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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02503/06

Vistos, relatados e discutidos os autos da PRESTAÇÃO DE CONTAS DO ORDENADOR DE


DESPESAS DO MUNICÍPIO DE SANTANA DOS GARROTES/PB, SR. JOSÉ CARLOS SOARES,
relativa ao exercício financeiro de 2005, acordam, por unanimidade, os Conselheiros
integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão plenária
realizada nesta data, na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir, em:

1) Com fundamento no art. 71, inciso lI, da Constituição do Estado da Paraíba, bem como
no art. 1°, inciso I, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93, JULGAR IRREGULARES as
referidas contas.

2) IMPUTAR ao Prefeito Municipal de Santana dos Garrotes/PB, Sr. José Carlos Soares,
o débito relativo a despesas irregulares, no montante de R$ 11.014,57 (onze mil, quatorze
reais e cinqüenta e sete centavos), sendo, R$ 3.763,93, concernentes a despesas
previdenciárias insuficientemente comprovadas, R$ 4.240,64, referentes a gastos com
veículo locado extrapolando responsabilidade contratual e R$ 3.010,00, respeitante ao
superfaturamento na aquisição de veículo.

3) ASSINAR o lapso temporal de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário aos cofres
públicos municipais do valor imputado, sob pena de responsabilidade e intervenção do
Ministério Público Estadual, na hipótese de inércia, tal como previsto no art. 71, § 4°, da
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Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n. 40, do colendo Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba - TJ/PB.

4) APLICAR MULTA ao Chefe do Poder Executivo, Sr. José Carlos Soares, no valor de
R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos), com base no que dispõe o
art. 56, incisos II e IH, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93 - LOTCE/PB.

5) IMPOR PENALIDADES individuais aos membros da Comissão Permanente de


Licitação - CPL da Comuna à época, Sra. Maria Márcia Pinto, Sra. Ednaura Gouveia de
Araújo Teotônio e Sr. José Lopes de Araújo, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais),
também com fulcro no que estabelece o art. 56, incisos H e IlI, da Lei Orgânica do TCE/PB.

6) CONCEDER-LHES o prazo de 60 (sessenta) dias para os recolhimentos voluntários das


multas ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no
art. 3°, alínea "a", da Lei Estadual n.O 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à
Procuradoria Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o
término daquele período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do
Ministério Público Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 40, da
Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40, do ego Tribunal de Justiça do Estado
da Paraíba - TJ/PB.

7) FAZER recomendações no sentido de que o Prefeito da Urbe, Sr. José Carlos Soares, não
repita as irregularidades apontadas no relatório da unidade técnica deste Tribunal e obse e, k'"
sempre, os preceitos constitucionais, legais e regulamentares pertinentes. .

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02503/06

8) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, COMUNICAR
à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em Campina Grande/PB, acerca da falta de
recolhimento das contribuições previdenciárias, devidas pelo empregador, incidentes sobre
as remunerações pagas pelo Poder Executivo de Santana dos Garrotes/PB, durante o
exercício financeiro de 2005, bem como sobre a prestação de informações incorretas nas
Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social - GFIP do período.

9) Também com base no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, cabeça, da Lei Maior, REMETER
cópias das peças técnicas, fls. 607/615 e 1.190/1.201, do parecer do Ministério Público
Especial, fls. 3.309/3.316, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado
da Paraíba, para as providências cabíveis.

10) Ainda com apoio no supracitado dispositivo, REPRESENTAR ao Conselho Regional de


Contabilidade na Paraíba acerca da conduta profissional adotada pelo Contador da Urbe de
Santana dos Garrotes/PB, durante o exercício financeiro de 2005, Dr. Manoel Alves de
Oliveira, em razão da falta de empenhamento e contabilização de contribuições
previdenciárias patronais devidas, do empenhamento de despesas fora do período de
competência, bem como da omissão de escrituração de dívida da Urbe e de receita
proveniente de restituições, resultando na incorreta elaboração dos demonstrativos
contábeis enviados ao Tribunal.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino

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João Pessoa, O'j de C~ de 2008

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Fui Presente
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do Ministério Público ESP~'
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Tratam os presentes autos da análise das Contas relativas ao exercício financeiro de 2005 do
Prefeito e Ordenador de Despesas do Município de Santana dos Garrotes/PB, Sr. José Carlos
Soares, apresentada a este ego Tribunal em 31 de março de 2006, mediante o Ofício
n. ° 39/2006, fI. 02.

Os peritos da então Divisão de Acompanhamento da Gestão Municipal IV - DIAGM IV, com


base nos documentos insertos nos autos, emitiram o relatório inicial de fls. 1.190/1.201,
constatando, sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas no prazo legal;
b) o orçamento foi aprovado através da Lei Municipal n.o 343/2005, estimando a receita em
R$ 4.400.100,00, fixando a despesa em igual valor e autorizando a abertura de créditos
adicionais suplementares até o limite de 80% do total orçado; c) durante o exercício, foram
abertos créditos adicionais suplementares, no montante de R$ 3.126.350,30; d) a receita
orçamentária efetivamente arrecadada no exercício ascendeu à soma de R$ 4.702.971,14;
e) a despesa orçamentária realizada atingiu o valor de R$ 4.866.134,01; f) a receita
extra-orçamentária, acumulada no exercício financeiro, alcançou a importância de
R$ 318.620,84; g) a despesa extra-orçamentária, executada durante o exercício,
compreendeu um total de R$ 116.514,94; h) o somatório da Receita de Impostos e das
Transferências - RIT atingiu a importância de R$ 3.307.993,00; i) a Receita Corrente
Líquida - RCL alcançou o montante de R$ 4.678.461,14; e j) a cota-parte recebida do Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - FUNDEF somou R$ 826.441,05.

Em seguida, os técnicos da antiga DIAGM IV destacaram que os dispêndios muruopais


evidenciaram, sinteticamente, os seguintes aspectos: a) não foram escriturados no exercício
recursos oriundos de convênios; b) não foram identificadas despesas com obras e serviços
de engenharia no período; e c) os subsídios do Prefeito e do vice foram fixados,
respectivamente, em R$ 4.500,00 e R$ 2.200,00 mensais, mediante a Lei Municipal n.o 04,
de 11 de setembro de 2004.

Quanto aos gastos condicionados, verificaram os analistas desta Corte que: a) a despesa
com recursos do FUNDEF na remuneração dos profissionais do magistério alcançou o
montante de R$ 528.987,97, representando 64,01% da cota-parte recebida no exercício;
b) a aplicação na manutenção e desenvolvimento do ensino atingiu o valor de
R$ 1.125.205,65 ou 34,01 da RIT; c) o Município despendeu com saúde a importância de
R$ 347.517,75 ou 10,51% da RIT; e d) as despesas com pessoal da municipalidade, já
incluídas as do Poder Legislativo, alcançaram o montante de R$ 2.676.903,28 ou 57,22%
da RCL.

Ao final de seu relatório, a unidade técnica apresentou, de forma resumida, as


irregularidades constatadas, quais sejam: 1) ausência de equilíbrio entre receitas e
despesas; 2) carência de informação sobre a destinação de recursos obtidos com a alienação
de ativos, na quantia de R$ 49.020,00; 3) falta de comprovação da publicação dos Relatórios
Resumidos de Execução Orçamentária - REO, referentes aos quinto e sexto bimestres do
exercício; 4) elaboração incorreta do Relatório de Gestão Fiscal - RGF, relativo ao segun -~'"
semestre do período; 5) repasse ao Poder Legislativo em dissonância com o dispo o ~.:

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PROCESSO TC N.O 02503/06

art. 29-A, § 2°, inciso IH, da Constituição Federal, e acima do valor fixado no orçamento
mais suplementações, em R$ 6.265,04; 6) deficiências na Lei Orçamentária Anual - LOA;
7) não menção acerca do equilíbrio entre receitas e despesas na Lei de Diretrizes
Orçamentárias - LDO; 8) abertura de créditos adicionais suplementares sem fonte de
recursos, no montante de R$ 192.610,40; 9) ausência de contabilização de despesas
orçamentárias com encargos sociais, no total de R$ 252.446,90; 10) gastos previdenciários
insuficientemente comprovados, no valor de R$ 2.700,93; 11) atraso no pagamento ao
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, caracterizando descontrole administrativo e
financeiro, com prejuízo ao erário em virtude do pagamento de juros, na importância de
R$ 13.016,44; 12) excesso de dispêndios com combustíveis, correspondente a R$ 21.239,34;
13) aquisição de peças e pneus para veículo locado, na soma de R$ 4.240,64, infringindo
cláusula contratual; 14) despesas com aquisição de material didático, no montante de
R$ 13.050,00, insuficientemente comprovadas e com indícios de fraude no respectivo
processo Iicitatório; 15) BALANÇOS ORÇAMENTÁRIO, FINANCEIRO e PATRIMONIAL
incorretamente elaborados; 16) dívidas flutuante e fundada erroneamente informadas;
17) carência de registro na prestação de contas de receita, a título de INDENIZAÇÕESE
RESTITUIÇÕES,no total de R$ 5.409,49; 18) falsificação de propostas dos Processos
Licitatórios n.° 18 e 20/2005, configurando fraude em documentos públicos;
19) superfaturamento na compra de veículo, no valor de R$ 3.010,00; 20) diversas
irregularidades em procedimentos de licitação; 21) funcionamento precário do Conselho de
Acompanhamento e Controle Social - CACS; 22) desvio de finalidade dos recursos do
Programa de Educação de Jovens e Adultos - PEJA, na importância de R$ 23.737,34;
23) aplicação de apenas 10,51% da RIT em ações e serviços públicos de saúde;
24) prestação de informação incorreta ao INSS por meio das Guias de Recolhimento do
FGTS e Informações à Previdência Social - GFIP; 25) falta de sistema de controle de
distribuição de merenda escolar e dos bens do ativo permanente; 26) gastos com merenda
escolar insuficientemente comprovados, na soma de R$ 86.147,20; 27) inversão de
prioridades na aplicação dos recursos municipais, pois enquanto foram empregados
R$ 80.850,00 em festas, não foi aplicado nenhum valor em obras públicas; e 28) inexistência
dos livros DIÁRIO e RAZÃO,bem como de inventários de estoques de materiais e de bens
móveis e imóveis, descumprindo determinação da ResoluçãoNormativa RN - TC - 04/2004.

Processadas as devidas citações, fls. 1.202/1.207 e 1.209, o Contador do Município no


exercício financeiro de 2005, Dr. Manoel Alves de Oliveira, bem como os membros da
Comissãode Permanente de Licitação - CPL à época, Sra. Maria Márcia Pinto, Sra. Ednaura
Gouveia de Araújo Teotônio e Sr. José Lopes de Araújo, deixaram o prazo transcorrer sem
qualquer manifestação acerca, respectivamente, das falhas contábeis e das máculas
concernentes aos procedimentos licitatórios realizados.

Já o Prefeito da Urbe, Sr. José Carlos Soares, após pedido de prorrogação de prazo,
fls. 1.210/1.211, não acolhido pelo Relator, fI. 1.212, apresentou contestação,
fls. 1.220/3.254, na qual juntou documentos e argumentou, em síntese, que: a) o déficit
orçamentário de 3,58% da receita arrecadada no exercício é considerado normal e ínfimo em
relação ao valor global do orçamento, podendo ser relevado; b) houve falha no ANEXOlO,
da PCA, pois a receita obtida com a alienação de ativos correspondeu a apenas
R$ 24.510,00, utilizados na aquisição de dois veículos; c) todos os REO for
confeccionadosa tempo e divulgados, conforme declaraçõesanexadas; d) os demon . s k,:
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faltantes no RGF do segundo semestre foram acostados à defesa; e) houve necessidade de


suplementar os repasses para o Poder Legislativo, mas estes ficaram limitados a 8% da
receita tributária mais transferências do exercício anterior; f) existiu, de fato, atraso no envio
da LOA à Corte, mas foi encaminhada mensagem ao Poder Legislativo e realizada audiência
pública, sem constar matéria estranha na referida lei; g) os anexos e demonstrativos da LDO
foram encartados aos autos; h) a abertura de créditos adicionais especiais realizada pelo
Poder Executivo Municipal obedeceu rigorosamente aos preceitos normativos sobre a
matéria; i) quanto às despesas orçamentárias não contabilizadas, tem-se como praxe
empenhar e pagar a folha de pessoal do mês de dezembro no exercício seguinte e os gastos
com pessoal do PSF, pagos com recursos transferidos pelo governo federal, não devem ser
computados para fins de apuração do percentual da despesa de pessoal sobre a RCL; j) na
apuração dos dispêndios previdenciários não comprovados foi indevidamente incluída nos
valores extra-orçamentários a parcela recolhida pela Câmara Municipal; k) o consumo de
combustível utilizado como parâmetro para apontar o excesso informado estava equivocado,
haja vista que os veículos da Secretaria de Saúde percorriam longas distâncias e foram
computadas, incorretamente, despesas relativas ao exercício anterior; I) a cláusula contratual
acerca da responsabilidade pela realização de gastos com reparação do veículo locado não
se aplicava porquanto se referia a caso de execução de obras, cabendo, na realidade, ao
Município arcar com aqueles reparos; m) no que concerne à despesa com material didático,
foram anexadas cópias da nota fiscal e do cheque correspondente ao empenho, bem como
declarações das diretoras das unidades escolares, atestando a sua distribuição;
n) a realização de despesa significa pagamento, logo inexistem incorreções no valor da
dívida flutuante informada ou nos balanços apresentados, salvo pela ausência de registro do
débito para com o INSS no BALANÇO PATRIMONIAL e no DEMONSTRATIVO DA DÍVIDA
FUNDADA, ambos retificados na defesa; o) não procede a eiva relativa à omissão de receita
de INDENIZAÇÕES E RESTITUIÇÕES, conforme se observa no ANEXO 10 da PCA; p) novas
declarações das empresas participantes do Processo Licitatório n,O 18/2005, retificando as
anteriores, foram apresentadas; q) o preço do veículo adquirido por meio da Licitação
n.O 20/2005 foi o melhor ofertado pelos participantes, dentre eles a empresa CAVALCANTI
PRIMO VEÍCULOS LTDA., consoante nova declaração acostada; r) as semelhanças na
aparência das propostas constantes nos Convites n.? 30 e 31/2005 devem-se ao fato de que
os participantes seguiram o modelo proposto no edital fornecido em mídia magnética;
s) a despeito da participação de um único interessado na Tomada de Preços n.o 01/2005,
que não invalida o procedimento, houve ampla divulgação de todos os atos na imprensa
oficial; t) apesar da exigência legal, não há necessidade de reuniões ininterruptas a fim de
demonstrar o correto funcionamento dos conselhos municipais; u) inexistiu o desvio de
recursos do PEJA apontado, conforme se depreende do exame dos extratos bancários da
conta específica em confronto com as despesas pagas; v) o Município cumpriu integralmente
o disposto na Carta Constitucional no tocante a aplicação de recursos em saúde, devendo
ser considerados os gastos com saneamento básico e limpeza urbana, de acordo com
entendimento desta Corte de Contas; w) não há que se falar em erro de informações
prestadas na GFIP, a qual, segundo normas do INSS, baseia-se no efetivo recolhimento;
x) o Município dispõe de sistema de controle de distribuição da merenda escolar, consoante
comprovação em anexo; y) em 2005, foram realizadas obras com reforma de posto de

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saúde, ampliação de escola, implantação de rede de esgoto, recuperação de estradas ..f-
eletrificação rural, todas pagas com recursos próprios; e z) foram apresentadas cópias <ios' .
livros DIÁRIO e RAZÃO e o setor responsável do Poder Executivo adotará as as

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corretivas para suprir a falta dos inventários de estoques de materiais e de bens móveis e
imóveis.

Encaminhadosos autos à unidade de instrução, esta, examinando a referida peça processual


de defesa, emitiu o relatório de fls. 3.296/3.307, onde considerou elididas as eivas
concernentes a: a) carência de informação sobre a destinação de recursos obtidos com a
alienação de ativos; b) falta de comprovação da publicação dos Relatórios Resumidos de
Execução Orçamentária - REO, referentes aos quinto e sexto bimestres do exercício;
c) repasse ao Poder Legislativo em dissonância com o disposto no art. 29-A, § 2°, inciso lU,
da Constituição Federal, e acima do valor fixado no orçamento mais suplementações, em
R$ 6.265,04; d) não menção acerca do equilíbrio entre receitas e despesas na Lei de
Diretrizes Orçamentárias - LDO; e) gastos previdenciários insuficientemente comprovados,
no valor de R$ 2.700,93; f) excesso de dispêndios com combustíveis, correspondente a
R$ 21.239,34; g) despesas com aquisição de material didático, no montante de
R$ 13.050,00, insuficientemente comprovadas e com indícios de fraude no respectivo
processo Iicitatório; h) dívida fundada erroneamente informada; i) carência de registro na
prestação de contas de receita, a título de INDENIZAÇÕESE RESTITUIÇÕES,no total de
R$ 5.409,49; j) falsificação de propostas no Procedimento Licitatório n.O 18/2005,
configurando fraude em documentos públicos; k) desvio de finalidade dos recursos do
Programa de Educação de Jovens e Adultos - PEJA, na importância de R$ 23.737,34;
I) ausência de sistema de controle de distribuição de merenda escolar e dos bens do ativo
permanente; m) gastos com merenda escolar insuficientemente comprovados, na quantia de
R$ 86.147,20; n) inversão de prioridades na aplicação dos recursos municipais; e
o) inexistência dos livros DIÁRIO e RAZÃO, bem como de inventários de estoques de
materiais e de bens móveis e imóveis, descumprindo resolução do Tribunal.

Em seguida, a unidade técnica alterou o percentual de aplicação em ações e serviços


públicos de saúde de 10,51% para 11,15% da RIT, reduziu o montante das despesas
orçamentárias não contabilizadas de R$ 252.446,90 para R$ 236.274,14, e reputou
parcialmente sanado o item relativo a diversas irregularidades em procedimentos de
licitação, mantendo apenas a mácula referente à ausência de publicação do resumo do edital
da Tomada de Preços n.? 01/2005. Por fim, sugeriu que o Ministério Público junto ao
Tribunal de Contas se manifestasse sobre a aquisição de peças e pneus para veículo locado,
infringindo cláusula contratual, na soma de R$ 4.240,64, e manteve in totum o seu
posicionamento exordial relativamente às demais irregularidades.

O Ministério Público Especial, ao se pronunciar sobre a matéria, fls. 3.309/3.316, pugnou


pelo (a): a) emissão de parecer contrário à aprovação das contas do Prefeito Municipal de
Santana dos Garrotes, relativas ao exercício de 2005; b) atendimento parcial às disposições
da Lei de ResponsabilidadeFiscal; c) aplicaçãode multa, conforme dispõe o art. 56, inciso lI,
da LOTCE/PB;d) devolução aos cofres municipais da quantia de R$ 3.010,00 pelo gestor
municipal, em virtude de superfaturamento constatado na aquisição de veículo;
e) encaminhamento dos autos ao Ministério Público Estadual a fim de que se pronuncie
acerca de possível crime de fraude em procedimento licitatório; f) comunicação ao INSS da
falha relativa à incorreta informação da GFIP para que tome as medidas cabíveis;
g) recomendação à Administração Municipal no sentido de evitar to e qualquer a ,ãO )-:""

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administrativa que, em similitude com aquelas ora debatidas, venha a macular as contas da
gestão municipal.

Solicitação de pauta, conforme fls. 3.317/3.318 dos autos.

Em 31 de março do corrente, mediante o Documento TC n.o 06020/08, fls. 3.31913.320, o


Prefeito Municipal constituiu novo advogado, Dr. Eric Alves Montenegro, e através deste,
solicitou o adiamento da apreciação do presente feito.

Em 01 de abril do corrente, através do Documento TC n.O 06120/08, fls. 3.322/3.323, a


referida autoridade solicitou a juntada de cópia do extrato bancário da CONTA FPM
n.O 5.748-7, com o objetivo de comprovar o recolhimento da quantia relativa ao provável
superfaturamento na aquisição de veículo.

É o relatório.

In limine, quanto à solicitação de adiamento da análise da presente prestação de contas,


requerida pelo patrono do Chefe do Poder Executivo de Santana dos Garrotes/PB, tal
providência não merece guarida, tendo em vista que o supracitado gestor está devidamente
assistido por advogado devidamente habilitado nos autos, Dr. José Marcílio Batista,
procuração de fI. 1.211, ficando, portanto, evidenciado o caráter meramente protelatório do
pedido. Ademais, mesmo que o referido causídico renunciasse ao mandato, ele continuaria a
representar o Alcaide por mais 10 (dez) dias, conforme determina o art. 210, do Regimento
Interno do TCE/PB, c/c o art. 45, do Código de Processo Civil - CPC, respectivamente,
verbo ad verbum:

Art. 210. Aplicam-se subsidiariamente a este regimento interno as normas


processuais em vigor, no que couber, desde que compatíveis com os
princípios informativos do processo administrativo e com a sua Lei Orgânica.

Art. 45. O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato,


provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto.
Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o
mandante, desde que necessário para lhe evitar prejuízo.

No mérito, constata-se que as contas apresentadas pelo Prefeito Municipal de Santana dos
Garrotes/PB, Sr. José Carlos Soares, revelam inúmeras irregularidades remanescentes.
Entrementes, em que pese o posicionamento dos peritos desta Corte, impende comentar,
ab initio, que a mácula relativa à ausência de comprovação da publicação do resumo do
edital da Tomada de Preços n.o 01/2005, objetivando a aquisição de combustíveis para o
abastecimento da frota de veículos da referida Comuna, não pode prosperar, haja vista que
o referido procedimento foi encaminhado a este Tribunal para a competente análi
(Processo TC n.o 02385/05), considerado, mediante o Acórdão AC1 - TC - 1.206/ 6,
exarado em 05 de outubro de 2006, regular com ressalvas ape\\Onaspelo fato dne ue
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PROCESSO TC N.O 02503/06

quantidade licitada estava acima do valor despendido no exercício anterior. Logo, quanto aos
demais aspectos formais o certame encontrava-se dentro da legalidade.

Por outro lado, foi observado pelos peritos do Tribunal, fI. 1.196, a ausência de equilíbrio
entre as receitas e as despesas da Comuna, caracterizando, por conseguinte, o
inadimplemento da principal finalidade pretendida pelo legislador ordinário, através da
inserção no ordenamento jurídico tupiniquim da festejada Lei de Responsabilidade
Fiscal - Lei Complementar Nacional n.o 101, de 04 de maio de 2000 -, qual seja, a
implementação de um eficiente planejamento por parte dos gestores públicos, com vistas à
obtenção do equilíbrio das contas por eles administradas, conforme estabelece o seu art. 10,
§ 10, in verbis.

Art. 10. (omíssís)

§ 10 A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e


transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de
afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de
resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no
que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da
seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de
crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e
inscrição em Restosa Pagar.

Em seguida, restou evidenciada a carência de comprovação da destinação de recursos


obtidos com a alienação de ativos, no valor correto de R$ 24.510,00, haja vista a não
apresentação do DEMONSTRATIVO DA RECEITA DE ALIENAÇÃO DE ATIVOS E APLICAÇÃO
DOS RECURSOS- ANEXO XIV, que deveria acompanhar o Relatório Resumido de Execução
Orçamentária - REO do sexto bimestre do período, consoante determina a Portaria
n.o 471/2004, da Secretaria do Tesouro Nacional. De acordo com as alegações da defesa,
fI. 1.222, da quantia efetivamente arrecadada, R$ 11.710,00 teriam sido depositados em
uma CONTA de n.O 649 em setembro/2005 e utilizados na aquisição de um veículo para a
Secretaria de Saúde, conforme Nota de Empenho n.o 1.460. O restante, R$ 12.800,00, fora
depositado na CONTA DIVERSOS n.o 5.780-4 em agosto/2005 e, também, empregado na
aquisição de outro veículo, este no exercício de 2006.

No entanto, é preciso destacar que: a) a CONTA de n.O 649, onde teria sido colocada parte
da receita adquirida, não está registrada no Sistema de Acompanhamento da Gestão do
Recursos da Sociedade - SAGRES, como pertencente ao Município de Santana dos
Garrotes/PB; b) o veículo adquirido, no exercício de 2005, para a Secretaria de Saúde, no
valor de R$ 24.520,00, foi pago através de 02 (dois) cheques, de R$ 11.400,00 e

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R$ 13.120,00, em agosto e setembro, respectivamente, sendo ambos da CONTA FUS SAÚDE
n.o 9990-2, fI. 3.257; e c) não foi acostada comprovação da aquisição do segundo veículo
em 2006. Sendo assim, não obstante o entendimento emitido na análise da defesa, fI. 3.296,
persiste a irregularidade.

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02503/06

Também inserida no grupo das máculas constatadas na instrução processual, encontra-se a


incorreta elaboração do Relatório de Gestão Fiscal - RGF, referente ao segundo semestre do
período, fls. 430/437, por não apresentar todos os anexos exigidos pela Portaria
n.° 470/2004, da Secretaria do Tesouro Nacional, estando ausentes o DEMONSTRATIVO
DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO - ANEXO IV e o DEMONSTRATIVO DOS LIMITES - ANEXO
VII. A prestação de informações incompletas, tanto nos REO quanto nos RGF, além de
demonstrar desprezo da autoridade responsável aos preceitos estabelecidos na lei
instituidora de normas gerais de direto financeiro - Lei Nacional n. ° 4.320/64 -, prejudica,
sobremaneira, a transparência das contas públicas pretendida com o advento da Lei de
Responsabilidade Fiscal -, onde ambos figuram como instrumento dessa transparência,
consoante preceituam seus dispositivos, notadamente o art. 10, § 1°, já reproduzido
anteriormente, bem como o art. 48, verbatim:

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será
dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acessopúblico: os
planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de
contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução
Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
destes documentos.

No que se refere à Lei Municipal n.o 343/2005, que estabeleceu o orçamento para o
exercício de 2005, fls. 1891190, foram apontadas pelos analistas deste Sinédrio de Contas,
fI. 1.190, as seguintes deficiências: a) encaminhamento ao Tribunal de Contas fora do prazo
estabelecido; b) ausência da mensagem de encaminhamento da lei ao Poder Legislativo e da
evidência de realização de audiência pública; c) previsão de receitas de operações de crédito
superior às despesas de capital fixadas, estas não contempladas na Lei de Diretrizes
Orçamentárias - LDO, Lei Municipal n.o 341/2004, fls. 92/100. Tais inconformidades
caracterizam flagrante transgressão ao disposto no art. 7°, § 1°, da Resolução Normativa
RN - TC - 07/04, na sua redação original aplicável à época, ao estabelecido no art. 5°,
caput, e no art. 48, parágrafo único, ambos da Lei Complementar Nacional n.o 101/2000,
bem como ao disciplinado no art. 167, inciso III, da Constituição Federal, respectivamente,
verbum pro verbo:

Art. 7° - (omissis)

§ 10 - Cópia autêntica da LOAe seus anexos, conforme disposto no art. 165,


inciso I1I, parágrafos 50 a go, da CF, combinado com os arts. 166, § 4°, e
167 da CE, os arts. 2° a 8° e 22 a 33 da Lei 4.320/64, e o art. 5° da LRF,
com a comprovação de sua publicação no veículo de imprensa oficial do
Município, quando houver, ou no Diário Oficial do Estado, deve ser enviada
ao Tribunal. até o quinto dia útil do mês de janeiro do ano em que se inicia a
sua vigência, devidamente acompanhada da correspondente mensagem do
seu encaminhamento ao Poder Legislativo e da evidência da realização de
audiência pública prevista no artigo 48 da LRF. -----'.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02503/06

Art. 5°. O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma compatível


com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as
normas desta Lei Complementar:

Art. 48. (omissis)

Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante


incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante
os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes
orçamentárias e orçamentos.

Art. 167. São vedados:

( ...)

UI - a realização de operações de que excedam o montante das despesas


de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou
especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por
maioria absoluta; (grifas nossos)

Em relação à abertura e utilização de créditos adicionais suplementares sem fonte de


recursos para sua cobertura, ressalte-se que o montante real foi de R$ 202.637,87 e não
somente R$ 192.610,40, como informado na peça inicial, fl, 1.191, pois para os valores
abertos e utilizados, R$ 3.126.348,67, havia um lastro de apenas R$ 2.923.710,80, dos quais
R$ 302.871,14 eram provenientes de excesso de arrecadação e R$ 2.620.839,66 advinham
da anulação de dotações orçamentárias, conforme decretos, fls. 466/505. Daí, verifica-se
ardente violação ao estabelecido no art. 167, inciso V, da Lex Legum, como também ao
instituído no art. 43, da lei que estatuiu normas gerais de direito financeiro para elaboração
e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal - Lei Nacional n.O 4.320/64 -, respectivamente, tpsts /itteris.

Art. 167. São vedados:

1-( ...)

v- a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização


legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes;

Art. 43. A abertura dos créditos suplementares e especiais depende da


existência de recursos disponíveis para acorrer à despesa e será precedida
de exposição justificativa. (grifos ausentes no texto original)

No tocante ao não recolhimento das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador


ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, relativas a 2005, tem-se que o valor correto é
de R$ 149.989,66, uma vez que as obrigações patronais, correspondentes a 2101c~-" -,
despesa total com pessoal do exercício CR$ 2.123.055,99, fls. 586, 588/589 e 591/ 4: )~ .

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02503/06

equivalem a R$ 445.841,76, enquanto a quantia relativa àquela competência efetivamente


contabilizada e recolhida à autarquia federal foi de apenas R$ 295.852,10.

Neste sentido, constata-se que a ausência de empenho, pagamento e registro das referidas
obrigações, além de suscitar a imperfeição nas informações contábeis do Município,
representa séria ameaça ao equilíbrio financeiro e atuarial que deve perdurar nos sistemas
previdenciários, com vistas a resguardar o direito dos segurados em receber seus benefícios
no futuro, desrespeitando o disposto no art. 195, inciso I, alínea "a", da Constituição Federal,
c/c o art. 22, incisos 1 e II, alínea "a", da Lei Nacional n.o 8.212/91 - Lei de Custeio da
Previdência Social -, verbis:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da


lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,


a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviços, mesmo sem vínculo
empregatício;

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social,


além do disposto no art. 23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou


creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o
trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo
tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.

II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da


Lei n.o 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do
grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas,
no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o


risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; (grifamos)

Ademais, deve ser ressaltado que a mesma irregularidade pode ser enquadrada como ato d _~""
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração públi a, ')
segundo estabelece o art. 11, inciso 1, da lei que dispõe sobre as sanções aplicáveis a s /2.
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.O 02503/06

agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exerceo de mandato, cargo,


emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional - Lei Nacional
n.o 8.429, de 02 de junho de 1992 -, vejamos:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições,
e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso


daquele previsto, na regra de competência; (nossos grifos)

Neste ponto, merece destaque o fato de que a constatação da existência de obrigações


patronais devidas ao INSS, correspondentes à competência de 2005, as quais não foram
empenhadas nem pagas, nem mesmo em 2006, leva à conclusão de que as informações
prestadas por intermédio das Guias de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço e Informações à Previdência Social - GFIP, base para os descontos efetuados na
cota-parte do Fundo de Participação dos Municípios - FPM, estariam deficientes, podendo vir
a prejudicar a concessão de benefícios futuros aos segurados.

Também restou caracterizada a omissão de registro de um elevado passivo de curto prazo,


no patamar real de R$ 247.048,72, relativo a gastos com pessoal e serviços de terceiros,
obrigações patronais, entre outros, do exercício de 2005, somente empenhados em 2006,
segundo informações do SAGRES, contrariando o regime de competência da despesa,
devidamente estabelecido nas normas de contabilidade pública, notadamente aquelas
previstas no art. 35, inciso II, da Lei Nacional n.o 4.320/64 e no art. 50, inciso II, da Lei de
Responsabilidade Fiscal, verbo ad verbum:

Art. 35. Pertencemao exercíciofinanceiro:

I -(omissis)

II- as despesasnele legalmente empenhadas.

Art. 50. Além de obedecer às demais normas de contabilidade pública, a


escrituração das contas públicasobservará as seguintes:

I -(omissis)

II - a despesa e a assunção de compromisso serão registradas segundo o


regime de competência, apurando-se, em caráter complementar, o resultado
dos fluxos financeiros pelo regime de caixa.

Em seguida, impende destacar que, a despeito do entendimento exarado na análise


defesa, ft. 3.299, a mácula relativa a dispêndios previdenciários compr nj
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TRIBUNALDE CONTASDO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02503/06

permanece. Analisando a documentação encartada aos autos, fls. 627/640 e 646/728,


pode-se observar, claramente, que a importância contabilizada no exercício sub studio foi de
R$ 504.914,29, dos quais R$ 407.695,65 referem-se a despesas orçamentárias, nestas
incluídas a parte patronal, parcelamentos de dívidas e juros, e R$ 97.218,64 correspondem a
valores extra-orçamentários relativos às retenções dos segurados lotados no Poder Executivo
Santana dos Garrotes/PB. Entretanto, os valores comprovados, mediante descontos da
cota-parte do Fundo de Participação dos Municípios - FPM (R$ 142.964,32) e Guias da
Previdência Social - GPS pagas em 2005 (R$ 358.186,04), perfazem um montante de
R$ 501.150,36. Sendo assim, resta sem comprovação uma diferença de R$ 3.763,93.

No caso, a quantia em referência consiste em dispêndios registrados como efetivamente


pagos, porém, em flagrante desrespeito aos princípios básicos da pública administração, haja
vista que não constam nos autos os elementos comprobatórios da efetiva realização de seus
objetos. Concorde entendimento uníssono da doutrina e jurisprudência pertinentes, a
carência de documentos que comprovem a despesa pública consiste em fato suficiente à
imputação do débito, além das demais penalidadesaplicáveis à espécie.

O artigo 70, parágrafo único, da Constituição Federal, dispõe que a obrigação de prestar
contas abrange toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade,
guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União, os
Estadosou os Municípios respondam, ou que, em nome destes entes, assuma obrigações de
natureza pecuniária.

Importa notar que imperativa é não só a prestação de contas, mas também a sua completa
e regular prestação, já que a ausência ou a imprecisão de documentos que inviabilizem ou
tornem embaraçoso o seu exame é tão grave quanto a omissão do próprio dever de
prestá-Ias, sendo de bom alvitre destacar que a simples indicação, em extratos, notas de
empenho, notas fiscais ou recibos, do fim a que se destina o dispêndio não é suficiente para
comprová-lo, regularizá-lo ou legitimá-lo.

Neste sentido, dignos de referência são os ensinamentos dos festejados doutrinadores J.


Teixeira Machado Júnior e Heraldo da Costa Reis, in Lei 4.320 Comentada, 28 ed, Rio de
Janeiro: IBAM, 1997, p. 125, verbatim:

Os comprovantes da entrega do bem ou da prestação do serviço não devem,


pois, limitar-se a dizer que foi fornecido o material, foi prestado o serviço,
mas referir-se à realidade de um e de outro, segundo as especificações
constantes do contrato, ajuste ou acordo, ou da própria lei que determina a
despesa.

Ademais, os princípios da legalidade, da moralidade e da publicidade administrativas,


estabelecidos no artigo 37, caput, da Lei Maior, demandam, além da comprovação da
despesa, a efetiva divulgação de todos os atos e fatos relacionados à gestão pública.
Portanto, cabe ao ordenador de despesas, e não ao órgão responsável pela flscallzaçã , ~k
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provar que não é responsável pelas infrações, que lhe sãOjimpUptadas, das leis e
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02503/06

regulamentos na aplicação do dinheiro público, consoante entendimento do ego Supremo


Tribunal Federal - STF, verbum pro verbo:

MANDADODE SEGURANÇACONTRAO TRIBUNAL DE CONTASDA UNIÃO.


CONTASJULGADASIRREGULARES.APLICAÇÃODA MULTA PREVISTANO
ARTIGO 53 DO DECRETO-LEI199/67. A MULTA PREVISTANO ARTIGO 53
DO DECRETO-LEI199/67 NÃO TEM NATUREZADE SANÇÃODISCIPLINAR.
IMPROCEDÊNCIA DAS ALEGAÇÕES RELATIVAS A CERCEAMENTODE
DEFESA.EM DIREITO FINANCEIRO,CABEAO ORDENADORDE DESPESAS
PROVARQUE NÃO É RESPONSÁVELPELAS INFRAÇÕES,QUE LHE SÃO
IMPUTADAS, DAS LEIS E REGULAMENTOSNA APLICAÇÃODO DINHEIRO
PÚBLICO.COINCIDÊNCIA,AO CONTRÁRIODO QUE FOI ALEGADO,ENTRE
A ACUSAÇÃOE A CONDENAÇÃO,NO TOCANTE À IRREGULARIDADEDA
LICITAÇÃO. MANDADODE SEGURANÇAINDEFERIDO. (STF - Pleno - MS
20.335/DF, ReI. Ministro Moreira Alves, Diário da Justiça, 25 fev. 1983, p. 8)
(grifo nosso)

Visando aclarar o tema em disceptação, vejamos parte do voto do ilustre Ministro Moreira
Alves, relator do supracitado Mandado de Segurança, ipsis litteris;

Vê-se, pois, que em tema de Direito Financeiro, mais particularmente, em


tema de controle da aplicação dos dinheiros públicos, a responsabilidade do
Ordenador de Despesas pelas irregularidades apuradas se presume, até
prova em contrário, por ele subministrada.

A afirmação do impetrante de que constitui heresia jurídica presumir-se a


culpa do Ordenador de despesas pelas irregularidades de que se cogita, não
procede, portanto, parecendo decorrer, quiçá, do desconhecimento das
normas de Direito Financeiro que regem a espécie. (grifo ausente no texto
original)

Já o eminente Ministro Marco Aurélio, relator na Segunda Turma do STF do Recurso


Extraordinário n.o 160.381jSP, publicado no Diário da Justiça de 12 de agosto de 1994,
página n.O 20.052, destaca, em seu voto, o seguinte entendimento: "O agente público não
só tem que ser honesto e probo, mas tem que mostrar que possui tal qualidade. Como a
mulher de César."

No que tange ao pagamento de juros e multas decorrentes do recolhimento intempestivo de


contribuições previdenciárias ao INSS, constata-se certa desídia do administrador público
municipal em efetuar os pagamentos nos prazos legalmente estabelecidos, evidenciando
descontrole acerca das atividades administrativas desenvolvidas na Urbe. Contudo, inexiste
in casu comprovação de dolo, fato que enseja o envio de recomendações à autoridade
competente no sentido de cumprir tempestivamente os compromissos assumidos, evitando,
assim, a incidência de encargos quando da quitação regular das obrigações. É importan
frisar que o prejuízo gerado ao erário municipal em 2005, atingiu, n ealidade

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TRIBUNALDE CONTASDO ESTADO

PROCESSOTC N.O 02503/06

montante de R$ 14.193,46, consoante descontos efetuados na cota-parte do Fundo de


Participação dos Municípios - FPM nos meses de janeiro a junho daquele período,
fls. 627/633.

Em referência à aquisrçao de peças e pneus, bem como a realização de serviços de


manutenção no veículo TOYOTA HILUX, ano 1997, locado para o Gabinete do Prefeito, no
valor total de R$ 4.240,64, fls. 954/972, extrapolando a responsabilidade contratual do
Município, é imperativo ressaltar, inicialmente, que os ajustes celebrados pela Administração
Pública são regidos pelo Estatuto das Licitações e dos Contratos Administrativos - Lei
Nacional n.O8.666/93, que estabelece, verbis:

Art. 54. (omissis)

§ 10 Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições


para sua execução, expressas em cláusulas que definam os direitos,
obrigações e responsabilidades das partes, em conformidade com os termos
da licitação e da proposta a que se vinculam.

(...)

Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:

I - (omissis)

( ...)
VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e
os valores das multas; (grifamos)

Dessaforma, ao examinar o acordo para a referida locação, fls. 968/969, verifica-se que, na
sua cláusula quarta, item II, alínea "e", foi atribuída como obrigação do contratado,
Sr. Francisco Sales de Lima, entre outras, "reparar, corrigir, remover, ou substituir, às suas
expensas, no total ou em parte, o objeto deste contrato, em que se verificarem vícios,
defeitos ou incorreções resultantes de sua execução". Já com relação às atribuições do
contratante, no caso, o Município de Santana dos Garrotes/PB, o item I, da mesma cláusula
quarta, conferiu apenas: a) o pagamento dos serviços prestados rigorosamente em dia; e
b) a fiscalização do cumprimento do contrato.

Portanto, em que pese o entendimento exarado pela ilustre Procuradora Geral do Ministério
Público junto ao Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, Ora. Ana Terêsa Nóbrega,
fI. 3.313, não há como acolher a alegação apresentada pela defesa, fls. 1.229/1.230, de que
as despesas com sobressalentes e serviços de manutenção do veículo seriam de
responsabilidade da Comuna, devendo a autoridade responsável ser compelida a devolver o
valor de R$ 4.240,64 aos cofres municipais.

Integram o rol de irregularidades, as inúmeras incorreções verificadas nos demonstrativo


contábeis que compõem a prestação de contas, fls. 08/10, 43/46~ID 71,
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PROCESSOTC N.o 02503/06

a) receita total informada nos ANEXOS 2 e 10, no BALANÇO ORÇAMENTÁRIO, bem como na
DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS, R$ 4.697.561,65, inferior ao seu valor
real, R$ 4.702.9741,14, fI. 506, evidenciando uma diferença de R$ 5.409,49, correspondente
à receita de OUTRAS RESTITUIÇÕES; b) ausência de contabilização de despesas
orçamentárias atinentes ao exercício de 2005, no valor total de R$ 397.038,38, que, ou
deixaram de ser empenhadas, como as obrigações patronais devidas ao INSS,
R$ 149.989,66, ou foram empenhadas somente no exercício seguinte, fora do período de
competência, no valor de R$ 247.048,72, conforme já comentado anteriormente,
provocando distorções nos BALANÇOS ORÇAMENTÁRIO, FINANCEIRO e PATRIMONIAL, bem
como no DEMONSTRATIVO DA DÍVIDA FLUTUANTE; e c) ausência de registro de dívida com
o INSS, na importância de R$ 4.914.334,53, fI. 976/978, comprometendo também a
fidedignidade do BALANÇO PATRIMONIAL e do DEMONSTRATIVO DAS VARIAÇÕES
PATRIMONIAIS.

Tais discrepâncias, além de prejudicarem a análise dos inspetores desta Corte de Contas,
comprometem sobremaneira a confiabilidade dos registros contábeis do Município. Ademais,
o profissional de contabilidade não registrou as informações contábeis na forma prevista nos
artigos 83 a 106, da Lei Nacional n.o 4.320/64, como também elaborou os balanços sem
observar todos os princípios fundamentais de contabilidade previstos nos artigos 2° e 3°, da
Resolução do Conselho Federal de Contabilidade n.O 750, de 29 de dezembro de 1993,
devidamente publicada no Diário Oficial da União de 31 de dezembro do mesmo ano,
verbo ad verbum:

Art. 2° - Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a


essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade,
consoante o entendimento predominante nos universos científico e
profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido
mais amplo de ciência social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades.

Art. 3° - São Princípios Fundamentais de Contabilidade:

I) o da ENTIDADE;
II) o da CONTINUIDADE;
IlI) o da OPORTUNIDADE;
IV) o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL;
V) o da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA;
VI) o da COMPETÊNCIA e
VII) o da PRUDÊNCIA.

°
No que respeita ao Processo Licitatório n, 020/2005, na modalidade convite, objetivando a
aquisição de veículo de pequeno porte destinado à Secretaria de Saúde, no valor de
R$ 24.520,00, fls. 985/992, o órgão de instrução questionou as supostas propostas
apresentadas em papel não timbrado, com indícios de fraude, pelas empresas CAVALCANTI
PRIMO VEÍCULOS LTDA. e MONTE CARLa VEÍCULOS E PEÇAS LTDA., com vistas ao
fornecimento do modelo UNO MILLE FIRE 1.0, 04 (quatro) portas, básico, de marca distint
daquelas q~e comercializam. Após diligência dos técnicos deste Tribunal, a CAVALCAN·.)~.,
PRIMO VEICULOS LTDA. declarou, por intermédio do seu Diret~ial' D. JO~\~~'F"""
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02503/06

Cavalcanti da Silva Filho, total desconhecimento do certame em questão e da suposta


proposta apresentada em nome da concessionária, que não comercializa veículo zero
quilômetro de marca diversa da FORO, fI. 996. Ressalte-se que a firma vencedora da
licitação, SINAL MOTOS LTDA., cuja proposta de fornecimento de um UNO MILLE FIRE foi de
R$ 24.520,00, fI. 992, tem como atividade econômica principal o "comércio a varejo de
motocicletas e motonetas novas", fI. 999.

Além disso, por ocasião da defesa, o interessado encartou aos autos declaração do Gerente
de Vendas da CAVALCANTI PRIMO VEÍCULOS LTDA., Sr. José Valdeis, em que atestava a
participação da empresa na licitação, fi. 1.300. Entretanto, diante da aparência duvidosa do
documento, não carimbado e com indícios de nova fraude, bem como da informação
fornecida pelo mesmo funcionário, que trabalha no departamento de caminhões daquela
concessionária, negando a elaboração da referida declaração, esta foi prontamente rejeitada
pelos peritos da Corte.

É preciso ressalatar, por oportuno, que frustrar a licitude de processo Iicitatório consiste em
ato de improbidade administrativa, com lesão ao erário, consoante previsto no art. 10,
inciso VIII, da já mencionada lei que trata das sanções aplicáveis aos agentes públicos - Lei
Nacional n.O 8.429/1992 -, in verbis.

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
ou haveres das entidades referidas no art. 10 desta lei, e notadamente:

I - (omissis)

(...)

VIII - frustrar a licitude de processo Iicitatório ou dispensá-lo


indevidamente; (nosso grifo)

Ainda acerca do mesmo procedimento de licitação, os analistas deste Pretório apontaram um


superfaturamento de R$ 3.010,00 no preço do veículo adquirido, pois o valor pago pelo
Município de Santana dos Garrotes/PB, em agosto/2005, foi de R$ 24.520,00, fI. 3.257,
enquanto na compra de objeto idêntico, em julho/2005, a Comuna de Riachão do Poço/PB
despendeu apenas R$ 21.510,00, fi. 1.000. Logo, a diferença de R$ 3.010,00 deverá ser
ressarcida ao erário municipal pelo ordenador da despesa.

Em que pese a documentação acostada aos autos pelo Prefeito, fls. 3.322/3.323, atestando
o possível recolhimento daquele valor aos cofres públicos municipais, não há comprovação
da origem dos recursos por parte do responsável pelo suposto depósito efetuado na CONTA
FPM n.? 5.748-7 em 01 de abril de 2008, bem como do necessário registro contábil da
receita. /
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02503/06

Sobre o precário funcionamento do Conselho de Acompanhamento e Controle Social - CACS,


criado para acompanhar e controlar a repartição, a transferência e a aplicação dos recursos
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - FUNDEF, assinalaram os inspetores da unidade técnica de instrução que,
embora realizem reuniões periódicas, os integrantes daquele conselho não têm acesso à
folha de pagamento dos professores, impossibilitando a sua regular fiscalização,
fls. 1.195/1.196.

Impende comentar, neste ponto, que, por não possuírem estrutura administrativa própria, os
conselhos precisam atuar junto ao governo municipal, que deve disponibilizar todos os
registros contábeis e os demonstrativos gerenciais, mensais e atualizados, relativos aos
recursos repassados, ou recebidos, à conta do fundo, conforme estabelecem o art. 4°, caput
e § 4°, e o art. 5°, da Lei Nacional n.o 9.424, de 24 de dezembro de 1996 - Lei do
FUNDEF -, verbatim:

Art. 4° O acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a


transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos, junto aos
respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, por Conselhosa serem instituídos em cada esfera no prazo
de cento e oitenta dias a contar da vigência desta Lei.

...
( )

§ 4° Os Conselhos instituídos, seja no âmbito federal, estadual, do Distrito


Federal ou municipal, não terão estrutura administrativa própria e seus
membros não perceberão qualquer espécie de remuneração pela
participação no colegiado, seja em reunião ordinária ou extraordinária.

...
( )

Art. 5° Os registros contábeis e os demonstrativos gerenciais, mensais e


atualizados, relativos aos recursos repassados, ou recebidos, à conta do
Fundo a que se refere o art. 1°, ficarão, permanentemente, à disposição dos
conselhos responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização, no âmbito do
Estado, do Distrito Federal ou do Município, e dos órgãos federais, estaduais
e municipais de controle interno e externo. (grifos inexistentes no original)

Quanto aos gastos condicionados com saúde, impende destacar, primeiramente, que o
cálculo efetuado pelos especialistas da unidade técnica na análise da defesa,
fls. 3.303/3.304, incluiu apenas R$ 22.264,03 dos R$ 37.094,47 relativos à parcela do INSS
patronal da Secretaria de Saúde registrados no SAGRES. Além disso, dos RESTOS A PAGAR
da função 10 - SAÚDE inscritos ao final do exercício em análise, na soma de R$ 10.492,05,
fls. 76/79, só foram computados R$ 5.588,76, que corresponde ao saldo da CONTA FPM
n.o 5.748-7 em 31/12/2005, fI. 1.045. Cabe frisar que o saldo das disponibilidades de
impostos e transferências ao final do exercício sub studio somava, na realida ,
R$ 11.985,09.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.O 02503/06

Sendo assim, após os devidos ajustes, com a inclusão dos encargos sociais relativos ao INSS
ainda não computados, R$ 14.830,44, bem como bem como dos RESTOS A PAGAR inscritos
ao final de 2005, R$ 10.492,05, respaldados pelas disponibilidades existentes, R$ 11.984,89,
ainda que não tenha sido possível comprovar o seu efetivo pagamento no primeiro trimestre
de 2006, verifica-se que o Município aplicou, no exercício sub examine, apenas
R$ 388.490,82 ou 11,74% do somatório das receitas de impostos e das transferências
constitucionais - R$ 3.307.993,00 - em ações e serviços públicos de saúde, não atendendo,
por conseguinte, ao disposto no art. 198, §§ 20 e 3D, inciso I, da Constituição da República
Federativa do Brasil, c/c o art. 77, inciso lII, e § 40, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, que estabelece o percentual de quinze por cento como limite mínimo a ser
despendido pelos Municípios a partir do exercício financeiro de 2005, verbum pro verbo:

Art. 198. (omissis)

§ 1° (...)

§ 2° A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão,


anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos
derivados da aplicação de percentuais calculados sobre:

r - (...)
§ 30 Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá:

r- os percentuais de que trata o § 2°;

Art. 77. (omissis)

1-( ...)

III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do


produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos
recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso r, alínea b e § 3°.

§ 1° (...)

§ 40 Na ausência de lei complementar a que se refere o art. 198, § 30, a


partir do exercício financeiro de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípioso disposto neste artigo.

Referida mácula, em virtude de sua gravidade, é suficiente não só para a emissão de parecer
contrário à aprovação das contas, conforme determina o item 2.3, do Parecer Normativo
PN - TC - 52/2004 deste ego Tribunal, como também para a decretação de intervenção de
um Estado em seus Municípios, consoante preconiza o art. 35, inciso lII, da Carta Magna,
ipsis litteris. (",.,

rr---
\y~GiZ~ J
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PROCESSO TC N.O 02503/06


Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizadosem Território Federal, exceto quando:

I- (...
)

III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na


manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de
saúde; (grifos nossos)

No que respeita à ausência de sistema de controle de bens do ativo permanente


pertencentes à Comuna, fI. 1.198, saliente-se que tal situação dificulta a regular fiscalização
por parte deste Sinédrio de Contas, além de demonstrar falta de zelo pela coisa pública,
tendo em vista não se poder identificar com clareza os bens móveis e imóveis de
propriedade do Município, os responsáveis pela sua guarda e sua correta escrituração na
contabilidade, evidenciando, conseqüentemente, o descumprimento ao disposto nos artigos
94, 95 e 96, da Lei Nacional n.o 4.320/64, verbis.

Art. 94. Haverá registros analíticos de todos os bens de caráter permanente,


com indicação dos elementos necessários para a perfeita caracterização de
cada um deles e dos agentes responsáveispela sua guarda e administração.

Art. 95. A contabilidade manterá registros sintéticos dos bens móveis e


imóveis.

Art. 96. O levantamento geral dos bens móveis e imóveis terá por base o
inventário analítico de cada unidade administrativa e os elementos da
escrituração sintética na contabilidade.

Finalmente, a falta dos inventários de estoques de materiais e dos bens móveis e imóveis,
fI. 1.198, vai de encontro às determinações contidas no art. 7°, incisos XI e XII, da
Resolução Normativa RN - TC - 04/04, vejamos:

Art. 70 - O encaminhamento dos balancetes nos termos do art. 10 desta


resolução não desobriga os gestores públicos municipais de manter,
devidamente arquivados em local apropriado na prefeitura, por um prazo de
5 (cinco) anos, se outro maior não for exigido, a partir da data de
julgamento das contas em caráter definitivo, sem possibilidade de recursos,
todos os documentos abaixo relacionados relativos ao exercício de
referência:

I. (omissis)

...
( )

XI. Inventário de estoques de materiais;


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XII. Inventário de bens móveis e imóveis;

Além de descumprir as normas regulamentares emanadas desta Corte de Contas, a mesma


irregularidade também configura embaraço à fiscalização, principalmente no que diz respeito
às informações contábeis, que, dentre outros fins, servem para a correta elaboração do
Balanço Patrimonial, ensejando, portanto, a aplicação de multa à autoridade responsável,
nos termos do parágrafo único do art. 7° da citada resolução, verbo ad verbum:

Art. 7° - (omissis)

...
( )

Parágrafo único - A não apresentação, no prazo fixado, dos documentos


relacionados nos incisos I a XII, quando solicitados, constituirá embaraço à
fiscalização, estando o responsável sujeito às penalidades previstas no
Art. 56. da Lei Complementar nO18 de 13 de julho de 1993.

Acrescente-se que, a inexistência de inventário dos bens móveis e imóveis, individualizando


a situação do patrimônio público, pode-lhe gerar danos irreparáveis, porquanto, através do
registro discriminado de todos os bens da Urbe poder-se-ia efetivar um melhor controle e
conservação do acervo. Nesse sentido, merece destaque o disposto no art. lO, caput e
inciso X, da Lei Nacional n.o 8.429, de 02 de junho de 1992, in verbis:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbataramento ou dilapidação dos bens
ou haveres das entidades referidas no art. 10 desta lei, e notadamente:

I - (...
)

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no


que diz respeito à conservaçãodo patrimônio público;" (grifamos)

Diante do contexto, merece destaque o fato de que, dentre outras irregularidades e


ilegalidades, inclusive desobediência ao disposto na LRF e práticas danosas ao erário, quatro
das máculas encontradas nos presentes autos constituem motivo de emissão, pelo Tribunal,
de parecer contrário à aprovação das contas do Prefeito Municipal, conforme disposto nos
itens 2, 2.3,2.5, 2.9 e 2.11, do Parecer Normativo PN - TC - 52/2004, verbatim:

2. Constituirá motivo de emissão, pelo Tribunal, de PARECERCONTRÁRIOà


aprovação de contas de Prefeitos Municipais, independentemente e ~
imputação de débito ou multa, se couber, a ocorrênci de uma ou mais das .
irregularidades a seguir enumeradas: ~:
:;.r ~,,","\
\ ':.r~
~
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...
( )

2.3. não aplicação dos percentuais mínimos de receita em MANUTENÇÃO E


DESENVOLVIMENTO DO ENSINO (art. 212, Cf) e em AÇÕES E SERVIÇOS
PÚBLICOS DE SAÚDE (art. 198, CF);

...
( )

2.5. não retenção e/ou não recolhimento das contribuições previdenciárias


aos órgãos competentes (INSS ou órgão do regime próprio de previdência,
conforme o caso), devidas por empregado e empregador, incidentes sobre
remunerações pagas pelo Município;

( ...)

2.9. incompatibilidade não justificada entre os demonstrativos, inclusive


contábeis, apresentados em meios físico e magnético ao Tribunal;

...
( )

2.11. não publicação e não encaminhamento ao Tribunal dos Relatórios


Resumidos de Execução Orçamentária (REO) e dos Relatórios de Gestão
Fiscal (RGF), nos termos da legislação vigente;

Por fim, ante as diversas transgressões a disposições normativas do direito objetivo pátrio,
decorrentes das condutas implementadas pelo Chefe do Poder Executivo da Comuna de
Santana dos Garrotes, Sr. José Carlos Soares, bem como dos membros da Comissão
Permanente de Licitação - CPL, Sra. Maria Márcia Pinto, Sra. Ednaura Gouveia de Araújo
Teotônio e Sr. José Lopes de Araújo, resta configurada a necessidade imperiosa de
imposições de multas individuais de até R$ 2.805,10 - valor atualizado pela Portaria
n.O 039/06 do TCE/PB -, prevista no art. 56, incisos II e IlI, da Lei Orgânica do TCE/PB - Lei
Complementar Estadual n.o 18, de 13 de julho de 1993, verbum pro verbo:

Art. 56 - O Tribunal pode também aplicar multa de até Cr$ 50.000.000,00


(cinqüenta milhões de cruzeiros) aos responsáveis por:

I - (omissis)

II - infração grave a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,


financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

IH - ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte injustificado


dano ao Erário;

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