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Tania Montandon
[Pensando
HumanaMente]
[Um convite à reflexão sobre e através da mente priorizando o que possui de
mais humano sobre o que concerne à existência do ser no mundo, seus conflitos,
produções, sabotagens e labirintos ignotos que o momento atual demanda.
Somos convocados a ousar perscrutá-los e possibilitar construções,
desconstruções, reconstruções ou mesmo inovações na esperança de uma
mudança na consciência de cada um sobre si e sua relação com os demais e com a
natureza.]
I - O humano no ser existencial
O ser humano é aquele que pensa a Natureza. Através da fenomenologia, ele pode ocupar
um lugar de pensante de si e pode descrever essa consciência, que é o campo onde todo
fenômeno adquire sentido. É como uma ascese, o sujeito busca o despojamento de si para
estar purificado e propiciar a comunhão com a verdade.
A existência precede a essência. Esta é construída pelo conjunto dos atos, por
merecimento, conseqüências ... A liberdade do ser é proporcional à sua responsabilidade.
O único ser incondicionado é Deus, absoluto, sem relação de determinação. O conceito de
angústia caracteriza o efeito do conflito entre o fato do ser humano ser livre e responsável
concomitantemente, querendo ou não.
É existindo que o ser humano vai dar forma à matéria-prima oferecida por Deus -
segundo Kierkergaard - e constituir sua essência através dos atos e omissões. A
qualidade da essência do indivíduo é de responsabilidade de cada um.
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universo determinista, exercendo sua liberdade com suas escolhas. No entanto,
nunca há garantia de realização das possibilidades, o que também gera angústia.
A consciência dos limites é necessária para se ter uma existência autêntica. Deve-se
refletir sobre a morte, pois o homem é um ser para a morte. A lealdade para si é a
capacidade de compreender isso. O bem e o mal é circunstancial. Implícito a todo ser vivo
há o impulso à afirmação de ser, pois a vida quer continuar a ser sem limites, contudo
sempre deparando-se com o determinismo paradoxal que lhe é próprio: a vida possui
limites. Existe uma força que impulsiona o homem a viver apesar dos limites.
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II - O sem-sentido na Psicanálise
Lacan dizia, em 1949, que a loucura seria algo vivido inteiramente no registro do sentido
- definição feita a partir do delírio, que seria uma reconstituição do sentido perdido pelo
sujeito lá onde ocorreu uma dissolução imaginária do mundo. Para Freud, isso ocorria
quando o enfermo retira das pessoas e do mundo externo todo seu investimento
libidinal(de energia), fazendo com que tudo se torne indiferente e como se não houvesse
relação alguma com ele- o delirante, eis porque ele sente esta necessidade
urgente(tentativa de cura) de explicar para si o universo- aqui começa a elaboração do
delírio.
Esse trabalho de explicação do universo é o único meio pelo qual o sujeito pode voltar a
encontrar sentido pra sua vida. Sentido esse que está fora daquele entendido pela norma
simbólica do Complexo de Édipo, norma que rege a busca do sentido nos neuróticos,
ligada à sexualidade basicamente.
Já na psicose, esse processo falha e o sujeito não consegue articular essa simbolização.
Então encontramos na psicose as construções produzidas por essa falha, o inconsciente
fica como a céu aberto e há prevalência do significante. Entre essas construções estão a
alucinação verbal(há o modelo do significante desprovido de significado, de sentido
inteligível pela sociedade) como os pássaros miraculados de Schreber que não conhecem
o sentido das palavras que enunciam; também os fenômenos da alusão, da perplexidade e
da intuição - formas que o sujeito tenta trazer de volta ao Real os significantes a que não
conseguiu atribuir significado, sentido, não conseguiu simbolizar. Seria o delírio, como
formação imaginária, que traria sentido(ainda que não entendido pela sociedade) aos
significantes que forçam sua volta ao Real.
"O sentido de um sintoma na neurose como na psicose não é um sentido comum - não há
senso comum para o sintoma - ele é sempre singular. Por isso a psicanálise é o avesso do
discurso do mestre que produz o senso comum, o sentido partilhado. A psicanálise deve
levar o sujeito a produzir seu proprio sentido que não é comum. Se o sentido é
imaginário, o imaginário não é pura imaginação, o imaginário dá consistência ao Real.
O imaginário dá o efeito de sentido exigido pelo discurso analítico: efeito real."(Quinet,
in: Teoria e Clínica da Psicose)
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III - O poder como o mal da humanidade
Foucault mostra a necessidade de uma interpretação sobre o lugar das ciências humanas
na modernidad, assinalando as transformações sofridas pelas soceidades modernas em
relação às precedentes. Focaliza a genealogia do poder, buscando conhecer suas origens,
que são místicas e se desdobram até chegarem ao fato. O poder não está presente só no
presidente, no professor, no Papa... está também na capilaridade entre homens e mulheres,
adultos e crianças... O poder é um exercício de vida que ocorre nas relações, uma via de
mão dupla que caminha junto com o social. O que constitui os indivíduos, gestos, desejos,
maneira de ser é um efeito do poder e, ao mesmo tempo, seu centro de transmissão.
A genealogia está atrás das fontes e dos conhecimentos. O enclausuramento dos loucos
permitiu aos psiquiatras entender algo da loucura, produziu saber. O poder produz o
saber. Produzir conhecimento é ir ao encontro do desconhecido, do inexplorado.
Foucault considera a genealogia uma anti-ciência por propor construir não uma teoria
sistemática do poder, mas uma análise que permita uma política de resistência e luta
contra as formas hegemônicas de dominação. Aposta numa relação inelutável entre poder
e saber. A genealogia não contraria a ciência em si, mas sim a função social de exercício
de poder. Denuncia os saberes como peça de ação política e também produz saber, pois se
torna efeito de seu exercício. Sim, uma contradição, não há saber neutro, sempre é
político, inclusive o produzido pelo exercício da genealogia.
Não se pretende uma hegemonia teórica, a aposta está na eficácia das ofensivas locais e
descontínuas, como a luta anti-manicomial. É o reconhecimento do caráter histórico e
mutante dos sujeitos e do saber sobre os mesmos.
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demanda pelos especialistas muito mais que o aumento dos níveis de saúde mental da
população.
Foucault ensina que o saber não deve ser dissociado da política, pois não se pode
desconciderar os determinantes sociais, políticos, econômicos e culturais que atravessam
os saberes e as práticas do campo psi, assim como toda reforma e mudança pressupõe um
embate de forças, com ações e resistências.
Ciência Sabedoria
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IV - Sobre as sociedades de controle
Esse modelo sucede as sociedades de soberania, cujos objetivos eram mais do que
organizar a produção, decidiam sobre a morte mais do que geravam a vida. Eram
extremamente repressores. Napoleão marcou a transição de um modelo ao outro.
Após a Segunda Guerra Mundial, a sociedade disciplinar encontrou uma forte crise
generalizada a todos os meios de confinamento, em que toda a agonia acarretou o
surgimento de um novo modelo de organização – as sociedades de controle, que designa
a sociedade atual.
Os confinamentos são moldes, distintas moldagens, mas os controles são uma modulação,
como uma moldagem autodeformante que mudasse continuamente a cada instante. Numa
sociedade de controle, a empresa substituiu a fábrica e tornou-se a alma do sistema.
A situação de empresa pode ser adequadamente expressa através dos jogos de televisão
idiotas. A fábrica constituía os indivíduos em um só corpo, sendo cada elemento vigiado;
e a massa coletiva formava sindicatos mobilizando a resistência. Já a empresa introduz
sempre uma rivalidade inexplicável como sã emulação, excelente motivação que
contrapõe os indivíduos entre si e atravessa cada um, dividindo-o em si mesmo.
Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar, enquanto nas de controle nunca
se termina nada, a empresa, a formação, o serviço sendo os estados metaestáveis e
coexistentes de uma mesma modulação, como que de um deformador universal.
Será que já se pode apreender esboços dessas formas por vir, capazes de combater as
alegrias do marketing? Os anéis de uma serpente são ainda mais complicados que os
buracos de uma toupeira. Cabe aos jovens se conscientizarem disso e escolherem a que
desejam servir e ao que desejam aspirar. É do que depende o futuro da sociedade.
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V - O caos do trabalho na sociedade do espetáculo
No inicio, o individuo preocupa-se com o salário (necessidade física), depois passa a ficar
focado para os cargos, status. Em qualquer organização há jogo de poder, o que determina
quem ganha o quê. É muito desagradável a situação de um empregado que sabe que ganha
mais e o outro que sabe que ganha menos. Afinal, como funciona a questão do salário na
instituição, como ele é inserido na empresa? Por que um indivíduo ganha X ou Y?
O que significa modernidade? Bom, estar atrasado por se viver o presente em detrimento
da moda de se viver no “futuro” e estar sempre “updatado”? Talvez o apelido alta
modernidade seja um pouco mais coerente, não?!
Toda mercadoria sustenta-se por dois valores: o de uso e o de troca. O capital sustenta-se
pelo valor de troca, status, fetiche da sociedade. Por isso gera tanto mal-estar,
insegurança. O valor de uso é praticamente inexistente no mundo do capital. A força de
trabalho é vendida por um salário, que deve ser sustentado por um valor de mercado. O
cálculo ocorre pelo valor de troca, o dominante. Como isso tudo funciona?
Primeiro não se deve descartar todas essas mudanças profundas que vêm ocorrendo ou
correndo no trabalho, nas relações, sexualidade, família, subjetividade e demais
instituições vigentes.
Subversão de valores:
. 1 - Auto-realização, imediatismo
↑5 - Necessidades fisiológicas
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- O novo comportamento no ambiente; o fim da profissão; novas qualificações; exigência
de ampliação do conhecimento e informação; a necessidade de atualização permanente;
baixa da qualidade de vida com vistas à quantidade; busca incessante e exageradamente
ansiosa de aperfeiçoamento pessoal e conseqüente aumento do julgamento crítico e
cobranças por vezes de fazer tombar de tanto rir ou chorar…
Muitas vezes o sujeito disciplina suas pulsões, energia, através da arte para se contemplar
o mundo naquilo que não há valor de capital, não se troca, porém o deixa próxima à
Natureza, a sua natureza humana de não ser perfeito, robô, da percepção de que por mais
que conquiste nunca atingirá o ideal imposto e introjetado pelas informações em torrentes
e falta de tempo pra parar, pensar, refletir, curtir a própria companhia, conhecê-la…
Pimp! Uau! Eu também sou gente, não trocaria este momento de paz e completude por
dinheiro ou emprego algum. O que fiz com minha vida? Deixei que pensassem por mim,
decidissem o que é o melhor porque a maioria o faz? Logo eu, que tanto critico a
sociedade, estou subsumido por ela e ensinando, cobrando assim dos meus filhos. Não,
não preciso de tanto, meus filhos nunca pediram brinquedos nas datas de festa e nem
assim… -Pai, o presente que eu escolhi foi ter você torcendo por mim no campeonato de
futebol da escolinha quinta depois da aula. Pode? Puxa, eu achava um pouco estranho
porque ele poderia pedir video-games ou o que quisesse, apenas disse claro, é “só” isso?
…
Hoje não se tem tempo para sentir de verdade a vida, a família, colocar de fato os sentidos
pra funcionar. Tudo gera em torno da mercadoria, insegurança, mal-estar. A mídia põe
medo nas pessoas o tempo todo. Não é mais sociedade industrial, agora é a sociedade de
serviços. Necessita-se trabalhar muito e ter boas férias. À medida em que parte da
sociedade enriquece, perde-se a habilidade social. A solidão domina. As faces estão mais
frágeis, desconfiadas até da própria sombra.
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Entendendo um pouco sobre o funcionamento da economia social que não se explica na
TV, porém se impõe sutilmente, podemos notar a importância e objetivo do que se chama,
atualmente, Desenvolvimento Organizacional(D.O.). No próximo!
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VI - Desenvolvimento Organizacional - (D.O.)
Com a mudança, torna-se possível a amplição do cargo, que muda conforme o projeto a
ser desenvolvido. O detalhamento dos cargos faz parte do perfil profissiográfico.
O D.O. possui como objetivos aumentar a confiança dos membros da equipe; confrontar
posição, pessoal, usar o conflito(como fonte de produção) para o desenvolvimento em
organização. Por exemplo: um bom gerente pode tornar um mau conflito em um bom
conflito(um conflito produtivo). A autoridade é sustentada pela sua habilidade, seu
conhecimento… Com a comunicação lateral(fofocas), a gerência tende a perder controle.
O sistema matricial propicia o clareamento da comunicação lateral(diminuindo as fofocas,
que são mecanismos neuróticos de angariar afeto, mostrar poder- que não têm - para
denegrir a imagem de alguém; aparecem como demonstração do sentimento de inveja,
projeção de inferioridade, baixa auto-estima e denuncia uma instituição imatura, fogueira
de vaidades).
Dicas de livros:
- “Entre o Cristal e a Fumaça”, Henry Atlan
- “Do caos à inteligência artificial”, epistemologia da ciência
- “Entre o buraco e o avestruz”, Luis Davi Castiel
- “Moléculas, moléstias e metáforas”, Luis Davi Castiel
- “A medida do possível - risco, saúde e tecnobiociência na pós-modernidade”, Luis
Davi Castiel
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VII - Psicanálise e Fracasso Escolar
A criança, antes de possuir uma mínima aptidão para a leitura e escrita, já possui uma
escritura em seu inconsciente. Esta referindo-se à inscrição de uma marca do impossível
de se saber, quando ocorre o recalque primário e é formado o Aparelho Psíquico. Essa
perda primordial, da possibilidade de se saber sobre tudo mostrará à criança o real da
falta, a castração, o Outro é castrado. O que importa na formação de sua personalidade é o
modo como ela vai encarar esse saber a menos, que, segundo Freud, gira em torno do
mistério da morte e do sexo.
A sublimação é a vicissitude mais saudável por não possuir qualidade neurótica. O sujeito
apenas desvia a curiosidade sexual para outra curiosidade (intelectual, artística,
atlética…). É a melhor saída para a pulsão.
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VIII - A constante mutação da civilização
A empresa moderna percebeu que o domínio era mais eficiente a partir do incentivo às
pessoas fazerem o que desejam e que também seria interessante para a empresa, pois os
indivíduos são naturalmente ambiciosos e desejam ser produtivos, eficientes e, assim,
aprovados pelos demais.
As relações ficam mais complexas, os sexos quase se igualam quanto a direitos e deveres,
não se sabe mais qual papel é de quem e, assim, surgem também as psicopatologias da
modernidade, como a neurose da excelência, depressão, ansiedade, transtorno do pânico,
bulimia, anorexia…
O corpo humano possui um valor como nunca teve antes. Contraditoriamente, também é
objeto de agressão como nunca. A forma de dominação deixa de ser repressora e
proibitiva e passa a ser incitadora dos instintos - da ética do dever para a ética do desejo, a
mentalidade torna-se libertária, narcisista, competitiva ao extremo.
O filme “O show de Truman” - show da vida no qual o diretor produz um show 24 horas,
sendo o personagem principal alienado da verdadeira realidade de sua vida e submetido a
viver a história que lhe foi imposta sem ter consciência de que sua vida é um palco de
divertimento para o resto do mundo - é um bom exemplo desse controle sutil e bastante
sedutor dos meios de comunicação. O diretor manipula a curiosidade dos espectadores,
argumentando que Truman vive em um paraíso onde qualquer um gostaria de viver. No
fim do filme, Truman descobre a farsa e chega à porta que delimita o mundo externo e o
que o manteve trancado por todos os anos. É interessante notar que nessa hora o diretor
diz que conhece Truman mais do que ele próprio e sabe que Truman está com medo e que
não vai sair pela porta porque pertence àquele mundo. É aí que o personagem rompe a
relação de controle e mostra que, apesar de sua vida ter sido analisada pelo diretor o
tempo todo, ele é um sujeito com pensamento e idéias próprios e capaz de escolher o
caminho que deseja seguir.
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IX - Metáfora Paterna e Metonímia do Desejo
Segundo Lacan, o ser humano não nasce sujeito. Quando nasce, é como um corpo
espedaçado, correspondendo esse período ao que Freud chamou de auto-erotismo, um
corpo regido por pulsões parciais não unificadas. Até que ocorre uma “nova ação
psíquica” (Freud), possibilitando a constituição do eu corporal como unidade.
O período em que ocorre essa nova ação psíquica Lacan chamou de Estádio do Espelho,
constituído por três etapas. Na primeira etapa, a criança percebe a imagem real de um
outro (a mãe), mas esta não é interiorizada. Na segunda etapa, a criança percebe a imagem
da mãe apenas como imagem, a mãe é irrealizada. Já na terceira etapa, que corresponde
ao primeiro tempo do Complexo de Édipo, ocorre a identificação à sua própria imagem,
uma identificação à mãe como imagem. Essa é a identificação primária. A mãe funciona
como um espelho para a criança, refletindo o que esta virá a ser. É uma relação
extremamente próxima e necessária, que determinará toda dependência moral e afetiva do
ser humano ao semelhante. O eu é, assim, formado como um precipitado de traços de
identificação com o outro. A imagem da mãe chega de forma invertida, como de um
espelho.
Contudo, essa relação simbiótica e fusional entre a mãe e o bebê precisa passar por um
corte, o que acontece no segundo tempo do Édipo. No primeiro tempo, a mãe endereça
seu desejo à criança e a toma como aquilo que lhe falta (o falo). O segundo tempo ocorre
com a intervenção da função paterna fazendo um corte no desejo da mãe, fazendo este se
endereçar para outro lugar que não a criança como falo. É através dessa operação que a
criança poderá sair da posição de ser ou não ser o falo para a dimensão do ter ou não ter o
falo, passando a buscar a identificação com quem supostamente tem o falo.
Todo desejo é suportado por uma falta, a qual é inserida no mundo da criança e
simbolizada a partir da intervenção da função paterna. Esta lança o sujeito na alienação
simbólica, porque fica ainda prisioneiro da palavra, da linguagem, que é comum a todos.
Enquanto o eu nasce no campo do outro semelhante, especular, imaginário, o sujeito
nasce no campo do Outro da linguagem, da função paterna, da Lei contra o incesto, que
ordena as relações sociais. O desejo é sempre desejo do Outro, pois o que o sujeito deseja
é determinado por sua relação com a função paterna. O sujeito é sempre marcado pelo
Outro. Surge aí um paradoxo: embora o sujeito seja determinado por algo fora dele, ele
precisa responsabilizar-se pelo seu desejo.
Lacan chama objeto a aquilo que causa o desejo. Esse objeto a é o que não está inscrito,
aquilo que fura, falta e não pode ser representado. É um resto pulsional e tem a ver com a
pulsão de morte. A falta jamais é toda preenchida, ficando o desejo para sempre
insatisfeito. O sujeito busca realizar esse desejo através do deslocamento metonímico na
demanda, na tentativa de satisfazê-lo. É a partir da falta que o sujeito faz sintoma. Chama-
se deslocamento metonímico porque o sujeito toma o objeto substitutivo como se fosse o
objeto original perdido, o qual jamais é encontrado todo. Uma parte do objeto de desejo é
tomado como se fosse o desejo todo.
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ausências da mãe e utiliza como recurso simbólico para lidar com a separação uma
encenação por ela mesma do aparecimento e retorno do carretel, este simbolizando a mãe.
Essa renúncia pulsional é fundamental para sua inserção na cultura social. A criança
precisa suportar o fato de que ela não é o falo da mãe, ou seja, não é o único e exclusivo
objeto do desejo da mãe. Poderia perguntar-se: por que a criança parece ter mais
satisfação do que angústia com a brincadeira? Afinal, a mãe está ausente. Porque a
criança sai da posição passiva para a posição de sujeito, ela passa a ter controle da
situação, podendo, assim, fazer a renúncia pulsional. A criança constrói um controle
simbólico do objeto.
Toda operação de linguagem é não toda, sempre falta algo. Como diz Guimarães Rosa,
muita coisa importante falta nome. E é essa falta primordial que vai estruturar o sujeito.
Os registros imaginário e simbólico são recursos para se lidar com a energia pulsional. O
que não é coberto nem pelo imaginário nem pelo simbólico é o real.
As demandas tentam nomear, à revelia do sujeito, o desejo original. Numa análise, não se
deve responder à demanda do sujeito, ou se estaria tamponando a falta.
Assim, é a metáfora paterna que constitui a estrutura do sujeito: na neurose por sua
incisão através do recalcamento; na psicose por sua forclusão; e na perversão por um
desmentido. O sujeito é, então, um “parlêtre”, como diz Lacan, um ser de linguagem.
Referência bibliográfica:
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X - O adulto maduro para Allport
Allport dizia que “aquilo que dirige o comportamento, dirige agora”, não sendo
necessário conhecer a história do impulso para podermos compreender sua operação. Em
grande parte, o funcionamento desses traços é consciente e racional. O indivíduo normal
sabe por que faz e por que não faz as coisas. Seu comportamento ajusta-se a um padrão
congruente. Não é possível compreender o indivíduo sem uma visão de seus objetivos e
de suas aspirações. Seus motivos mais importantes não são ecos do passado, mas desafios
do futuro. Em muitos casos, sabe-se o que a pessoa fará se se conhecer seus planos
conscientes, mais do que suas memórias reprimidas.
Allport admite que esse quadro é idealizado. Nem todos os adultos alcançam a plena
maturidade. Há adultos cujas motivações conservam traços infantis. Nem todos os adultos
parecem guiar seu comportamento em termos de princípios claros e racionais. Contudo,
se sabemos até onde eles evitam a motivação inconsciente e até que ponto seus traços são
independentes das origens infantis, temos a medida de sua normalidade e de sua
maturidade. Somente em indivíduos seriamente perturbados encontraremos adultos
agindo sem saber por que, cujo comportamento está mais intimamente ligado a ocorrência
da infância do que a acontecimentos do presente ou do futuro.
A maturidade implica a posse de uma filosofia de vida. Embora o indivíduo deva ser
capaz de objetividade e ainda capaz de tirar proveito das ocorrências de sua vida, ele
deverá manter uma linha de completa seriedade, que dê propósito e significado a tudo
quanto faça. A religião representa uma das fontes mais importantes de filosofias
unificadoras, mas não a única.
Análise crítica:
Allport representa um dos poucos teóricos que provê uma ligação efetiva entre psicologia
acadêmica e suas tradições e o campo da psicologia clínica e da personalidade. Essa
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continuidade enriquece as subdisciplinas e ajuda a manter a continuidade intelectual no
desenvolvimento da psicologia. Allport adverte que o passado não explica tudo a respeito
do indivíduo, pois a psicanálise ou o clínico muitas vezes esquecem a importância dos
determinantes do momento e dos que hão de vir, em favor da determinação histórica. Por
outro lado, a teoria de Allport não é adequadamente formal para permitir a comprovoção
empírica de proposições. A teoria presta-se mais à tentativa de explicar as relações
conhecidas do que a predizer ocorrências não observadas. É falha como recurso formal
para produzir pesquisas. Allport volta-se inteiramente para o lado psicológico, para o
inter-relacionamento de todo o comportamento, porém não reconhece o inter-
relacionamento do comportamento e da situação ambiental na qual opera o
comportamento. Allport atribui muita importância ao que ocorre dentro do organismo e
dispensa pouca atenção ao impacto sedutor e coercitivo das forças externas. Faltou-lhe
uma visão mais ampla no sentido antropológico e sociológico para melhor situar sua
teoria na realidade.
Bibliografia:
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