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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 18 (01): 1402.

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ENSINO DE CONCEITOS GEOMÉTRICOS, ASTRONÔMICOS E


ASPECTOS SOCIAIS A PARTIR DA OBRA “FLATLAND: A
ROMANCE OF MANY DIMENSIONS” 1

Alailton Damião Oliveira Santos (1), Mirco Ragni (2), Marildo Geraldete Pereira (3)

(1-3) Mestrado Profissional em Astronomia. Departamento de Física. Universidade Estadual de Feira de Santana. Bahia.
Brasil. E-mail: alailtondtito@hotmail.com.

O ensino de muitos conceitos de Geometria está sendo deixado de lado ou tem recebido tratamento superficial na
escolarização básica no Brasil. As causas podem estar relacionadas com a falta de preparo dos professores, de tempo e
com o desconhecimento da importância do desenvolvimento do pensamento geométrico dos estudantes. Com este trabalho
busca-se desenvolver materiais instrucionais capazes de promover o ensino de conceitos geométricos e aplicações dos
mesmos na Astronomia, além de abordar aspectos sociais a partir do livro “Flatland: a romance of many dimensions” [1],
de Edwin Abbott. A concepção de um mundo totalmente plano e os desafios nele existentes, criado pelo autor para
satirizar preconceitos existentes na sociedade vitoriana, pode ser um meio oportuno para a abordagem de aspectos como o
reconhecimento das formas geométricas, percepção do espaço, estudo das dimensões e representações espaciais e até
mesmo investigar a visualização das dimensões superiores. As reações dos estudantes durante a utilização dos materiais já
desenvolvidos indicam que as experiências sensoriais podem, no mínimo, promover a motivação dos estudantes. Tendo
em vista as carências geralmente apresentadas pelos jovens em relação aos aspectos abordados, acreditamos que uma
abordagem diferenciada durante a escolarização básica contribua para uma melhor compreensão dos mesmos.
Palavras chave: Dimensões espaciais; Ensino de Geometria; Dimensões superiores.

INTRODUÇÃO

Assim como descrito na famosa “Alegoria da Caverna” ou Mito da Caverna, escrito pelo filósofo
grego Platão, a percepção do mundo está associada às experiências vivenciais de cada indivíduo. A interação
do homem com o espaço é feita por meio dos sentidos e a partir disso busca seu entendimento, passando a
atribuir significados.

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Anais do I Workshop do Mestrado Profissional em Astronomia, 13 a 15 de Setembro de 2018, Feira de
Santana

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A representação ou descrição racional do mundo e o entendimento dos fenômenos há muito tempo


move a humanidade. Ao longo de sua história, na busca da compreensão do espaço em que vive, o homem
passou a utilizar-se de formas geométricas e relacioná-las com os objetos em sua volta, numa espécie de
descrição geométrica da natureza.
A compreensão de que vivemos em um espaço tridimensional, no qual geralmente podemos inferir a
altura, o comprimento e a profundidade dos objetos é fundamental para o desenvolvimento do pensamento
geométrico dos estudantes. Além disso pode-se levantar a possibilidade de existência de outras dimensões
espaciais superiores, que seriam inacessíveis a nós, pois estaríamos presos a um espaço de apenas três
dimensões. Esse aspecto muitas vezes não é nem apresentado aos estudantes.
Esses aspectos e outros ligados a questões sociais podem ser abordados a partir do livro Flatland: A
Romance of Many Dimensions, escrito pelo inglês Edwin Abbott, em 1884 [1]. A edição brasileira com o
título: “Planolândia: um romance de muitas dimensões” só foi feita mais de cem anos depois, como cita
Alessandro Greco no prefácio à edição brasileira. A obra trata de um romance na qual o autor aparece
incorporado em um personagem que vive em um mundo de duas dimensões – Planolândia – e faz uso das
regras do referido mundo para satirizar os muitos preconceitos existentes na sociedade Vitoriana 2.
Com este trabalho busca-se então, apresentar a Geometria a partir do contexto presente na obra -
Flatland – e, associados a temas de astronomia, desenvolver materiais que facilite seu estudo.

REFERENCIAL TEÓRICO

O ensino de Geometria durante a escolarização básica encontra, dentre outros desafios, o de transpor o
alto grau de abstração e uso de muitas relações matemáticas prontas. Estes aspectos muitas vezes fazem com
que os estudantes se sintam desmotivados. Além disso, pouco se discute sobre como o ser humano percebe o
espaço em que vive. Nesse sentido, acredita-se que novas abordagens possam contribuir para a superação dos
referidos desafios. Trabalhos como os apresentados por Ribeiro (2016) [7] e Lima, Coelho e Vieira (2017) [4]
abordam o ensino de conceitos geométricos por meio de estratégias que podem despertar a atenção dos
estudantes. A seguir é feita uma breve apresentação de Planolândia e algumas relações com Astronomia e
com a Geometria são descritas.
A referida obra é dividida em duas partes. Na primeira parte, o autor apresenta o mundo plano, no qual
todos os habitantes e os objetos são simples formas geométricas bidimensionais e se diferenciam,
essencialmente, pelo número de lados. O autor, incorporado ao personagem “A Square” (ou Quadrado),
descreve detalhadamente o clima, as casas, como é feita a localização e os métodos de reconhecimento de uns
aos outros.
Na segunda parte o autor descreve uma visão que a seu personagem, o Quadrado, tem do mundo
unidimensional e em seguida a experiência que o mesmo teve ao receber uma visita de uma esfera, vinda da
terceira dimensão. A Figura 1, retirada do livro, representa a visão do personagem ao receber a visita.

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Em referência ao governo da Rainha Vitória entre os anos de 1837 e 1901, no Reino Unido.

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Figura 1: Visão do personagem bidimensional durante a visita da esfera. Fonte: Planolândia: Um Romance de Muitas
Dimensões.

Percebe-se que a esfera é vista apenas parcialmente em Planolândia, um círculo que aumenta e diminui
de tamanho (largura) na medida que a esfera penetra perpendicularmente a realidade bidimensional na qual
vivem e existem os habitantes da Planolândia.
Os habitantes de Planolândia, e suas respectivas classes sociais, são descritas a partir do número de
lados e à perfeição de suas formas. Na classe mais baixa estão as mulheres, estas são apenas linhas retas e
possuem capacidade intelectual bastante limitada. Por possuírem tal formato, são obrigadas entoar um canto
de paz sempre que se movimentarem, reduzindo assim a possibilidade de perfurar um outro ser que possa
estar distraído.
Os soldados e os trabalhadores de classes mais baixas são triângulos isósceles que possuem um ângulo
muito agudo, sendo também muito perigosos. A classe média por sua vez é composta pelos triângulos
equiláteros. Figuras de quatro ou cinco lados (quadrados ou pentágonos) pertencem a classe dos profissionais
e cavalheiros.
Seguindo dessa maneira, quanto mais ângulos um cidadão de Planolândia possuir, tanto mais alta será
a classe a qual pertence, até receber o título de polígono. Finalmente, ao possuir um número muito grande de
lados, de forma que já não se pode distinguir de um círculo, inclui-se na mais alta classe, a ordem circular.
O autor, ao atribuir à mulher a mais simples das formas geométricas existentes em Planolândia, satiriza
como a figura feminina era vista na sociedade Vitoriana. Percebe-se que, historicamente, a mulher foi vista
durante muito tempo apenas como genitora do lar, incapaz de contribuir socialmente com seu intelecto.
Em Planolândia a progressão de uma classe para outra se dá por meio de uma lei da natureza, a qual
determina que uma criança do sexo masculino sempre terá um lado a mais que seu pai, elevando assim a cada
geração uma categoria entre as classes. A diferença entre as classes sociais é evidenciada pelo autor pois esta
lei só é válida para as classes mais altas, dessa forma um filho de um triângulo isóscele também será um
isóscele, não podendo assim um descendente das classes mais baixas chegar às classes mais nobres.
Outro aspecto que pode ser explorado está associado ao fato do autor descrever as classes sociais
utilizando diversas formas geométricas. Sendo assim, conhecer os personagens de Planolândia possibilita o
reconhecimento das formas geométricas e a discussão das características de cada categoria. Segundo as
orientações presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino fundamental,
[...] o estudo da posição e deslocamentos no espaço e o das formas e relações entre
elementos de figuras planas e espaciais pode desenvolver o pensamento geométrico dos

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alunos. Esse pensamento é necessário para investigar propriedades, fazer conjecturas e


produzir argumentos geométricos convincentes. [2].

Assim, o aluno deve reconhecer propriedades das diferentes formas geométricas e relacionar as
concepções planas e espaciais.
Sobre o ensino de Geometria a professora Pavanello, no seu trabalho intitulado “Por que
ensinar/aprender geometria?” [5], salienta que na maioria das escolas, acaba sendo deixado de lado pelos
professores, ou então é feito de forma superficial. Para a autora, dentre os principais motivos apresentados,
estão a falta de domínio no conteúdo por parte de muitos professores, a falta de tempo para explorar os
assuntos e o desconhecimento da importância do desenvolvimento do pensamento geométrico dos estudantes.
Dessa forma, na maioria das vezes, o conteúdo não é apresentado para os alunos.
Ainda na segunda parte da obra o autor narra as experiências vivenciadas pelo protagonista, habitante
deste fascinante mundo bidimensional, que, ao receber a visita de uma esfera apresentando-lhe o mundo
tridimensional, tem a oportunidade de ver planolândia de uma perspectiva jamais vista antes pelos seus
concidadãos, sendo arremessado do seu mundo para a terceira dimensão. Preenchido pelo desejo de novas
descobertas ao retornar para Planolândia, mesmo com as restrições impostas pelo governo o personagem
tenta, inutilmente, explicar aos habitantes de Planolândia a existência de mundos com dimensões superiores,
experimentando a incapacidade de apontar para as direções nas quais baseiam novas dimensões.
Esse aspecto permite levantar o seguinte questionamento: não seria a matéria escura, um personagem
cósmico pertencente a uma dimensão superior e por isso não detectável por nós, seres do espaço
tridimensional? Essa seria uma possível explicação lógica para o fato da matéria escura não ser verificada.
A ideia de partículas não detectáveis serem entidades pertencentes a dimensões extras surge a partir da
teoria proposta por Theodor Kaluza e Oskar Klein na década de 1920 [3].
Segundo a teoria de Kaluza-Klein, além das três dimensões espaciais e uma temporal, existe outra, a
quarta dimensão espacial. Essa nova dimensão seria como um tubo longo e flexível com diâmetro da ordem
do comprimento de Planck, cerca 10-35m [3]. Supõe-se que a luz não viaje em tal dimensão de forma que
nossa percepção atual não nos permite observar uma partícula de matéria escura nessa dimensão, justificando
assim sua invisibilidade.
Acredita-se que tanto os aspectos sociais quanto os científicos abordados neste trabalho são relevantes,
sendo a obra Flatland um meio potencialmente capaz de promover suas abordagens na escolarização básica.

MATERIAIS DIDÁTICOS DESENVOLVIDOS

A seguir apresentaremos alguns materiais que foram desenvolvidos em uma investigação no âmbito do
Mestrado Profissional em Astronomia da Universidade Estadual de Feira de Santana. Os materiais
desenvolvidos estão sendo testados com estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Plínio
Carneiro, na Cidade de Barrocas, Bahia.
Uma maquete contendo personagens e cenários de Planolândia (Figura 2) foi confeccionada utilizando,
basicamente, um pedaço retangular de madeirite de dimensões 41cm por 43cm. As formas dos personagens

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foram impressas em papel A4 e colados em cartolina. Como alternativa para a construção da maquete pode
ser utilizado isopor ou mesmo papelão.

Figura 2:Maquete de Planolândia inspirada na obra Flatland

A apresentação dos personagens sugere o conhecimento de diversas figuras planas, assim para cada
personagem descreve-se suas características geométricas, seguidas da identificação dos mesmos pelos
estudantes. Para essa atividade utiliza-se uma maquete com cenários e personagens de Planolândia. Como
salientam Sena e Dorneles [6], para os Parâmetros Curriculares Nacionais,
[...] o aluno deve ser capaz de classificar, compor, decompor e resolver situações
problemas que envolvam figuras e sólidos geométricos; utilizar os instrumentos adequados
para medição, tanto de lados quanto de ângulos; interpretar deslocamento no plano
cartesiano; reconhecer as propriedades dos triângulos e quadriláteros; utilizar as fórmulas
para o cálculo de área perímetro (planos) e volume (sólidos); seccionar as figuras e
analisar.

Ao fazer a diferenciação entre as formas são discutidas as diferenças entre as classes sociais bem como
as de gênero. Esse momento é oportuno para se fazer um paralelo com as divisões sociais e de gênero ainda
presentes na sociedade. Em especial discute-se historicamente o papel da mulher na sociedade e na ciência,
evidenciando contribuições e ressaltando a igualdade entre os gêneros.
Foi desenvolvido também, a partir de caixa de papelão, óculos com uma fenda muito fina (Figura 3)
para a visualização de diversos sólidos.

Figura 3: Óculos com fenda.

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A imagem da esquerda mostra como é a visão obtida nos óculos. Percebe-se que há dois traços escuros
na fenda, porém nada além disso, em termos do quê gera tais traços, pode ser afirmado. Já na figura da direita
é revelado quais sólidos geraram os traços, pois estavam após a fenda. Devido a fenda muito fina, mesmo
colocando formas diferentes, o estudante visualiza apenas traços, simulando assim aquela que seria a visão em
Planolândia. Essas atividades permitem que o estudante utilize a imaginação, possibilitando a compreensão da
natureza de Planolândia.
As características do espaço tridimensional e as formas espaciais são abordadas a partir do episódio no
qual o personagem principal é levado a conhecer Espaçolândia. Com ajuda de projetores de slides busca-se
desenvolver o seguinte raciocínio: os registros do movimento em linha reta de um ponto, que é adimensional,
geram um segmento de reta, unidimensional. Movendo o segmento de reta de forma perpendicular à sua
extensão temos a formação de um plano, portanto bidimensional. Aplicando o mesmo pensamento para um
quadrado, movendo-se em paralelo a si mesmo, forma-se um cubo com três dimensões. Estas reflexões
possibilitam o desenvolvimento da imaginação, fazendo com que o estudante parta de situações concretas até
chegar a pensamentos mais abstratos.
O entendimento de como percebemos o mundo é feito a partir da abordagem da visão estereoscópica
que o ser humano possui. Por isso foram feitos experimentos simples de paralaxe e de percepção da
profundidade. Com este último se desafia o estudante a passar uma linha por um furo de uma missanga com
um dos olhos fechados.
O efeito de paralaxe tem grande importância na Astronomia pois possibilitou o cálculo das distâncias
de estrelas relativamente próximas. O método chamado de paralaxe trigonométrica se baseia na observação de
deslocamentos de estrelas relativo às estrelas mais distantes (fixas) em épocas diferentes no ano.
Relacionando os ângulos e lados de triângulos gerados é possível determinar as distâncias das estrelas que se
deslocaram.
O efeito de perspectiva e de comparação são abordados por meio da utilização da chamada “sala de
Ames”. Esta sala foi inventada pelo oftalmologista Norte Americano Adalbert Ames Jr., em 1946. A Figura 4
mostra uma reprodução em escala menor, feita a partir de molde disponível no endereço:
https://manualdomundo.com.br/wp-content/uploads/PDF-Sala-de-Ames-SITE.pdf e colando-o em papelão.

Figura 4: Sala de Ames confeccionada com papelão e fita adesiva.

A sala de Ames possui uma parede com uma aresta maior que fica mais distante respeito ao ponto de
observação, e outra com uma aresta menor, porém localizada mais próxima respeito ao mesmo ponto. Tal

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configuração permite que, ao olhar de um ponto específico, um objeto colocado próximo da aresta menor
parecerá maior, enquanto que na outra aresta, o efeito será contrário. Na Figura 5, onde a sagoma de um
homem realizada em papelão foi posicionada inicialmente próxima da aresta menor e em seguida próxima da
aresta menor, é possível perceber tal efeito.

Figura 5: Visão da sala de Ames com comparações diferentes.

Sabe-se que a noção de profundidade é desenvolvida a partir da junção das imagens formadas em cada
retina, pois devido a distancia de aproximadamente 6 cm existente entre os olhos humanos, cada um vê
imagem diferentes e é a interpretação delas feita pelo cérebro que permite a percepção da terceira dimensão,
ou seja, da profundidade.
Partindo-se da ideia que cada olho percebe os objetos em duas dimensões, ao apresentar um objeto
diferente para cada um, por meio de óculos de realidade virtual, tem-se que a soma das dimensões observadas
são quatro, além da dimensão temporal. Espera-se que a sensação seja de estranheza, visto que o cérebro
continuará a fazer seu papel de formar imagens compreensíveis, dentro da realidade cotidiana.

CONCLUSÕES

As primeiras utilizações dos materiais desenvolvidos foram feitas com alunos do terceiro ano do Nível
Médio do Colégio Estadual Professor Plínio Carneiro, localizado no município de Barrocas-Bahia. Os
estudantes escolhidos estavam abordando conteúdos de Geometria como cálculo de áreas e volumes na
disciplina de Matemática. Dessa forma, as atividades desenvolvidas ajudaram a complementar a abordagem
dada na mesma.
Para melhor entendimento de Planolândia é necessário o uso da abstração, uma vez que o estudante é
levado a pensar em situações criadas a partir de considerações não experimentadas (exemplo: considerar que
um objeto não tem altura) e muitas vezes nunca imaginadas antes. A Figura 6 mostra um estudante utilizando
o óculos com fenda por meio do qual é possível observar apenas uma seção do objeto, representando como
seria a visão de um habitante de Planolândia. O estudante é então desafiado a descobrir quais sólidos estão
após a fenda, levantando hipóteses e gerando debates com os colegas.

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Figura 6: Estudante utilizando óculos com fenda.

Sabe-se que a disposição para aprender é um dos aspectos essenciais no processo de ensino-
aprendizagem. Tal aspecto pode ser facilitado quando o estudante é posto em posição de desafio, através da
apresentação de conceitos por meio de experiências sensoriais, podendo assim despertar o seu interesse.
Durante o desafio de passar uma linha pelo furo de uma missanga apenas com um olho aberto (Figura
7), percebeu-se que os estudantes ficaram surpresos com a dificuldade encontrada, resultado da perda da visão
estereoscópica e, consequentemente, da percepção de profundidade.

Figura 7: Estudantes realizando o desafio da missanga.

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Figura 8: Estudante utilizando a sala de Ames.

Outro aspecto a ser enfatizado diz respeito ao envolvimento dos estudantes utilizar óculos de realidade
virtual (Figura 9) no qual foram apresentadas imagens e formas geométricas diferentes para cada olho.

Figura 9: Estudante utilizando óculos de realidade virtual.

Ressalta-se que alguns estudantes conseguiram identificar informações particulares a um ou outro


olho. Pretende-se aperfeiçoar os testes com este aparato para resultados mais conclusivos. De qualquer modo,

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percebe-se que é possível envolver os estudantes com estas atividades, mesmo algumas exigindo um certo
grau de abstração.
Ao promover atividades dessa natureza observa-se que os estudantes participam de forma ativa e, por
ser um ambiente que apresenta novidades, a curiosidade é constante e questionamentos surgem a todo
momento de forma espontânea.

PERSPECTIVAS

O desafio agora é elaborar uma sequência com roteiros e questionários bem como outras atividades
que possibilitem tratar temas como eixos coordenados e métrica do universo. Além disso pretende-se
desenvolver, utilizando o livro flatland, pesquisas e reflexões sobre o papel da mulher na sociedade vitoriana
e na ciência, contrastando com os dias atuais. Por fim será feita a avaliação do potencial pedagógico dos
recursos e materiais desenvolvidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABBOTT, E. A. Planolândia: Um Romance de Muitas Dimensões. Disponível em:

<https://pedropeixotoferreira.files.wordpress.com/2011/01/abbott_planolandia_book.pdf.>. Data de

acesso: 11/11/2017.

[2] BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2017.

Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf>. Acesso em:

14 dez. 2017.

[3] CHERMAN, A. Sobre os Ombros de Gigantes: Uma História da Física. Editora Zahar. 2004. Disponível

em: < https://books.google.com.br/books?id=xbk2AAAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-

BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Data de acesso: 26/12/2017.

[4] LIMA, J. P.; COELHO, M. N.; VIEIRA, S. M. Uma Transformação Linear Para a Produção de Imagens

Anamórficas Cilíndricas. Caderno de Física da UEFS 15 (01): 1602.1-15, 2017. Disponível em:

<http://dfisweb.uefs.br/caderno/vol15n1/s6Artigo02_Lima-Transformacao-Linear.pdf>. Data de

acesso: 30/08/2019.

[5] PAVANELLO, R. M. Por que ensinar/aprender Geometria. 2004. Trabalho apresentado no VII Encontro

Paulista de Educação Matemática, São Paulo, 2004.

[6] SENA, R. M.; DORNELES, B. V. Ensino de Geometria: Rumos da Pesquisa (1991-2011). REVEMAT. e

ISSN 1981-1322. Florianópolis (SC), v. 08, n. 1, p. 138-155, 2013. Disponível em: <

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https://periodicos.ufsc.br/index.php/revemat/article/viewFile/1981-1322.2013v8n1p138/25095>. Data

de acesso: 10/03/2018.

[7] RIBEIRO, J. L. P. A Imagem-ciclope em uma associação de dois espelhos planos: Demonstração

Algébrica das condições de ocorrência. Caderno de Física da UEFS 14 (01): 1402.1-9, 2016.

Disponível em: <http://dfisweb.uefs.br/caderno/vol14n1/s4Artigo02Jair_Ciclope.pdf>. Data de acesso:

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