao meus solennes protestos, feitos em francez junto a monsenhor Miranda e perante o Ministro da Guerra e nos quaes reclamava
com toda energia contra estas violências, fui incorporado como cabo entre os granadeiros” (23). Indisciplina e falta de hierarquia nas tropas,
“Bebiam soldados e officiaes na mesma garrafa” (23). “Quando um soldado raso espancava um official e o obrigava a uma retirada
vergonhosa, esta sabia logo encontrar occasião para vingar-se daquelle; infligia-se, a propósito de uma falta qualquer, verdadeira ou
inventada, o bárbaro castigo de cem vergastadas (...) Existia então um systema de revoltantes castigos corporaes, de cuja atrocidade é difficil
formar Idea. Sem abrir inquérito somente com a denuncia odienta de um superior, o infeliz soldado era sujeito pelos seus algozes ao castigo
bárbaro de cem vergastadas, ao qual muitas vezes succumbia. Muitos de boas famílias, que tinham sentimentos de honra, depois de tratos
tão deshumanos, desciam de degrau em degrau, entregando-se ao uso de bebidas alcoólicas, apresando assim o seu fim. Outros suicidavam-
se” (24). § “(...) Outra coisa não se podia naturalmente espera de um corpo, cujos officiaes provinham da ralé euorpéa com poucas
excepções, de alguns barões dissolutos, de vagabundos, e jogadores (...) Um Saboiano, actualmente coronel, era o digno chefe deste
batalhão (...) Era um tyrano para com os seus soldados; em compensação adulava vilmente os seus superiores. Era, alias, geralmente
considerado um louco (...) quando fallava, palavras de todas as línguas da Europa, sendo difficil comprehender o sentido do seu discurso”
(24). “Os soldados e officiaes juntamente faziam então verdadeiras orgias e bacchanaes, seguidas de excessos que muitos pagavam com a
vida. A´noite começava a vida barulhenta destas hordas selvagens”. Haviam outros separados que “viam-se bons indivíduos (...) de que a
sorte no berço não os tinha destinado á posição miserável de soldados brasileiros” (25). § Relato de uma ocasião em que um padre se

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encontrou com um grupo de alemães alcoolizados: “O bando cercou-o, porém, e o pasre angustiado presenciou scenas e espetáculos
deploraveis. A vergonha todavia arranca a penna ao auctor, impedindo-o de completar a descripção destes quadros” (26). § “Tornaria esta
situação ainda peor o modo miserável da vida dos soldados” (27). Descrição da péssima alimentação dos soldados. “O soldo era miserável,
sobretudo numa cidade onde tudo custa um preço disparado” (28).

-------------- Cap. XIII --------------

Formação do 27º batalhão de caçadores do 3º de granadeiros com a tripulação dos navios Ikranich, Triton, Cardine e Wilhelmine. “Sendo
nomeado commandante do ultimo o senhor Von Ewald, que servia no exército brasileiro como major. Fora anteriormente capitão de
cavallaria honorário ao serviço da Dinamarca e era cavalleiro da ordem do Danebrog. Em Maio os soldados destinados a este batalhão foram
embarcados para a fortaleza da Praia Vermelha, á uma hora do Rio de Janeiro e na entrada do porto. (...) preferia servir num corpo
brasileiro, ou em outro qualquer, a estar sob as ordens de um commandante tão fraco e tão inepto como o chefe do terceiro batalhão de
granadeiros. (...) Um chefe brasileiro é um verdadeiro déspota com o seu batalhão, podendo ser um verdadeiro tyranno, sem receio de ser
chamado á responsabilidade (28-29). Pode mandar os officiaes presos para a fortaleza sem conselho de guerra, e lá deixa-los penar durante
mezes (...) Os commandante brasileiros contudo fazem raramente uso destes poderes (...) [pois] sabem que estes no silencio da noite
vingarão a punhaladas as affrontas recebidas. (...) O senhor Ewald conhecia porem a índole paciente dos seus patrícios do Norte (...) abusou
pois destes poderes durante certo espaço de tempo de sua carreira militar no Brasil. O systema de castigos corporaes já profundamente
enraizado desenvolveu-se de tal modo sob seu commando, que impunha até respeito ao seu collega saboiano, o qual adquiria certa
notoriedade sob este ponto de vista. (....) O terceiro batalhão foi todavia o mais triste e miserável durante todo o tempo que elle o
commandou” (29).

-------------- Cap. XIV --------------

Cotidiano na Fortaleza da Praia Vermelha. “A vida no Rio de Janeiro já era bastante triste para o soldado; aqui porém quase insupportavel.
Tudo se reunia aqui para augmentar as misérias da vida dos soldados. (...) mosquitos (...) bichos de pé (...) escorpiões e escolopendras, as
doenças, a fome, os tratos deshumanos dos chefes (...) Muitos suicidavam-se (...) O mau estado do telhado não os abrigava da chuva e dos
ventos tempestuosos, que penetravam no edifício por todos os lados, afastando qualquer idéia de repouso e produzindo entre os soldados
verdadeiros accessos de desespero (...) Assim seguiam-se os dias. Passei noites inteiras ao ar livre, deante da fortaleza, impellido pelo frio e
pelo desespero. § Numa desta noites terríveis jurei solenemente a mim mesmo preferir a morte a ter de sujeitar-me áquelles castigos
aviltantes (que ocorriam sem se saber como, nem porque)” (30). Pela manhan um padre brasileiro dizia a missa, e os batalhões allemães
compostos quasi exclusivamente de protestantes eram obrigados a tomar parte neta ceremonia do culto catholico. § Revoltava tal abuso (...)
Em loger de protestar contra taes violencias feitas á consciência, o commandante, com um servilismo abjecto, não se pejava de prestar
homenagem a um culto extranho. (...) Tinha ligação amorosa com certa marafona que era sustentada por alguns negociantes. Costumava
todas as tardes de domingo fazer desfilar o batalhão dentre das janellas da casa desta mulher, que morava na praia de Botafogo (...) Tornou-
se isto tão estranho, que mesmo os officiaes brasileiros não se continham e faziam-n´o alvo dos seus ditos picantes e irônicos” (31). § “F
pois evidente que a situação dos soldados era desesperadora. Lançavam mão de todos os meios para quebrar os grilhões da escravidão. §
Davão-se deserções de dez homens juntos. § Infelizmente, porém, ignoravam todos os costumes e a língua do paiz, sendo logo presos e
levados para o quartel, onde lhes inflingiam terríveis castigos corporaes (...) § A maior parte delles, porém, era morta em combate, depois
de uma resistência encarniçada, contra as milícias numericamente muito superiores, ou então a miséria, as doenças ou a fome davam logo
cabo delles nos desertos inhospitos do Brasil. Acrescia a todos estes males a circunstância dos soldados não saberem quanto tempo duraria
seu serviço..” (32). § Corpo alemão composto de quatro batalhões: O segundo batalhão de granadeiros, no quartel de São Bento (antigo
mosteiro próximo a Carioca); O terceiro batalhão de granadeiros, no quartel da Praia Vermelha; o vigésimo sétimo batalhão de caçadores,
também na Praia Vermelha; e o vigésimo oitavo de caçadores, que naquele momento encontrava-se em Pernambuco, chamado de “o
batalhão do diabo”. Visita de D. Pedro, observação sobre sua habilidade com as armas, e sua falta de “modos” ao fazer suas “necessidades”
em público, enquanto via o desfilar do batalhão (33). “cenas escandalosas, resultantes dos eu espírito inculto e grosseiro, e a repetir os
boatos indecentes, que corriam a seu respeito no Rio de Janeiro (34)”.

-------------- Cap. XV --------------

Cerimônia militar em homenagem ao Imperador. Juramento de bandeira do terceiro batalhão. “(...) prestavam os soldados contra a vontade
o seu juramento. (...) Eu prestei este juramento com a seguinte modificação: “Juro, na primeira occasião opportuna abandonar para sempre
a bandeira brasileira”. E´certo que a maior parte dos meus companheiros fez o mesmo murmúrio incomprehensivel (35)”.

4 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
-------------- Cap. XVI --------------

Dia 12 de outubro, aniversário do Imperador. Grande vergonha de Ewald no momento da entrada da bandeira no Campo de Santanna –
Campo d´Acclamação. (36-37) Descrição da parada em homenagem a D. Pedro (36-38).

-------------- Cap. XVII --------------

Bösche foi indicado por Lilienhock, capitão engenheiro militar, para ajudá-lo a levantar a planta de S. Christivam. “Sabendo _ que eu tinha
alguns conhecimentos de Mathematica, pediu ao imperador que eu o auxiliasse durante o tempo do seu trabalho, o que lhe foi concedido.
Recebi ordem então de seguir para __. Nunca houve ordem executada com tanta alegria. A vida miserável da Praia Vermelha tinha me feito
adoecer, não obstante a minha forte constituição, e estava eu começando a convalescer quando chegou a notícia. Passei seis felizes semanas
com aquele honrado sueco, livre do tormento daquela vida de escravo. Tinhamos, na verdade, pouco dinheiro, havendo somente na nossa
casinha, além de dous colchões velhos para dormir, uma mesa e duas cadeiras” (38-39). Descrição da noite e da natureza de modo
platônico. Observação sobre a Quinta da Boa Vista e proximidades – critica sobre a má arquitetura e qualidade das construções. “Tudo que a
Natureza criou é bonito e admirável; tudo que o homem fez não vale nada” (40). Cotidiano enquanto morou com Lilienhock.

-------------- Cap. XVIII --------------

Retorno ao Batalhão. Lilienhock foi nomeado capitão da artilharia, mas “não gosou entretanto por muito tempo desta pouca invejável
felicidade; pois veio a fallecer no anno seguinte”. “O mesmo espírito de descontentamento continuava a reinar entre elles, procurando os
homens o álcool o esquecimento da triste situação. Rareavam as fileiras, e si o batalhão não recebesse constantemente novos contingentes
de recrutas, vindos de Hamburgo, já estariam inteiramente desfalcados. Só se tornou completo mais tarde com a vinda dos irlandeses.” §
“em fina do anno de 1825 foi nosso batalhão transferido para a Guarda Velha, no Rio de Janeiro. Este edifício achava-se em frente do
convento de Santo Antonio, e sua apparencia miseravel não despertava absolutamente a vontade de nelle morar § (...) não existiam camas,
dormindo as praças no chão sobre uma miserável esteira. Os padres bem nutridos do convento vizinho, (41-42) que matavam porcos e bois
todos os dias e que para se destrahirem caçavam a tiros os ratos do jardim, eram o objecto contante da inveja dos soldados. (...) os soldados
se julgaram felizes por terem deixado a Praia Vermelha, pouco se importando com as péssimas installações (...) Fui logo depois nomeado
cabo, e tive um quarto para mim só; era inconstestavelmente esta a maior vantagem trazida pela minha nova dignidade. § Couberam aos
soldados porém dias melhores, e, como quase todos eram artífices, tinham frequentemente ocasião de ganhar dinheiro nas suas horas
vagas. Em nenhuma parte do mundo, talvez, se paga tanto ao operário como no Brasil. (...) O commandante passava todo o tempo com sua
amante, e muitas vezes não era visto durante toda semana. Os officiaes faziam o que entendiam, havendo constantemente excessos de toda
a espécie e desordens continuas. Era raro o dia em que não se dessem chicotadas, ou não manifestassem os seus sentimentos recíprocos
por meio de violento bombardeio de murros” (42).

-------------- Cap. XIX --------------

Rixas entre as tropas brasileiras e alemãs – assalto a guarda carioca. “os Brasileiros levavam sempre desvantagem. Sabiam, porém tirar a
desforra durante a escuridão da noite, e muitos dos nossos foram assim traiçoeiramente assassinados”. § Um domingo á tarde espalhou-se
repentinamente o boato no terceiro batalhão de granadeiros, de que dous allemães tinham sido mortos por soldados do décimo terceiro
batalhão de caçadores brasileiros. Estavam prostados banhados em sangue perto do posto do Carioca, o qual era guarnecido por forças do
supra-dicto batalhão. § Reuniram-se immediatamente alguns allemães com o fim de verificar, si o boato era verdadeiro. Este infelizmente
confirmou-se. Informou alguém que os soldados do posto Carioca tinham trucidado os dous allemães. § A vista dos corpos sangrentos,
então trazidos para o quartel, exaltou os ânimos, despertando a sede de vingança. § Estava o comandante como de costume, juncto da sua
Dulcinéa, e o official de dia, tenente Prahl embriagado. § Já bastante excitado, ainda o ficou mais depois da chegada dos cadáveres dos
allemães, resolvendo nessa occasião dar a primeira prova dos seus talentos de general. Ordenou que tocassem a reunir, acudindo sob as
armas rapidamente todos os soldados. § O tenente Prahl, á testa de um troço de voluntários, dirigiu-se ao posto da Carioca, começando o
ataque depois de um hurrah (43-44) terrível. Todo o posto, composto de 12 homens e de um official inferior, foi trucidado a golpes de
baionetas pelos allemães enfurecidos e sedentos de vingança. § Enquanto o tenente Prahl realizava esta façanha, o resto do batalhão
avançava commandado por subalternos (os officiaes estavam bebendo como de costume), resolvendo-se então tomar de assalto o quartel e
exterminar o décimo terceiro batalhão de caçadores. § Este projecto allucinado não se realizou, devido á intervenção de alguns officiaes
mais calmos. O tenente Prahl foi no mesmo dia enviado para a ilha das Cobras, como recompensa pelo seu feito d´armas, ordenando o
imperador, para dar um exemplo, que a guarnição se reunisse no Campo da Acclamação. § A justiça brasileira e a turca teem muito pontos

5 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
de contacto. Prova-o o seguinte facto. D. Pedro fez saber aos tres batalhões allemães reunidos que tencionava abrir um inquérito a propósito
do assalto contra o posto da Carioca, ordenando ao mesmo tempo que saíssem das fileiras aquelles que o haviam presenciado. § Alguns
nescios apresentaram-se, julgando que cumpriam o seu dever ou para das informações como testemunhas de vista sobre o modo por que
se desenrolara o acontecimento. § O inquérito limitou-se a isto; somente todos os que se apresentaram foram declarados culpados e
castigados com 100 pranchadas, as quaes foram immediatamente applicadas pelos tambores do décimo terceiro batalhão. § A dôr porem
não foi grande, a pancadaria foi mais sobre o uniforme, do que sobre o corpo. Quanto ao amor próprio humilhado podiam se consolar com
o seu commandante, o qual travou conhecimento nesta occasião com o chicote do imperador, conhecimento este pouco invejável e que o
príncipe a muitos já concedera. Foi um golpe de morte na vaidade do cavalleiro. Quando o nosso batalhão voltou para o quartel, em signal
de indignação espatifou as janellas das casas das ruas por onde passava. Apresentavam estas um aspecto verdadeiramente desolador” (44).

-------------- Cap. XX --------------

Batalhão e Cotter. “O batalhão entretanto caminhava sempre mais rapidamente para a ruína. (...) Applicava o dinheiro do batalhão em fins,
para os quaes não era destinado, sendo egualmente esbanjadas de modo inaudito, as quantias retiradas aos soldados sob a rubrica – Massa
–. Reclamava em vão as praças a sua propriedade, da qual tinham sido despojadas de modo indigno. (...) O boato da nomeação do coronel
Cotter (...) não podia deixar de provocar grande alegria (...)§ Vimos logo como a energia e a vontade de um commandante podiam melhorar
a miserável situação dos soldados (...) Desde este tempo melhorou o espírito e o moral do terceiro batalhão de granadeiros. O novo coronel
mostrou sua energia desde no começo, esforçando-se por corrigir os officiaes, cuja conducta era verdadeiramente indecorosa, enviando
alguns para a fortaleza e expulsando outros. (...) (45) A severidade inexorável e o zelo infatigável do novo comandante conseguiram
melhorar a ordem das cousas. § O systema de pancadas foi abolido, dominando a lei, em logar da arbitrariedade prepotente. Entregaram aos
soldados os uniformes, o que nunca tinham pensado fazer durante a administração de Ewald. Receberam os soldados regularmente o soldo,
cessando os innumeros vexames e aborrecimentos, que até então tinham soffrido. Existia, pelo contrario, todavia severa disciplina, sendo
toda a insubordinação ou falta no serviço punida com extrema severidade. Havia uma justiça severa sem distincção de pessoas. Foram logo
demittidos seis ou oito allemães capazes, os quaes, com grande escândalo dos batalhões allemães, vagavam pelas ruas do Rio de Janeiro
com os seus uniformes andrajosos, que eram contudo a única roupa que possuíam. § Eram acompanhados no seu cortejo triumphal por
bandos de negros folgasões, e as criticas e apreciações destes juízes pretos e de pés no chão acerca dos filhos degenerados e desprotegidos
da velha Germania eram bastante cômicos. Quando estes homens dignos de lastima tinham commettido anteriormente durante sua carreira
militar abusos e violências, eram certas as represálias na primeira occasião, na situação desprotegida em que se achavam, por parte dos seus
antigos subordinados. Muitos morreram na Misericordia, o hospital do Rio de Janeiro. § (...) soubemos com muito pesar que o coronel
Cotter fora encarregado de alistar tropas na Irlanda por conta do Brasil. (...) O novo commandante Antonio de Moura e Brito era portuguez.
(...) Era entretanto melhor, como commandante, do que Ewald. (46) O segundo batalhão de granadeiros recebêra egualmente um novo
commandante, (...) Destacava-se então este batalhão pelo seu excellente comportamento. (...) O décimo sétimo batalhão de caçadores
allemães fez a camapnha de Buenos-Aires, tendo-se destacado pela bravura. (47)

-------------- Cap. XXI --------------

Festas Religiosas. Cortejo dos santos e dos religiosos. Constantemente afirma o problema de “fanatismo e superstição” (48). Todo posto,
deante do qual passava a procissão, devia apresentar as armas, tirar o bonnet e ajoelhar-se. Exigiam também que as tropas allemans
cumprissem estas formalidades, não obstante serem quase todas protestantes. A omissão deste ceremonial custou-me dous mezes de
prisão. Contarei este facto no capitulo seguinte” (49).

-------------- Cap. XXII --------------

Tempo em que ficou preso. “Fora todavia no anno de 1827 nomeado commandante do posto da Carioca, e justamente neste dia passou
pelo mesmo uma destas procissões tão freqüentes. (...) todavia recusamo-nos absolutamente a ajoelhar. (...) Ordenou-me em vão o major
de ronda (49-50) que observasse o ceremonial prescripto, como era de uso no exercito brasileiro. Respondi-lhe que não somente a religião,
na qual fora educado, como meus princípios se oppunham egualmente a que obedecesse ás suas ordens, accrescentando que em
hypothese alguma me sujeitaria a esta imposição. § Retiraram-me imediatamente o commando do posto, sendo também preso. Devia ser
castigado por este crime de lesa magestade, para o qual muitos já viam brilhar as chammas da fogueira. Passei agradavelmente o tempo na
cadeia, occupando-me em ler e estudar (...)” (50). Observações sobre a liberdade da natureza brasileira e a sociedade atrasada que
transforma todos em escravos, expandindo sua opinião ao catolicismo em geral. “Fora eu encarcerado, contra as leis militares, numa prisão
de soldados; eu, porem, não tinha absolutamente vontade de continuar em tal sociedade (50-51) (...) dirigi-me pois ao governador militar

6 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
do Rio de Janeiro, ao general Moraes. (...) Protestei formalmente contra a ilegalidade de minha prisão, accusei o major de ronda de ter
procedido illegalmente, encarcerando-me numa prisão de soldados, qualifiquei este modo de agir digno da justiça turca (...)§ troquei no
mesmo dia a minha muito habitada prisão por uma mais suportável, onde, além dos numerosos vermes e outras immundicies, não existia
mais nenhum ser vivo. O major da ronda foi preso oito dias no seu quarto” (51).

-------------- Cap. XXIII --------------

“Tinham já decorrido dous mezes esperando eu todos os dias que o Conselho de guerra decidisse sobre a minha sorte. (...) resolvi dizer ao
menos a minha opinião, sem rebuços, a d. Pedro si devia ser victima de um processo, (...) § [Cópia da carta escrita a D. Pedro (51-52)]”.
Aponta ao Imperador as condições de seu alistamento em 16 de dezembro de 1824 como cadete na cavallaria brasileira, e que, depois de
três anos servindo, dependeria de sua vontade escolher se iria se manter no serviço militar, ou estabelecer-se em uma das colônias que
escolhesse. Explicando que o governo brasileiro não havia cumprido nenhuma das exigências. Aponta todos os problemas e promessas
falsas do governo brasileiro. Critica o “paragrapho 5º, tit. I da Constituição concede o livre exercício da religião” (53). “A liberdade de
pensamento e a convicção intima não reconhecem leis nem tão pouco ordens humanas (...) § pois há dous mezes se acha na cadeia, sem
nem mesmo ter sido sujeito a um interrogatório (53)... D. Pedro conhecia a vida dos Allemães e não o levou a mal. Escreveu unicamente nas
costas do documento: “Soltem-no – O Imperador” (...) somente logo depois deste incidente o ministro inglez protestante no Rio de Janeiro
recebeu ordem para pregar aos soldados allemães, o que fazia em inglez (...) (54).

-------------- Cap. XXIV --------------

Morte de Leopoldina. Suposta ação do Imperador contra a Imperatriz teria a feito sofrer o acidente. Solenidades diante de sua morte em
vários locais. Alemães tristes diante disso. D. Pedro retorna ao saber da morte.

-------------- Cap. XXV --------------

Irlandeses – “Estes homens vieram cobertos com os mesmos trapos que usavam na Irlanda, os quaes não lhes escondiam sufficientemente a
nudez. Traziam consigo grande número de mulheres e prostitutas. (...)§ Roubavam e assassinavam frequentemente, espalhando o terror e a
consternação entre os habitantes. O soldo deste corja era mais elevado; era ella mais bem tractada e tinha uma alimentação melhor que as
tropas allemans. § (...) Pagaram-lhes exactamente o soldo atrazado, desde que tinham sido alistados na Irlanda. Estas vantagens tinham
então sido recusadas ás tropas allemans, continuando os Luso-brasileiro a não querer concede-las. Para ainda mais acentuar taes
desegualdades collocaram 500 Irlandezes no décimo terceiro batalhão de granadeiros allemães, que se achava no quartel d´Acclamação, e
mais ou menos o mesmo numero no vigésimo oitavo batalhão de caçadores allemaes, que se achava no quartel Pernambuco e se aquartelara
na fortaleza da Praia Vermelha. (...) o tracto surprehendentemente melhor de que gosavam e outras vantagens deviam naturalmente
despertar a indignação dos Allemães, que viam as suas reclamações desattendidas e os seus direitos postergados. Este modo de proceder
tão injusto devia naturalmente acarretar conseqüências desastrosas. (...)§ Chegaram pouco a pouco ao Rio dous mil Irlandezes, que vieram
como soldados, sem contar as famílias de colonos. E´dificil formar idea da grosseria e da rudeza desta nação. § (...) A maior parte delles
achava-se quasi sempre embriagada. Quando morria um Irlandez rodeavam o morto cinco ou seis mulheres velhas, e taes eram as suas
horríveis contorsões e gritos lancinantes, que davam a impressão de uma reunião de fúrias. § A garrafa de aguardente passava de mão em
mão exaltando até o delirio as horríveis manifestações destas candidatas ao monte de Blockberg (N.T. Nome de vários montes e alturas no
Mecklemburgo onde segundo legenda e tradição se reuniam feiticeiras nas vésperas de Santa Walpurgis). Estas extravagâncias eram levadas
a ponto de provocar convulções hystericas e as velhas ficavam tão embriagadas, que tomavam o ceu por uma viola. Muitas vezes porém esta
gritaria tinha um trágico desfecho, quando a velha que mais berrava e fazia mais esgares, despertava com estas suas manifestações artísticas
o ciúme e a inveja das outras actrizes. § Cahiam todas então em cima da invejada para antecipadamente arrancar-lhe com os dez dedos a
coroa de louro do craneo, sendo este o signal de conflicto geral. Intervinham outras mulheres a favor da artista opprimida; facilmente
envolviam-se também os homens nas brigas de suas caras metades. Não era (57-58) raro acontecer que alguns fossem victimas destas
pancadarias, fazendo companhias deste modo ao morto, em honra do qual tinham acorrido taes solennidades. Chamavam isto celebrar
dignamente as exéquias de um Irlandez. As mulheres irlandezaz, nestas pelejas representavam em geral o papel mais importante. As dos
antigos Germanos davam animo aos seus maridos; estas porém não se limitavam a isto, tomavam mesmo parte real nos combates, e, como
quase todod os ataques eram feitos com pedras, traziam-nas nos seus aventaes aos maridos. § O perigo inminente não as afastava do campo
de batalha, e eu vi Irlandezas receberem vários tiros sem deixar o lado de seus marios, animando-os mesmo pelo seu supremo desdém do
perigo” (58).

7 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
-------------- Cap. XXVI --------------

Revolta dos Mercenários. Sobre os irlandeses – “Raro o dia, em que taes ilheos não commettessem os maiores desmandos, e, côo as tropas
brasileiras nada podiam fazer contra elles, tinham de intervir os Allemães e de chama-los á ordem. (58) § (59) Eram os suicídios d´ahi
provindos freqüentes nos corpos extrangeiros, entregando-se egualmente mitos jovens sérios e bem comportados, devido a estes maus
tractos, ao vicio da embriaguez. § O ódio e a indignação, resultados desastrosos destes maus tractos, contidos por muito tempo, não
podiam deixar de explodir. Havia uma grnade fermentação de ânimos, sendo sufficiente apenas um leve sopro de ventos para transformar
numa grande labareda a chamma incipiente. § [citação do oficial] “senhor major, servi dedicadamente ao imperador tres annus e seis mezes
e nunca durante este tempo soffri castigo algum; creio aliás que este crime (si isto realmente pode ser considerado um crime) não é
daquelles que justifiquem uma punição tão barbara. Desejo que um conselho de guerra imparcial julgue o meu caso. E´esta a minha
declaração, e nunca sujeitarei meu corpo voluntariamente a um castigo tão cruel” (59). § “O pobre miserável já soffrera duzentas e trinta
pancadas cruéis, e como o carrasco desse ordem para continuar, deu-se uma formidável explosão de cholera. Ouviram-se um retumbante
hurrah! e gritos de “abaixo o tyranno!, morra! morra! § O covarde conseguiu porém escapar e fugir para a casa, devido á velocidade do seu
cavallo. Os soldados enfurecidos todavia perseguiram-no, assaltaram a sua morada, e elle somente logrou escapar á sanha vingadora,
fugindo por uma janella dos fundos. Disfarçou-se então em operário, podo-se assim a salvo. § Irritados por não terem conseguido attingir o
objecto do seu ódio, voltaram os Teutões a sua fúria contra as cousas inanimadas. Quebraram as janellas, as portas, as mesas e cadeiras,
derrubaram egualmente as paredes da casa. Rasgaram os bellos unifirmes e a roupa, atirando ao mar os relógio, dragonas e esporas de
prata. § Ficou a casa, situada fora da cidade (o commandante morava felizmente sosinho, habitando sua família na cidade), inteiramente
destruída, assignalando unicamente um montão fumegante de ruínas o logar onde existia. Estava desencadeada a revolução, rotos todos os
liames da obediência, e o edifício militar abalado nos seus alicerces. Os soldados, dirigiram-se então para o palácio do imperador, com o fim
de lhe exporem os motivos de suas queixas, pedindo-lhe outrosim que attendesse a ellas, e caso não o fizesse combateriam até á morte para
sustentar seus direitos. § (...) Nunca fora o imperador informado das injustiças e dos soffrimentos do soldado allemão; em alguns casos
porém em que o havia sido, manifestava a sua boa vontade para com elle. Eram as seguintes as reclamações do segundo batalhão de
granadeiros: 1º, um contracto em condições justas pelo espaço de quatro annos. (Não se havia tractado de tal até agora, e o soldado nada
tinha de escripto nas mãos a este respeito); 2º, tractamento melhor e mais digno do que o anterior; 3º, exigiam o soldo atrazado, chamado
“massa”, e a entrega ponctual dos respectivos uniformes; 4º, a entrega do major ou castigo do mesmo; 5º, a demissão do batalhão de alguns
officiaes malquistos. § D. Pedro prometteu examinar cuidadosamente os motivos da queixa, devendo decidir dentro de oito dias o que fosse
justo attender. Deviam por enquanto retirar-se a manter a ordem. § Após esta imperial declaração os soldados voltaram ao quartel,
perseguindo e maltratando entretanto alguns officiaes. Destruiram-lhes egualmente os objectos do seu uso particular. Restabeleceram-se
porém a ordem, e a tranqüilidade. O quartel (61-62) do segundo batalhão de granadeiros, que se achava nas vizinhanças do Palacio Imperial
e que fora anteriormente um mosteiro, parecia então um acampamento em frente ao inimigo. § Os soldados tinham escolhido entre si os
seus chefes, collocando postos avançados e enviando patrulhas. As espingardas foram ensarilhadas para estarem á mão em caso de
necessidade. Apresentava tudo um aspecto belicoso. Tinham já fugido quase todos os officiaes. Passaram-se assim dous dias, e as cousas
pareciam encaminhadas para um feliz desenlace. Apparecera varias vezes o general Valente, governador militar, o qual recommendára
unicamente que mantivessem a ordem e não commettessem excessos. Deram-se, não obstante estas admoestações, conflitos gravíssimos
entre as tropas allemans e as brasileiras. O 11 de Junho foi verdadeiramente o dia sengrento desta batalha de povos. Pode-se chamar a estas
scenas batalha de povos, embora em miniatura. § (...) Dirigiam-se ás onze horas da manhã uns quatorze homens do segundo batalhão de
granadeiros para a cidade com o fim de prender o seu commandante. Conseguiram econtra-lo, e este para escapar-lhes refugiou-se num
posto policial. Assaltaram immediatamente o posto da Policia, devendo unicamente o commandante a sua salvação á velociadade do animal
e ao seu disfarce em soldado raso. Estes furiosos ter-lhes-iam quebrado o bastão de commando nas costas, caso o apanhassem. Despeitados,
dirigiam-se então á casa do major para lá tudo destruir, conseguindo a sua família escapar unicamente pela fuga. O imperador, com o fim de
applacar-lhes a ira, ordenou que prendessem immediatamente o major e o levassem para a fortaleza. Setenta ou oitenta irlandezes juntaram-
se a estes quatorze homens; para estes ilhéus, scenas similhantes eram como pão nosso de casa dia. Voltar para S. Christovam, tomar de
assalto todas as vendas, embriagar-se com vinho e outras bebidas alcoolicas até (62-63) perder a razão, foi obra de alguns minutos. Corria o
vinho a rodo, e o engodo era tão forte para elles, que a maior parte não podia resistir á sua attracção seductora. Vi um Irlandez collocar-se
em baixo de uma torneira aberta de uma pipa de vinho e assim morrer de tanto beber. Os seus nobre patrícios, enquanto isto se dava,
cercavam o mesmo, não procurando nenhum delles salvar o miserável, applaudiam-no pelo contrario, e davam gritos de alegria. O pobre
desvairado deu assim o ultimo suspiro. É impossível descrever as orgias grosseiras, a que se entrega esta nação. § Manifestaram-se logo os
effeitos da embriaguez. § Em primeiro logar foi arrombado o paiol, munindo-se cada homem com cem cartuchos. § O ódio estava
profundamente enraizado entre os soldados; não podiam pois deixar passar a occasião de exercer represálias. § Apoderaram-se de alguns
officiaes, maltratando-os horrivelmente; outros só puderam salvar-se, fugindo rapidamente. Os soldados enfurecidos não se deram porem
8 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
por satisfeitos, commettendo ainda os peiores desmandos. Derrubaram mais de cincoenta casas, destruindo os objectos nellas existentes.
Reuniram-se então alguns Brasileiros com os seus negros; algumas salvas de mosquetes porém dadas pelos granadeiros mataram muitos
delles e dispersaram o resto. Infeliz porém do soldado isolado, o qual talvez não tomara parte no movimento, que caísse nas mãos dos filhos
do paiz ou dos negros. A sentença condemnatoria era rápida, podendo elle se julgar feliz, si a sua morte fosse rápida. § Perpetraram-se
então actos de crueldade revoltante. O governador do Rio fora nessa occasião diversas vezes ao quartel do segundo batalhão de
granandeiros, assegurando-lhes que as suas reclamações seriam attendidas, concedendo-lhes outrosim uma amnistia geral. § Elle pregava
porém a surdos, sendo-lhes respondido desdenhosamente que elle e d. Pedro já os tinham ludibriado tantas vezes, não merecendo mais as
suas palavras nenhum credito. Chamaram então a artilharia montada, composta de Brasileiros; (63-64) esta não se atreveu porém a atacar o
leão no seu antro, havendo unicamente ligeiras escaramuças, que correram quase sempre desvaforaveis á artilharia. § Merece menção o
facto dos granandeiros allemães terem feito, durante todo o tempo que durou o movimento sedioso, o seu serviço com a maior
pontualidade. A guarda do palácio do imperador cumpriu fielmente o seu dever até o ultimo momento. Quando os seus camaradas rebeldes
atiravam contra o palácio imperial, formavam os granadeiros a guarda de corpo do imperador, mesmo no dia em que o movimento sediosos
foi mais forte, promptos a derramar o seu sangue em defesa do seu imperial senhor. É isto uma prova de confiança, que nelles depositava d.
Pedro. § Descrever todos os desmandos e excessos levar-nos-ia muito longe. § Bata mencionar que os soldados trucidavam sem
misericórdia todos os que lhes cahiam ás mãos. § O saque e o roubo eram o seu grito de guerra. A loucura chegara ao cumulo, e contarei o
seguinte facto, affrontando o perigo de passar por pouco verdadeiro. § Alguns soldados atiram numa distancia de cincoenta passos diversas
vezes sobre os seus patrícios ou camaradas, que nunca os tinham insultado, unicamente para ver si eram capazes de atingir o alvo. A revolta
limitára-se até então ao segundo batalhão de granadeiros; contaminou porém insensivelmente os ânimos do terceiro batalhão de
granadeiros. § Fermentara-se nesse corpo e desde a chegada dos Irlandezes o espírito de insubordinação, o qual tanto prejudicou
egualmente aos restantes corpos allemães. Os combustíveis accumulados para a revolta deviam também explodir nessa occasião. §
Reuniram-se no dia 11 de Junho cerca de cincoenta Irlandezes, para lembras suas promessas ao Coronel Cotter, o qual fora encarregado do
seu alistamento na Irlanda. Fizeram-no de um modo violento; foi o coronel maltractado, livrando-o unicamente a intervenção de alguns
allemães de maiores offensas. (64-65) Fugiram logo, imitando o seu exemplo o major e commandante deste batalhão (um Portuguez
egualmente) e a maior parte dos officiaes. § O quartel do terceiro batalhão de granadeiros, chamado Quartel d´Acclamação, forma um
grande quadrado, em cuja parte exterior se acham os alojamentos dos soldados; na parte interior um grande area, propria para os
exercicios. Perto deste quartel acha-se um posto policial. § Os Irlandezes já tinham tido differentes rixas com este posto. Deram pois inicio
ao seu movimento sedioso, procurando assalta-lo. § Conseguiram o seu intento; mataram seis Brasileiros, ponto o resto em fuga. §
Destruiram o posto e todas as armas nelle existentes; apanharam em seguida uma patrulha de soldados de cavallaria, trucidando a maior
parte delles. § A cidade do Rio de Janeiro parecia morta; todas as casas e lojas hermeticamente fechadas. Ninguem se atrevia a sair ás ruas
desertas, afastando dellas o terror e sinistros presentimentos, a vida e a animação. § Acudiam cada vez mais numerosos os adherentes á
causa da revolta: Irlandezes e Allemães na embriaguez da sua curta liberdade commettiam toda a sorte de tropelias e desordens. Foram
arrombadas e saqueadas todas as casas da vizinhança; o vinho correndo a rodo nas vendas tomadas de assalto accendia o fogo das paixões
selvagens occultas nas mais recônditas partes do coração. A satisfacção destas paixões manifesta a natureza humana em toda sua negregada
degradação infernal, causando asco e repugnância este espetáculo aos corações bem formados. Estes bandos selvagens não respeitavam o
sexo nem tão pouco a edade, sendo por elles fria e infamemente assassinados velhos e crianças. Os Irlandezes tomando parte neste
movimento construíram para si mesmo um monumento de vergonha eterna. Não há razão alguma que possa justificar a sua conducta.
Fizera o Governo com elles, logo após a sua chegada, um contracto equitativo, o qual fora impresso, e estipulava o prazo de quatro annos
para os seus serviços. Eram tractados com uma brandura incomprehensivel, mesmo quando commettiam delictos, que uma justiça militar
severa pune de morte. O seu soldo era mais elevado que o das tropas allemans, e enquanto os Teutões mourejavam dia e noite, viviam os
Ilheos na ociosidade. Haviam elles feito exercícios durante nove mezes e conheciam apenas os rudimentos de Arte militar. § A situação era
completamente outra em relação ao segundo batalhão de granadeiros allemães. § A sua attitude, si se tivesse mantido moderada e não
degenerasse em desmandos e violências, era plenamente justificável e mostraria, que a morte livre é mais honrosa que a vida debaixo do
jugo ferrenho de uma escravidão vil e ignominiosa. § As tropas allemãs no Brasil tinham sido até então tratadas de modo tyrannico e injusto.
§ Soffreram crueldades e injustiças, que chamavam reparação e vingança aos ceos. Posso narrar vários casos, em que a dignidade e os
direitos mais sagrados do homem foram litteralmente calçados aos pés. § Tomo a liberdade de expor um entre muitos” (66). -------- Sobre o
eventos especifico -------- [“O major e commandante interino Antonio de Moura e Brito tomara para creada de seus filhos e outros serviços
domésticos a mulher de um soldado alemão (...) (66-66)”] Descrição de outro caso: “Permittira eu a um official inferior, bem educado e de
boa família, que morasse no meu quarto. Conhecera-o até então unicamente sob os seus aspectos favoráveis; quando todavia maltractaram
aquelle pobre soldado, em logar de compadecer-se da sua sorte e de sentir ódio contra os seus carrascos, foi elle que lembrou o supplicio,
chamado do bode espanhol, idéia que foi acceita e executada com seu auxilio. Possuido de indignação pela conducta indigna do miserável,

9 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
que manifestara por esta occasião tanta baixeza de sentimento, ordenei á minha ordenança que puzesse os seus cacarecos fora do meu
aposento. § Extranhou este o meu procedimento, exigindo explicações, Declarei-lhe então que não queria absolutamente ter relações com
ajudantes de carrascos; que se retirasse immediatamente, prevenindo-o de que usaria dos meus direitos de proprietário em caso de recusa.
Respondeu-me com palavras insultantes, esquecendo-se ao ponto de pegar da espada. Dei então expansão no furor que me possuía,
desembainhei a minha arma e após ligeiro combate feri-o no roso. § O cirurgião tractou-o por este ferimento durante cinco meses. § Recebi
eu mesmo um golpe ligeiro no braço. Custou-me egualmente este incidente quatro semanas de prisão no meu apartamento. Era este o
maior prazer que me podiam fazer; estava occupado em algumas traducções de inglez para o portuguez, e estar socegado era o meu maior
desejo. § (68-69) -------- Retorno a revolta -------- “As desordens, as violências augmentavam constantemente, contribuindo para este estado de
cousas e bebedeira geral dos revoltosos. Tornou-se necessária a adopção de medidas enérgicas e urgentes para prevenir catastrophes e
males incalculáveis. § A artilharia a pé, dous batalhões de caçadores, dous esquadrões de cavallaria e duzentos soldados de Polícia
avançaram para o quartel, em que eu também me achava, começando immediatamente o cerco do mesmo. Houve tiros de canhão, de
obuseiros e espingardas, estes últimos de ambos os lados, até altas horas da noite. As perdas dos nossos adversários teriam sido muito mais
importantes, si os sitiados dispuzessem de munições de guerra sufficientes, especialmente de cartuchos (de balas), e si houvesse mais
harmonia e ordem entre elles. Morreram em combate setenta e tres homens do nosso batalhão, entre os quaes dezenove Allemães, sem
contar os feridos, dos quaes muitos vieram a fallecer posteriormente. § Os Brasileiros perderam noventa e sete infantes e vinte e tres
soldados de cavallaria, sem contar os feridos. O numero dos civis e dos negros mortos foi ainda maior. Visitei já depois de meia noite a
camara ardente. Brilhava a lâmpada solitária, derramando a sua luz tranquilla sobre aquelles que a morte violentamente ceifara. §
Apresentou-se então aos meus olhos um horrível espectaculo. Alli estavam reunidas no mesmo logar as victimas da peleja, entre as quaes
algumas inteiramente innocentes, dormindo juntos em paz aquelles que em vida tanto se tinham hostilizado. § Eram Brasileiros, Irlandezes,
Allemães e dous soldados da cavallaria, cujos cavalos dispararam e foram parar no pateo do quartel, onde os haviam morto como cães
danmados. As mãos fechadas convulsivamente de muitos, os seus olhos e boccas abertos, e os dentes deste modo visíveis. O sangue, que
ainda corria das feridas recentes, dava a esta scena um aspecto verdadeiramente tétrico. § Augmentavam ainda o horror de tal espectaculo
os grupos de Irlandezes que entravam incessantemente, os quaes beijavam os (69-70) Irlandezes e Allemães, maltratando ainda os cadáveres
dos Brasileiros mortos. Nunca me esquecerei dessa noite. Ponhamos ponto final á descripção destes horrores. § Raio a manhã do dia 12 de
Junho. A população toda do Rio e a guarnição achavam-se no Campo d´Aclamação, praça enorme situada no centro da cidade, deante do
quartel do terceiro batalhão de granadeiros. O general commandante intimidou então os revoltosos a se renderem, declarando, em caso de
recusa, arrasaria o quartel, passando todos os soldados a fio da espada. Alguns exaltados não queriam ouvir fallar em rendição; a maioria
porém estava mais calma, tendo recobrado a razão. Redeu-se o nosso batalhão e foi para o navio pontão Affonso, com excepção todavia de
alguns officiaes e subalternos, entre os quaes eu me achava, que deviam ficar presos. Pode-se facilmente imaginar a sensação produzida pelo
cortejo, atravessando a cidade, accompanhado pelos Brasileiros, negros e mulatos insultando os soldados como os seus impropérios
predilectos. A situação parecia mais difícil com relação ao batalhão de granadeiros, composto exclusivamente de Allemães. Requisitaram
então um batalhão de Inglezes e Francezes dos navios, que estacionavam no porto do Rio. O quartel no dia seguinte foi cercado por terra e
por mar, rendendo-se então o segundo batalhão, que foi egualmente conduzido preso para um navio de guerra. § Este batalhão perdeu
cerca de oitenta homens; os Brasileiros, porém tiveram perdas quatro vezes maiores. § O vigésimo oitavo batalhão de caçadores allemão
não tomou parte no movimento sedicioso, a não ser que os soldados aproveitaram a occasião para matar a coronhadas o seu major, certo
Thida, um italiano, ex cozinheiro numa casa do pasto do Rio de Janeiro. Deu-se o facto no quartel do supracitado batalhão, na fortaleza da
Praia Vermelha. Este homem era mau e enganara os soldados. A sentença de Nemesis, a seu respeito, foi portanto terrível. § O
commandante do terceiro batalhão de granadeiros, Antonio de Moura e Brito, e alguns officiaes entre os quaes o antigo major (70-71)
commandante não teriam tido melhor sorte, si tivessem cahido na garras dos soldados enfurecidos. Sua má consciência, todavia, mostrou-
lhes na fuga a única salvação. § O banho de sangue teria sido talvez maior, si o segundo e o terceiro de granadeiros e o vigésimo oitavo de
caçadores se tivessem unido aos bandos irlandezes de dous mil e quinhentos homens, e si houvesse ordem e disciplina entre os revoltosos.
O Rio de Janeiro teria tremido, caso esta união se tivesse effectuado, pois o nome de extrangeiros, com que se designam os soldados de
outras nações ao serviço do Brasil, incutia terror. Os habitantes da muito fiel e heróica cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, como é
chamada em estylo official, percebiam-no perfeitamente, tanto que a revolta dos mercenário fez época nos seus annaes. § O álcool, que
excitára os ânimos, abatera-os logo em seguida, salvando assim a vida de muita gente. § Reduziu-se todavia ás promoções de uma batalha de
camponezes. Todos os Irlandezes foram mandados para a América do Norte ingleza (o Canadá, cremos) á custa do Governo brasileiro,
escapando deste modo ao castigo que mereciam côo sendo os fautores do movimento. A maioria destes ilhéos provavelmente foi tractada
como merecia, pois a justiça ingleza é sumaria e generesa, quando ao uso do canhamo. Felicito-a por este modo de agir. Serviram muitos
com certeza de ornamento ás forcas. § Após a repressão da revolta, achavam-se os soldados do segundo e do terceiro batalhão de
granadeiros e a maior parte dos officiaes subalternos presos em navios de guerra. Installou-se então um conselhode guerra. Os cabeças

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deviam ser castigados e os batalhões novamente organizados. Embarcou-se logo depois o vigésimo oitavo batalhão para a ilha de Santa
Catharina. § Terminou assim esta revolta, causada pela conducta pouco escrupulosa de um governo perjuro, que faltou indecorosamente a
todas as suas promessas, além do seu modo bárbaro de tractar (71-72) os soldados. As conseqüências desse levante seriam incalculáveis (...)
Scenas isoladas de horror não faltaram contudo, pois todos os escravos tinham o direito perigoso de matar os soldados estrangeiros, direito
de que usavam com inaudita crueldade. (...) Minha vida durante esta sedição esteve dez vezes suspensa de um fio. Quando rebentou a
revolta, achava-me eu com tres camaradas no Corcovado, alta montanha ornamentada com um aqueducto, da qual a vista do Rio e dos seus
românticos arredores é magnífica e pittoresca. § Estava occupado no calculo de uma linhas trigonométricas. Podiamos ver desta montanha
os ataques dos Allemães e dos Irlandezes, e como não sabíamos a sua causa voltamos para a cidade, que encontramos em estado alarmante.
Um negociante francez, meu conhecido, gritou-nos que tivéssemos cautela não atravessássemos a cidade, e offereceu-nos asylo em sua
chácara, pois matavam todos os soldados estrangeiros que encontravam nas ruas. Tinhamos porém o dever de ir para os nossos postos. §
(72-73) Resolvemos pois, calculando coma covardia dos Brasileiros vêr si conseguíamos chegar até o quartel. Deparou-se-nos logo
infelizmente, ao entrar na primeira rua, horrível espetáculo. §Vimos um mulato gigantesco assassinar, com um aríete de ferro, um soldado
allemão desarmado, de uma maneira horrenda. § A corja dos negros mantinha-o no chão, e o mulato com o ferro pontudo transpassou-lhe
o corpo varias vezes, martyrisando-o assim lentamente, até que morresse, com uma alegria satânica de carrasco. Esperava a mesma sorte um
outro soldado allemão, que já tinham amarrado; approximámo-nos quatro porém neste momento, desembainhando as espadas. Um dos
meus companheiros, um verdadeiro athleta, vibrou um golpe terrível na cabeça do mulato gigantesco, que já estava na posição de defesa.
Os outros fugiram, conseguindo nós salvar a vida do pobre Allemão. Dispersámos toda a corja que por ahi se achava. § Alguns tiros partidos
das casas fechadas mataram todavia um dos meus companheiros e feriram outro no hombro esquerdo. Agora não havia tempo a perder; era
a retirada tão perigosa como o avanço; resolvemos pois proseguir incontinente. Estavamos felizmente nas vizinhanças do quartel. Nisto um
bando de setenta negros, ao menos, nos atacou a nós quatro, que tínhamos sómente nossas espadas como armas. § Estavamos na verdade
com a retaguarda garantida e decidimos a vender caro a vida. § Era a nossa inferioridade porém manifesta, e tanto mais, quando estávamos
todos feridos e cansados. Os Irlandezes e Allemães fizerama todavia neste momento uma sortida furiosa, sendo as tropas brasileiras
rechassadas, e na sua fuga arrastado o bando que nos cercava. Fomos assim salvos do perigo imminente. Chegámos então ao quartel, onde
infelizmente falleceu, no dia seguinte, no meu quarto, um dos companheiros que recebera um tiro no lado. § (73-74) Outra vez um Irlandez
exigiu de mim cartuchos embalados e como respondesse que não os tinha, bastou isso para que me disparasse um tiro em direcção á
cabeça, acompanhando-o com a praga favorita dos Inglezes, God dam, GO to hell, “Amaldiçoe-te Deus e vai-te para o inferno”. Estava
felizmente bêbedo; sibilou a bala aos meus ouvidos, indo cravar-se na parede. § No dia 11 de Junho, ás sete horas, deitara-me para reflectir
sobre os acontecimentos desse dia. § Preveniram-me alguns companheiros do perigo de ir para meu quarto, por este se achar perto do
alojamento dos Irlandezes. § Estes bandos insubordinados, rotos agora todos os liames da disciplina, podiam causar-me sérios incommodos.
Não dei a este aviso a devida importância, caro pagando a minha imprevidência. § Despira-me e estava deitado apenas havia meia hora,
quando fui despertado por coronhadas na porta e pela resultante quebra de chicaras de café e de alguns copos. Prendera eu varias vezes um
soldado allemão, o maior bêbado do seu tempo, para tentar corrigi-lo. Appareceu-me agora este individuo á testa de quatro Irlandezes, para,
como elle se exprimia, julgar minha conducta por sua vez. Saltara da cama, conservando porém toda a minha calma. Collocára-me todavia
de modo a poder pegar da espada, caso fosse necessário. Olhava tranquilamente para os ébrios que estragavam e destruíam objectos meus;
perdi porem todo o sangue frio e calma, quando o supra-citado soldado lançou-me contro o peito um golpe, que rebati com tanta felicidade
que somente recebi um arranhão. § “Ah, é assim, corja de covardes!” trovejei, dirigindo-me aos bêbedos e dando com estas palavras um
golpe de espada no rosto do meu adversário, que esteve prestes a cair; agarrei-o porém, lançando-o com força decuplicada pela cólera e
pela imminencia do perigo contra dous Irlandezesm, os quaes se achavam occupados em esvaziar conscienciosamente o conteudo de uma
garrafa de Genebra, que tinham encontrado. O choque foi tal, que os tres voaram pela porta escancarada do meu quarto. § (74-75) Havia
ainda outros dous a vencer, e sem perda de tempo, Já levantara a espada contra a baioneta abaixada do meu adversário, gigantesco Irlandez,
quando este gigante de repente se transmudou em meu protector. Prestara-lhe eu, havia algum tempo, um serviço importante, que me dava
o direito de contar com a sua gratidão, e elle reconheceu-me justamente neste momento. “Goos dam, by the holy ghost”, “ Por Deus, pelo
Espirito Sancto”, disse elle, extendendo-me a mão em signal de paz. “I beg your pardon, Sir”, “Peço-lhe desculpas, senhor”, e pronunciando
estas palavras, agarrou pela nuca, com seu braço musculoso, o outro Irlandez, que ainda assumia attitude hostil, e como outrora na guerra
para o domínio do mundo os gigantes lançavam pedras contra o céu, atirou este seu moderno descendente, o ilheo recalcitrante, pela porta
afora com tal violência, que este perdeu totalmente a vontade de travas nova lucta. É claro que não precisou desculpar-se junto a mim por
este seu modo de agir. § Os excommungados tentaram ainda algumas vezes penetrar no meu quarto; a apparencia formidável porem do
meu novo companheiro impediu-os de levar este plano a effeito. § Collocara-se de baioneta em punho deante da porta, impedindo a
entrada a amigos ou inimigos. “Não se assuste”, disse, virando-se para mim o vencedor, cujos méritos neste momento me pareciam maiores
que os do heroe de Marathona, “durma socegado, só conseguirão aggredi-lo passando sobre o meu cadáver”. Durante muitas noites não

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fechára os olhos; segui pois o seu conselho. Acordei após algumas horas, encontrando ainda deante de minha cama o fiel companheiro bem
disposto, e sem signaes de fadiga; eu porêm extendi-lhe a mão cheio de gratidão, ordenando-lhe que fosse dormir, pois o dever me chama-
va também ao meu posto. § Poderia ainda contar muitos casos sobre os perigos que passei, e dos quaes escapei felizmente. Falta-me porêm
aqui espaço para a narração detalhada de todas estas scenas. § A noite já extendera deste muito as suas azas de corvo sobre a terra; já eram
dez horas, continuando sempre o fogo. Terminou (76-77) simente o morticínio á meia noite. Entrei a estas horas no hospital do quartel, que
estava cheio de feridos. A primeira pessoa que vi foi o citado Irlandez. Estava o fiel companheiro nos estertores da agonia; uma bala
penetrara naquelle peito leal, e alguns momentos depois não existia mais. Paz ás suas cinzas.

-------------- Cap. XXVI --------------

Quatro semanas depois chega ao Brasil o navio Fortuna – presença de Schäffer escondido no Rio de Janeiro. “Disse-lhe entre outras coisas
nesta occasião que elle era um perjuro. (...) viera ao Rio por muitos motivos. Em primeiro lugar fora procurado pela Policia alleman por
causa da venda de almas; em segundo logar algumas victimas de regresso á Europa queriam delle vingar-se; em terceiro logar, para receber
do dictador brasileiro a recompensa dos seus nobres serviços” (77). Conversa de Schäffer e D. Pedro.

-------------- Cap. XXVII --------------

Execução do soldado alemão. “viu-se pois o Governo brasileiro na contingência de punir os cabeças do movimento. Era todavia por demais
indolente para dar-se ao trabalho de um rigoroso inquérito. (...) § Tinham caído ás mãos da nobre Justiça cerca de trinta indivíduos victimas
do acaso cego, da cabala miserável ou da maldade requintada. Um ao menos precisava ser fusilado, e os restantes condemnados a galés. O
julgamento do segundo batalhão de granadeiros pelo chamado Conselho de guerra durou até 10 de Dezembro de 1828. Proferiu neste dia a
sentença definitiva final. § (78-79) O granadeiro Augusto St... foi condemnado á morte, cinco granadeiros a prisão perpétua, nove e dez
annos, nove e cinco annos, e oito a tres annos de galés com ferros. Esta sentença foi executada após cinco dias, isto é, no dia 16 de
Dezembro de 1828, em São Christivam, num logar perto do Palacio Imperial (provavelmente d. Pedro, segundo o costume do seu digno
irmão, queria deliciar-se com a vista da sua victima) na presença de toda a guarnição e de um destacamento de 50 Allemães, aos quaes se
julgou de bom aviso retirar as armas. (...) Os Europeus residentes no Rio, especialmente os Inglezes e Norte-americanos, deram provas
manifestas do seu enthusiasmo e sympathia pelo executado. Após a execução desfilaram deante do cadáver os soldados, sendo o corpo
recolhido pelos Inglezes e Norte-americanos, e enterrado no cemitérios inglês protestante. § Os restantes condemnados a galé
tumultuosamente e com gritos manifestaram o seu desejo de serem também fusilados. § Elles não foram attendidos, promovendo então
grande desordem. O imperador e o general presente foram vilmente injuriados; um dos desordeiros arremessou uma pedra, que (79-80)
teria talvez custado a vida a este ultimo, si por acaso não tivesse elle virado a cabeça e evitando deste modo o perigo. § (...) Devo fazer
algumas observações (...) Accusavam-no de ter maltractado o ajudante I., húngaro, uma das creaturas mais estúpidas e vis do corpo allemão
no Brasil, e isto é muito exacto. St. E este miserável tinham sido ambos anteriormente oddiciaes subalternos. Este calumniou vil e
infamemente o seu camarada, que lhe era muito superior, conseguindo ainda por meio de intrigas que fosse degredado de um modo
injusto e inaudito. Edificou a sua fortuna sobre os escombros da felicidade do seu companheiro logrando galgar o posto de ajudante á custa
das maiores infâmias. O despreso de St. Por esta miserável creatura era tão profundo que não pensava siquer em se vingar. § Tendo este
miserável cahido por occasião da revolta nas mãos dos soldados que pretendiam vingar-se das suas perversidades matando-o como um cão
damnado, tirou-o St. Das sua mãos, salvando-lhe assim a vida. St. Depois de te-lo livrado deste perigo, Fe-lo escapar ás occultas, dizendo-lhe
ao despedir-se: “Escuta miserável. Perseguiste-me de todas as maneiras, offendeste-me o mais gravemente possível, e si fosses um homem
com algum sentimento, vingar-me-hia derramando o teu sangue. O meu desprezo por ti é porém completo. Segue este caminho, vil
canalha, e assim salvarás a vida indigna”; e com um ponta pé na (80-81) extremidades das costas o mandou embora. (...) É que os cabeças
tinham roubado dinheiro durante a revolta, podendo-se quando delle se dispõe, practicar no Brasil os maiores crimes, sem recear os
castigos remporaes...” (81).

-------------- Cap. XXVIII --------------

Consequências da Revolta. “Troços de soldados foram aos poucos retirados dos navios e novamente organizados. Os soldados tiveram um
contracto pelo espaço de quatro annos. (...) § Tornou-se melhor a alimentação, e si não aboliram completamente o systema bárbaro de
castigos corporaes, restringiram todavia grandemente a sua applicação. (...) Onze officiaes incapazes, cujos nomes não me convem declinar
aqui, foram retirados da fortaleza de Santa Cruz e embarcados para a Allemanha no primeiro navio hamburguez. § (...) (81-82) O senhor v.
E. . . foi reintegrado no exercito e nomeado commandante do terceiro batalhão de granadeiros, depois de tres annos de lamentações
incessantes e de petições continuas endereçadas ao imperador e ao ministro da Guerra. Os fuzileiros são agora tirados deste batalhão (...) §

12 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
Percorria vaidosamente as ruas do Rio de Janeiro com um grande chapéo de plumas, namorando a própria sombra e consertando
constantemente o collarinho [mais observações sobre o que aconteceu com Ewald] (...) O seu papel como official de Estado-maior devia
infelizmente ainda desta vez ser de pouca duração, pois o corpo allemão foi dissolvido inteiramente dous annos depois. Aos officaes e
soldados sem exxcepção, despedidos sem maior cerimônia, concederam que se fossem para onde quizassem e ganhassem a vida como
entendessem. O senhor v. E. . . ., viveu deste este tempo em condições precárias e teve, com sua vaidade de peru, de se sujeitar a muitos
vexames e humilhações” (82).

-------------- Cap. XXIX --------------

Despedida, retorno a Alemanha. “22 de Abril de 1829 a hora da liberdade para mim. Ocupara nos últimos annos o logar de secretario e de
(82-83) auditor, e como conhecesse regularmente o portuguez tornára-me, por assim dizer, indispensável. § Fizeram-me então a proposta
de continuar ao serviço do Brasil, como secretario effectivo, o qual tem as honras e o soldo de primeiro tenente, além de outro ordenado.
Tinha já porém há tempos nojo e horror da profissão militar no Brasil; recusei pois formalmente a proposta. Fôra, havia tres annos e meio,
junctamente com outros tres moços, proposto para official; o imperador porém recusava a sua assignatura, e agora, que o podia ser, não
sentia nenhuma inclinação; tanto mais quanto no Brasil, com amor e trabalho e conhecimento de língua, se ganha a vida mais largamente e
de um modo mais digno que seguindo a carreira militar. Após muitos pedidos recebi finalmente a demissão” (83).

-------------- Cap. XXX --------------

Observações sobre D. Pedro, sua formação e notícias em 1830. Caso de irresponsabilidade e arrogância (84). Falta de pudor e popularidade
do Imperador. Com o fim dos batalhões estrangeiros em 10 de Dezembro de 1830 “Ficou pois D. Pedro com a dissolução dos mercenários,
privado do seu ultimo arrimo, parecendo ao mesmo tempo destituído daquella energia de que dera prova em muitas occasiões anteriores e
continuando a viver despreocupado e indifferente” (85). Rivalidade no Rio de Janeiro entre “Brazileiros e Lusos”. Viagem de D. Pedro a
Minas Gerais e seu discurso (86-87). Ataques da “oposição” contra o Imperador. Regresso de Minas e recepção pelos portugueses nos dias
11, 12 e 13. (87) Notícia da Aurora Fluminense sobre o ocorrido. (88-92) Situação tensa entre portugueses e brasileiros, mortes e conflitos.
(92-93) Periódico Republica sobre acontecimentos. (93-94) Queda do Ministério... “Os assassinatos tornavam-se cada vez mais freqüentes,
indicando tudo a imminencia da catastrophe. Os Portuguezes não se atreviam mais a sahir á rua” (94). Crise cada vez mais iminente.
Abdicação em Abril de 1831. (96) Acontecimentos posteriores a abdicação. (97-105)

-------------- RIO DE JANEIRO --------------

Descrição do Rio de Janeiro. (107-125) “Residir por muito tempo no Rio de Janeiro, não obstante os seus encantadores arrabaldes, não é
nada agradável. O calor suffocante, sobretudo nas partes da cidade afastadas do porto, não refrescadas pelo sopro das brisas marítimas, o
fétido na maior parte das ruas estreitas, onde se putrefazem impertubavelmente cadáveres de animaes, o lixo e toda sorte de immundicies
em recipientes que não são hermeticamente fechados, affectam desagradavelmente os sentidos da vista e do olfacto, e despertam o nojo. §
Encontra egualmente o Europeu por toda parte physionomias repugnantes de todas as cores, desfiguradas por moléstias asquerosas e
paixões selvagens. § Imploram a caridade dos seus similhantes ao redor das egrejas e na praças publicas seres esqueléticos affligidos de
moléstias vergonhosas, verdadeiras larvas humanas despertando o horror e o asco. Os soffrimentos dos negros, cuja nudez (109-110) não se
acha de todo coberta, a carestia das casas e a má qualidade dos viveres; estes elementos todos e ainda innumeras circunstancias reunidas
despertam logo o desejo de abandonar tal covil o mais depressa possível. § Este desejo torna-se ainda mais vivaz, quando se tem occasião de
conhecer os Fluminenses (assim se chamam os habitantes do Rio) sob seu aspecto moral” (110). Defeitos dos brasileiros... (111) “Há
poucos annos tem sido commettidos, somente na província do Rio de Janeiro, muitos milhares de mortos sem que nenhum dos criminosos
haja expiado no patíbulo o crime” (111). Qualidades dos brasileiros.... (111-112) Mulheres no Brasil... (112-113) Mulatos e Negros.... (113-
114) Tratamento desumano com os escravos, relato do caso de José Thomaz de Mattos, “rico fazendeiros, da região de Villa Rica”... (114-
116) Mais observações sobre os negros, suas características, vícios e qualidades (116-117) Mulheres negras (117) “Muitos soldados allemães
tinham amasias pretas, as quaes lhe eram fieis em regra, muito se orgulhando junto ás amigas pelo facto de possuírem amante branco...”
(117) Lugares no Rio de Janeiro... (117-121) [Cemitério dos pobres e negros atrás do Hospital da Misericórdia: “A superfície é de oitenta
metros quadrados, e num espaço tão limitado enterram-se milhares de pessoas annualmente. Os defunctos não vem em caixões, porém na
maior parte nus, como quando viram a luz do dia, sendo em seguida lançados numa grande cova. Este tumulo sem ornamento permanece
aberto até que uns trinta cadáveres o encham (gosta-se de sociedade), cobrindo-se então de terra. § Esta operação, porém, é feita com
tamanha negligencia, que ficam muitas vezes a descoberto um pé, um braço ou a cabeça, como si os mortos tivessem ainda alguma cousa a
fazer na terra e deste modo se esforçassem por voltar” (121).] Arredores do Rio de Janeiro... (122-125)

13 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.
-------------- ALEMÃAES --------------

Destino dos militares alemães. (127-133) Descrição dos acontecimentos no período no Brasil... (132-133) “Em Outubro de 1830 voltando da
colônia de S. Leopoldo, como já contei, fui testemunha ocular dos acontecimentos que occasionaram a abdicação de D. Pedro I. § Logo
após minha chegada ao Rio encontrei collocação; empreguei-me no estabelecimento commercial do colsul geral, onde fiquei um anno. §
Esta casa todavia fechou-se após a queda de d. Pedro. § Ganhei então a vida com o collecionar objectos de Historia natural e mais tarde
dando lições de línguas no Rio de Janeiro e arrabaldes, as quaes eram muito bem pagas. Trabalhei também para uma casa franceza,
occupando-me da correspondência em portuguez. § Fiz em 1832 um viagem a Pernambuco e á Bahia, onde as transformações e
acontecimentos políticos então havidos repercutiram de modo prejudicial em todos os ramos de actividade. § Voltei ao Rio depois de uma
ausência de tres meses. § No fim do anno de 1833 acommetteu-me uma febre violenta, escapando á morte sómente graças á força da
mocidade e da minha constituição de ferro. Restabeleci-me após alguns mezes, depois de ter estado á beira do tumulo. Durante esta pérfida
moléstia apertaram mais do que nunca as saudades da pátria. Aspirei rever com todas as forças de minha alma aquelles campos que tinham
assistido aos folguedos da meninice e aos primeiros sonhos do adolescente e que o coração tanto estremecia. Conhece somente esta
saudade indescriptivel, esta attracção irresistível exercida pela pátria, aquelle que viveu longos annos em regiões afastadas entre homens
extranhos, sem amigos, vivendo num mundo indiferente aos sentimentos do seu coração. No dia 1º de Março de 1834 embarquei-me no Rio
de Janeiro para Hamburgo, no navio hamburguez Maria e Hermenn. Vi sem melancolia desapparecerem no horizonte as costas brasileiras. §
Tivera na verdade horas felizes neste paiz; todavia experimentára igualmente amargos soffrimentos. Há nove annos com que sentimentos
não contemplára eu pela primeira vez estas costas imponentes! § (132-133) Planos grandiosos, ousadas esperanças enchiam-me o espírito
juvenil. Nada subsistira deste bello mundo de phantasias, a não ser sinão como a lembraça de um sonho enganador e cheio de ilusões. §
Ventos desfavoráveis atrazaram a nossa viagem; tivemos tempestades, tendo mesmo numa noite o nosso navio perdido o matro de ré. As
tempestades no mar, abaixo da linha sobretudo, constituem um espetáculo magnífico e perigoso. § Outro espetáculo imponente é o levante
e por do sol no Oceano Atlantico. § (...) Finalmente no mez de Junho surguram nas águas verdes do Mar do Norte as costas chatas da
Allemanha. § Ninguem poderia descrever os meus sentimentos ao saudar a pátria querida. § No dia 14 de junho entramos no porto de
Hamburgo após uma viagem, que durara 150 dias. § Embarcára doente e abatido, pisei todavia vendendo saúde o solo da Allemanha. § (...)
No mez de junho voltei a minha pátria, o Hannover, e ao convívio dos homens de bem. A minha situação não é nada brilhante; tenho
todavia novamente confiança em mim e na humanidade, o que vale mais do que me reserva a sorte depois de ter soffrido tantas
tempestades; talvez sorria-me o futuro na minha pátria; talvez seja novamente obrigado a partir e a levar uma vida agitada e incerta entre
povos extranhos. § Estou preparado para a tempestade e para o bom tempo, afivelando-se depressa o meu sacco pouco cheio.

14 Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.

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