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Ih. 1 _ -
.. , t ·nsi\ ) \'as ta ê l rum de tlorcstas
infi.n 1~ v ·is, só povoadas por gcn-
! . :lbs )lut:uncntc selvagens, um
n~ 1 v . .g. ntc europeu aqui naufragou.
Rcc )lht.:n to-se à tcn-a, conseguiu
: br • i" cr na rnorudia dos silvíco-
1 . 1mmnva-sc esse homem Hans
t. dcn, arcabuzeiro da expedição
do Almirante Sanabria. O que vi-
rc.:u e o que experimentou naquela
tremenda época de sua vida é o que
relata neste livro, que não apresen-
ta apenas uma narrativa de extra-
ordinária aventura, mas se reveste,
no mesmo tempo, da capacidade
exata de reviver, com clareza e fi-
delidade, a aurora de um país que
nascia para o mundo.
O marujo H(:lns Staden,
arcabuzeiro da expedição de
Sanabria, não é um Marco Polo,
não é um viajante que se limita a
descrever as terras ignoradas que
conheceu e as gentes desconheci-
das com que conviveu: é antes de
tudo um narrador fiel, que tem a
qualidade de reevocar e tomaram-
plamente cheias de vida todas as cir-
c~nstâncias e vicissitÚdes de que se
viu rodeado e às quais conseguiu
sobreviver.
Histo.ri~cnte, foi esse navega-
dor o pnmcuo a deixar cm fonna
d: livro, para conhecimento dos
posteros, uma obra que o tornou
seculannente célebre e que se fixou
COLEÇÃO RECONQUISTADO BRASIL- 1" SÉRIE
e-
1 U \ 1 O\
\Nl'\ F .\ VEG. CERRADOS BRASILEIROS - E. Wurming e Mário G. Fcrri
t" ~ 1 I - • • 1 .
' \E l: rAÇ:\O NO RIO ~RANDE DO SUL ~A) - G_.· A. M. Ltnt man e~ Máno G. Fcrri
4· V IAG El\ I PELAS PROVINCIAS DO RIO D~ ~ANEIR? E MINAS GERAIS - Augustc de Saint-Bita
_. ' l ·\G';l\1 PELO DISTRITO DOS DIAMAN íES E Lll ORAL DO BRASIL - Augustc de Saint-. H't·
"\ \ • i.;t d s . ·1 . l .
- . \'l ·\GEi\l AO ESPÍlUTO SANTO E RI? DOCE - Augustc e amt-H1 airc
7 _· \ 1.:\GEl\1 ÀS NASÇENTES DO RIÇ) SAO FRANCIS~O J\U~uste de Saint-Hilaire
S. \ tAGEi\I .À PROVINCIA DE GO.IAS - Auguste de Satnt-H1la1re
0 \ !AGEM A CURITIBA E PROVINCIA DE SANTA CATARINA - Auguste de Saint-Hilaire
;O. VlAGE1 1 AO RIO GRANDE DO SUL - A~guste de Saint-Hilaire
11. SEGUNDA VIAGEM DO RJ A MG E A SAO PAULO (1822) - Auguste de Saint-Hilaire
L . \ IAGEM AO BRASIL (1865-1866) - Luiz Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz
13. VIAGEM AO INTERIOR DO BRASIL - George Gardner
14. VlAGEl\1t NO INTERIOR DO BRASIL - J. Emanuel Pohl
15. HIST. DOS FEITOS REC. PRATICADOS DURANTE OITO ANOS NO BRASIL - G. Barléu
16. O SELVAGEM - General Couto de Magalhães
17. DUAS VIAGENS PELO BRASIL - Hans Staden
18. VIAGEM PELA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO - Auguste de Saint-Hilaire
19. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO - C. d' A
20. MEMÓRIA P_~~ A HIST. DA CAPITANIA DE SÃO VICENTE - Frei Gaspar da Madre de Dei:
2 l. NOTAS SOBRE O RIO DE JANEIRO - John Luccock
22. OS CADUVEOS - Guido Boggiani
23. PEREGRINAÇÃO PELA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO - Augusto Emílio Zaluar
24. CONTR. PARA A HIST. DA GUERRA BRASIL E BUENOS AIRES - Por uma Testemunha Oc1
25. MEMÓRIA SOBRE VIAGEM DO PORTO DE SANTOS À CIDADE DE CUIABÁ - Luis d' Ali
26. MEMÓRIAS DO DISTRITO DIAMANTINO - Joaquim Felício dos Santos
27. COROGRAFIA BRASÍLICA - Aires de Casal
28. A VIDA NO BRASIL - Thomas Ewbank
29. VIAGEM PITORESCA ATRAVÉS DO BRASIL - Alcides d'Orbigny
30. A SELVA AMAZÔNICA: DO INFERNO VERDE AO DESERTO VERMELHO? - R. Goodland
31. HISTÓRIA DA GUERRA DO PARAGUAI - Max von Versen
32. HISTÓRIA DA AMÉRICA PORTUGUESA - Sebastião Rocha Pita
33. VIAGENS AO INTERIOR DO BRASIL - John Mawe
34. BRASIL: AMAZONAS - XINGU - Principe Adalberto da Prússia
35. NAS SELVAS DO BRASIL - Theodore Roosevelt
36. VIAGEM DO RIO DE JANEIRO A MORRO VELHO - Richard Burton
37. VIAGEM DE CANOA DE SABARÁ AO OCEANO ATLÂNTICO - Richard Burton
39141. HISTÓRIA DE D. PEDRO II - Ascensão, Fastígio, Declínio - 3 vais. - Heitor Lyra
42. HISTÓRIA DO MOVIMENTO POLÍTICO DE 1842 - José Antônio Marinho
43 . O PAÍS DAS AMAZONAS - Barão de Santa Anna Nery
44. VIAGEM AO TAPAJÓS - Henri Coudreau
45. AS SINGULARIDADES DA FRANÇA A~J ÁRTICA - André Thevet
46. BRASIL - Ferdinand Denis · . :,' : ,.
' • 1 1
· 1 ••
>
Vol. 17
Tradução de
GUIOMAR DE CARVALHO FRANCO
Prefácio de
MÁRIO GUIMARÃES FERRI
Introdução e notas de
FRANCISCO DE ASSIS CARVALHO FRANCO
Capa
CLÁUDIO MARTINS
é
EDITORA ITATIAIA
BELO HORIZONTE
Rua São Geraldo, 53 -Floresta-Cep. 30150-070
Tel.: 3212-4600-Fax: 3224-5151 .
e-mail: vilaricaeditora@uol.com.br
Home page: www.villarica.com.br
Títul.o do Originnl Alcml\o
li ahrlu{/il>!,t' l llstorla
FlCHACAfALOGRÁFICA
ISBN:978-85-319-0507-0
CDD-918.1
-980.3
75-0007 -980.41 ·
2008
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
PREFACIO
!'
SUMARIO
3
nd . do r 1nc.m .. .. . , · · · · · · · · · ·: · ·; · · · · · · · · · · · · · · ·: 158
Cu.p ulrJ 7· - .omo atira.nt com d<'xll'cza, umma1s selvagens e pe1-
í'ífl ul o x,<. g com fJ cc hn i; . .... . .......... . .............. . 159
Qual é a ei; tatura da . gente .. ....... .:. .. · · ·: .... . 161
·n pí ul o 9 Gomo 0 que cavam e cortam, quando nao obtem dos
n p f ulo 1 cri s tãos ma chados, facas, tesouras e outras mercado-
ria.'3 s imílares ..... · · · · · · · · · · · · ·.:. · · · · · · · · · · · · · · · · 161
apí ulo 11 _ O que os s elvage n.s comem com.o pao e como plantam
e pr.eparam as ra1zes de .mandioca ............... . 162
:,t pÍ ufo 12 Como temperam seus ahmentos ................. . 163
C ;ttJÍ uJo 13 - Governo, autoridade, ordem e direito que têm ..... . 164
e pí t ul o 14 Como queimam as panelas e vasilhas que usam 165
. -apítul o 15 - Co mo preparam a bebida, com que se embriagam,
e camo agem relativamente a ela ............... . 165
Capitulo 18 - O que usam os homens como ornato, como se pintam
e que nomes têm ........ . ................ · · · · · · · 167
Ca pí ulo 17 O que usam as mulheres como enfeite ........... . 169
Ca p ítul o 18 Como dão o orimeiro nome às criancinhas ....... . 170
CLipit uJo 19 Quantas mulheres tem um varão e como as trata .. 171
Capítulo 20 Como são os compromissos de casamento ......... . 171
Capít ulo 21 Quais são os seus bens ......................... . 172
Capítulo 22 Qual é a s ua maior honra ..................... . 172
Capítulo 23 No que acreditam ........ . .................... . 173
Capítulo 24 Como fazem, das mulheres, feiticeiras ........ . .. . 175
Capítulo 25 - N o que viajam sobre ·a água ................... . 176
Capítulo 26 Porque devoram seus inimigos ................. . 176
Capítulo 27 Como se preparam quando querem empreender uma
excursão guerreira na terra dos seus contrários ... . 177
Capítulo 28 Das armas de guerra dos selvagens ............. . 178
Capítulo 29 Solenidades dos selvagens por ocasião· da matança
e devoramento dos seus inimigos. Como executam
Estes e como os tratam ......................... . 179
RE LATÓRIO SOBRE ALGUNS ANIMAIS DAQUELA TERRA
Capítulo 30 - Veados, porcos do mato e macacos . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Capítulo 31 - O tatú . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
Capítulo 32 Saruês, tigres, leões, capivaras e l.agartos . . . . . . . . 191
Capítulo 33 - Duma espécie de insetos, semelhantes a pequenas
pulgas, que são chamados tunga pelos selvagens . . . . 192
Capítulo 34 - De uma e~pécie de morcegos daquela terra que
mordem as pessoas de noite, durante o sond nos
artelhos e na testa .. .......... . ............ : . . . . 193
Capítulo 35 - Sobre as abelhas da terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
Capítulo 36 - Dos pássaros da terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
RELATÓRIO SOBRE ALGUMAS ÁRVORES DAQUELA TERRA
Capítulo 37 A árvore do genipapo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
Capítulo 38 - Como crescem o algodão e a pim.e nta brasileira e
algumas raízes, que os selvagens plantam para comer 195
4
INTRODUÇAO
5
cinco ntu mulheres, cnb·c cuf:.ladus e tmlteiras, inclusive
d. M ncía Calderón d Sanubdu, viuva ~e João de Sanabria e
n qu rn El-Hc.i fizera mercC!, durante a v1da, de metade do go-
v rno do RJo da Prata ( 2 ).
Como piloto do patacho ''São Miguel" era para seguir 0
português Gonçalo da_ Costa, ':elho conhecedor do .atlân.tico sul,
mas por se achar entao desavindo com. os .sanabria, foi substi-
tuido por João Sanches, natural de Biscaia e que tambem jã
andara no Novo Mundo com Alvaro Nunes Cabeça de Vaca e
com êle retornara à Espanha em 1545.
Logo nos primeiros dias de navegação, houve a bordo da
capitânea um levante para depor João de Salazar e substituí-lo
por Fernando de Trejo, fato que não teve maiores consequên-
cias devido à atitude de Fernando de Salazar (8 ).
Chegados à ilha de Palma, sem outro 'incidente, dali saí-
ram a 15 de junho de 1550 e dirigiram-se para as .c ostas da
Guiné, em busca de ventos favoráveis. Uma tempestade sepa-
rou o navio das cç.ravelas. O ·"São Miguel" foi baldo de man-
timentos a bordo, escasseando sobretudo água potável. · A 25
de julho avistou uma nau, logo · reconhecida como de corsários
franceses, capitaneada por certo Escorcio, normando que ·nave-
gava à ordem de Francisco Martim, residente em Rochela.
Sem dar tempo a que fugissem, a embarcação francesa abor~
dou-os intimando a se renderem.
Após vários entendimentos, o· capitão João de Salazar, o
piloto João Sanches e o genovês Bernardo Vivaldo, foram numa
chalupa ao navio francês e ali acordaram a rendição, combi-
nando que os franceses se· apoderassem de todos os" bens ·que
houvesse a bordo, · não tocando poréin na honra das mulheres
e nas armas dos soldados. ·
Assim se praticou e .todos salvaram apenas a roupa do
corpo. O "São Miguel" tomou rumo de pleno oceano, onde per-
vagou "sem saber o piloto onde estava, ,por não ter sua carta
de marear pintada a terra d~ São Tomé". Bom mar'ítimo no
entanto, João Sanches atingia a ilha do Ano B.o m, a trinta lé-
guas daquele ponto. A viagem ia penosa de privações e sobres-
2
) - Enrique de Gandía, "Histõria de la conquista del Rio de la
Plata y del Paraguay", Buenos-Aires, 1932, pâg. 25·6.
8
) ·- Nenhum parentesco ligava este Fernando de Salazar ao te-
Boureiro capitão Joilo de Sa~azar. Era êle filho de certo doutor João de
Salnzar, natura~, de G1:unauu, que parece ter se metido depois · a frade.
E. de Gundfa, Historrn llel Gran Chaeo'', cit., pâg. 115 . .
6
s a ltos. A pós ci nco dins d " demoru n êsfm último porto, dali saí-
rrun com inten to de a lcunçtu· n ilha de Santa Catarina, no
B 1·asilt onde filmlmen te chegaram a 16 de dezembr o de 1.550.
Ai encon traram a car avela do capitão Becer ra, que estava então
no m:lndo de Cristov::u n de Saavedra filho de Hernandarias de
Saav·edra, correio-mór de Sevilha. '
~ta caravela, depois da sua separação em São Tomé, havia
veleJado rumo sudoeste e depois de ter lutado com um violento
temporal na costa brasileira, pouco acima de Santa Catarina,
chegou casualmente a êsse porto a 25 de novembro .le 1550. Da
segunda caravela, comandada por um cavaleiro de Cáceres~
chamado João de Ovando, não se teve mais noticia.
Por uma carta de João de Salazar escrita da "Laguna do
Viaçá", a 1 de janeiro de 1552, sabe-s~ que com êle chegaram
a Santa Catarina exatamente oitenta homens e "quarenta
mulheres e crianças". Ainda esclarece essa carta que no Viaçá,
antigo porto dos Patos, Fernando de Trejo, cavaleiro de Trujilo,
casou-se com d. Maria de Sanabria, filha de d. Meneia Calderón
de Sanabria e irmã de d. Diogo de Sanabria. Nasceu dêsse ca-
sal, em São Francisco do Sul, que pouco depois fundaram nessa
costa, aquele que mais tarde seria frei Fernando de Trejo y
Sanabria, primeiro provincial franciscano e terceiro bispo do
Tucumam ( 4 ). Nêsse mesmo · povoado ainda se casaram Rui
Dias Melgarejo, foragido do Paraguai, com Elvira de Contreras,
filha do capitão Francisco Becerra, que fôra criado do gover~
nador Vaca de Castro; João de · Salazar com d. Isabel de Con-
treras, viuva do dito capitão Becerra e Cristovam de Saave-
dra com d. Meneia de Sanabria, · tambem irmã de · d. Diogo.
João de Salazar apressou-se em mandar de Santa Catarina
por terra á Assunção, a Cristovam 4e Saavedra e cinco, soida-
dos, a-fim-de que notificasse a Domingos Martinez de Irala 'd a
nomeação de d. Diogo de Sanabria. para adearitado do Rio da
Prata e mandasse a São Gabriel. víveres e recursos para_ que
todos pudessem subir o rio Paraná e Paraguai até aquela po-
voação. Os emissários c~egaram aq 'seu d~stino ·ª 15 de agosto
de 1551 (5 ), mas Nuflo de Chaves, que foi o mensageiro de
' J ' •
7
. 1.egr ess ~ oti de São G a bri el, sen1 ter nenhuma noticia de
lrHl }l . .
João, d e S nlazar e da sua gente .
E ' q u e ta'°· 11 to 0 pa tacho "São OMiguel", como a carav.ela, ha-
viam-se perdido na arribada. ... prf1mdeiro f.01· encalh a d o na
· ·
e S anta Catarina para nao a ·un ar e se perder a sua
cos t a d . d v· ,
car ga e a segunda naufragou nas cercanias o iaça.
Ficaram os náufragos durante mêses nêss.e s sítios ermos so-
frendo grande escass~z ~e. víveres e vicissitudes de: ~o~o o gê-
nero. Por isso, em pnnc1p10s de 1552, resolveram d1v1d1r-se em
dous grupos, um dos quais marchou por terra para Assunção,
sob a conduta de Afonso Velido e Fernando de Salazar. Os
restantes, com d. Meneia Calderón de Sanabria, suas filhas e
demais mulheres, á frente dos quais estava .o capitão João de
Salazar, foram por mar, num batel que construiram, até o
porto de São Francisco. Aí nova dissenção dividiu os. mala-
ven turados expedicionários, de modo que Salazar e doze com-
panheiros dirigiram-se num bergantim para São Vicente e os
demais ficaram povoando São Francisco do Sul, tendo como
dirigente a Fernando de Trejo (6 ).
1
8
r o. a qu m fez d e ita i· o hábito ele Süo Tiago e chegando êste
.h om m .1 São Vice nte, cheg ue i eu e me p ediu que mandasse
b usca r a que les h om ens e mulher es que es tavam ali p e rdidos.
P arece u-me se n iço de De us e de Vossa Alteza mandá-los bus-
cai· e m um navio e trazê-los a São Vicente, parecendo-me que
as 1nulheres virão tão enfadadas dos trabalhos que passaram
q ue casar ão ai c01n quem lhes der de comer e os homens que
farão cada um a sua roça. E parti com êles dessa pobreza mi-
nha que levava e não foi tão pouco que não fosse mais do que
eu tinha de meu de trinta e cinco anos" (8 ).
Na carta de João de Salazar, escrita do porto de Santos a
25 de junho de 1553, êle conta o seu naufrágio e sua salvação
e.in Itanhaem, com doze companheiros, "con solo las armas".
Dali escreveu ao capitão-mór Antonio de Oliveira ( 9 ) que lhe
enviou um barco . onde todos vieram até São Vicente. Acres-
centa que obteve então aí de Pedro Roesel, administrador de
" un Juan Menista, flamengo que bive en Lisbona" (10 ) e por
en1prestimo, um caravelão, com o qual trouxe o resto da sua
gente que havia ficado no Viaçá, em duas viagens ( 11 ).
Nada diz Salazar das desavenças havidas e dos que ficaram
em São Francisco do -Sul. Em compensação, pedia ao Rei cas-
t elhano que "não os esquecesse nessa terra onde a maior parte
dos que nela vivem são malfeitores desterrados de Portugal".
O gov erno espanhol providenciou em tal sentido, fazendo re-
tornar com várias credenciais ao genovês Bartolomeu J usti-
niano, que_ ali fôra enviado como emissário (12 ) . Não obstante
as apresentações, Bartolomeu Justiniano nada conseguiu em
São Vicente (1 3 ). Resolveu então João de Salazar valer-se de
uma medida extrema, a qual relata na sua carta datada de
Assunção, aos 20 de março de 1556. Combinou com Rui Dias -
9
,. seu irmão Vicente de Góis, a
M Jgarejo Cipriano de Go1s ~eis portugueses e .uma duzia de
e fuga de São V~cente cobm tomaram parte o genovês Bar-
sua
espanhóis.
N
? ~ ortidaa trun em
inulher de Cipriano e ois, .
d G, . d M .
ar1a
tolomeu JustinianoS, . d Isabel de Contreras, .que se fez
a de a 1clzar, . " Ih d
de Bastos e f'lhas e mais tres mu eres casa as.
har de duas 1
acompan ,. ra a 'ornada que assim encetaram para o
Tiveram el<:s, dpa ertJões a orientacão e o amparo moral
· atraves os s ' ~ d ·
Paraguai, 1 d Nóbrega e após cinco meses e viagem,
d 0 P adre Manue
G . , a(14) e afinal Assunçao, ' - on ' d e c h egaram em
atingiram o 15;;rra do que Bartolomeu Justiniano aí, arribara
o~tubro de t ·' s;~rnando de Trejo com outros náufr.a gos da
tres mescles ªsn es.b ·a havia tambem 'partidq de São Francisco
armada e ana ri ' 1556 N .
do Sul e fôra atingir . Assunção em ?1.eados de · · a ~ap1-
tania vicentina, ainda ficaram res1dmdo uns . poucos desses
náufragantes e algumas das "quarenta mulheres", qqe se ca~
saram na terra ( 15 ). ; ·
E de todos êles, que somavam trezentos no d~zer · de T~~é
de Sousa, conseguimos os nomes apenas dos segumtes: cap1tao
João de Salazar, tesoureiro da província; capitão Fern~ndo de
Trejo, capitão Francisco Becerra, ,João de Qvando, Fernando
de Salazar, d. Diogo ~e Lerna~ d,. Antonio de Carv~jal, .J o~o
Sanches, de Bisçaia, piloto-mó~, Bernardo .V ivaldo, geJ?.OVes;
Afonso Velidp, Fernando de .. Campos, . capitão Rafael Burrón,
padre J o.ão Fernan~-~ Carilo~ . 4-fonso ·Rodrigues, Claudip Mi-
rande, francês; Cristovam de Saavedra, Hans Staden, alemão,
arcabuzeiro; . ce~to Roldão, Afonso Q.e Escobar, Migue~ .Ort~, .
Gonçalo Dias, Piog9 Casilas, ferreirq ;· Gomes Malavér, Antonio
de Guiles, Afonso do Prado, Francisco de Cépeda, Afonso de la
Carrera, Martim Gonçalez, .G asp·a r Fernandes, natural de Faro
ma_:inheiro;,. João C?ºm.es, . pedrei70; Diogo de Aiala, Diogo d~
Leao, frances, 'carp1nte1ro; Francisco Garcia, Melchior de· Rao-
lim, João Durão; ·João ' eôrtes, Pedro · Martim · Francisco de
Cue~as, S~ncho d.e Alm~nz?m, c~rpint~iro de b~nco; Francisco
Di:rao, Joao Be_:nal, c:_arpinteiro;· Baltasar 'de Carvajal, alfaiate;
Joao de Ga?1boa, Joao Donoso,' Pedro Garcia, Bartolomeu de
Salazar e D10go Bravo de . Ia Vega .(16) ~ · Das· mu·lhere ·,
... ,.. . . ,, . , . .
. '
s, Ja men-
' 1 1 \
t" ·' ·
!
14
) - Guairá significa . ·"·o luga ··.
"'Primeiras noções de tupi" s-· ·p r m ransponivel". Plinlo Ayrosa,
llS) - Para· maiore ' ao . aulo, 19133, pág. 14;6.
Sanabria, leia-se o estud s ,detalhes sobre as mulheres da armada de
volume "Indios Y conqui~t d~ ·Gandía, "Una expediciõn de mujeres" no
pâgs. 117-160. · · ª ores en el Paraguay", ·Buenos-Aires 193·2
16 , '
) - Alguns dêstes ·
nomes colhemos em Luis Rublo Y Moreno,
10
cíonamos os nomes que conseguimos, a saber: d. Meneia C~l
dcrón de Sanabria e urna !ilha homônima; Maria de Sanabria,
Elvka de Contreras, Isabel de Contreras e uma filha homô-
nima.
TI
11
d São Tomé, a-fim-de dobrar a costa do
san1os em budscal.. foemos ao Brasil, à ilha de Santa Catarina
Bras1·1 (?)· e ador· l
nos havia dado por ins . t ruçao
- que f"ossemos,
on d e 0 governai·nverno não pudemos passar a1' e assentamos'
d
mase
por ser 4que a nau' que levavamos,
, - po d end o mais
nao . nave. .
ovoar,
P.ar P 01
deitamo-la ·
de través; e visto que a I'Ih a d e S ant a Cata...
g_ ' tava despovoada por causa dos portugueses e seus arni...
rma es
gos (selvagens) terem feito muitos. saltos aos, in · d'1os na~urais
da dita ilha e terem aniquilado todos os selv1colas do litoral
que eram amigos dos vassalos ?e Sua Ma~est~de, passando-nos
a um porto adeante quinze I;guas da _dita ilha, p_erde~am 0
outro navio e como não possu1amos mais .embarcaçao, fizemos
uma com que passamos a outro porto para povoar e estando
povoando nêsse dito porto, os espanhóis que iam na equipagem
depuseraip. João de Salazar que traziamos como capitão e f~
zeram capitão .a Fernando de Trejo, que casou com uma filha
de João .de Sanabria, o governador, e depois disto o dito João de
Salazar se foi a São Vicente, .povoação dos portugueses e tratou
e ordenou de se ir com muitos outros a êsse lugar e estando
como estávamos povoando com o dito Fernando de Trejo e
dona Meneia, mulher que foi do governador João de Sanabria
e as mulheres que vieram na equipagem, mandou de São Vi-
cente Tomé de Sousa, governador que era pelo rei de Portu-
gal, uma caravela ter conosco e na caravela enviou um padre
da Ordem dos Apostolos (2 2 ) para que nos fizesse muitas pro-
messas e que nos daria apetrechos de guerra e nos favoreceria
de modo ª. irmos por terra para o Paraguai, o que visto deli-
bero~ o dit.o Fer~ando de Trejo ir-se a São Vicente com os
demais. ~ isto feito, resolvi ficar na dita povoação com sete
companheiros que tambem quiseram permanecer d ·
disto estabelecido,
. porque essa era a mi'nha 1·ntençao, . e:pot~
- e, ins1s 1-
ram os portugueses que nos. queriam levar a t o d os para nos
~us.t en t ar naque 1e porto e vila e para isso se . .
-1nd1os da terra, e como eu teimava ficar ar ':1n1ram com oals
modo com Fernando de Tre·o " ' ranJaram-se de t
São Vicente, e ficaram 08 se~e ;~e este :r:ie fez saír e levou a
gados que fomos a São Vicent mpan~~rros no povoado; che-
Sousa, governador do rei de p e, ver1flca~os q1:1e Tomé de
para que não fôsse permitida a ortugal, havia deixado ordem
algum. Visto isto e 0 . passagem por terra de espanhol
rios, determinaram F maisd que nos contaram alguns contrá-
·t- ernan o de TreJ· d
cap1 ao Salazar, volver para Sã F 0 ~ os emais, menos o
o ranc1sco que é um porto
22) p
- oasivelmente 0 padre
Manuel da Nóbrega.
12
b m ,, l\ H :1p ' '· t,A n tfit'n pt voo ndo. 09 1ndlou omil{oH dos
f r UJ""U . ~t h \\ inm h,,lt> d ·~1um· ntn r mJ tm t, h onrnnn q ue P --r-
m n . , m n ~ 4' l uniu; lfoHb nrn l m· n m-no~ o troux 'rum um
1 . · , t · nd , t u l Ih )~ 1·oul>ado, 1 \lo qu • uc r ucHlo q u e foi por
nl " iat d s l r t u ~ u •s ,s ., dê:;s ' modo, s 'g undo pe nao, irüo
d ~ , · :n- a I• rmu1do d • Trcjo, por q u ,, ussim o prn ticnm os
' rtu · i s s; ' visto is to e d vicio n nfio m e deixarem ir p ara
n 'nhnm lu a r , r solvi da r a entender no capitão de S ão V i-
n t"' (·) q u queria ir in for m ar o rei de P or tugal das cousas
, B rasil, c-orn o q u e lhe fa r ia gr a nde serviço, porque estando
e mo e tavan1 os portugueses por El-Rei na m aior par te da
cost do Brasil, h a via de querer entender e conhecer a nave-
g ção e portos da dita costa. Para que fosse até ao rei de Por-
tugal, o dito capitão deu-me uma carta para o conde da Cas-
t nhe ira (2 4 ) pela qual se via a intenção que os portugueses
têm de nos expelir da costa e nos desbaratar, para que não
m ais povoemos. Francisco Gambarrota ( 2 ~) vinha para passar
a Espanha e com êle outros oito ou dez espanhóis e no cami-
nho toparam umas minas muito ricas com o que volveram to-
dos, menos o dito Francisco Gambarrota, que vem num outro
navio e traz amostras das minas; e vistas essas minas e a sua
r iqueza, Domingos de !rala enviou a Pedro Dorantes (26 ) ,
administrador, a que povoasse onde acharam as minas e ficou
povoando. Da navegação e portos que na dita costa descobri
e vi, darei conta ao piloto-maior de Sua Magestade. Na capi-
tania de São Vicente, em toda sua comarca e na parte onde
nós outros povoamos, acharam os · portugueses muitas minas
ricas de prata ( 27 ) e digo isto porque na minha presença fi-
23) - Esta resolu~ão devia ter sido tomada em meados de 1,5 5,'1
e o capltllo-mõr seria Brás Cubas, pelo que se lê no capitulo 38 da pri-
meira parte do livro de Hans Staden. .
2•) - Era o primeiro conde dêsse nome, d. Antonio de Ataide,
multo aceito de d. João III, que por carta de 11 de abril de 1530 0 ha-
l'fa nomeado vedor da fazenda. Foi êle tambem sesmelro em Itaparica e
Tatuapára, como se lê nas "Memorias" de I. Acioll, anotadas por Brâs
do Amaral, Bafa, 119 19, vol. I, pág. 3·56. Casou-se com d. Ana de Ta-
vora, filha de Alvaro Pires de Tavora, senhor do Mogadouro. Faleceu
em 7 de outubro de 1563. Braamcamp Freire, "Brasões da Sala de Sin-
tra'', Coimbra, '1930, vol. III, pág. 3'9•5 .
2õ) - Sobre êste personagem leia-se E. de Gandia, "Los prlme..
ros italianos", cit., págs. 42-43.
26) - Vide biografia àêste personagem nas "Cartas de Indlasº,
clt., pág. 7 53.
1
27
f - A noticia aqui ~ fantasiosa. Nos tempos colQniais· não se
encontrou prata no Brasil, multo embora ,p ara isso se tivessem feito bas-
,t ae dlligênclas. Ouro sim, jâ pelo tempo em que João San<!hes andou
por São Vicente, em 1~· 53-1554, é sabido que se minerava.
13
. - , uais todas enviam ao rei de Por...
Z eram mw ;as
. t fund1çoes, .
as q
povoar toda a cost a. p or isso · tne
Ioao envie a d
tuº1ll para que 0 • Sua Magestade porque preten em os
º ;' . ...l.:~~ 0 dar aviso a , · , d Rº d p
Propus vrr ~ dêles , t od a a costa . . ate a
. . boca So io M a rata
portugueses ser. ande será 0 preJUlZO de ua ~gestade,
e se isto se realizar! gr itos bons portos que achei e para
porque na costa .ex:ist~ 1:1u há caminho muito curto e ótimos
0 trato com . o ~o da . ª ªavoado que agora estão formando e
rios e em especial P~~a ºe~cusam de ir ao Rio (da Prata) com
estando povoada ª e~ as aguas borrascosas. Sua Mages-
as naus, por e:~ª b ~~i:de dar rémédio a isto, de modo que
tade deve com 0 _ ª r poderem da terra que é muito bôa e
os porturueses nao se a , .d ·
, •
5
•
cheia de mmas e IS o a· t não se tenha duvi a pois
f com meus·
, · lh
propnos o os vi, com · 0 disse , os portugueses azerem
, ,, ricas
fundicões., e além disso têm muitos engenhos de açucar .
A carta-descricão de João Sanches, escrita anteriormente
, ,. · a que acini'a finalizamos é a seguinte: - "Os vassalos
a crome ' il ·t ·1
do rei de Portugal povoaram na costa do, Bras ~u1 as VI as
e a última nos limites de Vossa Alteza, e uma vila que cha-
mada São Vicente está na outra extremidade, em vinte e três
graus e meio, é c~pitania de Martim Afonso de Sousa; disse-
ram-me uns portugueses que pela terra dentro, na direção da
dita vila, tinham povoado outras duas vilas, e que êste ano
iam povoar outras (28 ). Parece-me que Vossa Alteza deve
mandar pôr termo a isto de modo que os ditos portugueses não
povoem .nem vedem as terras de Vossa Alteza, porque é muito·
necessário que sejam povoadas pelos vassalos de Vossa Alteza,
tanto por ser terra muito aparelhada para a produção do açú-
car como para a criação do gado, bem como outras granjearias
e proveitos que andado o tempo dela se poderá obter. Na al-
tura de vinte e cinco graus, trinta leguas da vila de São Vi-
cen~e, ~stá um bom porto que se chama Cananéa; está povoado
de inclios que .se chamam tupís, amigos dos portugueses. Si
V~ssa Alte~a vier a estabelecer limites com os portugueses, que
seJa ~elo dito po~to de Cananéa com um rio que chamam Ivaí
q~e dista de S. Vicente doze ou quinze léguas (?) .
menos e ma d V · pouco mais ou
.jurisdição e ndi~· ossda AVlteza que por aí seja estabelecida a
isas e ossa Alteza. O dito rio I vaí é bom
28) .
- Gondra, obra cit áª
cho Para concluir que e8 ta ., P hs. ~ 6_2- 4 63, argumenta com êste tre-
Dlar?o, citando as datas d~a~~:-descr1çao foi escrita em 1553, depois de
c~ntina até aquele ano En ação de ~odas as vilas da capitania vi-
V1cente, Pois dâ para ~ me gana-se porem na data da creação de São
sma o ano de 1531.
14
rio e desce do campo e é muito necessar10 pa ra quan~o p . que-
rendo Nosso Senhor se povoar a terra, f azer-se o con1ercio do
campo. Chamo campo a terra dent ro porque é plana e com
grandes can1pos e será muito produtiva; porque a t erra que
ca i S'O bre o mar é muito montanhosa e com grandes serras, e
por causa destas, existe no litoral tnuito pouca terra apro-
veitável, apenas a que está entre os vales das ditas serras.
Por isso é necessário que a vila ou vilas que se erguerem na
costa do n1ar, possuam parte da terra plana do dito campo
para que possam ter suas lavouras e criações porque junto ao
mar há muita falta de pastos, pelas causas sobreclitas. M8!5
adeante está outro porto muito bom que chamam de Sa,o
Francisco e _é o mais pró:x'imo do campo e dos índios guarams
amigos dos vassalos de Vossa Alteza que vivem no dito campo
no caminho por onde semimos
b
com Alvaro Nunes Cabeça• de
Vaca (29 ) . Conta-se de Cananéa a êste porto de São Francisco
vinte léguas pouco mais ou menos e está deserto de índios. Se
o dito porto de São Francisco fosse povoado de selvícolas, seria
a melhor entrada para se ir terra dentro, na conquista do Rio
da Prata, porque dêste porto até aos índios amigos dos vassa-
los de Vossa Alteza há muito pouco caminho e por entre os
ditos índios se póde ir á dita conquista. Parece-me que se de-
via povoar em primeiro êste porto tendo em vista a dita en-
trada. Adeante, oito léguas pouco mais ou menos, está o rio
Itapucú que quer dizer Pedra Alta, por onde entramos com o
dito Cabeça de Vaca; não é rio que tenha porto. Mais adeante.
dezoito léguas pouco mais ou menos, está a ilha de Santa Ca-
tarina; a dita ilha está a vinte e sete graus e meio; está povoada
de índios guaranís, muito amigos dos vassalos de Vossa Alteza.
Deram ao dito Cabeça de Vaca muitos mantimentos e acompa-
nharam-no ao campo . ~té a povoação dos índios seus amigos.
Adeante, aos vinte e oito graus e dois terços, está uma laguna
que se chama Viaçá; é porto apenas · para navios pequenos.
Toda esta costa desde São Francisco até esta laguna, está des-
povoada de índios devido ás muitas guerras que os tupís ami-
gos dos portugueses sempre fazem aos amigos dos vassalos de
Vossa Alteza e por tal motivo vão os ditos índios abandonando
a terra e fugindo. Adeante desta laguna, em direção ao Rio da
15
80
> - Sobre êate retlgio o e 9tl agitada vida consulte- , _nd _ ,
"Historia da e<>aquista", clt., capftnlo IV.
'1) - Ha.ns Staden, capitulo 42 da primeira _rte.
16
landês, la tim, fnm cês 1 inglês e por tug uês. O pouco que dêle
se s a be é produto d o seu p róp rio livro. Lê-se ai que o dr. Dry-
a nde r , a liús J oão Eichm ann, profe8sor d e m edicina em Mar-
burgo, conheceu desde a infU ncia o p ai d e Hans Staden, como
êle natura l de Wetter, cidade ali nas imediações. M a is tarde
se mudou para Homberg, em Hesse, onde vivia em 1556 e onde
nasce u seu filho Hans. Talvez por iniciativa do dito dr. Dry-
ander, Staden ao regressar da America em 1555, conhecesse
Felipe I, landgrave de Hesse e a êle narrasse as suas viagens
e aventuras. Desde então deve ter começado a escrever o seu
livro que terminou no ano seguinte, pai~ o seu prefácio traz
a data de 20 de junho e a introdução do dr. Dryander a de 21
de dezembro de 1556 (3 2 ) •
No carnaval de 1557, saiu a primeira edição dessa, obra,
impressa em Marburgo, na "Folha de Trevo'', por Andre Kol-
be. Constatamos então que Hans Staden estava como cidad~o
de W olfhagen. Daí em deante, nenhuma notícia mai~ se tem
do estóico náufrago da armada espanhola de 1550.
Em 1664 Hans Just Winckelmann encontrou em Cassel um
retrato de Hans Staden, que publicou no mesmo ano em sua
obra sobre a America, editada em Oldemburgo ( 33 ). Richard
N. Wegner diz que nã.o se poude . col~er provas da autenticidade
dêsse retrato, que apresenta no entanto a técnica da xilogra-
vura quinhentista. ~sse mesmo autor, apreciando a obra de
Hans Staden, diz que ela foi a quinta das publicações em lín-
gua alemã que se imprimiram sobre as duas Americas. A pri-
meira foi em 1497 por Bartolomeu Küstler com uma narração
sobre o conteúdo das cartas de Colombo. A segunda consti-
tuiu uma série de edições começadas em 1504 sobre as cartas
de Americo Vespucio. A terceira foi a "Copia do novo .jornal
da terra do Brasil", impressa em Augsburgo, em 1514. A quar-
ta consistiu numa tradução f.e ita em 1550 da narrativa de Fer-
nando Cortez sobre a conquista do Mexico. A quinta final-
mente foi a obra de Hans Staden, o primeiro alemão que deu
à publicidade uma descrição etnológica clara e verdadeira de
um povo selvagem,, usanqo de suas próprias expressões.
Êsse livro de Stade:r;i .despertou rapidamente um interesse
especial. As suas verídicas informações provinham da sua
' 1
17
,, • e ntre os tupinambás ou tamoios e foram de
l nga p •rmnnctc~t1 1. valor como fonte para . o estudo de Utna
gt'llnd ~ p a rl cu U. "ida Completam a sua narrativa as xilo-
tribu h oJC bdc~ut pnri~cdub.itavelmente sob sua orientação e que
gr avuras
· ' a ei
d· as ã prínceps de. Mar b urgo. E m b'ora ru d'imenta-
~i;) rur;~~e~1:: ~;ofunda fidelidade. .º .s~u mapa tam~ei:i é .dos
ies~ . t tes como ensaio primitivo de cartografia.
m ais m eressan
Há uma notável semelhança entr~ ,o retrato de Hans
Staden encontrado em C~ssel ~ a ~~~ imagem nos desenhos
traçados sob sua orientaçao. ~a esta ele com a me~ma barba
ponteaguda, que por seu próprio dizer sabemos ter s1<!.o de côr
ruiva. Muito lutou êle com os indígenas para que nao a ras-
passem, o que afinal acabaram conseguindo.
O artista que entalhou as xilogravuras, colocou as suas
iniciais D. H. na bandeira central do na~io que 1>e vê na es-
·tampa do capítulo primeiro, mas não foi possível até o pre-
sente a identificação dessa assinatura. E não acreditamos, após
ter estudado atentamente o livro, o mapa e principalmente os
desenhos, que nos ajudam de modo admirável a vêr o país, seus
habitantes, seus usos e costumes e muitas das vicissitudes
porque passou o seu autor, não ' acreditamos, repet~os, que
Hans Staden deixasse de ter apreciável ··ilustração para a· época.
Que êle conhecia algo de marinharia e o português,· o caste-
lhano e o tupí, consta da sua própria narrativa. Não entendia
o francês, mas tambem não se percebe nele o menor ódio ra-
cial, antes. a todos estimava e de todos era estimado como se
constata no decorrer da sua exposição.
Demais, o ,f ato dêle t~r relações antigas e estreitas com 0
dr:. Dryander, professor da Universidade de MarbÚrgo d
Joao Sanches, pilot~-mór da esquadra de Sanabria t" ~l e e
tanta . conta que f?1 como principal emissário nu~a ~ ,.;;_t. em
tentativa de r~sgata-Io dentre os contrário (ª 4 ) , una
teza de que tinha realmente uma cultur ~ ' ~a:nos a cer-
a que até aqui lhe é atribuída 1 .. · ª. ~em maior do que
ramos que em tal ponto todos !: s ªT
palavras escritas na intro.d ução doc
ºffrseus comen~adores. Repa-
a ~epetir as modestas
Tambem, a psicologia de Hans eu ivro : pelo ~· Dryander.
~a sua obra, é bem mais interess Staden, atraves do estudo
tiva de que era um hessiano sim ante ~o que a simples afirma-
Uma das provas está no fato d ples, . s~cero, devoto e valente.
o devorassem, aprisionado co ~ t~r. evitaliio que os tupinambás
mo o1 entre portugueses e com-
"> - Bane 8taden, capttulo 38 . .
· da Primeira parte.
18
batendo-os. Um fruncôs ohei'oU mesmo n recomunclnr uo11 ti~~
moios que o comessem logo, inaíd1n quo ·St.ucl<m on.contr~oo " 1 "'
tes para entreter e em final noutrulizm: pot' complotC>.
Alguns outros traços revelam em I·I1.nta Studon umn put~
sonalidade original. Aqui npenus recorda r c!moa .. o cmio dôlc
arrancar o penso duma sua ferida e jogá-lo f6ru, com o pon:
sarnento de que não devia estar tratando a sm1 carne, umn vo:t.
que ela iria servir de pasto a outrem ( 11 rs).
III
A obra de Staden teve tambem desusada aceitação. No
mesmo ano em que apareceu teve mais uma edição em Mar-
burgo e duas em Francfort sobre o Meno. Não tardaram .~s
versões em vários idiomas, no decorrer dos séculos XVI, XVII,
XVIII e XIX. Interessando tão de perto os nossos estudos geo ...
gráficos, etnográficos e históricos, teve no entanto a sua prime~
ra versão na nossa língua somente no fim do último século ci-
tado. E das pesquisas que andamos fazendo, organizamos a se-
guinte indicação bibliográfica das edições, tratluções e adapta..,
ções do trabalho de Staden, resenha essa que bem sabemos não
é completa mas que nos parece a mais ampla até hoje publicada.
*** Edição em alemão feita em Marburgo, em Hesse, no
carnaval do ano de 1557. Esta é a edição prínceps, que foi im-
pressa na "Folha de Trevo", por André Kolbe. A sua enun-
ciação · se encontra em Sabin, sob o n.º 90036. J. C. Rodrigues,
na Biblioteca Brasiliense, n.º 2304, citando Brunet e Carter
Brown, diz que a primeira edição é de Francfort sobre o Meno,
em 1556, "durch Weigand Han". Acrescenta que no livro não
há data, · mas que o prefácio é que traz aquele ano. Edmundo 1
19
1 d . ,, t l"\\l. · P l 1u n H \O Pnu lo, ,iendu lrn<luzidt>
·m1 la\' '_1t''. , , 't . Jle lo Ir. J\ llwl'lO J ,Hft(rtm. (, o I' 'HpoUv)
' •
t •' p '' "H' (. ., "l 1
,', . t ·ll , l''. puhll ·:'rhl l' I\\ S o 1 nu.º' : m i .v' l>"H· 07 , l\.
' . l ')lH ' l 1
,.., . , \ '< m daí 0 fo t.() d, • ·tar imp1 t.': o n o f1 onl1up{olo d uun
·( ·• '1\'I \ ~.· ·-- " , •., \' "•>l"l ... tiíl ú ltr~ o 'ln unprcrnm ' Pl' ln u H•unc1n
' t'
_ ·~ ' ii l" ,•nt ·m 'nt' mnnut\tndn ' m 'lhorudu". A por lndo
l"" ' • h
un
( i 1• ~ \ n1·1'
C-'
t\ 't' ' · . '· • }•·'-'') 1'• i 'O ' l\.HJ ll t.mcionn 1850, COJl\O .f ocilm ntc•
S
v •r u~• ·'d i 'Hú fn ·-simHnr de W t:!ncr d,' 1925, r chtudn
l t. ·{
n · i" m 1·•ta t:m rn:.!7. Tmnb •m na diçao pnnceps, n vinhetn
21 r nrnt' ao uprimciro livrinho", trnz impresso no interior:
·· · 'r um d mini nrnnet in aet rnun1''. A da scgundn edição de
.. r ur n~\
é idêntica, como se pôde verificar na edição de
n. A edição de 1930, da Acaden1ia Brasileira, que é a
, . . i : da de Lofgren n1elhorada, substituiu-a pela da edição
prín . . . ps tirando-a da edição fac-similar de Wegner. Igual-
111 n t por descuido, deu o fac-símile da portada da <:_dição
prínceps de Marburgo e conservou no entanto a traduçao de
L ·· fgren dizendo "pela segunda vez diligente1nente aumenta-
da e melhorada", palavras inexistentes no frontispício repro-
duzido. Esta segunda edição tem o título bibliográfico em Sa-
bin sob n.º 90039 e de ambas existe detalhada descrição
em Dommer - "Die aeltesten Drucke aus Marburg in
Hessen", 1892.
* * * Edição em alemão, feita em Francfort sobre o Meno,
em 1557, " durch Weigand Han", não tendo porém data nos
exemplares. Esta edição e a seguinte é que J. C. Rodrigues e
outros deduziram erradamente que devia ser de 1556. Sua des-
crição vem em Sabin, sob n.º 90037.
*** Edição em alemão, feita em 1557, em Francfort sobre
o Me;io, tambem p~r Weigand Han. A sua enunciação consta
do n. 90038 de Sabm. O exemplar que figura sob o n.º 864 do
Catálogo _d~ Exposição de Historia do Brasil, dito ali ser a se-
gu~~a ed1çao d? obra de Hans Staden, é no entanto uma destas
e~1ç~s ~e We1gand Han, como se constata da respetiva dis-
crun1n.a~ao. Os .exemplares de quaisquer destas quatro primei-
~as. ediçoes .dº. hv~o. de Hans Staden constituem hoje absolutas
1 ar1dades b1bhograf1cas.
20
Aíç ;\o ''l'n f lnm PUJ:O, ele rnm1, fo i ln e m Antu{ t' p ln, por
lant ·. finu randn e m sn bln, Hob 11 .11 00041.
, d iç:\o ' tn nlcm iãn, d e .Frm1cforl Hob ro . o M ino,, p or:
hl ' t\ tn 1567, n u co l 'ÇHO d' lí'rnnck -F,eyrube:Hl , e~;
J . . Rodrigues, n .º 1027 da " B ibliol cu B ru Hil1onHe . ·
• Ediç,fo cnt lntim , nH col çiio d Teodoro de Br~, publ , ..
c~.da cn1 Francfort sobre o Meno, em 1502. A t r uc.lu çao ó de
dan1 Lonice r .
• Edição em a le1nã o de T e odor o de Bry, feita e.m Franc-
fort sobr e o Meno, em 1593. As edições da coleção de viagens
desse p u b licist a que se seguiran1, ta nto em alemão como e~ ~a
tim semp re trouxeram a obra de Hans Staden. Par~ as ed1çoes
em l atim, indicamos Sabin, vol. III, págs. 33-36 e 51-52.
•• • Edição em flamengo, feita em Amsterdam, em 1595,
por Cornelis Claesz, figurando em Sabin, sob n.º 90042.
*** Edição em holandês, de Broer Jansz, feita em Ams ·
t erd am, em 1625, com xilogravw·as no texto, descrita em S~
bin, sob n .0 90043. ~ste mesmo editor, na mesma cidade, reedi-
tou a obra de Staden em 1627, 1634 e 1638, como se verá de Sa-
bin, n .º 90044, 90046 e 90047.
** * Edição em holandês, feita em Amsterdan, em 1630,
com o titulo "Hans Sta deli van Homborgs Beschrijvinghe van
America". Consta de Sabin, n. 90045. 0
21
•u .li;dJ~·flo •m holnndôtJ, ! oHu om Utrocht, cm 1683, f.igu.
1
23
. - em portu auês, da tradução de Alberto Lõf
*** E d içao doro Sampaio,
b ,
na serie . "P u bl'icaçoes
- da Aca..
d Teo
· n , notas . e . ·a" Rio de Janeiro,· 1930 . E st a e d'içao- corrigi·u..
gie
Bras11en '
d;n: 1·a falhas · l' d
da edição de 1900 e publicou a em a reprodução
varias.
das xi1ogravur"as, 0 retrato de Hans Staden e o· , fac-simile b da
. _ , ceps Conservou no entanto, como Ja o servamos
ed1çao prin - ·
de Lofgren que diz " e agora a d a' a' 1uz pe1a segunda'
a tra d uçao
.1. ntemente aumentada e melh ora d a " , t rech o que so..
d
vez, I igeencontra na segunda e d.1çao - d e M arb urgo, f er'ta no
men e t Se
"aniversário de Maria", de 1557. Cf · "C , aªt'logo d ª B'bl'
I
'
10teca
de Eduardo Prado'', · Sã.o Paulo,. 1916, pag. 107, n.º 2278.
· * * * Edição em alemão, de .Gertrud Tudsen, feita em Bue..
nos-Aires> 1934.
** * Edicão em alemão, por Kar1 Fouquet, São Paulo, 1941,
n. I da série .. das "Publicações da Sociedade Hans Staden", ·de
0
24
Livro Primeiro
AS VIAGENS
Dedicatória:
25
{ . cone ~didns . maritvilhosn ~ inesperadamente, quand
0 ~~ ~~~ Brasi 1, cz;i{ em poder dos .selvagens, os tupinambás, (87 )
ficimdo JlO\ , m~scs ~eu prisioneiro, e tendo, escapado a lllUit
ufros infortuuios. JCstou grnto porqu~ apos longa m~séria,
"'uprcinos p rigos, voltei, de.pois de ~u1tos a_nos, ao principado
º!
ie Vos ·a s t\rena Alteza, .n11nha inu!to queri~a te~-ra natal. A.
vos a Serena Al~eza que1 o eu, .humilde, relatar minha viagern-
que descrevi ligeiramente. Queira Vossa ~erena Alteza, ~or be:
uevolência> quando se apresente oportunidade, ouvir a leitur
de como eu, com a ajuda de Deus, transpús a terra e os rnare:
1.:: como o Todo-Poderoso me conduziu através de estranhos aci:
-----
37
) - Para Teodoro Sampaio "tu · bâ"
do progenitor''. Cf. a edição de Hans ~:a~m quer di~r a "geração
.t?ara Batista ·Caetano quer dizer "a gent ~n, do Rio, 1930, plig. 16.
' t.'ratados da Terra e 'da Gente do Brasil eda Fnente aos · pais principais". ·
~lâg. 27-3. ' e ernão Oardim, Rio, 19·25.
38
. ) - Cidade da província d H
·:le Cassei. e esse-Nassau, na Prússia, a oeste
- 39) - Cidade da provfncia de H . .
gem direita do Efze. Segundo R esse-Nassau, na Prússia, na niar-
nasceu cerca de 1520 Lei . · · Lehmann-Nitsche, Hans Staden .af
cabucero alemân de l~ .exi!a~~i~ e~celente trabalho "Hans Staden, ar-
15º53),,. - Boletim del Instituto ~ tnabria al Rio de la Plata 0.550·
n. 81 - Buenos-Aireº e e nvestlgaciones Historlcas - Ano V
P, nero-mal'zo de 1'927. ,
16
Hans Staden
Prefácio do Professor Dr. Johann Eichmann,
chamado Dryander, em Marburgo.
29
ambição de fama, mas sim apenas para servir, com esta publi-
cação, à gloria e honra de Deus e teste~unhar-pie seu re~onhe
cimento pelo benefício recebido da sua ~bertaçao. Seu prmcipaJ.
desejo é dar a conhecer esta historia, a-fim-de que todos possaxn
saber, quão generosamente, e éomo contra toda ª. esperança, 0
Senhor Deus permitiu que Hans Staden voltass~ a sua querida
pátria, em Héssia, e como o livrou de tantos pengos quando lhe
invocava o nome com confiança. Durante nove meses passou
êle, entre os selvagens inimigos, esperando dia por dia, hora
por hora, a decisão para que fosse impiedosamente morto e
devorado.
Por esta indizível misericórdia divina e pelos benefícios re-
cebidos, quis êle assim, na medida de suas fracas forças, ao Se-.
nhor mostrar-se agradecido e louvá-lo perante todo o mundo.
No desempenho de sua dificil tarefa sentiu êle, à-vista do desen-
rolar dos fatos, a necessidade de relatar sua viagem, que o fez
passar nove anos (42 ) fora do seu país, e todos os acontecimen-
tos ci,ue a ela se prenderam. E quando assim expõe, em palavras
des~1das de ornato e pompa, e sem tirar conclusões, convence
o leit?; de sua sinceridade e veracidade. De que lhe teria servi-
do abas, em lugar da verdade, ter feito um.a narrativa de im-
posturas! ·
Além d~ mais .é êle, como seu pai, domiciliado nêste país
~m n~nca te-lo deixado como aventureiro, charlatão ou cigano'
v:i~=~ia, podrtanto, recear que outros viajantes que 'porve·ntur~
sem o novo mundo o desmentissem.
. l!ma prova bem convincente porém d .. . . . -
f1ded1gna, acho-a no fato de que e·1 e .c1·t a. o elugar
que sua
e a narraçao
·- é
que se encontrou, na terra dos selva . . . .. . ocas1ao em
do sábio e famoso Eobanus Hessus 1.~n~,, com Heli~?ro, o filho
tempo se retirou para o estrangeiro. e iodoro . _que lª há muito
mo~to, dever~a t_er presenciado c~::ioque era t1do por nós como
lastrmavel, fo1 feito prisioneiro e lev . d Hans Staden, de modo
42) - A edição d 19
e o fac-srmne d edl~ao
. - e prince ~' .
30, da .Acad elUJa
4B)
- Joãoª de Le ps de Ma.rburgBrasllelra
tr '
diz·
"' do1.8
. an.oe"
por intermédio d dr ry sõment.e eonhe o az claramente "lX"
°
um exemplar da edi .:. FelU: p1.....
u:lteros nace11gn>t,..
a obra d · e st.aden
. ·
em 1.r.86
a eondiçã ·. ~ emprestou
que Lery sõ mente fez
çaodepois
de Marb. urgo,,
. ' eo.m uú!sa, o qual Ih . " ,
que o senhor de "'' '°
de devolvê-lo, 0
.aiayenne, Te-d· . .,. · .oro TuY·
30
Com estas sólidas provas e conclusões, quero dar poren7-
rada a questão sobre a veracidade da narrativa de Hans Sta en
· ·
e dar as razões por que esta, e outras bist onas semelhantes
· ' en-
centram tão pouco aplauso e consideração.
Em primeiro lugar, os aventureiros com suas men~. dis-
paratadas, suas falsidades e narrações fantasiosas contriburram
para que se dê pouca consideração às pessoas honestas e aman-
tes da verdade, que vêm de terras estranhas, e tambem vulg~
mente se diga: Quem quiser mentir, discurse _sob:e cousas di~
tantes, pois ninguem lá vai verificá-las. É mais comodo acredi
tar do que certificar-se.
Nada se ganha em não aceitar a verdade por causa ?as
mentiras, e deve-se considerar que há cousas que parecem 1:111-
possíveis a um homem simples, ao passo que para o, ei:idito,
quando lhe são expostas, são fatos seguros e incontestaveis, co-
mo realmente o são.
Alguns exemplos tirados da astronomia podem elucidar
o fato. Nós, habitantes da Alemanha e das regiões vizinhas, sa-
bemos, por uma longa tradição e experiência, quanto tempo
dura o inverno, o verão e as outras duas estações, o outono e
a primavera. Do mesmo modo, a duração dos dias e noites mais
longas, ou mais curtas, no verão e no inverno.
Quando, pois, alguem afirmar que no mundo existem lu-
gares onde o sol não desaparece durante meio ano e que o dia
mais longo dura seis meses ou meio ano, e a noite mais comprida
igualmente; ou que se encontram regiões nas quáis as quatro
estações aparecem duas vezes ao ano, havendo dêsse modo dois
e
verões dois invernos; ou que o sól e outras estrelas, por dimi-
nutas que sejam, e mesmo a menor delas no céu, são todavia
maiores que a terra toda; e muitas coisas incontáveis desta sor-
te - tambem não dará o homem simples, a táis afirmativas,
quet, que conhecia bem o nlemilo, lh'o traduziu em. grande parte. Uít..
então o missionário frances: - "O que li com o maior prazer, pelo fato
de João Staden, que esteve cerca de oito nnos nêsse pata, em duas ,ia·
gens que fez, tendo ficndo detido mais de seis méses pelos tupinambés
que o quiseram devorar muitas vezes, exatamente aqueles qne eu co-
nheci depois, nome por nome, nos arredores tlo Rio t.le Janeiro, que eram
nossos aliados e inimigos dos portugnêses, com os quais estava João
Staden quando foi aprisionado; como dfaia, obsen-ei que êle fala"'ª in-
teiramente a verdade; muito satisfeUo tambem fiquei porque tendo dado
4 luz n minha histõria mais de oito anos antes que tivesse ouvido falar
de João Staden e menos aind.a que tivesse najado pela: .A.merica, notei
que concordAvamos tanto na descrição dos. selvagens brasileiros como
noutras cousas vistas, quer na terra queT no mar, que se diria que ba-
31
n ' nhum cr J•d ito ' te rá tud o por hn posHívcl. Ent:etanto estas
'J..:-"' s s·to tão clnrnmcut ' provud os pelos ~str?no~os que,
O ' "~"' '" ' · · í .. . .., duvidara 0 d l
~\q u ' l ' :5 que te nhum cultura cwnt f 1cn, n a o e as.
Não s deve ·pois concluir, p elu circunstância de que a
. . . - . d sta sorte
,,.r ~ n dc massa ten1 por fa lsas as nan açoes e . , que e1as
11'1' " . rdade não possan1 ser exatas. Como nã~ estaria mal a ciên..
ci ·1 ~stro nomica se ela não pudesse fazer calculos certos sobre
todos êstes corpos celestes e nã~ pudesse prever com seguranç~
o dia e a hora dos eclipses, isto e, das trevas do sol e da lua. Ha
séculos que as trevas são calculadas antecipadamente, e os cal...
culos têm sido comprovados. Ora, diz o povo, quem esteve no
céu, para tudo ver e medir? A resposta só pode ser: a .experi...
ência quotidiana confirma as conclusões, e d_eve:r:ios ter 1st? .Por
tão exato, como certo é que três mais dois sao p~co. As solidas
bases e conclusões da ciência nos permitem medir e calcular a
distancia até à lua e mais além, até aos planetas todos, e ·final-
mente até às estrelas fixas, e qual é o volume do sol, da lua e
de outros corpos celestes. Com ajuda da ciência celeste, a as-
tronomia, e da geometria, calcula-se mesmo a circunferência,
redondeza, grandeza e extensão da terra. Todas estas cousas o
homem simples não conhece, assim cómo bem · pouco nelas
acredita. Deve-se perdoar-lhe a ignorância, pois que êle não
aprendeu mesmo muito das ciências naturáis. Que, porém, gen-
te prezada e muito instruida duvide ainda de táis fatos, cuja
veracidade está provada, é tão . vergonhoso quão lamentável
pois que o homem simples, guiando-se por êles, acha confirma~
ção. ao se1! erro. e diz: Se isso fosse. verdade, êste ou aquele es-
tudioso nao teria contestado. E assrm por diante. .,
. <? mesm~ se pode dizer de Santo Agostinho e Lactâncio
Frrm1ano, dois. santos, muit~,.. in.struidos, e aliás homens com
grande c?~hecimento das ~1e~c1as. , Éles duvidam e não que-
rem admitir que possam existir antipodas, homens que, em um
ponto ?posto da terra, de certo modo, sob nós, caminhem. com
seus pes contra os noss?s e estejam tambem dependurados de
cabeça e corpo para baixo no espaço, sem ·c ontudo se precipi-
32
tarem. Embora isso pareça estranha, 0s sábios estão cmlvenci•
dos de que não pode ser de outro modo e que está provado ~
mo exato, por majs zelosamente que os citados santos, erudi~
tos autores, o combatam. Os homens que habitam os pontos
extremos de um diâmetro terrestre têm que ser antípodas, isso
é uma tese irrefutável. Tudo quanto se eleva no espaço fica
ereto, em qualquer ponto que esteja da terra. Para achar
antípodas, entretanto, não é preciso viajar para baixo, no ~o
vo mundo; antípodas os há tambem no hemisfério supenor.
Quando da região mais longínqua do oeste, a saber, o cabo
Finisterra, na Espanha, se considera oposto o leste, ou a ín-
dia, são os habitantes -de ambas estas regiões distantes, de ~
certo modo, antípodas. Daqui·· querem alguns pios teólogos m-
ferir que a graça pedida pela mãe dos filhos de Zebedeu ao
Cristo Senhor, para que pudesse um de seus filhos sen~-se
à sua direita e o outro à sua esquerda, teria sido concedi~
Isto teria acontecido estando o Santo Jacó, como se acredita
firmemente, sepultado em Compostella, não longe do Cabo Fi-
nisterra, habitualmente chamado Cabo da Estrela Escura, e o
outro apóstolo, João, descansando na índia, a terra do sol nas-
cente. Portanto existiam antípodas já há muito tempo, :inde-
pendentemente de que no tempo de Agostinho, o Novo Mun-
do, América, no · hemisfério inferior, não estivesse ainda des-
- coberto.
Alguns teólogos, especialmente Nicolau Lyra, {44') que tem
Iama aliás de .ser um homem excelente, são de opinião que-
º globo terráqueo, o mundo, flutua mergulhado nágua pela me-
tade. A parte habitada por nós emerge -da -água, a outra fica
por baixo e tão completamente· embebida nos mares, que nin-
guem nela pode habitar. Tudo isto está em contradição com
a ciência, com a cosmografia, e ultimamente ~ espanhóis. e
portugueses descobriram, nas suas numerosas viagens maríti-
mas que, bem ao contrário, toda a · terra é habitada, mesmo
nas zonas quentes, no que os nossos antepassadas e as aut0res
primevos não queriam convir. Nossas especiarias de todos os
dias, açúcar, pérolas e · outras mercadorias semelhantes, vêm-
nos dessas regiões. ·
, .
antipodas e as med1çoes -
Estas asserções; aparentemente contraditórias sobre os
.
dos ' intencio-
corpos .celestes, expús eu
nadamente, a-fim-de justificar minhas já referidas conclusões.
44 ) -
Franciscano faiecido em Paris a 23 de outubro de 1340.
Expurgou a . bíblia de t~dos os termos imprõprios (Letts).
33.
. 't das muitas outras cousas semelhantes·
Poderiam ainda, ser c1t a der-me demais· para não molest~
não quero poren1 es en
o leitor. ,. . e odem encontrar no livro do di-
Argumentos idenbcos sar PGoldtworm, (4~) o diligente Su..
gno e erudito mestre ªªZteza e Pregador em Weilburgo. o
perintendente de Vos~a esso e relatará, na sua sexta Parte,
livro será em breve imJf~ e aparentes absur,dos dos tempos
muitos milagres, maravi ª~ 'tor que quiser esmiuçar esta
antigos e novos. Ao ~ 0!11 ~:vro' e outros, que tratam do mes:
questão, indico eu aqui este 1 o de Galeoto, (46) sob~e cousas
mo assunto, como P?r ~xemp 0
aparentemente incrive1s. _
Assim estará provado, com suficiência, que nao se deye dar
reci itadamente por mentira · aquilo que ao hom:m simples
p p t h · ·c ompreensível como na narraçao presente,
parece es ran o e in ' 'Ih (47) -
as indicações sobre os habitantes nús das I as, . que _nao co. .
·
n h ec1am nen h u m ani'mal doméstico para sua abmentaçao,
, ·d nem
porcos, vacas ou cavalos, ne~hum objeto ~or nos usa o, como
vestimenta ou cama, ,nem vinho ou cerveJa, ou cousas seme-
lhantes, e com que, a seu modo, deveriam manter-se e acomo-
dar-se.
Para finalizar este p~efácio quero ainda expor, brevemente,
o que levou Hans Staden a mandar imprimir a narrativa de
ambas as suas travessias marítimas e a estadia numa terra es-
tranha. Pode muita , gente interpretá-to mal, como se quisesse
com isto co~seguir f~ma, ou fazer-se um grande nome. ~le
mesmo m'o expô~ muito . düerentemente, e acredito piamente
que êle, de fato, pensa de outro mo~o, o que se pode depreen-
der de algul'Il:as .passagens da sua narração.
Atr.a vessou vicis~itudes de toda a sorte, süportou muitas
dificu~dades,. esteve .1 ta.nt~s ·vezes em tão ~ande perigo de vida,
q?e nao pod1~ esperar h~rar.-se e voltar. a sua terra. Deus, po-
rem, a quem ele , se~~r~ implor?.u c~eio .de confiança, libertou-o
d? poder dos s.eus .1~um1gos. Alem disso, pela sua fé e suas ora-
çoes tocou muitas vezes ao Senhor, ·de modo. que êste se deu a
1 1
34
· · nht.: .r a infi ~i~. n fun ... i ' qlll' vl~~u m """' u llt tn jlrnti0 '
,-emadeiro 1 "'·n~w.\ ~li \Õ~\ \' lin ~\U\ c.1l''=l\'bt•\ m\ln .• 1nl! t1t
t.' H
1
benl qu O , lt l1f\O d~Y \ t"'\\1 ~\U\ .1" (', lmpm• t\ \lum ti\ \l
pedido. co1u tem. nwdirla: mns ~t l '\lS \wrmlUu. l""' lO• lc
de Hans stad i. qn e..:~ pngi\os: R't nHos cm\ h o ., ~.ltH\\ HOUN m lln
gres, nada po...~ a iss " :m t Rhn\
É porêin b n\ sabid qnt.' ntli':.'0 ~, \'\'\l~ r'l't.n, \n t't \'t.\m lo '
doença levrun em gernl os hmnons n Dt ns, e tl\Orlo q u ~ o h\ '°'"
cam ·en1 sua ru1gústJ.a. l\!Iuitos mrUgntn nt :rnsh'n nRh·nm, <:~ Ol\
forme ao rito católico~ dirigindo-s n nlt~urn Smüo, pt.·01n ·,·t:t'\\...
do-lhe uma ron1aria ou uma of ·-r ndn, $ ôl" os nu .. "lli.o~~ ' ll\
sua dificuldade. Tais pr01nessas silo 1nnntidos ft ln nt: ' t'.!'C to
por aqueles que queren1 impingir a s Hntos tunu t. ·n1m-
ça. Assim relata Erasn10 de Hot rdmn, nos nn "l'!\ÇÕ ~ d tl Ull\
naufrágio, como um hon1e1n no nrnr pron1 -t ~u a f\o ristovnm
- do qual em uma igreja de Paris exist un1 quncko d' e rco
de dez côvados de altoi que parece u111 nonn polif 1110 -
um círio tão grande con10 o quadro do San.to se ~l o njuduss
nêsse perigo. O vizinho dêste homen1, que estavu pr s nte e
lhe conhecia a pobreza exprobou-lhe tal pron1 ssn, dizendo-Ih
que nunca poderia êle conseguir a cera necessária pnra essa
vela, mesmo que vendesse tudo o que possuia sobre ll terra. Ao
que respondeu o homem , segredando-lhe baixinho a-fim-de
que o Santo não ouvisse: Se êle acudir-1ne nesta aflição, dar-
-lhe-ei no máximo uma vela de sebo, que custará um vinte1n.
Outra história de um cavaleiro, em um naufrágio, é be1n
parecida. Como visse o cavaleiro que o navio ia afundar, in-
vocou São Nicolau; êle lhe ofereceria seu cavalo ou seu pagem,
se o Santo o socorresse em sua desgraça. Isto ouviu o servo e
disse-lhe que tal não deveria fazer; pois como depois cavalga-
ria? O fidalgo porém respondeu-lhe furtivamente, para que o
Santo não o pudesse ouvir: Fica calado! quando me houver
ajudado, eu nem lhe darei o rabicho do cavalo!
Assim quiseram ambos iludir aos seus Santos, esquecendo-se
depressa dos ~enefícios _rec~bidos. Hans Staden se propôs porém,
com a narrativa e pubhcaçao de sua aventura, louvar e agrade-
cer a Deus e, com espírito cristão, dar a conhecer ao mundo
todo sua comprovada misericórdia e graça, não querendo pas-
sar por um homen que houvesse esquecido os benefícios divi-
nos. Se esta não fosse a sua intenção, que se deve reconhecer
como justa e honrada, poderia êle ter-se poupado fadigas e tra-
b~lho, tempo... e d:spesas exigidas pelas xilogravuras e impres-
sao, o que nao foi pouco.
35
E porque o autor oíerece e dedica humild~te a Pre
história.ªº sereníssimo e ilustríssimo S~nhor .Felipe, .L&l')d;llt~
de Héssia, Conde de Katzenelnbogen, D1ez, Z1*:genham e :N'i:\>~
seu pi·üicipe e gracioso Senhor, e a fez publica~ em notne da,
Sua Alteza; porque ele, Hans Staden, de há muito, pelo :rn d~
cionado Principe, nosso gracioso Senhor, tem sido posto á e11..
va, em ininha própria presença e na de ?1uitos outros, se~o..
amplamente interrogado sobre . cada referencia de sua via do
e cativeiro, conforn1e tenho reiteradas vezes lembrado, co~ent
máxin1a submissão, a Vossa Alteza e a outros senhores· e p a
' or..
que reconheço em Vossa A l teza, de l onga data, um grande ain·
go da a~tronomia e. . da cos~o?rafia, - dediquei a Vossa Alt~:
za, humildemente, este prefacio. Peço a Vossa Alteza aceitá-!
relevando que não possa todavia dar cousa melhor a imprirn~'
se, em nome de V assa Alteza. ..
48) .
- 0 orresponde a 21
de dezembro.
CONTEÜD'O
37
o guarda da cidade,
Que seria d
navio em sua rota,
Do poderoso ,
r ambos não velasse.
Se Deus Po
1. - A nau do. capitão 'Penteado, ·na qual se engajou Hans Staden como
artilheiro. ·Na flamula do mastr~ central 'vêem-se as iniciais do dese-
nhista ou gravador - D. H. - q~e até 'o presente não se poude identificar.
38
CAPt'rULO l .
62
) - Porto na província de Over Issel, na Hola'n da, ficando na
margem esquerda do Issel. .
líS) - Nome dado antigamente ais regiões da África septentrional:
Marr~ cos, ArgéUa, Tunísia e 'I'rl polit1\nia.
4 ) - 11late nome é multo comum ~m povoações
1
.
das provtncias de
WestfAUa e HA.nover, na Prt1ssia.
39
2. - "0 pois com os portos citados, como os vi em parte na América,
o quantos gráus ficam situados, também como se denominam os habi-
tantes e como confinam suas terras. Tudo isto fiz constar deste mapa,
conforme melhor me ensinou minha memória, de sorte que saia compre-
endido facilmente por qualquer homem inteligente".
40
CA 1TUL 2.
-- -
,_
41
. . . Rei de Portugal, , é habitada
de1ra. Esta ilha, pertencente ao ~ duz vinho e açucar. Numa
por portugueses. E' ten·a feraz, p~o tecemos de víveres e se-
cidade, chamada Funchal, nos ª .as Marrocos que é gover-
guimos para a cidade Ighir Ufrani, em xeri'fe 'Ela pertenceu
, · d os m ouros ' umfoi-lhe ·tomada pelo xe-
nada por um prmc1J?e
anteriormente ao Rei ~e Portu~a' 1 ma~vamos encontrar navios
rife. No porto de Ighir Ufrani espe~ com os gentios.
que como já foi mencionado, comerciassem
' , . . d costa encontramos
Quando chegamos as vizinhanças a ~les que havia
muitos pescadores castelhanos e soubemos p~r , vamos surgiu
navios ancorados no porto; quando nos aproxima .'
. · d Nós 0 seguimos e o
dêste um navio inteiramente
.
carrega o.
, scapou em um arco.
b
aprisionamos· a equipagem porem e . d
Avistamos e~tão um bote que jazia abandonado na pr~ia, 0
q ual poderíamos nos utilizar
,
conjl,liltamente com o navw cap-
d os dêle Os mouros
turado· navegamos para la e nos apo eram . · d f d"'
' ,
que apressadamente para a1 cava garam1 e quiseram
. . e en e-
lo, tiveram que retroceder à frente , da nossa artilharia.
Com a nossa presa, que consistia ,de açúcar, amêndoas, tâ-
maras, peles de cabra e goma arábica, um carregamento bom
e intato voltamos à ilha da Madeira. Despachamos os peque-
nos navÍos para Lisboa, no intento de ~elatar ao ~ei o fato _e
consultá-lo sobre o destino a ser dado a presa, pois pertencia
em parte a mercadores de Valência ·e Ca.stela. O Rei respondeu-·
nos que deví~mos deixar a ~res! n~ ilha e_ prosseguir nossa
viagem; nêsse . interim colhe na ele inf ~rmaçoes exatas.
Agimos como ordenara e velejamos de . novo para Ighir
Ufrani, para ver se poder~amos conseguir miais alguma presa.
Não teve sucesso porém ô nosso empreendimento. O vento era
muito desfavoravel na- costa e frustrou nosso plano. Na vés-.
pera de Todos os Sant~s, .à noite, partimos, sob violenta tem-
pestade, da costa marroquina e rumamos para o Brasil.
Quando nos achavamos .em alto mar, a quatrocentas mi-
lhas da costa ·de Marrocos, aproximou-se do navio enorme
quantidade de peixes e apanhamos muitos à linha. Entre ês-
tes se encontravam .grandes atuns, chamados "albacorás" pelos
marujos; peixes "bonitos" menores e às vezes "dourados".
Havia tambem muitos peixes, do .t amanho de arenques, que
tinham asas de ambos os lados, qual morcegos. Quando per-
cebiam atrás de si peixes grandes, dos quais eram muito per-
seguidos, levantavam-se em elevado número e voavam por
sobre a superfície d'água, cerca· de duas braças; alguns, tão
longe que se perdiam de vista. E mergulhavam nagua de novo.
42
~ - nlt:w \ 1P 1WH nn t'\Wn1d.rnmn11 11u 111tvlo P•'l11 1n11nh 1, qut ndo urn
:-o '\l vt'\o d\H'l\l\t.n H nultc (•ní1·nrn . lllin poa•l.11guú11 churri:.nn.. 8c
P<'l .'t\'l \ ondore:i,
Ap\·o · h\HH\\\H H\N, dt IH>lr1, do ll~qu11d014. ·11:t•n 1d muito qucn-
1
•t'. }hlts < ~~ol du nu ~ ln dia t.otuhovn n plllO 11uh1·p nÓ1i <J pt'bJon ...
f"':l\ n '<' H <~ nlnuu·ln lHH' dlnn nfo't•n. A noil. , ú11 vozt n, .reb ·rrtn-
·--
-__.
4. - Mostra lghir Ufrani (Cape de Gell) e a captura do navio mouro.
43
que nos ffilf.nH~wrn vívcrm-1t M< õlo 1ündi\ ·v rdu,
cea:notse'YY'lpo Ho['u1-r1os on l:fio H DeuH por Vt t t:o~ ínv· o\~~~~s.. ' ~()"
roam ,.lU • - , • - J.l\V~i~. '
Uma noit, sob :foa:t:c v ·~ndnvnl, t.tvc1noH qu' lutnt
rnente. Aparcccrmn -n os ent:fio f~obrc nnvlu lnttil· P l\()~n ..
azucs, como u nuncn havlu vh.;t:<~. l!n.a:-; d<.f:iU[ nr 'clntnd~ /\l1.~s
as V agas batiarn ú JJ.cnt"' do navio. Ü1' 1 ortu ues '$ di~ ~t\\tdo · ~~l!t·ntl\
44
u ,Ct ... .rpus
, Sanctum
• · Ao · 1•omper d o d'ia o tempo me Ih orara, 1e-
\"3ll anao-se •
\ ento fa\~or·a
e: · ve 1. v·imos pois
. que as 1uzes d ev1am
.
.ser t m m1lagrG de Deus.
Velejamos então d.
84 dias d ... · . d . para . iante com bons ventos e divisamos,
. . .- epois e termos visto terra por último a 28 de J. aneiro
ae 1;)'48 wn t · '
.
aI en1 a 1·cancan ou eiro no cabo de Santo Agostinho. Oito milhas
1os 0 rt d
h av1am-- fun->"dado uma po o e Pernambuco, onde os portugueses
-
. . . povoaçao por nome Olinda (5 5) . Entre-
gamos ~s pns10neiros a Duarte Coelho ( 56 ) , o comandante do
l~gar. ?e:embarcamos tambem alguma mercadoria, que lá
ficou; li9:wda.z:ios nossos negocios no porto e tencionávamos
prosseguir a viagem para fazer carregamentos.
55
) - No _original de Staden estâ Marin. Teodoro Sampaio quer
Qne es~a denommação seja porque os indígenas começaram a chamar a
P<n·oaç~o funda_da ~:os brancos pela designa~ão de "mairi'', que quer
dizer _cidade. Cf .. ed1ç.uo de 1930, pág. 32. Southey, Hist. Brasil, cit., I,
SO,_ diz ~ne Mann era o nome da aldeia indígena no local onde se conB-
truiu Olinda, que ainda por algum tempo ficou se chamando dessa
f6rma. .
,
56)
-:
os .. .
pns1oneuos eram degredados de Portugal, que se man-
.
davazi: Entao p~ra o _povoamento do Brasil. Duarte Coelho, pelo que te-
mos lido, constitue amda um problema histórico. Para não citarmos de-
masiada bibliografia, indicaremos aqui apenas Varnhagen, ed. Weisz-
flog, "VOL I, pág. 171, onde vem um resumo da sua vida e a conclusão
de qne era filho de Gon~alo Coelho, capitão..mõr da armada de 1503 ao
Brasil. Desenvolvidamente tratam dêste donatârio de Pernambuco, Car-
los Malheiros Dias, em "A expedição de 1503", na História da Coloni-
zação Portuguesa do Brasil, Porto, 1923, vol. II, págs. 300 e segs.,
Pedro de Azrevedo em "Os primeiros donatários", na mesma obra vol.
ill, págs. 194 e segs. e Braamcamp Freire, Brasões de Sintra, cit., vol.
II, págs. 213 e segs. Possuimos nm "NobiliArio" manuscrito, em dois vo-
lumes, cõpia feita em 1736 por Anes .Amado, do trabalho de d. Antonio
de Lima ·Pereira, escrito no século XVI. Por êsse "Nobiliário", vol. I,
págs. 169 e segs. se vê que os Coelhos provêm de Egas Muniz e que o
primeiro de que se tem noticia em Portugal, chamou-se Estevam Coelho
e foi casado com Maria Mendes, filha de Soeiro Mendes Petlte, tendo
tido o casal os filhos João, Soeiro, Estevam, Maria e Pedro Coelho. Dêste
último, que foi fidalgo honrado em tempo de d. Afonso IV e um dos en-
volvidos, segundo o "No biliário", na morte da rainha d. Inês de Castro,
por "cuja causa. El-Rei lhe alcançou o coração estando vivo" e de sua
mulher d. Aldonza Vasques Pereira, nasceram Gonçalo Pires Coelho e
Egas Coelho. Teve êste ultimo um filho por nome Pedro Coelho, que foi
grande soldado no tempo de d. Afonso V, com quem se passou á África e
morreu pelejando no terceiro assalto que se deu a Tanger. Foi casado com
d. Inês de Ataide e teve por filhos a: Egas Coelho, Gonçalo Ooelho e Ni-
colau Coelho. Egas Coelho, casando-se, teve entre outros filhos a Duarte
Coelho que foi o discutido donatário de Pernambuco. Gonçalo Coelho, que
vinha a ser d~sse modo tio de Duarte Coelho, foi o capitão-mõr da arma-
45
CAPfTULO 3.
46
CAP1'1'U LO 4 ..
47
b rcas. Trouxeram então
. "uzcr~nos naB ªt1·rararn no espaço exis..
m111un .L
, ín lim~ n11 t 1n 11 · trJuchc1ras
• • e os a
- . am mcen di'a-1os e Jogar
·
.t1lllo:1 tJt ·o.~ de rH 1iu11c . os botes. QueA · ri ·f umaça nos obrigaria a
I1 dr
f(\r1lt' C'11t. r e a
11 r nt n ·
que uí rne e: a ·
porém levar a cab o seu
· · . inwn .u gu1ram , Ass·
i\11 chnmn:j p . . ·cus. Não conse . . de novo a mare. un
nbnndon111~ w1 ~~...1 entremeio voltou
plnno, po1N n :-l:JC
48
s mi.., or . .·· 1 · uo bn ', no ti 011co 1 e no sutUJ copan amarradas
plant t .·,pudeirn ou clp6. Esta plnntn cresce como
P r rn e: mnis gt o sn. Mantinham oa índios ao pontas
'ln s u 'ntrh1chcirnm nto, e pretendlom, à nossa pas--
m u. · -las de rnodo que as árvores quebrando-se se aba-
ll\ sobr · nossas bnrcas. Avançamos e a( atravessamos, por-
prún ira árvore tombou para o lado do seu esconderijo
. outra nágua, um pouco atrás do nosso naviozinho. Antes
de ron1per caminho através dos entulhos, que restavam desde
nossa ida, gritamos pelos nossos companheiros que se acha-
vam no local sitiado para que viessem em nossa ajuda. Quando
porém principiamos a chamar, gritaram os índios de permeio,
de sorte que os nossos não nos puderam ouvir. Não podiam
êles ver-nos tambem, visto haver uma capoeira que nos sepa-
rav~. Estávamos entretanto tão perto uns dos outros que ~o
der1am bem ter-nos ouvido, se os índios não houvessem feito
aquele alarido.
Por fim trouxemos víveres à povoação, e como os índios
viram que nada conseguiriam, fizeram a paz e foram-se de
novo. O cerco tinha durado quase um mês. Dos índios, alguns
pereceram; de nós cristãos, porém, nenhum.
Certüicamo-nos assim de que os selvagens haviam aban-
donado a sua causa. Retiramo-nos portanto para o nosso na-
vio grande, que jazia deante de Olinda, tomamos água e fize-
mos carregamento de farinha de mandioca, o quanto nos era
necessário. O comandante da povoação de Olinda nos agra- ·
deceu.
49
eonto_> ºº
p·a r.t•1m. _.., de Pernambuco
. e
lcançamoe,
t .ª
íb te
cn1 l ara a, a - rr8· dos Pobguaras,
· -, encon
b te rando
um navio . france"s
· com o qual
·_ nos a . mos.
ia ao resgate ~ ·salu-lJhe uma zavra que ia com ela e foi-o seguindo tanto
que o alcan...;ou e andaram âe bom bardadas e espingardadas e frechadas
de maneira que quiseram abalroar com êle, ·mas os frecheiros com a mais
gente não no consentiram e mataram-lhe o mestre e feriram alguma gen-
te da que ia nêle e dos franceses morreram cinco ou seis e outros muitos
foram feridos por causa dos frechelros que os trataram mal 'e assim se
51
.. ·tugal. Quando partimos con.
. . e outros para por os navios aproximadarnenl\lt\..
a :r~spnnha, . ·a montavam . u . menos a 8 d te a
" t;) de 'ferceu ' L'sboa mais o e out
ta.men e Chegamos a I d d zesseis meses. \l..
uma centena. , viagem e e
bro de 1548, apos uma (ª2) e tomei a deliberação d
Aí descansei algu1?. temps~as viagens para as novas terr e
acompanhar os esp~: e~eixei assim Lisboa num navio h:,
de q· ue estavam · deuma P c1:da de chamada Porto . de Santa '.LVJ.
h a..
glês e cheguei a d 0 s .ingleses queriam carregar Vinho
ria (63), em C~stela,, on 7d de de Sevilha e encontrei três na~
Viajei mais alem ate ª ci :ra uma viagem ao Rio da Prata
vios que .~e apr1st~v~: l?ranto esta região, como a terra ric~
certa regia o da ,mer1 . foi descoberta há poucos anos, e o
de ouro do Peru, que , .
Brasil constituem um so continente..
'
A-fim-de tomar posse das terras do ~io da ·Prata, foram
enviados navios há alguns anos, dos quais um · voltara· (64 ),
Pediu auxílio e relatou que a terra devia ser muito rica em
ouro. Ao comandante dos três navios, d. Diogo de Sanabria,
cabia tornar-se o lugar-tenente do Rei naquelas paragens.·
Embarquei a bordo de um dos navios, que estavam muito
bem equipados, e logo partimos de Sevilha para São Lucar na
e~bocadura do G~adalquivir, rio onde se encontra Sevilha. .
Aí permanecemos a espera de vento favorável.
alargaram dêle8" . .
- Madrid, 1854 ·::- Varnhagen - Historia .
frequência dos navl V~I. I, pâgs. 453-454 d~ Brasil - Primeira edição
62) _ ~ "os ranooses, Por essa ·ê - omprova-se d~sse modo a
um ano. ase algum tempo'' d ci poca, nessa região.
63
) - Port e otaden co mpreende pouco mais de
64) - .. o Pouco acima da
1545, Alvur/>eN,,e ser o navio emfoz do Guadalete
lnõ J • unes O b que v lt •
r oilo Sanches. ª eça de Vaca, 0 capi~ã:ram para a Espanha, ell'.l ·.
João de Salazar e o piloto- ·
52 .
1
CAPiTULO 6.
65) - Staden errou aqui o ano que foi 155-0 e não 1549, pois é
bastante sabida a data d~ particlu de São Lucar de Bnrrameda da pe-
1
53
nie ntl v
~ a direção, afastararn \o\
· t ..",()s
{orl · J11C ~~a Somente em Se embro ~
inc 11., c~cs so ~
f' \ l11
, dP no~sa ro. -
t··1 ceI ,. .
- demos tornar o r umo sul-s-.J(),
uatr n1-s ·s n 1'.T ·te Entao pu '\l..
q ;1 do .l "' 11 •
prnrmn ~ es , \n1 · rica.
st - para ,1 .;,.
~ · ~~
~~--~-· ·
•• • • • 1
·--
_,...;;:
.......•
1 1
54
CAPt'l'ULO 7.
68) - Era João Su raclrns, un tm·ul tle Bl8cn ia, como Já se referiu.
55
mos e fizemos secar
aescan Sa
dcsgrnçu;
. l do ntl
. 11 !~ nJtl n
.
ou menos d uas h oras
.•
"'n~ H'1 - .
t' ~ • • ,.l'$l 'S. . .
.
ser1a1n de canoa e h eia
rna1s · d e sel..
1 w~~n~ s [c1 ro, gran nh d .
. d hln\·t.uno . .. veiu tUUª os mas ne um e nos
~~'ª:' p do cscur~cci:QueriaJll falar-n ~-lhes algumas facas
dn l:H l . os o nuv10. . língua. Dern
'n[rt.'ns no nd be111 a sua
l.
·, l\tcn e1
po \,\
.56
g·ndo ~\ . po~·to, pois que, senrlo-1hes llst c bem conhecido não
l Ol!l'Hrmn1, 'lltr "bu1to . I · b ,
tcui ·~~t~\d :\ E . · ' . n e lnçar u urra dur nnte semelhante
. P d ~ · · l\tfio lhes i1urrmnos exahnnente como n6s em
: ,ra gus,
rn ' 10 . o ' e n. t o e· d -.•'\S
}
.. qtrnse naufragamos· como nao
. . ' ti-
'
n u~nios nuns esper~\l1ças, certos de que perec~ríamos · como
nt·~o d. '"' r epente d 1v1snn1os
' · · · e como Deus, de' impre-
1
· • ... -. . • · ' a entrada
' isto, n os RJudou. e nos salvou do naufrágio. Não sabíamos
t an1be1n onde estav m11os.
Ouvindo isto, ad1niraran1-se inuito êles, e agradeceram a
De~18 •00 O port.o l~o qual nos achávamos, chamava-se Supera-
gm (_ ) e. d evia flc :.u · ·a cerca de 18 milhas (7º) distante da ilha
d e S u,.? Vicente, que pertencia ao Rei de Portugal. Lá mora-
va1n eles, .e a gente que nós tínhamos visto com o pequeno
navio, fugira porque nos haviam tomado por franceses.
Perguntaino-lhes então a que distância ficava a ilha de
Santa Catarina para a qual queríainos velejar. Responderam
que poderia ficar a umas 30 milhas ao sul. Lá morava uma
tribu de índios, que se chamavam carijós (71). Devíamos nos
acautelar bem dêles. Porém os selvagens da região de Supe-
raguí, onde nos achávamos, os tupiniquins, eram amigos, e
dêles nada tínhamos que recear.
Por fim perguntamos a que latitude ficava Santa Cata-
rina, e sua informação - a 28 graus - estava certa. Deram-
nos ainda indicações de como poderíamos reconhecer a terra.
- -----
57
CAPíTULO 8.
59
· -·:::::-
10. - A ilha e o porto de Santa Catarina, com a aldeia de Cutia á dtrelto
e no continente, em face á ilha, a cruz encontrada pelos navegantes. O
momento é aquele em que as canoas com selvagens acorriam ao tiro de peço
disparado do bóte espanhol que explorava a baia
60
.rem t er n avios de Sua Majestade, devem dar um tiro e terão
respoot a ".
• o. de ar-
Retrocedemos depressa para a cruz, demos un1 t ir
tilharia leve e voltamo-nos para a terra. Logo avistam~,
como navegás.5emos nessa direção, cinco canoas repletas e
fndioo, que remavam direito ao nosso encontro. Aprontamos
nosso canhão. Como porém êles se aproximassem, reconhece-
mos um homem que usava vestes e trazia barba. Estava em
pé, à frente da canoa. Devia ser um cristão. Gritamos , que
precisava aproximar-se com sua canoa para que lhe f ala~e
mos· os outros deviam permanecer distantes. Quando assim
sucedeu, lhe perguntamos em que região estávamos, e êle dife~
"Estais no porto de J urumirim (7 .. ) , como chamam os se ~a
gens ou para compreenderdes melhor, no porto de Santa a-
' ' .
tarina, como o denominaram os descobridores ·
,,
Alegramo-nos portanto, pois era o porto que procuráva-
mos. Estávamos nêle e não o sabíamos; tínhamos chegado
mesmo no dia da Santa Catarina. Por isso podeis ver como
Deus trás auxílio e salvação àqueles que o inv ocam cnm fé,
em sua desventura.
O cristão perguntou então de onde vínhamos, e respon-
demos que pertencíamos aos navios do Rei da Espanha e que-
ríamos seguir para o Rio da Prata. Havia ainda mais navios a
caminho; esperávamos que êles, se Deus assim o permitisse,
logo chegassem tambem, pois queríamos encon trar-nos nêste
porto. Disse êle que tinha prazer ouvindo t al e agradeceu ao
Senhor por isso, pois êle, havia três anos, tinha sido mandado
da povoação de Assunção ( 7 ~), n a provi nda do Rio da Prat a,
61
litoral, a. uma
, .s para o , , adir a tr1bu d?s cai-1los,
. s espanhol : , ue persu. l ntar tnand10.c a, Para
\ dist~}a
que pertence ;~~has. Tinha a~hóiS, ~ :eivagens, ~e·. º· preci..
de tre zentas igos aos esP víveres . o 'itão Salazar ,<7º), qu~
d
que er am ~un recebessetnd. nado o caP a voltava .em um dos
ue os nav ~s havia or e ha e agor . , ,
q Assun , . Espan ,
sass~Jlll. ado notícias a as suas ' ch9ças, onde
havia ev para · · · ·d
s navios. selvagens . hospedaram a .S~'1 mo o.
out r O "l s nos ·
otn os
Navegamosm e0 cr1s . tão e e e , . . .·
b ' . .. 1.. ,
mo rava taro e . , , .1 1 , , ~,
1 '
1
1 •
• ~ • •
•
,
.. • •
' ,. , ,1 1,
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' 1'' 1
•',\
~
1
1 ' 11
1
1 ' ' 1 1 1
63
CAP!TULO 11.
~ d u~l durante a viagem
Conto o segundo navio, 0 q 0 primeiro
f on1os separados, chegou comd
piloto da nossa esqua ra.
. ., ,. emanas estávamos anco-
Quando havia Jª cerca
. ~ .
de tres viaJava · ·
o prrme1ro p ilo-
r ados, chegou o nav10 no qua . 1 ubemos· tinha-se 'per-
to (7 8 ) • Do terceiro navio nada mais so '
9
elido (í' ) • _ • ia em e armazena-
Preparamo-nos entao para prosseguir. v ~ R' d p· t
· - ·
mos prov1sao de boca para seis mes , es pois ate o io . a ra a
tinh a a1n· da cerca d e trezentas milhas · Tudo estava
(8 º) pronto
· .·
quando, um dia, o navio grande afundou no ~orto ' e assim
não poude ser levada a termo a viagem proJetada.
Durante dous anos ficamos em paragens ermas e passa-
mos muitos perigos. Padecemos grande fome, tivemos que co'."
mer lagartos e ratos silvestres e outros animais . assim estn~,
nhos, que podíamos apanhar, e tambem crustáceos, que se
prendiam às pedras na água, e outros alimentos igualmente
desconhecidos. No começo os selvagens nos trouxera'm víveres
suficientes, enquanto receberam de nós bastante mercadoria
em troca. Depois seguiu a maioria para outras ,regiões . ....Não
devíamos tambem confiar muito nêles.
Assim não tínhamos nenhuma vontade de aí · permanecer
e perecer; resolvemos portanto que a maioria dentre nós · .devia
partir ·por terra para a província de Assunção, que ficava dis-
tante cerca de trezentas milhas ( 81 ) ; os demais deviam, do
78
) - Chegou a 16 de dezembro de -
1 o5-0.
pág. 442. Gondra, obra .cit..,
79
) - Era a cara vela comandada por J oã
80) - Era o patacho "Sã 0 M' l" o de Ovando.
<'hes, foi "deitado de través" igue e que, segundo João San-
81) . •
- O cammho por terra pa A
de rS anta Catarina, foi seguido or ra ssunção, partindo da região
Itapucii, segundo menciona João PS Cabeça de Vaca, que entrou pelo
lhor local para se iniciar tal via eanches! es.clarecendo que era o me-
século XVI para as relaçõ g m. Fo.1 trilha ;muito frequentada no
es entre o Brasil e o Paraguai.
64
m \smo n10 io, pn t•a lli
u' Jt imos
· · Il
"::l 'O t \u pui·k•
' ltuv
·t ''-'Ur
0 corn o nttvlo rci;tunte A êstes
O CH!llt"'
Aqu 'lcs que .
'"
. uo, e cu cstuvu entre. €!les.
· · · s~gmram p 01. l .1. .
res para a CHJninh• d et n (li~) se n1uniram de víve-
. "l n atr '~ d . .. . ·
cc ns1go nlguns índios. Mui~ves o se!·tao. Levaram tambem
os rcnrnnescentes porém h os dentre eles morreram de fome;
tarde soubemos (H3). e egaram ao seu destino, como mais
Tamben1 para nós u f'
para uma viagem po; ~;. icamos, era o navio _muito pequeno
Salazar, datada de São Vicente a 25 de .junho 'de 1553, bem como pe-
la crônica de João Sanches, ficamos sabendo que de Santa Catarina
passaraJ..O os restantes da armada de Sanabria para o Viaçá, em cuja
barra perderam o derradeiro navio, que era a caravela do jã faleci-
do capitão Becerra. Salazar então, com todos que se salvaram, for-
mou um ndcleo em terra, de onde partiram os supraditos emissârios
para Irala. E como não ·possuissem mais embarcação, construiram
uma, .diz João ISanches, com a qual passaram alguns para São Fran-
cisco e os outros, com 'Salazar, foram até São ·Vicente. Staden, con-
densando multo nêste ponto, não combina com êstes três testemu-
nhos. No capítulo seguinte. porém, diz subitamente: - "Deixamos o
porto .de Viac4 ••• "
88) Chegaram a Assuncão a 24 de julho de 1552.
65
CAPiTULÜ 12.
66
,l )~ L -- nrno~i o 't>nt·I< <1'' ·1·m 1)fm~wpo
, • •
1
.)
Vi.
(ll 11 ), que fica
•
a 28 graus
t H1(
1,
lo) dt . lnt.lt.
• i
t lrh tntl ' r nl _,'l"• no1•mo
.,. .. ·
· f1 , e].. opo·i r-i d e e] orn
· d'ias pouco
H\lh,l < U n ( no.a < do umn vl1\an1·n
,..,.. r-.l""~ e orca e] e 40 m1
.. 'Ih as, uma
67
, · imuno~ ancorar, porq,llt: r,
.
\1C U( r uz ~8
C (H 7). Í\J. .PhfCChuyj
....r ll a . ,,.,
a m u itaH gaiVOtWJ 11t;---
.:1 . ~t
l·l11n , ·1 dos 1 .1 to co. nt r·Lt' rio. J."I a
. corno er 'a t empo' hú..C dsua. proerc.~, -.;,.._..
cebfrnnos vct d . s a lca trazcH. ... , terra e na i l a ,cmoa busx.:a
dnhns, ch?11:1ª d·itá-Ias. Fornos .ª os ocas aban d~nadau, cac~
,:-
ç~w,
era factl Jn c;
d água . oce, d . · encontram . . a habitado
outror , esta "lhi (.\.,
à procura e ; dios que havw.m fonte numa rocha . Mat;,~-
de pote.s clost· in bem uma pequena os tambem ovos a b ordo f!
descobrindo ~~ ai votas, trou.xem . .
mos então muitas g
. mos aves e ovos. ao sul pesada t empest ade
cozm 11a ... 1 van tou-se d . , '
D ·s da refeiçao, e , s podido ancorar e · eviarnoa
edo1que dificilmente teri~1n? lançar-nos de encontro ao-.
dcea~~l~r-nos pois o vento poT~nrh1~mos esperança de alcançar,
ª
rochedos. · Era ao ª~ 01'tecer 1 do Cananea
. · , (BB) ' m·as
· ·ca'
· lU a
talv , ez um porto v1z1nho ch~ma os Não pudemos portanto
"l chegassem · · N
noite antes que a e e terra. Era grande o perigo. ada
aportar, afastando-nos da
fi .a vinte e oito graus e mefo.
denominar La~una, dizendo que rtac~lescrição, diz .q ue adeante da ilha
Tambem João .Sanches, n~ sua cait aus e dois terços, estA uma lagu.
de Santa Catarina, :' ªº~, vm~e de ~o~rf;~ de Acufia, na sua _carta u datada
na que se chama Vmçú · EJ • d ·unho de 1527, menciona a bafa
da Feitoria de Pernambuc o, t
15 lt: ~raus e meio''. De fato, Gandfa,
ª
dos Patos que ~stâ em v1n e e ~firma .ser 0 porto do Viaçá o mesmo
baseado em vários ~ocument~=~ta Catarina. Essa a opinião aceita por
que o porto dos Patos, em t . Uf Ga.ndfa "Los primeros ita-
uasi todos que discutiram n ma eria. . ' " . -
q ,, 't pág 97 _ Padre Luis Gonzaga Jaeger - As mvasoes
~an~!i;fil~~e·~ no Rio ·Grande do Sul (1635-1641)", Porto.Alegre, 1?40,
P á gs. 27
a~ e segs e varnbagen - "Historia do Brasil", c1t., 1.ª edição,
pâgs 43 7 Viaçá ·
tam bem compreendia. a reg 1-ao no con t•ment e a que
pert~ncia êsse porto e a propósito escreve Mo~sés Santiago Bertoni, na
sua obra "La civilización Guarani", Puerto Bertoni ( Paraguay), 1922,
págs. 427-428, que muitos autores têm na conta duma só nação os
carijós e os mbiâs, porque os primeiros tinham, "sobre la Laguna de los
Patos, el puerto de Mbiaçá". Trata-se no entanto, a seu ver, de duas
nações bem distintas, sendo ' que os mbiâs, provindos do Paraguay, pen.e-
traram fundo no Brasil e formaram o país de Mbiaçá (Viaçá), que v.i-
nba desde o Paraguay .até as cercanias de .Cananéa, passando ao norte
do rio Iguassú. Os mapas antigos · assinalam de fato essa região e UI·
rico Schmidl vindo do Paraguay para São Vicente, contemporaneamente
à estadia de Staden, refere-se ao pais dos viaçâs, que atravessou cami·
nhando cem léguas e vindo ter a um lugar chamado Yerubatiba (Juru-
batuba?), daí alcanç-ando em pouca distância a Santo André onde co-
nheceu ~ :esidência de João Ramalho. Cf. Ulrico Schmidl -'- "Derro-
tero Y viaJe ª Espafia Y las Indias',' - Traducido del aleman segun el
o r g1°ª
1 93 8 -
1
dpel\ Stuttgart
ngs. 166-177.
Y comentado por Edmundo Wernicke - Santa Fé,
68
mnis . sp r{~vmnos s 'HÜo qu o embate das vagas despedaç~5?e
nnvw. pois ll ~ 'ncontrúvnmos próximo de um promontono,
ond' m> ondns sao mais ultas do que longe da terra, em alto
Jl):\1'.
Durnntc a noite ficamos tão afastados do continente que,
pe~n manhu, estava ele fora de vista. Depois de passado tempo
av1s~tamo-lo d~ novo, porém a tempestade era tão forte que não
podmmos mais nrnnter-nos. Pareceu então ao homem que me-
lhor conh · eia a região que tínhrunos a costa de São Vicente à
nos~a frente. ?eguin1os para mais perto, mas nuvens e ne-
voeiro nada deixavam reconhecer e tiven1os de lançar ao mar
todos os objetos pesados que trazírunos a bordo alijando o na-
vio dos vagalhões enormes. En1 grande angústia navegá'\ amos
ao acaso, esperando encontrar 0 porto onde os portugueses
n1oravan1. Falhamos porén1.
Quando as nuvens se entreabriram de novo um pouco, de
modo que se podia avistar a terra, declarou Romano acreditar
que o porto estava defronte de nós; devíamos dirigir-nos di-
reito a um rochedo; o porto ficava atrás. Para aí seguimos.
Mas quando estávamos perto, nada mais que a morte se nos
deparou. Não era o porto. O vento ia nos atirar de frente
ao continente e afundaríamos. Os vagalhões batiam de en-
contro à costa, num lance medonho. Invocan1os a Deus pelas
nossas almas e portan10-nos c01no soem portar-se homens do
mar atingidos pelo naufrágio.
Perto do lugar onde as ondas rebentavam de encontro à
terra, levantaram-nos elas tão alto que podíamos olhar para
baixo como de cima de un1a íngren1e muralha. Ao primeiro
embate, partiu-se o navio. Saltaram então alguns de bordo
e nadaram para a terra; agarraram-se outros a pedaços de ma-
deira, conseguindo tarnbe1n alcançar a praia. Permitiu assim
Deus a todos saír com vida do naufrágio; ventava e chovia tão
violentamente que estávamos totahnente hirtos de frio.
69
CAPíTULO 13.
70
trabalho qualquer a fi
todos os nossos n~vio-s m-~~ ganhar seu sustento. Mas como
um navio português (º~) ivessem perdido, mandou o capitão
do resto da equipag~rn ao ,Porto. d~ Imbeaçã-pe, em busca
' que la havia ficado. E assim foi feito.
----
CAPíTULO 14.
71
·~ -... ~~~"-Llll.'~
~~-~-~'- ~\'.
' .
-~
-
12. - Assalto dos tupinambás contra os tupiniquins e portugueses. lem~s
dqui outra ótima vista de conjunto da região. No lagamar de Enguaguaçu,
este§ uma ilhd com a denominação de Brás Cubas. No litoral, em frente a
essa ilha, um engenho de açucar. Segue~se o ccrnal da Bertioga, até o forte.
Na ilha de Santo Amaro, vê-se a pequena vila dêsse nome e no ponta da
Armação, em frente á Bertioga, está uma casa com a legf!nda: - "O baluarte
onde eu, Hans Staden, estava".
vocábulo tupi quer dizer "para a enseada", interpretação essa multo apro·
ximada da de Teodoro Sampaio que traduz "no lagamar grande". Staden
sõ escreveu a denominação "Santos" no capitulo 38, da 1.ª parte. Nas
xilogravuras e no mapa assinalou com um "S".
72
tribu. Os inimigos ao 1 - ...
tupinarnbás :Ê t _ su sao os car1Jos, os do norte chamam-se
trários taba.. , s es sao t~~e~ denominados pelos seus con-
Jaras, 0 que s1gmf1ca simplesmente "inimigo" ('M)
ed.ausaram aos p or t ugueses mm.tos danos e por isso, ainda nos·
ias presentes, devem acautelar-se dêles.
CAPíTULO 15.
73
Amaro ('"') e o continente e m d ircçfw n Süo ,Vicent~. .Esta
passagem quedmn alg uns 111arnclucm;, dtlsc~ndente~ de l?d1~s e
cristãos ilnpossil.>ilitar aos tupi1!umbús., E~·um ... c1.n~? 1r~aos.
Seu pai era un1 português, sua m ae m:na .india b1 as~leir~. Er~m
çristãos~ igualmente hábeis e experi~ntes na urte. ~u~rrc1ra
ta nto d.êstes, con10 dos selvagens, do1n1nando a~nba. .s as hngu~s.
O ruais velho chamava-se João de Braga, seus ll'maos a seguir:
Diogo Domingos Francisco e André de Braga, e seu pai era
Diogo' de Braga (u1). Cerca de dois anos antes da min.h~ c~e
gada, haviam resolvido êstes cinco irmãos, com tup1n1qums
amigos, construir em Bertioga, à maneira dos selvagens, um
forte para defesa contra os adversários e realizaram a sua idéia.
Tambem alguns portt~gueses com êles se estabeleceram, pois ~
terra era boa.
Seus inimigos, os tupinambás, cuja fronteira fica mais ou
menos a vinte e cinco milhas distante de Bertioga, observaram
isto e é'rmaram-se. Uma noite vieram em setenta canoas e
atacaram, segundo seu costume, às primeiras horas da madru-
gada. Os mamelucos e portugueses retiraram-se em uma casa
?e barro e defenderam-se. Os índios porém permaneceram
Juntos em suas choças e aí resistiram como melhor lhes foi
possível, de sorte que muitos atacantes tombaram. Afinal os
t~pinambá~ .ven~eram. Incendiaram a povoação de Bertioga e
fizeram prIS10neiros todos os selvagens. Mas aos cristãos - de-
vi'!-111 ser oito - e aos mamelucos,' nada puderam fazer-lhes na
casa, pois Deus quís protegê-los. ·
Os agressores retiraram-se para sua terra logo após terem
matado e esquartejado os prisioneiros.
75
,., d lugar. Quando os habitall
. 1, examinei a situaça...o eº que entendia um pouco d~
Fui a e ue eu era alemao e que me estabelecesse na
tes so.u~:a~~hões, propuseraz;:~~spreita do inimigo. Pori111J\
maneJo ºlha e que os ajudasse . m bem. Disseram tambein
c~~;aalguma
a1
aI gente e n1e pag~na Rei de Portugal agradecer..
, · saberia o ·ahn
que se euaceitasse isso, um soberano generoso
. espec1 t ente
me, po is costumava ser .
ue 0 ajudavam e assistiam nas novas erras.
para com aqueles q . atro meses na casa. Então
Al servir qu .
Combinei com e es d Rei com navios e construir
devia chegar um encarregado ~e· tinha de ser mais forte. E
um edifício de pedra seguro, q
assim se fez. . na casa com dois. outros
. t d tempo passei eu , .
nh- 8 estávamos porem em gran-
A maior par e o
homens. Tínhamos · alguns c~. ºt
' dos índios, pois . a casa não
de perigo e ~unca ~eguros · ~an ~em que estar- em guarda di-
era muito solida. Tinhamos ~ .t n-ão passassem às ocultas.
· s selvagens a noi e .
ligente, para q1!~ o 'l . . .... vezes Deus porém nos ªJUdou, de
Isto tentaramd
sorte e es adgumabsr1'-los
que pu emos esco durante nossa vigilância.
· d e a l,g uns meses chegou o lagar-tenente · do Rei,
Dep01s " · poiS
a Câmara havia ,escrito a Sua M~jesta~e com que mso1enc~a se
portavam os ·inimigos. que :'inham do N or;e, como era ~onita. a
terra, e que n~o seria avisado abandona-la. _O Ioga~ tene~te
Tomé de Souza (99 ) tinha que .d ar uma soluçao. ~l~ inspec1c:
nou a região de Bertioga e tambem o lugar que a Cai:nara qui-
sera fortificar.
Disseram tambem ao lagar-tenente dos serviços que eu
tinha prestado à comunidade por ter ido para a casa, na qual
nenhum português queria ficar, porque ela era bem pouco for-
tüicada. Isto muito o agradou, dizendo que desejava narrar
tais fatos ao Rei ,quando Deus o fizesse retornar a Portugal e
eu seria então recompensado.
76
Terminado êste tempo devi . .
'OS, voltar a Portu al ª.rn ~eixar-me, sem criar embara-
fugar. Lá devia rec!be no pruneiro navio em que encontrasse
isso passou-me 0 lo r tª recompensa dos meus serviços. Sobre
con10 o recebem . te um. . e on t ra t o em nome d o R ei,·
gar-. enen
. os artilheiros reais, quando o solicitam ( 100 ) .
Construiu-se a fort 1 d
nhões. o forte t ª eza e pedra, pondo-se nela alguns ca-
g iá-los e manter eh oa
es as peças me foram confiados; devia vi-
guarda.
---- ---·--
CAPíTULO 17
77
. :\ud )m ~.r.i cs. ein . gerul u n ia excursão
d ., guert'D...li..
N \ssa 'pocn empt . . •ipr ovisionur-se e viveres. pn 11
. ~ . ,11 1or podei ern .. "' d -. T· . '\;"'
r•t ' 1-f1m d me. . ro de pc 1xes com
. '... . . re e.s. ambny...
p equen as ~~ , .,
c 3 m 1 rande nume · t . ., m inuitos assados para casa. Fa
·
s attrnm com
fle chas. eh 1 aze
a que cham am p1racu1 · '. ..
.~n1 t:nn bem uma fa rin ª
- ---- -
CAPíTULO 18
13• .- Aprisionamento de Hans Staden, n-a ilha · de Santo Amaro, pelos tupi-
1
de Paranaguá, ·em ·1.648, segundo Taques. '"Rev. -.Inst. Hist. São ·P aulo",
1
vol. XXXIII, pág. 190. ·Não sabemos quem· .v ulgarizou que êsses três
personagens, inteiramente diversos, constituiam um s6. Para desfazer
êsse absurdo, basta considerar que para F.Jliodoro Hessus ser o mesmo
que Eliodoro ·Ebano e êste vir ia ser finalmente· Eliodoro Ebano Pereira,
necessitaria êste ·ultimo, que fundou Paranaguá em 164-8, ter pelo me-_
nos cento e vinte anos de idade! Ao leitor curioso desta questão, indi-
caremos ·mais as seguintes fontes: - Melo Morais, "Crônica Geral do
Brasil", vol. · I~ •pág. l5. - Azevedo ·Marques, "Apontamentos Histori-
cos", vol. I, pâg. 179. ·- ·Rio Branco, "Efemérides", ed. 1918, pâg. 297.
79
-
80
s h dt~i do e t11.h1ho um grand' ulnrido como é háblto cn-
h't
s e.
.
' V~\ <'US
·S d.
1
.. · ~ · SS·'\ cn t u correu
- '
·
1 parn mim, e reconheci que
'r'.lll\ Jn io:;. ~ es cercaram-me 1 visurum-m • com arcos e fle ...
ch.ns, e nss 'lí\ar:un-tn . Entilo •xclumei· "QuP Deu' salve
mmhn
. , _~ ~'·tlm·1"
~ "-. ·
M.ª.l t'tnha pronunciudo tais
· ·
pulnvras, abate-
r lm me ao solo, utirand sobre mim e ferindo-me a chuçadas.
Por: m machucaram-me apenas - Deus seja louvado! - numa
P.; 'rna
· ~
1 r·1sgando
" .. . -m . entretanto as roupas do corpo, um o man-
81
etinham. Uns diziam que ha-
putavam con1 aqueles que me r . mo outros queriam pois
viam se acercado tão perto de mun co . , prio Íugar.
ter de mim uma parte, e matar-me no pro
do em torno porque esperava
Lá estava eu, rezando e olhaI?- · me' tomou a palavra
. 1 h f ue queria possuir- '
o golpe. Af ma ~ c e e, q . vivo ara casa, a-fim-de que
e disse que deviam conduzu:-me ~ida e tivessem o diver-
suas mulheres tambeJ? x:ie ~issem com Nessa ocasião haveriam
timento que lhes cabia a minha.
. ,, 18
custa. . b b"d
. t 0 , preparariam e i as, or-
de matar-me a "cauim pepica ' ~' · · tamente. Assim
g anizariam uma festa e devorar-me-iamd
conJUil Tº
pescoço , ive· que su-
convieram e ataram-me quatro cor as ,ªºa· . da ficavam na
bir a uma das canoas enquanto os in 1os ain , ·
_ . t s das cordas ;.a canoa e
praia. Prenderam entao firme as pon ~ ·
empurraram-na nágua a-fim-de seguir para casa.
82
ar~abuz, ( ) olharam em tôrno: Lá estava cheio de tupini-
100
83
!·O
via · tt
.. os ·· ini :tbais.
84
porém que não poderi' ._ .
ge t a, n d.e t upa- t 'ok bun1 , cacHp~ff-lhc
.- . e d1••tu· · ra·m -mn·
no~ , _ ~.
"E mon- '
Isto significa· "Fal ua e umu_nusu Jandó mom aran cima resé».
"" faça nenhum
nos · .. mal".
a ao teu Deus· que- · a g1.an d e t em.pcs t a d e nao
-
14. - Hans Staden prisioneiro numa ilha, durante a vi119em de ret~rno dos
tuplnambás. Está deitado devido a ter uma perna ferida.
85
. da nuvem borras-
• non e nadu 'via , "Okuá
Eu jazia amarra, o nu ~~ .
d ~ra trás e dissera~:
i á
. 0 índios porem olh&Cu atn P tempestade este se
cos~. m:nasu" Isto significa: :"A grane1e olhei . em torno. A
runo . a d ,, Er.gui-me então um pouc.o e D . s
desvrnn . o · A radeci pois a , , eu. ·
nuvein ia desaparecendo. g, ,
15. - Ocar•çú, segunda ·~tapa da 1 viagem 'dt r'etorno dos tuplMmbõS, vindos
dd Bertiogc1. Vê-se Hilns Staden deitado ho fundo da .prlrnelrtt cõnoa e\ es·
querda e rezcindo, a pedido dos sclvtcolas, por a que ' a tc:mp stade se af astc.
----·---~
86
CAPíTULO 21
87
.~1oc•n on d e tive
· q, ue
-
dei-
,lo~ nu e -:w • ui;carupcla-
po is in trodui irnn1-mc . rum but !rnxn- m e , . . , · l· -
D . ", t' e lc novo v 1c ., u ·adorus, como ir an1
t~u1-mt! num a 1cd ., . it·i ·ur nn1-rno, umu ç
,. b '1 , e s1gn e
ram-m ' o . e.\ - uma
d '' orar-nll~. _ ê t tempo reunidos em
. ~, homens estavan1 dur.ante .s e _,_vam em honra dos seus
utr~~choça.Lá bebiam cauun e"' camnt:tracas feitas de cabaças,
" -
ídolos chamados
M·ai..a e:\e ' que
.
sao fetizado que 1'riam fazer-me
os qu ~is talvez lhes houvessern pro
prisioneiro. . hora não houve ne-
0 canto eu ouvia, mas durante mem1~lheres e crianças.
d im apenas
nhum homem perto e m '
88
CAPtTULO 22
89
diante da cho-
era1n-rne
·t udo aceitei. JD]as trou:tuguês: A grandde gtarça
mais resigna d o, ' , , _ ern po · monte e erra
.
Ça do eh '.fc
a~ rutingu . . nçu pequeno .
uu . . · h ·ç a J' azia u1n . . ; . m-rne sobre e e.
"l
. t· , desta e. o · · colocara ·
branca. D . um .e . . a' uzinun e . não que queriam
p aí me con
•!". . .· pensei se
fresca. a1.1 5;;\g't11·aram. Nada mais _ pe.l o . ibira-pema, a maça
Alguxnas me ~ · . . . . torno
rocurava em
sacrificar~ne :e~p~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~,
• 1
90
vado, e com isso raspou-me as sobrancelhas. Quis cortat~-m~
tambem a barba, mas nisto não consenti e disse-lhe que deviam
a~ater-m~ com ela. Responderam as mulheres que ainda
nao qu~riam matar-me e deixar-me-iam a barba. Depois de al-
guns dias, porém, cortaram-m'a com uma tesoura que os fran-
ceses lhes haviam dado.
CAPíTULO 23.
91
17. - Dança das mulheres, em Ubatuba, ten d o no me io Hõns Stade n, qu e
este§ com um ornato de penas na cabeça. Ao ce ntr o, aci ma, v,ê -se dud s ilh ~s
bem ·em frente ao litoral da aldeid.
92
CAP1TULO 24
93
CAPt'rULO 25
. ~
Conlo os 1r1nt1os, que nte h aviam· aprisionadort' queixa-
ra.n1-se .n .
mnn, .
cheios d
e
'I era, que
co -
os . po "Iugueses
--- tinluun· atirado
·. o seu pai.· 1st o queriam e es
vingar em mim.
'1:
CAPíTULO 27
------
96
';01uo nte e d ·
.. ou uz1ran1 ao Cttnh b -b
It h am e e, seu mais
a o e efe, e como lá me trataram.
110) - Ariró~ que ainda boje existe como nome da serra que se-
l ~trn, n oeste, o Estado do Rio -de Janeiro do de São Paulo. Nela na'8ce
0 rio tnm bem dêsse nome, que vem desaguar na bafa de Angra doe
Reis. A aldeia de Arirõ está assinalada nos mapas antigos, nessa baia.
1 u) _ Cunham bebe, segundo Varnbagen, significa . "O voar. da
Ih ,, Teodoro ·sampaio impugna essa interpretação e diz exprimir
rn • ~~b • 10 " 0 . indivíduo que fala arrastado". Outros melhora~ o por-
11
o ' ' oc(_ u • nifica "o gago". Houve pelo menos dois chefes
t uguês para dizer que slg rimeiro dêles é 0 de que fala '.Db.evet, po-
indfgenas com êsse nome. 0 P m sua marinha de canoas toda costa
d )roso selvngem que domi~~va S~~astião fazendo arremetidas vitoriosas
desde Angra dos Reis até ~ te 1.ilste é tambem o Cunhambebe de
na Bertioga, Santos e .São ~enlo · 0 depois da chegada de Villegaigno:°
Hans Stnden e morreu de pesii'eul~rd "Villegaign.on", Paris, 1897, pa-
no Rio de Janeiro. Cf. Arthur n or' Weiszflog traz dêle um retrato,
g ina 114. A edição de Varnbage _ P 354 _3 55. o segundo Cunham bebe,
8
reproduzido de 'l'bevet, vol. I, page 'estava em Iperoig e sobre o qual se
foi o amigo do padre Anebieta, qu reve na sua carta de janeiro de 156ü,
poder!\ ler o que o tauma~urgr~a~s~esuitlcas"' publicadas pela Academia
insertn no vol. III, das oa 33 pâgs. 196 e sega.
Brasileira, Rio de Janeiro, 19 • ~e Teodoro Sampaio, significa "gato do
112) - MaracajA, no dtzer
inato".
97
. e êles iriam fazer assim
pensel qu
110rrorizou.
mar11cajás. Isto me foi um dos meu~ guar-
.comigo. ma das choças, que todos ouvissetn ·
·~1d·1 em u
" nossa en t 1' "
"tou e
m voz a lta
"
't"para
~ie achava que era elo
b .
1 .c.i
das à frente e gi 0
portugues · · inimigo em seu poder
HAqui trago o escravo, aJguem tinha um Isto é muito usad~
5
espetáculo vêr-~edco%:itas outras ~~us~o ·chefe, que aí se acha-
e discursava am ª. então ao sitio . , e· embriagado com
"1 Conduzm-me Bav1arn-s ·
entre e esd. outros a beber. . "Vieste. como inimigo
va senta o com disseram· · · · .,
Caul·m ' olharam-me irados, e...
· . ''V'
re'rn. corno vosso in1m1go .
naod pobeber.
nosso?" Respondi: im,
Com isto, deram-me tambem .e vi'do falar muito. Devia
. , tinha ou " ,
Do chefe Cunhambebe Ja· d tirano que com prazer
ser um grande homem, e um gran gens e '
pareceu-1ne · · d '·
q:u~ · ev1a
1
comia carne humana. Um dos :eva disse~lhe assi.ID em su'a lin-
ser êsse chefe. Dirigi-me ,..P.a ra ele, e . . "ÉS tu Cunhambebe·?
guagem, como gostam eles de ,.~uv!!'. ·nda 'vivo". "Pciis bem''
a~nda vives?: "~fr°"'. respo~deu e e,t·1 a1 que és .um hQmem d~
disse eu entao muito ouvi sobre e d .
'
grande fama". Levantou-se e e en ao, "'l t"' passan , o por ·
, . ·. em.... .
·mim
pavonado e muito lisonjeado. S~gundp º·.costume, ,ti;~z1a 1 ·~a
grande pedra redonqa, de côr verde, en~1ada .ªº lab19 . . Al~m
disso tinha um colar branco de çonchas de mariscos - como as
usam os índios à guisa de.. ornato, p~ndurada.s ao pescoço .-
que teria ce~tamente seis braças de comprimento. Por ·tais or-
natos vi que pev~a ~er u~ dos mais nobres. Sentou-se após de
novo e perguntou-:-me qual o plano de ataque de seus inim~gos,
os tupiniquins e ós portugueses. E a seguir perguntou por que
e_u tinha ~uerido atir~ sobre .êles ~a região de. BerÜog~, pois
!inha sabido que eu e~tava empregado como artilheiro · contra
e.les . Respondi que os port_ugueses . ,m e . haviam lá posto ,,e eu
tinha que fa. zer ,. o meu · serviço , . ' ao que repli"co u que eu propr10 , ·
era um portugues. Ao frances que me procur· ·h . , t-"
d e filh o. ~s-P.t t Ih h '' · .
e e avia dito que eu n - ara c
· ' . amou
í· ·,.
en ao
era legítimo português' Eu r 1. . ao pudera entende-lo ·e
, . •' ep 1que1 então· "s· , d d .
ha muito que saí da terra fran . . · . Im; e ver a e,
e"'le, a proposito,, . .
que já tinha ·cesa .. d~ e esqueci '. .a'. lingua . " . n·~sse
cinco portugueseS; êstes todoSªJha ª~º a aprisionai e a comer
franceses, e tinham assim m t"d viam pretextado que eram
d ~ 1. a. min
. h .
a vida por perdid
en I o Ist 0
··
-
·era tao claro que eu
vma. Pude apenas concluir' da e me re~oniendei à vontade di..
. · as suas pala . .·
1
Recomeçou êle porém . , . v~as que devia · mort~r~
Portugueses, pois · a ·1nterro
deviam tem" gar o que diziam d'êle os
·
e-1o gr d . .
an emente. Respondit
98
'' Siln, falam muito d e ti
conduzes contra ~los. 1
e dnH tot•t·( .
. " s.
tioga . un, respondeu ' POl'ét .
n. ngorn fV 'JH
'!\ ·t . l , Ut t'rnu qu o flonipr(
um, como n1e haviam caele; Il'ht cuilt· ~;~l y1cnrom melhor 11< r~
"pturado. DiH~'"" 1: O!<J ~n .Cloreuln urn n
. n1n el n: º'ret.rn V U.t'..
11e
.:'J'-.:-
.~
-~ ...
99
. tuguês e muitos outros
. , matado rnu1to p~ante isso, toda a bebida
Gabou-se de ter Jª <-nirnigos. D Finalizou, portanto a
ram seus J...I.' rvida. . ' .
selvagens que e t 1'nha sido so choça para continuar- a
que havia na choç~ ara urna outra
entrevista, porque iam P
beber. o filho do chefe . cwm.ambebe
, , lhes de mofa. . e eu · devia assim, corn
L a servi- três lugare5.' · exclamav ·
amarrou-me as pernas em a Com isto riam. e _ a.m.
os pés ligados saltar pela choç . . '" Perguntei entao ao meu
"Aí vem pul~ndo o nosso· manJa:d· se rne havia trazido ;para
. , t. h conduzi o, . . t
amo que para ai me m a ,., que apenas era cos urne
matar-me. Respondeu que ~ao, J:?ªSs. E desataram-me 'as c.or-
. aos escrav.os estrangeiro
tratar assim . _ e de ·mim entao - e ·a:palpar.
· ax,n ' ..
das das pernas. Aproximaram 5 ro da cabeca lhe pertencia
me a carne. Um d'izia · e o couue cantar-lhes
~u .
~
alguma cousa,'
outro~ que a coxa lhe cabia. Tive q · ei ex licar-lhes em sua
e_ entoei cantos religiosos, que p~ec1~ "p Responderam que
língua. Disse: ."Cant~i sobre,º. meu eus Íín a· teõuira A3
o meu Deus era uma imundic1e, em sua gu · ·
palavras me doeram, e pensei co~go: "Ó tu, bom Deus, tens
às vezes que tolerar muito!"
, No outro dia, quando toda a gent~ na aldeia me havia yist'o;
e expandido sua alegria à minha custa, disse o chefe Cunham~ .
bebe . aos meus guardas ' que deviam atentar bem sobre mim~
Conduziram-n:ie depois para fora da choça, a-fim-de recambiar- .
me par.a Ubatuba, onde devia ·ser sacrificado. Zombavam de
mim, dizendo que q?eriam vir logo à cab~na do meu amó ·pará
com~r-~e. e J;>eb~~ Junto. . ~eu amo porem consolava.:.me c.om)
pers1ste~cia, e d1z1a que nao me matariam tão cedo. ·
• 1 ,·
' • / t'
·'·
100
CAPt'rULO 29.
101
/
tugueses, os tuph:ti-
. lanejavam uma os amigos dos por_º
Eu já havia dito que cu aprisionam~nt Apora vieram êles
quins, .i:iesmo .~11 ~~: !:ü1:1a os tupi.11am~:~ m;nhã a aldeia.
exp. ediçno gu~1.1cco11 ~nnoas e assaltaram rn a atirar todos
vinte e c1n · meçasse
con1 . s choças e co de âníco, e as mu-
Co1no ~ta~c·rns: ~ : assaltados d~ gr~n"V[s me tendes por
11
0
juntos, enchexan1~se ·r Então lhes d1?se. ora um arco e fle-
lheres quisenun fugi . . 'nimigo. Da1-rne ag 'udarei a defen-
u111 português, por vosso ~rras Então eu vos aJ flechas. gritei
e} desatai me as am . . um arco e '
. l8S e }.. ,,- Deram tambem a mim ' era possível, e dizia-
der as e 1oças . ... hem quanto me . nenhum
e atirei à sua moda, tao ~ . . . ~ não haveria perigo .
lhes que precisavam ser c?raJosos~ ar através da es~acAada que
Era minha intenção com isso, esc ~ os. atacaµtes, pois ~st~s I?e
deava as cabanas, e desertar par ' ' eu estava ' na aldeia.
ro . . b' - tambem que .
conheciam bem e sa iam .· . 1 . • •
' guardado demais. · 1 • •
1 '''.'
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' . •l
,.
1
1,'
1 • • ,.t ' .,
1
· CAPíTULO .·30.
, 1 ' 1 '. ,1 p
' · 1
• 1
Na noite dêsse .mesmo dia, a,.d ·c~arão. ·da lua; . se, ~e~irain.
os mais nobres no. pátio, . em m~io 'das ,choÇas. .Cop.ferenciaram
e deliberaram quando , d~v~'riam. ·mat.ar"7me. . Condu~ira~-me
1
••
--- - - - -
103
CAPíTULO 31.
.ndiaram Mambucaba,
Como os tupiniquins ince .
uma outra aldeia. .
. , ·a de que os tupiniquins, após
No dia seguinte ve1u ª notici me achava aprisionado ti-
sua retirada de Ubatu?ª• on~:bucaba (11ª) . Os habita~tes
nham assaltado a aldeia de . no que foi feito prisio-
haviam fugido, salvo um meni~o peque. '
neiro. As cabanas foram reduzidas a cinzas.
Por isto Nhaêpepô-oaçú transportou-se para l~, pois eram
seus parentes e amigos; e queria ajudar aos hab1tant.es a re-
erguer suas choças. Levou consigo todos os. seus amigos que
moravam em sua cabana. A sua volta queria trazer barro e
farinha de raizes para a festa, na qual eu devia ser devo·r ado.
Nhaêpepô-oaçú podia dispor de mim livremente e :f ez-me
sofrer ~uito. Quando se foi, recomendou ao Ipirú-guaçú, a quem
me hav1a mandado de presente, que devia vigiar-me bem.
' Demoraram-se mais de quatorze dias e reconstruiram · tu<io
de novo. · ·
- L ugar que os .
113)
A~gra dos Reis. Existem mapas atuais ai .
ne~ro. Varnhagen traduz outros dêsse nomenda 1S.ss1nalam na bala de
pa10 quer que signifique " o vocâbulo Por "f no Estado do Rio de Ja-
a Passagem''. ortaleza'' e Teodoro Satn
'104
CAPfTULO 32.
Como veiu um · d
. b navio e Bertioga, informando-se de
mim, o tendo porém apenas respostas lacon1cas.
,., .
105
CAPt~ruLO 33.
,. pô-oa.çú de Mambu.
Nhaepe
f . ,.,
Como o irn1ão d~ che e iro que seu 1rmao, sua
·u e queixou-se a 111 t estavam doentes.
ca ba ve1 aren es D
mãe e todos os outros P ir do meu eus
Exigiam-me conseg~ os de novo.
que ficassem sa
dos selvagens que., em
~perava diàriamente a volta tar-me. Um dia ouvi uma
Mambucaba se preparavam para mTa. medo ·J·uigando que já
'
vozeria na choça do chefe ausen,te · iveostume:
. ' qu~ndo
. 1
aguem
p ·
tivessem regressa d o. ois êsse e seu
d. c , ·
preparam seus am1gós, · '
se ausenta, basta ser por quatr~ iasÍga Não demorou rriu#o,
por ocasião da volta, uma vozea" ~ ~m - ~ de um dos teus dois
veiu-me um dêles e disse-me: irma h m muito 'doentes"
amos chegou e conta que os outros se ac ª d f · · ·1 ·1 ·
.
A1egre1-me - e pensei:. Deus a gora preten e azer
entao . . ,: .,,a. o~
m -
ma cousa. · · d ·. 1,
Logo depois veiu em pessoa o, irmão de ~eu seg~n . ~, ~~~a
minha choça, sentou-se, pôs-se a clamar e disse que . seu ~rma.o,
sua mãe, os filhos do .seu irmão, todos ti~pam fi'cado d?entes;
seu irmão Nhaêpepô-oaçú m'o havia enviado e me ~a;ndava ' di-
zer que eu tinha que conseguir do meu Deus que se tornassem rt • .·
de novo sãos. Acrescentou êle: "Meu irmão · acha que teu Deus
está irado". Respondi: "Sim, meu Deus está 1rado ' porque{ teu
irmão q.ueria comer-m~~ e foi pa:a ·Mambuca~a para lá · prepa-
rar a_ minha morte. Vos ·asseverais que eu sou· um português, e·
eu na~ o sou absoluta1!1ei:te. Torna ao teu 'irmão . .· · ~le ' , deve
voltar a sua choça. Entao implorarei ao meu Deu · "l
" A ·t d . A s para que e e
sarde .. ~s oHres~on eu que ele estava demasiado doente e não
Pº..: ena vir. avia reparado porém e bem b. ..
mao, mesmo em Mambucaba f · . ' _ sa ia, que o seu ir-
Por fim lhe disse eu: "Teu' i~~~a f~ao, ~e :u apenas o quisesse.
voltar à sua choça e curar-se-á aí icara tao forte que poderá
resposta regressou a Mambucaba comJ?leta1!1ent.e ". Com esta
lhas de Ubatuba, onde eu estava: que fica d1stB;nte quatro mi~
106
CAPíTULO 34.
107
,., e or denou
. tambem
. n a
.. e ue nao, ssern de mrm, em
e enW~ . 1 scarnece ainda doente, sa-
pisse êl ao e t xnPº · 1
00 ~a:~·-~7; caba~~e:u;i:Ou alg~:su:s rnun;;:~~:· J~e ;ilfu~;
cm
t os .
ameaçassem
. devorar o urna rerarn ito
assirn corn igos rnor ·t sofrer mu .
entretanto, seus arn '<ltn fe1 o
ran do era Dos e haV1':..
mente adoec . tambeill rn
ainda outros, que
108
não devia tambem querer mat
tsem. Respondeu que não e ar-me, nem aconselhar tal a ou-
8
prisionado não me n1 ata'sse que ~e as pessoas que me haviam
al e mesmo que êles m m, nao me queria tambem fazer
rn ' e matassem, não comeria nada de
rnun·
Havia tambem o outro chefe C . _ .
irn 0 que muito 0 ate . ' arima-cu1, sonhado algo de
rn cle comer, e narrou- rronzou. Chamou:me à suà choça, deu-
me t me sua preocupaçao· contou igualmente
corno ou rora, numa expediça- 0 . .' . .
.. H . · guerreira, tmha apris10nado um
portugu. .es. avia~o matado com suas próprias mãos e comido
tanto de}e 9-ue aye agora por isso lhe estava doente ~peito. Em
c.onsequencia, nao 9ueria c~mer mais nenhum. E agora tinha
tido um sonho horriv;I comigo, dizendo que necessáriamente ia
morrer. !ambem a ele falei que não existia nenhum perigo,
apenas nao comesse mais carne humana .
.. As mulher~s velhas, de diversas choças, que com seus arra-
nhoe~, pancadas e ameaças de devorar-me, muito me fizeram
sofrer, chamavam-me agora "chê-raíra" isto é seu filho, e pe-
diam: "Não nos deixes morrer. Tratan'ios des~e modo a ti por
que pensamos que eras português, contra os quais temos rancor.
Já aprisionamos e comemos tambem alguns portugueses, porém
o seu Deus não se irou tanto como o teu. Reconhecemos que tu
não és p~rtuguês".
Assim deixaram-me por algum tempo em paz. Não sabiam
ao certo pelo quê me deviam ter, se português, ou francês; e
diziam ' que tinha uma barba vermelha como os franceses; já
haviam tambem visto portugueses, mas êstes tinham todos
barba preta.
Depois do terror que a morte de tantas pessoas causara, e
depois que um dos meus amos se rest~beleceu, não falaram
mais em me devorar. Vigiavam-me porem do mesmo modo e
nunca me deixavam andar só.
-~---
109
cAPí1~uLO 35.
1 1 ' • ' 1
110
Exortei-o trunbem
se não tinha no corp
11
ª
língua dos ti
ssdo que depois de to u~11 coração cl'ist~1n vos e porgut tcl-lhc
. . ue n1e matasse s a vida Viria Utna o o,. ou se nno hnvin pon-
q ra de fato p ~- A_:rependeu-se ent_uba, qunndo nconselhou
se or ugues, que e. . ao e disse que me supu-
os fr~nc~se~ enforcavam todo ~run celerados tão nefandos que
na provincia do Brasil. Asshn quele que co~segulam npnnhnr
~eviam os franceses adatar-se ao procedem. E acrescentou. que
tir o modo pelo qual tratavam s selvagens, tinhatn que adm'i-
franceses tambem os inimi .0 °.8 seus contrários, pois eram os
A a· .
meu pe ido disse êle a 0 . .
g s Jurados dos portugueses.
nhecido bem a primeira vez ~ indios que não 1ne havia reco-
fazia parte dos amigos dos f;a n1as q~e eu era . da Alemanha e
.sigo ao porto no qual e t nceses, que queria levar-1ne con ..
ram os meus amos· nã s a~am os _seus navios. A isto replica-
ª menos que viess~m em o, nao queriam entregar-me a ninguem,
lhes trouxessem um . pessoa
.. meu
. pa1,· ou meus u· .rnaos,
-:- e
navio cheio de n1ercadorias principalmente
n1a.ehha d os. ' espe lh os ' faca s, pent es e tesouras, 'e lh'as -desse1n.
p
ois aviam. me encontrado em terra dos seus inimigos e eu
lhes pertencia. '
Quand? o francê~ ou':iu tal, disse-me que eu entendera
bem que nao m~ queriam libertar. Roguei-lhe então, pelo amor
de Deus, que viesse, buscar-me co1n o próximo navio que che-
gasse e me levasse a França. Prometeu-m'o e recomendou aos
selvagens que me tratassem ben1 e não ine matasse1n. Meus
amigos viriam logo buscar-me. E com isto se retirou.
Depois de sua partida perguntou-n1e un1 dos xneus amos,
Alkindar-miri (não era o doente), o que Caruatá-uára - co1no
os índios chamavam o francês en1 sua língua - n1e havia dado
e se êle era meu patrício. Respondi afirmativamente à última
pergunta. Zangou-se êle com isto e perguntou: "Porque não te
presenteou então com uma faca, para que in'a pudesses dar?"
Quando todos se curaram, reco1neçara1n a murn1urar de
mim e disseram que os franceses vali~m quase tão pouco co~no
os portugueses. Isto era de novo muito embaraçoso para mun.
- - ----
111
CAPíTULO 36.
m prisioneiro e
devoraram u
Corno os selvagens ·go à festa.
levaram-me const
· · comer Um Prisioneiro
d
numa
· ·
. depois. queriam
Alguns dias ) que .
ficava a cerca e seis bm1-
.
116
aldeia de nome Ticoanpe ( . ' . ha cabana foram tam em
lhas distante de Ubatuba_. Da ::;::mos
para lá em uma canoa.
muitos e levaram-me consigo. V J t nci·a à tribu dos mara-
.
O escravo, que queriam co mer ' per e
cajás. uma bebida de raízes de
Conforme seu costume, prepara:roem. sómente depois do
abatí quando querem comer um o '
festi~ em que bebem é que o matam. d f t'
. h
Como se aproximasse a ora, u1 a f · ' tarde ' antes o es im,
,,
. . lh
ao escravo e e isse. a· . "Estás assim aparelhado para
'd d t d morrer .
"
R 1u-se e"1e e r espondeu·· "Sim' estou bem muni o ' e t u o, ape-
nas a mussurana não é bastante longa. Entre nos er:ios m:
Ihores ". Chamam mussurana a uma corda de algodao . . malS
.
grossa que um dedo, com a qual são amarrados os pr1s1onerros.
E sua corda era curta, de mais ou menos seis braças. Conver-
sava, como se fosse para uma feira. ·
Trazia comigo um livro em língua portuguesa, que os ín-
dios tinham achado em um navio que haviam conquistado com
o auxílio dos franceses, e que me haviam dado. Li êste livro,
quando abandonei o prisioneiro; êle fez-me muita pena. Por
isso voltei de novo · a êle e dirigi-lhe mais uma vez a palavra,
pois os maracaj ás eram amigos dos portugueses: "Sou tambem
~ prisioneiro, exa~amente como tu, e não vim aqui porque
qmsesse comer de. tr, mas m~us amos trouxerani-me consigo".
Ao que retrucou ele que sabia bem no's na- , arne
· 1he disse
h umana. Dep01s · '
que devia ter a"n· o cormamos
· e ·am
imo, pois comer1
~
116
) - Pode ser má. grafia de Ta
gra dos Reis. Teodoro Sampaio escr gua~ 0 .u Taquarí, ambas em An-
" Na água do p~ço''. eve Tiquaripe'', que traduz pc>r
112
,1 'nas a sua carne · seu ~ , .
•
nd ' v~ll· tH muem
a. . '
o espfritesp1r1t
d ·
o iriu a Utnu t. . ...
1 crgun to u êle se isto era o a nossa gente e 1:ºu1 ; a .r~[{lllo, . p~·u
. verdade R a 1 tt mmta ale gria
!1le que nunca h. avia visto D . eferi que sim e res ondeu~
Deus n a outra vida e deiv . eus. Concluí dizend P .
. 4e1-o quand 0 o que veria
Na noite seguinte hou terminou a conversa
t ve um f t .
Jentamen
- e que arrancou pe d aç ord e vento e ·sopro u t-ao vio- .
En tao se zangaram os ínct1·08
, · , · .
? 8 0 teto da nossa cabana
comigo e d'1sseram em sua língua:·
· Aipo ma1r anga1paba ibit,
mau,' o san t o, f o1· quem mau dguasu om ou " . Isto é: O homem
olbou êle nas "peles do trov1: 0 ~u 0 ~ento, pois durante 0 dia
E que eu o havia provocado ª • Assun aludiam ao meu livro.
amigo dos portugueses e e~ porque 0 escravo era amigo nosso,
máu tempo, impedir a' festa e~~erava talvez conseguir, com o
nhor, dizendo: "Senhor tu m. etste transe pedi a Deus, e Se-
serva-me tambem daqui' por diant e ens,, at'e .aqui· preservado, pre-
dernente contra mun· • e · Pois murmuravam bcrran-
Quando raiou o dia 0 tem 0
muito satisfeitos. DirigÍ-m Pt_ era belo; beberam e ficaram
e en ao ao escravo e lhe disse. "O
v~nto forte era Deus. Êle quer Ievar-t .,, ·
d · f · AI . e para
cli a epo1s 01 e e comido. Como isto se passa s1 . Ao segundo
b . ,
tuio nono do segundo livro. ª
' 8 ere1s no cap1-
CAP.fTULO 37.
113
,. dias nos aproximamos até
viagem de tres itações, não podendo pros...
Depois de lll!1ª das nossas hab muito altas. Puxaznos
um quarto de n11Iha as ondas estava.Illos poder trazê-la à casa
seguir porém, porque terra e esperáva.J? te Permaneceu poré~
por isso a canoa P~:mpo no dia segu~ntão os selvagens 'Vol-
se houvesse bom Resolveram canoa mais tarde
igualmente tempestuoso. vir buscar ª ,
tar às habitações por terra, e
quando 0 tempo melhorasse. e 0 menino continuou a
,
Antes que parbssemos, . d comeram, · Prosseo~uos,
fora depolS. ani'l'Y\
114
--
CAPíTULO 38.
22 ~ -- . ·-- - -
_ St•den de pé no c•no•, P•rlamenta com a tripulação de um
· ' ' ·,, : ' navio português, chegado a Ubatuba.
1' '
volta, que dê parte aó nosso pai, para que venha com illn navio
biiscar-me, e traga :ip.uitas coisas". Concordaram com isto, mas
receavam que os portugueses pudessem entender-nos, pois :pr;·
tendiam, por vol~.'.1 de agosto, efetuar unia grande exped1çao
guer'reira na reg1ao de Bertioga, onde me haviam capturado.
Como eu lhes conhecia todos os planos, temiam que pudesse
t16
ntl'ni~o:'i.-. lu~ r 'lnta11do alnut"'1 , _.
nH<l n ' i
n1 'l>t1t·n- ª b . " cot8a p .
' ,, ·, e ...08 ··
portttgueses. n· ti- orem retruquei'·. "N-ao,
nlw e { u ln "U lt1nuo". E11tã (j.. o entendem a língua mi-
disU\n 'Ül d, urnn pedrada d o _1e1?-"1aram conduzindo-me até à
- ,1 ' . D ... ·f. - o llav10 n.
l'td.rc s. llig -n1e à gent d ' u, como sempre andava
l ku: esteja co11vosco, queri'doe . e ~ordo, dizendo: "O Senhor
· · D· · · s irmaos A
tOllH!~º· · 17. l que sou u 1n fra 1 " · penas um de vós fale
t'n(.fü) un1 dêles, João Sanches (~;9s), e nad~ m.ais". Principiou
1
\l\ "'iu bein e falou·
..... ' •
"Meu que ·d' um · b1sca1nho
- que eu co-
·11 .•1\- ·io por tua causa · Na-o sa b~ri
0
iam o irmao, ·viemos
· com êste
morto, pois o primeiro navio nenh s se ":1y1as ou estava_s
A,'< r·l nos ordenou 0 com d ~ma noticia trouxe de ti.
·- . _, an ante Bras Cubas (12º) em Santos
q u ' 1ndagassemos se ainda estavas com .d C nh d '
ninda vives, precisamos saber prun·e1·rov1 a. ~ d~cen o que
d .t . -- se os m 10s querem
v~~;l er- e, se nao querem, precisamos capturar alguns dêles,
n~fun-de resgatar-te".
1 1 ' ;·!
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/ I ' I '
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1 • • 1 !
·, '• 1
1 .
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'
,,
' .
·, '
1'1.
•'
118
CAPl'rULo 39.
120
. e beu o que q 11 •
q ue . não ·.perc
, b"d . er1am fazer d ·1
haviam mcum l o da matan .
4
e e. O homem, a quem
ça,
cabeça, que f ez s a1, tar os miolos D
ve1u e deu
. - lh e uma pancada na
da choça e queriam comê-lo. A.d e~o 15 o h~rgaram em frente
tratava-se de um homem q ;erti que nao deviam fazê-lo;
igualmente adquirir a doencâueN_icara. doente,_ e êles poc:liam
que che~ou um homem da minhaªº sabiam en~ao qt;e fazer, até
que dev~am ace~der 0 fogo , erto cabana e gntou, as mulheres,
beca pois o canJó tinha , p do m~rto. Decepou-lhe a ca-
~ ' , . so um olho e tinha , .. ·
causa da molestia que tinh . • ma aparenc1a, por
. uscando a pele do a tido. Atrrou fora a cabeça, cha-
1
121
CAPíTULO 40.
1
por . D~us. ·
\ • 1 '
· , · da expedição guerreira,
Cerca de oito dias ~ntes do inicioto que .dista oito . milhas
chegou um navio frances em um por ' .chamam .Rio .·de , J a-
de Ubatuba (121 ) ao qual os portuguese~ . . ·
. , d" ' N"t . Aí . costumam os , france~es faze.r
nerro, e os in ws, i ero~. .. . . . . bote tambem até a
carregamento de pau-brasil. ,V1eraiµ . ~um ..
nossa aldeia e compraram dos índios p1menta, maca~os e pap~- 1
Casal diz significar "água ocÚlta': . Cf ~'cC b~lo in. ~ígena, . qu.e Ayres do
J:aneiro, 1817, vol. II, pâg. 12.· Allâs · · orografia Brazfiica", Rio df'
pftulos trinta e oito e quarenta da ' .ª 8 ~1logr.avuras referentes aos ca-
que a ilha de "Ipaun-guassú"· . que pnm.~; ra.. parte, mostram claramente
Grande, estâ bem em frent~ a esseg~do o dr. Plinio Ayrosa é a Ilha
terra firme. E<Sta assinalação .é ums.a.dos batuba, colocada no litoral da
a Ubatuba onde Staden permane.c eu . ~ elementos que fazem crer que
dosãReis ou na enseada de Mangaraptr1·b1s1onLeeiro ficava na bata de Angra
ens o o estudo do dr KI a. ia ·
sillen - ln der Spra.ch oster em "Hans iStade~se Para melhor compre-
São Paulo, 19.41 ' pâ.gs ~~2er Ge~en~art übertr -Zwei Reisen nach Bra-
. ' · -225~ , agen Von Karl Fouquet~' •
122
. · 24 . . ~ Staden procura escapar num navio francez, mas é repelido
pela equipagem.
123
· rém quís entrar nêle,
bote. Quando Pº ue, se me levassem
Nadei para perto do me pensavam 2-voltar-se e tornar-se
os franceses rechassar~;age~s, podiam r
contra a vontade dos s .
seus inimigos. . ovo para a terra, e reflet~:
- alentado nadei de ~ ue permaneça por mais
. Entao, des e' da ~ontade divina tq to não tivesse tentado
VeJO agora que ,., S entre an ' inh ,
tempo ainda em desolaçao. . e, ue tinha sido por m a pro-
fugir, ficaria pensan~o ·depois q .
pria culpa. . . m-se os índios e gritaram:
Quando voltei à ter~a, rego~IJ~~ e disse: "Pensais que. vos
"Ei-lo que volta!" Fingi-me zanga dizer à gente da minha
quís assim fugir? Fui ao bote par: para vós muitas merca-
terra que deviam ' preparar-se e JUll arme levásseis a êles". Isto
dorias, até que voltásseis da guerrs~t~sfeitos. .
os agradou e ficaram novamente
CAPfTULO 41.
126
2
~· :- ~ luta eritre tupiniquins e portugueses, com os tupinambds, nas
P ox1m1dades de Boiçucangd. Ao fundo e d esquerda, os fortes de
5do Tiago (Bertioga) e de São Felipe (Santo Amaro).
127
mado Boiçucanga (12º)., onde
t , m lugar eh a
do ·seu inünigo, a e u. . até à tarde. .
q ueriam ficar de esp1e1ta ampamen to onde pernoitamos , d.
em
A nossa partida o .ªe d untaram-me os in ios mais
frente à ilha de Maemb1pe, perg teceria. Disse a esmo: "Ern
uma vez o que eu pensava. que .. acon sso encontro. S"d e e apenas
. .
Boiçucanga os in1m1gos _ . vrrao ao no d h
f ·r-Ihes quan o e egassemos ,
. h .
corajosos". M1n ~ 1n e, . t nçao era ue me haviam aprisionad o, d.lS-
ug1 ' . .
a Boiçucanga, pois o srt10, em q
tava dela apenas seis milhas. · d f t
1 da costa, vrmos . e a o
Enquant~ seguíamo~ ao onITha ao nosso encontro. Excl~-
0
_______ ,
1 '>6)
- - B o1çucanga,
· como se vê na :,
ao capitulo quarenta e um da prim . segunda xilogravura referente
depois de Bertioga, partindo do sul eira parte, era uma praia assinalada
e fi ea en t re a pon. t a do Camburí, e para
p
o norte · Aºmda tem êsse nome
T~q1:1e. O vocâbulo i!1digena quer ~ize~~t~~ha, antes da ilha de Toque-
Plm1~9f-yrosa, obra cit., pâg. 138 . · esqueleto da cobra grande''.
~ ) - Os mesmos já referid
parte, filhos de Diogo de Braga os . no capitulo quinze da pr1·meira
, marcmeiro.
128
CAPfTULo 42.
Como trataram 0s • . •
prisioneiros durante
a sua viagem de volta.
130
.1\tlais tarde me perg t
. un arain . irm-
va con1 o seu primo Jer" . os dois
fogo, assando, e que eu j ,º~~º· Disse-lhes aos 0 que se passa-
daço do filho do capitão ~ in~a visto como s~uâ estava sobre o
porén1, dizendo-lhes que s=~~eira. Choraram en~:or~a uiy pe-
menos oito meses (I3o) entr iam, bem que eu já estavaonso .e1-os
"o e os indi D mais ou
vado . ~~~mo fará êle convos os, e eus me havia preser-
acrescen tei. De veras tua . t co. Tende confiança nêle" E
a vós, pois sou de uma terr o is o deve .abalar-me mais do que
aos medonhos costumes desªt estrangeira e não estou habituado
·
tes e f os t es criados" Sim d.a gente · v,os, porem,
, aqui, nascen-
tanto nes t a provaçao - . que nã
' isseram
. êles , eu h avia
. endurecido
.
0 mais me comovia
Quando assim nos entret' h ·
que deixasse os irmãos e fos~~ amos, ~rdenaram-me os índios
ran:-me o que tinha para dizer-f:ª minha choça, e pergunta-
nalizou~me que tivesse de b d s durante tanto tempo. Pe-
que se entregassem int · a an onar , os doi·s · Recomend e1-
· Ihes
. . , . eiramente a vontade de Deus· já conhe-
ciam a t- miseria
· · que existia nêste vale de l'agrimas
· 'Respond e-
ram .e n ao que nunca a tinham sentido como ag~ra, dizendo
que.! â.e~d~ q:ue cada .homem. devia morrer um dia pela delibe-
raçao divina, morreriam assim um pouco mais aliviados pois
eu tambem estava junto com êles. '
Saí então_ ?ª ~abana e ,and~i por todo o acampamento,
olhando' os prisioneiros. Ia· so. N1nguem me prestava atenção.
Poderia bem fugir, pois estávamos em frente à ilha Maembipe,
distante apenas cerca de dez milhas de Bertioga. Não o fiz
porém em: consideração aos cristãos prisioneiros, dos quais qua-
tro ainda ' estavam com vida, pois pensava que, se fugisse, se
zangariam· os índios e matariam logo os cativos; e talvez Deus
nos conservasse a todos. Deliberei então ficar j:unto dêles e en-
corajá-los; 'e assim fiz. Estavam portanto o~ selvag~ns bem
intencionados para . comigo, pois . eu l~e~ havia .p rofetizado -
por acaso' -· ··. dizendo que os inimigos viriam ao nosso encontro.
QUando, isto aconteceu, disseram que eu era melhor profeta
~o que os seus maracás.
1'
---
130) . - .Meados de setembro de 1554.
131
cAPtTULO 43
132
d iam os outros·. 'V'os . ,
1
133
' - .
cAPíTULO 44
, tava o nav
io ' francês a dcujo
Como ainda aqui es D.do voltassem a
bordo me queriam le~~q:esnw prometido.
guerra. Tal me :Jtav1a . .·. , , . . ·. .
. lamei-lhes que deviam
· .
Quando chegamos · a sua patr1a rec · h"a est ª.do com
6is 'ago.r a ' tin ·A ·
li '
. ' .. .
. , . .cAPlT.bw · 45 . · .:
" ' ' ' • .' ' 1 ....... " • ~ • ,'' '" ' '1 . ' ' :·· • ·,
134
riam levar a o navio antes que n festa tivesse sido realizada e o
Jerônimo, devorado. Entrcmen ks havia largado de novo o
11·1v1·0 ·frances, que ancorara a cerca de oito milhos distante.
' Quando
11
soub~ disto, fiquei muito triste. Mas disseram-me
os 1.· dios que. , os
. franceses
d . t' costumavam
f voltar todos os anos, e
trt est·l nobc1a ev1a sa ·1s· azer-1ne.
-- ---·--
CAPíTULO 46
· - ~\--;-.
~ ~~ • · agra d ecimento da b a. A esquerda,
d Ubatu
2~. .
- A direita, Stada~ru:z, arguid~:Sª111hos
arando em
milagre, lunto a umbalhando com 5
aldeia e dos ós costas.
enfol•a 135
mulheres tra 0
S g ros S as e a plantara
.t elll.
· ,varava ao Senhor mui as· vezes.
una c1.uz, de d.
Eu tinha feito l orava. Aí o:a arrancassem, pois isso
f t a ª
ren e , choça en1 que m 5 que nao ,., ac reditaram entretanto
Ivag·en 0
"'l
Recomendara aos seuma desgraça;. n':ne ausentei com e es P.ara
~a
odia resultar-lhes , uanto um dia . e deu-a ao seu marido,
minha palavra. Enq rrancou a cruz edonda - esfregar-lhe
a p· esca, uma n1ulher a o a madeira e~ahr s de que fazem uma
• e"' le
- com ,· ar1n ° ' ~ · come-
Para ela devia d caracors m t u Logo aep01s
em cilna as conchas t osmuito me desgo.s o .dias Vieram então
, . , . 'rio Is o muitos ·
espec1e de rosa · ente, durante . tender-me com o meu
çou a chover forte~. alh que eu devia en tempo de plantação
à minha choça e e~1g1: cessasse. Pois o seuhuva, não poderiam
Deus para que a e uv não parasse a e
'á havia chegado, e se .
J . • encolerizado o meu
plantar.
Respon dºi q ue a culpa .erat sua. Havl1am
do qua eu costumava falar-lhe.
h
do o lenho JUil o . h provocado aI t uva,
e
Com~ acreditassem que eles mesm
Deus arrancan "' os tin am f .
i ir uma nova cruz. . s o OI,
ajudou-me o filho do.meu amo~ :r!na hora da tar~e. Quando
a julgar pelo sol, mais ou menoem o belo, embora tivesse esta-
se levantou a cruz, torno!1-~~~ar~-se todos e pensaram que
do muito ruim de manha. · . ·
6 meu Deus fazia o que eu queria. .
CAPfTULO 47
~e
ªchuva, e choveu ate cerca de seis passos de nós. Porém lá, on-
veJ 0estávamos,
algum
· que
.
peixe.
ficou seco, ao que Paraguá exclamou:
falaste com o teu Deus." Apanhamos tambem depol.'l
"Ago~a
~
30 . •
_ -
A expedição po ra pesca. nõ ° Stade.n
toda queVê-se
do A esquerda
atingru oorcl~cal. da pesca.
e aa
13?
CAPiTULO 48
Como me levaram pa d
ra ar-me de presente.
Partiram os nativos c ·
· d d omigo para Taquaraçú-tiba (1 35) onde
me queriam ar e presente Q d , '
· uan o bnhamos nos afastado
um ped~ço da terra, voltei-me para as choças que abandonára-
mos e VI uma nuvem preta pairando sobre elas. Mostrei-a aos
índios, dizendo-lhes que o meu Deus se enfurecera contra a
aldeia por que haviam comido carne cristã, e assim por diante.
Como me trouxeram então para Taquaraçú-tiba, entrega-
ram-me a um chefe chamado Abatí-poçanga, (13 6) recomendan-
do-lhe que não devia causar-me, nem deixar que me causassem
dano, pois o meu Deus se vingaria daqueles que me fizessem
algum mal. Isto tinham visto quando eu ainda me achava com
êles e tambem eu mesmo o advertira: logo viriam meus ir-
mã~s e amigos com um navio cheio de mercadorias, e se me tra-
tassem bem eu lh'as daria; eu sabia certamente que o meu
Deus logo f~ria vir 0 navio de meus irmãos .. Isto ?i~s agradou.
o chefe chamou-me de filho, e com os seus filhos ia a caça.
---·--
ovoação narraram-me
Conto os selvagens da mesma P .
.d d . francês acima mencionado.
a· parti a o navio .
, · · "Marie Bel'Et '"
Contavam-me êles como o ultimo navio, o . . . e !
vindo de Dieppe, no qual eu gostaria de ~er ~1aJado, tmha _a1
sido carregado inteiramente com pau brasil, pimenta, algod~o,
penas, macacos, papagáios e mercadoria~ semelhantes, que n~o
há em Dieppe. No porto do Rio de Janeiro tomaram os france-
ses (137 ) um navio Jusitano e deram um português a · Itavú,
um chefe dos índios, . que o havia comido. Tambeni estava no
mesmo navio o francês que havia aconselhado aos selvagens -
logo depois que eu fui aprisionado - que me comessem, e
queria retornar ao seu país. Era o mesmo navio de que
acima falei, quando fugi dos nativos, e cheguei ao bote mas não
n:e ~uiseram levar: Perdeu-se em sua viagem de r~gress'o à
p~tna: Quando ~ais tarde voltei para a França num outro na-
vio, n1nguem sabia do seu paradeiro. Sobre isto ainda tornarei.
-----
Assim
, me livrou o Senhor tod d
de Isaac e J acó do pod·e , d o po eroso, Deus de Abraão
, . ' rio os barbara ,. " '
g oria e honra em Jesus e · t
sal~
s crueis. A ele louvor
1
vador. Amen.' ris o, seu querido filho, e nosso
CAP!TULO 52
31. - Comb 0 t6
contra um pequeno nav·iodum
do bote navio fr ancês e
portu
baia do ~.ues, Pertenc canoas com
A
1
-- 10 de J ente a p se vage
-;;-:~qui
140) aneiro edro R ns,
plnamb!í.s houve um . oesel, na
·p erfeitamenteao tupiniquins engano d
quina erame dos tu plnam ~.corrigimo
maracajll.s . o que aqu· . Na xilou e Staden .
~e esta~
.,ra vura q u pois êle u.
seus aliados amigos dos l ns como :· .Pois nl"e 18 escrever tu-
os franceses · )Ortugueses iz1nhos.
e · 01 figuram
s 1 as acima
pa ald i vê-se
144 10 imig os nnracajá
dos tu . e ose as
8 dos
tupini-
Plllambâs e de
de nom~ Pe~ro Roesel (Hl)
com artilharia, avançara:rn · Os franceses equipa
·serrun da para os p t ram seu bote
e qu1 . . . r caça ao navio L or ugueses dentro da baía
com os m1m1gos e intun· a' -1os .a se
evararn-me
d consigo · Devia
. f a1ar
to, atacain~s o navio, repeliram- ren erem. Quando, entretan-
franceses a1 foram mortos , b nos os portugueses. Alguns
1
ferido graven1ente por u:rn ~ir~ª e .outros feridos. Tambem fui
qualquer um dos outros fer'd' 1 0
muito mais gravemente do que
Em n1inha angústia recorri ~ que pern:aneceram com vida.
morrer, e pedi ao Pai bondªº en~or, pois pensei que deveria
depois que me havia salvo d~s.~ quisess~ conservar-me a vida,
se voltar à terra crist- J go dos tiranos, para que pudes-
,.
benefic1os que me havi ªe apregoar
d' . tambe m a ouras t
gentes os
pletamente bom SeJ·a iª prodigalizado. E fiquei de novo com-
' · ouva o o Deus magnânimo para todo o
sempre.
°
N ano da graça de 1554, no último dia de outubro (142 )
desferramos as ~elas no porto do Rio de Janeiro e ru~amos
para ~ França. '!11vemos ~º?1 vento no mar, de sorte que a tri-
pulaçao se admirava e d1z1a que um tal vento devia ser uma
dádiva especial de Deus, o que era verdade. Manifestamente
o Senhor nos concedia um milagre no mar.
Na véspera de Natal vieram à proximidade do navio muitos
peixes, a que chamam golfinhos. Pescamos tantos dêles que du-
rante alguns dias pudemos fartar-nos. Tambem para a noite
dos Santos Reis brindou-nos o Senhor com pescaria abundante.
Fora do que Deus do mar nos dava, não tínhamos muito para
comer.
Por volta de vinte de fevereiro de 1555 chegamos à França,
na cidadezinha de Honfleur, que fica na Normandia. Durante
toda a viagem de volta, cerca de quatr~ meses, não vimo~ terra.
Ajudei-os então a descarregar o nay1?, e . quando ~stava~os
prontos, agradecí a todos pelo benef1c10 .feito. De~01s pe?1 ao
capitão um J>assaporte. Teria êle preferido que ainda fizesse
CAPíTULO 53.
148
Livro Segundo
A TERRA E SEUS
HABITANTES
Pequeno relatório verídico
sobre a vida e costumes
dos tupinambás dos quáis
fui prisioneiro.
150
CAP1TULO 1.
Como se viaja
, . de Portugal ao Rio de J ane1ro,
· que
A
fica na merica a cerca de 24 graus de latitude sul.
-----
113 ) ·- O arquipélago das Ca
ilhas e ilhó'tas.
nârias compõe-se ao todo de treze
151
CAP1TUL0 2.
152
CAPíTULo 3.
,. Existe
. aí uma cadêia d e mont anhas que se aproxima
· ate,
tres milh~s do mar, na!guns lugares mais, noutros menos. Co-
meça r:iais ou menos a altura da baía de Todos-os-Santos, -
povoaçao que os portugueses erigiram e habitam - estendendo-
se n~ total ~e duzentas e quatro milhas ao longo da costa, até
terminar a 29 ao sul do Equador. Por vezes tem oito milhas
de largura. Do outro lado desta cadêia há terra tambem. Por
entre as, · IDO~tanhas nascem muitos lindos cursos de água, e
existe a1 muita caça.
Na serra vive uma raça de índios, que se chamam guaia-
nás (144). Não têm domicílio fixo, como os outros selvícolas
que habitam defronte ou atrás dos montes, e fazem guerra
contra todas as outras tribus. Quando indivíduos de tribus es-
tranhas entram em seus domínios, comem-nos. o mesmo fazem
1
114
) -
'
IHâ divergências entre
costumes . dos guaianãs. ·· A bibliogra
f: 8
tores na descrição dos usos e
~~re esta tribu é apreciável, :fir-
znando · ql,1~ 1 ~ão pertencia A raça tupf.
153
. ontudos, chamados maracá-
espinhos ar . d'
Fincam tambem no solo _ como aqui. ~e poem.
p - ma i-
ibá, em volta de suas palhoça~ d 0 5 seus inimigos. Alimentam
lhas de pé. Isto fazem por me 0 't Quando rompe o dia, ex-
uma fogueira durante toda,.,ª noi e.iste a fumaça e não se lhes
tinguem-na, a-fim-de que nao se av
siga o rasto. ,
. · · .e as unhas. Como outros gen-
De1xam crescer os cabelos racás que consideram
tios, têm as matracas chamada~ ma , dan'sas Cortam com
deuses. Organizam .tambem festins e · h d dr
dentes de animais selvagens e racham co.rp ~un as e P~ ~'
·
como as tinham as ·outras
· tri·b us· ant e s que tivessem comerc10
de permuta com os navios. .
Marcham frequentemente . contra os seus advérs~ios.
Quando querem capturá-los, p(;>stam-se, atrás .de galhos seco~ p~
vizinhança das choças inimigas. , No · momento em que vem
para buscar lenha, procuram ·a panhá-los. Tratam com mais fe.!
rocidade os seus inimigos do que êstes os tratam e cortam-lhes
muit~s vezes, com · ·s anha 'íurioiú~t, as pernas e braços do corpo
em vida. o~, outros, p~rém, m.a t.a m primeiro o inimigo, antes
de esquarteJa-lo e' come-lo. .' '.
1
t,
'·"· ---
1 •
'' CAPfTULO 4. .
1 '
CAPtTULO 5.
34•• Umo aldeia fortificada· com' crâneas de prisioneiros nos moirões da entrada.
156
CAP.tTULO 6.
157
CAPíTULO 7.
Onde ~ormem..
158
CAPiTULO 8.
..
gente que mora dIStante do
. es torram-nos sobre o
~ar, r~colhem grande porçao" de fe ~~ que secam bem a-
1
-
--
....:::.. .
-
37. - Uma partida de pesca.
160
CAPíTULo 9.
CAP1TULO 10.
CAPíTULO 11
: trituram
0
sobre, uma pedra as ra1zes totalmente, em pequenos grumos,
extraindo o suco COil} uma cana feita de case d lm ha-
. t· ·t' D" t ' "'
mada 1p1 1. es. e modo se torna seca a ma a e pa as e ·C
d , · as•·
· D f · · ssa,
sam numa peneira. a ar1nha fazem bolos f' · h que epois
A . p·lha
na qual secam e torram sua farinha é fei mm os.. . vas1 ,
tem a forma
· · de uma grande t ravessa. ta de barro queunado
. e
162
Segundo: tomam as raízes frese . .
xando-as aí apodrecer; retiram-nas e~~~ deitam-nas nágua, dei-
ª sobre o fogo. Chamam a estas raíz:~ e" secam-i;as_ na fuma-
ç -se por muito tempo. Quand secas canma. Conser-
van1 ° os se1vagens querem utilizá-
las, esmagam-nas em um almofariz de madeira. Isto dá uma
·farinha branca. Com ela fazem bolos que se h b .. ,
.. e amam eIJUS.
Terceiro: tomam mandioca bem apodr ·d -
. " ec1 a, nao a secam,
mas a misturam com seca e verde. Obtêm assim~ torrando, uma
farinha que se conserva perfeitamente um ano~ É boa tambem
para comer. Ch~mam-na uitá~. .
Preparam tambem uma sorte de farinha de peixe e carne,
do seguinte modo: assam a carne, ou o peixe, na fumaça sobre o
fogo, deixam-na secar de todo; desfiam-na, torram-na de novo
depois, ao fogo, em vasilhas queimadas para tal fim e que cha-
mam inhêpoã; esmagam-na após em um pilão de madeira e
passando isto numa peneira, reduzem-na a farinha. Esta se con-
serva por muito tempo. O uso de salgar peixe e car:ne, ne~ o
conhecem. Comem a tal farinha junto com a de mandioca, e isto
tem muito bom gosto.
CAPfTULO 12
CAPfTULO 13.
164
CAPfTULo 14.
Como queimam as Panelas .
e vasilhas que usam.
As mulheres fabricam a 8 .
guinte modo: tomam barro vasilhas de que carecem do se-
vasilhas que querem ter. D~p=assam~no e fazem então as
gum tempo. Sabem tambem . as, deixam secar durante al-
querem queimar as vasilhas d :mta-las com gosto. Quando
aí bastante cortiça sêca qi{e et r.uçam-nas ~obre pedras, põem
vasilhas, de modo que hicand~ eiam. Assun se queimam as
em como ferro em brasa.
CAPfTULO 15.
i~
;1
r...
.(
,,,,_
CAPíTULO 16
---
dl~e:a amerlcan~s.
tnlto 147) - Malre-monan Mafr-zumane, sumó ou Pai Zomé é um do•
históricos para maior conbcctment.o desta crenca .. ~n
reu ,1 • consultem-se entre outras 118 ·ecgnlnteH obrue . .A. Jl{etraux... La
de. c~nqnlHtll
torig on des tuplnambâe'' paris 11l28, pAg. irs. - JD. de Gand!a, Jlts-
Dâ.gae ~ga. - Oewaldo Orl~o.
227a critica de los ·mitos Ja amerlc:nnu"' Madrid, 11>29, pl!.ge.
"MltOH umerfndlos''o )tio il • Janeiro, 1930,
40. - Enduape.
CAPíTULO 17
' . 1
.. 1
1 '
'. ~ .'
CAPíTULO' 18
1 •.
,• ' ' \ . \
Assim dão apelidos aos seus filhos, sem batismo nem cir-
cuncisão. 1 1
170
CAPíTULQ 19.
\ 1 • I'
CAPfTULO 20.
missos de casamento.
·Como são os compro
. . uando estas são ainda
. . omo noivas, q . rtam-lhes os
Prometem suas filhas e f cam casadeiras, co . ada for-
criancas. , Quando crescem e lranbaduras de deter~mai'·s selva-
cabel~os, fazem-lhes as
.. costas ar alguns dentes dde anun
as esfoladu-
ma e prendem-lhes ao pesco_ço de novo cr;sci os i: põem qual-
gens. Quando os cabelos es:ao as escoriaçoes, Pºpreta depois de
ras sas,
- . podem-se a1·nda verdo que Perrnanece
quer :cousa na ferida, de mo 171
Concluidas táis ceremô-
ideram isto uma honra. deve ter sem solenidade
curad a. e ons . , le que a ' t"'
. entregan1 a inoça aque com decoro e em suas
inasl . Ih r portam-se
especial. Marido e mu e
relações a encoberto.~ nh"" cedo percorrer todas
· · al pela ma a '
Vi tambem um pnncip ' dente aguçado de peixe as .per-
as choças, arranhando com um , 5 a-fim-de que os pais as
1
nas das crianças, para amedronta- ~tas· "Ele voltará!" Assim
pudessem ameaçar, se fossem pera .
procuram fazer calar as crianças.
CAPfTULO 21.
CAPfT.V LO 22
172
CAPíTULo 23.
No que acreditam.
Os selvagens crêem numa cousa que cresce como uma
abábora. É grande com~ um pote de meia pinta e ôca por den-
tr O. Fincam-lhe atraves
b
um pequeno cabo ' cortam-lhe uma
tertura como uma oca e metem-lhe no interior pequenas pe-
~as de modo que chocalha. Sacolejam isto quando cantam e
da~am. Chamam-no maracá. Cada um dos homens possu_e o
seU, Particularmente. Tem o aspeto que mostra a segumte
figura.
. nel,a de barro.
· . óte e uma po
41. - Um maracá, um P , .-
. . eh am page. São
, A .. ssoas a qu~
·
174
CAPfTULo 24.
por· qq~· m,e atentava assim co~tra a vida, desde que eu nao era
cer t amen. · t 'e· um in1m1
1·1 ·· · ·go ,· se nao receava que o meu Deus lhe
•
-
· . . . :. . calamidade. Respondeu que eu nao
pude~s~ mandar a 1guma . . eram. os espíritos estranhos
. ,. .
dey1a . pre.o cupar-me e om isso pois
' f tos ue me diziam respeito.
que aueriam
... . estar ao par dos q ª
~--
'1 \ .
' '1
!·.
' ! 1, 175
CAP1TUL0 25
'I·
1 '
"' CAPfTULO 26
1 '
CAPíTULO 27.
177
. atentar bem aos .sonhos que
.. ·. s ue deviam , disso aos Jovens que,
dizend? aos gue:r.en~oi~. Ordenou alem ssim se fez, e o prin-
lhes viessem ne..sa assem e pescassem. ~h mou após os outros
Pela lnadrugada, caç o que caçaram. a se todos em cír-
d preparar s
cipal .m.~n ou . e da sua cabana. en . ue comeram, rela-
taram-
princ1pa1s ~m fie~~ dar de comer. Depois q agradaram bas-
culo no chao. Fez- 1es . muitos dêstes que os ,
taram seus sonhos, e havia e alegria com os maracas. . . .
tante. A seguir dansaran: d . ai as choças dos seus mun~-
Na noite seguinte vao espre:t de madrugada, quando o .dia
gos. O ataque sempre tem luga ue está gravemente ferido,
desponta. Se capturam alguem. ; sua carne assada para casa.
matam-no logo e carregam cons1g t- levemente, trazem-nos
Os que não estao - f en'dos, ou o . es ao .
suas aldeias.
vivos e matam-nos em . . ndo os pés ao solo e so-
Assaltam, sob grande gritaria, ba~e cabaças. Todos envol-
prando em instrumentos, que fazem_ . igos Enfeitam-se com
vem em si cordas para _ama:rar ~ic= fre~te aos contráriOs.
penas vermelhas como sinal ident b flechas ardentes con-
Atiram com rapidez e em~regam tam emlh fogo Quarido um
tra as choças dos adversários para atear~, . es ~ cura
dos seus é ferido, utilizam ervas espec1a1s para .
CAPíTULO 28.
' '
Usam arcos. A ponta das flechas é de 0sso, que . aguçam :e
amarram-lhes ao cabo, ou ainda de, dentes de peixes. ::€stes são
chamados tubarões, e se pescam no ~ar. Apanham tambem
algodão, misturam-no com cêra, prendem-no, .sr_bre as flechas
e inflamam-nas. São as flechas . incendiárias. Fabrica~, além
disso escudos de cortiça de árvores' e peles -de animáis selva-
gens.' Entérram ta~bem espi~hos 'p ontudos, como aqui entre·
nós se fazem armadilhas de pe. ,
Ouvi-lhes dizer t~mbem, ' mas não Vi própriamente, que uti-
lizam pimenta, que ha em sua terra, e com que conseguem afu-
gentar das fortificações os seus inimigos. Isto se dá da maneira
seguinte: quando o vento sopra, fazem uma grande fogueira e
lançam-lhe dentro um montão ·de pés ,de pimenta. Se a fumaça
dá de encontro às cabanas, o inimigo tem que saír então · para
fóra. Assim narram e eu creio, pois já estive uma vez, como já
178
foi dito con1 os portu ºo·ueses, en1 uma ,
que se e l1an1a . Pernainbuco L, .
· a perma . prov1ncia daquel a. t erra
e1n urr1 b· raço
d de. niar en1 sec o, porque
, anecemos
, com um na v10, · '
ten do v1n o muitos ~e1vao·ens n1are nos surpreendera
- . . ~ • ~b que nos que · . ,
nao consegu1ran1. Atiraram . ·. t . nam capturar 0 que
. n1u1 os arbust '
e a praia e esperavan1 afuge11ta . . os secos entre o navio
- r-nos com a f
1nas nao puderam, entretant t umaça da pimenta,
o, a ear-lhes fogo.
CAPíTULO 29.
179
braça de longo. Os selvagens a untam com uma substância gru-
denta. Tomam então cascas de ovo dum pássaro, o macaguá,
que são cinzentas, reduzem-nas a pó, e espalham isto sobre o ta-
cape. Depois se assenta uma mulher e garatuja nesta poeira de
cascas de , ovo, que está grudada. Enquanto ela desenha, ro-
deiam-na, cantando, muitas mulheres.
Estando o ibirapema como o deve, ornado com borlas de
penas e outros enfeites, será pendurado acima do chão, numa
vara, numa choça vazia. Os selvagens cantam então, através
da noite toda, em volta desta choça. Do mesmo modo pintam
o rosto do prisioneiro, e enquanto uma
mulher o pinta, cantam as outras. Quan-
do principiam a beber, levam comsigo o
prisioneiro, que bebe com êles, e com o
qual se divertem. Acabada a bebida, des-
cansam no outro dia e constroem para o
prisioneiro uma pequena cabana no local
em que deve morrer. Aí passa êle a noite
sendo bem vigiado. '
,. . P:la manhã, bem antes do alvorecer,
vem eles, dansam e cantam em redor do
tacape c~m que o querem executar, até
qu~ o dia rompa. Tiram então o prisio-
neiro para fora da pequena choça e der-
ruba~-na, fazendo um espaço limpo. Em
segmda desatam-lhe a mussurana do es-
coço, passam-lh'a em volta do corpo !'ete-
sando-~ de ambos os lados. Fica êle então
no
gurameio, a bem
cordaamarrado · MUI•ta gente se-
deix~asfi duas extremidades.
1 1
Assim
- 0 car algum · tempo e
poem-lhe perto pequenas pedr
possa lançá-las nas mulh as para que
correm em red eres, que lhe
ameaç or, mostrando-lhe com
as como o pretend
mulheres estão . e:r;i comer. As
quando fôr êle p~taddas e tem o encargo,
das caban cor a o, de correr em volta
daços N. as com os primeiros quatro pe-
42. - Mussurana e ibirapema • ISSO encontram prazer os demais.
, passos mais então
Fazem ou uma f oguerra,
.
a dois
que • t ' menos do escravo de sorte
mulher se aproxima
ao alto as b orlas de pena correndo
es e necessáriamente a vê
d' com . a maça, o ibrrapema
. . ' e ergue
uma
' a gritos de alegria e passa c~rrendo
180
em frente do pr1s1oneiro a-fim-de que êle o veja. Depois um
homem toma o tacape, coloca-se com êle em frente do prisio-
neiro, empunhando-o, para que o aviste. Entrementes, afasta-
se aquele que o vai matar, com outros treze ou quatorze, e
pintam os corpos de côr plúmbea, com cinza.
181
uma honra. A seguir retoma o tacape aquele que vai matar o
prisioneiro e diz: "Sim, aqui estou eu, quero matar-te, pois tua
gente tambem matou e comeu muitos dos meus amigos". Res-
ponde-lhe o prisioneiro: "Quando estiver morto, terei ainda
muitos amigos que sa.b erão vingar•me." .Depois golpeia o pri-
sioneiro na nuca d
mente levam
raspam-lhe t
a; e modo que lhe
mulheres o saltam os mio! .
do-lhe o anuoda a pele, fazend:1or~o, arrastam-noos, e imediata-
s com um pau . ~o inteirament b para o fogo
e ranc
182 , a-fim d
- e que nada d ·1 o, . e tapan-'
e e se escape.
Depois de e~f olado, toma-o um homem e corta-lhe as per-
nas, acima dos Joelhos, e os br_aços junto ao corpo. Vêm então
5
quatro mulheres, apanham os quatro pedaços, correm com
~les em torno das cabanas, fazendo grande alarido, em sinal de
~legria. Separam após as costas, com as nádegas, da parte dian-
45. - o
185
48. - Mulheres e crianças sorvendo o mingau.
186
. . Ao 1 d
49. • Comendo a carne da cabeça do pris1one1ro
. . H
com as mãos em atitud d . a o, ans Staden
e e prece.
187
50. - Assando os pedaços do corpo do prisioneiro.
-----
188
RELAróRIO SOBRE ALGUNS ANIMAIS
DAQUELA TERRA.
CAPíTULO 30.
189
CAPfTULO 31.
O tatú.
Chama-se tatú, uma outra espécie de animáis. O tatú
mede cerca de um palmo de alto e palmo e meio de comprido.
Tem o corpo todo encouraçado, com exceção do ventre. A cou-
raça é como chifre, fechando-se com junturas, · como numa ar-
madura. Tem um focinho longo e pontudo, uma cauda compri-
da e vive bem nas rochas. Seu alimento são formigas. É de car-
ne gorda. Comí dela muitas vezes. (149 )
......
··~
51. - O tatú.
149
) - Do tatú, cujo n .
tam os naturalistas cinco . orne. Llldigena quer . "
Con~ulte-se A. Couto de M ;s11é_c1es, com r dizer . casco duro", ci-
lhermg, "Da vida de agalhn.es, obra "1· gt nn?e var1eclatle de nomes
S u1) , 1934 pAgs 1·4 e nossos 'lnuna1s',
... · . (. ~ ., puo-s 22n •
, . . segs , s-ao Leo e. . º . e ,R . von
u e ..s;eO"s
· Poldo (Rio Grande do
190
CAPíTULO 32.
52. - O saruê.
191
leão, a que chamam leopardo, que significa leão pardacento, e
muitos outros diversos animais. (UH)
Uin animal, que denominam capivara, vive em terra e ná-
gua. As capivaras comem os caniços que ficam à margem das
águas doces. Quando se assustam com alguma cousa, fogem
para a água e vão-lhe ao fu~do~ São ~aiores que ~a ovelha,
e têm a cabeça semelhante a lebre,' conquanto maior, orelhas
curtas, cauda romba e pernas bastante altas. O pelo é cinzento
escuro. Têm três dedos em cada pé e correm velozes em terra,
de umas águas às outras. A carne te~ sabor da de porco.
Uma espécie de grandes lagartos lá vive nágua e na terra.
São bons para comer. ·
CAPíTULO 33
' 1
• •1
' :
ltirn) - E' sabido que no Brasil ~ão' existe tigre . nem leopardo , e
1
192
CÃPfTULO 34
CAPtTULO 35
' '
193
CAP!TULO 36
. '
'. '
1
·•':• 1, '1
1
194
CAP1TULO 38
195
CONCLUSÃO.
AMEN.
' i
' '
' 1 ,1
198
~lftOiia 6nb be~iei6ung eptter f anbt~
(d)4fft ~ett»il~ttt/r'C4cftt~tt/C81lmttligttt ~11fdJíccfJ!n
~fttt};)~t1Jín b~r n~wtnweltl merica ge"8tn/t'Ot ""b nad}
C[f>~ifij geburt im Canb Jút.>efTm unbcfant;bi~"lfbif~lf.
11~4)ftuergangen~ ;ar/Da (~~~ans 0tabenwnf)om~
. . ...·berg au~ t:)qJin bm:d} fan qgn~ trfamn.s ttfmtt/
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53, • Reprodução facslmllar do frontispício da ediçõo original
de Marburgo, da 1557.
199
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201
4) Mapa da ••eunda vlQ'em.
Com o fim de pór melhor i vista os detalhes, o mapa foi
descnJ1ado em escala maior que na edição alemã e s6 para a
distSncia de ltanhaen até o Rio de Janeiro, , sendo traçados
todos os trajetos feitos por Hans Staden desde o aprisionamento
até a libertação. Acompanhando d traÇado e confrontando-o
com as dist~ncias indicadas por Hans Staden, tem-s.e a prova
bastante de nossa tese, segundo a qual o atual lugar denominado
Ubatuba não póde ser o m~mo, onde o alemão viveu longo
tempo como prisioneiro. Como, porém, ainda existem algumas
dúvidas, apesar de todos os nossos esforços, dou a l~calização
de Ubatuba de Staden como .ainda ~ncerta, o que assinalo
pelo ponto .de interrogação.
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Antropófago e manta.nça .d o pri ioneiro , 97, 109, 112-114, 120,
121, 129, 131., 132, 134, 138, 153, 154, 176, 179, 180-185,
187, 188; Jlustr, 47, 50. ,
Antuérpia (St. · Antd-0rff), cidade do Paw~s Baixos, 20, 21,
147, 197. -,.
Apóstolon, rdcm do _, 12.
Araçoiá (St. .Arasoya), leque ornamenta4 91.
Aroripe, Tristão de Alencar, tradutor da obra ,de Sta.~ 23.
Ariró (St. ~ Arirab, Arírop), povoação, 88, 97, 99, 200; ilustr. 18.
Armação, ponta da, 72, 75.
Armenta, Bernardo de, frade franciscano, 16.
Arte medidnal, 96, 178.
Assunção, (St. = Sumption, la Soncion), hoje capital do Paraguai
5, 7-- 11, 61, 62, 64, 65.
Ataide, D. Antonio de, vide Conde da Castanheira.
Augsburgo, cidade da Alemanha, 17.
Aveiro, Duque de, 8. .
Ayrosa, Plínio, pesquisador do tupí-guaraní, 10, 88, 128, 154.
Azarado, Sebastião de, fundador de Paranaguá, 78.
204
Bry, Teodoro de, editor da obra de Stadcn, 21.
Buenos Aires 16, 23, 24, 61.
Burrón, Rafael, capitão, 10.
Burton, Richard F., anotador da obra de Stadcn, 22.
205
Cherburgo, cid.adc ~a· França, 20. 1.
Claesz, Comchs, editor da obra de Staden, 2
Claudio, vide Mirande. · 46
Coelho, Duarte, donatario de Pernam~~co, 45, ·
Colombo, Christovam, 17.
Conceição, vila, 47, 70. 1 1
· l~O; ilustr.
Dansa e música, 91, 92, 97, 133,. 166, 167, 172, 177-
28, 44. .
D. H., xil6grafo alemão, 38~ ·
Dias, Gonçalo, 1O.
Dieppe _(St. = Depen, D~ppaw), cidade da·França, 140, 146, 147, 197.
Oiez, cidade da Alen1anha, 25, 3'6, 199. ·
Dilúvio,, 174. ., -
Dinheiro, 172. . ·,
Direito e organização da tribu, " 155, 164, 172. ·-- - -...
206
Escravidão, 119.
Espanha, espanhóes e navios espanhóes, 6, 9, 10, 12, 13, 15, 33,
37, 52, 53, 56, 61, 62, 110, 151, 197.
Eslreia Polar Norte, 151. ·
207
~ondc;alv s, ~ . ns . , un \, l'HWtu ~tu~st; ! ~·
1 ')'} 64 l J7,
uon - 'ª.' .· \US Roq~ , . 1us ·o.rhu <W, , n, 11' "14, • . · , . 1 '
Gottofrtdu Ludov1cus, d1tof da obnt dt St,,clcu, 2 ·
Groot,. ijsbert de, ditor da bnt de Stndcu, 22,
Groot, lichel d , · ditor da obrn ele Stndcn, 21.
Guadalquivir, ri eh\ .&p•lnh:t, r: 2.
Guoianós (St. = Wayganna), ra~~a indígena, 153, 1.55.
Guaimbé, ilha, 74.
Guair6, r . ião, 10.
Guaitacás (St. ~ \Xf cittaka), tribu indígena, 154.
Guorá piranga (St. = Uwara pirange), ou garça, 82, 194.
Guaranis, r ça indígena, 15, 57, 58. . . _ 120
Guaratinga-açú (St. = Vratinge Wassu), chefe indígena, 90, . ' 108 ·
Guerra e armas, 47-49, 7 4, 77, 81, 83, 102, 104, 115, 124--126,
128, 144, 150, 154, 177, 178; ilustr. 6, 7, 12, 13, 19, 26, 31, 33.
Guerras, engen~o de açucar, 73.
Guiles, Antonio de, 1O.
Guiné (St. = lant Gene), região da Africa, 6, 8, 53, 151.
208
l numaç - o, il ll St't'. 21.
l pcw ~• iô -lto nHUQcó ou llha C r:tnd c de Itamaracá, 47.
1 rc lo, povon\"rio, e. 7.
h lrú .. uoçü, chefe indípcna, 89, 9 3, 104, 114.
lra la, Domm gos Mart inez de, 7, 8, 13, 61, 65.
1to 11a nos , ..> •
ltamarac6 (St. T:lfftmaraka, Tamerka), povoação no Estado de
P rnnmbuco, 47, 48; ilustr. 6. .
lta nh oa m (St. ~~ ltcngc Ehm), povoação, 9, 67, 70, 202; 1lustr. 11.
lt-0par ico, povoação, 13.
lta pucú, r io, 15, 64, 65.
ltavú (St. r- Ita Wu), chefe indígena, 140.
lvaí, r io, 14, 65.
209
39
Leuhr (St. = Lcuhr), alemão domiciliado cm Lisb6a, ·
Leyden, cidade da Holanda, 22. 6
Lingua tupi, 84-87, 100, 109, 113, 132, 174, 17 ·
liqueno, Frei José Maria, escritor, 7.
Lisbôa, 37, 39, 41, 42, 52, 53, 117, 145, 15 1.d ·
Lobato, Monteiro, compilador da obra de Sta en, 23 · 4 83 89
Loefgren, Alberto, tradutor da obra de Staden, 2 0' 22 - 2 ' ' ·
Londres, 22, 23, 147, 197.
Lonicer, Adam, tradutor da obra de Stadcn, 21.
Lyra, Nicolau, te6logo, 33.
Macacos, 189.
Macaguá (St. = Mackukawa), variedade de pássaro, 180.
Madeira, Ilha da (St. = Eilga de Madera), 4, .~2. .
Maembipe (St. = Meyenbipe) ou São Sebast1ao, ilha, 126, 128,
129, 131; ilustr. 25, 27.
Magalhães, A. Couto de, naturalista, 189-192.
Maiença, cidade da Alemanha, 29.
Malagueta, Ilha de, 11. ,
Malavér, Gomes, 10.
Mambucaba (St. = Mambukabe), povoação dos selvagens, 88, 104, 106.
Mandioca (St. = Mandioken)~ 47, ·49, 50, 62, 77, 87, 115, 159,
162, 163, 165, 171, 172.
Mangaratiba, enseada, 88, 122.
Manguape (St. = Mungu Wappe), porto, 110~
Maracá ou matraca (St. · = Tammerka), ídolo, 88, 91, 131, 132,
154, 173, 174, 177, 178; .ilustr. 41.
Maracaiás (S:. = Markayas), tribu indígena, 97, 98, 112, 144, 155.
Marburgo, cidade da Alemanha, 16-20, ·23-25 29 . 36 · 199
Marcondes, Moisés, historiador, 57. ' ' ' •
Maricá, povoação, 88.
Marie Bel'Eté, navio francês, 140, 146.
Morin vide Olinda.
Marrocos (St. = Barbaria), 39, 42.
Martim, Francisco~ 6.
Martim, Pedro, 1O. ·
Matapú, carac61 do mar, ~69.
1 \
211
Panos para carregar crianças, 170. , 4, 136-138·. .
Paraguó (St. = Parwaa), um selvagem, 129 13
Paraguai, rio, 7.
Paraguai, país, 1O, 12, 64, 68. 5; ilustr. 7.
Paraíba (St. = Paraibe), porto e rio, 50, 51, 12
Paraná, rio, 7, 65. ·.
Paranaguá, porto do Paraná, 57, 68, 78, 79.
1
212
Pri nci pe, Ilha do, 8.
Prisioneiros, tratamento dos, 84, 86-91, 93, 94, 96, 100, 104,
109, 112, 119, 129, 130, 132, 133, 155, 179, 180,.183; ilustr. 45.
Prússia, 26, 29.
213
Santa Catarina (St. = sanct Catharin hauingen, insel sanctae Catha-
rinae), porto e ilha, 5, 7, 8, 12, 15, 16, 57, 58, 60-62, 64,
65, 68; ilustr. 1O.
Santo Agostinho, cabo de (St. = la cape de Sanct Augustin), 32,
48; ilustr. 6.
Santo Amaro, capitania de, 7 4.
Santo Amaro (sancto Maro), ilha, 24, 67, 72, 73, 75, 78- ' 80, 82,
83, 127, 201; ilustr. 11, 12, 26.
Santo André, povoação, 68. . .
Santos, cidade, 9, 1 L 67, 71~ 72, 74, 80~. 9?, 117; ilustr. 12, 13.
São Felipe, forte na ilha de Santo Amaro, '24,' 67, 75, 127, 129, 201.
São Francisco do Sul, 7-10, 12, ] 5, 59, 65, 66. ,
São Gabriel, 7, 8.
São João, rio, 16. ,
São Jorge, engenho, 9, 73, 145. , · · ·
São Lucar de Barrameda (St. = sanct Lucas), localidade na Espanha,
5, 37, 52, 53. ' '
São Paulo, cidade, 20, 23, 24.
São Sebastião = Maembipe, ilha, 126, 128, 129, 131; ilustr·. 25~ 27.
São Sebastião, povoação, 88, 97, 130. , '
São Tiago, forte, 9, 75, 127, 210 (ilustr).
São Torná (St. = sanct Thome), ilha, 6, 7, 12, 53.
São Vicente, capitania~ 138. ,
São Vicente (St. = sancte Vincente), 1ilha . e povoação, 8-12;
13-15, 57, 65-71, 73-75, 78-80, 94, 97, 115_, 119, 145
197; ilustr. 11, 12, 13. "'
Saraiva, Fernando, .,de, 8. , . 1
214
Tainha = ?'it,ttí; r~ 77 t ·1 \ 177
Tamoios, ti-ibu indíg _'trn, 1H, · l 9.
Taquaraçú-tibo ( · t. · Tn ·kw~\n\sutibi), po von~~~ío doN.índio~, 139, 141.
Taq :u a·ri, po' a .· ~1 , \.:8.
Ta.ques 1 Pedr t~eue~llogist~\ e historiador, 73, 7 - . 80.
Totámiri (St. = 1\1t~1n1it"i) . ·hefc indígena, 134.
Totú (St. = D•lttu ),
1 O· ilustt'. 5 l.
Tounay, Afonso de E. 78, 138.
Teddos, 15.....
T e,mbetá, ornato., 99, 150, 167; ilustr. 18, 33.
Tenerife, ilha, 151.
Terceira,. ilha, 51, 52.
Ternoux-Compans, tradutor e editor da obra de Staden, 22, 23, 57.
Thevet, André, escritor, 66, 97.
Ticoaripa (Taguaí, Taquarí), (St. = Tickquarippc), povoação, 112.
Tigres, 191, 192.
Tipití (St. = tippici), n1a11gueira, 162.
Tipoí (St. = typpoy), vestitnenta, 152.
T cotai, Albert, tradutor da obra de Staden, 22.
Treto, Fernando de, 6-8, 10, 12, 13, 66.
T udsen, Gertrud, compiladora da obra de Staden, 24.
Tupí, raça indígena, 15, 153, 155.
Tupinambás (St. = Tuppin Inbas), tribu indígena, 18, 26, 31, 72,
74, 77, 79-81, 83-86, 90, 93, 94, 102, 119, 125, 127, 128,
130, 132, 144, 145, 149, 150, 154, 155, 201; ilustr. 16, 31.
· Tupiniquins (St. = Tuppin Ikins), tribu indígena, 37, 57, 72-7 4,
77, 82, 83, 93, 94, 98, 99, 101, 102, 104, 127, 128, 144, 154.
Turquet, Teodoro, 30.
Ubatuba (St. = Uwattibi), nome de duas povoações indígenas, 87,
88, 90, 92, 100, ] 01, 103, 104, 106, 110, 112, 114, 116, 122,
124, 125, 130, 133, 135, 143, 202; ilustr. 16, 17, 19-24, 29, 30.
Upaú-nema vide São Vicente (St. = Orbioneme, Urbioneme).
Utensílios dos selvagens, 90, 120, 154, 161, 162, 168, 200.
Utrecht, cidade da Holanda, 21.
Vaca, Alvaro Nunes Cabeça de, 5, 6, 15, 16, 52, 61, 64.
Vale, Salvador do, 73.
Valência, cidade, 42.
Valhadolid, cidade, 5.
Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, historiador, 45, 52, 68,
73, 76, 97, 104.
Vasilhas, 164-166, 173, 179; ilustr. 41.
Vaga, Diogo Bravo de la, 1O.
Valido, Afonso, um português, 8, 10, 65.
215
V entste, João vide João van Htalst.
Vespuccio, Americo, 17.
Vestimenta dos indígenas, 152, 161.
Vetteville (St. = Dattauilla, Wattauilla), localidade na França,
143, 197.
Viaçá (St. = Imbeaçã-pe), outrora Porto dos Patos, 7-9, 11, 15,
65, 67, 68, 71, 201.
Viaçás, tribu indígena, 68.
Vicuna, Carlos Morla, historiador, 8, 11.
Vida familiar, 155, 170-172. ·
Villegaignon, Almirante Nicolau Durand de, 97.
Vingança de morte, 164, 182.
Vivaldo, Bernardo, um genovês, 6, 1O.
Viveres, 34, 47-50, 59, 62, 64, 65, 68, 78, 125, 152, 153, 159,
' 162-164, 177, 190-192.
'''
216
Apresente edição de DUAS VIAGENS AO BRASIL
de Hans Staden é o volu1ne número 17 da Coleção
"Reconquista do Brasil" {l ªSérie), dirigida por Antô-
nio Paim, Roque Spencer Maciel de Barros e Ruy
Afonso da Costa Nunes; diretor até o volun1e 60,
Mário Guimarães Ferri (1918-1985). Impresso na
Sografe Editora e Gráfica Ltda., à rua Alcobaça, 745 -
Belo Horizonte, para a Editora Itatiaia, à Rua São Ge-
raldo, 67 - Belo Horizonte - MG. No catálogo geral
leva o número 00476/9B. ISBN: 978-85-319-0507-0.
como uma das fontes mais autori-
zadas da etnografia sul ..americana.
Mais de cinqüenta edições de seu
relato, ein alemão, flamengo, holm1-
dês, latim, francês e português dão
testemunho de sua invulgar importân-
cia. No Brasil, até a infància foi atra-
ída para a significação de seus escri-
tos, através dos livros especialmente
dedicados aos jovens pelas transcri-
ções geniais de Monteiro Lobato.
Personalidade inegavelmente
invulgar, Hans Staden, por sua vida
e por sua obra, situa-se entre os.
mais importantes autores que já es-
creveram sobre os inícios da histó-
ria brasileira. Ele viu, viveu e des-
creveu o que era esta região, com
seus panoramas e seus habitantes,
nos selváticos começos que lhe de-
ram configuração e dimensões. Para
quem quer compreender as raízes
e as coordenadas da evolução bra-
sileira, o seu testemunho é simples-
mente indispensável.
Ao reapresentar a obra de Hans
Staden, facilitando-a à consulta e
apreciação de todos os estudiosos,
a Editora Itatiaia, sente-se feliz por
poder, mais uma vez, cooperar com
t~dos aqueles que, no estudo da
formação histórica brasileira, se
. devotam a buscar nos alicerces do
passado as indicações que nos
apontam o caminho da construção
de uma nação sempre maior.
A presente obra apresenta-se em
reprodução fac-similar da excelen-
te tradução de Guiomar de Carva-
lho Franco, altamente enriquecida
com a inserção de ilustrações e
mapas da edição original publicada
em Marburgo no ano de 1556.
é
.E DITORA ITATIAIA
UMA EDIÇÃO ITATIAIA É SEMPRE UM BOM LIVRO
MAIS DE 50 ANOS DEDICADOS A CULTURA BRASILEIRA
Homepage: villarica.com.br/e-mail:vilaricaeditora@uol.com.br
DUAS VIAGENS AO BR
918-85-319-0507-0
9 l]]~~l l~~~J~